CARIDADE: FRUTO DO ESPÍRITO SANTO (1 Jo 4, 20)
“Se alguém disser: ‘Amo a Deus’, mas odeia o seu irmão, é um mentiroso: pois quem não ama seu irmão, a quem vê, a Deus, a quem não vê, não poderá amar”.
Santo Agostinho comenta: “Se alguém disser: ‘Amo a Deus’...” (1 Jo 4, 20). Quem é esse Deus? E por que O amamos? “Porque ele nos amou primeiro”, e nos deu a graça de O amarmos. Amou os ímpios para torná-los piedosos. Amou os injustos para fazê-los justos. Amou os doentes para curá-los. Portanto, “quanto a nós, amemos, porque ele nos amou primeiro”. Pergunta a cada um e que ele te diga se ama a Deus. Este proclama e confessa: - Eu amo a Deus, ele sabe disso. Mas vejamos se há outro modo de se verificar se alguém ama mesmo a Deus, porque “se alguém disser: ‘Amo a Deus’, mas odeia o seu irmão é mentiroso”. Como provar que ele é mentiroso? Escuta: “Pois quem não ama seu irmão, a quem vê, a Deus que não vê, não pode amar” (1 Jo 4, 20). Como assim? Quem ama a seu irmão também ama a Deus? Sim, se ele ama a seu irmão, necessariamente também ama a Deus, que é o próprio amor. Ser-lhe-ia possível amar o irmão e não amar o Amor? É necessariamente que ama o Amor. Mas será que pelo fato de alguém amar o amor, ame a Deus? Sim! Amando o amor, ama a Deus. Estás esquecido do que já foi dito: “Deus é amor?” (1 Jo 4, 8.16). Se Deus é amor, todos aqueles que amam o amor, amam a Deus. Ama, pois, teu irmão e considera-te seguro. Não podes dizer: Amo meu irmão, mas não amo a Deus. Do mesmo modo mentirias, se dissesses: “Amo a Deus”, se não amasses o irmão. Tu te enganarias se dissesses: “Amo o irmão”, julgando que não amas a Deus. Tu que amas teu irmão, necessariamente, amas o mesmo amor. Ora, “o amor é Deus”. Aquele que ama o irmão, portanto, por certo ama a Deus. Se, porém, não amas o irmão que vês, como podes amar a Deus que não vês? E por que este homem não vê a Deus? Porque ele não tem o amor em seu coração. Não vê a Deus, porque não tem o amor. E não tem o amor, porque não ama seu irmão. Eis porque não vê a Deus: porque não tem o amor em si. Assim, quem tem o amor, vê a Deus, porque “Deus é amor”.
CARIDADE
Na Carta de São Paulo aos Gálatas diz: “Mas o fruto do Espírito é caridade...” (Gl 5, 22). O primeiro fruto do ESPÍRITO SANTO nas nossas almas é um amor imenso, dotado de uma infinita delicadeza, ao Pai, por Jesus Cristo e pelo Espírito divino. Não se trata necessariamente de um amor sentido, mas de um amor intensamente querido; e tanto mais querido, nas almas fervorosas, quanto menos sensível for. E não há nisto nada de estranho, uma vez que nos lembramos de que o ESPÍRITO SANTO é o próprio Amor substancial que une o Pai ao Filho. Quanta glória não dá ao Pai esse amor puríssimo, desprendido de toda a sensibilidade e, por isso mesmo, de toda a compensação! É um fruto saborosíssimo e delicioso para o seu coração de Pai, porque é extremamente santificante para as nossas almas. Se fôssemos capazes de compreendê-lo, longe de desejar a doçura e o consolo sensíveis, não nos cansaríamos de dar graças ao Senhor porque nos faz andar pelos caminhos da secura e da aridez espiritual. Esse fruto incomparável traz consigo ainda um outro. É impossível amar verdadeiramente a Deus sem amar o próximo, diz São João: Se alguém disser: “Amo a Deus”, mas odeia o seu irmão, mente (1 Jo 4, 20). A razão é muito simples. Se todos somos um em Cristo, e de certa forma somos o próprio Cristo, como explica Santo Agostinho, não amar o próximo, não amar os nossos irmãos, é não amar a Cristo e não amar o Pai. O Senhor quer que nos amemos uns aos outros como Ele nos amou e continua a amar; isto é, com o amor com que ama o seu Pai, com esse amor imenso e de infinita delicadeza como foi mencionado. Este é, aliás, o seu Mandamento, o Mandamento novo que trouxe ao mundo: Um mandamento novo vos dou: que vos ameis uns aos outros como Eu vos amei [...]. Nisto conhecerão todos que sois meus discípulos (Jo 13, 34-35). Portanto, não deveríamos pôr o nosso empenho em nada que não seja amarmo-nos uns aos outros com um amor puro e santo, que nos traga alegria por causa de todo o bem verdadeiro que contemplamos no nosso próximo, e nos dê tristeza por todo o mal, pelos pecados e imperfeições que o impedem de render ao Pai toda a glória e todo o amor que só a Ele pertencem.
Oração
Espírito Santo, Deus de Amor, que fortaleceis e alegrais as almas dos vossos filhos, dai-nos a graça de ser, em nome da vossa infinita misericórdia, sarmentos transbordantes de seiva e carregados de frutos na vossa vinha mística, para que, depois de termos glorificado o Pai e o Filho neste mundo por uma vida de santidade, possamos por meio de Vós continuar a louvá-los por toda a eternidade, em união com Maria Santíssima e com toda a corte celestial. Amém.
Pe. Divino Antônio Lopes FP (C) Anápolis, 08 de agosto de 2014
Bibliografia
Sagrada Escritura Alexis Riaud, A ação do Espírito Santo na alma Pe. Juan Leal, A Sagrada Escritura Santo Agostinho, Comentário da Primeira Epístola de São João
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