JUÍZO DEPOIS DA MORTE

(Hb 9, 27)

 

“Está estabelecido que os homens morram uma só vez, e depois da morte venha o juízo”.

 

I PONTO

 

A MORTE PASSOU PARA TODOS OS HOMENS

 

Santo Agostinho diz: “A morte é inevitável”.

O tempo desta vida é um percurso em direção à morte, no qual a ninguém é permitido parar um instante, ou andar um pouco mais devagar: todos, porém, estão impulsionados por um movimento igual e são impelidos para o mesmo fim. Desde o momento que nasceste, pesa sobre ti a necessidade de morrer.

A lei da morte para o homem foi chamada decreto – statutum – para significar que no caso do homem, diversamente dos outros animais, se trata de uma lei positiva. Porque, embora por sua natureza esteja sujeito à morte, pela composição de seus elementos, todavia, pela justiça original, seria imortal: “Deus criou o homem para a imortalidade” (Sb 2, 23), depois de uma proveitosa passagem pela terra, seria transportado à cidade celestial. Se chegou a morrer, isto é, devido à perda da justiça original, por desobediência clara à ordem de Deus, que tinha dito: “Em qualquer dia que comeres dele com certeza morrerás” (Gn 2, 17). Este decreto passou para todos: “A morte passou para todos os homens” (Rm 5, 12), como passou a todos a perda de um tal dom. Assim te dás conta do statutum: um decreto firme, forte, universalíssimo: “Onde está o homem que possa viver sem ver a morte?” (Sl 88, 49).

Alguns, sim, os últimos, verão apenas a morte, porque logo depois virá a ressurreição final.  Por isso as palavras do Salmo afirmam claramente: Onde está o homem que possa viver sem ver a morte? Mas é claro que se “ressuscitaremos todos” (1 Cor 15, 51), antes, todos morreremos.

 

II PONTO

 

COMO PODES VIVER APEGADO À TERRA?

 

Santo Agostinho diz: “Se a glória mundana ressoa alto, contudo, não passa de rumor da água a bater nos penhascos: presta atenção como ela flui, presta atenção como desliza ligeiro e ao prestares atenção no seu fluir e deslizar, toma cuidado, porque ela arrasta também”.

Despreza esse rio que nasce, que corre, que acaba: despreza-o. Toda carne é feno e toda glória da carne é como a flor do feno. O feno secou, a flor murchou.

Qual a vantagem que levas se conquistares tudo o que há de temporal e transitório, quer seja o dinheiro, ou o prazer do ventre e da gula, ou a honra no louvor dos homens?

Tudo isso, na verdade, não são fumaça e vento? Tudo não passa, não foge a correr? Todas estas coisas não são, por acaso, um rio veloz que corre em direção ao mar?

A palavra “semel” significa também “finalmente”: “Quem procede por vias escusas, finalmente (semel) cairá” (Pr 28, 18). Por isso, procura de todos os modos possíveis se manter em vida; mas apesar disso, “finalmente” morrerás. Terás lido ou ouvido a ladainha inicial sobre os patriarcas, todos de idade tão avançada: Lamec viveu 777 anos, gerou filhos e filhas… e morreu (Gn 5, 31); Malaleel viveu mais de 895 anos e morreu; Matusalém viveu mais de 969 anos e morreu.

Assim será também para ti, salvo a diferença de que viverás certamente menos do que aqueles patriarcas, isto é, desaparecerás de entre os vivos no fim de uns poucos anos: “O pequeno número dos teus dias deve terminar logo” (Jó 10, 20). Como podes viver tão exageradamente apegado à terra? Pensa na tua partida. Pensa nela com seriedade e frequência, pois na realidade está estabelecido que os homens finalmente morram.

 

III PONTO

 

É UM ERRO QUE NÃO SE PODE CORRIGIR

 

Esta palavrasemelsignifica, portanto, diretamente “uma só vez”. “Uma só vez (semel) Deus falou” (Sl 61, 12). Então esteja atento, porque se te vai mal esta única vez, não há mais remédio. É um erro que não se pode corrigir. Não sabes que passamos como as águas que não voltam mais? “Todos morremos e transcorremos sobre a terra como a água que não volta mais” (2 Sm 14, 14).

Considera, pois, muito atentamente que rumo tomas, porque se já é tão terrível morrer, quanto mais terrível será para muitos, o fato de não poderem mais tornar a morrer: “Está estabelecido que os homens morram uma só vez” (Hb 9, 27).

É verdade que este decreto, embora universalmente, em algum tempo padeceu alguma dispensa. Também “o Jordão voltou atrás” (Sl 113, 3); alguns que alcançaram o milagre da ressurreição, como Lázaro, o amigo de Cristo, morreram duas vezes. Mas estas são dispensas miraculosas. Espero que não sejas tão insensato a ponto de pensares que Deus te queira em tal experiência. Esses são milagres que a Bíblia, uma vez chama “monstros”, no sentido de “extraordinários”, de “maravilhosíssimos”: “Na sua vida fez coisas maravilhosas” Monstra(Eclo 48, 15). Refere-se precisamente ao fato de Eliseu que chamou uma criança à vida (2 Rs 4, 31 ss.).

Que fazes, pois, que não te ocupas em preparar-te para aquele passo decisivo que se realizará “uma só vez?” Vê bem que tal passo é a porta para a casa onde residirás por toda a eternidade: “O homem irá para a casa da sua eternidade” (Ecl 12, 5).

 

IV PONTO

 

À MORTE SE SEGUIRÁ O JUÍZO

 

Se com a morte tudo acabasse, não seria talvez uma coisa tão tremenda. Mas o pior está no fato de que à morte se seguirá o juízo. É o juízo que determinará o prêmio eterno ou o castigo eterno. É natural que o juízo venha depois da morte. Não se pode julgar convenientemente uma obra de arte antes que ela esteja concluída, nem uma obra literária antes de tê-la lido completamente. Assim não se pode julgar um homem até que não tenha concluído completamente os seus dias. Mas, terminados esses, será imediatamente julgado: “… depois disto virá o juízo”.

Pensa, pois, no momento em que, tendo saído de teu corpo, sozinho, encontrar-te-ás diante do tribunal infalível, que irá julgar o valor de tua vida e o valor de tuas obras: “Julgar-te-ei segundo as suas obras” (Ez 7, 3). Terás ao lado anjos bastante diversos: o do Senhor e o dos abismos. Não haverá para ti esperança de enganar ou de aplacar o Juiz divino. Não haverá subterfúgios. Juízo pleno, definitivo, sem apelação: “Está estabelecido que os homens morram uma só vez, e depois disto, venha o juízo” (Hb 9, 27).

 

V PONTO

 

O HOMEM, MESMO DEPOIS DA MORTE, CONTINUA A SOBREVIVER SOBRE ESTA TERRA

 

Contudo, o homem, mesmo depois da morte, continua a sobreviver sobre esta terra, em muitos efeitos de sua vida. Sobrevive um certo tempo na memória dos homens, os quais podem julgá-lo de uma maneira inteiramente contrária à realidade de sua vida espiritual. Sobrevive no seu sepulcro, que, por sua vez, pode ser enganoso, não correspondendo muitas vezes à honra devida com segurança àquele corpo, que está agora em dissolução. Sobrevive nas suas obras literárias, que podem ser de um heresiarca, com efeitos deletérios, ou de um São João Crisóstomo, com frutos de bênçãos através dos séculos: “A memória do justo é bendita” (Pr 10, 7).

 

MENSAGENS PARA A VIDA

 

1.ª mensagem: “Está estabelecido…” (Hb 9, 27)

 

Está estabelecido, isto é, está determinado… firmado… fixado. Ninguém ficará para semente: “Há um momento para tudo e um tempo para todo propósito debaixo do céu. Tempo de nascer, e tempo de morrer” (Ecl 3, 2).

 

2.ª mensagem: “Está estabelecido…” (Hb 9, 27)

 

Por mais que o homem seja inteligente, famoso e poderoso financeiramente… não poderá evitar a morte; ela é inevitável: “Nasceste, haverás de morrer. Tentas fugir da morte, tomar precauções, repeli-la, livrar-te por meio do dinheiro. Podes adiar a morte, não consegues eliminá-la” (Santo Agostinho).

 

3.ª mensagem: “Está estabelecido…” (Hb 9, 27)

 

Milhares de pessoas sedentas pelas coisas passageiras desse mundo gastam muito dinheiro para “prolongarem” a vida… tremem só de ouvirem falar na morte. Preocupação inútil. Mesmo assim ela virá: “Por que, então, temer o que ainda que não desejares haverá de vir?” (Santo Agostinho).

 

4.ª mensagem: “Está estabelecido…” (Hb 9, 27)

 

O homem pode consumir os melhores alimentos, frequentar os melhores hospitais e tomar os remédios mais caros… se exercitar fisicamente todos os dias… não conseguirá escapar da morte: “Que dores não atormentam os que se submetem a tratamentos e operações dos médicos? Por acaso as suportam para não morrer jamais? Na verdade, enfrentam-nas para que morram um pouquinho mais tarde” (Santo Agostinho).

 

5.ª mensagem: “Está estabelecido…” (Hb 9, 27)

 

Os santos não ficarão para sempre nesse mundo por serem pessoas de Deus e cheias de virtudes; nem os pecadores fugirão da morte, como fogem da graça de Deus: “De fato, haverás de morrer, quer vivas virtuosamente, quer vivas no vício. Não conseguirás escapar de morrer, seja vivendo honestamente, seja vivendo mal” (Santo Agostinho).

 

6.ª mensagem: “Está estabelecido…” (Hb 9, 27)

 

É impossível evitar a morte… quem não morrer no início, morrerá no meio ou no fim: “O homem, nascido de mulher, tem a vida curta e cheia de tormentos. É como a flor que se abre e logo murcha, foge como sombra sem parar” (Jó 14, 1-2).

 

7.ª mensagem: “Está estabelecido…” (Hb 9, 27)

 

Deus determinou para cada homem o número dos dias de vida… é loucura querer “esticar” a vida: “… seus dias já estão determinados e sabes o número de seus meses” (Jó 14, 5).

 

8.ª mensagem: “… que os homens…” (Hb 9, 27)

 

O homem morre… passa… mesmo sendo a criatura mais nobre que Deus colocou sobre a terra: “Em vossa ira se consome nossos dias, como um sopro se acabam nossos anos” (Sl 89, 9).

 

9.ª mensagem: “… que os homens…” (Hb 9, 27)

 

O homem foi criado por Deus… é uma criatura racional, composta de alma e corpo; mesmo assim passará: “Lembra-te, ó homem, que a morte não tarda” (Eclo 14, 12).

 

10.ª mensagem: “… que os homens…” (Hb 9, 27)

 

O homem possui uma alma… alma imortal. Alma é a parte mais nobre do homem, porque é substância espiritual, dotada de inteligência e de vontade, capaz de conhecer a Deus e de possui-lo eternamentemesmo assim o homem não ficará nesse mundo para sempre… morrerá: “Vigiai, portanto, porque não sabeis nem o dia nem a hora” (Mt 25, 13).

 

11.ª mensagem: “… que os homens…” (Hb 9, 27)

 

O homem morre: corpo e alma? Não! Somente o corpo morre… a alma humana nunca morre. A alma do homem é imortal até no inferno: “Temei antes Aquele que pode precipitar a alma e o corpo no Inferno” (Mt 10, 28).

 

12.ª mensagem: “… que os homens…” (Hb 9, 27)

 

O homem foi criado à imagem e semelhança de Deus… a sua alma é espiritual e racional, livre na sua ação, capaz de conhecer e de amar a Deus, e de gozá-lo eternamente… mesmo assim ele morre: “A morte vos espera em toda a parte; se fordes prudentes, esperai vós por ela em todo o lugar” (São Bernardo de Claraval).

 

13.ª mensagem: “… que os homens…” (Hb 9, 27)

 

O homem é nada antes de nascer, barro em vida e cinza nas mãos da morte!

 

14.ª mensagem: “… que os homens…” (Hb 9, 27)

 

O homem pode até ser forte, mas não é de bronze: “… é uma folha seca que o vento leva” (Jó 13, 25).

 

15.ª mensagem: “… que os homens…” (Hb 9, 27)

 

O homem é limitado. Ele pode arar a terra, lançar nela a semente; mas não pode fazer crescer o grão nem tornar floridas as árvores.

 

16.ª mensagem: “… que os homens…” (Hb 9, 27)

 

O homem morre… mesmo sendo uma ponte entre o mundo do espírito e o da matéria.

 

17.ª mensagem: “… que os homens…” (Hb 9, 27)

 

O homem passa… a sua alma é espírito, de natureza similar ao anjo; o seu corpo é matéria, similar em natureza aos animais. Porém, o homem não é nem anjo nem animal; é um ser à parte por direito próprio, um ser com um pé no tempo e outro na eternidade.

 

18.ª mensagem: “… que os homens…” (Hb 9, 27)

 

O corpo do homem é suficiente para deixá-lo espantado… mas esse corpo morre. A pele que o cobre, por exemplo, valeria milhões para quem fosse capaz de reproduzi-la artificialmente. É elástica, renova-se por si, impede a entrada do ar, da água e de outras matérias, e, não obstante, permite que saiam. Mantém o corpo a uma temperatura constante, independentemente do tempo ou da temperatura exterior.

 

19.ª mensagem: “… que os homens…” (Hb 9, 27)

 

O interior do corpo humano é um “mar” de maravilhas, mas também morre… apodrece. Tecidos, membranas e músculos compõem os órgãos: o coração, os pulmões, o estômago… Cada órgão é formado por uma galáxia de partes semelhantes às concentrações de estrelas, e cada parte, cada célula, dedica a sua operação à função desse órgão particular: circulação do sangue, respiração do ar, a sua absorção ou a dos alimentos. Os diversos órgãos mantêm-se em atividade vinte e quatro horas por dia, sem que haja pensamentos ou orientações conscientes da nossa mente. Por outro lado – e isto é o mais espantoso! – mesmo que cada órgão esteja aparentemente ocupado na sua função própria, na realidade trabalha constantemente pelo bem dos outros e de todo o corpo.

 

20.ª mensagem: “… que os homens…” (Hb 9, 27)

 

O suporte e a proteção de todo esse organismo a que chamamos corpo é o esqueleto. Dá-nos a rigidez necessária para estarmos erguidos: sentados ou andando. Os ossos dão apoio aos músculos e tendões, tornando possível o movimento e a ação. Dão também proteção aos órgãos mais vulneráveis: o crânio protege o cérebro; as vértebras, a medula espinal; as costelas, o coração e os pulmões. Além de tudo isso, as extremidades dos ossos longos contribuem para a produção dos glóbulos vermelhos do sangue. Tudo isso se tornará cinza, como um edifício implodido.

 

21.ª mensagem: “… que os homens…” (Hb 9, 27)

 

Outra maravilha do corpo humano é o processo de “manufaturação” em que está ocupado todo o tempo… um dia ele vai parar. Introduzimos alimentos e água na boca, e nos esquecemos do assunto: o corpo continua sozinho a tarefa. Por um processo que a biologia explica, o aparelho digestivo transforma o pão, a carne e as bebidas num líquido de células vivas que banha e nutre constantemente cada parte do nosso corpo. Esse alimento líquido, a que chamamos sangue, contém açúcares, gorduras, proteínas e outros elementos. Flui até os pulmões e recolhe oxigênio, que transporta junto com o alimento para cada canto do corpo. Essa “máquina” um dia vai travar.

 

22.ª mensagem: “… que os homens…” (Hb 9, 27)

 

O sistema nervoso também é para ser admirado. Na realidade, há dois sistemas nervosos: o motor, pelo qual o meu cérebro controla os movimentos do corpo (o meu cérebro ordena “anda”, e os meus pés obedecem e se levantam ritmicamente), e o sensitivo, pelo qual sentimos dor (essa sentinela sempre alerta às doenças e lesões) e pelo qual trazemos o mundo exterior ao nosso cérebro através dos órgãos dos sentidos: a vista, o olfato, a audição, o paladar e o tato. E esses órgãos também são, por sua vez, um prodígio de desenho e precisão. Esses motores se “travarão” com a morte.

 

23.ª mensagem: “… morram…” (Hb 9, 27)

 

O que é a morte? É o fim da vida, a separação da alma do corpo: “É um adeus para sempre a tudo que nos cerca; é um separar, sem remédio, de amigos, de irmãos, de pai e mãe, de bens da fortuna, de dignidades, de ofícios… de tudo!” (Pe. Alexandrino Monteiro).

 

24.ª mensagem: “… morram…” (Hb 9, 27)

 

Todos havemos de morrer. É esta a sentença a que todos vivemos condenados neste mundo.

 

25.ª mensagem: “… morram…” (Hb 9, 27)

 

Um dia teremos que parar. Esta sentença, ou melhor, esta lei de morte nos é intimada pela natureza da nossa vida. Este decorrer acelerado dos anos, dos dias e das horas, denota que há de haver um termo de paragem.

 

26.ª mensagem: “… morram…” (Hb 9, 27)

 

O aviso que havemos de morrer nos é dado por toda a criação. Tudo nela tem fim! Vê como as árvores, chegando a uma certa idade, enfraquecem, perdem a folha e a seiva que as alimentava e ficam no meio dos campos, no fundo dos vales, no alto dos montes, como esqueletos sem vida, como despidos mastros do navio a quem a tempestade rasgou as velas. Vê os animais, como se vão uns após outros despedindo da vida! Vê como os nossos parentes, amigos e conhecidos, hoje um, amanhã outro, vão deixando a nossa companhia para se irem associar aos que dormem o sono da morte!

 

27.ª mensagem: “… morram…” (Hb 9, 27)

 

Sabemos o momento exato da morte? Não! “A morte é a separação da alma do corpo. Pelo desgaste da velhice ou da doença, por acidente, o corpo decai e chega um momento em que a alma não mais pode operar por seu intermédio. Então abandona-o, e dizemos que tal pessoa morreu. Raras vezes se pode determinar o instante exato em que isso ocorre. O coração pode cessar de bater, a respiração parar, mas a alma pode ainda estar presente. É o que se demonstra pelo fato de algumas vezes pessoas aparentemente mortas reviverem pela respiração artificial ou por outros meios. Se a alma não estivesse presente, seria impossível reviver. Isto permite que a Igreja autorize os seus sacerdotes  a dar a absolvição e a unção dos enfermos condicionais até duas horas depois da morte aparente, para o caso de a alma ainda estar presente. No entanto, uma vez que o sangue começa a coagular, sabemos com certeza que a alma deixou o corpo” (Pe. Leo J. Trese).

 

28.ª mensagem: “… morram…” (Hb 9, 27)

 

A morte é a porta da vida eterna. Todos havemos de passar por esta porta.

 

29.ª mensagem: “… morram…” (Hb 9, 27)

 

A vida é sonho breve. Temos que despertar de todos os sonhos. A morte é o despertar do sonho da terra para a realidade da vida eterna.

 

30.ª mensagem: “… morram…” (Hb 9, 27)

 

Não há a menor dúvida. Todos, sem exceção, estamos condenados a morrer. Quer sejais rico ou pobre, sábio ou analfabeto, são ou doente, velho, coberto de cabelos brancos ou criancinha de peito, quer vivas no campo ou no mar, em clima frio ou quente, trabalhando ou perdendo tempo… todos temos de morrer.

 

31.ª mensagem: “… morram…” (Hb 9, 27)

 

A morte nos “visitará”.

Quer pensemos nela quer não; quer nos preocupemos dela quer a esqueçamos, quer nos preparemos para ela ou não a tomemos em consideração, o Senhor há de bater-nos à porta, quando menos o pensarmos.

 

32.ª mensagem: “… morram…” (Hb 9, 27)

 

A morte não é “cega”… “visitará” a todos. És rei? Morrerás. És Papa? Morrerás. És pobre e lutas pelo pão de cada dia? Morrerás. És rico? Apesar das tuas riquezas morrerás! Sim! Também tu morrerás pobre esfarrapado. Também tu morrerás rico opulento.

 

33.ª mensagem: “… uma só vez…” (Hb 9, 27)

 

Alguns que alcançaram o milagre da ressurreição, como Lázaro, o amigo de Cristo, morreram duas vezes. Mas estas são dispensas miraculosas. Espero que não sejas tão insensato a ponto de pensares que Deus te queira em tal experiência. Esses são milagres que a Bíblia, uma vez chama “monstros”, no sentido de “extraordinários”, de “maravilhosíssimos”: “Na sua vida fez coisas maravilhosas”Monstra(Eclo 48, 15). Refere-se precisamente ao fato de Eliseu que chamou uma criança à vida (2 Rs 4, 31 ss.).

 

34.ª mensagem: “… e depois da morte…” (Hb 9, 27)

 

Ninguém será julgado em vida, mas somente depois que a alma deixar o corpo: “O juízo individual da alma imediatamente após a morte chama-se Juízo Particular” (Pe. Leo J. Trese).

 

35.ª mensagem: “… e depois da morte…” (Hb 9, 27)

 

A morte é o fim da peregrinação terena do homem, do tempo da graça e da misericórdia que Deus lhe oferece para realizar a sua vida terrena segundo o plano divino e para decidir o seu destino último. Quando acabar a nossa vida sobre a terra, que é só uma, não voltaremos a outras vidas terrestres. Os homens morrem uma só vez. Não existe “reencarnação” depois da morte.

 

36.ª mensagem: “… e depois da morte…” (Hb 9, 27)

 

O Juízo particular dá-se, para cada alma, imediatamente após a morte. Podemos muito bem esperar que, sendo infinita a misericórdia de Deus, Ele conceda a sua graça até o último instante da vida humana, a fim de dar à alma a possibilidade de fazer um ato final de caridade e contrição. Mesmo um pecador que faça esse ato, nessa derradeira oportunidade, ainda poderá salvar-se, e o homem justo aumentará a sua recompensa. Depois, porém, tudo terminou; já não há arrependimento nem mérito: no momento da morte, a alma imobiliza-se no seu destino.

 

37.ª mensagem: “… venha o juízo…” (Hb 9, 27)

 

Assim que a alma sair do corpo, comparecerá imediatamente diante do Tribunal de Jesus Cristo… não haverá tempo para se arrepender nem chorar os pecados. Infeliz da pessoa que jogou a vida fora correndo atrás das coisas passageiras.

 

38.ª mensagem: “… venha o juízo…” (Hb 9, 27)

 

Jesus Cristo é o Juiz, Deus Verdadeiro, que não aceita mentiras nem golpes. É um Deus onipotente, e não uma criatura que nos há de julgar! A sua misericórdia é infinita, porém, naquela hora ela se oculta para só dar lugar à justiça. Na hora do juízo não se atende nem à pessoa, nem à dignidade da mesma.

 

39.ª mensagem: “… venha o juízo…” (Hb 9, 27)

 

O julgamento será imediato e rápido… mais rápido que um relâmpago: “Cada alma adquire naquele momento, inesperadamente iluminada pela imensa luz de Deus, a consciência nítida e clara de tudo o que fez de bom e de mau na vida. E como esse conhecimento procede de Deus, está livre de erro e de qualquer esquecimento; a sua evidência impõe-se por si. Pode-se dizer, pois, que a alma se julga a si mesma, sem poder alegar circunstâncias atenuantes, pois enxerga à luz da eterna Verdade todo o mal que cometeu e o bem que deixou de fazer, entristecendo-se com ele, mas também todo o bem que realizou, maravilhando-se com ele… Uma vez que essa sentença da alma sobre si mesma é evidente, não há necessidade de nenhuma espera, nem a possibilidade de nenhum recurso. A execução do Juízo é, portanto, instantânea: uns entram no gozo do Paraíso ou na purificação transitória do Purgatório, à espera do Céu, e outros no sofrimento para sempre” (Edouard Clerc).

 

40.ª mensagem: “… venha o juízo…” (Hb 9, 27)

 

Muitos familiares, parentes e amigos estarão velando o corpo, e a alma poderá estar queimando no inferno. Jesus Cristo não vai esperar vinte e quatro horas para julgar uma alma… será tudo muito rápido.  Se a alma estiver no inferno não precisará mais de oração: “No exato momento em que a alma abandona o corpo é julgada por Deus. Quando os que estão junto ao leito do defunto se ocupam ainda em fechar seus olhos e cruzar-lhes as mãos, a alma já foi julgada; já sabe qual é o seu destino eterno. É um momento terrível para todos, o momento para o qual fomos vivendo todos estes anos na terra, o momento para o qual toda a vida esteve orientada. É o dia da retribuição para todos” (Pe. Leo J. Trese).

 

41.ª mensagem: “… venha o juízo…” (Hb 9, 27)

 

A alma será julgada onde se separou do corpo: numa rodovia, num estádio de futebol, na lavoura, no fundo de um oceano, dentro do fogo, na rua, no quarto…: “… o juízo particular se efetua no mesmo instante em que o homem morre… no próprio lugar onde a alma se separa do corpo” (Santo Afonso Maria de Ligório).

 

42.ª mensagem: “… venha o juízo…” (Hb 9, 27)

 

Cada pessoa, no dia do Juízo, terá que dar conta do bem que fez, do mal praticado e do bem que deixou de fazer: “Haverá dois livros: o Evangelho e a consciência. No Evangelho, ler-se-á o que o réu devia fazer; na consciência, o que fez. Na balança da divina justiça não se pesarão as riquezas nem as dignidades e a nobreza das pessoas, mas somente suas obras…” (Santo Afonso Maria de Ligório).

 

43.ª mensagem: “… venha o juízo…” (Hb 9, 27)

 

No dia do Juízo, Jesus Cristo será misericordioso para com todos? Não! “Virá com amor para os fiéis, e com terror para os ímpios” (Santo Agostinho).

 

44.ª mensagem: “… venha o juízo…” (Hb 9, 27)

 

Os pecadores sentirão grande dor na hora do Juízo: “Ver o seu juiz em forma humana aumentará a dor dos pecadores; porque a presença daquele Homem, que morreu para salvá-los, lhes recordará vivamente a ingratidão com que o ofenderam” (Santo Afonso Maria de Ligório).

 

45.ª mensagem: “… venha o juízo…” (Hb 9, 27)

 

Depois do Juízo Particular, a alma irá para o Céu, Purgatório ou Inferno: “A execução do Juízo é, portanto, instantânea: uns entram no gozo do Paraíso ou na purificação transitória do Purgatório, à espera do Céu, e outros no sofrimento para sempre” (Edouard Clerc).

 

Pe. Divino Antônio Lopes FP (C)

Anápolis, 21 de julho de 2016

 

 

Bibliografia

 

Sagrada Escritura

Pe. Paulo Segneri, Temas Bíblicos para a meditação de todos os dias

Santo Agostinho, Escritos

Pe. Alexandrino Monteiro, Raios de luz

Pe. Leo J. Trese, A fé explicada

Monsenhor Tihamer Töth, A Vida Eterna

Edouard Clerc, Que há para além da morte?

Santo Afonso Maria de Ligório, Escritos

 

 

 

 

Este texto não pode ser reproduzido sob nenhuma forma; por fotocópia ou outro meio qualquer sem autorização por escrito do autor Pe. Divino Antônio Lopes FP(C).
Depois de autorizado, é preciso citar:
Pe. Divino Antônio Lopes FP(C). “Juízo depois da morte”

www.filhosdapaixao.org.br/escritos/comentarios/escrituras/escritura_0556.htm