MANSIDÃO: FRUTO DO ESPÍRITO SANTO (1 Cor 13, 5)
“A caridade não se irrita”.
“A caridade não se irrita” (1 Cor 13, 5), pelo que recomenda São Paulo: “Longe de vós toda aspereza, indignação, ira, gritaria e calúnia, bem como toda malícia” (Ef 4, 31). Todos estes vícios opõem-se à caridade e provêm das paixões indomadas, que, com o choque das contrariedades, irrompem desenfreadas. A ira não contida é fonte de palavras e atos inconsiderados, violentos, que perturbam fortemente as boas relações fraternas. Quem ama o próximo prefere fazer violência contra si mesmo para vencer a ira nascente, antes que ofender os outros com dureza e violência. Todavia, a caridade não exclui, antes às vezes exige uma justa firmeza quando é necessário corrigir o mal. “Ó caridade, tu que não buscas teu interesse, não te irritas... e o mal recebido retribuis com acúmulo de bens... Ó caridade que tudo suportas, dissimulas, esperas, não deixas cair quem erra; ó caridade, por seres benigna, atrais, conquistas, afastas do erro. Ó caridade benigna, amas a quem tens de suportar e o amas ardentemente. Sim, choras, mas de amor, não já de dor; choras de desejo, choras com quem chora. Ó caridade, mãe boa, amas a todos como filhos, quer sustentes os fracos, quer estimules os aproveitados, quer repreendas os inquietos, mostrando-te diferente com diferentes pessoas! Mansa és, quando repreendes; simples, quando acaricias; costumas ser severa com piedade, acalmar sem enganar, sabes irar-te com paciência, indignar-te com humildade; provocada, não te mostras ofendida; desprezada, vais ao encontro de quem te despreza. Propriamente tu és a verdadeira mãe dos homens e dos anjos. Pacificaste não só as coisas da terra, mas também as do céu. Foste tu que, aplacando Deus em favor do homem, reconciliaste o homem com Deus” (Anônimo - século XIII).
MANSIDÃO
Na Carta de São Paulo aos Gálatas diz: “Mas o fruto do Espírito é mansidão...” (Gl 5, 22). Toda a gente conhece essa tendência psicológica tão humana a manifestarmos o nosso descontentamento por meio de gestos bruscos e violentos, quando um objeto ou pessoa se opõe aos nossos desejos. Desde o berço, as crianças, quando são contrariadas, atiram para longe tudo o que lhes vem parar nas mãos. E depois que crescem, se tropeçam numa pedra ou numa cadeira e se machucam, instintivamente tendem a vingar-se a pontapés do objeto em questão. Por vezes também as mães, para pôr fim às lágrimas do seu pequeno, encorajam essa tolice batendo elas mesmas na “pedra malvada” ou na “cadeira malvada”, quando não na “irmã ou irmão malvados”, sem reparar que desta forma contribuem para fazer arraigar mais profundamente no coração do seu filho uma “tendência malvada”, da qual elas próprias podem vir a ser as vítimas... Mais razoável seria que repreendessem suavemente a criança, levando-a a compreender que a cadeira ou a pedra não são de modo algum a causa da sua dor, que se deve apenas à sua própria falta de atenção. Assim a ajudariam desde pequena a reconhecer os seus enganos, ao invés de atribuir às coisas exteriores a culpa de todas as suas faltas. Nisto consiste a primeira formação das crianças na humildade, isto é, na verdade. Quando o homem chega à idade adulta continua, como é evidente, sujeito a esta tendência que o leva a maltratar as coisas e as pessoas quando se sente contrariado. A MANSIDÃO de que nos fala São Paulo, e que está incluída entre os frutos do ESPÍRITO SANTO, tem precisamente por objeto dispor a nossa vontade para suportar as contrariedades com suavidade e sem irritação, isto é, sem dar mostras de impaciência e muito menos de cólera, sem deixar transparecer a menor perturbação. A caridade não se irrita (1 Cor 13, 5). A alma entregue à ação do ESPÍRITO SANTO pratica de uma maneira totalmente espontânea esta amável virtude, tão importante para a vida social. Se algo a contraria, sente-o vivamente, até mais do que se fosse mais imperfeita, porque tem mais delicadeza e sensibilidade. No entanto, em vez de se deixar levar pela irritação e de manifestá-la exteriormente, humilha-se diante de Deus e, à luz dos dons de Ciência, Conselho e Piedade, reconhece que a humilhação que lhe foi infligida ou a resistência que experimenta vem de Deus, seu Pai infinitamente bom e infinitamente amoroso, que se serve daqueles que a rodeiam para talhá-la, poli-la e torná-la cada vez menos indigna d’Ele. Por isso, longe de se revoltar contra as pessoas e as coisas, permanece em paz e se alegra na vontade com essas carícias que Deus tem para com ela. Temos até a impressão de que essa alma se faz tanto mais amável e delicada para com os que tem à sua volta quanto mais é contrariada e provada de todas as formas. E que sente a necessidade de rezar mais pelas pessoas que a fazem sofrer e de ter mais solicitudes para com elas, porque as ama em Cristo e teme fazer-lhes mal se ceder à irritabilidade da sua natureza. Uma alma assim agrada imensamente ao Coração do Senhor e contribui muitíssimo para o crescimento do seu Reino. Afinal, cedo ou tarde acabará por conquistar para Cristo os corações: Bem-aventurados os mansos — diz-nos Jesus —, porque possuirão a terra (Mt 5, 4). Que o ESPÍRITO SANTO se digne, pois, impregnar-nos deste espírito de MANSIDÃO, Ele que, a exemplo do Mestre, cuida de não quebrar a cana rachada e de não apagar a mecha que ainda fumega (Mt 12, 20).
Oração
Espírito Santo, que dispondes todas as coisas com fortaleza e suavidade, dignai-vos derramar nas nossas almas a vossa suavidade e caridade, para que, mortos para nós mesmos e preocupados unicamente com a glória de Deus e a salvação dos nossos irmãos em Cristo, já não vivamos senão de acordo com as vossas inspirações divinas, seguindo o exemplo de Jesus Cristo e de Maria Santíssima, para a maior glória do Pai. Amém.
Pe. Divino Antônio Lopes FP (C) Anápolis, 10 de setembro de 2014
Bibliografia
Sagrada Escritura Edições Theologica Pe. Juan Leal, A Sagrada Escritura Alexis Riaud, A ação do Espírito Santo na alma Pe. Gabriel de Santa Maria Madalena, Intimidade Divina Anônimo - século XIII, De Charitate 5, 26-27).
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