LIVRO DE AGEU Sê forte... todo o povo da terra (Capítulos 1 e 2)
Capítulo 1
“1 No segundo ano do rei Dario, no sexto mês, no primeiro dia do mês, a palavra de Deus foi dirigida, por intermédio do profeta Ageu, a Zorobabel, filho de Salatiel, governador de Judá, e a Josué, filho de Josedeac, grão-sacerdote, nos seguintes termos: 2 Assim disse o Senhor dos Exércitos. Este povo disse: ‘Ainda não chegou o momento de reconstruir o Templo de Deus’. 3 (E a palavra do Senhor foi dirigida por intermédio do profeta Ageu nos seguintes termos:) 4 É para vós tempo de habitar em casas revestidas, enquanto esta casa está em ruínas? 5 Agora, pois, assim disse o Senhor dos Exércitos: Pensai bem em vossos caminhos! 6 Semeastes muito e colhestes pouco, comestes, mas não vos saciastes, bebestes, mas não até a embriaguez, vestistes-vos, mas não vos aquecestes, e o assalariado coloca o seu salário em uma bolsa furada. 7 Assim disse o Senhor dos Exércitos. Pensai bem em vossos caminhos! 8 Subi a montanha, trazei madeira e reconstruí a casa! Nela eu colocarei a minha complacência e serei glorificado, disse Deus. 9 Esperastes muito e eis que veio pouco. O que recolhíeis, eu, soprando, o espalhava. Por que isto? — oráculo do Senhor dos Exércitos. Por causa de minha Casa que está em ruínas, enquanto vós correis cada um para a sua casa. 10 Por isso, o céu reteve a chuva, e a terra reteve os seus frutos. 11 Convoquei uma seca sobre a terra e sobre os montes, sobre o trigo, sobre o mosto e sobre o óleo novo, sobre tudo o que o solo produz, sobre os homens e sobre o gado, sobre todo o trabalho das mãos. 12 Ora, Zorobabel, filho de Salatiel, Josué, filho de Josedec, grão-sacerdote e todo o resto do povo ouviram a voz do Senhor seu Deus, e as palavras do profeta Ageu, como lhe ordenara o Senhor seu Deus, e o povo temeu a Deus. 13 Disse Ageu, o mensageiro de Deus, ao povo, conforme a mensagem do Senhor: ‘Eu estou convosco, oráculo do Senhor’. 14 Deus suscitou o espírito de Zorobabel, filho de Salatiel, governador da Judéia, o espírito de Josué, filho de Josedec, grão-sacerdote, e o espírito do resto do povo: eles vieram e se entregaram ao trabalho no Templo do Senhor dos Exércitos, seu Deus. 15 No vigésimo quarto dia do sexto mês”.
Em Ageu 1, 1-11 diz: “No segundo ano do rei Dario, no sexto mês, no primeiro dia do mês, a palavra de Deus foi dirigida, por intermédio do profeta Ageu, a Zorobabel, filho de Salatiel, governador de Judá, e a Josué, filho de Josedeac, grão-sacerdote, nos seguintes termos: Assim disse o Senhor dos Exércitos. Este povo disse: ‘Ainda não chegou o momento de reconstruir o Templo de Deus’. (E a palavra do Senhor foi dirigida por intermédio do profeta Ageu nos seguintes termos:) É para vós tempo de habitar em casas revestidas, enquanto esta casa está em ruínas? Agora, pois, assim disse o Senhor dos Exércitos: Pensai bem em vossos caminhos! Semeastes muito e colhestes pouco, comestes, mas não vos saciastes, bebestes, mas não até a embriaguez, vestistes-vos, mas não vos aquecestes, e o assalariado coloca o seu salário em uma bolsa furada. Assim disse o Senhor dos Exércitos. Pensai bem em vossos caminhos! Subi a montanha, trazei madeira e reconstruí a casa! Nela eu colocarei a minha complacência e serei glorificado, disse Deus. Esperastes muito e eis que veio pouco. O que recolhíeis, eu, soprando, o espalhava. Por que isto? — oráculo do Senhor dos Exércitos. Por causa de minha Casa que está em ruínas, enquanto vós correis cada um para a sua casa. Por isso, o céu reteve a chuva, e a terra reteve os seus frutos. Convoquei uma seca sobre a terra e sobre os montes, sobre o trigo, sobre o mosto e sobre o óleo novo, sobre tudo o que o solo produz, sobre os homens e sobre o gado, sobre todo o trabalho das mãos”.
Segundo a indicação cronológica introdutória, esta profecia foi proferida em 520 a. C. (segundo de Dario: 521-485 a. C.), por volta de agosto (o mês sexto, o dia primeiro). Este Dario, sucessor de Cambises, é o mesmo que foi derrotado em Maratona em 490 a. C. pelos gregos. Zorobabel, neto do rei Jeconias, levado em cativeiro em 597 c. C., é o que dirigiu a primeira expedição de retorno dos exilados. Se lhe dá o título de governador, que é o título persa equivalente ao de alto comissário ou representante oficial da colônia judia ante a corte persa. Josué era o sumo sacerdote, neto de Saraías, que havia sido morto em Rebla na conquista caldeia em 586 a. C. (2 Rs 25, 18. 21; Ne 12, 10ss.). O profeta Ageu se dirige às duas autoridades, civil e religiosa, como responsáveis principais da desordem por não continuar as obras do templo, começadas quinze anos antes (537 a. C.), a raiz do retorno do exílio (Esdras 3). A interrupção das obras foi devida aos manejos de pessoas hostis que colocaram as autoridades persas contra os judeus (Esdras 4, 1-5). O profeta lança em seus rostos as suas negligências, pois enquanto se preocupavam em levantar suas belíssimas casas, até luxuosas, deixaram de lado a casa de Deus. Por isso Deus os castiga a viverem num estado de penúria. As colheitas são escassas e reina a fome e a necessidade. Deus não pode abençoar uma sociedade que não se preocupa com Ele. Em Ageu 1, 4 diz: “É para vós tempo de habitar em casas revestidas, enquanto esta casa está em ruínas?” Deus merece o melhor! Para Deus o mais belo e perfeito! Ofereçamos para Nosso Senhor aquilo que temos de melhor e precioso: o melhor cálice, a mais bela patena, o mais piedoso ostensório, os melhores paramentos...: “Aquela mulher que, em casa de Simão, o leproso, em Betânia, unge com rico perfume a cabeça do Mestre, recorda-nos o dever de sermos magnânimos no culto de Deus. – Todo o luxo, majestade e beleza me parecem pouco. – E contra os que atacam a riqueza dos vasos sagrados, paramentos e retábulos, ouve-se o louvor de Jesus: ‘Opus enim bonum operata est in me’ – uma boa obra fez para comigo” (São Josemaría Escrivá). Hoje, gasta-se bilhões de dólares em construção de estádios de futebol, quadras de esportes, clubes... e para o Senhor do Universo constroem-se barracões, parecidos com latrinas. As casas recebem preciosas mobílias e raras pratarias; para o culto divino, oferecem-se objetos mesquinhos e ridículos. Deus, Nosso Senhor, merece o melhor, o mais belo e caro. Não economizemos quando se trata de ornamentar a casa de Deus. São João Paulo II escreve: “Quando alguém lê o relato da instituição da Eucaristia nos Evangelhos Sinóticos, fica admirado ao ver a simplicidade e simultaneamente a dignidade com que Jesus, na noite da Última Ceia, institui este grande sacramento. Há um episódio que, de certo modo, lhe serve de prelúdio: é a unção de Betânia. Uma mulher, que João identifica como sendo Maria, irmã de Lázaro, derrama sobre a cabeça de Jesus um vaso de perfume precioso, suscitando nos discípulos – particularmente em Judas (Mt 26, 8; Mc 14, 4; Jo 12, 4) – uma reação de protesto contra tal gesto que, em face das necessidades dos pobres, constituía um ‘desperdício’ intolerável. Mas Jesus faz uma avaliação muito diferente: sem nada tirar ao dever da caridade para com os necessitados, aos quais sempre se hão de dedicar os discípulos – ‘Pobres, sempre os tereis convosco’ (Jo 12, 8; cf. Mt 26, 11; Mc 14, 7) –, Ele pensa no momento já próximo da sua morte e sepultura, considerando a unção que Lhe foi feita como uma antecipação daquelas honras de que continuará a ser digno o seu corpo mesmo depois da morte, porque indissoluvelmente ligado ao mistério da sua pessoa”, e: “Que prova tão clara de magnanimidade o excesso de Maria! Judas lamenta que se tenha desperdiçado um perfume que valia – com a sua avareza fez muito bem as contas – pelo menos trezentos dinheiros. O verdadeiro desprendimento leva-nos a ser muito generosos com Deus e com os nossos irmãos (...). Não sejais mesquinhos nem tacanhos com quem tão generosamente se excedeu conosco, até se entregar totalmente, sem medida. Pensai quanto vos custa – também no domínio econômico – ser cristão! Mas, sobretudo, não esqueçais que Deus ama quem dá com alegria (2 Cor 9, 7-8)” (São Josemaría Escrivá). Em Ageu 1, 6 diz: “Semeastes muito e colhestes pouco, comestes, mas não vos saciastes, bebestes, mas não até a embriaguez, vestistes-vos, mas não vos aquecestes, e o assalariado coloca o seu salário em uma bolsa furada”. Muitas pessoas “colhem pouco”, “comem, mas não ficam saciadas”, exatamente porque RECEBEM INFRUTUOSAMENTE a SANTÍSSIMA EUCARISTIA. A Comunhão torna-se infrutífera, porque é recebida sem desejos. Comentando Ageu 1, 6, o Pe. Ramón Genover escreve: “Lamentando o santo profeta Ageu as misérias em que haviam de cair os cristãos, recordava uma delas, talvez a mais triste, dizendo: 'Comeis, e não ficais fartos; bebeis, e não estais embriagados'. Considera como é certo, que muitos cristãos se aproximam frequentemente do banquete de Jesus, e comem do pão divino, poderosíssimo para satisfazer todas as aspirações racionais do homem, e, apesar de tudo, nunca estão saciados; mas, desejosos e suspirando sempre pelas coisas mundanas, e tendo pouquíssima fortaleza para a virtude, como se nunca houvessem comido. Uma das causas de tão limitado fruto, é porque não comem este divino manjar com fome de desejo, mas somente por costume”. Santa Teresa de Jesus e Santa Maria Madalena de Pazzi escrevem: “Bastaria uma Comunhão para santificar-nos”. A Santíssima Eucaristia “é saúde, força e vida. Como pode ser então que, depois de centenas de Comunhões, e talvez, depois de anos e anos, eu me ache sempre débil de espírito, sempre fraco e sempre imperfeito? Como é possível tomar diariamente o remédio mais eficaz, sem jamais curar-se? Estar sempre em meio do fogo sem nunca se aquecer? Todo o dia ser regado e permanecer sempre árido? Qual a explicação de fenômeno tão lastimável? Provirá tal ineficiência, da Comunhão ou de quem comunga? Carece de virtude o Corpo e o Sangue do Salvador, ou carecerá de virtude meu coração e minha alma? Não, Salvador meu, a culpa não pode ser Vossa; é minha, toda minha!” (Frei Antonino de Castellammare). São MILHARES os católicos que COMUNGAM DIARIAMENTE, mas NÃO FAZEM NENHUM PROGRESSO na vida espiritual. Aproximam-se da Santíssima Eucaristia, porém, SEM FOME e SEM SEDE; FALTAM-LHES as DISPOSIÇÕES DEVIDAS, a PREPARAÇÃO, o AGRADECIMENTO... Comentando ainda Ageu 1, 6... Santo Afonso Maria de Ligório escreve: “Os bens do mundo tem somente aparência de bens, é por isso que não podem saciar o coração do homem: Comestes e não fostes saciados. Assim o avarento, quanto mais adquire, e o dissoluto, quanto mais se revolve em seus deleites, tanto mais se mostra, a um tempo, desgostoso e ávido de novos prazeres. O mesmo acontece ao ambicioso, que quer saciar-se com uma fumaça. Se os bens da terra pudessem contentar o homem, os ricos, os monarcas... seriam perfeitamente felizes, mas a experiência prova o contrário”. Em Ageu 1, 7-8 diz: “Assim disse o Senhor dos Exércitos. Pensai bem em vossos caminhos! Subi a montanha, trazei madeira e reconstruí a casa! Nela eu colocarei a minha complacência e serei glorificado, disse Deus”. EUNSA comenta os versículos 7 e 8: “O povo que tem sua origem em Deus, não poderá descobrir sua identidade se não percebe a Deus no meio dele”. Para mudar de vida e percorrer o caminho certo é necessário um sério EXAME de CONSCIÊNCIA: “Pensai bem em vossos caminhos!” (Ageu 1, 7). Quem se examina trilha o caminho da luz: “Para bem nos examinarmos, é mister antes de tudo invocar as luzes do Espírito Santo que perscruta os rins e os corações, e pedir-lhe que nos mostre os mais íntimos recessos da nossa alma, comunicando-nos o dom da ciência, que, entre outras, tem por função ajudar-nos a conhecermo-nos a nós mesmos, para nos conduzir a Deus” (Adolfo Tanquerey). É grande loucura sair em disparada por um caminho sem pensar no que está fazendo ou se está na direção certa. O EXAME de CONSCIÊNCIA nos ajuda a percorrer o caminho do bem. É preciso PENSAR BEM para não perder tempo em caminhos perigosos... para não jogar a vida fora. Quem examina verdadeiramente a sua vida não fica parado na “planície” desse mundo e dos vícios, mas abandona tudo o que não é de Deus para subir a “montanha” da perfeição e da santidade: “Subi a montanha” (Ageu 1, 8). A pessoa que faz o EXAME de CONSCIÊNCIA com sinceridade não consegue permanecer na “planície” do mundo. No cume “montanha” da perfeição e da santidade não devemos acomodar-nos; mas sim, continuar carregando a “madeira” da cruz “... trazei madeira” (Ageu 1, 8), para transformar a nossa alma num piedosíssimo santuário para a Santíssima Trindade: “... reconstruí a casa! Nela eu colocarei a minha complacência e serei glorificado, disse Deus” (Ageu 1, 8). Uma alma que vive na “planície” do pecado mortal assemelha-se a uma casa velha que deve ser “reconstruída”; somente assim Deus habitará nela e a encherá de complacência e de amor. Para isso é preciso subir a “montanha” da santidade... carregar a “madeira” da cruz e não se cansar de buscar a perfeição para tornar a alma sempre agradável a Deus... uma “casa” perfeita: “... que o santo continue a santificar-se” (Ap 22, 11). Para agradar a Deus não basta chegar ao cume da perfeição “montanha”; mas é preciso continuar o progresso espiritual através da renúncia, mortificação e penitência “madeira, cruz”... somente assim a nossa alma será um santuário agradável aos olhos de Deus: “Meus olhos estão nos leais da terra, para que habitem comigo” (Sl 100, 6). Deus atende uma alma pura e santa. É impossível construir esse santuário, isto é, tornar a alma agradável e pura diante de Deus sem a “madeira” da cruz. O Pontifício Instituto Bíblico de Roma comenta Ageu 1, 8: “Subi, das vossas cidades, ao monte santo de Jerusalém e trazei, do Líbano, a madeira para a reconstrução”. Em Ageu 1, 9 diz: “Esperastes muito e eis que veio pouco. O que recolhíeis, eu, soprando, o espalhava. Por que isto? — oráculo do Senhor dos Exércitos. Por causa de minha Casa que está em ruínas, enquanto vós correis cada um para a sua casa”. Deus quer que ofereçamos o melhor para Ele, comenta EUNSA. E essa oferenda deve se manifestar também na beleza da ornamentação dos Templos: “Entre as mais nobres atividades do espírito humano estão, de pleno direito, as belas artes, e muito especialmente a arte religiosa e o seu mais alto cimo, que é a arte sacra. Elas tendem, por natureza, a exprimir de algum modo, nas obras saídas das mãos do homem, a infinita beleza de Deus, e estarão mais orientadas para o louvor e glória de Deus se não tiverem outro fim senão o de conduzir piamente e o mais eficazmente possível, através das suas obras, o espírito do homem até Deus. É esta a razão por que a santa mãe Igreja amou sempre as belas artes, formou artistas e nunca deixou de procurar o contributo delas, procurando que os objetos atinentes ao culto fossem dignos, decorosos e belos, verdadeiros sinais e símbolos do sobrenatural. A Igreja julgou-se sempre no direito de ser como que o seu árbitro, escolhendo entre as obras dos artistas as que estavam de acordo com a fé, a piedade e as orientações veneráveis da tradição e que melhor pudessem servir ao culto” (Sacrosanctum Concilium, 122). É vontade de Deus que a sua “Casa”, isto é, nossa alma, esteja sempre ornamentada com a GRAÇA SANTIFICANTE, o mais belo ornamento: No Batismo, o católico recebe o Germe (semente) da SANTIDADE, A GRAÇA SANTIFICANTE; é um germe (semente) extraordinariamente fecundo porque faz o homem participante da VIDA DIVINA, e, por conseguinte, da santidade de Deus; germe (semente) capaz de produzir abundantes frutos de vida santa e de vida eterna, se a criatura colabora generosamente no seu desenvolvimento. Maturidade, significa perfeição. Plena, significa cheio, completo, amplo e inteiro. Todos os cristãos batizados receberam este dom, e eles serão santos, de fato, na medida que fizerem frutificar, com a ajuda de Deus, a graça recebida no Batismo, que é a GRAÇA SANTIFICANTE, ela permanece em nossa alma, tornando-a JUSTA e SANTA aos olhos de Deus. Quem trabalha em pecado mortal não entesoura para a Vida Eterna: “Esperastes muito e eis que veio pouco. O que recolhíeis, eu, soprando, o espalhava” (Ageu 1, 9). Esses geram somente obras mortas: “Ao atingirem a idade da razão, não exercitam a fé, nem praticam o bem na vida da graça, mas geram obras mortas. Suas ações, praticadas em estado de pecado, sem a iluminação da fé, são obras mortas” (Santa Catarina de Sena). A pessoa que trabalha em pecado mortal ESPERA MUITO, mas consegue pouco... RECOLHE, mas se espalha... (Ageu 1, 9), porque são OBRAS MORTAS: “A fé dos pecadores é uma fé morta. Não possuem as obras, e as que possuem não merecem a vida eterna, devido à ausência da caridade. Assim mesmo, eles devem praticar o bem, com ou sem a graça. Toda obra boa será remunerada, como todo mal terá seu prêmio. Quando praticada no estado de graça, a boa obra merece o céu; quando feita em pecado, embora sem merecimento, terá sua paga de várias maneiras” (Santa Catarina de Sena). Para agradar a Deus devemos manter a “Casa” da nossa alma ornamentada com a GRAÇA SANTIFICANTE; senão Ele não “passeará” nela: “Se uma casa não for habitada pelo dono ficará sepultada na escuridão, desonra e desprezo, repleta de toda espécie de imundícia. Também a alma, sem a presença de seu Deus e dos anjos que nela jubilavam, cobre-se com as trevas do pecado, de sentimentos vergonhosos e de completa ignomínia. Ai da estrada por onde ninguém passa nem se ouve voz de homem! Será morada de animais. Ai da alma, se nela não passeia Deus e com sua voz afugenta as feras espirituais da maldade! Ai da casa não habitada por seu dono! Ai da terra sem o lavrador que a cultiva! Ai do navio, se lhe falta o piloto; sacudido pelas ondas e tempestades do mar, soçobrará! Ai da alma que não tiver em si o verdadeiro piloto, o Cristo! Porque lançada na escuridão do mar impiedoso e sacudida pelas ondas das paixões, jogada pelos maus espíritos como em tempestade de inverno, encontrará afinal a morte. Ai da alma se lhe falta Cristo que a cultive com diligência, para que possa germinar os bons frutos do Espírito! Deserta, coberta de espinhos e de abrolhos, terminará por encontrar, em vez de frutos, a queimada. Ai da alma, se seu Senhor, o Cristo, nela não habitar! Abandonada, encher-se-á com o mau cheiro das paixões, virará moradia dos vícios”(São Macário). Em Ageu 1, 10-11 diz: “Por isso, o céu reteve a chuva, e a terra reteve os seus frutos. Convoquei uma seca sobre a terra e sobre os montes, sobre o trigo, sobre o mosto e sobre o óleo novo, sobre tudo o que o solo produz, sobre os homens e sobre o gado, sobre todo o trabalho das mãos”. Quem não cuida da “Casa” de Deus, isto é, da alma, cometendo o terrível pecado mortal, com certeza não O agrada e sofrerá as consequências: “O pecado mortal destrói a caridade no coração do homem por uma infração grave da lei de Deus; desvia o homem de Deus, que é o seu fim último e sua bem-aventurança, preferindo um bem inferior... O pecado mortal é uma possibilidade radical da liberdade humana, como o próprio amor. Acarreta a perda da caridade e a privação da graça santificante, isto é, do estado de graça. Se este estado não for recuperado mediante o arrependimento e o perdão de Deus, causa a exclusão do Reino de Cristo e a morte eterna no inferno, já que nossa liberdade tem o poder de fazer opções para sempre, sem regresso” (Catecismo da Igreja Católica). Sofrerá terríveis consequências (Ageu 1, 10-11): Não possui a caridade no coração: “Por isso, o céu reteve a chuva”. Realiza somente obras mortas: “... e a terra reteve os seus frutos”. Vive numa “estiagem” total, isto é, as obras realizadas não alegra o coração nem dá paz para a alma: “Convoquei uma seca sobre a terra e sobre os montes, sobre o trigo, sobre o mosto e sobre o óleo novo, sobre tudo o que o solo produz, sobre os homens e sobre o gado, sobre todo o trabalho das mãos”. A “seca” e a “estiagem” serão total para quem não possui a graça de Deus “chuva”. Quem vive no pecado mortal “vive a certeza do inferno” (Santa Catarina de Sena).
Em Ageu 1, 12-15 diz: “Ora, Zorobabel, filho de Salatiel, Josué, filho de Josedec, grão-sacerdote e todo o resto do povo ouviram a voz do Senhor seu Deus, e as palavras do profeta Ageu, como lhe ordenara o Senhor seu Deus, e o povo temeu a Deus. Disse Ageu, o mensageiro de Deus, ao povo, conforme a mensagem do Senhor: ‘Eu estou convosco, oráculo do Senhor’. Deus suscitou o espírito de Zorobabel, filho de Salatiel, governador da Judéia, o espírito de Josué, filho de Josedec, grão-sacerdote, e o espírito do resto do povo: eles vieram e se entregaram ao trabalho no Templo do Senhor dos Exércitos, seu Deus. No vigésimo quarto dia do sexto mês”.
A reação dos chefes da comunidade judia e do mesmo povo foi favorável à pregação do profeta, e assim puseram mãos à obra. Dá-se a data exata do princípio dos trabalhos. Para Ageu se lhe dá o título de ANJO (o enviado... mensageiro) de Deus; é a primeira vez que se dá este título a um profeta. Alguns autores creem que é uma interpolação (introdução ou intercalação de palavras ou frases em um texto). Nós temos traduzido por enviado no sentido geral, com o qual se evita o sentido de um ser sobrenatural. Não faltam quem preferem por a palavra anjo de Deus na boca do mesmo Ageu, traduzindo: Então Ageu disse: O anjo do Senhor, como a mensagem do Senhor para o povo, disse: Eu estou convosco, disse o Senhor (S. Bullough). Porém esta frase é forçada. EUNSA comenta Ageu 1, 12-15 diz: “Esses versículos acolhem a resposta do povo. O texto reproduz uma conciliação de ações muito reveladora: os ouvintes ‘escutam’ o oráculo e se enchem do ‘temor de Deus’; Deus então se adianta e lhes conforta com a promessa que sempre escutaram os líderes de Israel, ‘Eu estou convosco’ (versículo 13, Gn 26, 3; 31, 3; Ex 4, 12; Js 1, 5); além disso, inflama seu espírito para que se ponham a trabalhar na reedificação. Já se passaram vinte e quatro dias desde as primeiras palavras do profeta Ageu, porém o Senhor tem conseguido o seu objetivo”. De sua rica experiência no trato com Deus, Santa Teresa de Jesus disse umas palavras que bem poderiam aplicar-se neste lugar: “Como Ele não força a nossa vontade, toma o que lhe dão; mas não se dá a si de todo até que vê que nos damos de todo a Ele”. O Pontifício Instituto Bíblico de Roma comenta Ageu 1, 12-15: “Foi um perfeito despertar para o entusiasmo e para o zelo dos primeiros dias depois do regresso à pátria. Todos os que eram aptos para o trabalho vieram de Jerusalém e iniciaram os trabalhos preparatórios no dia vigésimo quarto daquele mesmo sexto mês, 24 dias apenas depois do primeiro discurso”. Deus não obriga o homem pecador a voltar para Ele; mas está sempre com as mãos estendidas para recebê-lo: “Eu estou convosco” (Ageu 1, 13). Cabe ao pecador encher-se do temor de Deus e “reconstruir” a “Casa” da alma que está arruinada: “... eles vieram e se entregaram ao trabalho no Templo do Senhor dos Exércitos, seu Deus”. Eles construíram o Templo; enquanto que o pecador “reconstrói” a “Casa” de Deus, isto é, a alma. Deus espera o pecador, mas não espera sempre... por isso é preciso se humilhar diante de Deus e aproveitar de suas graças para recuperar o que estava perdido: “...se Deus espera com paciência, não espera sempre” (Santo Afonso Maria de Ligório).
Capítulo 2
“No segundo ano do rei Dario, 1 no sétimo mês, no vigésimo primeiro dia, a palavra do Senhor foi dirigida por intermédio do profeta Ageu, nos seguintes termos: 2 Fala, pois, assim a Zorobabel, filho de Salatiel, governador de Judá, e a Josué, filho de Josedec, grão-sacerdote, e ao resto do povo. 3 Quem é entre vós o sobrevivente que viu este Templo em sua glória primeira? E como o vedes agora? Ele não é como nada a vossos olhos? 4 Agora, pois, sê forte, Zorobabel, oráculo do Senhor. Sê forte, Josué, filho de Josedec, grão-sacerdote, sê forte, todo o povo da terra, oráculo do Senhor, e trabalhai, porque eu estou convosco — oráculo do Senhor dos Exércitos — 5 e o meu espírito permanecerá entre vós. Não temais! 6 Porque assim disse o Senhor dos Exércitos. Ainda um pouco de tempo e eu abalarei o céu, a terra, o mar e o continente. 7 Abalarei todas as nações, então afluirão as riquezas de todas as nações e eu encherei este Templo de glória, disse o Senhor dos Exércitos. 8 A mim pertence a prata! A mim pertence o ouro! Oráculo do Senhor dos Exércitos. 9 A glória futura deste Templo será maior do que a passada, disse o Senhor dos Exércitos, e neste lugar eu darei a paz, oráculo do Senhor dos Exércitos. 10 No vigésimo quarto dia do nono mês, no segundo ano de Dario, a palavra do Senhor foi dirigida ao profeta Ageu nestes termos: 11 Assim disse o Senhor dos Exércitos. Pede aos sacerdotes um ensinamento nos seguintes termos: 12 ‘Se alguém leva carne santificada na orla de sua veste e toca, com a sua orla, em pão, comida, vinho, óleo ou qualquer alimento, tornar-se-á isto, por acaso, santo?’ Os sacerdotes responderam: ‘Não!’ 13 E disse Ageu: ‘Se alguém impuro pelo contato com um cadáver tocar em todas estas coisas, isto se tornará impuro?’ Os sacerdotes responderam: ‘Isto se tornará impuro!’ 14 Então Ageu respondeu: ‘Assim é esse povo! Assim é essa nação diante de mim!, oráculo do Senhor. Assim, é o trabalho de suas mãos, e o que eles oferecem aqui é impuro!’ 15 Mas agora pensai em vosso coração, a partir deste dia e para o futuro. Antes de colocar pedra sobre pedra no santuário de Deus, 16 qual era a vossa condição? Vinha-se a um monte de grão de vinte medidas, e havia apenas dez; vinha-se a uma cuba para tirar cinquenta medidas, e havia apenas vinte. 17 Eu feri pela ferrugem, pela mela e pelo granizo todo trabalho de vossas mãos, mas não voltastes para mim, oráculo do Senhor! 18 Pensai bem a partir deste dia e para o futuro (pensai bem a partir do vigésimo quarto dia do nono mês, a partir do dia em que foi colocado o fundamento do Santuário de Deus), 19 se ainda faltar grão no celeiro, se a vinha, a figueira, a romã e a oliveira ainda não produzirem fruto: a partir deste dia eu darei a minha bênção! 20 A palavra do Senhor foi dirigida, uma segunda vez, a Ageu, no vigésimo quarto dia do mês, nos seguintes termos: 21 Fala assim a Zorobabel, governador de Judá: Eu abalarei o céu e a terra. 22 Derrubarei o trono dos reinos e destruirei o poder dos reis das nações. Derrubarei os carros e aqueles que os montam; os cavalos e seus cavaleiros cairão, cada qual pela espada de seu irmão. 23 Naquele dia — oráculo do Senhor dos Exércitos — eu tomarei Zorobabel, filho de Salatiel, meu servo — oráculo do Senhor — e farei de ti como um sinete. Porque foi a ti que eu escolhi, oráculo do Senhor dos Exércitos”.
Em Ageu 2, 1-9 diz: “No segundo ano do rei Dario, no sétimo mês, no vigésimo primeiro dia, a palavra do Senhor foi dirigida por intermédio do profeta Ageu, nos seguintes termos: Fala, pois, assim a Zorobabel, filho de Salatiel, governador de Judá, e a Josué, filho de Josedec, grão-sacerdote, e ao resto do povo. Quem é entre vós o sobrevivente que viu este Templo em sua glória primeira? E como o vedes agora? Ele não é como nada a vossos olhos? Agora, pois, sê forte, Zorobabel, oráculo do Senhor. Sê forte, Josué, filho de Josedec, grão-sacerdote, sê forte, todo o povo da terra, oráculo do Senhor, e trabalhai, porque eu estou convosco — oráculo do Senhor dos Exércitos — e o meu espírito permanecerá entre vós. Não temais! Porque assim disse o Senhor dos Exércitos. Ainda um pouco de tempo e eu abalarei o céu, a terra, o mar e o continente. Abalarei todas as nações, então afluirão as riquezas de todas as nações e eu encherei este Templo de glória, disse o Senhor dos Exércitos. A mim pertence a prata! A mim pertence o ouro! Oráculo do Senhor dos Exércitos. A glória futura deste Templo será maior do que a passada, disse o Senhor dos Exércitos, e neste lugar eu darei a paz, oráculo do Senhor dos Exércitos. No vigésimo quarto dia do nono mês, no segundo ano de Dario, a palavra do Senhor foi dirigida ao profeta Ageu nestes termos”.
Uma vez postos à obra, o profeta Ageu quer animar aos chefes e ao povo, anunciando-lhes que a glória do futuro templo superará ao do antigo de Salomão, apesar de sua aparente modéstia. Os anciãos, que haviam visto a grandiosidade do antigo templo, destruído pelos caldeus, deviam se sentir grande nostalgia (profunda tristeza) ao ver a pobreza do que agora se levantava. Porém o profeta contrapõe a modéstia da nova construção com a grandeza moral que lhe está reservada. O primeiro, salomônico, com toda sua magnificência, pereceu na catástrofe, enquanto que o que agora se levanta será o centro religioso do mundo na nova teocracia (Estado teocrático é um país ou nação que possui um sistema de governo que se submete às normas de uma religião específica). A mente do profeta Ageu se projeta à esplendorosa era messiânica, que será precedida de uma agitação geral do mundo. As ideias escatológicas e cósmicas aparecem ligadas na mente profética à inauguração messiânica: Porque assim disse o Senhor dos Exércitos. Ainda um pouco de tempo e eu abalarei o céu, a terra, o mar e o continente. Abalarei todas as nações, então afluirão as riquezas de todas as nações e eu encherei este Templo de glória, disse o Senhor dos Exércitos (versículos 6, e 7). A frase é hiperbólica (exagerada), conforme a idealização profética. O profeta Ageu quer fazer ver a seus ouvintes que Deus transformará o mundo totalmente até converter o seu templo no centro do mesmo. Os repatriados estavam tristes porque as grandes promessas dos profetas não se haviam cumprido. Haviam voltado à pátria, porém tinham que estar submetidos ao jugo estrangeiro. O profeta sai ao encontro destes pessimistas, e indica que a grande era está ainda por inaugurar e que Deus se encarregará de transtornar todas as coisas até reunir aos povos em torno de Jerusalém e no seu templo, pois todos os povos virão ao templo com suas preciosidades. O contexto pede que esse desejável seja os tesouros preciosos de todos os povos que hão de chegar para enriquecer o novo templo, que, como o antigo templo de Salomão, será cheio da glória de Deus. EUNSA comenta Ageu 2, 1-9 diz: “A observação cronológica do versículo 1 – correspondente ao 17 de outubro de 520 a. C. – situa um novo discurso profético. Tem transcorrido menos de um mês da data de Ageu 1, 15 e dá a impressão de que já trabalharam intensamente, porém os resultados podiam desanimar, sobretudo aos mais velhos que conheceram a magnificência do Templo de Salomão. Coincide com o que nos disse o livro de Esdras: Contudo, muitos sacerdotes, muitos levitas e chefes de família, já idosos e que tinham visto o primeiro Templo, choravam em alta voz enquanto, sob suas vistas, se punham os alicerces, mas muitos gritavam de alegria e júbilo (Esd 3, 12). Por outra parte, a situação é lógica: não é o mesmo construir um Templo numa época de esplendor como a de Salomão, com as riquezas ao alcance da mão, que fazê-lo agora com as cidades meio destruídas, os campos abandonados... Daí também o tom animador do oráculo do profeta Ageu: o Senhor renova as promessas da saída, quando, um grupo de escravos, fez uma nação, e além disso promete para o novo Templo muitos bens que para o primeiro: se o Templo de Salomão se definia por sua glória, o novo Templo estará cheio de glória, de maior glória que o primeiro; além disso será fonte de paz e centro das nações. A linguagem destes versículos é semelhante ao dos textos apocalípticos de outros profetas (Is 2, 2; Am 5, 8; Sf 1, 4). O tom das expressões de Ageu faz que estes versículos possam ser interpretados como uma profecia de Jesus Cristo e da Igreja”. São Cirilo de Alexandria escreve: “A vinda de nosso Salvador no tempo foi como a edificação de um templo sobremaneira glorioso... Na verdade, a glória do novo templo, isto é, a Igreja, é muito maior que a do antigo. Quem trabalha na sua edificação obterá, como prêmio do Salvador o dom do céu, ao mesmo Cristo, que é a paz de todos, por quem podemos aproximarmos do Pai com um mesmo Espírito; assim o declara o mesmo Senhor, quando disse: Neste lugar darei a paz a quantos trabalham na edificação do meu templo”. EUNSA continua o comentário de Ageu 2, 1-9 diz: “Este tom messiânico é mais claro ainda no versículo 7. Na frase: ‘Virão os tesouros de todas as nações’, a palavra traduzida por ‘tesouros’ tem um amplo campo semântico: a raiz hebraica, à que pertence o substantivo, significa desejar, querer, comprazer-se; no uso do hebraico, o substantivo vem significar o desejado, as riquezas, os tesouros. A frase foi traduzida pela Vulgata: ‘Virá o Desejado de todas as gentes’, o que implica uma alusão direta ao messias; daí que o texto passara à liturgia do tempo do Advento, e fora na catequese um dos nomes de Cristo: ‘Abre, Virgem ditosa – exclamava São Bernardo de Claraval – o coração à fé, os lábios ao consentimento, as castas entranhas ao Criador. Olha que o desejado de todas as gentes está chamando na sua porta”. O Pontifício Instituto Bíblico de Roma comenta Ageu 1, 1-9: “Vigésimo primeiro dia do sétimo mês era o último dia da festa das Cabanas (Lv 23, 33-36). Poucos dentre os presentes podiam recordar-se de terem visto o templo de Salomão, destruído há 70 anos. Para esses o edifício que se estava reconstruindo deveria certamente parecer nada em confronto com o esplendor do templo salomônico. Sendo Israel propriedade especial de Deus (Ex 19, 5), o Senhor reside no meio dele com cuidado e providências especiais (Ex 29, 45), pelo que nada terão a temer. O Senhor movimentará todos os povos os quais, reconhecendo-o como único Deus, sentir-se-ão levados a lhe prestarem homenagem com as preciosidades, que afluirão a Jerusalém, onde se acha a casa do Senhor, tornando-se destarte a meta e o centro de tanta gente (Is 2, 2-3; 60, 4-7). Predição da conversão dos gentios ao monoteísmo”. Em Ageu 2, 3 diz: “Quem é entre vós o sobrevivente que viu este Templo em sua glória primeira? E como o vedes agora? Ele não é como nada a vossos olhos?” Quando nos batizamos, recebemos a GRAÇA SANTIFICANTE pela primeira vez (o Espírito Santo, por “apropriação”) estabelece a sua morada em nós. Com sua presença, comunica à alma essa qualidade sobrenatural que faz com que Deus – de uma maneira grande e misteriosa – se veja em nós e, consequentemente, nos ame: “Quem é entre vós o sobrevivente que viu este Templo em sua glória primeira?” A alma na GRAÇA de DEUS é muito mais bela que o Templo de Salomão. Mas a beleza desse Templo pode ser destruída, isto é, a GRAÇA SANTIFICANTE pode ser “destruída”, isto é, expulsa do “Templo” da alma pelo PECADO MORTAL. É preciso muita luta, esforço e garra para construir um “novo Templo”... recuperar a glória primeira: “Agora, pois, sê forte, Zorobabel, oráculo do Senhor. Sê forte, Josué, filho de Josedec, grão-sacerdote, sê forte, todo o povo da terra, oráculo do Senhor, e trabalhai, porque eu estou convosco — oráculo do Senhor dos Exércitos — e o meu espírito permanecerá entre vós. Não temais! Porque assim disse o Senhor dos Exércitos. Ainda um pouco de tempo e eu abalarei o céu, a terra, o mar e o continente. Abalarei todas as nações, então afluirão as riquezas de todas as nações e eu encherei este Templo de glória, disse o Senhor dos Exércitos” (Ageu 2, 4-7). Para “construir” esse “novo Templo”, isto é, recuperar a GRAÇA perdida, é preciso ser FORTE no arrependimento e no propósito “Agora, pois, sê forte”; é preciso TRABALHAR num sério exame de consciência “... trabalhai, porque eu estou convosco”; e não ter MEDO de acusar, na confissão, todos os pecados com sinceridade, principalmente os mortais: “Não temais!” Somente assim Deus voltará para essa alma que O havia perdido pelo pecado mortal: “... e eu encherei este Templo de glória, disse o Senhor dos Exércitos”. Deus, depois de uma confissão bem feita, encherá o “Templo” da alma de tudo o que ela havia perdido: “A mim pertence a prata! A mim pertence o ouro!” O pecado mortal arrebata todos os nossos méritos, como a falência de um banco arruína as economias de toda uma vida. E, agora, arrependida, cheia de bons propósitos e em paz, a alma se esforçará para crescer sempre mais na santidade: “A glória futura deste Templo será maior do que a passada, disse o Senhor dos Exércitos, e neste lugar eu darei a paz, oráculo do Senhor dos Exércitos” (Ageu 2, 9).
Em Ageu 2, 10-15 diz: “No vigésimo quarto dia do nono mês, no segundo ano de Dario, a palavra do Senhor foi dirigida ao profeta Ageu nestes termos. Assim disse o Senhor dos Exércitos. Pede aos sacerdotes um ensinamento nos seguintes termos: ‘Se alguém leva carne santificada na orla de sua veste e toca, com a sua orla, em pão, comida, vinho, óleo ou qualquer alimento, tornar-se-á isto, por acaso, santo?’ Os sacerdotes responderam: ‘Não!’ E disse Ageu: ‘Se alguém impuro pelo contato com um cadáver tocar em todas estas coisas, isto se tornará impuro?’ Os sacerdotes responderam: ‘Isto se tornará impuro!’ Então Ageu respondeu: ‘Assim é esse povo! Assim é essa nação diante de mim!, oráculo do Senhor. Assim, é o trabalho de suas mãos, e o que eles oferecem aqui é impuro!’ Mas agora pensai em vosso coração, a partir deste dia e para o futuro. Antes de colocar pedra sobre pedra no santuário de Deus”.
Este discurso foi pronunciado três meses depois de haver começado os trabalhos. O 24 do nono mês devia de ser por volta de dezembro. Nesta consulta aos sacerdotes, o profeta Ageu quer por de relevo o estado de impureza do povo por suas más disposições. O primeiro caso é o seguinte: se alguém leva para sua casa abençoada (a parte que lhe corresponde depois do sacrifício) nas vestes... ainda que estas vestes toquem outros alimentos profanos, nãos os santificarão, isto é, não comunicam o caráter sagrado para esses alimentos, esses continuam profanos, porque o santo santifica só o que toca diretamente, que são as vestes. Assim o reconhecem os sacerdotes. Porém, o profeta Ageu, por contraste, lhes põe agora o caso contrário, para ressaltar a ideia que quer inculcar: um homem impuro por haver tocado um cadáver contamina a tudo o que toca depois (Lv 22, 4; Nm 5, 2; 9, 10). É o caso do povo judeu. Está impuro em suas disposições internas, e assim contamina tudo o que faz, incluso o que ofereciam no altar, e, por isso, não pode agradar a Deus. Da comparação dos dois casos parece deduzir-se que o impuro tem mais poder contagioso que o santo, ainda que o primeiro caso só seja proposto talvez para contrapô-lo ao segundo como artifício argumentativo.
Em Ageu 2, 16-20 diz: “... qual era a vossa condição? Vinha-se a um monte de grão de vinte medidas, e havia apenas dez; vinha-se a uma cuba para tirar cinquenta medidas, e havia apenas vinte. Eu feri pela ferrugem, pela mela e pelo granizo todo trabalho de vossas mãos, mas não voltastes para mim, oráculo do Senhor! Pensai bem a partir deste dia e para o futuro (pensai bem a partir do vigésimo quarto dia do nono mês, a partir do dia em que foi colocado o fundamento do Santuário de Deus), se ainda faltar grão no celeiro, se a vinha, a figueira, a romã e a oliveira ainda não produzirem fruto: a partir deste dia eu darei a minha bênção! A palavra do Senhor foi dirigida, uma segunda vez, a Ageu, no vigésimo quarto dia do mês, nos seguintes termos”.
O profeta Ageu, depois de insistir nas pequenas disposições do povo que tudo o contamina e perde a proteção de Deus, disse-lhe que por causa disso tiveram que passar necessidades. Convida-o a recordar o triste passado antes de colocar uma pedra sobre outra no templo de Deus. Assim, vinham ao monte (que aparentava ter) vinte (medidas) de grãos, e não havia mais que dez; e o mesmo, ia ao local para tirar cinquenta (medidas), e tinha (só) vinte. Em mudança, desde agora (a partir do vigésimo quarto dia do nono mês) mudará tudo, pois decidirão construir o templo de Deus. E assim lhes anuncia uma bênção divina para a futura colheita. A semente ainda está no celeiro, porém a tempo de receber a benção para que frutifique na próxima colheita; e as árvores frutíferas ainda não tem fruto (fala em dezembro); porém, em virtude da bênção que Deus vai dar em favor, frutificarão numa magnífica colheita.
Em Ageu 2, 21-23 diz: “Fala assim a Zorobabel, governador de Judá: Eu abalarei o céu e a terra. Derrubarei o trono dos reinos e destruirei o poder dos reis das nações. Derrubarei os carros e aqueles que os montam; os cavalos e seus cavaleiros cairão, cada qual pela espada de seu irmão. Naquele dia — oráculo do Senhor dos Exércitos — eu tomarei Zorobabel, filho de Salatiel, meu servo — oráculo do Senhor — e farei de ti como um sinete. Porque foi a ti que eu escolhi, oráculo do Senhor dos Exércitos”.
Finalmente, o profeta Ageu dirige uma mensagem de predileção a Zorobabel, promotor principal da restauração do templo e ainda de toda a organização da vida da comunidade judia. De novo sua mente se projeta para os tempos messiânicos, que serão precedidos de uma derrubada dos reinos com a agitação dos céus e da terra, segundo expressão estereotipada (que não é original) da literatura apocalíptica. Zorobabel é saudado com o título excepcional de servo de Deus por sua obra em favor da restauração da vida religiosa entre os repatriados, e, em prêmio a ele, Deus lhe dá uma bênção especial, pois será considerado como anel de selo, isto é, o mais precioso, o objeto de que jamais se separa pelo testemunho da identificação pessoal. Em Gênesis 41, 42 diz que o faraó deu a José seu selo pessoal. Nada insinua no contexto que o profeta Ageu considera a Zorobabel como a encarnação do Messias pessoal futuro. Para o profeta, Zorobabel era o representante de uma dinastia da qual havia de surgir o verdadeiro predileto de Deus, o Messias. Neste sentido, Zorobabel já tinha uma glória especialíssima e ainda única. É difícil de acreditar que o profeta Ageu esperava imediata a aparição do Messias, como para identificar a Zorobabel com ele. As circunstâncias eram demasiado adversas e míseras no seu tempo como para dar crédito a tão insensato otimismo. Para o profeta Ageu, Zorobabel é o grande anel da corrente dinástica que haveria de desembocar na aparição do Messias.
Pe. Divino Antônio Lopes FP (C) Anápolis, 05 de agosto de 2015
Bibliografia
Sagrada Escritura Pe. Maximiliano Garcia Cordero, Bíblia Comentada S. Bullough, Verbum Dei II p. 772 EUNSA Pe. Ramón Genover, Curso de Meditações Espirituais Frei Antonino de Castellammare, A Alma Eucarística Santa Teresa de Jesus, Obras Completas Santa Maria Madalena de Pazzi, Escritos Santo Afonso Maria de Ligório, Meditações São Josemaría Escrivá, Caminho, n° 527; Amigos de Deus, n° 126 São João Paulo II, Carta Encíclica “Ecclesia de Eucharistia”, 47 Adolfo Tanquerey, Compêndio de Teologia Ascética e Mística Pontifício Instituto Bíblico de Roma Concílio Vaticano II, Sacrosanctum Concilium, 122 Santa Catarina de Sena, O Diálogo São Macário, Escritos Catecismo da Igreja Católica, 1861 e 1855 São Cirilo de Alexandria, Comentário sobre Ageu Pe. Leo J. Trese. A fé explicada
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