NO PRINCÍPIO ERA O VERBO...

(Jo 1, 1-18)

 

1 No princípio era o Verbo e o Verbo estava com Deus e o Verbo era Deus. 2 No princípio, ele estava com Deus. 3 Tudo foi feito por meio dele e sem ele nada foi feito. 4 O que foi feito nele era a vida, e a vida era a luz dos homens; 5 e a luz brilha nas trevas, mas as trevas não a dominaram. 6 Houve um homem enviado por Deus. Seu nome era João. 7 Este veio como testemunha, para dar testemunha da luz, a fim de que todos cressem por meio dele. 8 Ele não era a luz, mas veio para dar testemunho da luz. 9 O Verbo era a luz verdadeira que ilumina todo homem;  ele vinha ao mundo.  10 Ele estava no mundo e o mundo foi feito por meio dele, mas o mundo não o reconheceu. 11 Veio para o que era seu e os seus não o receberam. 12 Mas a todos que o receberam deu o poder de se tornarem filhos de Deus: aos que crêem em seu nome, 13 ele, que não foi gerado nem do sangue, nem de uma vontade da carne, nem de uma vontade do homem, mas de Deus. 14 E o Verbo se fez carne, e habitou entre nós; e nós vimos a sua glória, glória que ele tem junto ao Pai como Filho único, cheio de graça e de verdade. 15 João dá testemunho dele e clama: ‘Este é aquele de quem eu disse: o que vem depois de mim passou adiante de mim, porque existia antes de mim’. 16 Pois de sua plenitude todos nós recebemos graça por graça. 17 Porque a Lei foi dada por meio de Moisés; a graça e a verdade vieram por Jesus Cristo. 18 Ninguém jamais viu a Deus: o Filho único, que está voltado para o seio do Pai, este o deu a conhecer”.

 

 

Em Jo 1, 1-2 diz: “No princípio era o Verbo e o Verbo estava com Deus e o Verbo era Deus. No princípio, ele estava com Deus”.

Edições Theologica comenta: “O texto sagrado chama Verbo ao Filho de Deus. Uma analogia ou comparação com as coisas humanas pode ajudar-nos a compreender a noção de ‘Verbo’ ou ‘Palavra’: assim como um homem ao conhecer-se forma na sua mente uma imagem de si mesmo, assim Deus Pai ao conhecer-Se gera o Verbo Eterno. Este Verbo de Deus é um e único, não pode existir outro porque n’Ele se exprime toda a essência de Deus. Por isso o Evangelho não Lhe chama simplesmente ‘Verbo’, mas ‘o Verbo’. Do Verbo afirmam-se três verdades: que é eterno, que é diferente do Pai, e que é Deus”.

Santo Agostinho escreve: “Afirmar que existia no princípio equivale a dizer que existia antes de todas as coisas” (De Trinitate, 6, 2). Por outro lado, ao assinalar que estava junto de Deus, isto é, junto do Pai, ensina-nos que a pessoa do Verbo é diferente da do Pai, e indica, ao mesmo tempo, a Sua relação de intimidade com Ele, tão grande que tem a mesma natureza divina: é consubstancial ao Pai (cf. Símbolo Niceno).

São João Crisóstomo comenta: “No princípio’: ‘Não significa senão que foi sempre e é eterno (...). Porque se é Deus, como de verdade o é, não há nada antes d’Ele; se é Criador de todas as coisas, então Ele mesmo é o primeiro; se é Dominador e Senhor de tudo, tudo é posterior a Ele: as criaturas e os séculos” (Hom. Sobre São João, 2, 4), e: “Enquanto os demais evangelistas começam pela Encarnação, São João, vendo mais além da concepção, do nascimento, da educação e do desenvolver de Jesus, nos fala de sua eterna geração, dizendo: No princípio era o Verbo” (Idem, In Ioannem, hom. 3), e também: “A palavra grega logos significa razão e verbo; mas neste caso, quer dizer Verbo, para que se entenda não só a relação com o Pai, senão a força operativa de todas as coisas que foram feitas pelo Verbo. A razão, todavia, quando nada se faz por ela, se chama razão acertadamente” (Santo Agostinho, Lib 83 quaest., qu 63), e ainda: “Mas este Verbo não é o humano; porque, como poderia existir no princípio o verbo humano, quando o homem ocupa o último lugar na geração? Assim, pois, o verbo humano não existia no princípio... porque toda criatura está dentro dos términos dos séculos, tomando do Criador o princípio de seu ser. Ouçamos, pois, o Evangelho de um modo conveniente: chamou Verbo ao mesmo Unigênito” (São Basílio, Hom. Super haec verba) , e: “E por que chamam-no Verbo? Porque nasceu impassivelmente; porque é imagem do que o gerou, demonstrando-o todo em si mesmo, sem tirar nada, mas existindo perfeito em si mesmo” (Idem, ut sup), e também: “Portanto, o Verbo de Deus, Filho Unigênito do Pai, é em tudo semelhante e igual ao Pai; é o mesmo que o Pai, mas não é o Pai, porque Este é o Filho e Aquele o Pai” (Santo Agostinho, De Trin., 15, 14).

O Catecismo da Igreja Católica comenta: “No princípio era o Verbo... e o Verbo era Deus... Tudo foi feito por ele, e sem ele nada foi feito’ (Jo 1, 1-3). O Novo Testamento revela que Deus criou tudo por meio do Verbo Eterno, seu Filho bem-amado. Nele ‘foram criadas todas as coisas, nos céus e na terra... tudo foi criado por Ele e para Ele. Ele é antes de tudo e tudo nele subsiste’ (Cl 1, 16-17)” (N° 291).

Santo Agostinho escreve: “E aquelas palavras: No princípio era o Verbo (Jo 1, 1), devem entender-se que o verbo estava no Pai. E se ‘no princípio’ tem o mesmo significado de ‘antes de todas as coisas’ então as palavras seguintes: E o Verbo estava com Deus, como Verbo, compreenda-se apenas do Filho e não do Pai e do Filho simultaneamente, como se ambos fossem um só Verbo. Verbo é dito como Imagem, e o Pai e o Filho não são ambos Imagens, mas somente o Filho é Imagem do Pai, assim como somente ele é Filho. Os dois não podem ser Filhos. A afirmação que vem logo em seguida: E o Verbo estava junto de Deus, há razões para ser assim entendida: somente o Verbo é o Filho e estava junto de Deus; o qual não é somente o Pai, mas sim, o Pai e Filho são um só e mesmo Deus” (A Trindade, Livro VI, 3), e: “O Pai e o Filho juntos são, portanto, uma só essência, uma só grandeza, uma única verdade e uma única sabedoria. Mas juntos, o Pai e o Filho não são um só e mesmo Verbo, porque ambos não são um só e mesmo Filho. Assim como o Filho está em referência ao Pai e não a si mesmo, assim o Verbo diz relação àqueles de  quem é Verbo quando é chamado Verbo. O Verbo é Filho pela mesma razão que o Filho é Verbo. E como o Pai e o Filho não são um só Filho por conseguinte, o Pai e o Filho não são um só e mesmo Verbo” (Idem, Livro VII, 3).

Em Jo 1, 3 diz: “Tudo foi feito por meio dele e sem ele nada foi feito”.

Edições Theologica comenta: “O prólogo, depois de mostrar que o verbo está no seio do Pai, passa a tratar da Sua relação com as criaturas. Já no Antigo Testamento a Palavra de Deus aparece como força criadora (cf. Is 55, 10-11), como Sabedoria que estava presente na criação do mundo (cf. Pr 8, 22-26). Aqui dá-se um progresso na Revelação divina: é-nos manifestado que a Criação foi realizada pelo verbo; isto não quer dizer que o Verbo seja um instrumento subordinado e inferior ao Pai, mas que é princípio ativo juntamente com o Pai e o Espírito Santo. A ação criadora é comum às três Pessoas divinas da Santíssima Trindade”.

O IV Concílio de Latrão ensina: “O Pai que gera, o Filho que nasce, e o Espírito Santo que procede são consubstanciais, co-iguais e co-eternos: são um só princípio de todas as coisas; Criador de todas as coisas, das visíveis e das invisíveis, das espirituais e das corporais” (De fide catholica, Dz-Sch, n. 800).

Alcuíno escreve: “Depois que falou da natureza do Filho, falou de sua obra, dizendo: ‘Todas as coisas foram feitas por Ele’; isto é, tudo o que existe, ou em substância ou em qualquer outra propriedade”, e: “E quando disse: ‘Que todas as coisas foram feitas por Ele’, manifesta evidentemente que a luz foi feita por Ele, quando disse Deus: ‘Haja a luz’ (Gn 1, 3), e do mesmo modo nas demais criações. Se é, pois, assim, é eterno o que disse Deus: ‘Haja a luz’; porque o Verbo de Deus é Deus com Deus e co-eterno com o Pai, ainda quando a criatura tenha sido feita temporal. Porque ainda indicam tempo as palavras ‘quando’ e ‘alguma vez’, contudo é eterno no Verbo de Deus o que deve ser feito, e se faz quando deve ser feito o que existe naquele Verbo, no qual não há ‘quando’ nem ‘alguma vez’, porque todo aquele Verbo é eterno” (Santo Agostinho, super Genesim 1, 2), e também: “E como pode suceder que o Verbo de Deus tenha sido feito, quando Deus fez todas as coisas pelo Verbo? E se o Verbo mesmo foi feito, por qual outro Verbo foi criado? Se disseres que existe um verbo do Verbo, pelo qual foi feito, eu digo que este mesmo é o Filho Unigênito de Deus. E se não o chamas Verbo de Deus, concede que então o Verbo não foi feito pelo mesmo por quem foram feitas todas as coisas” (Idem, In Ioannem, tract. 1), e ainda: “Mas se não foi feito, não é criatura. E se não é criatura é da mesma substância que o Pai, porque toda substância que não é Deus é criatura, e o que não é criatura é Deus” (Idem, De Trin., 1, 6), e: “Ou alguém dirá que a frase ‘Todas as coisas foram feitas por Ele’ é uma afirmação sem limite algum. E que está o ingênito, que não foi criado por ninguém, e está o mesmo Filho, que foi gerado pelo que não foi gerado. Mas o Evangelista se refere ao Criador e supõe que tem um companheiro quando disse: ‘E nada foi feito sem Ele’. E quando nada foi feito sem Ele, compreendo que não está só; porque um é por quem foi feito as coisas, e outro aquele sem o qual nada foi feito” (Santo Hilário, De Trin., 1, 2).

Em Jo 1, 4 diz: “O que foi feito nele era a vida, e a vida era a luz dos homens”.

Edições Theologica comenta: “A seguir expõem-se as verdades fundamentais sobre o Verbo: que é a Vida e que é a Luz. Aqui trata-se da vida divina, fonte primeira de toda a vida, da natural e da sobrenatural. E essa Vida é luz dos homens, porque recebemos de Deus a luz da razão, a luz da fé e a luz da glória, que são participação da Inteligência divina. Só a criatura racional é capaz de conhecer Deus neste mundo, e de O contemplar depois gozosamente no Céu por toda a eternidade. Também a Vida (o Verbo) é luz dos homens enquanto os ilumina tirando-os das trevas, isto é, do mal e do erro (cf. Is 8, 23; 9, 1-2; Mt 4, 15-16; Lc 1, 74). Jesus dirá mais adiante: ‘Eu sou a luz do mundo; aquele que Me segue não andará em trevas, mas terá a luz da vida’ (Jo 8, 12; cf. 12, 46).

Os versículos 3 e 4 podem ler-se com outra pontuação, hoje geralmente abandonada, ainda que na antiguidade tenha tido muitos defensores. Segundo essa pontuação poderia traduzir-se assim: ‘Tudo foi feito por Ele e sem Ele não se fez nada; tudo o que foi feito n’Ele, era vida, e a vida era luz dos homens’.

Esta leitura indicaria que tudo o que foi criado é vida no Verbo, isto é, que todos os seres recebem o ser e o operar, o viver, pelo Verbo, não sendo possível sem Ele a existência”.

Em Jo 1, 5 diz: “...e a luz brilha nas trevas, mas as trevas não a dominaram”.

Edições Theologica comenta: “Dominaram’: O verbo original grego, que o texto latino traduz por comprehenderunt, significa abraçar ou abarcar uma coisa como que rodeando-a com os braços; mas este ato pode fazer-se com intenção de bom acolhimento (abraço amigável), ou de hostilidade (ação de sufocar ou  asfixiar outro apertando-o). Há, pois, lugar para duas possíveis traduções do versículo: a de ‘receberem’, ou a que expressaria que as trevas não puderam apagar ou sufocar a luz, que a tradução portuguesa por nós adotada exprime com a palavra ‘dominaram’. Com esta última interpretação indicar-se-ia que Cristo e o Seu Evangelho continuam a brilhar entre os homens apesar da oposição do mundo, vencendo-o, segundo as palavras de Jesus: ‘Confiai: Eu venci o mundo’ (Jo 16, 33; cf. 12, 31; 1 Jo 5, 4). Em qualquer caso, o versículo exprime a resistência, a luta das trevas contra a luz. Que coisa sejam a luz e as trevas São João i-lo-á indicando ao longo do Evangelho; para já, nos versículos 9 a 11 refere-se à luta entre ambas; e posteriormente por trevas designará o mal e as potências do maligno, que obscurecem a mente do homem e obstaculizam o conhecimento de Deus (cf. Jo 12, 15-46; 1 Jo 5, 6)”.

Santo Agostinho comenta: “Pode ser que haja uns corações insensatos, ainda incapazes de receber essa luz, porque o peso dos seus pecados os impede de vê-la; que não pensem, porém, que a Luz não existe por não a poderem ver: é que eles mesmos, pelos seus pecados, tornaram-se trevas. Meus irmãos, é como se um cego estivesse diante do sol. O sol está presente, mas o cego está ausente do sol. Assim todo o homem néscio, todo o homem iníquo, todo o homem sem religião, tem um coração cego. Que pode fazer? Que se limpe, e verá Deus; verá a Sabedoria presente, porque Deus é a própria Sabedoria, e está escrito: ‘Bem-aventurados os puros de coração, porque verão a Deus” (In Ioann. Evang. 1, 19).  Não há dúvida que o pecado entenebrece o olhar espiritual do homem, incapacitando-o para ver e apreciar as coisas de Deus.

Em Jo 1, 6-8 diz: “Houve um homem enviado por Deus. Seu nome era João. Este veio como testemunha, para dar testemunha da luz, a fim de que todos cressem por meio dele. Ele não era a luz, mas veio para dar testemunho da luz”.

Edições Theologica comenta: “Depois de considerar a divindade do Verbo, passa-se a tratar da Encarnação, e começa-se por falar de João Batista, que aparece num momento histórico concreto como a testemunha direta de Jesus Cristo diante dos homens (Jo 1,15.19-36; 3,22 ss.). Assim dirá Santo Agostinho: ‘Porque (o Verbo Encarnado) era homem e ocultava a Sua divindade, precedeu-O um grande homem com a missão de dar testemunho a favor daquele que era mais que homem’ (In loann. Evang., 2,5).

Todo o Antigo Testamento é uma preparação para a vinda de Cristo. Assim os Patriarcas e os Profetas anunciaram de diversas maneiras a salvação que viria pelo Messias. Mas João Batista, o maior dos nascidos de mulher (cf.Mt 11,11), pôde indicar com o dedo o próprio Messias (cf. Jo l , 29), sendo o testemunho do Batista a culminação de todas as profecias anteriores.

A missão de João Batista como testemunha de Jesus Cristo é tão importante que os Evangelhos Sinópticos começam a narração do ministério público de Jesus por esse testemunho. Os discursos de São Pedro e de São Paulo, recolhidos nos Atos dos Apóstolos, também aludem ao testemunho de João (At 1, 22; 10, 37; 12, 24). O quarto Evangelho menciona-o sete vezes (1, 6.15.19.29.35; 3, 27; 5, 33). Sabemos, além disso, que o apóstolo São João tinha sido discípulo do Batista antes de o ser do Senhor, e que precisamente o Batista foi quem o encaminhou para Cristo (cf. 1,37ss.).

O Novo Testamento, pois, ensina-nos a transcendência da missão do Batista, ao mesmo tempo que a clara consciência de este não ser senão o Precursor imediato do Messias, ao qual não é digno de desatar as correias das Suas sandálias (cf. Mc l ,7); por isso o Batista insiste no seu papel de testemunha de Cristo e na sua missão de preparar o caminho ao Messias (cf. Lc 1,15-17; Mt 3,3-12). O testemunho de João Batista permanece através dos tempos, convidando todos os homens a abraçar a fé em Jesus, a Luz verdadeira”.

Falando de São João Batista: “Não um anjo, para que ninguém suspeitasse” (Teofilacto), e: “E como podia esse homem dizer a verdade de Deus? ‘Foi enviado por Deus’ (Santo Agostinho, ut sup), e também: “Não acredite que exista algo humano naquilo que é dito por ele, porque não disse o que é dele, senão  daquele que o enviou. Por isso é chamado anjo pelo profeta, quando disse: ‘Eu envio a meu anjo’ (Ml 3, 1). É próprio do anjo não dizer coisa alguma de si mesmo. Quando disse: ‘Foi enviado’, não se refere a seu ser, senão ao ministério que trazia... São João foi enviado desde o deserto para batizar” (São João Crisóstomo, In Ioannem, hom. 5), e ainda: “Quem é o chamado? ‘O que tinha por nome João” (Santo Agostinho, ut sup), e: “Para que veio? Veio para dar testemunho da luz” (Idem. In Ioannem, tract. 2).

Em Jo 1, 9 diz: “O Verbo era a luz verdadeira que ilumina todo homem; ele vinha ao mundo”.

Edições Theologica comenta: “Era a luz verdadeira’: Os Santos Padres, as versões antigas e a maioria dos comentadores atuais entendem que o sujeito de ‘era’ é ‘o Verbo’. Neste caso, a frase poderia traduzir-se: ‘o Verbo era a luz verdadeira’. Outra interpretação, pela qual se inclinam muitos autores modernos, põe como sujeito de ‘era’ a Luz. Deste modo, a tradução seria: ‘Existia a Luz verdadeira’. Em última análise, o conteúdo é quase o mesmo.

‘Vindo ao mundo’: Segundo o texto grego não está claro a que se referem estas palavras. Podem aplicar quer à ‘luz’, quer a ‘todo o homem’. No primeiro caso, é a Luz (o Verbo) que vindo a este mundo ilumina todos os homens. No segundo caso, são os homens que ao virem a este mundo, ao nascerem, são iluminados pelo Verbo. O texto latino da Neo-vulgata optou pela primeira interpretação.

Chama-se ao Verbo ‘a luz verdadeira’ porque é a luz originária da qual procede toda a outra luz ou revelação de Deus. Ao vir o Verbo ao mundo, este fica plenamente iluminado pela autêntica Luz. Os profetas e todos os outros enviados de Deus, incluído João Batista, não eram a verdadeira luz, mas o reflexo, as testemunhas da Luz do Verbo”.

Perante a plenitude desta luz que é o Verbo, interroga-se São João Crisóstomo: “Como é que tantos homens permanecem envoltos em trevas? Porque nem todos os homens crêem em Jesus Cristo nem Lhe rendem o culto augusto que Lhe é devido. Como, pois, pode dizer-se que ilumina todo o homem? Sim. Ele ilumina todos segundo a disposição e a vontade de cada um. Na medida em que depende do Verbo, ilumina todos. Mas se livremente os homens fecham os olhos da sua alma a esta luz, se rejeitam os seus raios, então o fato de permanecerem em trevas não se deve à natureza da luz, mas à maldade de coração de quem se priva deste dom da graça” (Hom. sobre São João, 8,1).

Santo Agostinho escreve: “Agora dá a conhecer de que luz dá testemunho quando disse: ‘Era a luz verdadeira” (In Ioannem, tract. 2), e: “E quando disse: ‘Ilumina a todo homem’, devemos entender que não é que algum dentre os homens não seja iluminado, senão que nenhum é iluminado senão por Ele” (Idem, Enchir. cap. 103), e também: “Seja por seu talento especial, seja pela sabedoria divina; porque assim como ninguém se deve a si mesmo a existência, assim também ninguém pode ser sábio por si mesmo” (São Beda).

Em Jo 1, 10 diz: “Ele estava no mundo e o mundo foi feito por meio dele, mas o mundo não o reconheceu”.

Edições Theologica comenta: “O Verbo está no mundo como o artífice que governa o que fez (cf. Santo Agostinho, In loann. Evang., 2,10). O termo ‘mundo’ no Evangelho de São João indica, além de tudo o que foi criado, o conjunto dos homens; assim Cristo veio para salvar a humanidade inteira; ‘Deus amou de tal maneira o mundo que lhe entregou o Seu Filho Unigênito, para que todo o que crê n'Ele não pereça mas tenha a vida eterna. Pois Deus não enviou Seu Filho ao mundo para julgar o mundo, mas para que o mundo seja salvo por Ele’ (Jo 3,16-17). Mas enquanto uma grande parte dos homens rejeitaram a Luz, isto é, Cristo, ‘mundo’ significa também tudo aquilo que se opõe a Deus (cf. Jo 17,14-15). Os homens que, obcecados pelas suas culpas, não reconhecem no mundo a obra do Criador (cf. Rm 1,18-20; Sb 13,1-15), ficam apegados só ao mundo e gostam exclusivamente das coisas que são do mundo” (Hom. sobre S. João, 7). Mas o Verbo, ‘luz verdadeira’, veio para nos revelar a verdade acerca do mundo (cf. Jo 1,3; 18,37) e para nos salvar”.

Santo Agostinho escreve: “A luz que ilumina todo homem que vem a este mundo, veio aqui pela carne. Porque se houvesse vindo só pela divindade, não poderia ser vista pelos néscios, pelos cegos nem pelos malvados, de quem se havia dito antes: ‘As trevas não a reconheceu”, por essa razão disse: ‘Estava no mundo” (In Ioannem, tract. 2), e: “E não acredite que estava no mundo como estão a terra, os rebanhos e os homens; ou como estão o céu, o sol, a lua e as estrelas; senão como o artífice que dirige o que tem feito. Por cuja razão prossegue: ‘E o mundo foi feito por ele” (Idem, ut sup), e também: “E além disso, como estava no mundo mas não era contemporâneo do mundo, acrescenta: ‘E o mundo foi feito por Ele’. E daqui nos conduz de novo à eterna existência do Unigênito, porque aquele de quem se diga que tudo é obra sua, ainda quando carecesse de sentido, se veria obrigado a confessar que antes da obra existia o autor” (São João Crisóstomo, ut sup), e ainda: “Que quer dizer, pois, que o mundo foi feito por Ele mesmo? O céu, a terra, o mar e quanto neles existem, se chama mundo. Além disso. Em outro sentido, se chama mundo aos amantes do mundo, acerca do qual prossegue: ‘E o mundo não o conheceu’. Como nem os céus, nem os anjos, nem os astros, conheceram a seu Criador, a quem confessam os demônios? Todas as coisas dão testemunho d’Ele; mas, quem não o conheceu? Os que amam o mundo se chamam mundo. Amando, pois, ao mundo, habitamos com o coração no mundo; porque os que não amam o mundo vivem nele pela carne, mas com o coração habitam no céu, como disse o Apóstolo: ‘Somos cidadãos do céu’ (Fl 3, 20). Portanto, amando o mundo mereceram chamar-se mundanos do lugar onde habitam. Como sucede quando dizemos: aquela casa é má ou boa. Não criticamos nem elogiamos suas paredes, senão aos que a habitam, assim chamamos ‘mundo’ aos que habitam nele, amando-o” (Santo Agostinho, ut, sup).

Em Jo 1, 11 diz: “Veio para o que era seu e os seus não o receberam”.

Edições Theologica comenta: “Pelos ‘Seus’ entende-se, em primeiro lugar, o povo judaico, que tinha sido escolhido por Deus como povo da Sua propriedade (Dt 7, 6-7) para que nele nascesse Cristo.

Também pode entender-se toda a humanidade, pois pertence-Lhe por ter sido criada por Ele e Ele ter estendido a ela a Sua obra redentora. Daí que a censura por não receber o Verbo feito homem há de entender-se não só dirigida aos judeus mas também a todos os que, chamados por Deus à Sua amizade, O rejeitam”.

O Papa Paulo VI escreve: “Cristo veio; mas por uma misteriosa e terrível infelicidade nem todos O conheceram, nem todos O aceitaram (...). É o quadro da humanidade tal como, depois de vinte séculos de cristianismo, se abre diante de nós. Como é possível? Que quer dizer? Não pretenderemos verificar uma realidade imersa em mistérios que nos transcendem: o mistério do bem e do mal. Mas podemos recordar que a economia de Cristo, para que a sua luz se difunda, deve desdobrar-se numa subalterna, mas necessária, cooperação humana: a da evangelização, a da Igreja apostólica e missionária, que se registram resultados incompletos, é mais uma razão para ser ajudada e integrada por todos” (Audiência geral , 4-XII-1974).

Em Jo 1, 12 diz: “Mas a todos que o receberam deu o poder de se tornarem filhos de Deus: aos que crêem em seu nome”.

Edições Theologica comenta: “Receber o Verbo é aceitá-Lo pela fé, porque pela fé Cristo habita em nossos corações (cf. Ef 3,17). Crer no Seu Nome significa crer na Sua Pessoa, em Jesus como o Cristo, o Filho de Deus. Isto é, “os que crêem no Seu nome são aqueles que guardam íntegro o nome de Cristo, de tal maneira que não diminuem nada da Sua divindade ou da Sua humanidade” (Comentário sobre São João, ad loc.).

“Deu-lhes poder’ equivale a ‘concedeu-lhes’ através de um dom: a graça santificante; ‘porque não está no nosso poder tornar-nos filhos de Deus’ (ibid.). Este dom estende-se pelo Batismo a todos os homens sem limite de raça, idade, cultura, etc. (cf. At 10, 45; Gl 3, 28). A única condição exigida é a fé.

“O Filho de Deus fez-Se homem — explica Santo Atanásio — para que os filhos dos homens, os filhos de Adão, se tornassem filhos de Deus (...). Ele é Filho de Deus por natureza; nós, por graça’ (De Incarnatione contra arianos, 8). Trata-se do nascimento para a vida sobrenatural, na qual ‘todos gozamos da mesma dignidade: escravos e livres, gregos, bárbaros e asiáticos, sábios e incultos, homens e mulheres, crianças e velhos, ricos e pobres... Tão grande é a força da fé em Cristo, tão poderosa a graça!’ (Hom. sobre São João, 10,2).

“A união de Cristo com o homem é a força e a nascente da força, segundo a incisiva expressão de São João no prólogo do seu Evangelho: 'O Verbo deu-lhes o poder de se tornarem filhos de Deus'. É esta força que transforma interiormente o homem, qual princípio de uma vida nova que não fenece nem passa, mas dura para a vida eterna (cf. Jo 4, 14)’ (Redemptor hominis, n. 18)”.

Em Jo 1, 13 diz: “... ele, que não foi gerado nem do sangue, nem de uma vontade da carne, nem de uma vontade do homem, mas de Deus”.

Edições Theologica comenta: “O nascimento de que se fala aqui é uma verdadeira geração espiritual que se realiza no Batismo (cf. Jo 3, 6 ss.). Em vez do texto no plural adotado, que se refere ao nascimento sobrenatural dos homens, alguns Santos Padres e versões antigas apresentam a leitura no singular: ‘o que não nasceu do sangue..., mas nasceu de Deus’. Neste caso, o texto referir-se-ia à geração eterna do Verbo e ao nascimento virginal de Jesus, por obra do Espírito Santo, das entranhas puríssimas de Maria, isto é, falaria da virgindade de Maria no parto. Ainda que a segunda leitura seja muito sugestiva, contudo a documentação (manuscritos gregos, versões antigas, referências dos escritores eclesiásticos, etc.) mostra que o texto no plural foi o mais comum, impondo-se desde o século IV. Além disso, nos escritos de São João diz-se com freqüência que os crentes nasceram de Deus (cf. Jo 3, 3-6; 1 Jo 2, 29; 3, 9; 4, 7; 5, 1.4.18).

O contraste entre o nascimento natural dos homens (que é pelo sangue e pelo querer humano) e o sobrenatural (que vem de Deus) faz ver que os que crêem em Jesus Cristo são constituídos filhos de Deus não só enquanto criaturas, mas, sobretudo pelo dom gratuito da fé e da graça”.

Em Jo 1, 14 diz: “E o Verbo se fez carne, e habitou entre nós; e nós vimos a sua glória, glória que ele tem junto ao Pai como Filho único, cheio de graça e de verdade”.

Edições Theologica comenta: “Este é um texto central acerca do mistério de Cristo. Nele se exprime de maneira concentrada a realidade insolúvel da Encarnação do Filho de Deus. ‘Ao chegar a plenitude dos tempos, enviou Deus o Seu Filho, nascido de mulher’ (Gl 4,4).

A palavra ‘carne’ designa o homem na sua totalidade (cf. Jo 3, 6; 17,2; Gn 6, 3; Sl 56, 5); de modo que a frase ‘e o verbo fez-Se carne’ é igual a ‘e o Verbo fez-Se homem’. Precisamente o termo teológico ‘Encarnação’ surgiu sobretudo a partir deste texto. O substantivo carne tem uma poderosa força expressiva perante aquelas heresias que negam a verdadeira natureza humana de Cristo. Por outro lado, ‘carne’ acentua a condição passível e mortal do Salvador, que habitou entre nós tomando a nossa natureza, evoca o chamado ‘Canto da consolação’ (Is 40, 1-11), onde se contrapõe a caducidade da carne à perenidade do Verbo Deus: ‘Toda a carne é erva / e todo o seu esplendor como flor do campo /... a erva seca, a flor murcha, / mas a palavra nosso Deus / permanece eternamente’ (Is 40,7-8). Isto não significa que a assunção da Humanidade pelo Verbo seja precária e provisória.

‘E habitou entre nós’: O verbo grego que emprega São João correspondente a ‘habitou’ significa etimologicamente ‘fixar a tenda de campanha’ e, daí, habitar num lugar, o leitor atento da Escritura recorda espontaneamente o tabernáculo dos tempos da saída do Egito, em que Yahwéh mostrava a Sua presença no meio do povo de Israel mediante certos sinais da Sua glória, como a nuvem pousada sobre a tenda (cf. p. ex., Ex 25,8; 40,34-35). Em muitíssimas passagens do Antigo Testamento anuncia-se que Deus ‘habitará no meio do povo’ (cf. p. ex., Jr 7,3; Ez 43,9; Eclo 24,8). Aos sinais da presença de Deus, primeiro na Tenda do Santuário peregrinante no deserto e depois no Templo de Jerusalém, segue-se a prodigiosa presença de Deus entre nós: Jesus, perfeito Deus e perfeito homem, em Quem se cumpre a antiga promessa mais além do que os homens podiam esperar. Também a promessa feita por meio de Isaías acerca do ‘Emanuel’ ou ‘Deus conosco’ (Is 7,14; cf Mt 1,23) se cumpre plenamente neste habitar do Filho de Deus Encarnado entre os homens. Por isso, ao ler com religiosa admiração as palavras do Evangelho ‘e habitou entre nós’, ou, ao rezar o Angelus, é boa ocasião para fazer um ato de fé profundo e agradecido, e de adorar a Humanidade Santíssima do Senhor.

‘Ao recordar que ‘o Verbo Se fez carne’, isto é, que o Filho de Deus Se fez homem, devemos tomar consciência do grande que se torna todo o homem através deste mistério; isto é, através da Encarnação do Filho de Deus! Cristo, efetivamente, foi concebido no seio de Maria e fez-Se homem para revelar o amor eterno do Criador e Pai, assim como para manifestar a dignidade de cada um de nós’ (João Paulo II, Alocução na recitação do Angelus, Santuário de Jasna Gora, 5-VI-1979).

Ainda que o aniquilamento do Verbo ao tomar a natureza humana ocultasse em certo modo a Sua natureza divina, de que nunca Se despojou, todavia os Apóstolos viram a glória da Sua divindade através da Sua Santíssima Humanidade, pois manifestou-se na Transfiguração (Lc 9,32-35), nos milagres (Jo 2,11; 11,40) e especialmente na Ressurreição (cf. Jo 3,11; 1 Jo 1,1). A glória de Deus, que resplandecia no antigo Santuário do deserto ou no Templo de Jerusalém, não eram senão uma antecipação imperfeita da realidade da glória divina manifestada através da Santíssima Humanidade do Unigênito do Pai. O apóstolo São João fala com solenidade na primeira pessoa do plural: ‘vimos a Sua glória’, pois conta-se entre as testemunhas que presenciaram a vida de Cristo e, em particular, a Sua Transfiguração e a glória da Sua Ressurreição.

A palavra ‘Unigênito’ exprime adequadamente a geração eterna e única do Verbo pelo Pai. Os três primeiros Evangelhos os tinham sublinhado o nascimento temporal de Cristo; pelo contrário, São João completa a visão pondo em relevo a geração eterna.

Os termos ‘graça e verdade’ são sinônimos de ‘bondade e fidelidade’, dois atributos que no Antigo Testamento se aplicam constantemente a Yahwéh (cf. p. ex., Ex 34,6; Sl 117; Sl 136; Os 2,16-22). Assim, a graça é a manifestação do amor de Deus pelos homens, da Sua bondade, da Sua misericórdia, da Sua piedade. A verdade implica a permanência, a lealdade, a constância, a fidelidade. Jesus, que é o Verbo de Deus feito homem, isto é, o próprio Deus, é por isso ‘o unigênito do Pai cheio de graça e de verdade’; é ‘o pontífice misericordioso e fiel’ (Hb 2,17). Estas duas qualidades, o ser bom e fiel, são como o compêndio e a síntese da grandeza de Cristo. E são também, de forma correlativa, ainda que em grau infinitamente menor, as qualidades primordiais de todo o cristão, como expressamente o disse o Senhor quando louvou o ‘servo bom e fiel’ (Mt 25,21).

Como explica São João Crisóstomo: ‘O evangelista, depois de ter dito que aqueles que O receberam nasceram de Deus e são filhos de Deus, indica a causa dessa honra inefável: que o verbo Se fez carne, e o Senhor tomou a forma de servo. Porque sendo verdadeiro Filho de Deus, fez-Se Filho do homem, para tornar os homens filhos de Deus’ (Hom. sobre São João, 2,1).

O profundo mistério de Cristo foi expresso pelo Magistério da Igreja mediante uma definição solene, no ano 451, no célebre texto do Concílio Ecumênico de Calcedônia: “Seguindo, pois, os Santos Padres, todos a uma só voz ensinamos que se deve confessar um só e o próprio Filho, Nosso Senhor Jesus Cristo, perfeito na divindade e perfeito na humanidade, Deus verdadeiramente, e verdadeiramente homem, de alma racional e corpo, consubstancial com o Pai quanto à divindade, e consubstancial conosco quanto à humanidade — semelhante em tudo a nós, menos no pecado (Hb 4,15) — gerado do Pai antes dos séculos quanto à divindade, e nos últimos dias, por nós e pela nossa salvação, gerado de Maria Virgem, Mãe de Deus, quanto à humanidade” (Dz-Sch, n. 301)”.

Em Jo 1, 15 diz: “João dá testemunho dele e clama: ‘Este é aquele de quem eu disse: o que vem depois de mim passou adiante de mim, porque existia antes de mim”.

Em Edições Theologica: “Mais adiante (Jo 1, 19-36) dá-se a conhecer no Evangelho a missão de João Batista como testemunha do messianismo e da divindade de Jesus, que aqui se resume de modo muito concentrado. Segundo os planos de Deus, assim como os Apóstolos darão testemunho de Jesus depois da Ressurreição, o Batista será a testemunha escolhida para anunciar Cristo no momento de iniciar o ministério público”.

Em Jo 1, 16 diz: “Pois de sua plenitude todos nós recebemos graça por graça”.

Edições Theologica comenta: “Graça por graça’: Pode entender-se, com São João Crisóstomo e outros Santos Padres, como a substituição da economia salvífica do Antigo Testamento, pela nova economia da graça trazida por Cristo. Também pode indicar uma superabundância de dons outorgados por Jesus: a umas graças acrescentam-se outras, e todas brotam da fonte inesgotável que é Cristo, cuja plenitude de graça nunca acaba. ‘Ele não tem o dom recebido por participação, mas é a própria fonte, a própria raiz de todos os bens: a própria Vida, a própria Luz, a própria Verdade. E não retém em Si mesmo as riquezas dos Seus bens, mas entrega-os a todos os outros; e tendo-os dispensado permanece cheio; não diminui em nada por tê-los distribuído a outros, mas enchendo e fazendo participar a todos destes bens, permanece na mesma perfeição’ (Hom. sobre S. João, 14, 1)”.

Em Jo 1, 17 diz: “Porque a Lei foi dada por meio de Moisés; a graça e a verdade vieram por Jesus Cristo”.

Edições Theologica comenta: “Aparece aqui, pela primeira vez no Evangelho de São João, o nome de Jesus Cristo, identificado com o Verbo de que nos tem vindo a falar.

Enquanto a Lei dada por Moisés se limitava a indicar o caminho que o homem devia seguir (cf. Rm 8, 7-10), a Graça trazida por Jesus Cristo tem o poder de salvar aqueles que a recebem (cf. Rm 7,25). ‘O pecado não terá domínio sobre vós, pois não estais sob a Lei mas sob a graça’ (Rm 6, 14). Pela ‘graça tornamo-nos agradáveis a Deus não já somente como servos, mas também como filhos e amigos’ (Hom. sobre S. João, 14, 2)”.

Em Jo 1, 18 diz: “Ninguém jamais viu a Deus: o Filho único, que está voltado para o seio do Pai, este o deu a conhecer”.

Edições Theologica comenta: “A Deus ninguém jamais O viu’: Todas as visões que os homens tiveram de Deus neste mundo foram indiretas, já que apenas contemplaram a glória divina, isto é, o resplendor da Sua grandeza: por exemplo, Moisés viu a sarça ardente (Ex 3, 6); Elias sentiu a brisa no monte Horeb (l Rs 19, 11-13); Isaías contemplou o esplendor da Sua majestade (Is 6,1-3). Mas, ao chegar a plenitude dos tempos, essa manifestação de Deus torna-se mais próxima e quase direta, já que Jesus Cristo é a imagem visível do Deus invisível (cf. Cl 1 , 15); é a revelação máxima de Deus neste mundo, até ao ponto de que assevera: ‘Aquele que Me viu a Mim viu o Pai’ (Jo 14,9). Porém, a verdade profunda tanto a respeito de Deus como a respeito da salvação dos homens, manifesta-nos, por esta revelação, em Cristo, que é, simultaneamente, o mediador e a plenitude de toda a revelação.

Nenhuma Revelação mais perfeita pode fazer Deus de Si mesmo que a Encarnação do Seu Verbo Eterno. Por isso escreve admiravelmente São João da Cruz: ‘Em dar-nos, como nos deu, Seu Filho, que é a Sua única Palavra, que não tem outra, tudo nos disse juntamente e de uma vez nesta única Palavra, e não tem mais que falar’ (Subida ao Monte Carmelo, liv. 2, cap. 22).

‘Um Deus, Filho único’: Alguns manuscritos gregos e versões trazem a leitura ‘o Filho Unigênito’, ou também ‘o Unigênito’. A primeira leitura é preferível por estar melhor apoiada nos códices. Além disso, ainda que o sentido não mude substancialmente, o texto adotado tem um conteúdo mais rico, pois manifesta de novo explicitamente a divindade de Cristo”.

 

Pe. Divino Antônio Lopes FP.

Anápolis, 21 de dezembro de 2007

 

 

 

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Pe. Divino Antônio Lopes FP. “No princípio era o verbo”.
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