RAPOSAS PEQUENINAS

(Ct 2, 15)

 

“Agarrai-nos as raposas, as raposas pequeninas que devastam nossas vinhas, nossas vinhas já floridas!”

 

Os PECADOS VENIAIS são “PEQUENAS RAPOSAS” que devastam a alma imortal e espiritual, “vinha florida!”

O PECADO VENIAL não tira à alma a vida da graça, somente enfraquece e resfria a amizade de Deus; também não faz perder a vida eterna, mas adia a posse do céu. Ele é também uma nódoa; porém, nódoa delével, que não destrói a santidade nem a semelhança com Deus... ela a desfigura somente;  merece também punição, mas punição temporal nesta vida ou no Purgatório. Ele não nos tira os méritos nem nos impede a aquisição de outros neste estado... todavia, enfraquece em nós as luzes da inteligência e as forças da vontade, diminui o ardor da caridade e deste modo, aos poucos, conduz ao PECADO MORTAL.

No livro Cântico dos Cânticos 2, 15 diz: “Agarrai-nos as raposas, as raposas pequeninas que devastam nossas vinhas, nossas vinhas já floridas!” Não diz que se apanhem os leões nem os leopardos, mas as raposinhas; porque de leões e de outras feras, que nos inspiram terror, guardamo-nos com toda a precaução e evitamos o dano; mas as raposas não inspiram tanto horror, e por isso se lhe deixa campo aberto, e podem arrasar as vinhas, removendo a terra e deixando as raízes ao ar. Assim, as faltas habituais e cometidas à plena luz, ainda que sejam leves, matam os bons desejos que são as raízes da vida espiritual, e, portanto, levam a alma à ruína.

O PECADO VENIAL, “pequena raposa”, causa um grande prejuízo para a alma: mentira, impaciência, distração na oração, apego e outros: “Essas pequenas maledicências habituais, essas leves aversões, essas curiosidades, impaciências e intemperanças não matam a alma, mas a tornam cada vez mais fraca; de sorte que, se sobrevier alguma tentação grave, não terá mais força de resistir, e cairá” (Pe. Álvarez da Paz).

Os PECADOS VENIAIS são separam a alma de Deus, mas a afastam d’Ele, e por isso a põem em grande perigo de perder-se: “Deus, na sua justiça, permite que aqueles que não dão importância às coisas pequenas, em castigo de sua negligência e do pouco amor que lhe tiveram, caiam em pecados mortais” (Santo Isidoro).

Infeliz da pessoa que olha com indiferença para o PECADO VENIAL, e que o comete como se tomasse um copo d’água... essa caminha para o abismo: “Não digais que o hábito dos pecados veniais é coisa leve; considerai antes as consequências: o mau hábito é como uma úlcera que rói e infecciona o coração, e assim como o torna fraco contra as pequenas tentações, assim lhe tira gradualmente a força de resistir às grandes” (São Doroteu), e: “Não desprezeis vossos defeitos por serem pequenos; temei-os, antes, porque não numerosos; temei que vos levem à ruína, se não por sua gravidade, ao menos pela quantidade” (Santo Agostinho). Esse mesmo santo ainda diz: “Estai atentos para não vos deixar esmagar por uma grande pedra; mas guardai-vos de ser soterrados por um montão de areia”.

Santo Afonso Maria de Ligório ensina: “Não se pode negar que os PECADOS VENIAIS contínuos e deliberados põem a alma em perigo de perder-se: em primeiro lugar, porque a inclinam ao pecado mortal, tornando-a fraca para resistir às tentações; em segundo lugar, porque afastam da alma as graças divinas”.

Não estaremos seguros enquanto não evitarmos energicamente o PECADO VENIAL, por leve ou insignificante que nos pareça. E por que não evitarmos esse pecado? Não é ele também uma ofensa ao bom Deus? Uma ingratidão? Uma rebelião contra o Criador? Não derramou Jesus Cristo seu Sangue por causa do pecado leve? Haverá, com exceção do pecado mortal, mal algum que seja maior do que o do pecador venial? Ter-se-iam santificado os amigos de Deus, se só tivessem evitado o que é culpa grave? Muitas pessoas não admitem ofensas por parte de amigos, interpretando-as como faltas, injustiças e provas de  pouca ou nenhuma afeição... mas, essas pessoas, ofendem levianamente a Deus.

Será que já contamos o número de PECADOS VENIAIS que já cometemos? As distrações mais ou menos voluntárias na oração e na igreja? Os maus juízos do próximo e de seu proceder? As palavras duras, os gracejos levianos e as pequenas omissões no cumprimento dos deveres? As exagerações ou alterações da verdade, as divagações um tanto licenciosas da fantasia, a intemperança no comer e no beber? Eis aqui as “PEQUENAS RAPOSAS” que prejudicam a alma!

Não é mal pequeno o PECADO VENIAL, isto é, a transgressão da lei divina em coisas pequenas, ou em maiores, sendo com a vontade um tanto repugnante. A gravidade duma ofensa depende principalmente da pessoa do ofendido. Frieza entre desconhecidos não é estranhada por ninguém: entre pais e filhos, porém, muito. Deus não é mais para nós do que pai e mãe?

O PECADO VENIAL é um grande mal. Ele leva pouco a pouco ao pecado grave e a todas as suas horríveis consequências. Enfraquece a vida da alma; impedem numerosas graças de Deus que nos levariam a alto grau de perfeição; tornam aborrecidas a oração e as outras obras boas; dão força às paixões, até que estas, como em Judas Iscariotes, dominem.

Infeliz da pessoa que “adota” essas “PEQUENAS RAPOSAS”, isto é, os PECADOS VENIAIS! Viverá sempre no prejuízo.

 

Pe. Divino Antônio Lopes FP (C)

Anápolis, 16 de março de 2017

 

 

Bibliografia

 

Sagrada Escritura

Monsenhor Cauly, Curso de Instrução Religiosa

Pe. Álvarez da Paz, De Perfec., lib. V. c. 16

Santo Isidoro, Sent., lib. II. c. 19

São Doroteu, Doctrina III, De conscientia, n. 2

Santo Agostinho, Sermo 9; Sermo 56

Frei Pedro Sinzig, Breves meditações para todos os dias do ano

Santo Afonso Maria de Ligório, A religiosa santificada, Tomo I

 

 

 

 

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Pe. Divino Antônio Lopes FP(C). “Raposas pequeninas”

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