... VIVEI EM PAZ

(2 Cor 13, 11)

 

“... vivei em paz, e o Deus de amor e de paz estará convosco”.

 

Esse trecho da Palavra de Deus nos ensina em que consiste a VERDADEIRA PAZ: A tranquilidade de um coração que sempre se domina e é senhor de si, sem jamais se perturbar nem se precipitar. É esse comando sobre paixões, pressas, perturbações e movimentos muito vivos da natureza para moderá-los... os dirigir e os impedir de nos perturbarem. É essa doce liberdade de espírito que, fazendo cada coisa no seu tempo, com ordem e prudência, se aplica ao seu objeto sem pesar do passado, sem apego ao presente e sem inquietação a respeito do futuro. É finalmente esse sossego da alma que, comunicando-se fora, imprime a todas as ações do corpo o que é de recatado, de suave, de modesto, que edifica, que é pacífico sem lentidão, pronto sem precipitação; que não se deixa possuir, como Marta, dessa excessiva atividade que esgota as forças, mas está tranquilo como Maria ouvindo Jesus Cristo e pondo a sua ação no descanso com que ouve. Todos os seus movimentos são suaves, as suas operações moderadas, os seus esforços sem contenção do espírito nem incômodo; os objetos exteriores não lhe excitam emoções vivas e inquietas, ou se algumas vezes a comovem por natureza, detêm-se e espera o sossego: é a imagem de Deus que nunca se perturba, nem com os ultrajes que recebe, nem com as grandes obras que faz.

Para possuir a verdadeira PAZ é preciso VIVER com Deus na alma e DESPREZAR tudo aquilo que O ofende.

Observai o que acontece com os santos: sua PAZ INTERIOR é tão abundante, é tão grande a alegria de seu coração, que chega a transparecer e a contagiar os outros. Nada e ninguém pode roubar-lha.

São João Crisóstomo não perdeu a PAZ diante dos perseguidores. O imperador que era herege queria vingar-se dele. Alguns conselheiros disseram: “Majestade, prendei-o!” Outros, ao invés: “Tomai-lhe os bens!” Mais outros: “Exilai-o!” Outros ainda: “Matai-o!” Alguém interveio de maneira mais serena e disse: “Todos estes conselhos são  inúteis. Se lhe tomardes os bens, será aos pobres que os tirareis; se o lançardes na cadeia, beijará as algemas alegremente; se o exilardes, para ele toda terra é pátria; se o condenardes à morte, lhe abrireis a porta do céu, e ele não espera outra coisa”. Está claro que os santos já são felizes nesta terra. Quando alguém tem o coração em PAZ, quando percebe que Nosso Senhor o ama, que coisa poderia angustiá-lo ainda? Pode repetir com São Paulo Apóstolo: “Quem nos separará do amor de Cristo? A tribulação? A angústia? A fome? A nudez? O perigo? A perseguição? A espada? Mas de todas estas coisas saímos vencedores, graças àquele que nos amou!” (Rm 8, 35.37).

Conta-se que São José Cafasso, apenas com a sua presença e poucas palavras, sabia devolver às almas a alegria do espírito. De São Vicente de Paulo também se dizia: Vicente, sempre Vicente... isto é, sempre alegre, sempre o mesmo em todas as situações da vida.

Temos NECESSIDADE da PAZ INTERIOR.

A sabedoria, diz o Espírito Santo, RESIDE no sossego e descanso, não na agitação e no tumulto (1 Rs 19, 11-12). Davi diz a Deus: Eu estou pronto e não perturbado, estou pronto para guardar os vossos mandamentos (Sl 118, 60). Ele ainda diz: A minha alma está sempre em minhas mãos, e eu não me esqueci da vossa lei (Sl 118, 109), dando a entender com isso que conteve a sua alma na sua precipitação, que a fez parar nas suas perturbações; que de outra sorte estava perdido porque a perturbação é o elemento do mal e a precipitação a ruína da virtude. A alma que perdeu a PAZ está sujeita a todas as paixões: a alegria inebria-a e enleva-a, a dor abate-a e desanima-a; na oração como na diversão, está distraída; no caminho não vê nem os falsos passos que dá, nem os precipícios em que pode cair; no bem que faz é a natureza que realiza e não a graça. A alma que perdeu a PAZ é incompatível com o Espírito Santo, cuja ação sempre tranquila não se pode conciliar com a pressa irrefletida, cuja voz não se pode fazer ouvir no meio do tumulto. Que será da alma assim desamparada do seu guia e entregue às suas perturbações? Se se pode dirigir um navio na tranquilidade e bonança, quem afirma que o dirigirá na tempestade? A PAZ DA ALMA É O SEGREDO ESSENCIAL E A BASE DE TODA A VIDA INTERIOR. É A PÉROLA PRECIOSA QUE SE DEVE COMPRAR Á CUSTA DE QUANTO SE POSSUI. A alma que achou a PAZ é rica de todos os bens; nem o mundo inteiro pode dar-lhe maior riqueza.

Será que os homens buscam a PAZ INTERIOR? Será que os mesmos se esforçam para conservá-la na alma?

EXCELÊNCIA da PAZ INTERIOR.

São Paulo Apóstolo diz: A paz interior sobrepuja todo o entendimento (Fl 4, 7); e efetivamente deve ser coisa bem excelente, visto que é o que Nosso Senhor Jesus Cristo deseja aos seus Apóstolos na véspera de sua morte: Não se perturbe o vosso coração! (Jo 14, 1); o que lhes deixa em testamento: Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou; não vo-la dou como o mundo dá (Jo 14, 27); o que lhes traz depois de sua ressurreição todas as vezes que lhes aparece: A paz esteja convosco! (Lc 24, 36), o que finalmente lhes incumbe de levar a toda parte: Em qualquer casa em que entrardes, dizei primeiro: Paz a esta casa! (Lc 10, 5). Com efeito, esta PAZ é INAPRECIÁVEL; a alma que a possui ouve o menor sussurro do tentador e repele-o com uma força tanto mais poderosa quanto mais tranquila está. Nota no seu interior tudo o que não está no seu lugar para nele o colocar, tudo o que é defeituoso para corrigi-lo, tudo o que é bom para torná-lo melhor; tem uma admirável facilidade para rezar, uma grande sabedoria para realizar o bem e não menos prudência para aconselhar; nela, os progressos na virtude vão como de si mesmos. Fixa toda inteira no puro amor de Deus e acha n’Ele o seu descanso. Todo o seu interior está TRANQUILO: é como um belo firmamento em que Deus se apraz de fazer resplandecer o seu sol, como uma deliciosa solidão em que gosta de falar à alma... chama-a, e ela vai.

Será que o homem evita tudo o que lhe distrai, perturba e agita? Será que o mesmo se entrega ao recolhimento interior e exterior?

São João Paulo II escreve: “Vocês devem antes de tudo procurar a paz como harmonia e coesão da própria estrutura pessoal, vital: a paz em vocês, fruto de luta interior, de sincero esforço por levar uma vida coerente com a própria fé, de constante esforço para restituir o homem à integridade, à harmonia, à beleza de sua origem divina... Vocês devem, ‘na medida do possível, viver em paz com todos’, a começar pela família e paulatinamente estender a sua iniciativa de paz a nível pessoal, de grupo e de associação”.

São João Crisóstomo diz: “Vivei na união e na paz, e Deus estará certamente convosco, pois Deus é um Deus de amor e um Deus de paz, e aí põe as suas delícias. O seu amor produzirá a vossa paz e todos os males serão desterrados da vossa Igreja”.

O Pe. Juan Leal explica: “A paz é o conjunto dos bens messiânicos que se comunicam ao cristão”.

“... vivei em paz, e o Deus de amor e de paz estará convosco” (2 Cor 13, 11).

Para viver em PAZ é preciso que a Graça Santificante esteja na alma... onde o pecado mortal ENTRA não há PAZ. Trevas e luz não combinam... Deus e o Demônio não são amigos... Não há PAZ onde Deus não faz falta... não há PAZ sem amor, e todo amor deve querer a PAZ... Só Deus é que pode dar a PAZ num instante.

O Deus de Amor e de Paz habita numa alma santa, isto é, que está em PAZ, na Graça Santificante. Quem vive no pecado mortal não possui a PAZ que vem de Deus: “Se uma casa não for habitada pelo dono ficará sepultada na escuridão, desonra e desprezo, repleta de toda espécie de imundície. Também a alma, sem a presença de seu Deus e dos anjos que nela jubilavam, cobre-se com as trevas do pecado, de sentimentos vergonhosos e de completa ignomínia” (São Macário).

 

Pe. Divino Antônio Lopes FP (C)

Anápolis, 29 de março de 2016

 

 

Bibliografia

 

Sagrada Escritura

Bem-aventurado José Allamano, A Vida Espiritual

M. Hamon, Meditações para todos os dias do ano

São João Paulo II, Meditações

São João Crisóstomo, Homilia sobre 2 Coríntios, 30

Pe. Juan Leal, A Sagrada Escritura

Pe. Orlando Gambi, Paz e Bem

São Macário, Escritos

 

 

 

Este texto não pode ser reproduzido sob nenhuma forma; por fotocópia ou outro meio qualquer sem autorização por escrito do autor Pe. Divino Antônio Lopes FP.
Depois de autorizado, é preciso citar:
Pe. Divino Antônio Lopes FP. “... vivei em paz”

www.filhosdapaixao.org.br/escritos/comentarios/escrituras/escritura_0537.htm