ALEGRIA: FRUTO DO ESPÍRITO SANTO (Fl 4, 4)
“Alegrai-vos sempre no Senhor! Repito: alegrai-vos!”
São admiráveis estas palavras de São Paulo se se tem em conta que quando escreve a Epístola está encadeado e no cárcere. Para a verdadeira ALEGRIA não é obstáculo que as circunstâncias em que se desenvolve a nossa existência sejam difíceis ou possam ser humanamente dolorosas: “A alegria é um bem cristão. Só desaparece com a ofensa a Deus, porque o pecado é fruto do egoísmo e o egoísmo é a causa da tristeza. Mesmo então, essa alegria permanece no fundo da alma, pois sabemos que Deus e a sua Mãe nunca se esquecem dos homens. Se nos arrependemos no santo sacramento da penitência, Deus vem ao nosso encontro e perdoa-nos. E já não há tristeza” (São Josemaría Escrivá). O fundamento da ALEGRIA profunda que enche a alma de PAZ, não está na satisfação das necessidades físicas ou materiais, mas na fidelidade a Deus e aos seus preceitos, em abraçar a cruz: “Esta é a diferença entre nós e os que não conhecem a Deus: eles na adversidade queixam-se e murmuram; a nós as coisas adversas não nos afastam da virtude nem da verdadeira fé. Pelo contrário, estas apóiam-se na dor” (São Cipriano). No Antigo Testamento tinha dito Deus pela boca de Neemias: “Não vos entristeceis, porque a alegria de Deus é a nossa fortaleza” (Ne 8, 10). Com efeito, a ALEGRIA é um poderoso aliado para alcançar a vitória na luta (1 Mc 3, 2ss), um admirável remédio para vencer o mal com o bem, já que vai estreitamente unida à graça. Assim o expressa São João Paulo II: “O serviço autêntico do cristão qualifica-se segundo a presença operativa da graça de Deus nele e através dele. A paz no coração do cristão, portanto, está inseparavelmente unida à alegria (...) Quando a alegria de um coração cristão se derrama nos outros homens, ali gera esperança, otimismo, impulsos de generosidade na fadiga quotidiana, contagiando toda a sociedade. Meus filhos, só se tiverdes em vós esta graça divina que é alegria e paz, podereis construir algo válido para os homens”.
ALEGRIA
Na Carta de São Paulo aos Gálatas diz: “Mas o fruto do Espírito é alegria...” (Gl 5, 22). A alegria é o descanso da vontade na posse da pessoa ou da coisa amada. Ora, o nosso Pai celeste quer que a sua vinha dê também esse fruto, tão particularmente querido ao seu coração. Deus quer ver a alegria reinar no coração dos seus filhos. Não nos criou para a tristeza, mas sim para a alegria. Alegrai-vos sempre no Senhor — diz-nos São Paulo —; outra vez o digo: alegrai-vos (Fl 4, 4). Esta alegria perfeita, só poderemos saboreá-la plenamente no Céu. Alegremo-nos e regozijemo-nos, e demos glória a Deus (Ap 19, 7), cantam os bem-aventurados, conforme testemunha São João no Apocalipse. Mas já neste mundo devemos ser almas de alegria. “Um santo triste”, diz o provérbio popular, “é um triste santo”. Parece-me até que este fruto da alegria, mesmo imperfeito, terá um sabor muito especial para o Coração de Deus se tiver amadurecido no meio das lágrimas que sempre acompanham a nossa passagem por este mundo. Uma jovem carmelita de Pontoise, falecida em 1919 em odor de santidade, a Irmã Maria Angélica de Jesus, escrevia pouco antes da sua morte: “Parece-me que Jesus fez de mim uma alma de alegria. Não é que não seja ‘moída’ por Ele, nem que deixe de experimentar o sofrimento, até bem vivamente; mas encontro a felicidade no meio deste sofrimento. Deus me faz encontrar felicidade em todas as coisas. Mas a verdade é que esta alegria vem d’Ele, e só d’Ele”. Não é que esperasse passivamente que o Céu lhe concedesse essa graça. “Procuro sorrir sempre” — conta-nos ela —, “sabendo muito bem que todos os sorrisos que contrariam a nossa inclinação natural são de uma beleza arrebatadora para o Coração de Jesus”. E Santa Teresa do Menino Jesus havia escrito alguns anos antes: “Encontrei a felicidade e a alegria sobre a terra” — reparemos bem: a felicidade e a alegria —, “mas unicamente no sofrimento, porque tenho sofrido muito”. Não se trata, portanto, de uma alegria sensível nem de uma alegria sentida. Os sentidos nada têm que ver com esta alegria totalmente espiritual que, tal como a caridade da qual é consequência, tem a sua fonte na vontade. É o descanso da vontade na posse de Deus pela fé e por esse amor imenso de que falávamos, um amor puríssimo, delicadíssimo, que deseja ser tanto mais intenso quanto menos sensível é. É por isso que a alma que ama a Deus de verdade, longe de se entristecer por não sentir nada, como tenderia a fazer de acordo com a sua natureza, prefere estar mergulhada na secura e na aridez dos sentidos: “O homem verdadeiramente espiritual busca em Deus a amargura, não o prazer; prefere o sofrimento à consolação, a privação de todos os bens à sua posse, a dureza e as aflições às doces comunicações do Céu, persuadido como está de que é nisto que consiste o seguimento de Cristo e a renúncia a si mesmo” (São João da Cruz). Alegrar-se nas provações; sorrir ao sofrimento, como Santa Teresa do Menino Jesus; cantar no coração, cantar sempre e com uma voz tanto mais melodiosa quanto mais longos e mais afiados forem os espinhos; não permitir sequer que os que nos cercam suspeitem de que estamos tristes; e tudo isso, não por um orgulho tolo, mas por amor, para oferecer a Jesus e ao seu Pai um pequeno ramalhete de singelas violetas, pouco vistosas mas fragrantes. Este é, juntamente com o amor, o fruto que o Vinhateiro divino quer colher nos sarmentos da sua vide, frutos que só o ESPÍRITO SANTO pode produzir em nós. É até por demais evidente que semelhante amor e semelhante alegria pressupõem que esteja presente na alma o Espírito de Sabedoria e Entendimento, o Espírito de Ciência e Conselho, o Espírito de Fortaleza, Piedade e Temor de Deus. Devemos, portanto, suplicar-lhe que se apodere cada vez mais da nossa alma e das nossas faculdades, de todo o nosso ser, a fim de que já não vivamos senão de acordo com as suas divinas inspirações e produzamos fruto abundante para a maior glória do Pai.
Oração Espírito de Deus, enviai dos céus um raio de luz! Vinde, Pai dos pobres, dai aos corações vossos sete dons. Consolo que acalma, hóspede da alma, doce alívio, vinde! No labor descanso, na aflição remanso, no calor aragem. Sem a luz que acode, nada o homem pode, nenhum bem há nele. Ao sujo lavai, ao seco regai, curai o doente. Dobrai o que é duro, guiai no escuro, o frio aquecei. Dai à vossa Igreja, que espera e deseja, vossos sete dons. Dai em prêmio ao forte uma santa morte, alegria eterna!
Enchei, luz bendita, chama que crepita, o íntimo de
nós! Pe. Divino Antônio Lopes FP (C) Anápolis, 17 de agosto de 2014
Bibliografia
Sagrada Escritura Alexis Riaud, A ação do Espírito Santo na alma Pe. Juan Leal, A Sagrada Escritura São João da Cruz, Subida do Monte Carmelo São Josemaría Escrivá, Cristo que passa, 178 São Cipriano, De mortalitate, 12 Edições Theologica São João Paulo II, Discurso, 10 – IV - 1979
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