SATANÁS SERÁ SOLTO

(Ap 20, 7-10)

 

7 Quando se completarem os mil anos, Satanás será solto de sua prisão 8 e sairá para seduzir as nações dos quatro cantos da terra, Gog e Magog, reunindo-as para o combate; seu número é como a areia do mar... 9 Subiram sobre a superfície da terra e cercaram o acampamento dos santos e a Cidade amada; mas um fogo desceu do céu e os devorou. 10 O Diabo que os seduzira foi então lançado no lago de fogo e de enxofre, onde já se achavam a Besta e o falso profeta. E serão atormentados dia e noite, pelos séculos dos séculos”.

 

Deus permitirá que a ação diabólica seja especialmente intensa nos últimos dias. Assim o ensinou também o Senhor, quando predisse para esse tempo uma tribulação como não a houve nunca (Mt 24, 21-22). Pela sua parte São Paulo menciona o homem iníquo que chegará a sentar-se no Templo e a proclamar-se Deus (2 Ts 2, 3-8).

O autor do Apocalipse apoia-se de novo em Ezequiel, capítulos 38-39, para descrever o combate final. Gog e Magog são nomes pertencentes aos povos do Norte, próximos do Mar Negro, cuja invasão foi tão desoladora que veio a ser o protótipo das invasões mais cruéis e ferozes. Descreve-se o seu avanço pela planície de Esdrelón, cenário de tantas batalhas, para subir para as montanhas de Judá, numa de cujas colinas se assenta Jerusalém, símbolo da Cidade amada: a Igreja. Não obstante, esse avanço poderoso e destruidor é cortado repentinamente pelo poder absoluto de Deus.

Com o lançamento do Diabo no tanque de fogo e enxofre termina a ação do mal sobre a terra. Ali, junto com a BESTA e o FALSO PROFETA, os ímpios serão atormentados eternamente. Uma vez mais as Sagradas Escrituras ensinam a duração eterna do castigo divino (Mt 18, 8, 25, 41).

O Pe. José Salguero comenta: Passados os mil anos em que o Diabo esteve acorrentado, será solto, e então se dedicará a seduzir o mundo e a reunir forças para dar o último assalto contra Deus (versículo 7). Como o Império Romano e o sacerdócio pagão, simbolizados pelas duas BESTAS, já haviam desaparecidos aniquilados por Jesus Cristo e seu exército, Satanás busca aliados e colaboradores nas pessoas de Gog e Magog. Para a redação deste último episódio da luta entre Jesus Cristo e Satanás, São João Evangelista se inspirou em Ezequiel (capítulos 38-39), onde se fala da invasão de Gog. Os povos pertencentes a Gog e Magog se fizerem célebres na literatura judia depois de sua invasão na Ásia (630 a. C.) por sua ferocidade. Ezequiel nos apresenta Israel recentemente restaurado, que habita na sua terra tranquilo e confiando mais na proteção do Senhor que nas fortalezas de suas cidades, desprovidas de muralhas. Das regiões de Aquilon chega uma invasão feroz de povos desconhecidos, os quais, atraídos pela fácil presa que Israel lhe oferece, pretendem destruí-lo. Porém, o Senhor intervém em favor do seu povo, semeia a discórdia no campo dos invasores e uns aos outros se destroem totalmente.

Jesus Cristo também nos fala que no fim dos tempos as lutas contínuas entre a cidade do mundo e a cidade de Deus se agravarão (Mt 24, 21-22). E São Paulo, escrevendo aos tessalonicenses, também diz que chegará um tempo em que o homem da iniquidade será deixado livre, e então se manifestará o ímpio, a quem o Senhor Jesus matará com o sopro de sua boca, destruindo-o com a manifestação de sua vinda (2 Ts 2, 3-8).

Pois, o que o Salvador e seu Apóstolo nos expõem nesta forma, São João Evangelista nos declara inspirando-se, como já foi falado, em Ezequiel. O DIABO, uma vez solto, lhe será permitido seduzir as nações dos quatro cantos da terra (versículo 8), isto é, nas fronteiras do Império Romano. As organizará em torno de seus aliados Gog e Magog, formando com eles um exército numeroso como as areias do mar.

A. Gelin explica: Magog é citado em Gênesis 10, 2 como filho de Jafé. Em Ezequiel 38, 2, Magog é o país ou o reino do príncipe Gog. Este país estava situado perto do Mar Negro. Na literatura apocalíptica posterior, Gog e Magog designam claramente dois povos. Para o autor do Apocalipse simbolizam as nações pagãs coligadas pelo Diabo contra a Igreja.

Continuando com a explicação do Pe. José Salguero: Gog era para os judeus e cristãos dos primeiros séculos um condutor de bando de bárbaros contra a Palestina e Jerusalém, como o seria mais tarde para o mundo cristão Atila com seus exércitos. Gog, por instigação diabólica, reunirá um imenso bando selvagem e bárbaro no fim dos séculos para destruir a Igreja de Jesus Cristo, que, como Israel depois da restauração, vivia tranquila em torno do seu Senhor. Esse bando feroz como os exércitos de Gog em Ezequiel subirão sobre a superfície da terra e cercarão o acampamento dos santos e a Cidade amada (versículo 9), que é a Igreja, e acabar com ela.

Tanto no Antigo como no Novo Testamento se usa com frequência a expressão subir para indicar a ida para a Palestina, e principalmente para Jerusalém (Lc 2, 4). E, com efeito, a terra de que nos fala São João designa a Palestina; e a planície deve ser a de Esdrelón, lugar de passagem obrigatória dos exércitos invasores.  Estes bandos  invasores devem ser os mesmos que se uniram aos reis da terra em Harmagedôn para lutar contra Deus e o Cordeiro (Ap 16, 16). Logo cercam o acampamento dos santos, isto é, dos cristãos, que constituem o verdadeiro povo de Deus, e a cidade amada, a Sião do Antigo Testamento, que aqui representa a nova Jerusalém, a Igreja de Jesus Cristo. Porém, Deus irá em auxílio dos seus fiéis. Como em Ezequiel (Ez 38, 22; 39, 6) e como na literatura apocalíptica, a vitória se obtém sem necessidade de luta (Ap 11, 5). O Senhor fará descer fogo do céu e os devorará. Com isso, o exército invasor ficará totalmente destruído. Satanás, que havia usado todos os meios para destruir a Igreja, será definitivamente encarcerado. Já não poderá destruir a nova Jerusalém. Assim terminarão as lutas entre as duas cidades: a de Deus e a do Diabo. Trata-se, naturalmente, das lutas das nações infiéis e heréticas contra a Igreja, que no final dos tempos se desencadearão com redobrada ferocidade. Uma vez vencido o DRAGÃO neste combate final, será lançado no lago de fogo, onde lhe haviam precedido a BESTA e o FALSO PROFETA, e onde serão atormentados dia e noite pelos séculos dos séculos (versículo 10). A derrota de Satanás será definitiva. Já não sairá mais do inferno, onde se encontrou com os imperadores que se encarnaram na BESTA, e os sacerdotes pagãos e falsos doutores que combateram o nome de Jesus Cristo e seduziram os fiéis (Ap 13, 11-17). O autor sagrado ensina claramente a eternidade das penas do inferno. E parece contemplar um período em que os inimigos de Deus e de sua Igreja desaparecerão totalmente. Talvez se refira ao termo do ciclo da Igreja perseguida e militante e ao começo da Igreja triunfante. Fecha-se o tempo para dar início à eternidade (comenta M. Garcia Cordero).

O Pe. Miguel Nicolau explica (Ap 20, 7): Depois de cumprir-se o longo tempo de mil anos, Satanás, por permissão de Deus, será solto do abismo onde se acha preso. Estava na prisão.

Ap 20, 8: Volta para perseguir, usando da sua velha tática, com ódio petrificado. Reúne os povos contra a comunidade de Deus. Como a grande cortesã, Babilônia, que é a Roma pagã, não existe, vai aos gentios ou bárbaros, que estão nos quatro ângulos do Império (Ap 7, 1), isto é, nas fronteiras do mundo romano, política e geograficamente, da grande cidade de Babilônia. As intenções são as de sempre: seduzir, enganar e induzir ao erro. Seus aliados são Gog e Magog. Estamos de novo diante de uma alusão velho testamentária. Ezequiel escreve com fortes traços o trabalho de Gog, príncipe de Mosoc e Tubal, que forma um terrível exército e reúne como aliados a Pérsia, Etiópia, Put, Gomer e Togarma. Depois de muitos preparativos invadiram a Palestina com a finalidade de aniquilar o povo de Deus. Entretanto, Deus lutou com os seus e destruiu vergonhosamente os exércitos aliados. Israel será o senhor do mundo (Ezequiel, capítulos 38 e 39). Desde esse momento da profecia de Ezequiel pode considerar-se a Gog como presságio das grandes derrotas que sofrerão os inimigos do povo de Deus. No Velho Testamento, Gog é uma pessoa, um príncipe; Magog é o nome de sua terra. É uma região que está junto às costas do Mar Negro, no nordeste de Anatólia. Assim aparece no mapa das nações do Gênesis (Gn 10, 2). Entretanto, o Apocalipse parece dizer que Magog é também uma pessoa. Pode entender que seja o exército nacional. Em todo caso, a tradição rabínica une sempre os dois nomes indistintamente (comenta Bonsirven). Gog é um condutor de Bárbaros. Leva com os seus aliados morte e fogo às outras regiões.

Ap 20, 9: Sobem os inimigos para a  terra. A palavra subir indica a ida para a Palestina, e especialmente para Jerusalém (Lc 2, 4). Fala-se da planície da terra. Alguns querem ver nesta frase toda a Palestina. Terra se refere, sem dúvida, à Terra Prometida, Palestina. Parece mais provável que a planície é a de Esdrelón.

Ap 20, 10: Não basta essa derrota. Agora se fecha o drama do Apocalipse. Satanás, o pior inimigo de Deus e de sua obra, o que queria ser até este momento senhor do mundo (Jo 12, 31), é castigado definitivamente. Já não poderá com o seu poder destruir a Igreja. Ele foi lançado no mar de fogo e enxofre... isto é, no inferno. No inferno ele encontrou os imperadores que encarnaram na BESTA e os filósofos falsos religiosos, sedutores da humanidade contra a obra de Deus, segundo foi dito (Ap 13, 11-17). Serão atormentados de dia e de noite, sem pausas, pelos séculos dos séculos... eternamente.

 

Pe. Divino Antônio Lopes FP (C)

Anápolis, 24 de junho de 2015

 

 

Bibliografia

 

Sagrada Escritura

Edições Theologica

A. Gelin, o. c. 658

M. Garcia Cordero, o. c. p. 210

Bonsirven, JP I 460-464

Pe. José Salguero, Bíblia Comentada

Pe. Miguel Nicolau, A Sagrada Escritura

 

 

 

 

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Pe. Divino Antônio Lopes FP. “Satanás será solto”

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