CORTA-A

(Mt 5, 30)

 

“Caso a tua mão direita te leve a pecar, corta-a...”.

 

Dom Duarte Leopoldo escreve: “É preciso romper, sem piedade, com tudo o que nos possa ser ocasião de pecado. Se uma pessoa ou uma coisa qualquer nos é tão necessária ou tão útil como um dos membros do corpo, é preferível sacrificar essa afeição ou essa utilidade, a perder a nossa alma. Nada de fraqueza; sempre a coragem, a energia cristã, e, se tanto for necessário, até mesmo a violência”.

O Pe. Juan Leal explica: “Por meio de uma imagem sumamente expressiva tomada da cirurgia, exorta Cristo a evitar com todo cuidado as ocasiões próximas de pecado, singularmente do pecado de luxúria. A vida eterna e a da graça é um bem tão grande, que bem merece qualquer sacrifício por doloroso que seja. Não se deduz aqui  que seja lícito em algumas ocasiões a mutilação de algum membro do corpo para evitar o pecado de luxúria, já que tal meio está, por outra parte, proibido sob pecado”.

O Pe. Manuel de Tuya comenta: “A conclusão que Jesus Cristo tira daqui é que vale mais perder um membro do que todo o corpo ser lançado no inferno... Naturalmente, Cristo não quer dizer que se ampute realmente um olho ou uma mão se eles fossem ocasião de tropeço e ruína espiritual”.

O TATO é um dos CINCO SENTIDOS EXTERNOS (audição, visão, olfato, paladar e tato). O pecado cometido pelo TATO é pouco confessado, porque a maioria das pessoas não o conhece.

Adolfo Tanquerey diz: “O sentido do tato é ainda mais perigoso porque facilmente provoca impressões sensuais que tendem a prazeres maus; é necessário, pois, abster-se desses TOQUES ou CARÍCIAS que não podem deixar de excitar as paixões”.

O TATO é muito particularmente perigoso.

Perreyve escreve: “Mais que nunca, Senhor, vos consagro as minhas mãos; consagro-as até o escrúpulo. Estas mãos vão receber dentro de três dias a consagração sacerdotal. Daqui a quatro dias, terão tocado, sustentado, levado o vosso corpo e o vosso sangue. Quero-as respeitar, venerar como instrumentos sagrados do vosso serviço e dos vossos altares...”

A um sacerdote que perguntava se era conveniente tocar o pulso a uma enferma, respondeu São Vicente de Paulo: “É necessário evitar isso absolutamente; o espírito maligno bem se pode servir desse pretexto para tentar o vivo e até a enferma. O diabo, nesse momento lança mão de todos os meios para apanhar uma alma... Nunca vos atrevais a tocar nem moça nem mulher, seja qual for o pretexto”.

São João Clímaco escreve: “Nada é tão perigoso como o sentido do tato”.

Santo Antônio Maria Claret ensina: “Nunca faças nem toques coisa alguma feia, porque já sabes que isso é um pecado horroroso; guarda-te também do costume indecente e baixo que têm alguns de brincar e agarrar-se, e outros brinquedos semelhantes, porque é coisa intolerável e indecorosa; não te esqueças do que vulgarmente se diz: jogo de mão, jogo de vilão. E não só não hás de fazer isso com pessoas de outro sexo, mas nem tampouco com as do mesmo sexo, porque além de ser contra a boa educação, é também perigoso para a castidade”.

1. É PECADO uma pessoa TOCAR no próprio corpo excitando-o? SIM, É PECADO.

Os TOQUES aos órgãos genitais do próprio corpo executados sem causa justa e com decorrente excitação venérea, constituem PECADO MORTAL; feitas sem justa causa, mas sem má intenção, não ultrapassam o PECADO VENIAL, desde que se saiba que não há perigo de excitação e de consentimento nela; feitos por causa justa, por exemplo, para ASSEIO, não constituem PECADO, desde que não se consinta no prazer venéreo que poderia resultar: “Ao cuidar do asseio pessoal, como vestir-se e lavar-se, deve toda pessoa assumir uma atitude simples e livre de constrangimento. Tocar demoradamente, por ociosidade ou leviandade maliciosa, os próprios órgãos sexuais, constitui prática indecente e pecaminosa, de acordo com a gravidade do perigo que se corre” (Pe. Bernhard Häring).

2.  É PECADO uma pessoa TOCAR os genitais de outra? SIM, É PECADO.

TOCAR os genitais de outrem, especialmente de sexo diferente, mesmo sobre as vestes, é PECADO MORTAL, a menos que aconteça casualmente, sem má intenção e sem perigo de queda. O mesmo deve dizer-se em relação aos seios: “Especialmente em se tratando de pessoas  de outro sexo, o respeito e o pudor exigem a maior distância possível. Quando, porém, a caridade cristã e assistência (de doentes, por exemplo) ocasionam ou exigem contatos com o corpo do próximo, nenhuma pessoa normal precisa tomar-se de receios, como aliás é demonstrado pela experiência” (Pe. Bernhard Häring).

3. É PECADO uma pessoa TOCAR os genitais de um animal?

TOCAR os genitais de um animal ordinariamente não é PECADO MORTAL, desde que não se faça com má intenção e não se prolongue até provocar nele uma polução.

O Pe. J. Bujanda escreve: “TOQUES são PECADO MORTAL quando se fazem para excitar más comoções, ou quando se consente  nelas, ou quando um se expõe a consentir nelas ou a excitá-las notavelmente sem causa proporcionada. Causa proporcionada pode ser, por exemplo, a limpeza necessária ou conveniente, ou a cura duma doença própria ou alheia. Geralmente, quanto mais se ofende o pudor tanto maior razão se requer para se poderem fazer sem pecado. Um MAU TOQUE feito sem má intenção e que não produz excitação nenhuma, de si não seria PECADO NENHUM. Um, que produz excitação ligeira, feito sem causa justificada, mas não por prazer, nem consentimento nessa comoção ligeira, seria PECADO VENIAL”.

Os meios de transporte, hoje em dia muitas vezes excessivamente lotados, ocasionam inúmeros perigos de “flertes” anônimos. O simples fato das pessoas se terem de colocar demasiadamente próximas umas às outras não constitui de per si imoralidade. Cumpre, porém, levar na devida conta a possível presença de pessoas viciadas e mal intencionadas, que procuram dar vazão à sua voluptuosidade através do contato dissimulado com desconhecidos. Importa, pois, que se tome uma atitude prudente, que não deve, porém, transformar-se em desconfiança universal ou em mórbida ansiedade.

O correto é NUNCA TOCAR o corpo de uma pessoa sem necessidade: “O que ama o perigo nele cairá” (Eclo 3, 27), e: “O que toca no piche sujar-se-á” (Eclo13, 1).

 

Pe. Divino Antônio Lopes FP (C)

Anápolis, 16 de maio de 2016

 

 

Bibliografia

 

Sagrada Escritura

Adolfo Tanquerey, Compêndio de Teologia Ascética e Mística

Perreyve, Méditations sur les SS. Ordres, p. 105, ed. 1874

Meinard, Vertus de S. Vincent de Paul, ch. XIX, p. 306

São João Clímaco, Escritos

Santo Antônio Maria Claret, Caminho reto e seguro para chegar ao céu

Dom Duarte Leopoldo, Concordância dos Santos Evangelhos

Pe. Juan Leal, A Sagrada Escritura, texto e comentário

Frei Teodoro da Torre Del Greco, Teologia Moral

Pe. Manuel de Tuya, Bíblia Comentada

Pe. J. Bujanda, Teologia Moral

Pe. Bernhard Häring, A Lei de Cristo – Teologia Moral Especial

 

 

 

 

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Pe. Divino Antônio Lopes FP. “Corta-a”

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