VAMOS JÁ A BELÉM
(Lc 2,
15-20)
“15
Quando os anjos os deixaram, em direção ao céu, os pastores disseram
entre si: ‘Vamos já a Belém e vejamos o que aconteceu, o que o Senhor
nos deu a conhecer’.
16
Foram então às pressas, e encontraram Maria, José e o recém-nascido
deitado na manjedoura.
17
Vendo-o, contaram o que lhes fora dito a respeito do menino;
18
e todos os que os ouviam ficavam maravilhados com as palavras dos
pastores.
19 Maria, contudo, conservava cuidadosamente todos esses
acontecimentos e os meditava em seu coração.
20
E os pastores voltaram, glorificando e louvando a Deus por tudo o que
tinham visto e ouvido, conforme lhes fora dito”.
Em Lc
2, 15-18 diz: “Quando
os anjos os deixaram, em direção ao céu, os pastores disseram entre
si: ‘Vamos já a Belém e vejamos o que aconteceu, o que o Senhor nos
deu a conhecer’. Foram então às pressas, e encontraram Maria, José e o
recém-nascido deitado na manjedoura. Vendo-o, contaram o que lhes fora
dito a respeito do menino; e todos os que os ouviam ficavam
maravilhados com as palavras dos pastores”.
Edições Theologica comenta:
“Deus quis que o nascimento do Messias Salvador, o fato mais
importante da história humana, acontecesse de modo tão inadvertido que
o mundo, naquele dia, continuou a sua vida como se nada de especial
tivesse acontecido. Deus apenas anuncia a uns pastores o
acontecimento. Também a um pastor, Abraão, Deus confiou a promessa de
Salvação para toda a humanidade.
Os
pastores dirigem-se a Belém estimulados pelo sinal que lhes tinha sido
dado. Ao comprová-lo, contam o anúncio do anjo e a aparição da milícia
celeste. E com isso, constituem-se nas primeiras testemunhas do
Nascimento do Messias”.
Fócio
escreve: “Não
satisfeitos os pastores com crer na ventura que lhes tinha sido
anunciada pelo anjo, e cuja realidade viram cheios de assombro,
manifestavam a sua alegria não só a Maria e a José, mas também a toda
a gente, e o que é mais, procuravam gravá-la na sua memória. ‘E todos
os que escutaram maravilharam-se’. E como não haviam de maravilhar-se
vendo na terra Aquele que está nos Céus, e reconciliado em paz o
celeste com o terreno; aquele inefável Menino, unindo em Si o que era
celeste pela Sua divindade com o que era terreno pela Sua humanidade e
fazendo nesta união uma aliança admirável? Não só se admiram pelo
mistério da Encarnação, mas também pelo grande testemunho dos
pastores, que não podiam inventar o que não tivessem ouvido e tornam
pública a verdade com uma eloqüência simples”
(Ad Amphilochium, quaestio 155).
“Vamos já
a Belém e vejamos o que aconteceu, o que o Senhor nos deu a conhecer’.
Foram então às pressas, e encontraram Maria, José e o recém-nascido
deitado na manjedoura”.
“Foram
então às pressas...”
O Pe.
Francisco Fernández-Carvajal escreve:
“E foram pressurosos…, quase correndo, parece dizer o evangelista. É a
pressa da alegria e dos acontecimentos importantes. Por-se-iam a
caminho com algum presente para o recém-nascido. No mundo oriental de
então era inconcebível apresentar-se sem algum dom. Levaram o que
tinham ao seu alcance: algum cordeiro, queijo, manteiga, leite,
requeijão, algo de agasalho… Não é demasiado desacerto imaginar a cena
tal como a representam os inumeráveis “presépios” do Natal e a
apregoam os ‘villancicos’.
Maria e
José devem ter instruído com pormenor estes pastores acerca do
Messias, que estava ali diante deles. Com estas explicações, os
pastores converteram-se nos primeiros mensageiros, pois eles
regressaram a Belém e contaram à gente o que tinham visto, e todos
ficaram maravilhados (Lc). Alguns aproximar-se-iam do lugar onde
estava a Sagrada Família, aquele jovem casal, que tinha chegado há
pouco tempo, e prestariam alguma ajuda, que a Virgem tanto
agradeceria. Ela conquistaria os seus corações com a sua simpatia
pessoal.
Mas Belém
continuou a sua vida de sempre. Quando Jesus começa a sua vida pública
ninguém aludirá a fatos extraordinários acontecidos durante o seu
nascimento. Nem sequer recordarão que nasceu em Belém. Chamar-lhe-ão:
o Nazareno.
Só Maria
terá presente toda a sua vida esta noite inolvidável. Ela conservava
todas estas coisas ponderando-as no seu espírito, diz Lucas, como que
citando a fonte das suas informações; pensava em tudo isto, e com suma
alegria considerava-o uma e outra vez no seu interior”.
Assim
como os pastores foram às pressas a Belém, onde havia nascido o Filho
de Deus; busquemos também nós continuamente a presença de Deus,
visitando-O várias vezes ao dia no Santíssimo Sacramento da
Eucaristia.
Os
pastores não deixaram para depois nem ficaram de braços cruzados, mas
partiram imediatamente para Belém. Imitemo-los na busca de Cristo
Jesus; lembrando de que a vida sem Ele é vazia e sem sentido.
Eles
não se preocuparam com a escuridão nem com a distância. Não olhemos
também nós as dificuldades que surgirem em nosso caminho, porque a
amizade com Jesus Cristo vale mais do que todo o ouro do mundo.
A
pressa dos pastores é fruto da sua alegria e do seu afã por ver o
Salvador: “Ninguém
busca Cristo preguiçosamente”
(Santo Ambrósio, Expositio Evangelii séc. Lucam, ad loc.).
Griego escreve: “Tudo
o que haviam visto e ouvido os pastores, causou neles tal assombro que
abandonaram seus rebanhos e, apesar de ser noite, correram a Belém
buscando a luz do Salvador. Por isso diz: ‘Os pastores diziam entre
si”, e:
“Foram às pressas, e não pouco a pouco, prossegue: ‘E encontraram a
Maria’, que era a que havia dado a luz ao Salvador, ‘e a José’ que era
o protetor do nascimento, ‘e ao Menino deitado na manjedoura’, isto é,
o Salvador”
(Orígenes, in Lucam, 13).
“... e
encontraram Maria, José e o recém-nascido deitado na manjedoura”.
Aproximemos do presépio, com humildade e fé, e aprendamos dele alguns
ensinamentos.
O
mistério da cruz era uma loucura aos olhos dos gentios; também o do
presépio ainda o é aos olhos dos mundanos. “Quem poderá
compreender, dizem, como um Deus, a sabedoria incriada, escolheu
livremente um estábulo por palácio, uma manjedoura por berço, e por
companheiros inseparáveis a humilhação, o sofrimento, a pobreza, de
preferência à opulência dos reis da qual poderia dispor à sua vontade?
Não excede esse mistério às luzes de nossa razão?”
Assim
nos fala o Menino de Belém. Cada um sonde o seu coração e examine: 1.°
Quantas vezes o assaltam desejos de estima e vanglória, temores da
abjeção, da humilhação e do desprezo; sentimentos de inveja ao ver o
próximo celebrado, e de alegria maligna ao vê-lo humilhado! – 2.° A
respeito do desprezo dos bens sensíveis, que não temos nós talvez a
nos exprobrar! Quanta solicitude e cuidado para o temporal, quanta
sensualidade, amor das comodidades em tudo o que fazemos! Não dirão os
homens que a nossa única ocupação consiste em tratarmos da nossa
saúde, em fugirmos das dificuldades, e em gozarmos a vida presente
como os que olvidam a eternidade?
“Vendo-o,
contaram o que lhes fora dito a respeito do menino; e todos os que os
ouviram ficavam maravilhados com as palavras dos pastores”.
Os
pastores viram o Menino Jesus e não cruzaram os braços; mas
“Vendo-O”,
contaram o que lhes fora dito a respeito do menino.
O
católico batizado e crismado deveria sair de sua “poltronice”,
comodismo e relaxamento, e ser um grande missionário, isto é, falar a
todos os indiferentes sobre Nosso Senhor, passar para os demais tudo
aquilo que aprendeu nas aulas de catecismo.
É
vergonhoso ver milhões de católicos viverem de braços cruzados, sem se
preocuparem com a salvação das almas:
“Nada mais frio do que um
cristão que não se preocupa com a salvação dos outros”
(São João Crisóstomo, Homilia 20, 4: PG 60, 162-164).
O que
dirão a Deus na hora do Julgamento, os católicos que comparecerem no
Tribunal com as mãos vazias?
“... e
todos os que os ouviam ficavam maravilhados com as palavras dos
pastores”.
Está
claro que somente Jesus Cristo é capaz de preencher o vazio de uma
alma imortal.
Aquele que segue o mundo e suas máximas vive mergulhado nas trevas e
na angústia; enquanto que aquele que segue a Cristo Jesus vive
mergulhado na paz e possui a verdadeira felicidade:
“Eu sou cada dia mais feliz,
pois sou de nosso Senhor. Ele me dá a felicidade verdadeira... O amor
a Jesus dá forças e alegria”
(Santa Teresa dos
Andes, Carta 128),
e: “Quem pode fazer-me
mais feliz do que Deus? N’Ele encontro tudo” (Idem, Carta 81).
Em Lc
2, 19-20 diz: “Maria,
contudo, conservava cuidadosamente todos esses acontecimentos e os
meditava em seu coração. E os pastores voltaram, glorificando e
louvando a Deus por tudo o que tinham visto e ouvido, conforme lhes
fora dito”.
Edições Theologica comenta:
“Em breves palavras este
versículo diz muito de Maria Santíssima. Apresenta-a serena e
contemplativa diante das maravilhas que se estavam a cumprir no
nascimento do seu divino Filho. Maria penetra-as com olhar profundo,
pondera-as e guarda-as no silêncio da sua alma. Maria Santíssima,
mestra de oração! Se a imitarmos, se guardarmos e ponderarmos nos
nossos corações o que ouvimos de Jesus e o que Ele faz em nós, estamos
a caminho da santidade cristã e não faltará na nossa vida nem a
doutrina do senhor nem a Sua graça. Por outro lado, meditando deste
modo os ensinamentos que recebemos de Jesus, vamos aprofundando no
mistério de Cristo, e assim a Tradição apostólica progride na Igreja
sob a assistência do Espírito Santo. Com efeito, progride a percepção
tanto das coisas como das palavras transmitidas, quer mercê da
contemplação e estudo dos crentes, que as meditam no seu coração, quer
mercê da íntima inteligência que experimentam das coisas espirituais,
quer mercê da pregação daqueles que, com a sucessão do episcopado,
receberam o carisma da verdade”.
Santo
Ambrósio escreve: “Não
é, pela simplicidade, desprezível as palavras dos pastores, posto que
Maria lhes prestava confiança, segundo se vê o que se segue: ‘Maria,
contudo, conservava cuidadosamente todos esses acontecimentos e os
meditava em seu coração’. Aprendamos a castidade em todas as coisas da
Santa Virgem, a qual reunia em seu coração as provas da fé com não
menos modéstia em suas palavras que em seu corpo”,
e: “Tudo o que havia
dito os anjos, tudo o que havia ouvido de Zacarias, Isabel e os
pastores, tudo conservava em seu coração. E comparando umas coisas com
outras, esta Mãe da Sabedoria via que em todas elas provavam que era
verdadeiramente Deus quem havia nascido dela”
(Griego), e também:
“Todos, pois, se alegravam com o nascimento de Jesus Cristo, não de
uma maneira humana (como se regozijam os homens quando nasce um
menino), senão pela presença de Jesus Cristo e pelo brilho da luz
divina. ‘E os pastores voltaram, glorificando e louvando a Deus por
tudo o que tinham visto e ouvido, conforme lhes fora dito”
(Santo Atanásio),
e ainda: “Os pastores não guardaram em silêncio o que haviam visto, no
que se manifesta que os pastores da Igreja se ordenam para ensinar a
seus ouvintes o que aprenderam nas Sagradas Escrituras”
(São Beda, In Hom. In nativ. Dom), e: “Também
os mestres dos rebanhos espirituais, ora se elevam contemplando as
coisas do céu, enquanto os demais dormem... ora voltam a seu
ministério pastoral para ensinar ao povo”
(São Beda, Sup. Luc.).
Pe.
Divino Antônio Lopes FP.
Anápolis, 19 de dezembro de 2007
|