SERÁS SALVO (Rm 10, 9)
“Porque, se confessares com tua boca que Jesus é Senhor e creres em teu coração que Deus o ressuscitou dentre os mortos, serás salvo”.
Pelo menos desde o século II a. C. (antes de Cristo) temos documento que os Hebreus não pronunciavam, por respeito, o nome de Yahwéh, mas substituíam-no geralmente pelo de Senhor. Os primeiros cristãos, ao aplicar a Cristo o título de Senhor, faziam profissão de fé na divindade de Jesus Cristo. Basta ao homem por em sua boca e em seu coração a palavra da fé que pregamos, isto é, o Evangelho que anunciamos, para fazer que nasça a fé. Porque, continua, “... se confessares com tua boca que Jesus é Senhor e creres em teu coração que Deus o ressuscitou dentre os mortos, serás salvo”. São Paulo considera um duplo aspecto da fé: interior e exterior; profissão do cristianismo e adesão do coração. A esta fé cristã assinala São Paulo como objeto essencial a confissão do senhorio de Jesus Cristo, isto é, sua divindade, senhorio manifestado na ressurreição dentre os mortos. O Papa Francisco disse na Catequese: Mas como é que nos foi transmitida a verdade de fé da Ressurreição de Cristo? Há dois tipos de testemunhos no Novo Testamento: alguns estão na forma de profissão de fé, ou seja, de fórmulas sintéticas que mostram o núcleo da fé; outros, pelo contrário, estão na forma de narração do evento da Ressurreição e dos fatos ligados a ela. A primeira: a forma da profissão de fé, por exemplo, é aquela que acabamos de escutar, como também aquela da Carta aos Romanos na qual São Paulo escreve: “Porque, se confessares com tua boca que Jesus é Senhor e creres em teu coração que Deus o ressuscitou dentre os mortos, serás salvo” (10, 9). Desde os primeiros passos da Igreja é bem sólida e clara a fé no Mistério da Morte e Ressurreição de Jesus. Hoje, porém, gostaria de deter-me na segunda, nos testemunhos como forma de narração, que encontramos nos Evangelhos. Em primeiro lugar notemos que as primeiras testemunhas deste evento foram as mulheres. Na aurora, elas vão até o sepulcro para ungir o corpo de Jesus, e encontram o primeiro sinal: o túmulo vazio (Mc 16,1ss.). Depois continua o encontro com um Mensageiro de Deus que anuncia: Jesus de Nazaré, o Crucificado, não está aqui, ressuscitou (cf. vv 5-6.). As mulheres são movidas pelo amor e sabem acolher este anúncio com fé: crêem, e rapidamente o transmitem, não o guardam para si, transmitem-no. A alegria de saber que Jesus está vivo, a esperança que enche o coração, não pode ser contida. Isto também deveria acontecer na nossa vida. Sentimos a alegria de ser cristãos! Nós cremos num Ressuscitado que venceu o mal e a morte! Temos a coragem de “sair” para levar essa alegria e essa luz a todos os lugares da nossa vida? A Ressurreição de Cristo é a nossa maior certeza; é o tesouro mais precioso! Como não compartilhar com os outros esse tesouro, essa certeza? Não é só para nós, é para transmiti-la, para dar aos outros, compartilhar com os outros. E é o nosso testemunho. Outro elemento. Nas profissões de fé do Novo Testamento, como testemunhas da Ressurreição são lembrados somente homens, os Apóstolos, mas não as mulheres. Isto porque, de acordo com a lei judaica da época, as mulheres e as crianças não podiam dar um testemunho confiável, credível. Nos Evangelhos, no entanto, as mulheres têm um papel primordial, fundamental. Aqui podemos captar um elemento a favor da historicidade da Ressurreição: se fosse um fato inventado, no contexto daquela época não teria sido ligado ao testemunho das mulheres. Os evangelistas, pelo contrário, narram simplesmente o que aconteceu: as mulheres são as primeiras testemunhas. Isso diz que Deus não escolhe de acordo com os critérios humanos: as primeiras testemunhas do nascimento de Jesus são os pastores, gente simples e humilde; as primeiras testemunhas da Ressurreição são as mulheres. E isso é bonito. E essa é um pouco a missão das mulheres: das mães, das mulheres! Dar testemunho aos filhos, aos netos, que Jesus está vivo, é o vivente, ressuscitou. Mães e mulheres, adiante com este testemunho! Para Deus o que conta é o coração, o quanto estamos abertos a Ele, se somos como as crianças que confiam. Mas isso nos faz refletir também sobre como as mulheres, na Igreja e no caminho de fé, tenham tido e também hoje o tenham, um papel especial no abrir as portas para o Senhor, no segui-lo e no comunicar o seu Rosto, porque o olhar de fé tem sempre necessidade do olhar simples e profundo do amor. Os Apóstolos e os discípulos têm mais dificuldades para crer. As mulheres não. Pedro corre ao sepulcro, mas fica parado diante do túmulo vazio; Tomé tem que tocar com as suas mãos as feridas do corpo de Jesus. Também no nosso caminho de fé é importante saber e sentir que Deus nos ama, não ter medo de amá-lo: a fé se professa com a boca e com o coração, com a palavra e com o amor. Depois das aparições às mulheres, acontecem outras: Jesus se faz presente de um modo novo. No começo não o reconhecem, e somente por meio das suas palavras e dos seus gestos que os olhos se abrem: o encontro com o Ressuscitado transforma, dá uma nova força à fé, um fundamento inabalável. Também para nós há tantos sinais em que o Ressuscitado se deixa reconhecer: a Sagrada Escritura, a Eucaristia, os outros sacramentos, a caridade, aqueles gestos de amor que trazem um raio do Ressuscitado. Deixemo-nos iluminar pela Ressurreição de Cristo, deixemo-nos transformar pela sua força, para que também através de nós os sinais de morte no mundo cedam o lugar aos sinais de vida... Eis aí! Digo a vocês: Levem adiante esta certeza: o Senhor está vivo e caminha ao nosso lado na vida. Esta é a missão de vocês! Levar adiante esta esperança. Estejam ancorados nessa esperança: esta âncora que está no céu; segurem forte a corda, estejam ancorados e levem adiante a esperança. Vocês, testemunhas de Jesus, levem adiante o testemunho de que Jesus está vivo e isto lhes dará esperança, dará esperança a este mundo um pouco envelhecido pelas guerras, pelo mal e pelo pecado. O Papa Bento XVI ensinou na Audiência Geral: Ressuscitando-o, o Pai glorificou-o. São Paulo assim escreve na Carta aos Romanos: “Se confessares com a tua boca o Senhor Jesus e creres no teu coração que Deus O ressuscitou dentre os mortos, serás salvo” (10, 9). É importante reafirmar esta verdade fundamental da nossa fé, cuja verdade histórica é amplamente documentada, mesmo se hoje, como no passado, não falta quem de modos diversos a põe em dúvida ou até a nega. O enfraquecimento da fé na ressurreição de Jesus consequentemente torna débil o testemunho dos que crêem. De fato, se faltar na Igreja a fé na ressurreição, tudo para, tudo desmorona. Ao contrário, a adesão do coração e da mente a Cristo morto e ressuscitado muda a vida e ilumina toda a existência das pessoas e dos povos. Não é porventura a certeza de que Cristo ressuscitou que dá coragem, audácia profética e perseverança aos mártires de todos os tempos? Não é o encontro com Jesus vivo que converte e fascina tantos homens e mulheres, que desde o início do cristianismo continuam a deixar tudo para segui-lo e pôr a própria vida ao serviço do Evangelho? “Se Cristo não ressuscitou é vã a nossa pregação e vã a nossa fé” (1 Cor 15, 14). Mas ressuscitou! O anúncio que ouvimos constantemente de novo nestes dias é precisamente este: Jesus ressuscitou, é o Vivente e nós podemos encontrá-Lo. Como o encontraram as mulheres que, na manhã do terceiro dia, o dia depois do sábado, tinham ido ao sepulcro; como o encontraram os discípulos, surpreendidos e perturbados com o que as mulheres tinham contado; como o encontraram muitas outras testemunhas nos dias depois da sua ressurreição. E, também depois da sua Ascensão, Jesus continuou a permanecer presente entre os seus amigos como tinha prometido: “E Eu estarei sempre convosco, até ao fim do mundo” (Mt 28, 20). O Senhor está conosco, com a sua Igreja, até ao fim dos tempos. Iluminados pelo Espírito Santo, os membros da Igreja primitiva começaram a proclamar o anúncio pascal abertamente e sem receio.
Pe. Divino Antônio Lopes FP (C) Anápolis, 09 de dezembro de 2014
Bibliografia
Sagrada Escritura Edições Theologica Pe. Juan Leal, A Sagrada Escritura Lagrange, Escritos Lyonnet no comentário de Huby Schmidt, Jésus ressuscite L. Cerfaux, Le Christ Papa Francisco, Catequese Papa Bento XVI, Audiência Geral
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