...VEIO JESUS DA GALILÉIA AO
JORDÃO
(Mt 3,
13-17)
“13
Nesse tempo, veio Jesus da Galiléia ao Jordão até João, a fim de ser
batizado por ele. 14 Mas João
tentava dissuadi-lo, dizendo: ‘Eu é que tenho necessidade de ser
batizado por ti e tu vens a mim?’
15
Jesus, porém, respondeu-lhe: ‘Deixa estar por enquanto, pois assim
nos convém cumprir toda a justiça’. E João consentiu.
16
Batizado, Jesus subiu imediatamente da água e logo os céus se abriram
e ele viu o Espírito de Deus descendo como uma pomba e vindo sobre
ele. 17Ao mesmo tempo,
uma voz vinda dos céus dizia: ‘Este é o meu Filho amado, em quem me
comprazo”.
Em Mt
3, 13-15 diz: “Nesse
tempo, veio Jesus da Galiléia ao Jordão até João, a fim de ser
batizado por ele. Mas João tentava dissuadi-lo, dizendo: ‘Eu é que
tenho necessidade de ser batizado por ti e tu vens a mim?’ Jesus,
porém, respondeu-lhe: ‘Deixa estar por enquanto, pois assim nos convém
cumprir toda a justiça’. E João consentiu”.
Edições Theologica
comenta: “Jesus tinha passado uns trinta anos
(Lc 3, 23) no que normalmente chamamos vida oculta. Admira-nos o
silêncio do Verbo de Deus Encarnado durante todo este tempo. Muitas
podem ser as razões desta longa espera de Jesus antes de começar o Seu
ministério público. Pode ter influído nisso o costume judaico de que
os rabinos tivessem feito os trinta anos, antes de exercer o seu
ofício de mestres. Em qualquer dos casos, Nosso Senhor, com os Seus
longos anos de trabalho na oficina de São José, ensina aos cristãos o
sentido santificador da vida e trabalho ordinários.
Jesus
começa o Seu ministério público depois de o Batista ter preparado o
povo, segundo o plano divino, para receber o Messias.
São João
Batista, ao ver aproximar-se do seu batismo Aquele de quem tinha dado
testemunho tão autêntico, resistia razoavelmente a batizá-Lo. Não era
necessário que Jesus fosse batizado por João, já que não tinha pecado
algum. Mas Jesus quis submeter-Se a este batismo antes de inaugurar a
Sua pregação para nos ensinar a obedecer a todas as disposições
divinas (antes tinha-Se submetido, por exemplo, à circuncisão, à
apresentação no Templo e ao resgate como primogênito). Os planos de
Deus dispunham que Jesus Se aniquilasse até Se submeter à autoridade
de outros homens.
“Justiça”, na Bíblia, tem um significado muito rico: refere-se ao
plano que Deus, na Sua infinita bondade e sabedoria, traçou para a
salvação do homem. Por isso “cumprir toda a justiça” deve ser
interpretado na linha de cumprir a vontade de Deus e os Seus
desígnios. Daí que pudéssemos traduzir “cumprir toda a justiça” por:
“cumprir tudo o estabelecido por Deus”.
Jesus
Cristo acorre ao batismo de João em reconhecimento de uma etapa da
História da Salvação, prevista por Deus como preparação última e
imediata da era messiânica. O cumprimento de qualquer destas etapas ou
atos do plano divino pode chamar-se, resumidamente, um ato de justiça.
Jesus, que veio cumprir a Vontade do Pai (Jo 4, 34), procura cumprir
esse plano salvador em lodos os seus pormenores”.
João, com a sua
vida austera e a sua pregação, mantinha o povo em suspense, e
provocava uma expectativa cheia de fervor. Os judeus estavam à espera
de grandes acontecimentos religiosos, e a missão de João pressagiava,
com efeito, sucessos extraordinários. As suas palavras davam um novo
alento à esperança messiânica e muitos perguntavam-se no seu interior
se ele mesmo não seria o Cristo. Mas João dizia: Eu não sou o Cristo (Jo),
e acrescentava: Eu batizo-vos com água; mas vem quem é mais forte que
eu, ao qual não sou digno de desatar a correia das sandálias: ele vos
batizará no Espírito Santo e em fogo (Lc).
Esta declaração,
envolvida em certo mistério, estava penetrada de uma profunda
humildade. Com uma comparação simples colocava-se no lugar que lhe
competia: o que vem — diz — é um grande senhor, e os grandes senhores
têm servos para lhes tirar as sandálias quando chegam de um longo
caminho. Eu sou tão pouca coisa ao seu lado que nem sequer sou digno
de servir-lhe de criado. Em comparação com ele, eu não existo, vinha a
declarar .
João tinha plena
consciência da sua missão de ser precursor de alguém maior que ele: é
humilde, sabe qual é o seu lugar e não tenta ocupar outro. Não procura
a sua própria glória, mas a do Senhor.
João não
apresentava diretamente o Senhor, mas tinha-o, sem dúvida, no coração.
Ao declarar que ele não era o Cristo empregava a mesma discrição, e
pelos mesmos motivos, que mostrará Jesus para dizer que Ele sim é o
Cristo.
O evangelho não nos
diz se houve algum encontro anterior entre Jesus e João. Os anos de
juventude de ambos foram muito diversos, e não parece pelos textos
—habitava no deserto (Lc); eu não o conhecia (Jo) — que se tivessem
visto antes destes acontecimentos.
Toda a vida do
Precursor culmina no batismo do Senhor. Um dia apresentou-se Jesus
entre a multidão. Vinha da Galiléia para ser batizado por João (Mt),
ainda que Ele não necessitava, pois tinha a plenitude da graça.
Quando João viu
aproximar Jesus sabia que era Ele, o Messias tanto tempo esperado.
Talvez não conhecesse a divindade do Senhor e a sua íntima e eminente
relação com Deus Pai. Isto ser-lhe-á revelado de modo parcial.
Aparentemente, Jesus ia, como os outros, escutar a sua palavra e
receber o seu batismo. Solicita-o com modéstia, mas o Batista
negou-se, dizendo: Sou eu quem necessita de ser batizado por ti, como
vens tu a mim? E Jesus replicou-lhe: Deixa-me agora, assim é que
devemos nós cumprir toda a justiça (Mt), isto é, tudo o estabelecido
por Deus Pai.
Estas são as
primeiras palavras que conhecemos de Jesus na sua vida pública; estão
na mesma linha daquelas que disse a seus pais quando o encontraram no
Templo. Ao longo dos três anos de pregação repetirá de modos diversos
que Ele veio para cumprir a vontade do Pai.
Remígio escreve:
“Adverte-se que nestas palavras designam-se as pessoas, o lugar, o
tempo e o ofício. O tempo, quando disse Tunc, então”,
e: “Depois
que Cristo foi anunciado na pregação do seu precursor, quis
manifestar-se aos homens o que por tanto tempo tinha vivido oculto.
Por isso, se diz: - Então veio Jesus desde a Galiléia ao Jordão, onde
se encontrava João, para ser batizado por ele- ”
(A Glosa), e também:
“Quando tinha trinta anos: E nisso, se
manifesta, que não se deve autorizar a ninguém, nem sacerdote, nem
pregador, se não é de idade madura. José foi encarregado do governo do
Egito quando tinha trinta anos. Davi iniciou seu reinado quando tinha
a mesma idade. Ezequiel mereceu ser designado profeta na mesma idade”
( Rábano), e ainda:
“Dado que depois deste batismo, Jesus queria derrogar a Lei e espera
até esta idade, onde cabem todos os pecados, e a cumpre íntegra até
então; não foi o que disseram alguns; que a derrogava, por não ser
capaz de cumpri-la”
(São João Crisóstomo,
Homilia in Matthaeum, Hom. 10,1), e: “Também
se diz (isto é, quando João pregava: fazei penitência) para confirmar
sua pregação e para que recebesse seu testemunho do mesmo São João.
Assim como quando sai o luzeiro, este marcha diante do sol; e a luz do
sol não espera o ocaso do luzeiro para brilhar, e sim, aparece,
continuando sua trajetória, porém o sol escurece seu brilho com seus
raios; da mesma forma, Jesus Cristo não esperou que São João
finalizasse sua trajetória, senão que apareceu quando ele ainda
pregava” (Pseudo-Crisóstomo,
Opus Imperfectum super Matthaeum, Hom. 4),
e também:
“Se faz menção das pessoas
quando se diz: ‘Veio Jesus a João’, isto é, Deus ao homem, o Senhor ao
servo, o Rei ao seu soldado, a luz à lanterna. Se designam os lugares
quando se diz: ‘Da Galiléia ao Jordão’. Galiléia quer dizer
emigração. Todo aquele que quiser se batizar, emigre dos vícios às
virtudes e, vindo ao batismo, humilhe-se. Jordão significa descida”
(Remígio), e ainda: “A Sagrada
Escritura diz que se hão verificado muitas coisas admiráveis neste
rio, entre outras, diz também: ‘O Jordão voltou-se atrás’ ( Sl 113,3).
Antes, as águas voltaram atrás, agora, os pecados voltam. Assim como,
Elias dividiu as águas do Jordão, assim Cristo, Nosso Senhor, fez no
mesmo Jordão a separação dos pecadores”
(Santo
Agostinho, In Sermonibus de Epiphania),
e:
“Se expressa o ofício, quando
se segue: ‘Para que fosse batizado por ele”
(Remígio),
e também: “Não
para que ele mesmo recebesse o perdão de seus pecados através do
batismo e sim para deixar santificadas as águas aos que se batizassem
depois” (Pseudo-Crisóstomo,
Opus Imperfectum super Matthaeum, Hom. 4),
e ainda:
“O Salvador quis batizar-se
não para adquirir limpeza para si; senão, para nos deixar uma fonte de
limpeza. Desde o momento que Cristo desceu às águas, a água limpa os
pecados de todos. E não deve admirar-se que a água, isto é, uma
substância corporal, aproveita-se para purificar a alma. Vem e penetra
perfeitamente todos os segredos da consciência. Mesmo quando a água é
sutil e débil, com a bênção de Cristo, se faz sumamente forte e
penetra com o seu delicado orvalho, as causas ocultas da vida, até os
segredos do pensamento. É muito mais sutil a penetração das bênçãos,
que a da umidade das águas. ‘Daí provém que a bênção do Salvador no
seu batismo tem enchido as regiões mais escolhidas e as fontes dos
mananciais como rio espiritual”
(Santo
Agostinho, In Sermonibus de Epiphania),
e:
“Veio a este batismo para
que, aquele que havia tomado à natureza humana, pudesse encher
plenamente todos os segredos da mesma natureza. Porque ainda que Ele
não fosse pecador, tomou, porém a natureza pecadora. Portanto, ainda
que por si mesmo não necessitasse o batismo, a natureza carnal de
outros o necessitava”
(Pseudo-Crisóstomo,
Opus Imperfectum super Matthaeum, Hom. 4),
e também:
“Quis batizar-se,
ademais, porque quis fazer o que nos manda fazer, para que como bom
Mestre não só nos ensinasse com a sua doutrina, senão também com o seu
exemplo” (Santo Agostinho, In
Sermonibus de Epiphania), e ainda:
“Por esta razão quis
ser batizado por São João: para que saibam seus servos com quanta
alegria devem correr ao batismo do Senhor, ao ver como Ele não tem
desdenhado receber o batismo do servo”
(Santo
Agostinho, In Ioannem, 5,5), e: “Ademais
quis batizar-se para confirmar com o seu batismo, o batismo de João”
(São
Jerônimo),
e também:
“Porque o batismo de João era de arrependimento, e levava consigo a
confissão das culpas, para que não tivesse alguém que acreditasse que
Cristo havia vindo a se batizar por esse motivo. O Batista disse ao
que vinha: ‘Eu devo ser batizado por ti, e tu vens a mim?”
(São
João Crisóstomo, Homiliae In Matthaeum, Hom.
12,1),
e ainda:
“Como se dissesse: Está bem
que me batizes; esta razão é idônea (para que eu também seja justo, e
me faça digno do céu). Porém, há alguma razão para que eu te batize?
Tudo o que é bom desce do céu à terra e não sobe da terra ao céu”
(Pseudo-Crisóstomo,
Opus Imperfectum super Matthaeum, Hom. 4),
e:
“Por último, o Senhor não
pode ser batizado por João como Deus, mas ensina que deve batizar-se
como homem. Se prossegue desta forma, respondendo Jesus lhe disse:
‘Deixa-me agora”
(Santo
Hilário, In Matthaeum, 2), e também:
“E delicadamente
responde: ‘Deixa-me agora’, para manifestar que Cristo devia ser
batizado por São João na água, e São João ser batizado por Cristo em
espírito, ou de outro modo: ‘Deixa-me agora’, para que quem há tomado
a forma de servo, manifeste sua humildade. Seja consciente de que tu
haverás de ser batizado com meu batismo no dia do juízo. ‘Deixa-me
agora’, disse o Senhor, porque tenho outro batismo com o qual haverei
de ser batizado. Tu me batizas em água para que eu te batize por mim
em teu sangue”
(São
Jerônimo),
e ainda:
“O que se manifesta também é que Cristo batizou depois a São João,
ainda que nos livros apócrifos isto, está escrito de uma maneira
patente. Mas agora, deixa-me que expresse a retidão do batismo não só
com palavras, senão também com obras. Primeiro receberei, depois
pregarei. De onde provém: ‘Assim convém que nós cumpramos toda
justiça’. Isto, não quer dizer que se fosse batizado cumpriria toda
justiça, senão que a cumpre assim, dessa maneira. Quer dizer,
primeiro, cumpriu toda a justiça do batismo com obras, depois a
pregou, segundo àquelas palavras: Jesus começou a fazer e ensinar, ou
de outro modo: Convém que nós façamos toda justiça, como fazemos a do
batismo, isto é, segundo as necessidades da natureza humana. Assim
cumpriu a justiça nascendo, crescendo e todas demais coisas”
(Pseudo-Crisóstomo, Opus
Imperfectum super Matthaeum, Hom. 4),
e:
“Por Ele devia cumprir-se
toda justiça, por quem unicamente podia cumprir-se a lei”
(Santo
Hilário, In Matthaeum, 2), e também:
“Mas não acrescentou
si se tratava da justiça da lei ou da natureza, para que entendamos
ambas” (São
Jerônimo), e ainda:
“Assim: Convém que nós
cumpramos toda justiça, isto é, devemos dar o exemplo de cumprir toda
justiça no batismo; sem o qual, não pode se abrir a porta do reino dos
céus, ou também, para que aprendam os soberbos, o exemplo de
humildade, e não se sintam rebaixados ao ser batizados por meus
humildes ministros, ao ver que eu fui batizado pelo meu servo João. A
verdadeira humildade é a que segue a sua companheira, a obediência. De
onde vem: ‘Então lhe deixou”, isto é, permitiu que se batizasse”
( Remígio).
Dom Duarte Leopoldo
escreve: “Admirável combate de humildade! Quem poderá vencer, em semelhante
luta, aquele que disse: Aprendei de mim que sou manso e humilde de
coração! – João obedece, como mais tarde obedecerá também São Pedro em
idênticas circunstâncias. Não obedecer à voz de Deus, a pretexto de
humildade, não é humildade, mas orgulho”.
Em Mt
3, 16 diz: “Batizado,
Jesus subiu imediatamente da água e logo os céus se abriram e ele viu
o Espírito de Deus descendo como uma pomba e vindo sobre ele”.
Dom
Duarte Leopoldo escreve:
“Uma pomba traz a Noé um ramo
de oliveira, símbolo da paz; uma pomba repousa sobre Jesus, nas águas
do Jordão, para designá-lo como o Príncipe da Paz. – Deus teve de
multiplicar os milagres, para provar ao mundo que Jesus é realmente
seu Filho feito homem, e que nós devemos ouvi-lo e aceitar a sua
doutrina. – O Espírito Santo desce também, posto que invisivelmente,
sobre todos aqueles que recebem o Batismo”.
Edições Theologica
comenta: “Jesus desde a Sua própria conceição,
possuía a plenitude do Espírito Santo. Isto é assim pela união da
natureza humana com a natureza divina na pessoa do Verbo (dogma da
união hipostática). A doutrina cristã ensina que em Cristo há uma só
Pessoa, divina, e duas naturezas, divina e humana. A descida do
Espírito de Deus, de que fala o nosso texto, exprime que, assim como
Jesus iniciava de modo solene o Seu ofício messiânico, assim o
Espírito Santo começava a Sua ação por meio do Messias. São muitos os
textos do Antigo Testamento em que se anuncia a especialíssima
manifestação do Espírito Santo no futuro Messias. Com este sinal do
Espírito, recebia também São João Batista a prova inequívoca da
autenticidade do seu testemunho acerca de Cristo (cf Jo l, 29-34).
No Batismo
de Jesus Cristo revela-se o mistério da Santíssima Trindade: o Filho,
que recebe o Batismo; o Espírito Santo, que desce sobre Ele em figura
de pomba; e a voz do Pai, que dá testemunho da pessoa de Seu Filho. No
nome das três Pessoas divinas deverão ser batizados os cristãos. ‘Se
tu tens uma piedade sincera, sobre ti descerá também o Espírito Santo
e ouvirás a voz do Pai do alto que diz: este não é o Meu Filho, mas
agora depois do Batismo, foi feito meu filho”
(De Baptismo, 14)”.
Santo
Agostinho escreve:
“Porque, como se tem dito, quando nosso Salvador ficou lavado, já
estava limpa toda a água para o nosso batismo, para que se pudera
administrar a graça do batismo às gerações vindouras. Convinha também
que se designassem no batismo de Cristo todas as graças que se
concedem por Ele mesmo aos fiéis, de onde se diz: ‘Batizado Jesus,
imediatamente saiu da água”
(In Sermonibus de Epiphania),
e: “A ação de
Cristo pertence ao mistério de todos aqueles que depois haviam de ser
batizados. Por isso, disse ‘imediatamente’, e não só ‘saiu’, porque
todos os que deviam batizar-se dignamente em Cristo, imediatamente
saem da água, ou seja, marcham em direção às virtudes e são elevados à
dignidade celestial. Os que eram carnais entraram na água, filhos do
pecador Adão, logo, se fazem espirituais e convertidos em filhos de
Deus. Se alguns, por sua culpa não saem santificados do batismo, o que
isso faz ao batismo?”
(Pseudo-Crisóstomo,
Opus Imperfectum super Matthaeum, Hom. 4), e também: “O
Senhor tem nos concedido o lavado do batismo com a imersão do seu
corpo, e com isso, nos há demonstrado que pode abrir as portas do céu
para nós, quando recebemos o batismo, e nos conceder o Espírito Santo.
De onde prossegue: ‘E se lhe abriram os céus”(Rábano),
e ainda:
“Não com a abertura dos
elementos, senão para os olhos espirituais, como nos refere Ezequiel
no início do seu livro”
(São
Jerônimo, In Matthaeum, 3),
e: “Se o natural
tivesse sido aberto, não diria: ‘Se abriram para Ele’, porque o que se
abre de um modo material, se abre para todos. Mas, se acaso diz
alguém: O que é isto? Fecharam-se os céus na presença do Filho de
Deus; quem, que ainda estava na terra e ao mesmo tempo no céu? Mas, se
entende que, assim como foi batizado segundo a condição humana também
se abriram para Ele os céus segundo a esta mesma condição. Somente
segundo a natureza divina, se encontrava nos céus”
(Pseudo-Crisóstomo,
Opus Imperfectum super Matthaeum, Hom. 4),
e também: “Mas, acaso,
se abriram os céus a Ele por primeira vez, também conforme com a
natureza humana? A fé da Igreja crê e ensina que não se abriram menos
os céus para Ele, antes que depois. Portanto, se diz que se abriram os
céus a Ele, porque a porta do reino celestial se abria então para
todos os que renasciam à graça”
(Remígio),
e ainda:
“Talvez, pode dizer-se que
antes existiam obstáculos invisíveis que se opunham a que as almas dos
justos entrassem no reino dos céus. Não creio que nenhuma alma haja
ascendido aos céus antes que Jesus Cristo, pois, desde que Adão pecou
se fecharam os céus. Somente se abriram, quando Jesus Cristo foi
batizado. Quando venceu a tirania do pecado por meio da cruz, como não
eram necessárias as portas, (não havendo estado o céu fechado jamais)
não disseram os anjos: ‘Abri as portas’, porque já estavam abertas,
senão: ‘Levantai as portas’, ou os céus se abrem para que se batizem e
vejam as coisas que há nos céus, não olhando com os olhos da carne,
senão crendo com os olhos espirituais da fé, ou de outro modo: Os céus
são as Sagradas Escrituras, as que todos lêem, mesmo que não as
entendam, a não ser que sejam batizados de maneira que recebam o
Espírito Santo. Por isso, as Escrituras dos profetas não eram
inteligíveis para os apóstolos em um princípio, até que, havendo
recebido o Espírito Santo, todas as Escrituras ficaram-lhes
perfeitamente inteligíveis. Não obstante, de qualquer modo, que se
entenda que os céus se abriram para Ele, ou seja, para todos por meio
Dele, como se um imperador dissesse a alguém que pede graça a outro:
‘Este beneficio não o dou a outro, senão a ti, quer dizer, por ti o
dou àquele” (Pseudo-Crisóstomo,
Opus Imperfectum super Matthaeum, Hom. 4),
e: “Se tu não vês, não
sejas incrédulo, porque nos princípios dos exercícios do espírito
aparecem visões sensíveis, a favor daqueles que não podem ter
inteligência da natureza incorpórea. Desse modo, se mais adiante ditas
visões desaparecem, recebam a fé daquelas que uma vez aconteceram”(São
João Crisóstomo, Homiliae In Matthaeum, Hom.
12, 2),
e também: “Assim, como
a porta do reino dos céus se abriu para todos os regenerados pelo
batismo, da mesma forma, todos recebem no batismo os dons do Espírito
Santo. Por isso, acrescenta: ‘ E viu o Espírito de Deus descendo em
forma de pomba e vindo sobre Ele”
(Remigio),
e ainda: “Jesus Cristo, depois de haver nascido para os homens, renasce nos
sacramentos. Assim como o admiramos engendrado numa Mãe sem culpa,
agora o recebemos submergido em uma onda pura. A Mãe de Deus engendrou
seu Filho e permaneceu pura. Uma onda de água lavou a Cristo e ficou
santificada. Por último, o Espírito Santo que o formou nas entranhas,
agora o rodeia de luz no profundo das águas. E ele quem antes fez pura
a Maria, agora santifica as águas. De onde provém: ‘E vi o Espírito de
Deus, descendo”(Santo
Agostinho, In Sermonibus de Epiphania)
, e: “Por isso, o Espírito Santo tomou a forma de pomba, porque esta ave
mansa e pura é a que, entre todos os animais, pratica mais a caridade.
Todas as aparências de justiça que têm os que são filhos de Deus, em
verdade, podem ter os escravos do demônio através da ficção. Somente a
caridade do Espírito Santo é a que não pode imitar o espírito imundo.
Por isso, o Espírito Santo reservou para si esta espécie privada de
caridade. Não se conhece pelo testemunho de alguém, onde se encontra o
Espírito Santo, mais que pela graça da caridade”(Pseudo-Crisóstomo,
Opus Imperfectum super Matthaeum, Hom. 4),
e também: “Se
distingue sete virtudes nos batizados através do Espírito Santo sob a
forma de pomba. A pomba habita junto às águas, para que, ao ver ao
gavião, possa submergir-se na água e livrar-se de suas garras; escolhe
os melhores grãos, alimenta aos filhos de outro, não fere com o seu
bico, carece de fel, faz seus ninhos nas fendas das pedras e tem uma
espécie de gemido em vez de canto. Assim, os santificados pelo
batismo, vivem junto às águas das Sagradas Escrituras, para fugir das
investidas do inimigo e se alimentam com as sãs sentenças que escolhem
e não com as interpretações heréticas. Aos homens que foram ‘crias’ do
diabo, isto é, seus imitadores, os alimentam com a doutrina e com seu
exemplo; não interpretam mal as boas sentenças, ferindo como o fazem
os hereges; carecem de indignação racional; colocam seu ninho nas
chagas da morte de Cristo, que é a pedra firme, isto é, seu refúgio e
sua esperança. E assim, como os outros se deleitam no canto, eles se
deleitam no pranto pelos seus pecados”
(Rábano),
e ainda: “Se faz menção de certa história antiga: quando nossa linhagem no
dilúvio, apareceu também a pomba pra assinalar o final da tormenta e,
levando o ramo da oliveira, anunciou a boa nova da paz sobre a terra.
Tudo era figura do que depois haveria de suceder. Pois agora aparece a
pomba para nos assinalar àquele que viria nos livrar de nossos males
e traz, em vez do ramo da oliveira, a filiação divina para todo o
gênero humano”
(São João
Crisóstomo, Homiliae In Matthaeum, Hom. 12,3), e: “É de
estranhar que: Quando se diz que o Espírito Santo foi enviado quando
descendeu sobre o próprio Deus; de uma maneira visível na forma de
pomba. Se formou no princípio uma espécie de criatura, na qual
representasse as propriedades do Espírito Santo. Esta operação
manifestada no exterior e oferecida à vista dos mortais, chama-se
missão do Espírito Santo, não porque aparecesse sua essência
invisível, senão para que o coração humano, estimulado pelas coisas
visíveis, se mova ao desejo da oculta eternidade. Porém o Espírito
Santo não tomou esta criatura em quem apareceu, na união da pessoa,
como o Filho tomou a forma humana no seio de uma Virgem; nem o
Espírito Santo tem santificado a pomba, nem a tem unido a sua pessoa
pra sempre. Portanto, ainda que aquela pomba chama-se Espírito, para
que se manifeste por pomba o Espírito patenteado, não podemos chamar
ao Espírito Santo, Deus e pomba, como dizemos Filho, Deus e Homem; nem
como dizemos ao Filho, Cordeiro de Deus. Não somente pelo que nos diz
São João Batista pregando, senão também São João evangelista vendo no
seu Apocalipse o Cordeiro santificado. Aquela visão profética não se
patenteia aos olhos da carne através de formas corpóreas, senão em
espírito, através de imagens espirituais dos corpos. Daquela pomba,
porém, ninguém jamais tem duvidado que tenha sido vista com os
próprios olhos. Nem como chamamos ao Filho, pedra (porque está
escrito: Cristo era pedra), podemos chamar pomba ao Espírito Santo;
porque a pedra já existia e metaforicamente se lhe designa com o nome
de Cristo a quem significava. Não sucede o mesmo com a pomba, que para
significar estas coisas existiu momentaneamente. Isto se assemelha, a
meu modo de entender, àquela chama que apareceu a Moisés a quem o povo
seguia pelo caminho do deserto e sob trovões e raios que se percebia
no monte enquanto se dava a Lei. Estas formas corpóreas somente
existiram para explicar algumas coisas que tinham seu significado, mas
logo desapareceram. Através destas formas corporais, se diz que foi
enviado o Espírito Santo; por isso estas formas apareceram em um
momento e desapareceram depois”(Santo Agostinho, De
Trinitate, 2,5), e também: “Pousou a
pomba sobre a cabeça de Jesus, para que não houvesse quem pudera crer
que a voz do Pai dirigia-se ao Batista e não ao Senhor. De onde se
seguem estas palavras: se pousava sobre Ele”
(São
Jerônimo, In Matthaeum, 3).
E o Senhor recebeu
o batismo das mãos de João. Imediatamente depois de ser batizado,
Jesus saiu da água (Mt) e recolheu-se em oração, indica-nos
expressamente São Lucas. E então, enquanto dialogava com seu Pai do
Céu, teve lugar a manifestação do mistério da Santíssima Trindade.
Esta cena, junto à da Transfiguração, é uma das mais belas de toda a
vida do Senhor. E viu o Espírito de Deus que descia em forma de
pomba e vinha sobre ele. Uma voz do Céu testemunhou: Este é o meu
Filho amado, no qual pus as minhas complacências (Mt).
Em Mt
3, 17 diz: “Ao mesmo
tempo, uma voz vinda dos céus dizia: ‘Este é o meu Filho amado, em
quem me comprazo”.
Edições Theologica
comenta: “Literalmente: ‘Este é o Meu Filho, o
amado’. ‘Amado’, precedido do artigo e unido à expressão ‘o Filho’,
normalmente refere-se a um filho único (cf. Gn 22, 2.12.16; Jr 6, 26;
Am 8,10; Zc 12,10, etc.). O duplo uso do artigo e a solenidade do
passo fazem que este testemunho divino acerca de Jesus mostre
claramente, na linguagem da Bíblia, que Jesus Cristo não é mais um,
nem sequer o mais excelente, de tantos filhos adotivos de Deus; mas
com toda a propriedade e força, declara que Jesus é ‘o Filho de Deus’,
o Unigênito, absolutamente distinto, pela Sua condição divina, dos
outros homens (cf. Mt 7, 21; 11, 27; 17, 5; Jo 3, 35; 5, 20; 20, 17,
etc).
Neste
passo têm cumprimento as profecias messiânicas, especialmente Is 42,
1, cuja expressão é aplicada agora a Jesus Cristo pela voz do Pai, que
fala do céu”.
Dom Duarte Leopoldo
escreve: “São Lucas dá a genealogia da
Santíssima Virgem (embora não a nomeie, por não ser esse o costume dos
hebreus), para demonstrar que Jesus descendia de Davi e de Abraão.
Heli, pai da Santíssima Virgem, é o mesmo que Joachim, pois as duas
palavras têm o mesmo sentido. Heli, Elias, Heliachim, Joachim ou
Joakim são variantes hebraicas da mesma palavra”.
Santo Agostinho
comenta: “O Pai ensinou que o
Filho não havia de vir através de Moisés, nem pelos profetas, nem
através de outros tipos ou figuras, senão que demonstra claramente que
veio em pessoa, dizendo: ‘Este é meu Filho”
(In
Sermonibus de Epiphania), e: “Para que
nessas coisas que se verificavam em Cristo, especialmente depois do
batismo, conhecêssemos que não viria em figuras, desceu o Espírito
Santo ao abrirem as portas do céu e descendeu sobre nós para que nele
víssemos que nos eram abertas as portas do céu e nos inundava de
glória, fazendo-nos filhos de Deus, adotados pela voz do Pai”
(Santo Hilário, In
Matthaeum, 2), e também: “O
mistério da Santíssima Trindade é demonstrado no batismo. Jesus Cristo
( o Filho) é batizado, o Espírito Santo desce na forma de pomba e se
ouve a voz do Pai, dando testemunho do Filho”
(São Jerônimo, In
Matthaeum, 3), e ainda: “Não é
de estranhar-se que patenteie o mistério da Santíssima Trindade no
batismo de Nosso Senhor. Dado que, nosso batismo não é outra coisa que
a representação de tão augusto mistério. Primeiro, quis Deus que fosse
verificado n’Ele o que depois haveria de mandar a todo gênero humano”
(Santo Agostinho, In
Sermonibus de Epiphania), e: “Mesmo que o
Pai, o Filho e o Espírito Santo sejam de uma mesma natureza, se crê
firmemente que subsiste em três pessoas: O Pai, quem disse, este é meu
Filho muito amado; O Filho, sobre quem se ouve a voz do Pai; e o
Espírito Santo, quem aparece em forma de pomba sobre o Filho batizado”
(São Fulgêncio de Ruspe,
De Fide ad Petrum, 9), e também: “Esta
obra é a de toda Trindade. O Pai, o Filho e o Espírito Santo, existem
em uma mesma essência, sem diferenças de tempo nem de lugares. Nessas
palavras se distinguem o Pai, o Filho e o Espírito Santo e não pode
dizer-se que se apresentem em uma mesma essência. Quanto ao que se diz
visivelmente nas sagradas letras, apareceram separadamente de acordo
aos espaços que cada pessoa ocupava. Portanto, sabe-se que a
Santíssima Trindade se conhece em si mesma inseparável, mas pode-se
mostrar separadamente através de aspectos materiais. Que seja somente
a voz própria do Pai, demonstra-se pelas palavras que disse: ‘Este é
meu Filho” (Santo
Agostinho, De Trinitate, 4, 21),
e ainda: “Não somente
tem demonstrado que é seu Filho com o nome, senão com propriedade.
Muitos somos filhos de Deus, mas o Filho de quem falamos não é dessa
classe. Este é seu Filho próprio e verdadeiro, por origem, não por
adoção; em verdade, não em aparência; por natividade, não por criação”
(Santo
Hilário, De Trinitate, 3,11), e:
“O Pai, pois, ama ao Filho, mais como um pai ama ao seu filho, não
como um amo quer ao seu servo; como unigênito, não como adotado e por
isso acrescenta: n’Ele me comprazo”
(Santo
Agostinho, In Ioannem, 14,11).
Literalmente há de
ler-se: Este é o meu Filho, o amado. E o Amado, precedido do artigo e
unido à expressão o Filho, normalmente na Escritura refere-se ao filho
único. Com toda a propriedade e força declara-se aqui que Jesus é o
Filho de Deus, o Unigênito, Filho num sentido completamente diferente
dos outros homens. Por essa filiação possuía a plenitude do Espírito
Santo. Esta nova descida significa que a Terceira Pessoa da Trindade
começava a sua ação por meio do Messias. Muitos textos do Antigo
Testamento anunciavam esta especialíssima manifestação do Espírito
Santo.
O Senhor não
necessitava de ser batizado, como não precisava da circuncisão, à
qual, não obstante, também se submeteu. O evangelista indica a razão:
era a vontade de seu Pai que se submetesse à Lei, como Ele mesmo
ensinará mais tarde.
Os céus abertos são
o primeiro elemento da teofania; se se abrem sobre o novo profeta é um
sinal de que está inteiramente na intimidade de Deus. A este primeiro
elemento agregam-se os outros dois: o vôo da pomba, símbolo do
Espírito, e a voz do Pai que sai do mais profundo.
O testemunho do
Precursor, a partir deste momento, será mais completo e mais premente.
Vede o Cordeiro de Deus - dirá João - vede o Eleito.
Quando o Batista
compreendeu como lhe tinha sido mostrado o Cristo, pensou talvez que
devia ele retirar-se para lhe deixar o lugar. Mas Jesus desapareceu
tão subitamente como tinha aparecido, e durante mais de um mês, o
tempo que permaneceu em jejum e em oração no deserto, ninguém o viu,
nem provavelmente ninguém sabia onde estava. João compreendeu que
devia continuar a sua missão.
Jesus quis começar
a sua vida pública a partir do movimento religioso iniciado pelo seu
Precursor. É tão importante este momento que Pedro exigirá ter
acompanhado Jesus desde o Batismo de João para cobrir a vacante
deixada por Judas no Colégio dos Doze.
Tinha Jesus ao
começar uns trinta anos. Após o Batismo, regressou do Jordão e foi
conduzido pelo Espírito ao deserto (Lc).
Os Padres gregos,
desde o século II, colocam unanimemente o dia do Batismo do Senhor no
dia 6 de janeiro. Também a Igreja ocidental celebrava no mesmo dia
este acontecimento já desde tempos remotos (agora comemora-se no
primeiro domingo depois da Epifania). Os dados que conhecemos pelos
evangelhos parecem confirmar de alguma maneira esta tradição.
Efetivamente, entre o batismo de Cristo e a primeira Páscoa no mês de
abril há que supor pelo menos dois meses de distância. Cristo,
imediatamente depois do batismo retirou-se para o deserto, onde
permaneceu durante quarenta dias. Dali voltou para as margens do
Jordão, onde o Batista continuava a pregar (Jo). Depois de uns oito
dias tiveram lugar as bodas de Caná da Galiléia (Jo). Veio depois a
Cafarnaum, onde não permaneceu um longo espaço de tempo, segundo nos
indica São João. E dali subiu a Jerusalém para celebrar a Páscoa. O
batismo, portanto, deve ter tido lugar nos primeiros dias de janeiro.
Pe.
Divino Antônio Lopes FP.
Anápolis, 09 de janeiro de 2008
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