BENIGNIDADE: FRUTO DO ESPÍRITO SANTO (1 Cor 13, 5)
“Não é inconveniente; não procura o seu interesse, não se irrita, não leva a mal em conta”.
A BENIGNIDADE tem o sentido de inclinação para fazer o bem a todos. Santo Tomás de Aquino explica-a a partir da etimologia: “A benignidade é como ‘boa ignição’ – bona igneitas -: assim como o fogo faz que os elementos sólidos se liquefaçam e se derramem, a caridade faz que os bens que o homem tem não os retenha para si, mas os difunda pelos outros”.
BENIGNIDADE
Na Carta de São Paulo aos Gálatas diz: “Mas o fruto do Espírito é benignidade...” (Gl 5, 22). Não basta querer o bem para os outros. O amor verdadeiro é um amor eficaz, que se traduz em atos. E a BENIGNIDADE é precisamente essa predisposição do coração que nos inclina a fazer o bem aos outros. A alma tomada pelo ESPÍRITO SANTO não ama senão a Deus, não vive senão para Deus e por isso não tem senão uma única preocupação: contribuir com todas as suas forças para a vinda do Reino de Deus ao mundo e a cada alma. Por isso, está atenta para não fazer nada que possa, por pouco que seja, estorvar a ação da graça nas almas dos outros e desviá-las do seu único fim! Vigia para não perder nem uma única ocasião de santificar essas almas e dirigi-las para Deus, a única Plenitude que poderão encontrar! A sua maior alegria é encontrar uma outra alma que pertence inteiramente a Deus ou contribuir para que uma ovelha desgarrada retorne ao redil do divino Pastor. Que delicadeza infinita, se pudermos dizê-lo assim, nas suas relações com o próximo, sobretudo com as almas imperfeitas, nas quais o dom da Ciência a leva a discernir um membro ferido do Corpo Místico de Cristo! Redobra as atenções para com essas almas, a fim de não agravar de maneira nenhuma o seu mal. Reza e faz tudo o que está na sua mão para curá-las e atraí-las à vida de piedade. Inteiramente entregue à ação do dom da Piedade, vigia cuidadosamente o seu próprio espírito, não se permitindo de forma alguma julgar o próximo e cobrindo com manto da sua indulgência todas as fraquezas que nele descobrir: A caridade não pensa mal (1 Cor 13, 5). Da mesma forma, longe de se deixar levar por uma satisfação maliciosa quando vê o próximo claudicar, o que faz é alegrar-se quando vê a verdade triunfar e entristecer-se diante do mal onde quer que o descubra. A caridade não se alegra com a injustiça, mas compraz-se na verdade (1 Cor 13, 6). “Os que amam de verdade a Deus” — escreve Santa Teresa de Ávila — “amam tudo o que é bom, querem tudo o que é bom, louvam tudo o que é bom, unem-se sempre aos bons para sustê-los e defendê-los, só têm afeição pela verdade e pelas coisas dignas de serem amadas”. Se essas almas vigiam os seus pensamentos e os sentimentos do seu coração, com maior razão estão atentas para evitar toda a palavra que poderia ferir o próximo e toda a ação que pudesse vir a prejudicá-lo. Quem poderá calcular o dano que se causa no mundo com palavras maldizentes, com insinuações pérfidas? São como flechas envenenadas que se cravam no coração de quem as escuta. Bem pode o ouvinte pensar que tudo aquilo não tem fundamento, que não é verdade, que certamente se trata de um exagero, etc. — apesar de tudo, alguma coisa permanece no seu espírito. A confiança foi abalada e a dúvida, como o verme numa bela maçã, penetra de maneira quase imperceptível e vai fazendo o seu trabalho de destruição. Esta é a origem de tantas divisões no seio dos lares, das cidades, das nações e até entre as nações. Essa arma terrível preparou e tornou inevitáveis tantas guerras cruéis, grandes e pequenas. O Apóstolo São Tiago chega mesmo a escrever: Vede que um pouco de fogo basta para incendiar todo um grande bosque. Também a língua é um fogo. Como um mundo de iniquidade, a língua está entre os nossos membros a contaminar todo o corpo, a inflamar todo o ciclo da nossa existência, sendo ela por sua vez inflamada pelo inferno. Feras, aves, répteis e animais marinhos de todo o gênero são domáveis e têm sido domados pela força humana: mas a língua, nenhum homem foi capaz de domá-la; é um mal irrequieto e está cheia de veneno mortífero (Tg 3, 6-8). O que nenhum homem conseguiu fazer unicamente pelas suas forças naturais, o ESPÍRITO SANTO o realiza com os dons do Conselho e Fortaleza. Para isso, é preciso deixá-lo agir, não opor resistência à sua ação santificadora. E como o único obstáculo à ação do ESPÍRITO SANTO em nós é a nossa soberba, o amor-próprio desordenado, quanto mais nos desprendermos de nós mesmos, mais idôneos nos tornaremos para a ação de Deus em nós.
Oração
Espírito Santo, dignai-vos abrasar os nossos corações com a divina caridade; concedei-nos a graça de nos fazermos tudo para todos, de nos alegrarmos com os que se alegram, de chorarmos com os que choram, a fim de que, depois de termos sido fiéis neste mundo ao mandamento de amor de Cristo, mereçamos gozar com Ele, na eternidade, do amor do Pai. Amém.
Pe. Divino Antônio Lopes FP (C) Anápolis, 22 de agosto de 2014
Bibliografia
Sagrada Escritura Edições Theologica Pe. Juan Leal, A Sagrada Escritura Alexis Riaud, A ação do Espírito Santo na alma Santo Tomás de Aquino, Comentário sobre 1 Cor, ad loc.
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