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                NO 
                PRINCÍPIO ERA O VERBO... 
          
          (Jo 1, 
          1-18) 
            
          
          “1 
          No princípio era o Verbo e o Verbo estava com Deus e o Verbo era Deus.
          2 
          No princípio, ele estava com Deus. 
          3 
          Tudo foi feito por meio dele 
          e sem ele nada foi feito. 
          4 
          O que foi feito nele era a vida, e a vida era a luz dos homens; 
          5 
          e a luz brilha nas trevas, mas as trevas não a dominaram. 
          6 
          Houve um homem enviado por Deus. Seu nome era João. 
          7 
          Este veio como testemunha, para dar testemunha da luz, a fim de que 
          todos cressem por meio dele. 
          8 
          Ele não era a luz, mas veio para dar testemunho da luz. 
          9 
          O Verbo era a luz verdadeira que ilumina todo homem;  ele vinha ao 
          mundo.  
          10 
          Ele estava no mundo e o mundo foi feito por meio dele, mas o mundo não 
          o reconheceu. 
          11 
          Veio para o que era seu e os seus não o receberam. 
          12 
          Mas a todos que o receberam deu o poder de se tornarem filhos de Deus: 
          aos que crêem em seu nome, 
          13 
          ele, que não foi gerado nem do sangue, nem de uma vontade da carne, 
          nem de uma vontade do homem, mas de Deus. 
          14 
          E o Verbo se fez carne, e habitou entre nós; e nós vimos a sua glória, 
          glória que ele tem junto ao Pai como Filho único, cheio de graça e de 
          verdade. 
          15 
          João dá testemunho dele e clama: ‘Este é aquele de quem eu disse: o 
          que vem depois de mim passou adiante de mim, porque existia antes de 
          mim’. 
          16 
          Pois de sua plenitude todos nós recebemos graça por graça. 
          17 
          Porque a Lei foi dada por meio de Moisés; a graça e a verdade vieram 
          por Jesus Cristo. 
          18 
          Ninguém jamais viu a Deus: o Filho único, que está voltado para o seio 
          do Pai, este o deu a conhecer”. 
            
          
            
            
          
          Em Jo 
          1, 1-2 diz: “No 
          princípio era o Verbo e o Verbo estava com Deus e o Verbo era Deus. No 
          princípio, ele estava com Deus”. 
          
          
          Edições Theologica comenta: 
          “O texto sagrado chama Verbo 
          ao Filho de Deus. Uma analogia ou comparação com as coisas humanas 
          pode ajudar-nos a compreender a noção de ‘Verbo’ ou ‘Palavra’: assim 
          como um homem ao conhecer-se forma na sua mente uma imagem de si 
          mesmo, assim Deus Pai ao conhecer-Se gera o Verbo Eterno. Este Verbo 
          de Deus é um e único, não pode existir outro porque n’Ele se exprime 
          toda a essência de Deus. Por isso o Evangelho não Lhe chama 
          simplesmente ‘Verbo’, mas ‘o Verbo’. Do Verbo afirmam-se três 
          verdades: que é eterno, que é diferente do Pai, e que é Deus”. 
          
          Santo 
          Agostinho escreve: 
          “Afirmar que existia no princípio equivale a dizer que existia antes 
          de todas as coisas”
          (De Trinitate, 6, 2). Por outro lado, ao assinalar que estava junto de Deus, isto é, 
          junto do Pai, ensina-nos que a pessoa do Verbo é diferente da do Pai, 
          e indica, ao mesmo tempo, a Sua relação de intimidade com Ele, tão 
          grande que tem a mesma natureza divina: é consubstancial ao Pai (cf. 
          Símbolo Niceno). 
          
          São 
          João Crisóstomo comenta: 
          “No princípio’: ‘Não 
          significa senão que foi sempre e é eterno (...). Porque se é Deus, 
          como de verdade o é, não há nada antes d’Ele; se é Criador de todas as 
          coisas, então Ele mesmo é o primeiro; se é Dominador e Senhor de tudo, 
          tudo é posterior a Ele: as criaturas e os séculos” 
          (Hom. Sobre São João, 2, 4), 
          e: “Enquanto os demais 
          evangelistas começam pela Encarnação, São João, vendo mais além da 
          concepção, do nascimento, da educação e do desenvolver de Jesus, nos 
          fala de sua eterna geração, dizendo: No princípio era o Verbo” 
          (Idem, In Ioannem, hom. 3), 
          e também: “A palavra 
          grega logos significa razão e verbo; mas neste caso, quer dizer Verbo, 
          para que se entenda não só a relação com o Pai, senão a força 
          operativa de todas as coisas que foram feitas pelo Verbo. A razão, 
          todavia, quando nada se faz por ela, se chama razão acertadamente”
          (Santo Agostinho, 
          Lib 83 quaest., qu 63), 
          e ainda: “Mas este 
          Verbo não é o humano; porque, como poderia existir no princípio o 
          verbo humano, quando o homem ocupa o último lugar na geração? Assim, 
          pois, o verbo humano não existia no princípio... porque toda criatura 
          está dentro dos términos dos séculos, tomando do Criador o princípio 
          de seu ser. Ouçamos, pois, o Evangelho de um modo conveniente: chamou 
          Verbo ao mesmo Unigênito”
          (São Basílio, Hom. Super haec verba) 
          , e: 
          “E por que chamam-no Verbo? 
          Porque nasceu impassivelmente; porque é imagem do que o gerou, 
          demonstrando-o todo em si mesmo, sem tirar nada, mas existindo 
          perfeito em si mesmo”
          (Idem, ut sup), e 
          também: “Portanto, o Verbo de Deus, Filho Unigênito do Pai, é em tudo 
          semelhante e igual ao Pai; é o mesmo que o Pai, mas não é o Pai, 
          porque Este é o Filho e Aquele o Pai”
          (Santo Agostinho, De 
          Trin., 15, 14). 
          
          O Catecismo da Igreja Católica comenta: 
          “No princípio era o Verbo... 
          e o Verbo era Deus... Tudo foi feito por ele, e sem ele nada foi 
          feito’ (Jo 1, 1-3). O Novo Testamento revela que Deus criou tudo por 
          meio do Verbo Eterno, seu Filho bem-amado. Nele ‘foram criadas todas 
          as coisas, nos céus e na terra... tudo foi criado por Ele e para Ele. 
          Ele é antes de tudo e tudo nele subsiste’ (Cl 1, 16-17)”
          (N° 291). 
          
          Santo 
          Agostinho escreve: “E 
          aquelas palavras: No princípio era o Verbo (Jo 1, 1), devem 
          entender-se que o verbo estava no Pai. E se ‘no princípio’ tem 
          o mesmo significado de ‘antes de todas as coisas’ então as palavras 
          seguintes: E o Verbo estava com Deus, como Verbo, compreenda-se 
          apenas do Filho e não do Pai e do Filho simultaneamente, como se ambos 
          fossem um só Verbo. Verbo é dito como Imagem, e o Pai e o Filho não 
          são ambos Imagens, mas somente o Filho é Imagem do Pai, assim como 
          somente ele é Filho. Os dois não podem ser Filhos. A afirmação que vem 
          logo em seguida: E o Verbo estava junto de Deus, há razões para 
          ser assim entendida: somente o Verbo é o Filho e estava 
          junto de Deus; o qual não é somente o Pai, mas sim, o Pai e Filho 
          são um só e mesmo Deus” (A Trindade, 
          Livro VI, 3), e:
          “O Pai e o Filho 
          juntos são, portanto, uma só essência, uma só grandeza, uma única 
          verdade e uma única sabedoria. Mas juntos, o Pai e o Filho não são um 
          só e mesmo Verbo, porque ambos não são um só e mesmo Filho. Assim como 
          o Filho está em referência ao Pai e não a si mesmo, assim o Verbo diz 
          relação àqueles de  quem é Verbo quando é chamado Verbo. O Verbo é 
          Filho pela mesma razão que o Filho é Verbo. E como o Pai e o Filho não 
          são um só Filho por conseguinte, o Pai e o Filho não são um só e mesmo 
          Verbo” 
          (Idem, Livro VII, 3).
           
          
          Em Jo 1, 3 diz: 
          “Tudo foi feito por meio dele e sem ele nada foi feito”. 
          
          
          Edições Theologica comenta: 
          “O prólogo, depois de mostrar 
          que o verbo está no seio do Pai, passa a tratar da Sua relação com as 
          criaturas. Já no Antigo Testamento a Palavra de Deus aparece como 
          força criadora (cf. Is 55, 10-11), como Sabedoria que estava presente 
          na criação do mundo (cf. Pr 8, 22-26). Aqui dá-se um progresso na 
          Revelação divina: é-nos manifestado que a Criação foi realizada pelo 
          verbo; isto não quer dizer que o Verbo seja um instrumento subordinado 
          e inferior ao Pai, mas que é princípio ativo juntamente com o Pai e o 
          Espírito Santo. A ação criadora é comum às três Pessoas divinas da 
          Santíssima Trindade”. 
          
          O IV 
          Concílio de Latrão ensina: 
          “O Pai que gera, o Filho que 
          nasce, e o Espírito Santo que procede são consubstanciais, co-iguais e 
          co-eternos: são um só princípio de todas as coisas; Criador de todas 
          as coisas, das visíveis e das invisíveis, das espirituais e das 
          corporais” 
          (De fide catholica, Dz-Sch, n. 800). 
          
          
          Alcuíno escreve: 
          “Depois que falou da natureza do Filho, falou de sua obra, dizendo: 
          ‘Todas as coisas foram feitas por Ele’; isto é, tudo o que existe, ou 
          em substância ou em qualquer outra propriedade”, 
          e: “E quando disse: 
          ‘Que todas as coisas foram feitas por Ele’, manifesta evidentemente 
          que a luz foi feita por Ele, quando disse Deus: ‘Haja a luz’ (Gn 1, 
          3), e do mesmo modo nas demais criações. Se é, pois, assim, é eterno o 
          que disse Deus: ‘Haja a luz’; porque o Verbo de Deus é Deus com Deus e 
          co-eterno com o Pai, ainda quando a criatura tenha sido feita 
          temporal. Porque ainda indicam tempo as palavras ‘quando’ e ‘alguma 
          vez’, contudo é eterno no Verbo de Deus o que deve ser feito, e se faz 
          quando deve ser feito o que existe naquele Verbo, no qual não há 
          ‘quando’ nem ‘alguma vez’, porque todo aquele Verbo é eterno”
          (Santo Agostinho, super Genesim 1, 2), 
          e também: “E como pode 
          suceder que o Verbo de Deus tenha sido feito, quando Deus fez todas as 
          coisas pelo Verbo? E se o Verbo mesmo foi feito, por qual outro Verbo 
          foi criado? Se disseres que existe um verbo do Verbo, pelo qual foi 
          feito, eu digo que este mesmo é o Filho Unigênito de Deus. E se não o 
          chamas Verbo de Deus, concede que então o Verbo não foi feito pelo 
          mesmo por quem foram feitas todas as coisas”
          (Idem, In Ioannem, tract. 1), e ainda: “Mas se 
          não foi feito, não é criatura. E se não é criatura é da mesma 
          substância que o Pai, porque toda substância que não é Deus é 
          criatura, e o que não é criatura é Deus”
          (Idem, De Trin., 1, 6), e: “Ou alguém 
          dirá que a frase ‘Todas as coisas foram feitas por Ele’ é uma 
          afirmação sem limite algum. E que está o ingênito, que não foi criado 
          por ninguém, e está o mesmo Filho, que foi gerado pelo que não foi 
          gerado. Mas o Evangelista se refere ao Criador e supõe que tem um 
          companheiro quando disse: ‘E nada foi feito sem Ele’. E quando nada 
          foi feito sem Ele, compreendo que não está só; porque um é por quem 
          foi feito as coisas, e outro aquele sem o qual nada foi feito” 
          (Santo Hilário, De Trin., 1, 2). 
          
          Em Jo 
          1, 4 diz: “O que foi 
          feito nele era a vida, e a vida era a luz dos homens”. 
          
          Edições Theologica 
          comenta: “A seguir expõem-se as verdades 
          fundamentais sobre o Verbo: que é a Vida e que é a Luz. Aqui trata-se 
          da vida divina, fonte primeira de toda a vida, da natural e da 
          sobrenatural. E essa Vida é luz dos homens, porque recebemos de Deus a 
          luz da razão, a luz da fé e a luz da glória, que são participação da 
          Inteligência divina. Só a criatura racional é capaz de conhecer Deus 
          neste mundo, e de O contemplar depois gozosamente no Céu por toda a 
          eternidade. Também a Vida (o Verbo) é luz dos homens enquanto os 
          ilumina tirando-os das trevas, isto é, do mal e do erro (cf. Is 8, 23; 
          9, 1-2; Mt 4, 15-16; Lc 1, 74). Jesus dirá mais adiante: ‘Eu sou a luz 
          do mundo; aquele que Me segue não andará em trevas, mas terá a luz da 
          vida’ (Jo 8, 12; cf. 12, 46). 
          
          Os 
          versículos 3 e 4 podem ler-se com outra pontuação, hoje geralmente 
          abandonada, ainda que na antiguidade tenha tido muitos defensores. 
          Segundo essa pontuação poderia traduzir-se assim: ‘Tudo foi feito por 
          Ele e sem Ele não se fez nada; tudo o que foi feito n’Ele, era vida, e 
          a vida era luz dos homens’. 
          
          Esta 
          leitura indicaria que tudo o que foi criado é vida no Verbo, isto é, 
          que todos os seres recebem o ser e o operar, o viver, pelo Verbo, não 
          sendo possível sem Ele a existência”. 
          
          Em Jo 1, 5 diz:
          “...e a luz brilha nas 
          trevas, mas as trevas não a dominaram”. 
          
          
          Edições Theologica comenta: 
          “Dominaram’: O 
          verbo original grego, que o texto latino traduz por comprehenderunt, 
          significa abraçar ou abarcar uma coisa como que rodeando-a com os 
          braços; mas este ato pode fazer-se com intenção de bom acolhimento 
          (abraço amigável), ou de hostilidade (ação de sufocar ou  asfixiar 
          outro apertando-o). Há, pois, lugar para duas possíveis traduções do 
          versículo: a de ‘receberem’, ou a que expressaria que as trevas não 
          puderam apagar ou sufocar a luz, que a tradução portuguesa por nós 
          adotada exprime com a palavra ‘dominaram’. Com esta última 
          interpretação indicar-se-ia que Cristo e o Seu Evangelho continuam a 
          brilhar entre os homens apesar da oposição do mundo, vencendo-o, 
          segundo as palavras de Jesus: ‘Confiai: Eu venci o mundo’ (Jo 16, 33; 
          cf. 12, 31; 1 Jo 5, 4). Em qualquer caso, o versículo exprime a 
          resistência, a luta das trevas contra a luz. Que coisa sejam a luz e 
          as trevas São João i-lo-á indicando ao longo do Evangelho; para já, 
          nos versículos 9 a 11 refere-se à luta entre ambas; e posteriormente 
          por trevas designará o mal e as potências do maligno, que obscurecem a 
          mente do homem e obstaculizam o conhecimento de Deus (cf. Jo 12, 
          15-46; 1 Jo 5, 6)”. 
          
          Santo 
          Agostinho comenta: 
          “Pode ser que haja uns corações insensatos, ainda incapazes de receber 
          essa luz, porque o peso dos seus pecados os impede de vê-la; que não 
          pensem, porém, que a Luz não existe por não a poderem ver: é que eles 
          mesmos, pelos seus pecados, tornaram-se trevas. Meus irmãos, é como se 
          um cego estivesse diante do sol. O sol está presente, mas o cego está 
          ausente do sol. Assim todo o homem néscio, todo o homem iníquo, todo o 
          homem sem religião, tem um coração cego. Que pode fazer? Que se limpe, 
          e verá Deus; verá a Sabedoria presente, porque Deus é a própria 
          Sabedoria, e está escrito: ‘Bem-aventurados os puros de coração, 
          porque verão a Deus” 
          (In Ioann. Evang. 1, 19).
           Não há dúvida que o pecado entenebrece o olhar espiritual do homem, 
          incapacitando-o para ver e apreciar as coisas de Deus. 
          
          Em Jo 
          1, 6-8 diz: “Houve um 
          homem enviado por Deus. Seu nome era João. Este veio como testemunha, 
          para dar testemunha da luz, a fim de que todos cressem por meio dele. 
          Ele não era a luz, mas veio para dar testemunho da luz”. 
          
          
          Edições Theologica comenta: 
          “Depois de considerar a divindade do Verbo, passa-se a tratar da 
          Encarnação, e começa-se por falar de João Batista, que aparece num 
          momento histórico concreto como a testemunha direta de Jesus Cristo 
          diante dos homens (Jo 1,15.19-36; 3,22 ss.). Assim dirá Santo 
          Agostinho: ‘Porque (o Verbo Encarnado) era homem e ocultava a Sua 
          divindade, precedeu-O um grande homem com a missão de dar testemunho a 
          favor daquele que era mais que homem’ (In loann. Evang., 2,5). 
          
          Todo o 
          Antigo Testamento é uma preparação para a vinda de Cristo. Assim os 
          Patriarcas e os Profetas anunciaram de diversas maneiras a salvação 
          que viria pelo Messias. Mas João Batista, o maior dos nascidos de 
          mulher (cf.Mt 11,11), pôde indicar com o dedo o próprio Messias (cf. 
          Jo l , 29), sendo o testemunho do Batista a culminação de todas as 
          profecias anteriores. 
          
          A missão 
          de João Batista como testemunha de Jesus Cristo é tão importante que 
          os Evangelhos Sinópticos começam a narração do ministério público de 
          Jesus por esse testemunho. Os discursos de São Pedro e de São Paulo, 
          recolhidos nos Atos dos Apóstolos, também aludem ao testemunho de João 
          (At 1, 22; 10, 37; 12, 24). O quarto Evangelho menciona-o sete vezes 
          (1, 6.15.19.29.35; 3, 27; 5, 33). Sabemos, além disso, que o apóstolo 
          São João tinha sido discípulo do Batista antes de o ser do Senhor, e 
          que precisamente o Batista foi quem o encaminhou para Cristo (cf. 
          1,37ss.). 
          
          O Novo 
          Testamento, pois, ensina-nos a transcendência da missão do Batista, ao 
          mesmo tempo que a clara consciência de este não ser senão o Precursor 
          imediato do Messias, ao qual não é digno de desatar as correias das 
          Suas sandálias (cf. Mc l ,7); por isso o Batista insiste no seu papel 
          de testemunha de Cristo e na sua missão de preparar o caminho ao 
          Messias (cf. Lc 1,15-17; Mt 3,3-12). O testemunho de João Batista 
          permanece através dos tempos, convidando todos os homens a abraçar a 
          fé em Jesus, a Luz verdadeira”. 
          
          
          Falando de São João Batista: 
          “Não um anjo, para que 
          ninguém suspeitasse”
          (Teofilacto), e: “E como 
          podia esse homem dizer a verdade de Deus? ‘Foi enviado por Deus’ (Santo 
          Agostinho, ut sup), 
          e também: “Não acredite que exista algo humano naquilo que é dito por ele, 
          porque não disse o que é dele, senão  daquele que o enviou. Por isso é 
          chamado anjo pelo profeta, quando disse: ‘Eu envio a meu anjo’ (Ml 3, 
          1). É próprio do anjo não dizer coisa alguma de si mesmo. Quando 
          disse: ‘Foi enviado’, não se refere a seu ser, senão ao ministério que 
          trazia... São João foi enviado desde o deserto para batizar” 
          (São João Crisóstomo, In 
          Ioannem, hom. 5), e 
          ainda: “Quem é o 
          chamado? ‘O que tinha por nome João”
          (Santo Agostinho, ut 
          sup), e: 
          “Para que veio? Veio para dar 
          testemunho da luz”
          (Idem. In Ioannem, 
          tract. 2). 
          
          Em Jo 
          1, 9 diz: “O Verbo era 
          a luz verdadeira que ilumina todo homem; ele vinha ao mundo”. 
          
          
          Edições Theologica comenta: 
          “Era a luz verdadeira’: Os Santos Padres, as versões antigas e a 
          maioria dos comentadores atuais entendem que o sujeito de ‘era’ é ‘o 
          Verbo’. Neste caso, a frase poderia traduzir-se: ‘o Verbo era a luz 
          verdadeira’. Outra interpretação, pela qual se inclinam muitos autores 
          modernos, põe como sujeito de ‘era’ a Luz. Deste modo, a tradução 
          seria: ‘Existia a Luz verdadeira’. Em última análise, o conteúdo é 
          quase o mesmo. 
          
          ‘Vindo ao 
          mundo’: Segundo o texto grego não está claro a que se referem estas 
          palavras. Podem aplicar quer à ‘luz’, quer a ‘todo o homem’. No 
          primeiro caso, é a Luz (o Verbo) que vindo a este mundo ilumina todos 
          os homens. No segundo caso, são os homens que ao virem a este mundo, 
          ao nascerem, são iluminados pelo Verbo. O texto latino da Neo-vulgata 
          optou pela primeira interpretação. 
          
          Chama-se 
          ao Verbo ‘a luz verdadeira’ porque é a luz originária da qual procede 
          toda a outra luz ou revelação de Deus. Ao vir o Verbo ao mundo, este 
          fica plenamente iluminado pela autêntica Luz. Os profetas e todos os 
          outros enviados de Deus, incluído João Batista, não eram a verdadeira 
          luz, mas o reflexo, as testemunhas da Luz do Verbo”. 
          
          
          Perante a plenitude desta luz que é o Verbo, interroga-se São João 
          Crisóstomo: “Como é 
          que tantos homens permanecem envoltos em trevas? Porque nem todos os 
          homens crêem em Jesus Cristo nem Lhe rendem o culto augusto que Lhe é 
          devido. Como, pois, pode dizer-se que ilumina todo o homem? Sim. Ele 
          ilumina todos segundo a disposição e a vontade de cada um. Na medida 
          em que depende do Verbo, ilumina todos. Mas se livremente os homens 
          fecham os olhos da sua alma a esta luz, se rejeitam os seus raios, 
          então o fato de permanecerem em trevas não se deve à natureza da luz, 
          mas à maldade de coração de quem se priva deste dom da graça” 
          (Hom. sobre São João, 
          8,1). 
          
          Santo 
          Agostinho escreve: 
          “Agora dá a conhecer de que luz dá testemunho quando disse: ‘Era a luz 
          verdadeira” 
          (In Ioannem, tract. 2), e: “E quando 
          disse: ‘Ilumina a todo homem’, devemos entender que não é que algum 
          dentre os homens não seja iluminado, senão que nenhum é iluminado 
          senão por Ele” (Idem, Enchir. 
          cap. 103), e também:
          “Seja por seu talento 
          especial, seja pela sabedoria divina; porque assim como ninguém se 
          deve a si mesmo a existência, assim também ninguém pode ser sábio por 
          si mesmo” 
          (São Beda). 
          
          Em Jo 
          1, 10 diz: “Ele estava 
          no mundo e o mundo foi feito por meio dele, mas o mundo não o 
          reconheceu”.
           
          
          Edições Theologica comenta:
          “O Verbo está no mundo como o 
          artífice que governa o que fez (cf. Santo Agostinho, In loann. Evang., 
          2,10). O termo ‘mundo’ no Evangelho de São João indica, além de tudo o 
          que foi criado, o conjunto dos homens; assim Cristo veio para salvar a 
          humanidade inteira; ‘Deus amou de tal maneira o mundo que lhe entregou 
          o Seu Filho Unigênito, para que todo o que crê n'Ele não pereça mas 
          tenha a vida eterna. Pois Deus não enviou Seu Filho ao mundo para 
          julgar o mundo, mas para que o mundo seja salvo por Ele’ (Jo 3,16-17). 
          Mas enquanto uma grande parte dos homens rejeitaram a Luz, isto é, 
          Cristo, ‘mundo’ significa também tudo aquilo que se opõe a Deus (cf. 
          Jo 17,14-15). Os homens que, obcecados pelas suas culpas, não 
          reconhecem no mundo a obra do Criador (cf. Rm 1,18-20; Sb 13,1-15), 
          ficam apegados só ao mundo e gostam exclusivamente das coisas que são 
          do mundo” (Hom. sobre S. João, 7). Mas o Verbo, ‘luz verdadeira’, veio 
          para nos revelar a verdade acerca do mundo (cf. Jo 1,3; 18,37) e para 
          nos salvar”. 
          
          Santo 
          Agostinho escreve: “A 
          luz que ilumina todo homem que vem a este mundo, veio aqui pela carne. 
          Porque se houvesse vindo só pela divindade, não poderia ser vista 
          pelos néscios, pelos cegos nem pelos malvados, de quem se havia dito 
          antes: ‘As trevas não a reconheceu”, por essa razão disse: ‘Estava no 
          mundo” 
          (In Ioannem, tract. 2), 
          e: “E não acredite que 
          estava no mundo como estão a terra, os rebanhos e os homens; ou como 
          estão o céu, o sol, a lua e as estrelas; senão como o artífice que 
          dirige o que tem feito. Por cuja razão prossegue: ‘E o mundo foi feito 
          por ele” (Idem, ut 
          sup), e também:
          “E além disso, como 
          estava no mundo mas não era contemporâneo do mundo, acrescenta: ‘E o 
          mundo foi feito por Ele’. E daqui nos conduz de novo à eterna 
          existência do Unigênito, porque aquele de quem se diga que tudo é obra 
          sua, ainda quando carecesse de sentido, se veria obrigado a confessar 
          que antes da obra existia o autor”
          (São João Crisóstomo, ut sup), e ainda: “Que 
          quer dizer, pois, que o mundo foi feito por Ele mesmo? O céu, a terra, 
          o mar e quanto neles existem, se chama mundo. Além disso. Em outro 
          sentido, se chama mundo aos amantes do mundo, acerca do qual 
          prossegue: ‘E o mundo não o conheceu’. Como nem os céus, nem os anjos, 
          nem os astros, conheceram a seu Criador, a quem confessam os demônios? 
          Todas as coisas dão testemunho d’Ele; mas, quem não o conheceu? Os que 
          amam o mundo se chamam mundo. Amando, pois, ao mundo, habitamos com o 
          coração no mundo; porque os que não amam o mundo vivem nele pela 
          carne, mas com o coração habitam no céu, como disse o Apóstolo: ‘Somos 
          cidadãos do céu’ (Fl 3, 20). Portanto, amando o mundo mereceram 
          chamar-se mundanos do lugar onde habitam. Como sucede quando dizemos: 
          aquela casa é má ou boa. Não criticamos nem elogiamos suas paredes, 
          senão aos que a habitam, assim chamamos ‘mundo’ aos que habitam nele, 
          amando-o” 
          (Santo Agostinho, ut, sup). 
          
          Em Jo 
          1, 11 diz: “Veio para 
          o que era seu e os seus não o receberam”. 
          
          
          Edições Theologica comenta: 
          “Pelos ‘Seus’ entende-se, em primeiro lugar, o povo judaico, que tinha 
          sido escolhido por Deus como povo da Sua propriedade (Dt 7, 6-7) para 
          que nele nascesse Cristo. 
          
          Também 
          pode entender-se toda a humanidade, pois pertence-Lhe por ter sido 
          criada por Ele e Ele ter estendido a ela a Sua obra redentora. Daí que 
          a censura por não receber o Verbo feito homem há de entender-se não só 
          dirigida aos judeus mas também a todos os que, chamados por Deus à Sua 
          amizade, O rejeitam”. 
          
          O 
          Papa Paulo VI escreve: 
          “Cristo veio; mas por uma 
          misteriosa e terrível infelicidade nem todos O conheceram, nem todos O 
          aceitaram (...). É o quadro da humanidade tal como, depois de vinte 
          séculos de cristianismo, se abre diante de nós. Como é possível? Que 
          quer dizer? Não pretenderemos verificar uma realidade imersa em 
          mistérios que nos transcendem: o mistério do bem e do mal. Mas podemos 
          recordar que a economia de Cristo, para que a sua luz se difunda, deve 
          desdobrar-se numa subalterna, mas necessária, cooperação humana: a da 
          evangelização, a da Igreja apostólica e missionária, que se registram 
          resultados incompletos, é mais uma razão para ser ajudada e integrada 
          por todos” 
          (Audiência geral , 4-XII-1974). 
          
          Em Jo 
          1, 12 diz: “Mas a 
          todos que o receberam deu o poder de se tornarem filhos de Deus: aos 
          que crêem em seu nome”. 
          
          Edições Theologica 
          comenta: “Receber o 
          Verbo é aceitá-Lo pela fé, porque pela fé Cristo habita em nossos 
          corações (cf. Ef 3,17). Crer no Seu Nome significa crer na Sua Pessoa, 
          em Jesus como o Cristo, o Filho de Deus. Isto é, “os que crêem no Seu 
          nome são aqueles que guardam íntegro o nome de Cristo, de tal maneira 
          que não diminuem nada da Sua divindade ou da Sua humanidade” 
          (Comentário sobre São João, ad loc.). 
          
          “Deu-lhes 
          poder’ equivale a ‘concedeu-lhes’ através de um dom: a graça 
          santificante; ‘porque não está no nosso poder tornar-nos filhos de 
          Deus’ (ibid.). Este dom estende-se pelo Batismo a todos os homens sem 
          limite de raça, idade, cultura, etc. (cf. At 10, 45; Gl 3, 28). A 
          única condição exigida é a fé. 
          
          “O Filho 
          de Deus fez-Se homem — explica Santo Atanásio — para que os filhos dos 
          homens, os filhos de Adão, se tornassem filhos de Deus (...). Ele é 
          Filho de Deus por natureza; nós, por graça’ (De Incarnatione contra 
          arianos, 8). Trata-se do nascimento para a vida sobrenatural, na qual 
          ‘todos gozamos da mesma dignidade: escravos e livres, gregos, bárbaros 
          e asiáticos, sábios e incultos, homens e mulheres, crianças e velhos, 
          ricos e pobres... Tão grande é a força da fé em Cristo, tão poderosa a 
          graça!’ (Hom. sobre São João, 10,2). 
          
          “A união 
          de Cristo com o homem é a força e a nascente da força, segundo a 
          incisiva expressão de São João no prólogo do seu Evangelho: 'O Verbo 
          deu-lhes o poder de se tornarem filhos de Deus'. É esta força que 
          transforma interiormente o homem, qual princípio de uma vida nova que 
          não fenece nem passa, mas dura para a vida eterna (cf. Jo 4, 14)’ (Redemptor 
          hominis, n. 18)”. 
          
          Em Jo 
          1, 13 diz: “... ele, 
          que não foi gerado nem do sangue, nem de uma vontade da carne, nem de 
          uma vontade do homem, mas de Deus”. 
          
          
          Edições Theologica comenta: 
          “O nascimento de que se fala aqui é uma verdadeira geração espiritual 
          que se realiza no Batismo (cf. Jo 3, 6 ss.). Em vez do texto no plural 
          adotado, que se refere ao nascimento sobrenatural dos homens, alguns 
          Santos Padres e versões antigas apresentam a leitura no singular: ‘o 
          que não nasceu do sangue..., mas nasceu de Deus’. Neste caso, o texto 
          referir-se-ia à geração eterna do Verbo e ao nascimento virginal de 
          Jesus, por obra do Espírito Santo, das entranhas puríssimas de Maria, 
          isto é, falaria da virgindade de Maria no parto. Ainda que a segunda 
          leitura seja muito sugestiva, contudo a documentação (manuscritos 
          gregos, versões antigas, referências dos escritores eclesiásticos, 
          etc.) mostra que o texto no plural foi o mais comum, impondo-se desde 
          o século IV. Além disso, nos escritos de São João diz-se com 
          freqüência que os crentes nasceram de Deus (cf. Jo 3, 3-6; 1 Jo 2, 29; 
          3, 9; 4, 7; 5, 1.4.18). 
          
          O 
          contraste entre o nascimento natural dos homens (que é pelo sangue e 
          pelo querer humano) e o sobrenatural (que vem de Deus) faz ver que os 
          que crêem em Jesus Cristo são constituídos filhos de Deus não só 
          enquanto criaturas, mas, sobretudo pelo dom gratuito da fé e da graça”. 
          
          Em Jo 
          1, 14 diz: “E o Verbo 
          se fez carne, e habitou entre nós; e nós vimos a sua glória, glória 
          que ele tem junto ao Pai como Filho único, cheio de graça e de 
          verdade”. 
          
          
          Edições Theologica comenta: 
          “Este é um texto central acerca do mistério de Cristo. Nele se exprime 
          de maneira concentrada a realidade insolúvel da Encarnação do Filho de 
          Deus. ‘Ao chegar a plenitude dos tempos, enviou Deus o Seu Filho, 
          nascido de mulher’ (Gl 4,4). 
          
          A palavra 
          ‘carne’ designa o homem na sua totalidade (cf. Jo 3, 6; 17,2; Gn 6, 3; 
          Sl 56, 5); de modo que a frase ‘e o verbo fez-Se carne’ é igual a ‘e o 
          Verbo fez-Se homem’. Precisamente o termo teológico ‘Encarnação’ 
          surgiu sobretudo a partir deste texto. O substantivo carne tem uma 
          poderosa força expressiva perante aquelas heresias que negam a 
          verdadeira natureza humana de Cristo. Por outro lado, ‘carne’ acentua 
          a condição passível e mortal do Salvador, que habitou entre nós 
          tomando a nossa natureza, evoca o chamado ‘Canto da consolação’ (Is 
          40, 1-11), onde se contrapõe a caducidade da carne à perenidade do 
          Verbo Deus: ‘Toda a carne é erva / e todo o seu esplendor como flor do 
          campo /... a erva seca, a flor murcha, / mas a palavra nosso Deus / 
          permanece eternamente’ (Is 40,7-8). Isto não significa que a assunção 
          da Humanidade pelo Verbo seja precária e provisória. 
          
          ‘E habitou 
          entre nós’: O verbo grego que emprega São João correspondente a 
          ‘habitou’ significa etimologicamente ‘fixar a tenda de campanha’ e, 
          daí, habitar num lugar, o leitor atento da Escritura recorda 
          espontaneamente o tabernáculo dos tempos da saída do Egito, em que 
          Yahwéh mostrava a Sua presença no meio do povo de Israel mediante 
          certos sinais da Sua glória, como a nuvem pousada sobre a tenda (cf. 
          p. ex., Ex 25,8; 40,34-35). Em muitíssimas passagens do Antigo 
          Testamento anuncia-se que Deus ‘habitará no meio do povo’ (cf. p. ex., 
          Jr 7,3; Ez 43,9; Eclo 24,8). Aos sinais da presença de Deus, primeiro 
          na Tenda do Santuário peregrinante no deserto e depois no Templo de 
          Jerusalém, segue-se a prodigiosa presença de Deus entre nós: Jesus, 
          perfeito Deus e perfeito homem, em Quem se cumpre a antiga promessa 
          mais além do que os homens podiam esperar. Também a promessa feita por 
          meio de Isaías acerca do ‘Emanuel’ ou ‘Deus conosco’ (Is 7,14; cf Mt 
          1,23) se cumpre plenamente neste habitar do Filho de Deus Encarnado 
          entre os homens. Por isso, ao ler com religiosa admiração as palavras 
          do Evangelho ‘e habitou entre nós’, ou, ao rezar o Angelus, é boa 
          ocasião para fazer um ato de fé profundo e agradecido, e de adorar a 
          Humanidade Santíssima do Senhor. 
          
          ‘Ao 
          recordar que ‘o Verbo Se fez carne’, isto é, que o Filho de Deus Se 
          fez homem, devemos tomar consciência do grande que se torna todo o 
          homem através deste mistério; isto é, através da Encarnação do Filho 
          de Deus! Cristo, efetivamente, foi concebido no seio de Maria e fez-Se 
          homem para revelar o amor eterno do Criador e Pai, assim como para 
          manifestar a dignidade de cada um de nós’ (João Paulo II, Alocução na 
          recitação do Angelus, Santuário de Jasna Gora, 5-VI-1979). 
          
          Ainda que 
          o aniquilamento do Verbo ao tomar a natureza humana ocultasse em certo 
          modo a Sua natureza divina, de que nunca Se despojou, todavia os 
          Apóstolos viram a glória da Sua divindade através da Sua Santíssima 
          Humanidade, pois manifestou-se na Transfiguração (Lc 9,32-35), nos 
          milagres (Jo 2,11; 11,40) e especialmente na Ressurreição (cf. Jo 
          3,11; 1 Jo 1,1). A glória de Deus, que resplandecia no antigo 
          Santuário do deserto ou no Templo de Jerusalém, não eram senão uma 
          antecipação imperfeita da realidade da glória divina manifestada 
          através da Santíssima Humanidade do Unigênito do Pai. O apóstolo São 
          João fala com solenidade na primeira pessoa do plural: ‘vimos a Sua 
          glória’, pois conta-se entre as testemunhas que presenciaram a vida de 
          Cristo e, em particular, a Sua Transfiguração e a glória da Sua 
          Ressurreição. 
          
          A palavra 
          ‘Unigênito’ exprime adequadamente a geração eterna e única do Verbo 
          pelo Pai. Os três primeiros Evangelhos os tinham sublinhado o 
          nascimento temporal de Cristo; pelo contrário, São João completa a 
          visão pondo em relevo a geração eterna. 
          
          Os termos 
          ‘graça e verdade’ são sinônimos de ‘bondade e fidelidade’, dois 
          atributos que no Antigo Testamento se aplicam constantemente a Yahwéh 
          (cf. p. ex., Ex 34,6; Sl 117; Sl 136; Os 2,16-22). Assim, a graça é a 
          manifestação do amor de Deus pelos homens, da Sua bondade, da Sua 
          misericórdia, da Sua piedade. A verdade implica a permanência, a 
          lealdade, a constância, a fidelidade. Jesus, que é o Verbo de Deus 
          feito homem, isto é, o próprio Deus, é por isso ‘o unigênito do Pai 
          cheio de graça e de verdade’; é ‘o pontífice misericordioso e fiel’ (Hb 
          2,17). Estas duas qualidades, o ser bom e fiel, são como o compêndio e 
          a síntese da grandeza de Cristo. E são também, de forma correlativa, 
          ainda que em grau infinitamente menor, as qualidades primordiais de 
          todo o cristão, como expressamente o disse o Senhor quando louvou o 
          ‘servo bom e fiel’ (Mt 25,21). 
          
          Como 
          explica São João Crisóstomo: ‘O evangelista, depois de ter dito que 
          aqueles que O receberam nasceram de Deus e são filhos de Deus, indica 
          a causa dessa honra inefável: que o verbo Se fez carne, e o Senhor 
          tomou a forma de servo. Porque sendo verdadeiro Filho de Deus, fez-Se 
          Filho do homem, para tornar os homens filhos de Deus’ (Hom. sobre São 
          João, 2,1). 
          
          O profundo 
          mistério de Cristo foi expresso pelo Magistério da Igreja mediante uma 
          definição solene, no ano 451, no célebre texto do Concílio Ecumênico 
          de Calcedônia: “Seguindo, pois, os Santos Padres, todos a uma só voz 
          ensinamos que se deve confessar um só e o próprio Filho, Nosso Senhor 
          Jesus Cristo, perfeito na divindade e perfeito na humanidade, Deus 
          verdadeiramente, e verdadeiramente homem, de alma racional e corpo, 
          consubstancial com o Pai quanto à divindade, e consubstancial conosco 
          quanto à humanidade — semelhante em tudo a nós, menos no pecado (Hb 
          4,15) — gerado do Pai antes dos séculos quanto à divindade, e nos 
          últimos dias, por nós e pela nossa salvação, gerado de Maria Virgem, 
          Mãe de Deus, quanto à humanidade” (Dz-Sch, n. 301)”. 
          
          Em Jo 
          1, 15 diz: “João dá 
          testemunho dele e clama: ‘Este é aquele de quem eu disse: o que vem 
          depois de mim passou adiante de mim, porque existia antes de mim”. 
          
          Em 
          Edições Theologica: 
          “Mais adiante (Jo 1, 19-36) dá-se a conhecer no Evangelho a missão de 
          João Batista como testemunha do messianismo e da divindade de Jesus, 
          que aqui se resume de modo muito concentrado. Segundo os planos de 
          Deus, assim como os Apóstolos darão testemunho de Jesus depois da 
          Ressurreição, o Batista será a testemunha escolhida para anunciar 
          Cristo no momento de iniciar o ministério público”. 
          
          Em Jo 
          1, 16 diz: “Pois de 
          sua plenitude todos nós recebemos graça por graça”. 
          
          
          Edições Theologica comenta: 
          “Graça por graça’: Pode entender-se, com São João Crisóstomo e outros 
          Santos Padres, como a substituição da economia salvífica do Antigo 
          Testamento, pela nova economia da graça trazida por Cristo. Também 
          pode indicar uma superabundância de dons outorgados por Jesus: a umas 
          graças acrescentam-se outras, e todas brotam da fonte inesgotável que 
          é Cristo, cuja plenitude de graça nunca acaba. ‘Ele não tem o dom 
          recebido por participação, mas é a própria fonte, a própria raiz de 
          todos os bens: a própria Vida, a própria Luz, a própria Verdade. E não 
          retém em Si mesmo as riquezas dos Seus bens, mas entrega-os a todos os 
          outros; e tendo-os dispensado permanece cheio; não diminui em nada por 
          tê-los distribuído a outros, mas enchendo e fazendo participar a todos 
          destes bens, permanece na mesma perfeição’ (Hom. sobre S. João, 14, 
          1)”. 
          
          Em Jo 
          1, 17 diz: “Porque a 
          Lei foi dada por meio de Moisés; a graça e a verdade vieram por Jesus 
          Cristo”. 
          
          
          Edições Theologica comenta: 
          “Aparece aqui, pela primeira vez no Evangelho de São João, o nome de 
          Jesus Cristo, identificado com o Verbo de que nos tem vindo a falar. 
          
          Enquanto a 
          Lei dada por Moisés se limitava a indicar o caminho que o homem devia 
          seguir (cf. Rm 8, 7-10), a Graça trazida por Jesus Cristo tem o poder 
          de salvar aqueles que a recebem (cf. Rm 7,25). ‘O pecado não terá 
          domínio sobre vós, pois não estais sob a Lei mas sob a graça’ (Rm 6, 
          14). Pela ‘graça tornamo-nos agradáveis a Deus não já somente como 
          servos, mas também como filhos e amigos’ (Hom. sobre S. João, 14, 2)”. 
          
          Em Jo 
          1, 18 diz: “Ninguém 
          jamais viu a Deus: o Filho único, que está voltado para o seio do Pai, 
          este o deu a conhecer”. 
          
          
          Edições Theologica comenta: 
          “A Deus ninguém jamais O viu’: Todas as visões que os homens tiveram 
          de Deus neste mundo foram indiretas, já que apenas contemplaram a 
          glória divina, isto é, o resplendor da Sua grandeza: por exemplo, 
          Moisés viu a sarça ardente (Ex 3, 6); Elias sentiu a brisa no monte 
          Horeb (l Rs 19, 11-13); Isaías contemplou o esplendor da Sua majestade 
          (Is 6,1-3). Mas, ao chegar a plenitude dos tempos, essa manifestação 
          de Deus torna-se mais próxima e quase direta, já que Jesus Cristo é a 
          imagem visível do Deus invisível (cf. Cl 1 , 15); é a revelação máxima 
          de Deus neste mundo, até ao ponto de que assevera: ‘Aquele que Me viu 
          a Mim viu o Pai’ (Jo 14,9). Porém, a verdade profunda tanto a respeito 
          de Deus como a respeito da salvação dos homens, manifesta-nos, por 
          esta revelação, em Cristo, que é, simultaneamente, o mediador e a 
          plenitude de toda a revelação. 
          
          Nenhuma 
          Revelação mais perfeita pode fazer Deus de Si mesmo que a Encarnação 
          do Seu Verbo Eterno. Por isso escreve admiravelmente São João da Cruz: 
          ‘Em dar-nos, como nos deu, Seu Filho, que é a Sua única Palavra, que 
          não tem outra, tudo nos disse juntamente e de uma vez nesta única 
          Palavra, e não tem mais que falar’ (Subida ao Monte Carmelo, liv. 2, 
          cap. 22). 
          
          ‘Um Deus, 
          Filho único’: Alguns manuscritos gregos e versões trazem a leitura ‘o 
          Filho Unigênito’, ou também ‘o Unigênito’. A primeira leitura é 
          preferível por estar melhor apoiada nos códices. Além disso, ainda que 
          o sentido não mude substancialmente, o texto adotado tem um conteúdo 
          mais rico, pois manifesta de novo explicitamente a divindade de 
          Cristo”. 
            
          
          Pe. 
          Divino Antônio Lopes FP. 
          
          
          Anápolis, 21 de dezembro de 2007 
            
            
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