FIDELIDADE: FRUTO DO ESPÍRITO SANTO

(Gl 6, 2)

 

“Carregai uns os fardos dos outros, e assim cumprireis a lei de Cristo”.

 

Amar os outros é cumprir a Lei de Cristo. Já antes (Gl 5, 14) afirmava o Apóstolo que toda a Lei se resume num só preceito, neste: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. É uma doutrina que se       encontra amiúdo no Novo Testamento (cfr Mt 22, 40; Rm 13, 8-10; Cl 3, 14), pois o amor mútuo é o Mandamento Novo de Jesus Cristo (cfr Jo 13, 34). “E não há dúvida nenhuma de que a afirmação do Messias ressalta de modo terminante: nisto vos conhecerão, que vos amais uns aos outros! Por isso sinto a necessidade de recordar constantemente essas palavras do Senhor. São Paulo acrescenta: levai os fardos uns dos outros e, desta maneira, cumprireis a lei de Cristo (Gl 6, 2). Se há tantos irmãos, amigos teus, sobrecarregados de trabalho! Com delicadeza, com cortesia, com um sorriso nos lábios, ajuda-os de tal maneira que se torne quase impossível que o notem; e que nem se possam mostrar agradecidos, porque a discreta finura da tua caridade fez com que ela passasse inadvertida” (São Josemaría Escrivá).

Lógica consequência do amor aos outros é, em primeiro lugar, a correção fraterna que o cristão faz com mansidão e humildade, buscando somente o bem do irmão, e consciente ao mesmo tempo da própria debilidade e imperfeição pessoal: “Nunca há de tomar-se o cuidado de repreender o pecado alheio, senão quando, depois de examinar a nossa consciência com perguntas internas, nos respondemos diante de Deus, sem titubeações, que o fazemos por amor” (Santo Agostinho).

A outra manifestação da caridade que nos indica esta passagem é a de levar os fardos dos outros, sem descuidar os próprios: “A caridade, que é como que um transbordar generoso da justiça, exige em primeiro lugar o cumprimento do dever: começa-se pelo que é justo; continua-se pelo que é mais equitativo... Mas para amar requer-se muita finura, muita delicadeza, muito respeito, muita afabilidade; numa palavra, seguir aquele conselho do Apóstolo: levai as cargas uns dos outros e assim cumprireis a lei de Cristo (Gl 6, 2). Então, sim, vivemos plenamente a caridade e realizamos o mandato de Jesus” (São Josemaría Escrivá).

 

FIDELIDADE

 

Na Carta de São Paulo aos Gálatas diz: “Mas o fruto do Espírito é fidelidade...” (Gl 5, 22).

À mansidão, tão necessária para manter o bom entendimento na vida social, acrescenta São Paulo a FIDELIDADE. Que devemos entender por esta FIDELIDADE? Santo Tomás de Aquino vê nela a qualidade sobrenatural que inclina a vontade do homem a dar ao próximo tudo o que lhe é devido, sob a forma que for. Noutras palavras, é a justiça perfeita, a justiça no seu mais pleno acabamento.

E o que devemos nós ao próximo? Todos os nossos deveres para com ele, responde-nos São Paulo, resumem-se numa só palavra; amá-lo. Quem ama o próximo cumpriu toda a lei (Rm 13, 8), diz-nos, ou; Carregai uns os fardos dos outros, e assim cumprireis a lei de Cristo (Gl 6, 2). Com efeito, a caridade é o cume e o vínculo da perfeição (Cl 3, 14).

Amar o próximo como Cristo nos amou e continua a amar, com um amor misericordioso, isto é, um amor preveniente (que chega antes) e inteiramente gratuito, um amor que não espera que os outros o mereçam. Que mérito haveria em amar os que nos amam e os que são amáveis? Não é isso o que fazem igualmente os maus e os pagãos?

Amar o próximo com um amor afetivo, ou seja, com um amor benevolente, que se alegra com todo o bem natural e sobrenatural que enxerga nos outros, e com um amor compassivo, que se entristece com todo o mal que vê no próximo e, sobretudo, com a infelicidade das almas desprovidas da graça santificante e inconscientes da sua miserável situação. Tenho compaixão da multidão (Mc 8, 2), queixava-se Jesus Cristo.

Amá-lo com um amor efetivo, com um amor que se traduza na prática em mil atenções e delicadezas para com todos os que nos rodeiam e na prontidão em esquecer as indelicadezas e as ofensas que nos façam, buscando de todas as formas estreitar os laços da caridade fraterna quando por infelicidade se tenham afrouxado; e isso, qualquer que seja a causa desse esfriamento, quer provenha de nós ou dos outros. Não esperemos que os outros dêem o primeiro passo. Apressemo-nos nós a dá-lo por amor a Deus e sem nos ocuparmos do que diz o nosso amor-próprio.

É somente nestas condições que poderemos praticar perfeitamente a justiça para com o próximo; afinal, estamos obrigados por um mandamento de Cristo a amá-lo como Ele nos amou (Jo 13, 34). Como seria amável e fácil a vida em sociedade se cada um de nós amasse os outros com esse amor misericordioso, preveniente, gratuito, benevolente, compassivo; com essa caridade ao mesmo tempo afetiva e efetiva, que devemos uns aos outros por vontade do Senhor!

A alma inteiramente entregue à ação dos dons do ESPÍRITO SANTO pratica de maneira espontânea e quase natural esta perfeita caridade. É uma “alma de alegria”. Irradia a alegria de Cristo como o fazia a Virgem Santíssima, a quem a Igreja nos convida a invocar sob o belo título de Causa da nossa alegria e de Nossa Senhora da Alegria. Alegria pura e santa, alegria que não é dissipação, mas fruto do recolhimento e do verdadeiro amor; fruto de uma alma que transborda da paz divina porque não vive mais que para Deus por Jesus Cristo no seu ESPÍRITO DIVINO.

 

Oração

 

A nós descei Divina Luz! Em nossas almas acendei o amor de Jesus. Sem Vós, Espírito Divino, cegos só poderemos errar; e do mais triste desatino, no mais profundo abismo, sem fim penar. O negro inferno nos faz atroz guerra, contra nós arma o mundo sedutor; tudo é para nós perigo nesta terra, sois Vós nosso libertador. Amém.

 

Pe. Divino Antônio Lopes FP (C)

Anápolis, 12 de setembro de 2014

 

 

Bibliografia

 

Sagrada Escritura

Edições Theologica

Máximas eternas

Pe. Juan Leal, A Sagrada Escritura

Alexis Riaud, A ação do Espírito Santo na alma

São Josemaría Escrivá, Amigos de Deus, n.º 44 e 173

Santo Agostinho, Exp. in Gal, 57

 

 

 

 

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Pe. Divino Antônio Lopes FP. “Fidelidade: Fruto do Espírito Santo”

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