COMPUS MEU PRIMEIRO RELATO

(At 1, 1-5)

 

1 Compus meu primeiro relato, ó Teófilo, a respeito de todas as coisas que Jesus fez e ensinou desde o início, 2 até o dia em que foi arrebatado, depois de ter dado instruções aos apóstolos que escolhera sob a ação do Espírito Santo. 3Ainda a eles, apresentou-se vivo depois de sua paixão, com muitas provas incontestáveis: durante quarenta dias apareceu-lhes e lhes falou do que concerne ao Reino de Deus. 4Então, no decurso de uma refeição com eles, ordenou-lhes que não se afastassem de Jerusalém, mas que aguardassem a promessa do Pai, ‘a qual, disse ele, ouvistes de minha boca: 5 pois João batizou com água, mas vós sereis batizados com o Espírito Santo dentro de poucos dias’”.

 

MENSAGENS PARA A VIDA

 

1.ª mensagem: Escrever somente a verdade.

 

São Lucas escreveu o terceiro Evangelho e o livro dos Atos dos Apóstolos... escreveu somente a verdade que alimenta as almas imortais e espirituais.

Somente a verdade pode sustentar e alegrar uma alma sedenta das coisas do alto. Devemos saciar a nossa alma na fonte da verdade: “Só é verdade essa Palavra que está em ti, Senhor” (Orígenes).

 

2.ª mensagem: Andar em boa companhia.

 

São Lucas foi companheiro de São Paulo na segunda viagem e seu fiel colaborador (Cl 4, 14; Fm 24). São Lucas acompanhou de novo o Apóstolo desde Trôade a Jerusalém (At 20, 5 ss), e, mais tarde, desde Cesaréia a Roma (At 27, 1 ss).

Devemos andar na companhia somente das pessoas tementes a Deus e que buscam a santidade de vida. Quem anda na companhia dos maus cairá: “Quem andar com o virtuoso, será também virtuoso. Estando com os bons, eu garanto que alcançará o Paraíso. Pelo contrário, permanecendo com os perversos, sua alma corre grande perigo” (São João Bosco).

 

3.ª mensagem: Todos devem trabalhar para Deus.

 

São Lucas era médico e trabalhava para a glória de Deus: “Saúdam-vos Lucas, o médico amado...” (Cl 4, 14).

Ninguém pode dizer que não foi chamado para trabalhar para o bem das almas e para a glória do Criador. Deus não aceitará essa desculpa no dia do juízo: “Nenhum crente, nenhuma instituição da Igreja pode esquivar-se deste dever supremo: anunciar Cristo a todos os povos” (São João Paulo II).

 

4.ª mensagem: “Infância” da Igreja Católica Apostólica Romana.

 

Os Atos dos Apóstolos não é um mero relato histórico. São Jerônimo explica: “Os Atos dos Apóstolos parecem soar puramente a história despida, e que se limitam a tecer a meninice da Igreja nascente. Mas se cairmos na conta de que o seu autor é Lucas, médico, cujo louvor se encontra no Evangelho (2 Cor 8, 18), advertiremos igualmente que todas as suas palavras são medicamentos para a alma doente”.

Os inimigos da Santa Igreja Católica afirmam erroneamente que a mesma foi fundada por Constantino (Edito de Milão – 313). O Livro dos Atos dos Apóstolos ensina totalmente o contrário... ela, a Esposa do Cordeiro, já existia.

 

5.ª mensagem: Gerações inflamadas.

 

A dimensão espiritual do livro dos Atos dos Apóstolos, que constitui uma unidade estreita com o terceiro Evangelho, inflamou a alma das primeiras gerações cristãs, que viram nas suas páginas a crônica do fiel e amoroso atuar divino com o novo Israel.

O Livro dos Atos dos Apóstolos continua inflamando a alma das pessoas apaixonadas por Deus até hoje... porque é de grande utilidade e é Palavra de Deus: “A utilidade deste livro não é menor que a do Evangelho. Brilha nos cumes da mais alta sabedoria e nos ensinamentos mais puros. Oferece o relato dos milagres, muito numerosos, realizados pelo Espírito Santo. Contém o cumprimento das profecias de Jesus Cristo consignadas no Evangelho, a verdade justificada com a luz dos mais solenes testemunhos e a transformação dos Apóstolos em homens perfeitos, extraordinários, pela força do Espírito Santo derramada sobre eles. Todos os anúncios e promessas de Jesus Cristo aos seus discípulos – aquele que crer em mim fará estes prodígios e maiores ainda, sereis levados diante dos tribunais e reis, flagelados nas sinagogas, oprimidos com maus tratos, vencedores, contudo, dos vossos perseguidores e verdugos para conduzir o Evangelho até aos confins da terra – encontram cumprimento pleno neste admirável livro. Aqui vereis os Apóstolos a percorrer nações e a sulcar mares com o zelo impetuoso de aves velozes. Estes Galileus, até há pouco tão pusilânimes e toscos, aparecem transformados em homens novos que desprezam as riquezas e as honras, as chamas da cólera e a avidez dos sentidos, porque foram tornados superiores a toda a paixão” (São João Crisóstomo).

 

6.ª mensagem: Dedicar para uma pessoa piedosa e não perversa.

 

São Lucas dedica o seu novo livro a Teófilo, como já fez com o Evangelho. A dedicatória sugere que Teófilo é um cristão culto de posição social remediada. Poderia ser também uma figura literária: Teófilo, “amigo de Deus”: “Os antigos consideravam este personagem como um símbolo da alma fiel; os modernos em sua maioria o consideram como histórico e homem de categoria, pois em Lc 1, 3 se lhe dá o título de excelentíssimo” (Pe. Juan Leal).

 

7.ª mensagem: Jesus Cristo fez e ensinou.

 

Nosso Senhor Jesus Cristo não é hipócrita... Ele praticou antes de ensinar.

Imitemos o exemplo do nosso Salvador vivendo primeiro o que ensinamos: “Melhor é calar e ser, do que falar e não ser. Coisa boa é ensinar, se quem diz o faz” (Santo Inácio de Antioquia).

 

8.ª mensagem: Descruzar os braços.

 

Em Atos dos Apóstolos 1, 1 diz que Jesus Cristo fez. Nosso Senhor não viveu no comodismo e na “poltronice”... mas trabalhou durante a vida oculta e também na pública: “À impressão produzida pelo encanto exterior da sua pessoa, somava-se a do seu vigor físico, de equilíbrio perfeito e fácil, de notável domínio sobre si mesmo. Segundo o testemunho concordante dos Evangelhos, Jesus deve ter sido um homem extremamente apto para o trabalho, resistente à fadiga, verdadeiramente saudável” (Karl Adam).

Imitemos o exemplo de Jesus Cristo... descruzando os braços e fazendo acontecer: “Empenhai a vossa honra em trabalhar com vossas mãos” (1 Ts 4, 11).

 

9.ª mensagem: Formação.

 

São Lucas menciona o Espírito Santo, ao referir-se às instruções que Jesus Cristo dá aos Apóstolos durante esses quarenta dias entre a ressurreição e a ascensão. O “capitão” forma os seus soldados antes de enviá-los para conquistar o mundo.

Para levar Deus ao próximo é preciso conhecer bem a Santa Doutrina Católica... é preciso estudá-la e vivê-la: “Estuda. – Estuda com empenho. – Se tens de ser sal e luz, necessita de ciência, de idoneidade. Ou jugas que, por seres mandrião e comodista, hás de receber ciência infusa?” (São Josemaría Escrivá).

 

10.ª mensagem: Sagrada Tradição.

 

Nesses dias em que o Senhor fala do “reino de Deus”, ensina, sem dúvida, em torno dos sacramentos e de outros pontos dogmáticos que a Igreja Católica tem considerado sempre como invioláveis, ainda que não tenha transmitido por escrito.

Nem tudo o que o Senhor ensinou está na Bíblia. Os Atos dos Apóstolos nos mostram Jesus dando instruções especiais aos Apóstolos nos dias que mediaram entre a ressurreição e a subida para os Céus: “... aparecendo-lhes por quarenta dias e falando-lhes do reino de Deus” (At 1, 3). Tradição é a Palavra de Deus não escrita na Sagrada Escritura, mas transmitida por Jesus aos Apóstolos e por estes à Igreja.

 

11.ª mensagem: Jerusalém.

 

Segundo o esquema de São Lucas, Jerusalém é o ponto final da missão terrestre de Jesus Cristo. Por isso omite as aparições da Galiléia. Jerusalém deve ser também o ponto inicial da missão dos Apóstolos: “Então, no decurso de uma refeição com eles, ordenou-lhes que não se afastassem de Jerusalém, mas que aguardassem a promessa do Pai” (At 1, 4).

 

12.ª mensagem: Quarenta dias.

 

Sublinha-se o número de quarenta dias, que não é somente um dado cronológico. O número admite, com efeito, um sentido literal e um sentido mais profundo. Os períodos de quarenta dias ou anos têm na Sagrada Escritura um claro significado salvífico. São porções de tempo nas quais Deus prepara ou leva a cabo aspectos importantes da sua atividade salvadora. O dilúvio inundou a terra durante quarenta dias (Gn 7, 17); os Israelitas caminharam quarenta anos pelo deserto rumo à terra prometida (Sl 95, 10); Moisés permaneceu quarenta dias na montanha do Sinai para receber a revelação de Deus que continha a Aliança (Ex 24, 18); Elias andou quarenta dias e quarenta noites com a força do pão enviado por Deus, até chegar ao seu destino (1 Rs 19, 8); e Nosso Senhor jejuou no deserto durante quarenta dias e quarenta noites como preparação para a sua vida pública (Mt 4, 2).

 

13.ª mensagem: Evangelho do Espírito Santo.

 

Em At 1, 5 diz: “... mas vós sereis batizados com o Espírito Santo”. Com razão se chamou a este livro o Evangelho do Espírito Santo. São Josemaría Escrivá escreve: “Quase não há uma página dos Atos dos Apóstolos em que se não fale d’Ele e da ação pela qual guia, dirige e anima a vida e as obras da  primitiva comunidade cristã. É Ele que inspira a pregação de São Pedro (At 4, 8), que confirma na fé os discípulos (At 4, 31), que sela com a sua presença o chamamento dirigido aos gentios (At 10, 44-47), que envia Paulo e Barnabé para terras distantes, a fim de abrirem novos caminhos à doutrina de Jesus (At 13, 2-4). Numa palavra, a sua presença e a sua atuação dominam tudo”.

 

14.ª mensagem: Efusão do Espírito Santo.

 

A efusão do Espírito Santo se põe em paralelo com o batismo de João. As águas de João representam os dons do Espírito e sua força, dentro da qual vão ficar submergidos os apóstolos: “...pois João batizou com água, mas vós sereis batizados com o Espírito Santo dentro de poucos dias” (At 1, 5).

 

OBS: Essa pregação não está concluída; assim que “surgirem” novas mensagens as acrescentaremos.

 

Pe. Divino Antônio Lopes FP (C)

Anápolis, 01 de junho de 2017

 

Bibliografia

 

Sagrada Escritura

Orígenes, Comentário ao Cântico

São João Bosco, O cristão bem formado

São João Paulo II, Encíclica “Redemptoris Missio”, nº 3

Pe. Juan Leal, A Sagrada Escritura (texto e comentário)

Edições Theologica

São Jerônimo, Epístola 53, 9

Santo Inácio de Antioquia, Escritos

São João Crisóstomo, Homilia sobre os Atos dos Apóstolos, 1

Karl Adam, Jesus Cristo

Pe. Lorenzo Turrado, Bíblia comentada

São Josemaría Escrivá, Caminho; Cristo que passa

Pe. Leo J. Trese, A fé explicada

 

 

 

 

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Pe. Divino Antônio Lopes FP(C). “Compus meu primeiro relato”

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