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          NASCEU-VOS 
          HOJE UM SALVADOR 
          (Lc 
          2, 1-14) 
          
            
          
          “1 
          Naqueles dias, apareceu um edito de César Augusto, ordenando o 
          recenseamento de todo o mundo habitado. 
          2
          
          Esse recenseamento foi o primeiro enquanto Quirino era governador da 
          Síria. 
          3 
          E todos iam se alistar, cada um na própria cidade. 
          4 
          Também José subiu da cidade de Nazaré, na Galiléia, para a Judéia, na 
          cidade de Davi, chamada Belém, por ser da casa e da família de Davi,
          
          5 
          para se inscrever com Maria, sua mulher, que estava grávida. 
          6 
          Enquanto lá estavam, completaram-se os dias para o parto, 
          7
          e 
          ela deu à luz o seu filho primogênito, envolveu-o com faixas e 
          reclinou-o numa manjedoura, porque não havia lugar para eles na sala.
          
          8
          
          Na mesma região havia uns pastores que estavam nos campos e que 
          durante as vigílias da noite montavam guarda a seu rebanho. 
          9 
          O Anjo do Senhor apareceu-lhes e a glória do Senhor envolveu-os de 
          luz; e ficaram tomados de grande temor. 
          10 
          O anjo, porém, disse-lhes: ‘Não temais! Eis que eu vos anuncio uma 
          grande alegria, que será para todo o povo: 
          11 
          Nasceu-vos hoje um Salvador, que é o Cristo Senhor, na cidade de Davi.
          
          12 
          Isto vos servirá de sinal: encontrareis um recém-nascido envolto em 
          faixas deitado numa manjedoura’. 
          13 
          E de repente juntou-se ao anjo uma multidão do exército celeste a 
          louvar a Deus dizendo: 
          14 
          ‘Glória a Deus no mais alto dos céus e paz na terra aos homens que ele 
          ama!” 
          
            
          
          
            
          
            
          
          Em Lc 
          2, 1-5 diz: 
          “Naqueles dias, apareceu um edito de César Augusto, ordenando o 
          recenseamento de todo o mundo habitado. Esse recenseamento foi o 
          primeiro enquanto Quirino era governador da Síria. E todos iam se 
          alistar, cada um na própria cidade. Também José subiu da cidade de 
          Nazaré, na Galiléia, para a Judéia, na cidade de Davi, chamada Belém, 
          por ser da casa e da família de Davi, para se inscrever com Maria, sua 
          mulher, que estava grávida”. 
            
          
          São 
          Beda escreve: 
          “Assim como o Filho de 
          Deus, vindo em carne mortal, nasce de uma Virgem, dando a entender 
          quanto Lhe agrada a virtude da virgindade, assim também vindo ao mundo 
          em tempo de paz ensina a buscá-la, dignando-se visitar aos que a amam”, 
          e: “Nasceu Jesus 
          Cristo quando haviam deixado de existir os príncipes dos judeus e 
          havia passado seu império e os imperadores romanos, a quem os judeus 
          pagavam tributo. Assim se cumpriu a profecia que havia anunciado que 
          não faltaria um príncipe da descendência de Judá até que viesse o que 
          havia de ser enviado. Porém César Augusto – no ano quarenta e dois de 
          seu reinado – publicou um edito mandando recensear a todo o mundo para 
          que pagasse tributo, cujo encargo havia confiado a Quirino, a quem 
          nomeou presidente da Judéia e da Síria. Disse depois: ‘Este foi o 
          primeiro recenseamento”
          (Griego), 
          e também: 
          “Com 
          toda oportunidade se diz o nome do presidente para marcar a época em 
          que teve lugar, porque se inscrevem os nomes dos cônsules nas tábuas 
          dos contratos, com mais razão deve inscrever-se também o tempo da 
          redenção de todos”
          
          (Santo Ambrósio), 
          e ainda: 
          “Por 
          disposição superior se fez a inscrição do censo de tal modo que se 
          mandava que cada qual fosse ao povoado donde havia nascido, conforme o 
          que se segue: ‘E todos iam recensear-se, cada qual em sua cidade’. 
          Pelo que sucedeu que Nosso Senhor foi concebido num lugar e nasceu em 
          outro, para evitar assim com mais segurança o furor de Herodes. E 
          prossegue: ‘José subiu também da Galiléia”(São 
          Beda), 
          e: 
          “Augusto 
          deu esse edito por disposição de Deus para servir a presença de seu 
          Unigênito. Porque este edito obrigava à Mãe a ir à sua pátria, que já 
          haviam anunciado os profetas, isto é, a Belém da Judéia. Assim foi 
          dito: “A cidade de Davi, que se chama Belém” 
          (São João Crisóstomo, 
          In diem natalen Christi), 
          e também: 
          “Era 
          também conveniente que desaparecesse o culto de muitos deuses por meio 
          de Jesus Cristo, e que só fosse adorado o único Deus” 
          (Teofilacto), 
          e ainda: 
          “Por isso acrescenta ‘à 
          cidade de Davi’, para anunciar que se havia cumprido já a promessa que 
          Deus fez a Davi (que havia de nascer de sua descendência o rei imortal 
          dos séculos). E prossegue: ‘Como era da casa e família de Davi’. Como 
          José era da descendência de Davi, queria o evangelista dizer que a 
          Santíssima Virgem era da mesma família, porque a lei divina mandava 
          que se casassem os descendentes de uma mesma família, por isto disse: 
          ‘Com Maria, sua esposa” 
          (Griego), 
          e: “Disse, 
          pois, sua esposa, insinuando que não estavam mais que desposados 
          quando se verificou a concepção, porque a Santíssima Virgem não 
          concebeu por obra de varão” 
          (São Cirilo), 
          e também: 
          “Em sentido místico, se 
          recenseia o mundo quando há de nascer o Senhor, porque aquele que 
          aparecia em carne mortal, devia inscrever os seus escolhidos na 
          eternidade” (São 
          Gregório Magno, Homilia in Evangelia, 8), 
          e ainda: 
          “E quando se trata da 
          inscrição temporal, se compreende também a espiritual, não para o Rei 
          da terra, mas para o do céu. Esta profissão de fé é o censo das almas, 
          pois abolido o antigo censo da sinagoga, se preparava o novo da 
          Igreja. Finalmente, para que se compreenda que este censo não é obra 
          de Augusto, mas de Cristo, manda a todo o mundo que se inscreva. Quem 
          poderia exigir o recenseamento de todo o mundo, senão Aquele que tem 
          domínio sobre todo o orbe? Pois o mundo, não do Augusto, mas, ‘do 
          Senhor é a terra” 
          (Santo Ambrósio), 
          e: 
          “Cumpriu perfeitamente o 
          nome de Augusto, porque desejou aumentar os seus, sendo poderoso para 
          aumentá-los” 
          (São Beda), 
          e também: 
          “Parece que nisto se dá a 
          conhecer a figura de um sacramento a quem o medite com atenção. Porque 
          no censo de todo o mundo foi conveniente que figurasse Jesus Cristo, 
          posto que, como havia de santificar a todos, devia ser contado no 
          censo do universo geral, para pôr-se em comunidade com ele” 
          (Orígenes, In Lucam Hom. 11), 
          e ainda: 
          “Assim, pois, como quando 
          mandava Augusto, e sendo presidente Cirino, iam todos aos seus 
          povoados para inscrever-se no censo, assim agora, mandando Jesus 
          Cristo por meio de seus doutores (os chefes da Igreja), devemos 
          inscrever-nos no censo da justiça” 
          (São Beda), 
          e: “Esta é, 
          pois, a primeira declaração das almas ao Senhor, para quem todas se 
          declaram. Feita não à voz do pregão, mas do profeta que disse: ‘Nações 
          todas batei palmas’. Por último, para fazer ver que o censo se faz com 
          justiça, José e Maria vêm obedecer, isto é, um justo e uma virgem; 
          aquele que havia de proteger ao Verbo e esta que havia de dar a luz”
          (Santo Ambrósio), 
          e também: 
          “Nossa cidade e nossa pátria são a eterna felicidade, à qual devemos 
          ir, crescendo todos os dias em virtudes. A Igreja Santa com seus 
          doutores, abandonando o trato mundano que é o que significa Galiléia, 
          e subindo à cidade de Judá, que significa confissão e louvor, paga o 
          censo de sua devoção ao Rei eterno” 
          (São Beda).
           
          
          O Pe. 
          Francisco Fernández-Carvajal escreve: 
          “São 
          Lucas teve um grande interesse em situar o nascimento de Cristo, o 
          acontecimento maior da humanidade, num lugar preciso – em Belém de 
          Judá – e num momento da história determinado: como não dispõe de outra 
          referência, dir-nos-á que nasceu em tempos de César Augusto (imperador 
          de Roma, reinou de 30 a.C a 14 d.C). Em concreto, nos dias em que se 
          promulgou um edito do imperador para que se recenseasse todo o mundo. 
          Este censo foi um acontecimento social e político e era bem conhecido 
          nos anos em que escreve o evangelista. 
          
          Existiam 
          razões muito diversas para que a administração do Império quisesse 
          dispor de um censo atual da população. Entre outras, para a cobrança 
          dos impostos. Na Judéia, este primeiro recenseamento foi feito quando 
          Quirino era governador da Síria. Deus serviu-se deste decreto do 
          imperador romano para que Maria e José se encaminhassem para Belém e 
          ali nascesse o Messias, como tinha sido anunciado pelos profetas. 
          
          A Virgem 
          compreendeu imediatamente que aquele recenseamento era providencial na 
          sua vida: as palavras do anjo, guardadas no seu coração como um 
          tesouro, moviam-na a meditar as Escrituras de um modo novo, como 
          ninguém antes o tinha feito. A mensagem do anjo iluminava as passagens 
          obscuras ou incompletas do texto sagrado”. 
          
          O 
          censo a que se refere o evangelho deve-se, como nele se diz, a uma 
          tentativa geral de recensear a população do Império, pelo menos na sua 
          zona oriental, de acordo com as disposições do imperador Augusto. Nele 
          entravam também os Estados associados, como era o reino de Herodes. 
          Deve ter começado pelo ano 7 a.C., sendo Saturnino governador da 
          Síria, e continuou depois sob o governo de Varo no fim do reinado de 
          Herodes, para concluir nos tempos de P. Sulpício Quirino (ano 6 d.C.) 
          com a mudança de administração. Urgiu-se e extremou-se minuciosamente 
          a sua realização, já que a partir desse momento serviria de referência 
          para o tributo pessoal; isto motivou que os judeus o tomassem mais a 
          sério. Este censo levou, portanto, na Judéia o nome de Quirino, e 
          assim o cita o evangelho, ainda que de fato tivesse começado 
          anteriormente, inclusive alguns anos antes do nascimento de Jesus. O 
          fato de que o evangelho de Lucas o assinale como motivo da viagem 
          desde Nazaré a Belém supõe, com efeito, que se tratava de um censo 
          anterior ao diretamente relacionado com o tributum capitis, visto que 
          afetava igualmente os habitantes da Judéia e da Galiléia (J. González 
          Echegaray, Arqueologia y evangelio, pp. 69-70). Roma, por outro lado, 
          respeitava os censos locais. Por isso o recenseamento seria levado a 
          cabo segundo o costume judaico pelo qual cada cabeça de família ia 
          recensear-se no lugar de origem. 
          
          Belém 
          era a terra de Davi. Belém (Beth-Lehem) significa casa do pão. 
          Encontra-se a uns cento e cinqüenta quilômetros de Nazaré, e a uns 
          sete de Jerusalém. 
          
          O Pe. 
          Francisco Fernández-Carvajal escreve: 
          “Ali 
          estava a sua parentela. Situada ao sul de Jerusalém, em tempos de 
          Jesus não era mais que uma aldeia avançada no deserto, fortificada com 
          muros e torres. Os filisteus tinham-na convertido em praça forte e o 
          rei Roboão, filho de Salomão, tinha aumentado consideravelmente as 
          suas defesas. A sua importância, porém, era puramente estratégica. A 
          modesta população vivia uma vida sossegada, dedicada quase 
          exclusivamente ao pastoreio e ao cultivo das poucas terras de labor 
          que, em forma de terraços escalonados, a rodeavam e que com muito 
          trabalho, sobretudo na época das chuvas, conseguiam defender dos 
          desabamentos constantes. Nestes terraços cresciam romãzeiras, 
          amendoeiras, macieiras, algumas vides e, sobretudo, figueiras e 
          oliveiras. 
          
          Contudo, 
          Belém era chamada a frutífera, Efrata, nome patronímico da 
          região. A sua situação, não longe do caminho de montanha entre Hebron 
          e Jerusalém, constituía um bom albergue de fim de etapa para os 
          viajantes. 
          
          Era 
          realmente a menor das cidades de Israel (Mq), mas, apesar da sua 
          insignificância, era ilustre na história do povo escolhido. É 
          mencionada pela primeira vez nos Livros Sagrados com motivo da morte 
          de Raquel, mulher de Jacó, que foi sepultada no caminho de Efrata, que 
          é Belém, como diz o Gênesis 35, 19. Mas a sua glória principal era a 
          de ter sido a pátria de Davi, o glorioso chefe de que haveria de 
          descender o Messias. 
          
          Maria 
          sabia que o seu Filho era também Filho de Davi. Este apelativo 
          converte-se no mais popular dos títulos messiânicos. Os doentes e as 
          multidões repeti-lo-ão com freqüência no curso da vida pública de 
          Jesus. E Ele aceita-lo-á; unicamente acrescentará que é também o Filho 
          de Alguém maior que Davi”.
           
          
          “Também 
          José subiu da cidade de Nazaré, na Galiléia, para a Judéia, na cidade 
          de Davi, chamada Belém, por ser da casa e da família de Davi, para se 
          inscrever com Maria, sua mulher, que estava grávida”. 
          
          Santo 
          Afonso Maria de Ligório comenta: 
          “Havia 
          Deus decretado que seu Filho nascesse, não na casa de José, senão numa 
          gruta que servia de estrebaria, do modo mais pobre e mais penoso, que 
          uma criança pode nascer. Por isso dispôs que César lançasse um edito 
          por meio do qual cada um deveria alistar-se na cidade própria donde 
          trazia a sua origem. – Quando José teve conhecimento do mando, 
          perturbou-se na dúvida se deveria deixar a Virgem Maria em casa ou 
          levá-la consigo, visto que estava próximo a dar à luz. ‘Minha esposa e 
          senhora’, disse-lhe, ‘por um lado não quereria deixar-vos só; por 
          outro, se vos levo, afligi-me o triste pensamento que muito tereis de 
          sofrer numa viagem tão longa, por um tempo tão rigoroso’. Maria, 
          porém, anima-o dizendo: ‘José meu, não temais: eu vos acompanharei, e 
          o Senhor nos ajudará’. – Por inspiração divina e pelo conhecimento da 
          profecia de Miquéias, a Virgem sabia que o divino Infante devia nascer 
          em Belém. Toma, pois, as faixas e os pobres paninhos já preparados e 
          parte com José. 
          
          
          Consideremos aqui as devotas e santas conversações que durante a 
          viagem faziam entre si aqueles santos esposos acerca da misericórdia, 
          da bondade e do amor do Verbo divino, que em breve ia nascer e fazer a 
          sua entrada no mundo, pela salvação dos homens. Consideremos os atos 
          de louvor, de bênção, de agradecimento, de humildade e de amor que 
          aqueles excelsos viajantes praticavam no caminho. De certo sofreu 
          muito a santa Virgenzinha, próximo a dar à luz, tendo de fazer uma 
          viagem tão longa; mas suportou tudo em paz e com amor. Ofereceu a Deus 
          todas as suas penas, unindo-as com as penas de Jesus, que trazia no 
          seio. 
          
          Ah! Na 
          viagem de nossa vida unamo-nos a Maria e José e acompanhemo-nos deles, 
          e agora façamos com eles companhia ao Rei do céu, que vai nascer numa 
          gruta. Roguemos aos santos viajantes que pelos merecimentos das penas 
          que então padeceram, nos acompanhem na viagem que estamos fazendo para 
          a eternidade”
          
          (Meditações). 
          
            
          
          Em Lc 
          2, 6-7 diz: 
          “Enquanto lá estavam, completaram-se os dias para o parto, e ela deu à 
          luz o seu filho primogênito, envolveu-o com faixas e reclinou-o numa 
          manjedoura, porque não havia lugar para eles na sala”. 
            
          
          
          Santo Ambrósio escreve:
          “São Lucas explicou brevemente o modo, o tempo e ainda o lugar em 
          que Jesus Cristo nasceu segundo a carne, dizendo: ‘E sucedeu que, 
          achando-se ali, chegou a hora do parto”, 
          e: 
          “Também o Senhor se dignou encarnar no tempo em que imediatamente pode 
          ser inscrito no censo de César, submetendo-se assim à servidão por 
          nossa liberdade. Nasce em Belém não só para manifestar seu distintivo 
          de rei, mas também pelo sentido oculto deste nome” 
          (São Beda), 
          e também: 
          “Também é unigênito, segundo a divindade; primogênito, segundo a 
          acepção humana. Primogênito, segundo a graça, e unigênito, segundo a 
          natureza” 
          (Idem.), e 
          ainda: “Ali não houve 
          quem recebesse o Menino... A Mãe envolve o Menino nos panos, e serve 
          de mãe e de matrona, pelo que foi dito: ‘E envolveu-o em panos” 
          (São Jerônimo, contra 
          Helvidium), 
          e: “Aquele que 
          veste o mundo com tanta variedade de adornos é envolto em pobres 
          panos, para que possamos receber a primeira roupa.
          As mãos e os pés 
          d’Aquele que fez todas as coisas são ligados para que nossas mãos 
          estejam sempre dispostas a realizar o bem e nossos pés a caminhar pelo 
          caminho da paz” (São 
          Beda), e 
          também: “Oh! 
          Admirável tortura e extremada penúria, a que se vê submetido o que 
          governa o universo! Desde o princípio se apropria toda a pobreza e a 
          enriquece” (Griego), 
          e ainda: “E se 
          vê em um duro presépio Aquele a quem o céu serve de assento, para 
          poder oferecer-nos as alegrias do reino dos céus” 
          (São Beda), 
          e: “Encontrou 
          o homem embrutecido em sua alma e por isso foi colocado num presépio 
          como alimento para que, transformando a vida bestial, possamos ser 
          levados a uma vida conforme com a dignidade humana, tomando, não o 
          feno, mas o pão celestial” 
          (São Cirilo), 
          e também: “O que se 
          senta à direita do Pai se acha em lugar pobre e desabrigado, para 
          preparar-nos muitas mansões na casa de seu Pai”
          (São Beda). 
          
          Santo 
          Afonso Maria de Ligório escreve: 
          “Quando 
          um rei faz a primeira entrada numa cidade do seu reino, que 
          manifestações de veneração se lhe preparam! Quantos arcos de triunfo! 
          Prepara-te, pois, ó Belém venturosa, para receberes dignamente o Rei 
          do céu; fica sabedora que entre todas as cidades és tu a ditosa que 
          ele escolheu para nascer na terra, a fim de reinar depois no coração 
          dos homens... 
          
          Chegada 
          a Belém, Maria entendeu que se aproximava a hora do parto. Avisou a 
          São José, e este diligenciou achar agasalho em uma casa dos habitantes 
          de Belém, a fim de não ter de levar sua esposa à hospedaria, lugar 
          pouco conveniente para uma tenra donzela. Ninguém quis atender-lhe o 
          pedido, e é bem verossímil que da parte de alguns fosse taxado de 
          insensato por trazer consigo a esposa próximo ao parto em tempo 
          noturno e de tanta afluência de povo. – Para não ficar durante a noite 
          no meio da rua, viu-se afinal obrigado a levar a Virgem Maria à 
          hospedaria pública, onde já muitos pobres se tinham alojado para a 
          noite. Mas como? Também dali foram expulsos e foi-lhes respondido que 
          não havia lugar para eles. Havia ali lugar para todos, também para os 
          mais indignos, mas não para Jesus Cristo. – Contemplemos quais devem 
          ter sido os sentimentos de São José e de Maria Santíssima, vendo-se 
          desprezados e repulsos de cada um. 
          
          A 
          estalagem de Belém foi figura daqueles corações ingratos que dão 
          acolhida a tantas criaturas miseráveis e não a Deus. Quantos há que 
          amam os parentes, os amigos, até os animais, mas não amam Jesus Cristo 
          e nenhum caso fazem de sua graça e de seu amor... 
          
          Vendo-se 
          repulsos de toda parte, São José e a Bem-aventurada Virgem saem da 
          cidade a fim de achar fora dela ao menos algum abrigo. Os pobres 
          viandantes caminham na escuridão, errando e espreitando; afinal 
          depara-se ao pé dos muros de Belém com uma rocha escavada em forma de 
          gruta, que servia de estábulo para os animais. Disse então Maria: 
          José, meu esposo, não precisamos ir mais longe; entremos nesta gruta e 
          deixemo-nos ficar aqui. – Mas como? Responde São José; não vês, minha 
          esposa, que esta gruta é tão fria e úmida que a água escorre em toda 
          parte? Não vês que não é uma morada para homens, senão uma estrebaria 
          para animais? Como queres passar aqui a noite e dar à luz? – Contudo é 
          verdade, tornou Maria, que este estábulo é o palácio real onde quer 
          nascer na terra o Filho eterno de Deus. 
          
          Que 
          terão dito os anjos vendo a divina Mãe entrar naquela gruta para dar à 
          luz! Os filhos dos príncipes nascem em quartos adornados de ouro; 
          preparam-lhes berços incrustados com pedras preciosas, e mantilhas 
          preciosas; e fazem-lhes cortejo os primeiros senhores do reino. 
          
          E ao Rei 
          do céu prepara-se uma gruta fria e sem lume para nela nascer, uns 
          pobres paninhos para cobri-lo, um pouco de palha para leito, e uma vil 
          manjedoura para o colocar... 
          
          Quando 
          Maria Santíssima entrou na gruta, pôs-se logo em oração. De súbito vê 
          uma refulgente luz, sente no coração um gozo celestial, abaixa os 
          olhos, e, ó Deus! Que vê? Vê já diante de si o Menino Jesus, tão belo 
          e tão amável, que enleva os corações. Mas treme e chora... Em seguida, 
          a Santa Virgem, movida de compaixão maternal, levanta com respeito o 
          amado Filho, aquece-O com o calor de seu rosto e do seu peito. Tendo-O 
          no colo, adora o divino Menino como seu Deus, beija-Lhe os pés como a 
          seu Rei, e beija-Lhe o rosto como a seu Filho e procura depressa 
          cobri-lO e envolve-O nas mantilhas”
          
          (Meditações). 
          
          O Pe. 
          Alexandrino Monteiro escreve:
          “Como nasce? Como 
          homem! Com lágrimas nos olhos, com dores no tenro corpinho, com frio 
          em todos os membros, com falta de tudo! Nasce como servo e não como 
          rei, nasce na humilhação, nasce com toda a sua divina grandeza 
          encoberta. 
          
          Nasce no 
          tempo o que foi gerado desde toda a eternidade, feito carne o Verbo 
          divino, feito mortal o Eterno! 
          
          Nasce a 
          Vida sujeita à morte, a Luz escurecida com as trevas dos nossos 
          pecados, o Sol eclipsado com o véu da nossa natureza! 
          
          Nasce 
          Infante o Criador do universo, envolvido em faixas a Riqueza do céu, 
          reclinado num presépio o que tem seu trono sobre os serafins! 
          
          Como 
          nasce? Abandonado! 
          
          É Senhor 
          e ninguém o respeita! É Deus e ninguém o adora! É Rei e ninguém lhe 
          vai prestar homenagem e render vassalagem! É o Salvador do mundo, e 
          quem busca n’Ele a salvação? 
          
          Nasce 
          pobre porque deseja que nós o recebamos em nossa casa, que o vistamos, 
          que o abriguemos do frio, que lhe preparemos um berço. 
          
          Onde 
          nasce? – Numa gruta úmida e fria, num alpendre desabrigado, onde falta 
          o conchego do lar doméstico, um bercinho fofo, o asseio – tudo! 
          
          É isto 
          possível? Não será um sonho tudo que estou vendo? – Oh! Não! É a 
          verdade pura, é uma realidade! 
          
          Disse o 
          apóstolo São João que o verbo divino veio ao mundo e os seus não O 
          receberam (Jo 1, 11). E como o haviam de receber e adorar como seu 
          Deus, se Ele veio debaixo de tão rigoroso incógnito, tão disfarçado e 
          tão semelhante aos homens? 
          
          Algum 
          motivo havia de ter Deus para assim nascer. E teve-o! Deus não queria 
          vir ao mundo com o estrondo que acompanha e soleniza o nascimento dos 
          grandes da terra. Se Ele viesse cercado com toda essa grandeza, os 
          humildes receariam chegar-se à sua presença, e até seria odiado por 
          aqueles que olham para os grandes como para inimigos. Ora, o seu fim 
          era atrair a todos os homens ao seu amor, assim grandes como pequenos, 
          a fim de a todos procurar a salvação. Por isso fez-se menino, fez-se 
          pobre, fez-se humilde, para que todos se aproximassem d’Ele. 
          
          - Quando 
          nasce? 
          
          - A 
          horas mortas da meia-noite, quando todos dormiam, quando ninguém o 
          esperava, quando os homens, cansados uns do trabalho, outros dos 
          divertimentos, se entregavam ao sono. 
          
          Não 
          esperou que fosse dia para nascer, a fim de não ser visto e conhecido. 
          Nasceu de noite para que despertando a humanidade com o raiar da 
          aurora, encontraste já nascido o Sol de Israel, que lhe vinha trazer a 
          salvação. 
          
          Nasceu 
          nas trevas, porque vinha ser a luz do mundo, o Sol esplendoroso que 
          vinha dissipar as sombras que passavam sobre os homens desde que o 
          paraíso se fechou! 
          
          Nasceu 
          de noite, para mostrar que era bem escura a noite em que vivia todo o 
          gênero humano, e que essa noite ia ter o seu fim com o amanhecer do 
          solene dia da redenção. 
          
          Nasceu 
          de noite; mas ainda assim quis ter quem o adorasse. Foi aos pastores, 
          que vigiavam os seus rebanhos, que os Anjos anunciaram a vinda do 
          Salvador. Não foram à corte de Herodes, nem aos grandes da Judéia, nem 
          aos Césares de Roma, porque, ainda que para todos nascia, eram os 
          pobres e os humildes os que mais agradavam a seus olhos. 
          
          - Por 
          que nasce? 
          
          - Porque 
          nos ama! Nasce por nós, porque deseja a nossa felicidade, porque nos 
          quer em seu reino fazer participantes de sua mesma glória. 
          
          Nasce 
          por nós a fim de que nós renasçamos para Ele, morrendo para o mundo, 
          para o nosso amor próprio, para as nossas faltas. 
          
          Nasce 
          pobre para que nós, com seu exemplo, nos animemos a deixar as riquezas 
          e comodidades da vida. 
          
          Nasce no 
          mais completo abandono, para que nós tenhamos por melhor que o nosso 
          nome seja desconhecido, do que ande na boca de todos e para que 
          vendo-nos desprezados dos homens, nos consolemos com seu exemplo. 
          
          Nasce na 
          humilhação, para que aprendamos a calcar aos pés o orgulho”.
           
          
          Já 
          nasceu o Messias, Filho de Deus e nosso Salvador. 
          
          Santo 
          Ambrósio escreve: 
          “Ele 
          fez-Se criança (...) para que tu pudesses ser homem perfeito: Ele foi 
          envolvido em paninhos para que tu fosses livrado dos laços da morte 
          (...). Ele desceu à terra para que tu pudesses subir ao Céu; Ele não 
          teve lugar na pousada para que tu tivesses no Céu muitas mansões. Ele, 
          sendo rico, fez-Se pobre por nós – diz São Paulo (2 Cor 8, 9) – para 
          que vos enriquecêsseis com a Sua pobreza (...). As lágrimas daquele 
          Menino que chora purificam-me, aquelas lágrimas lavam os meus pecados”
          (Expositio 
          Evangelii serc. Lucam, ad. Loc.), 
          e: 
          “Oxalá 
          Jesus ache em nossos corações lugar para nascer espiritualmente. 
          Devemos aspirar a que Cristo nasça em nós, que é como dizer que nós 
          devemos nascer para uma  nova vida, ser uma nova criatura (Rm 6, 4), 
          guardar aquela santidade e pureza de alma que nos foi dada no Batismo 
          e que foi como um novo nascimento”
          
          (Edições Theologica). 
          
          “... e 
          ela deu à luz o seu filho primogênito...” 
          
          “Filho 
          primogênito”: 
          A Sagrada escritura costuma chamar primogênito ao primeiro varão que 
          nasce, seja ou não seguido de outros irmãos (cf, p. ex., Ex 13, 2; 13, 
          13; Nm 15, 8; Hb 1, 6). 
          
          
          Edições Theologica comenta: 
          “Este 
          sentido também se dava na linguagem profana, como consta, por exemplo, 
          numa inscrição datada aproximadamente do ano do nascimento de Cristo e 
          encontrada nos subúrbios de Tell-el-Jeduieh (Egito) em 1922, em que se 
          diz que uma mulher chamada Arsinoe, morreu ‘nas dores do parto do seu 
          filho primogênito’. De outro modo, como explica São Jerônimo na 
          epístola Adversus Helvidium, 10, ‘Se só fosse primogênito 
          aquele a quem se seguem outros irmãos, não lhe seriam devidos os 
          direitos de primogênito, segundo manda a Lei, enquanto os outros não 
          nascessem’, o que é evidentemente absurdo, já que a Lei ordena o 
          ‘resgate’ dos primogênitos dentro do primeiro mês depois do seu 
          nascimento (cf Nm 18, 16)”. 
          
          Por 
          outro lado, Jesus Cristo é primogênito num sentido profundíssimo que 
          ultrapassa toda a consideração natural e biológica. Assim, São Beda, 
          resumindo uma longa tradição dos Santos Padres, expõe esta profunda 
          primogenitura de Cristo com as seguintes palavras: 
          “Na 
          verdade o Filho de Deus, que Se manifesta na carne, é numa ordem mais 
          alta não só Unigênito do Pai segundo a excelência da Sua divindade, 
          mas também primogênito de toda a criatura segundo os vínculos da Sua 
          fraternidade com os homens; desta (da primogenitura) diz-se: ‘Porque 
          aos que Ele (Deus) conheceu de antemão, também os predestinou para que 
          cheguem a ser conformes com a imagem do Seu Filho, a fim de que Ele 
          fosse primogênito entre muitos irmãos’ (Rm 8, 29). E daquela (da Sua 
          condição de Unigênito) diz-se ‘e vimos a Sua glória, glória como de 
          Unigênito do Pai’ (Jo 1, 14). Assim, pois, é Unigênito pela Sua 
          substância da Deidade, e primogênito pela assunção da humanidade; 
          primogênito da Graça, Unigênito na natureza. Daí que seja denominado 
          irmão e Senhor: irmão, porque é primogênito; Senhor, porque é 
          Unigênito” 
          (In Lucae Evangelium expositio, ad loc.), 
          e: 
          “Se 
          alguém, de acordo com os Santos Padres, não confessar  própria e 
          verdadeiramente como Mãe de Deus a Santa e sempre Virgem e Imaculada 
          Maria, uma vez que concebeu nos últimos tempos, sem sêmen, por graça 
          do Espírito Santo, própria e verdadeiramente o mesmo Verbo Divino, que 
          nasceu do Pai antes de todos os séculos, e incorruptivelmente O gerou, 
          permanecendo intacta a sua virgindade após o parto, seja condenado”
          
          (Concílio de Latrão, ano de 649). 
          
            
          
          Em Lc 
          2, 8-14 diz: 
          “Na 
          mesma região havia uns pastores que estavam nos campos e que durante 
          as vigílias da noite montavam guarda a seu rebanho. O Anjo do Senhor 
          apareceu-lhes e a glória do Senhor envolveu-os de luz; e ficaram 
          tomados de grande temor. O anjo, porém, disse-lhes: ‘Não temais! Eis 
          que eu vos anuncio uma grande alegria, que será para todo o povo: 
          Nasceu-vos hoje um Salvador, que é o Cristo Senhor, na cidade de Davi. 
          Isto vos servirá de sinal: encontrareis um recém-nascido envolto em 
          faixas deitado numa manjedoura’. E de repente juntou-se ao anjo uma 
          multidão do exército celeste a louvar a Deus dizendo: ‘Glória a Deus 
          no mais alto dos céus e paz na terra aos homens que ele ama!” 
            
          
          Santo 
          Ambrósio escreve: “Consideremos como a 
          providência divina se cuida em afirmar a fé. Um anjo instrui a Maria, 
          um anjo instrui a José e um anjo instrui aos pastores, de quem se diz: 
          ‘Estavam vigiando naquela região uns pastores”, 
          e: “Um anjo havia 
          aparecido a José em sonhos. Por outro lado, apareceu aos pastores de 
          uma maneira visível, como a homens mais ignorantes. O anjo não foi, 
          pois, a Jerusalém, nem buscou aos escribas e fariseus, porque estavam 
          corruptos e atormentados pela inveja. Porém, os pastores eram simples 
          e observavam a antiga lei dos patriarcas e de Moisés” 
          (São João Crisóstomo, In Cat. 
          Graec. Patr.), 
          e também: “Em todo o 
          Antigo Testamento não encontramos que os anjos apareciam com 
          freqüência aos patriarcas. Esta graça devia estar reservada ao tempo 
          em que nasceria entre as trevas a luz para os de coração reto” 
          (São Beda, Homilia in Nativ. 
          Dom.), e 
          ainda: “Sai do 
          seio de sua Mãe, porém, resplandece como se estivesse no céu; repousa 
          num presépio na terra, porém, brilha como a luz do céu” 
          (Santo Ambrósio), 
          e: “Manifesta também 
          o tempo em que teve lugar este nascimento dizendo: ‘Hoje’; o lugar, 
          quando disse: ‘Na cidade de Davi’; e os sinais, ao acrescentar: ‘E 
          servirá de sinal’, etc. Eis aqui como os anjos anunciam aos pastores o 
          nascimento do Pastor principal, que nasce e se manifesta como um 
          cordeiro no estábulo” 
          (Griego), 
          e também: “A infância 
          do Salvador nos é dada a conhecer com freqüência pela voz dos anjos e 
          pelos testemunhos dos evangelistas, com a finalidade de que grave mais 
          profundamente em nossos corações o que tem feito por nós. E deve 
          notar-se que o sinal do nascimento do Salvador não é a púrpura de 
          Tiro, mas os pobres panos que o envolviam; não o encontramos em berços 
          douradas; mas num presépio”
          (São Beda), 
          e ainda: “Porém, se a 
          nossa vista aparecem humildes os panos, admiremos o concerto dos 
          anjos. Se menosprezamos o presépio, levantemos um pouco os olhos e 
          olhemos essa estrela nova no céu anunciando ao mundo o nascimento do 
          Senhor. Se cremos nas coisas vis, cremos também nas coisas admiráveis. 
          Se discutimos o que é humilde, veneremos o que é alto e celestial”
          (São Maximino, In 
          Sermone Nativitatis, 4), 
          e: “Em sentido 
          místico, a aparição do anjo aos pastores quando estão acordados e a 
          claridade divina que os rodeou, significam que aos que sabem guiar com 
          solicitude seu fiel rebanho, a graça divina resplandece sobre eles com 
          mais abundância” 
          (São Gregório Magno, Homiliae in Evangelia, 
          8), e 
          também: 
          “Aqueles pastores do rebanho representam, pois, os doutores e 
          diretores das almas fiéis. A noite durante a qual velavam sobre o 
          rebanho, representa os perigos das tentações... Velam com muita razão 
          os pastores sobre o rebanho quando nasce o Senhor, porque nascera 
          Aquele que disse: ‘Eu sou o bom pastor’, e se aproximava o tempo em 
          que este mesmo pastor havia de atrair as suas ovelhas que andavam 
          errantes, aos pastos da vida eterna” 
          (São Beda, In Homil. in Nativ. Dom.), 
          e ainda: “Se 
          aprofundarmos mais o sentido, diremos que os anjos eram como os 
          pastores encarregados de conduzir as coisas humanas. E como cada um 
          destes fazia sua guarda, apareceu o anjo depois de nascido o Salvador 
          e anunciou aos pastores que havia nascido o verdadeiro Pastor” 
          (Orígenes, In Lucam, 
          12), e:
          “Noutro tempo se 
          mandava ao anjos para castigar, como quando foram enviados aos 
          israelitas, a Davi, aos sodomitas e ao vale dos que choram. Porém, 
          agora, pelo contrário, cantam na terra dando graças ao Senhor, porque 
          se dignou manifestar sua vinda aos homens” 
          (São João Crisóstomo), 
          e também: 
          “Também louvam ao Senhor porque põem as vozes de seus cantos em 
          harmonia com nossa redenção”
          (São Gregório Magno, 
          Moralia 28, 4), 
          e ainda: “Desejam 
          também paz à terra aos homens, acrescentando: ‘E paz na terra aos 
          homens’ porque, havendo nascido o Salvador segundo a carne; respeitam 
          como companheiros agora aos que desprezaram antes como enfermos e 
          abatidos” (São 
          Beda), e:
          “Esta paz, pois, foi 
          feita por Jesus Cristo: Ele mesmo nos reconciliou com Deus e com o 
          Pai, perdoando nossos pecados e pacificando aos dois povos em um só 
          homem, e formando um só redil dos habitantes do céu e da terra” 
          (São Cirilo), 
          e também: “A justiça 
          corresponde à boa vontade” 
          (Santo Agostinho, De Trinitate, 13, 13). 
          
          
          Pensamos que Maria Santíssima ficaria muito tempo a contemplar o seu 
          Filho, olhando para Ele no silêncio da noite. Depois, O colocaria nos 
          braços de São José, que sabe bem que é o Filho do Altíssimo, a quem 
          deverá cuidar e proteger, e ensinar-lhe um ofício. Toda a sua vida 
          estará centrada neste Menino indefeso. Eles sabem que começou para a 
          humanidade uma nova idade: a era cristã, a do Messias, seu Filho. 
          
          O Pe. 
          Francisco Fernández-Carvajal escreve: 
          “Jesus, 
          Maria e José estavam sós. Mas Deus buscou para acompanhar a Sagrada 
          Família uns pastores simples e humildes, que não se escandalizaram ao 
          encontrar o Messias numa manjedoura, envolvido em panos. 
          
          Por 
          conseguinte, os judeus daqueles tempos incluíam os pastores entre os 
          pecadores e publicanos, devido a que, pela sua ignorância, eram pouco 
          cumpridores das prescrições da Lei de Moisés. Por isso não eram 
          admitidos como juízes nem como testemunhas (Sanhedrín, 25b). 
          
          Aos 
          pastores daqueles arredores já se tinha referido o profeta Isaías: 
          o povo que caminhava nas trevas viu uma grande luz. Nesta primeira 
          noite, só neles se cumpre a profecia. Vêem uma grande luz: a glória 
          do senhor envolveu-os de claridade. Não temais, diz-lhes um anjo,
          pois venho anunciar-vos uma grande alegria, que o será para todo o 
          povo: hoje, na cidade de Davi, nasceu-vos o Salvador, que é o Cristo, 
          o Senhor. 
          
          E 
          deu-lhes um sinal: um menino envolvido em panos e deitado numa 
          manjedoura. Não podia ser um sinal mais simples, mas para eles bastou. 
          Talvez o anjo lhes indicasse também o caminho para chegar à gruta. 
          
          Este 
          anúncio segue-se imediatamente ao relato do Nascimento. Sem dúvida São 
          Lucas quer dar-nos a entender que entre estes dois fatos não mediaram 
          mais que umas poucas horas. Jesus, pois, tal como o celebramos, parece 
          que nasceu de noite (na Noite boa), pois também de noite teve lugar a 
          aparição do anjo aos pastores”. 
          
          O anjo 
          anuncia que o Menino que nasceu é o Salvador, o Cristo, o Senhor. É 
          o Salvador porque veio redimir-nos dos nossos pecados (cf Mt 1, 
          21). É o Cristo, isto é, o Messias prometido tantas vezes no Antigo 
          Testamento, e que agora está recém-nascido entre nós cumprindo essa 
          esperança antiga. É o Senhor, com o que se manifesta a 
          divindade de Cristo, visto que com este nome quis Deus ser chamado 
          pelo Seu povo no Antigo Testamento. E este nome tornar-se-á corrente 
          entre os cristãos para designar e invocar Jesus, e assim confessará a 
          sua fé a Igreja para sempre: ‘Creio (...) num só Senhor Jesus Cristo, 
          Filho único de Deus (...)’. 
          
          
          Edições Theologica comenta: 
          “O anjo, 
          ao dizer-lhes que o Menino tinha nascido na cidade de Davi, 
          recorda-lhes que este era o lugar destinado ao nascimento de Davi (cf 
          Sl 110, 1-2; Mt 22, 42-46). 
          
          Cristo, 
          porém, é não só Senhor dos homens, mas também dos anjos. Daí que estes 
          se alegrem pelo Nascimento de Cristo e Lhe tributem esta adoração: 
          ‘Glória a Deus nas alturas’. Mais ainda, como os homens são chamados a 
          participar na mesma felicidade eterna que os anjos, estes exprimem a 
          sua alegria acrescentando no seu louvor: ‘E paz na terra aos homens do 
          Seu agrado”. 
          
          São 
          Gregório Magno escreve: 
          “Louvai 
          o Senhor pondo as vozes do seu canto em harmonia com a nossa redenção; 
          já nos vêem a participar na sua mesma sorte e congratulam-se por isso”
          (Moralia, 
          28, 7), 
          e Santo Tomás resume a razão de que o Nascimento de Cristo fosse 
          manifestado por meio de anjos: 
          
          “Necessita de ser manifestado o que de si é oculto, não o que é 
          evidente. O corpo do recém-nascido era manifesto; mas a Sua divindade 
          estava oculta, e, portanto, era conveniente que se manifestasse aquele 
          nascimento por meio dos anjos, que são ministros de Deus; por isso 
          apareceu o anjo rodeado de claridade, para que fosse evidente que o 
          recém-nascido era ‘o esplendor da glória do pai’ (Hb 1, 3)”
          (Summa 
          Teológica, III, q. 36, a. 5 ad 1). 
          
          “Eis que 
          eu vos anuncio uma grande alegria...” 
          
          Santo 
          Afonso Maria de Ligório escreve: 
          “O 
          nascimento de Jesus Cristo trouxe alegria geral ao mundo inteiro. É 
          ele o Redentor desejado durante tantos anos e com tamanho ardor, que 
          por esta razão foi chamado o Desejado das gentes, o Desejado das 
          colinas eternas. Eis que já veio, nascido numa gruta estreita. Façamos 
          que o anjo nos anuncie o mesmo gozo que anunciou aos pastores, e que 
          nos diga: ‘Eis que eu vos anuncio uma grande alegria...’ 
          
          Que 
          festejos não se organizam num país, quando nasce ao rei seu filho 
          primogênito! Muito mais devemos nós festejar o nascimento do Filho de 
          Deus, que veio do céu para nos visitar, movido unicamente pelas 
          entranhas da sua misericórdia. 
          
          Nós nos 
          achávamos em estado de condenação, e eis que Jesus veio para nos 
          salvar. 
          
          Eis ai o 
          Pastor, vindo para salvar da morte as suas ovelhas, dando a vida por 
          amor delas” 
          (Meditações). 
          
          Os 
          anjos não falaram de uma pequena ou superficial alegria, mas de uma 
          grande alegria. Cristo Jesus é a verdadeira alegria. 
          
          Quem 
          possui Cristo Jesus no coração vive mergulhado na mais pura 
          felicidade: 
          “Sou a 
          pessoa mais feliz. Já não desejo nada porque meu ser está saciado com 
          o Deus-Amor”
          
          (Santa Teresa dos Andes, Carta 110), 
          e: 
          “Estar 
          sem Jesus é terrível inferno; estar com Jesus é doce Paraíso. Se Jesus 
          estiver contigo, nenhum inimigo te poderá ofender. Quem acha a Jesus 
          acha um tesouro precioso, ou antes, um bem acima de todo o bem”
          
          (Tomás de Kempis, Imitação de Cristo, Livro II, cap. VIII). 
          
          “Glória 
          a Deus no mais alto dos céus e paz na terra aos homens que ele ama!” 
          
          
          Edições Theologica comenta: 
          “Este 
          texto pode ser traduzido de duas maneiras, que não se excluem. Uma é a 
          que figura na presente tradução, que equivale à tradução litúrgica 
          portuguesa do Missal: ‘Paz na terá aos homens do Seu agrado’. A outra 
          seria: ‘E na terra paz aos homens de boa vontade’. Em última análise, 
          o que diz o texto é que os anjos pedem paz e reconciliação com Deus, 
          que procedem não dos méritos dos homens, mas da misericórdia gratuita 
          que o Senhor quer usar com eles. Ambas as traduções se completam uma à 
          outra, porque quando os homens correspondem à graça de Deus, não fazem 
          senão cumprir em si próprios essa boa vontade, esse amor de Deus por 
          eles”. 
          
            
          
          Pe. 
          Divino Antônio Lopes FP. 
          
          
          Anápolis, 18 de dezembro de 2007 
            
          
  
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