MARIA… MEDITAVA EM SEU CORAÇÃO

(Lc 2, 16-21)

 

16 Foram então às pressas, e encontraram Maria, José e o recém-nascido deitado na manjedoura. 17 Vendo-o contaram o que lhes fora dito a respeito do menino; 18 e todos os que os ouviam ficavam maravilhados com as palavras dos pastores. 19 Maria, contudo, conservava cuidadosamente todos esses acontecimentos e os meditava em seu coração. 20 E os pastores, glorificando e louvando a Deus por tudo o que tinham visto e ouvido, conforme lhes fora dito. 21 Quando se completaram os oito dias para a circuncisão do menino, foi-lhe dado o nome de Jesus, conforme o chamou o anjo, antes de ser concebido”.

 

 

Edições Theologica comenta: “Deus quis que o nascimento do Messias Salvador, o fato mais importante da história humana, acontecesse de modo tão inadvertido que o mundo, naquele dia, continuou a sua vida como se nada de especial tivesse acontecido. Deus apenas anuncia a uns pastores o acontecimento. Também a um pastor, Abraão, Deus confiou a promessa de Salvação para toda a humanidade. Os pastores dirigem-se a Belém estimulados pelo sinal que lhes tinha sido dado. Ao comprová-lo, contam o anúncio do anjo e a aparição da milícia celeste. E com isso, constituem-se nas primeiras testemunhas do Nascimento do Messias”.

Fócio escreve: “Não satisfeitos os pastores com crer na ventura que lhes tinha sido anunciada pelo anjo, e cuja realidade viram cheios de assombro, manifestavam a sua alegria não só a Maria e a José, mas também a toda a gente, e o que é mais, procuravam gravá-la na sua memória. ‘E todos os que escutaram maravilharam-se’. E como não haviam de maravilhar-se vendo na terra Aquele que está nos Céus, e reconciliado em paz o celeste com o terreno; aquele inefável Menino, unindo em Si o que era celeste pela Sua divindade com o que era terreno pela Sua humanidade e fazendo nesta união uma aliança admirável? Não só se admiram pelo mistério da Encarnação, mas também pelo grande testemunho dos pastores, que não podiam inventar o que não tivessem ouvido e tornam pública a verdade com uma eloqüência simples” (Ad Amphilochium, quaestio 155).

 

“Foram então às pressas, e encontraram Maria, José e o recém-nascido deitado na manjedoura”.

“Foram então às pressas…”

O Pe. Francisco Fernández-Carvajal escreve: “E foram pressurosos…, quase correndo, parece dizer o evangelista. É a pressa da alegria e dos acontecimentos importantes. Por-se-iam a caminho com algum presente para o recém-nascido. No mundo oriental de então era inconcebível apresentar-se sem algum dom. Levaram o que tinham ao seu alcance: algum cordeiro, queijo, manteiga, leite, requeijão, algo de agasalho… Não é demasiado desacerto imaginar a cena tal como a representam os inumeráveis “presépios” do Natal e a apregoam os ‘villancicos’.

Maria e José devem ter instruído com pormenor estes pastores acerca do Messias, que estava ali diante deles. Com estas explicações, os pastores converteram-se nos primeiros mensageiros, pois eles regressaram a Belém e contaram à gente o que tinham visto, e todos ficaram maravilhados (Lc). Alguns aproximar-se-iam do lugar onde estava a Sagrada Família, aquele jovem casal, que tinha chegado há pouco tempo, e prestariam alguma ajuda, que a Virgem tanto agradeceria. Ela conquistaria os seus corações com a sua simpatia pessoal.

Mas Belém continuou a sua vida de sempre. Quando Jesus começa a sua vida pública ninguém aludirá a fatos extraordinários acontecidos durante o seu nascimento. Nem sequer recordarão que nasceu em Belém. Chamar-lhe-ão: o Nazareno.

Só Maria terá presente toda a sua vida esta noite inolvidável. Ela conservava todas estas coisas ponderando-as no seu espírito, diz Lucas, como que citando a fonte das suas informações; pensava em tudo isto, e com suma alegria considerava-o uma e outra vez no seu interior”.

Assim como os pastores foram às pressas a Belém, onde havia nascido o Filho de Deus; busquemos também nós continuamente a presença de Deus, visitando-O várias vezes ao dia no Santíssimo Sacramento da Eucaristia.

Os pastores não deixaram para depois nem ficaram de braços cruzados, mas partiram imediatamente para Belém. Imitemo-los na busca de Cristo Jesus; lembrando de que a vida sem Ele é vazia e sem sentido.

Eles não se preocuparam com a escuridão nem com a distância. Não olhemos também nós as dificuldades que surgirem em nosso caminho, porque a amizade com Jesus Cristo vale mais do que todo o ouro do mundo.

A pressa dos pastores é fruto da sua alegria e do seu afã por ver o Salvador: “Ninguém busca Cristo preguiçosamente” (Santo Ambrósio, Expositio Evangelii séc. Lucam, ad loc.).

Griego escreve: “Tudo o que haviam visto e ouvido os pastores, causou neles tal assombro que abandonaram seus rebanhos e, apesar de ser noite, correram a Belém buscando a luz do Salvador. Por isso diz: ‘Os pastores diziam entre si”, e: “Foram às pressas, e não pouco a pouco, prossegue: ‘E encontraram a Maria’, que era a que havia dado a luz ao Salvador, ‘e a José’ que era o protetor do nascimento, ‘e ao Menino deitado na manjedoura’, isto é, o Salvador” (Orígenes, in Lucam, 13).

 

“… e encontraram Maria, José e o recém-nascido deitado na manjedoura”.

Aproximemos do presépio, com humildade e fé, e aprendamos dele alguns ensinamentos.

O mistério da cruz era uma loucura aos olhos dos gentios; também o do presépio ainda o é aos olhos dos mundanos. “Quem poderá compreender, dizem, como um Deus, a sabedoria incriada, escolheu livremente um estábulo por palácio, uma manjedoura por berço, e por companheiros inseparáveis a humilhação, o sofrimento, a pobreza, de preferência à opulência dos reis da qual poderia dispor à sua vontade? Não excede esse mistério às luzes de nossa razão?”

Assim nos fala o Menino de Belém. Cada um sonde o seu coração e examine: 1.° Quantas vezes o assaltam desejos de estima e vanglória, temores da abjeção, da humilhação e do desprezo; sentimentos de inveja ao ver o próximo celebrado, e de alegria maligna ao vê-lo humilhado! – 2.° A respeito do desprezo dos bens sensíveis, que não temos nós talvez a nos exprobrar! Quanta solicitude e cuidado para o temporal, quanta sensualidade, amor das comodidades em tudo o que fazemos! Não dirão os homens que a nossa única ocupação consiste em tratarmos da nossa saúde, em fugirmos das dificuldades, e em gozarmos a vida presente como os que olvidam a eternidade?

 

“Vendo-o, contaram o que lhes fora dito a respeito do menino; e todos os que os ouviram ficavam maravilhados com as palavras dos pastores”.

Os pastores viram o Menino Jesus e não cruzaram os braços; mas “Vendo-O”, contaram o que lhes fora dito a respeito do menino.

O católico batizado e crismado deveria sair de sua “poltronice”, comodismo e relaxamento, e ser um grande missionário, isto é, falar a todos os indiferentes sobre Nosso Senhor, passar para os demais tudo aquilo que aprendeu nas aulas de catecismo.

É vergonhoso ver milhões de católicos viverem de braços cruzados, sem se preocuparem com a salvação das almas: “Nada mais frio do que um cristão que não se preocupa com a salvação dos outros” (São João Crisóstomo, Homilia 20, 4: PG 60, 162-164).

O que dirão a Deus na hora do Julgamento, os católicos que comparecerem no Tribunal com as mãos vazias?

 

“…e todos os que os ouviam ficavam maravilhados com as palavras dos pastores”.

Está claro que somente Jesus Cristo é capaz de preencher o vazio de uma alma imortal.

Aquele que segue o mundo e suas máximas vive mergulhado nas trevas e na angústia; enquanto que aquele que segue a Cristo Jesus vive mergulhado na paz e possui a verdadeira felicidade: “Eu sou cada dia mais feliz, pois sou de nosso Senhor. Ele me dá a felicidade verdadeira… O amor a Jesus dá forças e alegria” (Santa Teresa dos Andes, Carta 128), e: “Quem pode fazer-me mais feliz do que Deus? N’Ele encontro tudo” (Idem, Carta 81).

Em Lc 2, 19-21 diz: “Maria, contudo, conservava cuidadosamente todos esses acontecimentos e os meditava em seu coração. E os pastores voltaram, glorificando e louvando a Deus por tudo o que tinham visto e ouvido, conforme lhes fora dito. Quando se completaram os oito dias para a circuncisão do menino, foi-lhe dado o nome de Jesus, conforme o chamou o anjo, antes de ser concebido”.

Edições Theologica comenta: “Em breves palavras este versículo diz muito de Maria Santíssima. Apresenta-a serena e contemplativa diante das maravilhas que se estavam a cumprir no nascimento do seu divino Filho. Maria penetra-as com olhar profundo, pondera-as e guarda-as no silêncio da sua alma. Maria Santíssima, mestra de oração! Se a imitarmos, se guardarmos e ponderarmos nos nossos corações o que ouvimos de Jesus e o que Ele faz em nós, estamos a caminho da santidade cristã e não faltará na nossa vida nem a doutrina do senhor nem a Sua graça. Por outro lado, meditando deste modo os ensinamentos que recebemos de Jesus, vamos aprofundando no mistério de Cristo, e assim a Tradição apostólica progride na Igreja sob a assistência do Espírito Santo. Com efeito, progride a percepção tanto das coisas como das palavras transmitidas, quer mercê da contemplação e estudo dos crentes, que as meditam no seu coração, quer mercê da íntima inteligência que experimentam das coisas espirituais, quer mercê da pregação daqueles que, com a sucessão do  episcopado, receberam o carisma da verdade”.

Santo Ambrósio escreve: “Não é, pela simplicidade, desprezível as palavras dos pastores, posto que Maria lhes prestava confiança, segundo se vê o que se segue: ‘Maria, contudo, conservava cuidadosamente todos esses acontecimentos e os meditava em seu coração’. Aprendamos a castidade em todas as coisas da Santa Virgem, a qual reunia em seu coração as provas da fé com não menos modéstia em suas palavras que em seu corpo”, e: “Tudo o que havia dito os anjos, tudo o que havia ouvido de Zacarias, Isabel e os pastores, tudo conservava em seu coração. E comparando umas coisas com outras, esta Mãe da Sabedoria via que em todas elas provavam que era verdadeiramente Deus quem havia nascido dela” (Griego), e também: “Todos, pois, se alegravam com o nascimento de Jesus Cristo, não de uma maneira humana (como se regozijam os homens quando nasce um menino), senão pela presença de Jesus Cristo e pelo brilho da luz divina. ‘E os pastores voltaram, glorificando e louvando a Deus por tudo o que tinham visto e ouvido, conforme lhes fora dito” (Santo Atanásio), e ainda: “Os pastores não guardaram em silêncio o que haviam visto, no que se manifesta que os pastores da Igreja se ordenam para ensinar a seus ouvintes o que aprenderam nas Sagradas Escrituras” (São Beda, In Hom. In nativ. Dom), e: “Também os mestres dos rebanhos espirituais, ora se elevam contemplando as coisas do céu, enquanto os demais dormem… ora voltam a seu ministério pastoral para ensinar ao povo” (São Beda, Sup. Luc.).

 

“Quando se completaram os oito dias para a circuncisão do menino, foi-lhe dado o nome de Jesus, conforme o chamou o anjo, antes de ser concebido”.

Edições Theologica comenta: “No Antigo Testamento a circuncisão era um rito instituído por Deus para assinalar como com uma marca e contra-senha os que pertenciam  ao povo eleito. Deus mandou a circuncisão a Abraão como sinal da Aliança que estabelecia com ele e com toda a sua descendência (cf Gn 17, 10-14), e prescreveu que se realizasse no oitavo dia do nascimento. O rito realiza-se na casa paterna ou na sinagoga, e além da operação sobre o corpo do menino, incluía bênçãos e a imposição do nome.

Com a instituição do Batismo cristão cessou o mandamento da circuncisão. Os Apóstolos, no concílio de Jerusalém (cf At 15, 1ss.), declararam definitivamente abolida a necessidade do antigo rito para os que se incorporassem na Igreja.

É bem eloqüente o ensinamento de São Paulo (Gl 5, 2ss.; 6, 12ss.; Cl 2, 11) acerca da inutilidade da  circuncisão depois da Nova Aliança estabelecida por Cristo”.

 “Jesus” significa “Yahwéh salva” ou “Yahwéh é salvação”, isto é, Salvador. Este nome foi imposto ao Menino não por disposição humana, mas para cumprir o que o arcanjo tinha ordenado da parte de Deus à Santíssima Virgem e a São José (cf Lc 1, 31; Mt 1, 21).

O fim da Encarnação do Filho de Deus foi a Redenção e a Salvação de todos os homens, e daí que, com razão, se Lhe tenha chamado Jesus, Salvador. Assim o confessamos no Credo: “Que por nós homens e para a nossa salvação, desceu do Céu”.

O Catecismo Romano ensina: “Certamente, houve muitos com este nome (…). Mas, com quanta mais verdade entenderemos que deve ser chamado com este nome o Salvador? Ele, com efeito, trouxe a vida, a liberdade e a salvação eterna não a um povo qualquer, mas a todos os homens de todos os tempos; não em verdade oprimidos pela fome ou pelo domínio dos egípcios ou dos babilônios, mas assentados na sombra da morte e subjugados com as duríssimas cadeias do pecado e do demônio” (I, 3, 6).

Sobre a circuncisão do Menino Jesus, escreve Santo Afonso Maria de Ligório: “Considera o Pai Eterno, que, tendo enviado seu Filho a fim de padecer e de morrer por nós, quer que no dia de hoje seja circuncidado e comece a derramar o seu sangue divino, para depois acabar de derramá-lo no dia da sua morte na cruz num oceano de dores e desprezos. E por quê? A fim de que esse Filho inocente pague assim as penas por nós merecidas… Considera por outro lado o divino Filho, que, todo humilde e cheio de amor para conosco, abraça a morte amargosa, que Lhe está destinada, para nos salvar, a nós pecadores, da morte eterna. De boa vontade começa hoje a satisfazer por nós a divina justiça, com o preço do seu sangue… A cerimônia da circuncisão, no dizer dos Santos Padres, prefigurava o sacramento do batismo. É portanto bem a propósito considerarmos que Jesus Menino, quando se sujeitou à circuncisão, pensava em cada um  de nós. Oferecendo então a Deus Pai as primícias do seu sangue, começou a merecer a graça de sermos regenerados na fonte batismal. Oh, que dom inapreciável é o do santo batismo! Por meio dele as nossas almas deixaram de ser escravas do demônio, condenadas ao inferno, e se tornaram filhas escolhidas de Deus e herdeiras ditosas do reino dos céus. – Mas, como é que nós temos respondido a tão grande favor?” (Meditações).

 

Pe. Divino Antônio Lopes FP.

Anápolis, 27 de dezembro de 2007

 

 

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Pe. Divino Antônio Lopes FP. “Maria... meditava em seu coração”.
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