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                … REVENDO A 
                ESTRELA, ALEGRARAM-SE  
          
          (Mt 2, 
          1-12) 
            
          
          “1 
          Tendo Jesus nascido em Belém da Judéia, no tempo do rei Herodes, eis 
          que vieram magos do Oriente a Jerusalém, 
          2 
          perguntando: ‘Onde está o rei dos judeus recém-nascido? Com efeito, 
          vimos a sua estrela no seu surgir e viemos homenageá-lo’. 
          3 
          Ouvindo isso, o rei Herodes ficou alarmado e com ele toda Jerusalém.
          4 
          E, convocando todos os chefes dos sacerdotes e os escribas do povo, 
          procurou saber deles onde havia de nascer o Cristo. 
          5 
          Eles responderam: ‘Em Belém da Judéia, pois é isto que foi escrito 
          pelo profeta: 6 
          E tu, Belém, terra de Judá, de modo algum és o menor entre os clãs de 
          Judá, pois de ti sairá um chefe que apascentará Israel, o meu povo’.
          7 
          Então Herodes mandou chamar 
          secretamente os magos e procurou certificar-se com eles a respeito do 
          tempo em que a estrela tinha aparecido. 
          8 
          E, enviando-os a Belém, disse-lhes: ‘Ide e procurai obter informações 
          exatas a respeito do menino e, ao encontrá-lo, avisai-me, para que 
          também eu vá homenageá-lo’. 
          9 
          A essas palavras do rei, eles partiram. E eis que a estrela que tinham 
          visto no seu surgir ia à frente deles até que parou sobre o lugar onde 
          se encontrava o menino. 
          10 
          Eles, revendo a estrela, alegraram-se imensamente. 
          11 
          Ao entrar na casa, viram o menino com Maria, sua mãe, e, 
          prostrando-se, o homenagearam. Em seguida, abriram seus cofres e 
          ofereceram-lhe presentes: ouro, incenso e mirra. 
          12 
          Avisados em sonhos que não voltassem a Herodes, regressaram por outro 
          caminho para a sua região”. 
            
          
            
            
          
          Em Mt 
          2, 1-2 diz: “Tendo 
          Jesus nascido em Belém da Judéia, no tempo do rei Herodes, eis que 
          vieram magos do Oriente a Jerusalém,  perguntando: ‘Onde está o rei 
          dos judeus recém-nascido? Com efeito, vimos a sua estrela no seu 
          surgir e viemos homenageá-lo”. 
          
          Agora 
          os hebreus já estavam à vista da terra prometida; só o Jordão os 
          separava ainda. 
          
          Mas o 
          rei de Moab, assustado com a irrupção da nova gente que destruía todos 
          os povos em seu caminho, mandou chamar com grande empenho o adivinho 
          Balaão. E, com o terror pintado no rosto, lhe disse: 
          “Eis que um povo saiu do 
          Egito, e cobre a face da terra, e acampa bem em frente de mim. Eu sei 
          que é abençoado aquele a quem tu abençoas, e amaldiçoado aquele a quem 
          amaldiçoas: vai, e lança sobre ele a maldição péssima”. 
          
          
          Balaão, o falso profeta, pôs-se a caminho para amaldiçoar Israel; mas 
          Deus apossou-se dele, e, quando ele abriu a boca para gritar contra as 
          tendas do povo eleito acampado nas estepes de Moab, saíram dele estes 
          acentos: “Palavra de 
          Balaão, filho de Beor. Palavra do homem que tem os olhos fechados. 
          Palavra daquele que enxerga a visão do Onipotente. Vejo-o, mas não 
          agora; contemplo-o, mas não de perto. Uma estrela surgirá de Jacó, e 
          um cetro se levantará de Israel”
          (Nm 24, 17). 
          
          Quinze séculos depois, grande, luzente, nova, apareceu no céu uma 
          estrela. Jesus, que no Evangelho é chamado luz do mundo, nascendo 
          faz-se anunciar por uma estrela que se acende, e, morrendo, pelo sol 
          que se apaga: “Consumado o milagre do parto virginal, o útero, cheio da divindade, 
          deu a luz ao Deus-Homem sem perder o selo da sua integridade. Entre os 
          tenebrosos esconderijos de um estábulo e a estreiteza de um presépio, 
          nos quais, a Majestade infinita, se reduzindo nas curtas dimensões de 
          um terno corpinho, mora suspenso do seio materno; e todo um Deus 
          permite ser envolvido em vis fraldas, um novo astro aparece de repente 
          no céu iluminando a terra. E dissipada a neblina que cobria todo o 
          mundo, converte a noite em dia, para que o dia não ficasse oculto 
          entre a noite. Por isso diz o evangelista: ‘Pois quando nasceu” 
          (Santo Agostinho, In Sermone 5 de Epiphania), 
          e: “No início desta lição evangélica são 
          necessárias três coisas: a pessoa, ‘Havendo nascido Jesus’; o lugar, 
          ‘em Belém de Judá’; o tempo, ‘Nos dias de Herodes, o Rei’; 
          circunstâncias que conduz em confirmação do fato que vai referir”
          (Remígio) 
          e também: “É de crer que o evangelista colocou 
          primeiramente, como lemos no hebreu, Judá, não Judéia. Porque não 
          havendo nas demais nações nenhuma cidade chamada Belém, não podia 
          colocar aqui, com objeto de distingui-la, Belém da Judéia; e por isso 
          escreve Judá. Pois no livro de Josué... lemos outra cidade de Belém na 
          Judéia” (São Jerônimo, in 
          Matthaeum, 1), e ainda:
          “Há duas cidades com o nome de ‘Belém’: uma na 
          tribo de Zabulon e outra na de Judá, que antes se chamara de ‘Éfrata”
          (A Glosa), 
          e: “São Mateus e São 
          Lucas estão de acordo sobre a cidade de Belém, porém São Lucas nos diz 
          como e porque vieram José e Maria a esta cidade, no entanto, São 
          Mateus deixa de mencioná-lo. Pelo contrário, São Lucas omite a vinda 
          dos magos do Oriente referida por São Mateus”(Santo 
          Agostinho, De Consensu Evangelistarum, 2, 15). 
          
          
          Entrementes, em regiões estrangeiras os Magos vêem-na e dizem: “Se 
          a estrela nasceu, o Rei também deve ter nascido: vamos procurá-lo”. 
          E vão: “Pois havendo 
          nascido neste tempo, ‘eis aqui uns magos vieram’ isto é, apenas 
          nasceu, já se mostrava o grande Deus em um pequeno menino” 
          (Pseudo-Crisóstomo, Opus 
          Imperfectum super Matthaeum, Hom). 
          
          Quem 
          são os Magos? Alguns disseram que eram reis. Outros disseram que não 
          eram reis, mas mandavam nos próprios reis, porque, mais sábios do que 
          todos, só eles possuíam os segredos da terra e do céu, e perscrutavam 
          o futuro e o destino. 
          
          De 
          onde vêm os Magos? Acaso de Ecbatana ou das margens do Mar Cáspio? Na 
          garupa dos camelos e dos dromedários, teriam eles transposto os 
          desertos, vadeando os rios, devorando a estrada longuíssima em poucos 
          dias? Ou lhes teria a estrela aparecido antes de Jesus nascer, para 
          que eles pudessem chegar a tempo? 
          
          Dom 
          Duarte Leopoldo escreve: 
          “Os Magos eram uns sábios ou 
          filósofos, vindos provavelmente de Sabá, de Madian e de Epha, pequenos 
          reinos da Arábia, ou, segundo outros, da Caldéia ou da Mesopotâmia, 
          como o famoso Balaão tinha estado nesses lugares, conservou-se a 
          lembrança da profecia relativa ao nascimento do Messias. Eles eram 
          chefes de tribos ou reis. A tradição, os quadros antigos e os mais 
          célebres Padres da Igreja, como Tertuliano, São Cipriano, Santo 
          Hilário, São Basílio e outros, lhes dão as insígnias reais”. 
          
          
          Quantos eram os Magos? Baseando-se nos dons por eles feitos, a 
          tradição fixou em três o número deles, e lembra três nomes: Gaspar, 
          Baltasar e Melchior. Mas quantos eles eram realmente, o Evangelho não 
          o diz, nem a Igreja o decide: 
          “Magos são os que filosofam sobre tudo, mas a linguagem comum 
          toma esta palavra na acepção de feiticeiros. Estes magos, entretanto, 
          são considerados de outra maneira em seu país, dado que são os 
          filósofos dos caldeus, e seus reis e príncipes sempre ajustam todos 
          seus atos à ciência destes homens. Assim foram os primeiros que 
          conheceram o nascimento do Senhor”
          (Rábano), 
          e: “Estes magos: que outra coisa seria, senão 
          as primícias das nações? Os pastores eram israelitas, os magos, 
          gentios; estes vieram de terras distantes e aqueles de perto. No 
          entanto, uns e outros acudiram com presteza à pedra angular” 
          (Santo Agostinho, In 
          Sermone 4 de Epiphania), 
          e também: “Não se 
          manifestou Jesus nem aos sábios nem aos justos, senão que prevaleceu a 
          ignorância na rusticidade dos pastores e a impiedade nos magos 
          sacrílegos da Caldéia. A uns e a outros, se lhes oferece àquela pedra 
          angular, porque tinha vindo a escolher a ignorância para confundir aos 
          sábios, e não a chamar aos justos, senão aos pecadores, a fim de que 
          nenhum poderoso se ensoberbecesse e nenhum débil desesperasse” 
          (Idem, In Sermone 2 de 
          Epiphania), e ainda: 
          “Estes magos eram reis, e se diz que ofereceram três dons; com isso, 
          não significa, que eles não foram mais que três, senão que, neles, 
          estavam representadas todas as nações descendentes dos três filhos de 
          Noé; que haviam de ser chamadas à fé. Se os príncipes foram três, 
          podemos crer que o número daqueles, que os acompanhavam, era bem 
          superior. Não vieram depois de um ano, porque senão haveriam 
          encontrado ao menino no Egito e não no presépio, senão aos treze dias 
          de seu nascimento. Os chamam ‘do Oriente’ para manifestar o lugar de 
          onde vinham”(A 
          Glosa), e: 
          “Devemos ter presente que há várias opiniões em relação aos magos. Uns 
          falam que eram caldeus porque os caldeus adoravam as estrelas. Por 
          isso, disseram que o falso deus a quem eles haviam adorado como tal, 
          lhes havia manifestado qual era o verdadeiro Deus. Outros, afirmam que 
          os magos eram persas e outros que vieram dos últimos confins da terra. 
          Finalmente, outros dizem que eles eram descendentes de Balaão, o que 
          tem maior credibilidade, pois Balaão entre outras coisas profetizou 
          que ‘nasceria uma estrela de Jacó’ (Nm 24,17). Seus descendentes que 
          conservavam esta profecia, a viram cumprida ao aparecer esta estrela”
          (Remígio), e também: 
          “Deste modo, os descendentes de Balaão, sabiam por sua profecia que 
          esta estrela havia de aparecer. Porém se perguntará: como, sendo 
          caldeus ou persas ou das mais distantes regiões da terra, puderam 
          chegar a Jerusalém em tão pouco tempo?” 
          (São Jerônimo, In Matthaeum, 
          2), e ainda: 
          “Alguns contestavam que o menino que acabava de nascer tinha poder 
          para fazê-los chegar em tão poucos dias, desde os confins da terra”
          (Remígio), e: 
          “Não é de se estranhar que em treze dias pudessem vir a Belém viajando 
          sobre cavalos árabes e dromedários que são tão velozes para caminhar”
          (A Glosa), e também: 
          “Talvez, empreenderam o caminho dois anos antes do nascimento de Jesus 
          Cristo, guiados pela estrela, levando todas as provisões necessárias 
          para o caminho” (Pseudo-Crisóstomo, Opus Imperfectum super Matthaeum, hom. 2), 
          e: “Se estes reis eram 
          descendentes de Balaão, puderam vir em tão pouco tempo a Jerusalém 
          porque não distavam muito da terra prometida. Entretanto, poderia 
          perguntar-se: Por que o evangelista diz que vieram do Oriente? Porque 
          seu país estava situado na fronteira oriental da Judéia. Por outra 
          parte, as palavras ‘vieram do Oriente’ refletem o magnífico pensamento 
          de que, sendo Jesus Cristo chamado ‘o Oriente’ segundo aquelas 
          palavras de Zacarias: ‘Eis aqui um homem, o Oriente é seu nome’ (Zc 
          6,12), todos os que vêm ao Senhor, vêm d’Ele e por Ele” 
          (Remígio), e também: 
          “De onde nasce a luz, ali teve a fé sua origem, porque a fé é a luz 
          das almas. Vieram, pois, do Oriente, mas a Jerusalém”(Pseudo-Crisóstomo, 
          Opus Imperfectum super Matthaeum, hom. 2), e ainda: “Ainda 
          que o Senhor não houvesse nascido ali, e apesar de que soubessem a 
          época do nascimento, não conheciam o lugar onde haveria de nascer. 
          Porém, sendo Jerusalém a cidade real, eles acreditaram que um menino 
          de tal condição não devia nascer a não ser em uma cidade de reis. 
          Vieram a Jerusalém para que se cumprisse o que estava escrito: ‘De 
          Sião sairá a lei e a palavra do Senhor de Jerusalém’ (Is 2,3). Talvez 
          para que a diligência dos magos servisse de condenação à indiferença 
          dos judeus. ‘Vieram, pois, a Jerusalém dizendo: Onde está aquele que 
          há nascido reis dos judeus?” 
          (Remígio), e: “Eram 
          muitos os reis que haviam nascido e mortos em Israel: Era porventura 
          algum destes a quem os magos buscavam para prestar-lhe adoração? 
          Certamente não, porque de nenhum deles lhes havia falado o céu. Estes 
          reis, estrangeiros e de um país tão remoto, não se sentiam obrigados a 
          prestar uma homenagem tão grande a um rei da classe e condição à qual 
          eles pertenciam em seu país; e sim, haviam aprendido que devia ser tal 
          a condição daquele que havia nascido; que, adorando-o, não podia 
          oferecer-lhes dúvida alguma, conseguir a salvação, que consiste no 
          próprio Deus. Por outra parte, tampouco a idade se prestava à adulação 
          humana, não estavam cobertos de púrpura os membros do recém-nascido, 
          nem brilhava um diadema em sua cabeça; nem pôde ser a pompa dos 
          servidores, nem o terror dos exércitos, nem a fama de gloriosos 
          combates, que os atraísse a esses varões de tão remotas terras, com 
          tamanha fé e ardentes votos. Um menino recém-nascido, pequenino, 
          menosprezado pela pobreza se manifesta recostado em um presépio. Mas 
          se oculta debaixo destas aparências, algo grande que aqueles homens, 
          primícias dos gentios, haviam compreendido, não por testemunho da 
          terra, e sim do céu. Por isso diziam: ‘Avistamos sua estrela no 
          Oriente’. Anunciam e perguntam, crêem e buscam a imagem daqueles que 
          caminham na fé e desejam ver” 
          (Santo Agostinho, In 
          Sermone 2 de Epiphania). 
          
          Que 
          importam a nós estas questões? A nós o que interessa é considerar como 
          os reis se movimentam e todos se agitam à procura de um Menino envolto 
          em pobres panos e que chora: um procura-O para O adorar, outro 
          procura-O para O matar. Assim foi então. Assim tem sido de século em 
          século, assim é hoje e assim será sempre, para que se cumpra aquela 
          palavra que o santo velho Simeão disse no templo: 
          “Este menino será o sinal de 
          ruína e da salvação”. 
          
          É 
          surpreendente, porém, como a mesma luz suscite nos homens impressões 
          opostas: para uns Ele é luz que alegra e ilumina, para outros é luz 
          que irrita e cega. A mesma estrela acha nos Reis Magos um coração 
          dócil e sincero, e em Herodes, um coração endurecido e corrupto. 
          
          Nas 
          regiões do oriente, numa noite em que o céu limpo e profundo ostentava 
          todas as suas flamas, eis que uma estranha luz irradia o seu lume 
          novo. Foi um grito de alegria que irrompeu do coração dos Magos:
          “Eis que surgiu de 
          Jacó a estrela esperada”. 
          Vimos a estrela no oriente. Mas por que somente os Magos, e poucos 
          outros talvez a viram, quando ela estava tão no alto, que todos os 
          povos poderiam facilmente avistá-la? É porque só eles erguiam os olhos 
          ao alto e punham os seus pensamentos no céu: todos os outros olhavam 
          para o lodo da terra, e nas coisas baixas sepultavam todas as suas 
          aspirações. A luz de Deus não aparece aos homens curvados sobre os 
          prazeres, apegados às coisas que duram pouco, mas somente àqueles que 
          perscrutam o céu e pensam nas coisas eternas. 
          
          
          Apenas os Magos viram o astro, sem demora acorreram. Vimos a estrela e 
          viemos. Eles também tinham família: e as diletas esposas chorosas 
          ter-se-iam estendidas na soleira da porta para não os deixar passar; e 
          os filhos terão estendidos as mãos inocentes para reterem os pais que 
          os abandonavam. No entanto, eles partem: Vimos a estrela e viemos. 
          
          Eles 
          também tinham negócios urgentes: o governo de todo um povo, os 
          inimigos a repelir e o trono a assegurar. E, no entanto, partem: que 
          lhes importa se na volta não mais acharem casa, não mais acharem 
          trono, e, escarnecidos por todos, tiverem de se desterrar mendigando: 
          E vão: Vimos a estrela e viemos. 
          
          Eles 
          também sabiam avaliar bem as dificuldades e os perigos da empresa: 
          tinham um palácio de mármore e de ouro, e punham-se a caminho por 
          selvas e desertos, à chuva e ao sol. Tinham guardas e exércitos, e 
          expunham-se quase inermes aos assassinos da estrada e das trevas. 
          Tinham comidas saborosas e vinhos perfumados, e iam ao encontro da 
          fome e da sede, e mesmo da morte. Vimos a estrela e viemos. Assim 
          fizeram os Magos: mas, ao nos confrontarmos com eles, quantos remorsos 
          não deveríamos sentir! Há anos que Deus nos chama, e nós lhe 
          resistimos, por não sabermos renunciar aos laços do sangue e da 
          amizade, aos prazeres da vida, etc. 
          
          Vão 
          os Magos: o rumor da sua caravana que passa pelas casas adormecidas 
          acorda alguém. Este vem à janela, olha aqueles viandantes que correm, 
          na noite escura e fria, atrás de uma estrela. “São uns loucos”, 
          diz ele, e volta para a cama. Vão os Magos: e atravessam aldeias em 
          festa. A multidão que dança, que toca, que canta, que come, olha-os 
          passar cinzentos de pó, e ri-se deles. Porém eles não param: avante, 
          avante, rumo ao berço do Rei dos reis. Nós, ao contrário, quantas 
          vezes temos parado de praticar uma boa obra, um ato de fé, porque 
          alguém ousou insultar-nos ou escarnecer-nos! 
          
          Edições Theologica 
          comenta: “O rei Herodes”: O Novo Testamento 
          fala de quatro Herodes. O primeiro, Herodes o Grande, a que se referem 
          este passo e o seguinte. O segundo, seu filho, Herodes Antipas, que 
          mandou degolar São João Batista (Mt 14, 1-12) e que ultrajou Jesus 
          durante a Paixão (Lc 23, 7-11). O terceiro, Herodes Agripa I, neto de 
          Herodes o Grande, que mandou matar o Apóstolo São Tiago, o Maior (At 
          12,1-3), que meteu no cárcere Pedro (At 12,4-7), e que morreu 
          repentinamente e ‘de um modo misterioso’ (At 12, 20-23). O quarto, 
          Herodes Agripa II, filho do anterior, perante quem São Paulo, 
          prisioneiro em Cesaréia marítima, se defendeu da acusação dos judeus 
          (At 25, 23). 
          
          Herodes o 
          Grande, do qual aqui se trata, era filho de pais não judeus; tinha 
          conseguido reinar sobre estes com a ajuda e como vassalo do Império 
          Romano. Desenvolveu uma grande atividade política e, entre outras 
          coisas, reconstruiu luxuosamente o Templo de Jerusalém. Sofreu de 
          mania de perseguição, vendo por toda a parte competidores da sua 
          realeza; célebre pela sua crueldade, matou a maioria das dez mulheres 
          que teve, alguns filhos e bom número de pessoas influentes na 
          sociedade do seu tempo. Estes dados procedem principalmente do 
          historiador judeu Flávio Josefo (que escreveu em fins do século I) e 
          concordam com a figura cruel que conhecemos pelos Evangelhos. 
          
          “Uns 
          Magos”: Estes personagens eram uns sábios provenientes provavelmente 
          da Pérsia e dedicados ao estudo das estrelas. Por não serem judeus, 
          são como que as primícias dos gentios que receberão o chamamento à 
          salvação em Cristo. A adoração dos magos foi recolhida pela tradição 
          mais antiga: já em começos do séc. II se encontra a cena nas pinturas 
          das catacumbas de Priscila em Roma”.
           
          
          Os judeus tinham 
          difundido pelo Oriente as esperanças messiânicas. Os magos tinham 
          conhecimento do Messias esperado, rei dos Judeus. O qual, segundo 
          idéias difundidas naquela época, devia ter, como personagem muito 
          importante na história universal, uma estrela relacionada com o seu 
          nascimento. Deus quis valer-se destas concepções para conduzir até 
          Cristo os representantes dos gentios, que haviam de crer. 
          
          
          “Precisamente tinha-lhes ocultado antes, para que, ao encontrarem-se 
          sem guia, não tivessem outro remédio senão perguntar aos judeus, e 
          ficasse manifesto a todos o nascimento de Cristo”
          (São João 
          Crisóstomo, Hom. sobre São Mateus, 7). 
          
          O mesmo São João 
          Crisóstomo explica que “Deus os chama através 
          do que para eles era mais familiar, e mostra-lhes uma estrela grande e 
          maravilhosa, para que os impressione pela sua própria grandeza e 
          formosura” (Hom. sobre 
          São Mateus, 6). O chamamento dos 
          magos, enquanto se dedicam ao seu ofício, é um fato que se repete no 
          chamamento que Deus faz aos homens; chamá-los precisamente entre as 
          ocupações ordinárias da sua vida. Assim chamou Moisés quando 
          pastoreava o rebanho (Ex 3, 1-3), o profeta Eliseu quando lavrava a 
          sua terra com os bois (l Rs 19, 19-20), Amós quando cuidava do seu 
          gado (Am 7,15) “O que a ti te admira, a mim 
          parece-me razoável. — Deus foi-te procurar no exercício da tua 
          profissão? Foi assim que procurou os primeiros: Pedro, André, João e 
          Tiago, junto das redes; Mateus, sentado à mesa dos impostos... E 
          assombra-te! — Paulo, no seu afã de acabar com a semente dos cristãos”
          (São Josemaría Escrivá, 
          Caminho, n.° 799). 
          
          “Tal como 
          os Reis Magos, descobrimos uma estrela que é luz, rumo certo no céu da 
          nossa alma. Vimos a sua estrela no Oriente e viemos adorá-lo. Também 
          nós tivemos esta experiência. Também nós sentimos que, a pouco e 
          pouco, se acendia na nossa alma uma luz nova: o desejo de ser cristãos 
          em plenitude, o desejo, por assim dizer, de tomar Deus a sério” 
          (São Josemaría Escrivá, Cristo que 
          passa, n.° 32), e:
          “Depois de ter admitido ao seu berço os pobres 
          e os ignorantes, chamou Nosso Senhor os sábios e os reis, para mostrar 
          que ele é a fonte de toda luz, que todo poder vem de Deus, e que ele é 
          o Rei dos reis. Os pastores representavam o povo judeu, os Magos 
          simbolizavam as nações pagãs. Jesus veio salvar o mundo inteiro”
          (Dom Duarte Leopoldo). 
          
          Santo Afonso Maria 
          de Ligório escreve: “Jesus nasce pobre numa 
          lapinha: os anjos do céu, é verdade, reconhecem-no por seu Senhor, mas 
          os homens da terra deixam-no abandonado. Vem apenas uns poucos 
          pastores para O adorar. O Redentor, porém, já quer começar a 
          comunicar-nos a graça da Redenção, e por isso começa a manifestar-se 
          aos gentios que menos o conheciam. Manda uma estrela iluminar os 
          santos Magos, para que venham conhecer e adorar o seu Salvador. Foi 
          esta a primeira e também a maior graça que Jesus nos deu: a vocação à 
          fé, à qual sucede a vocação à graça, de que os homens se achavam 
          privados” 
          (Meditações), e: “Esta estrela, segundo Fausto, é mencionada 
          aqui, como confirmando o nascimento do Salvador, concluindo que o 
          livro que refere este acontecimento, deve melhor se chamar Genesidium, 
          isto é, livro da estrela do nascimento” 
          (Santo Agostinho, contra 
          Fausto, 2, 1), e 
          também: “Porém estamos 
          longe de admitir o que eles chamam de destino” 
          (São Gregório Magno, Homiliae in Evangelia, 10), 
          e ainda: “Pela palavra 
          destino, ademais do sentido ordinário na qual é usada pelos homens, 
          entende-se a influência de certas posições dos astros correspondentes 
          à concepção ou ao nascimento dos homens, nos quais alguns vêem um 
          poder independente da vontade de Deus. Este terror, que é de alguns 
          pagãos, deve ser rejeitado por todos. Outros dizem que Deus há dado 
          aos astros esta influência, grave injúria à majestade divina, que nos 
          mostra a corte celestial decretando crimes pelos quais uma cidade da 
          terra deveria ser destruída pela indignação do todo o gênero humano, 
          se essa fosse sua estrela”(Santo Agostinho, De Civitate Dei, 5, 1), 
          e: “Se um homem se faz 
          homicida ou adúltero pela influência de uma estrela, grande é a 
          iniqüidade dessa estrela, porém muito maior é a daquele que a criou; 
          porque Deus, em sua sabedoria infinita, sabendo o porvir e vendo todo 
          o mal que há de produzir essa estrela, Ele já não seria bom; podendo, 
          não quisesse impedi-lo, ou não seria Todo-poderoso, se não pudera 
          impedi-lo. Ademais, se é uma estrela, a que nos faz bons ou maus, 
          nossas virtudes não merecem prêmio nem nossos vícios merecem castigos, 
          porque nossos atos não dependeriam da nossa vontade. Por que, há de 
          ser eu castigado, por um mal que não fiz, por minha própria vontade, 
          senão, obrigado pela fatalidade? Enfim, os mandamentos de Deus 
          proibindo o mal e aconselhando o bem, não se destroem por esta 
          doutrina insensata? Quem pode mandar a um homem, evitar o mal que não 
          pode evitar e exortá-lo ao bem que não pode fazer?” 
          (Pseudo-Crisóstomo, Opus 
          Imperfectum super Matthaeum, hom), e também: 
          “Inúteis são as exortações quando se dirigem àquele que vive sob a 
          fatalidade. A bondade divina e sua providência ficam desterradas do 
          mundo por esta doutrina, segundo a qual o homem não é outra coisa que 
          um instrumento movido pela influência ou pela ação das estrelas. Estes 
          movimentos celestes, dizem seus sequazes, destruindo assim, os que tal 
          fato, afirmam não somente a realidade de tudo o que existe em nós, 
          senão a natureza do ser contingente. Isto não é mais que destruir 
          todas as coisas, e o que é mais, o livre arbítrio. É preciso, no 
          entanto, que nós existamos em liberdade” 
          (São Gregório de Nissa), 
          e ainda: “Se nós não 
          colocarmos o nascimento de nenhum homem sob a ação fatal dos astros, 
          para liberar de toda determinação do destino, o arbítrio da vontade, 
          com muito mais razão, não devemos admitir que o nascimento temporal do 
          Criador de todas as coisas haja estado sujeito a esta influência. Esta 
          estrela que viram os magos à entrada do berço do Salvador, não 
          significava, pois, a fatalidade e a dominação, senão que se 
          manifestava como ao seu serviço e para dar testemunho. Não era 
          portanto, do número daqueles astros, que desde o princípio do mundo, 
          seguem sob a vontade do Criador, a ordem prescrita de seus caminhos; 
          senão que era um novo astro criado para o parto da Virgem e para 
          oferecer seu ministério, marchando diante deles, aos magos que 
          buscavam a Cristo e conduzi-los ao lugar onde estava o Verbo, o Menino 
          Deus. Pois, quem são os astrólogos que se atreveram a crer em uma 
          fatalidade dos astros a ponto de afirmar que uma estrela abandone seu 
          curso para ir ao lugar no qual se encontra o recém-nascido? Longe de 
          provar que as estrelas abandonem seu caminho e alterem a ordem 
          estabelecida por um menino que nasce entre os homens, ensinam, ao 
          contrário, que a sorte do menino é a que está ligada a ordem das 
          estrelas. Pelo qual, se esta estrela era daquelas que no céu cumpre 
          seu destino: como poderiam julgar o que Cristo havia de fazer, aquele 
          astro que, ao nascer de Cristo, havia sido obrigado a abandonar seus 
          caminhos? Se, pelo contrário, e o que é mais provável, a estrela 
          nasceu para dar a conhecer a Cristo, não podemos dizer que Cristo 
          nasceu porque ela existia, e sim que ela existia porque Cristo nasceu. 
          De sorte poderia dizer-se, com razão, que não foi a estrela o destino 
          de Cristo e sim que Cristo foi o destino da estrela, porque Ele foi a 
          causa da existência dela, e não ela a d’Ele” 
          (Santo Agostinho, contra 
          Fausto, 2, 5), e: “Não é próprio da astrologia, averiguar mediante os astros quem são 
          os que nascem, senão conjeturar o destino do homem através da hora de 
          seu nascimento. Agora bem, os magos não conheceram o tempo do 
          nascimento para adivinhar pela posição das estrelas o porvir do 
          recém-nascido, senão o contrário, dado que disseram: ‘Avistamos sua 
          estrela” (São João 
          Crisóstomo, Homilia in Matthaeum, Hom. 6), 
          e também: “Isto é, sua 
          própria estrela, a que Ele há criado para anunciar-se” 
          (A Glosa), e ainda: 
          “Os anjos anunciam aos pastores que há nascido Cristo; aos magos, uma 
          estrela. O céu com sua linguagem, fala a uns e a outros, porque a dos 
          profetas havia cessado. Os anjos habitam os céus que embelezam os 
          astros; os céus, pois, cantam, a uns e a outros as glórias do Senhor”
          (Santo Agostinho, 
          Sermões, 204, 1), e:
          “Com razão, um ser 
          racional, isto é, um anjo foi enviado a predicar aos judeus e aos 
          gentios que usavam a razão, enquanto que, os gentios, indóceis à 
          razão, são conduzidos ao berço de Jesus Cristo, não pela palavra 
          humana, senão pela aparição de um sinal. As profecias haviam sido 
          dadas aos primeiros, porque eram fiéis; as maravilhas aos segundos, a 
          causa de sua infidelidade. Os apóstolos predicaram Jesus Cristo às 
          nações quando Ele havia chegado à plenitude da sua idade, enquanto que 
          uma estrela lhes havia anunciado quando era pequeno e não podia 
          articular palavra” 
          (São Gregório Magno, Homilia in Evangelia, 10), e também: “Era o 
          próprio Cristo, esperança das nações, cuja inumerável descendência, 
          havia sido prometida um dia ao justo Abraão, multiplicada não pelo 
          sangue, senão pela fé, e comparada à multidão das estrelas que 
          enfeitam a abóbada celeste; a fim de que o patriarca, a quem a 
          promessa tinha sido feita, a compreendesse como uma geração do céu e 
          não da terra. O nascimento de uma nova estrela é como se os herdeiros 
          figurados pelas estrelas fossem chamados a formar esta nova geração, 
          com a mesma finalidade que havia servido de testemunho que o céu dava 
          a terra, servisse como uma homenagem que a terra prestava ao céu”
          (São Leão Magno, In Sermone 3 de Epiphania), 
          e ainda: “É evidente 
          que aquela não deve ter sido uma estrela ordinária; dado que o caminho 
          que recorrera, nunca foi o de uma estrela ordinária, do norte ao sul, 
          a qual é a posição da Palestina em relação à Pérsia. Em segundo lugar, 
          isto pode também deduzir-se do tempo em que apareceu, porque não era 
          visível somente à noite, mas também ao meio-dia, o qual não acontece 
          com nenhuma estrela, nem mesmo com a lua. Em terceiro lugar, umas 
          vezes aparecia e outras, desaparecia, ocultando-se quando os magos 
          entraram em Jerusalém e aparecendo novamente quando deixaram a 
          Herodes; não tendo tampouco um andar fixo nem marcha determinada, 
          senão que quando aos magos lhes era conveniente caminhar, ela 
          caminhava, e quando lhes era conveniente deter-se, ela se detinha, da 
          mesma maneira que acontecia com a coluna de nuvem no deserto. E não 
          anunciava o parto da Virgem permanecendo nas alturas, senão 
          descendendo delas, o qual não é próprio de uma estrela ordinária, e 
          sim de uma vontade inteligente, de onde podemos deduzir que não era 
          simplesmente uma estrela, e sim uma virtude invisível que havia tomado 
          esta forma” (São 
          João Crisóstomo, Homiliae in Matthaeum, Hom. 6), e: “Alguns crêem 
          que esta estrela era o Espírito Santo, aparecendo aos magos sob esta 
          forma, o mesmo que tinha de descender mais tarde em forma de pombo 
          sobre o Senhor em seu batismo. Outros crêem que foi um anjo, e que o 
          mesmo que apareceu aos pastores, apareceu também aos magos” 
          (Remígio), 
          e também: “Mas dirás: 
          Quem lhes havia dito que esta estrela significava o nascimento do 
          Salvador? Sem dúvida pela revelação dos anjos. Mas anjos bons ou maus? 
          Certamente que até os anjos maus, os próprios demônios, hão confessado 
          que Ele era filho de Deus. Mas, por que não havia de ser por revelação 
          dos anjos bons, toda vez que, adorando a Cristo encontravam sua 
          salvação e não sua ruína? Os anjos puderam lhes dizer: ‘A estrela que 
          haveis visto é a de Cristo: ide, adora-lhe no lugar em que há nascido 
          e vede ao mesmo tempo quem é quão grande é” 
          (Santo Agostinho, Sermões, 
          374, 1), e: 
          “Prossegue o evangelista: ‘No Oriente’. Há dúvidas se a estrela 
          apareceu no oriente, ou se esta expressão indica somente que eles, 
          desde o oriente, onde estavam, a viram em direção ao ocidente. Ela 
          pôde muito bem aparecer no oriente e conduzi-los a Jerusalém” 
          (A Glosa). 
          
          Em Mt 
          2, 3-6 diz: “Ouvindo 
          isso, o rei Herodes ficou alarmado e com ele toda Jerusalém. E, 
          convocando todos os chefes dos sacerdotes e os escribas do povo, 
          procurou saber deles onde havia de nascer o Cristo. Eles responderam: 
          ‘Em Belém da Judéia, pois é isto que foi escrito pelo profeta: E tu, 
          Belém, terra de Judá, de modo algum és o menor entre os clãs de Judá, 
          pois de ti sairá um chefe que apascentará Israel, o meu povo”. 
          
          
          Edições Theologica comenta: 
          “No tempo de Jesus 
          encontrava-se amplamente difundida em todos os ambientes judaicos a 
          esperança da iminente vinda do Messias, concebido sobretudo como rei à 
          maneira de um novo e maior Davi. Daqui a perturbação de Herodes, rei 
          dos Judeus, com o apoio dos romanos e cruelmente zeloso da defesa da 
          sua coroa. Pela sua ambição política e pela sua carência de sentido 
          religioso, Herodes viu o possível Messias-Rei como um perigoso 
          competidor do seu poder temporal. 
          
          No tempo 
          de Nosso Senhor, tanto o regime monárquico de Herodes como o regime de 
          ocupação direta romana, por meio dos procuradores tinham respeitado o 
          organismo representativo do próprio povo judaico, constituído pelo 
          Sinédrio. Este era, pois, o grande conselho da nação, que intervinha 
          nos assuntos ordinários, religiosos ou civis. A execução dos assuntos 
          mais importantes necessitava da aprovação, quer do rei (no tempo da 
          monarquia herodiana), quer do procurador (no tempo da ocupação direta 
          da Palestina pelo Império Romano). 
          
          Em 
          recordação de Ex 24, 1-9 e Nm 11, 16, o Sinédrio compunha-se de 71 
          membros, presididos pelo sumo sacerdote, escolhidos entre os seguintes 
          três estratos ou grupos do povo judaico: 1.° Os príncipes dos 
          sacerdotes, quer dizer, os chefes das principais famílias sacerdotais, 
          entre as quais costumava recair a nomeação do sumo sacerdote, e 
          aqueles que tinham cessado neste cargo. 2.° Os anciãos, que eram os 
          chefes das principais famílias. 3.° Os escribas, que eram os doutores 
          da lei ou peritos nas questões legais e religiosas; a maior parte 
          destes escribas pertencia ao partido ou escola dos fariseus. 
          
          Neste 
          passo de Mateus só se mencionam o l.° e 3.° destes grupos que 
          compunham o Sinédrio: isso é lógico, visto que o grupo dos anciãos não 
          era entendido no assunto do nascimento do Messias, que era uma questão 
          eminentemente religiosa. 
          
          A profecia 
          a que se refere o passo é concretamente a de Miquéias 5, 1. É de notar 
          que na tradição judaica se interpretava esta profecia como predição do 
          lugar exato do nascimento do Messias, e que este era um personagem 
          determinado. 
          
          O livro 
          sagrado ensina-nos uma vez mais que em Jesus Cristo se cumprem as 
          profecias do Antigo Testamento”, 
          e: “Herodes, 
          constituído rei da Judéia pelos romanos, receava que o Salvador fosse 
          um rei como outros e viesse ocupar o seu lugar. Sabia que os judeus o 
          esperavam e fundavam nele grandes esperanças, pois Jesus era chamado o 
          Cristo, que significa Messias na língua dos Judeus” 
          (Dom Duarte Leopoldo). 
          
          Santo 
          Agostinho escreve: 
          “Assim como os magos desejam um Redentor, Herodes teme um sucessor. 
          Isto é o que significam aquelas palavras: ‘E o Rei Herodes, quando o 
          ouviu, turbou-se” 
          (In Sermonibus de Epiphania), 
          e: “O diz rei, para 
          que da comparação daquele que se busca, lhe pareça estranho” 
          (A Glosa), e também: 
          “Sendo ele idumeu, treme quando ouve falar de um rei dos judeus. Teme 
          que o cetro, voltando às mãos dos judeus, lhe seja arrancado, e que 
          sua raça caia para sempre do trono. Quanto maior é o poder, maiores 
          são os perigos e temores que o cercam. Assim como as árvores, os ramos 
          mais elevados são agitados pelo vento mais ligeiro; nos homens, quanto 
          mais elevado é o cargo que possuem, mais facilmente são agitados pelo 
          leve anúncio do menor sucesso; a diferença daqueles de condição 
          humilde, que vivem quase sempre em paz, como no fundo de um aprazível 
          vale” (Pseudo-Crisóstomo, 
          Opus Imperfectum super Matthaeum, Hom. 2), 
          e ainda: “O que será 
          do tribunal do juiz quando o berço do Menino fizer tremer aos reis 
          soberbos? Temam estes, pois, ao que está sentado à destra do Pai, 
          aquele que enquanto era amamentado pelos seios da sua Mãe foi temido 
          por um rei ímpio” 
          (Santo Agostinho, Sermões, 200, 2), 
          e: “Não obstante, são 
          vãos teus temores, oh, Herodes! Teus reinos são pequenos para Cristo. 
          O soberano do mundo não pode se contentar com os estreitos limites 
          aonde alcança teu domínio. Aquele que tu não queres que reine em 
          Judéia, reina em todas as partes” 
          (São Leão Magno, In Sermone 
          4 de Epiphania), e 
          também: “Herodes não 
          teme somente por ele, mas também pelos romanos, que haviam decretado 
          que ninguém fosse proclamado rei ou deus, sem seu consentimento”
          (A Glosa), e ainda: 
          “Ao aproximar-se o Rei do céu, turba-se o rei da terra; porque quando 
          as alturas do céu se descobram, fica confundida a grandeza da terra”
          (São Gregório Magno, 
          Homiliae in Evangelia, 10), e: “Nesta 
          circunstância, Herodes faz o papel do próprio Satanás, do qual havia 
          sido instigador antes e agora se mostra imitador, o mais resolutivo e 
          decidido, atormentado pela vocação dos gentios e pela destruição de 
          seu império” (São Leão Magno, In Sermone 6 de Epiphania), 
          e também: “Cada um é 
          atormentado por um cuidado diferente, e ambos temem um sucessor; 
          Herodes, um rei da terra; Satanás, ao Rei do céu. Eis aqui que o 
          próprio povo judeu se turba, aquele povo que devia alegrar-se ao ouvir 
          a notícia de que um rei judeu acabara de nascer. E turba-se porque os 
          ímpios não podem alegrar-se com a vinda do Justo; ou talvez por temor 
          de que o rei enojar-se-ia contra eles. Isto significam aquelas 
          palavras: “E toda Jerusalém com Ele” 
          (Pseudo-Crisóstomo, Opus Imperfectum super Matthaeum, Hom. 2), 
          e ainda: “O povo 
          participava, talvez por medo, das angústias de Herodes. E é o que 
          sucede com freqüência, que o povo favorece mais do que devia aos 
          tiranos cuja opressão sofre e tolera. ‘E convocando todos os príncipes 
          dos sacerdotes e os escribas do povo’. É de notar-se aqui, a 
          diligência com que busca a Cristo, o qual  faz, com o fim, caso o 
          encontre, realizar os planos que mais tarde põe em prática, e se não, 
          desculpar-se com os romanos” 
          (A Glosa), e: “São 
          chamados escribas, não somente pelo cargo ou oficio de escrever os 
          livros da lei, senão principalmente porque interpretam as Sagradas 
          Escrituras. Eram os doutores da lei. O evangelho prossegue: 
          ‘Perguntava-lhes onde havia de nascer o Cristo’. Aqui nota-se, que não 
          diz: ‘onde há nascido o Cristo’, e sim ‘onde havia de nascer’. Ele  
          lhes pergunta com astúcia para poder conhecer se eles alegravam-se do 
          nascimento do novo rei. Os chama de Cristo porque sabia que o rei dos 
          judeus devia ser ungido” 
          (Remígio), e 
          também: “Por que perguntava Herodes se não cria nas escrituras? E se 
          cria nelas, como podia jactar-se de fazer desaparecer Aquele que 
          diziam havia de ser rei? Estava instigado pelo diabo que cria que as 
          Escrituras não mentem, assim são todos os pecadores: eles não crêem 
          totalmente; inclusive aquilo que crêem, e se crêem é pelo brilho 
          invencível da verdade que não pode estar oculto, e se não crêem é 
          porque são cegados pelo inimigo. Se sua fé fosse perfeita, eles 
          viveriam não como se houvessem de permanecer neste mundo, e sim, como 
          viajantes e peregrinos que muito em breve hão de abandoná-lo. ‘E eles 
          disseram: Em Belém da Judéia”( 
          Pseudo-Crisóstomo, Opus Imperfectum super Matthaeum, Hom. 2).
           
            
          
          “Eles 
          responderam: ‘Em Belém da Judéia, pois é isto que foi escrito pelo 
          profeta: E tu, Belém, terra de Judá, de modo algum és o menor entre os 
          clãs de Judá, pois de ti sairá um chefe que apascentará Israel, o meu 
          povo”. 
          
          São Leão Magno escreve: “Os magos, que 
          haviam tido um sinal humano do nascimento do rei, creram que deviam 
          buscar-lhe na cidade; mas aquele que havia tomado a forma de servo e 
          havia vindo para ser julgado e não para julgar; escolheu a Belém para 
          seu nascimento e a Jerusalém para sua paixão” 
          (In Sermone 1 de Epiphania), 
          e: “Se houvesse 
          escolhido a grande cidade de Roma, tinha-se crido que a mudança 
          verificada no mundo era resultado do poder de seus habitantes; se 
          houvesse nascido filho de um imperador, tinha-se atribuído este 
          resultado a seu poder. O que fez? Escolher tudo de humilde, tudo de 
          pobre e vil para que não existisse a menor dúvida de que era o poder 
          divino o que fazia a transformação do universo. Eis aqui porque 
          escolheu uma Mãe pobre e uma pátria ainda mais pobre; e eis aqui 
          também o motivo do qual carece do mais necessário para viver. Isto é o 
          que nos ensina o presépio” 
          (Teodoreto, Homilia 1 In 
          Concilio Ephesino), 
          e também: 
          “Com razão nasce em Belém, 
          pois Belém significa Casa do pão: porque Ele mesmo é quem disse: “Eu 
          sou o pão vivo que desci do céu” 
          (São Gregório Magno, 
          Homiliae in Evangelia, 8), e ainda: 
          “Mas os judeus omitiram como 
          se tem dito estas palavras, e mudaram outras; seja por ignorância, 
          seja para fazer mais claro o sentido da profecia a Herodes que era um 
          estrangeiro. Assim, no lugar da palavra de Éfrata, que era palavra 
          antiquada e talvez desconhecida de Herodes, colocaram Terra de Judá; e 
          em vez daquilo que havia dito o profeta: ‘És a menor entre as mil 
          cidades de Judá’, querendo dar a entender seu pequeno porte ou pouca 
          importância em quanto ao número de seus habitantes, disseram: ‘Não és 
          a menor entre as principais de Judá’ para fazer ressaltar mais a 
          dignidade que havia de ter com o nascimento de tal príncipe. É dizer, 
          tu és a maior entre as cidades que tem produzido reis” 
          (A Glosa), e: “Ou 
          bem: Ainda que pareças a menor dentre as cidades principais da terra, 
          não o és em realidade porque de teu seio nascerá um soberano que 
          regerá a meu povo Israel. Este soberano é Cristo que rege e governa ao 
          povo fiel” (Remígio), 
          e também: “Eis de 
          notar a exatidão da profecia que não diz: ‘em Belém estará’ e sim ‘de 
          Belém sairá’, manifestando desta forma, que ali somente nasceria. Como 
          hão de se referir estas palavras a Zorobabel segundo alguns autores 
          crêem? Seu nascimento não foi desde o começo dos séculos: não nasceu 
          em Belém e nem na Judéia, e sim na Babilônia. Outro novo testemunho 
          nos dá as palavras: ‘Não és a menor, porque de ti sairá’ porque entre 
          os judeus, a nenhum há dado tanta celebridade à aldeia em qual 
          nascera, como Cristo, cujo presépio e cuja choça são continuamente 
          visitadas por peregrinos de todas as partes do mundo depois de seu 
          nascimento. E se o profeta não disse: ‘De ti sairá o filho de Deus’, e 
          sim: ‘De ti sairá um soberano que regerá meu povo de Israel’, foi 
          porque convinha condescender no começo com os judeus a fim de que não 
          escandalizassem e predicar o que era concernente à salvação da 
          linhagem humana para conduzi-los melhor a este fim. As palavras: ‘Que 
          duro meu povo de Israel’ tem aqui um sentido figurado, porque Israel 
          quer dizer todos aqueles judeus que creram. Se a todos não regeu 
          Cristo, foi culpa deles. Se não disse nada dos gentios, foi para não 
          escandalizar aos judeus. Veja quão admirável providência! Os judeus e 
          os magos instruem-se uns aos outros. Os judeus ouvem dizer aos magos 
          que uma estrela há anunciado a Cristo no oriente; e os magos ouvem 
          dizer aos judeus que, as antigas profecias, o haviam anunciado para 
          que, apoiados neste duplo testemunho, buscassem com fé mais ardente 
          àquele que haviam anunciado a aparição de uma nova estrela e a 
          autoridade dos profetas” 
          (São João Crisóstomo, 
          Homiliae in Matthaeum, Hom. 7), 
          e ainda: 
          “A estrela que conduziu os 
          magos ao lugar em que se encontravam o Salvador e sua Mãe Virgem, 
          tivesse podido conduzi-los a Jerusalém. Entretanto, ocultou-se da sua 
          vista e não tornou a aparecer senão depois que perguntaram aos judeus, 
          e estes lhes responderam: ‘Em Belém de Judá’. Nisto, os judeus foram 
          semelhantes aos artífices que construíram a arca de Noé e que 
          pereceram no dilúvio, depois de ter preparado a outros, meios para 
          salvar-se. Ou aquelas pedras que nos caminhos marcam as milhas, pois 
          enquanto servem de guia aos caminhantes, elas ficam quietas. Ouviram e 
          partiram ao ponto, os que perguntavam, enquanto que os doutores 
          falaram e ficaram em Jerusalém. Atualmente, os judeus nos oferecem um 
          exemplo semelhante: pois há muitos pagãos que quando lhes apresentamos 
          testemunhos irrecusáveis, para provar-lhes que Jesus Cristo foi 
          anunciado antes de seu nascimento, preferem, acudir aos códices dos 
          judeus; tendo os nossos como suspeitos e como invenções dos cristãos 
          e, à maneira que os magos em outro tempo deixam aos judeus em suas vãs 
          leituras; eles caminham por adorar na fé” 
          (Santo Agostinho, 
          Sermões, 374,2 e 373,4). 
          
          Em Mt 2, 7-9 diz: 
          “Então Herodes mandou chamar secretamente os magos e procurou 
          certificar-se com eles a respeito do tempo em que a estrela tinha 
          aparecido. E, enviando-os a Belém, disse-lhes: ‘Ide e procurai obter 
          informações exatas a respeito do menino e, ao encontrá-lo, avisai-me, 
          para que também eu vá homenageá-lo’. A essas palavras do rei, eles 
          partiram. E eis que a estrela que tinham visto no seu surgir ia à 
          frente deles até que parou sobre o lugar onde se encontrava o menino”. 
          
          São 
          Quodvultdeus escreve: 
          “Nasceu um pequenino que é o grande Rei. Os magos chegam de longe e 
          vêm adorar, ainda deitado no presépio, aquele que reina no céu e na 
          terra. Ao anunciarem os magos o nascimento de um Rei, Herodes se 
          perturba e, para não perder o seu reino, quer matar o recém-nascido. 
          No entanto, se tivesse acreditado nele, poderia reinar com segurança 
          nesta terra e para sempre na outra vida. 
          
          Por que 
          temes, Herodes, ao ouvir que nasceu um Rei? Ele não veio para te 
          destronar, mas para vencer o demônio. Como não compreendes isso, tu te 
          perturbas e te enfureces; e, para que não escape o único menino que 
          procuras, tens a crueldade de matar tantos outros” 
          (Sermões). 
          
          Pseudo-Crisóstomo 
          escreve: “Ainda que Herodes ouviu uma resposta 
          que merecia inteiro crédito por dois motivos, pelo testemunho dos 
          sacerdotes e pelas palavras do profeta, porém não se dobra em sua 
          soberba a render homenagem ao rei que vai nascer. Antes, pelo 
          contrário, deixa-se levar por seu culpável desejo de desfazer-se dele 
          com astúcia. E como compreendeu que não podia conquistar aos magos com 
          adulações, nem aterrorizá-los com ameaças, nem suborná-los com ouro 
          para que consentissem na morte do futuro rei, por isso tratou de 
          enganá-los. Isto é o que querem dizer estas palavras: ‘Então Herodes, 
          chamando em segredo aos magos’. Ele os chama em segredo para que os 
          judeus não se dessem conta de quem ele desconfiava, temendo que 
          entrassem no desejo de ter um rei da sua nação e frustrassem seus 
          planos. Com grande cuidado lhes pergunta em que tempo haviam visto a 
          estrela” (Opus Imperfectum super Matthaeum, Hom. 2), 
          e: “E pergunta-lhes com manha porque era muito 
          astuto e temia que os magos, não regressando onde ele estava lhe 
          deixassem sem saber o que fazer para matar ao menino” 
          (Remígio), e também:
          “Talvez esta estrela, tinha sido observada 
          pelos magos, dois anos antes, mas neste caso é preciso admitir que a 
          revelação do que significava não lhes foi feita senão depois do 
          nascimento daquele que anunciava. Porém, depois da revelação do 
          nascimento de Cristo foi quando eles vieram do oriente, e aos treze 
          dias adoraram àquele cujo nascimento lhes havia sido revelado poucos 
          dias antes” 
          (Santo Agostinho, In Sermonibus de Epiphania), 
          e ainda: 
          “Ou talvez, esta estrela, lhes aparecera muito tempo antes a fim de 
          que, apesar do tempo que haviam de utilizar no caminho, pudessem 
          chegar imediatamente depois do nascimento e adorassem ao menino 
          envolvido em fraldas, para que parecesse mais admirável” 
          (São João Crisóstomo, Homiliae In Matthaeum, Hom. 7), 
          e: “Segundo os 
          outros, esta estrela não apareceu até o dia do nascimento do Salvador 
          e desapareceu logo após cumprir seu ministério. São Fulgêncio nos diz: 
          ‘O recém-nascido criou uma nova estrela’. 
          Depois de haver-se informado do tempo e do lugar, Herodes quer 
          conhecer a pessoa do menino, e por isso acrescenta: ‘Ide, e informais 
          bem do menino’. Manda-lhes o que eles por si mesmos haviam de fazer”
          (A Glosa), 
          e também: 
          “Não lhes disse: ‘Informais 
          sobre o rei’ e sim ‘sobre o menino’ porque, nem sequer podia suportar 
          que se lhe desse o nome de príncipe” 
          (São João Crisóstomo, Homiliae In Matthaeum, Hom. 7), 
          e ainda: “Para 
          conduzi-los ali, se finge piedoso e sob o manto de piedade afia a faca 
          dando a seu crime a cor da humildade, procedendo nisto como todos os 
          criminais, que quando querem ferir a alguém em segredo, lhe mostram 
          uma humildade e um afeto que estão muito longe de sentir. Isto é o que 
          quer dizer: ‘E quando o encontrares me avisa” 
          (Pseudo-Crisóstomo, Opus 
          Imperfectum super Matthaeum, Hom. 2), 
          e: 
          “Finge querer prestar-lhe 
          adoração e imagina querer quitar-lhe a vida se o achara. Continua o 
          evangelista: ‘Eles, logo que ouviram isto do rei, foram-se”(São 
          Gregório Magno, Homiliae In Evangelia, 10), 
          e também: 
          “Os magos ouviram de Herodes 
          que buscassem ao Senhor, mas não que voltassem a ele, semelhantes aos 
          bons ouvintes que seguem os conselhos dos pregadores indignos, sem 
          imitar suas obras” 
          (Remígio). 
          
          
          Herodes, o bárbaro Idumeu, filho de um traidor, à traição tomara a 
          coroa real da Judéia. Este monstro de perfídia, que por injustas 
          suspeitas mandara matar Mariamne, sua mulher; que trucidara Alexandra, 
          sua sogra; que fizera estrangular dois filhos seus por temor de que se 
          levantassem para vingar sua mãe; que mandara afogar seu cunhado 
          Aristóbulo e degolar seu cunhado José; quando ele conheceu que do 
          fundo da Caldéia haviam chegado três Magos para procurarem o novo Rei 
          dos Judeus, sobressaltou-se de pavor: 
          “Herodes era Idumeu de origem 
          e filisteu de nascimento; era, pois, um estrangeiro. Assim se cumpria 
          a profecia que anunciava o nascimento do Messias para quando os judeus 
          não fossem mais governados por um príncipe da sua nação”
          (Dom Duarte Leopoldo). 
          
          
          Trêmulo como um malfeitor que sente a justiça nos calcanhares, ele 
          chamou os Magos, muito secretamente, ao seu palácio, e informou-se 
          junto a eles sobre o tempo em que aparecera a estrela; depois 
          despediu-os dizendo: 
          “Ide, achai o Menino; depois dizei-me onde Ele está, para que eu 
          também vá e o adore”. 
          Mas o impostor já incubava a traição. 
          
          Eis 
          aí a arte com que ainda hoje se persegue Jesus nas almas: sob o verniz 
          de uma falsa piedade, e com a astúcia, elas são arrastadas à perdição. 
          
          Às 
          pessoas que cumprem fielmente os seus deveres religiosos, o mundo diz:
          “És um exagerado: não é necessário tudo o que fazes para te 
          salvares; é demais, é demais”. A uma pessoa que vive mortificada e 
          solícita para com sua família, o mundo diz: “Mas por que queres 
          amargurar a tua vida? Por que te obstinas em viveres como um frade? 
          Deus nos fez de carne para nós gozarmos na alegria, como fazem todos”. 
          
          Ai 
          daqueles que se deixam enganar por estas lisonjas e, perdendo a 
          confiança, se volvem para trás, para o mundo: esses entregam o Menino 
          Jesus nas mãos de Herodes. 
          
          Este, 
          não vendo voltar os Magos para lhe revelarem o lugar onde aparecera o 
          novo herdeiro do trono de Davi, percebeu ter sido logrado. Num ímpeto 
          bestial de ferocidade, mandou que matassem todos os meninos. Mas o Rei 
          dos reis já estava a salvo, rumo ao Egito. 
          
          A 
          simples recordação da crueldade deste príncipe faz-nos horror, e não 
          podemos imaginar que um exemplo tão bárbaro ainda ache no meio de nós 
          imitadores. Todavia o mundo está cheio desta raça de perseguidores, e, 
          se a Igreja já não é mais afligida por tiranos sanguinários, é 
          dilacerada pelos escândalos que renovam a matança dos inocentes. 
          Certas publicações mais ou menos ilustradas, ou certas modas mais ou 
          menos imodestas, certos discursos blasfemos e chulos, que outra coisa 
          são senão as espadas com que todo dia Herodes esgana os inocentes? 
          Acaso ainda não há nações em que se tenta matar espiritualmente todas 
          as novas gerações com uma educação atéia e pagã? Ali o escândalo 
          tornou-se coletivo e compulsório. 
          
          
          Escreve Santo Agostinho: 
          “Ó escandalosos, vós 
          perseguis em vossos irmãos aquilo que o próprio Herodes não perseguiu: 
          ele não extinguia senão a vida, e vós extinguis a inocência e a 
          virtude: ele não violava senão o corpo, e vós violais as almas”. 
          
          O 
          luxurioso e supersticioso Herodes, que, contanto que gozasse a vida, 
          fez guerra a Cristo, não teve mais um só instante de paz nem na Judéia 
          nem dentro de si. 
          
          Os 
          três Magos, que, contanto que adorassem Jesus, haviam renunciado a 
          todos os gozos que a vida pode dar, acharam a verdadeira alegria que 
          dessedenta a alma para sempre. Quem procura Jesus procura a própria 
          felicidade; e quem o acha, acha a felicidade. 
          
          
          Edições Theologica comenta: 
          “Herodes pretendia saber com exatidão onde estava o Menino, não 
          precisamente para O adorar, como dizia, mas para se livrar d'Ele, 
          segundo a visão puramente política que tinha o então rei dos Judeus. A 
          sua astúcia e maldade não podem impedir que se cumpram os desígnios de 
          Deus. Por cima dos cálculos de Herodes e da sua ambição, estavam a 
          sabedoria e o poder divinos para realizar a salvação”. 
          
          São Josemaría Escrivá escreve: “Quase sempre por 
          nossa culpa, em certos momentos da nossa vida interior, acontece-nos o 
          que aconteceu na viagem dos Reis Magos: a estrela oculta-se (...). Que 
          havemos de fazer então? Seguir o exemplo daqueles homens santos: 
          perguntar. Herodes serviu-se da ciência para proceder de modo injusto; 
          os Reis Magos utilizam-na para fazer o bem. Mas nós, cristãos, não 
          temos necessidade de perguntar a Herodes ou aos sábios da Terra. 
          Cristo deu à Sua Igreja a segurança da doutrina, a corrente de graça 
          dos Sacramentos; e providenciou para que haja pessoas que nos 
          orientem, que nos conduzam, que nos recordem constantemente o caminho”. 
            
          
          “A essas 
          palavras do rei, eles partiram. E eis que a estrela que tinham visto 
          no seu surgir ia à frente deles até que parou sobre o lugar onde se 
          encontrava o menino”. 
          
          
          Pseudo-Crisóstomo escreve: 
          “Esta passagem indica 
          claramente que a estrela, depois de ter guiado os magos a Jerusalém, 
          ocultou-se para obrigar-lhes a entrar na cidade e perguntar aos seus 
          moradores sobre Cristo, divulgando desta forma, o mistério de seu 
          nascimento. Isto por duas razões. Em primeiro lugar, para confundir 
          aos judeus, porque sendo gentios, somente com a aparição da estrela 
          buscavam ao Salvador atravessando províncias estrangeiras, enquanto 
          eles, que liam todos os dias as profecias sobre Cristo, não tinham ido 
          buscá-lo havendo nascido em seu próprio país. Em segundo lugar, para 
          que servisse de confusão e opróbrio aos sacerdotes que, perguntados 
          por Herodes sobre onde devia nascer Cristo, responderam: ‘Em Belém de 
          Judá’, os mesmos que interrogando a Herodes sobre Cristo, não sabiam 
          nada d’Ele. Por isso, depois desta pergunta e resposta acrescenta: 
          ‘Eis aqui a estrela que havim visto no Oriente ia adiante deles’, para 
          que vendo a obediência desta estrela, pudessem compreender a dignidade 
          e grandeza do novo Rei” 
          (Opus Imperfectum super 
          Matthaeum, Hom. 2), 
          e: “A estrela, para 
          prestar uma obediência mais submissa a Cristo, conteve sua corrida até 
          conduzir aos magos onde estava o menino; prestou-lhes vassalagem, mas 
          não os mandou. Depois de haver prestado ao novo Rei seus adoradores, 
          inundou a gruta de uma luz claríssima e depois de ter iluminado com 
          seus raios o albergue do divino menino, desapareceu. E as palavras 
          significam isto: ‘Até que, chegando se deteve, onde estava o menino”
          (Santo Agostinho, In Sermonibus de Epiphania), 
          e também: “O que tem 
          de estranho que o Sol da Justiça nascente se manifeste aos homens, 
          precedido de uma estrela? Ela se detém sobre a cabeça do menino como 
          para dizer: ‘Aqui está’. A que não podia fazê-lo por meio de palavras, 
          o faz detendo-se” (Pseudo-Crisóstomo, 
          Opus Imperfectum super Matthaeum, Hom. 2), 
          e ainda: “Vê-se aqui, 
          que a estrela estava colocada no ar e muito perto do albergue em que 
          estava o menino, pois de outra forma, não haveriam distinguido esta 
          casa das demais” (A 
          Glosa), e: 
          “Esta estrela é o caminho, e o caminho é Cristo, pois pelo mistério da 
          sua encarnação, Cristo é nossa estrela, astro brilhante da manhã que 
          não se vê onde está Herodes, mas que volta a aparecer ali onde está o 
          Salvador e ensina o caminho” 
          (Santo Ambrósio, In Lucam, 
          2,45), e também:
          “Talvez a estrela, 
          significa a graça de Deus e Herodes o diabo. Aquele que por pecado, se 
          sujeita ao império de Satanás, ao fim perde a graça. Mas, si se 
          arrepende pela penitência, ao fim volta a encontrá-la, e não a 
          abandona até que o conduz à casa do menino, isto é, à Igreja” 
          (Remígio), 
          e ainda: “A estrela é 
          a fé iluminando nossas almas, levando-as a Cristo, da qual, vêm-se 
          privados os magos apenas se dirigem aos judeus, porque ao pedir 
          conselho aos malvados, perde-se a verdadeira luz da verdade (Mt 2, 
          10-11)” (A Glosa). 
          
          Em Mt 
          2, 10-11 diz: “Eles, 
          revendo a estrela, alegraram-se imensamente. Ao entrar na casa, viram 
          o menino com Maria, sua mãe, e, prostrando-se, o homenagearam. Em 
          seguida, abriram seus cofres e ofereceram-lhe presentes: ouro, incenso 
          e mirra”. 
          
          Ao 
          entrarem em Jerusalém, a estrela desapareceu: os Magos acharam-se 
          perdidos depois de tanto caminho e de tanta fadiga, numa terra 
          estrangeira e hostil. Então o Deus que eles procuravam assim lhes 
          pagava? Não eram estes os sentimentos dos Magos: sem tremerem na fé, 
          eles se dirigiram aos sacerdotes e lhes perguntaram onde nascera o Rei 
          dos reis. Belo exemplo de tranqüilidade nas tribulações! 
          
          
          Finalmente, numa pobre casa acharam o Menino divino com Maria sua mãe. 
          É impossível achar Jesus sem Maria Santíssima. Os que não querem bem a 
          Nossa Senhora nunca acharão Jesus: 
          “Acrescentou em grande maneira, querendo mostrar que: mais alegria 
          causa aos homens encontrar o que tem perdido que aquilo que sempre 
          possuíram. Continua o evangelista: ‘E entrando na casa, encontraram o 
          menino” (Remígio), 
          e: “Pequeno de corpo, 
          necessitando dos cuidados dos demais, incapaz de falar e sem 
          diferenciar-se em nada, das demais crianças, porque assim como eram 
          incontestáveis a causa dos testemunhos que afirmavam que nele se 
          encontrava invisível a majestade de Deus, da mesma forma devia 
          provar-se que aquela essência eterna do Filho de Deus estava unida à 
          natureza humana. ‘Com Maria sua Mãe” 
          (São Leão Magno, In Sermone 
          4 de Epiphania), e 
          também: “Não coroada 
          sua cabeça com diadema imperial, nem tampouco recostada sobre dourado 
          leito, senão tendo apenas uma única túnica, não com que adornar seu 
          corpo, senão com que cobrir a nudez, como devia tê-la para viajar a 
          esposa de um carpinteiro. Se eles tivessem vindo em busca de um rei 
          terreno, sem dúvida se teriam enchido mais de confusão que de alegria, 
          por ter sofrido sem resultado as moléstias e incômodos de um caminho 
          tão longo. Mas como eles buscavam um rei celestial, e ainda quando com 
          os olhos corporais não viam ali nada próprio de rei, satisfeitos, 
          entretanto, do que a estrela lhes dizia, regozijavam-se à vista deste 
          pobre menino, cuja majestade resplandecia em seus corações, vendo com 
          os olhos do espírito. Por isso, ‘prostrando-se, lhe adoraram’. Viam a 
          um homem, mas reconheciam a Deus” 
          (Pseudo-Crisóstomo, Opus 
          Imperfectum super Matthaeum, Hom. 2). 
          
          
          Ajoelhados, dentro dos seus luxuosos mantos reais, sobre a palha da 
          forragem, os três poderosos vindos de longe ofereceram seus dons: 
          ouro, incenso e mirra. 
          
          Três dons nós também oferecemos ao berço do Menino Redentor: o ouro 
          das boas obras, pois as palavras e os propósitos não bastam; o incenso 
          da oração, que, todo dia, do nosso coração sobe para o alto como de um 
          turíbulo; a mirra amarga dos nossos pecados. Sim, ofereçamos-lhe 
          também os nossos pecados, para que Ele os perdoe e nos faça no peito 
          um coração novo e, nas entranhas, um novo espírito:
          “Os dons oferecidos — 
          ouro, incenso e mirra — eram os mais preciosos do Oriente. O homem tem 
          necessidade de oferecer presentes para testemunhar a sua veneração e a 
          sua fé. Já que não pode oferecer-se o próprio homem como desejaria, 
          oferece em seu lugar o que é mais valioso e lhe é mais querido. Os 
          profetas e o salmista tinham predito para os tempos messiânicos a 
          submissão a Deus dos reis da terra (Is 49, 23), com o oferecimento dos 
          seus bens (Is 60, 5) e a adoração (Sl 72, 10-15). Com este ato dos 
          magos e o oferecimento dos seus dons a Jesus, Deus e homem, começam a 
          cumprir-se estas profecias”
          (Edições Theologica), e: “Oferecem a 
          mirra a quem deve morrer; o ouro a quem deve reinar para sempre; e o 
          incenso ao Deus dos judeus que se manifesta agora aos pagãos”
          (Santo Irineu, 
          Adversus Haereses, III, 10). 
          
          O Concílio de Trento cita expressamente este passo da adoração dos 
          magos ao ensinar o culto que se deve dar a Cristo na Eucaristia:
          “Todos os fiéis de 
          Cristo na sua veneração deste Santíssimo Sacramento devem tributar-lhe 
          aquele culto de latria que é devido ao verdadeiro Deus (...). Porque 
          cremos que nele está presente aquele mesmo Deus, de Quem, ao 
          introduzi-Lo o Pai no orbe da terra, diz: E adorem-No todos os anjos 
          de Deus (Hb 1,6; cf. Sl 97, 7); a Quem os magos, prostrando-se por 
          terra, adoraram (cf. Mt 2, 11), de Quem, enfim, a Escritura testemunha 
          (cf. Mt 28, 17) que O adoraram os Apóstolos na Galileia”
          (De SS. Eucharisíia, cap. 5). 
          
          Também a propósito deste versículo, comentava São Gregório de 
          Nazianzo: 
          “Nós permaneçamos em 
          adoração; e a Quem por causa da nossa salvação Se humilhou a tal grau 
          de pobreza que recebeu o nosso corpo, ofereçamos, não já incenso, ouro 
          e mirra — o primeiro como a Deus, o segundo como a rei e o terceiro 
          como Aquele que buscou a morte por nossa causa —, mas dons 
          espirituais, mais sublimes que os que se vêem com os olhos” (Oratio, 19), 
          e: “Ainda que suas 
          oferendas fossem conformes aos costumes de seu país, na Arábia abunda 
          o ouro, o incenso e outra porção de aromas, com estes dons, 
          entretanto, queriam significar que ali se encontrava um mistério. Por 
          isso diz a continuação da Sagrada Escritura: ‘E abrindo seus tesouros, 
          ofereceram-lhe dádivas: ouro, incenso e mirra” 
          (A Glosa), e também: 
          “O ouro corresponde ao rei, o incenso, formava parte dos sacrifícios 
          que se fazia a Deus, e a mirra, serve para embalsamar os cadáveres”
          (São Gregório Magno, 
          Homiliae In Evangelia, 10), e ainda: “Se lhe 
          oferece o ouro como a um grande Deus, queima-se o incenso na sua 
          presença como diante de Deus, e se lhe oferece a mirra como aquele que 
          havia de morrer pela salvação de todos” 
          (Santo Agostinho, In 
          Sermonibus de Epiphania), 
          e: “Ainda que eles não 
          compreendiam que mistério era este, nem o que significava cada um de 
          seus dons, pouco importava, porque a mesma graça que os induzia a 
          fazer estas coisas, o tinha disposto e ordenado” 
          (Pseudo-Crisóstomo, Opus Imperfectum super Matthaeum, Hom. 
          2), e também: 
          “Deve notar-se que cada um dos três não apresenta por si separadamente 
          um dos três dons, senão que cada um oferece os três, predicando assim 
          ao rei, ao homem e a Deus” 
          (Remígio), 
          e ainda: 
          “Envergonhem-se Marcião e Paulo de Samosata, que não querem ver o que 
          viram os magos progenitores da Igreja, que adoraram a Deus feito 
          homem. Que era homem, o dizem aquelas fraldas e aquele presépio. Que o 
          adoraram não como a um simples mortal, e sim como a Deus, o testificam 
          essas oferendas que não convêm mais que a Deus. Encham-se também de 
          confusão os judeus, que foram prevenidos pelos magos e recusaram ir 
          detrás deles” (São 
          João Crisóstomo, Homiliae In Matthaeum, Hom. 7), e: “Isto também 
          pode significar outra coisa, entendendo-se pelo ouro a sabedoria, 
          segundo a frase de Salomão: ‘Tesouro apetecível repousará na boca do 
          sábio’ (Pr 21, 20); pelo incenso que se queima diante de Deus, a 
          virtude da oração, conforme ao versículo de Davi: ‘Suba direita minha 
          oração, como incenso na tua presença’ (Sl 140,2), e pela mirra a 
          mortificação da carne. Oferecemos, pois, ouro a este novo Rei se 
          resplandecemos diante dele com a luz da sabedoria; o incenso, se por 
          meio da oração com nossas orações exalamos na sua presença aroma 
          fragrante; e mirra se com a abstinência mortificamos os apetites da 
          sensualidade” (São Gregório Magno, Homiliae in Evangelia, 10), 
          e também: “Os três 
          homens que oferecem a Deus seus dons, representam aos seus pés as 
          nações vindas das três partes do mundo. Enquanto abrem seus tesouros, 
          fazem sair do fundo do seu coração a confissão da fé. O fazem ‘na 
          casa’ para ensinar-nos que não devemos publicar os tesouros da nossa 
          alma. Oferecem três dons, isto é, a fé na Santa Trindade. Também pode 
          entender-se que de seus tesouros abertos eles oferecem os que são 
          figuras dos três sentidos da Sagrada Escritura: o histórico, a moral e 
          o alegórico; ou as três partes da ciência: a lógica, a física e a 
          moral, todas elas que servem à fé” 
          (A Glosa). 
          
          São 
          Josemaría Escrivá comenta: 
          “E por que tanta alegria? Porque eles, que nunca duvidaram, recebem do 
          Senhor a prova de que a estrela não tinha desaparecido; tinham deixado 
          de a ver sensivelmente, mas tinham-na conservado sempre na alma. Assim 
          é a vocação cristã: se não se perde a fé, se se mantém a esperança em 
          Jesus Cristo que estará conosco até à consumação dos séculos (Mt 28, 
          20), a estrela reaparece. E, ao verificar uma vez mais a realidade da 
          vocação, nasce em nós uma alegria maior, que aumenta a nossa fé, a 
          nossa esperança, o nosso amor” 
          (Cristo que passa, n.° 35), e: “Deus não 
          abandona os seus servos, pois a estrela brilha de novo no firmamento 
          para conduzi-los ao presépio”
          (Dom Duarte Leopoldo). 
          
          Santo 
          Afonso Maria de Ligório escreve: 
          “Sem demora os Magos se põem a caminho; a estrela acompanha-os até à 
          gruta, onde está o santo Menino. Chegados ali, entram, e o que acham? 
          ‘Acharam o Menino com Maria’. Eles acham uma donzela pobre e um menino 
          pobre envolto em paninhos, sem ninguém para O servir ou assistir. Mas 
          como? Ao entrarem naquela humilde gruta, os santos peregrinos sentem 
          uma alegria nunca antes experimentada; sentem o coração atraído para 
          aquele Menino pequenino. Aquela palha, aquela pobreza, aquele choro de 
          seu pequeno Salvador, ah! Que setas de amor para seus corações, que 
          chamas felizes de amor neles se acendem! O Menino acolhe-os com 
          sorriso amável, demonstrando assim o afeto com que os aceita entre as 
          primeiras presas da sua Redenção. 
          
          Os santos 
          Reis olham depois para Maria, que está silenciosa, mas com o semblante 
          no qual reluz uma doçura celeste, acolhe-os e agradece-lhes o terem 
          vindo os primeiros a reconhecer-lhe o Filho por seu soberano Senhor. 
          Eis que os santos varões, silenciosos pelo respeito, adoram o Filho da 
          Virgem e reconhecem-no como Deus, beijando-lhe os pés e oferecendo-Lhe 
          os seus presentes; ouro, incenso e mirra. Em união com os santos 
          Magos, adoremos o nosso pequenino Rei Jesus e ofereçamos-Lhe todo o 
          nosso coração”( 
          Meditações). 
          
          Em Mt 
          2, 12 diz: “Avisados 
          em sonhos que não voltassem a Herodes, regressaram por outro caminho 
          para a sua região”. 
          
          
          Edições Theologica comenta: 
          “A intervenção dos magos nos acontecimentos de Belém termina com um 
          novo ato de delicada obediência e cooperação com os planos de Deus. 
          Também o cristão deve ser dócil até ao fim à graça e à missão concreta 
          que Deus lhe confia, ainda que isto suponha modificar os planos 
          pessoais que se tenha proposto”, 
          e: “O anjo do Senhor 
          advertiu os viajantes de que tomassem outro caminho para o seu país. 
          Os Magos obedeceram com presteza e desapareceram misteriosamente, como 
          tinham vindo. Desde Belém para o Este não faltavam caminhos que, 
          atravessando o Jordão, conduziam à meseta de Moab, por onde passava já 
          a rota das caravanas orientais”
          (Pe. Francisco Fernández-Carvajal), e também:  “Os 
          magos, ao voltar ao seu país por outro caminho, nos ensinam uma grande 
          lição. Nossa pátria é o Paraíso. Depois de ter conhecido a Jesus, nos 
          está proibido voltar a esta pátria pelo mesmo caminho que viemos 
          percorrendo. Portanto, nos distanciamos desta pátria pelo orgulho, a 
          desobediência, o apego às coisas visíveis e comendo o fruto proibido. 
          E não podemos voltar a ela senão pelo caminho das lágrimas, da 
          obediência, do desprezo das coisas visíveis e refreando os apetites da 
          carne” (São Gregório Magno, 
          Homiliae in Evangelia, 10,7), e 
          ainda: “Não era possível que os que tinham 
          vindo de Herodes a Cristo, voltassem de Cristo a Herodes. E 
          verdadeiramente, os que, tendo abandonado a Cristo, pelo pecado se 
          voltam a Satanás, pela penitência retornam a Cristo. Porque quem 
          esteve na inocência quando não sabia o que era o mal, facilmente é 
          enganado, mas quando há experimentado o mal no qual há caído e recorda 
          o bem que há perdido, volta com arrependimento a Deus. Porém, quem 
          havendo abandonado ao diabo, volta-se a Cristo, dificilmente volta ao 
          diabo; porque enquanto regozija-se com o bem que há encontrado e 
          lembra-se dos males de que se livrou, dificilmente volta ao mal”
          (Pseudo-Crisóstomo, Opus Imperfectum 
          super Matthaeum, Hom. 2). 
            
          
          Pe. Divino Antônio 
          Lopes FP. 
          
          Anápolis, 02 de 
          janeiro de 2008 
            
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