FIDELIDADE DOS MAGOS (Mt 2, 2)
“... e viemos homenageá-lo”.
Católico, é vontade de Deus que Lhe sejamos fiéis, que obedeçamos aos seus Mandamentos e façamos a Sua santa vontade sem nos intimidar com as críticas dos mundanos. Os Magos foram fiéis a Cristo Jesus; sejamos também nós, porque longe do Senhor não existe verdadeira felicidade. Não nos afastemos do Senhor, por grandes que sejam os obstáculos. Lembremo-nos de que no fundo de toda deserção há sempre uma falta de fé na graça e no auxílio de Deus. É impossível que Deus abandone a quem quer ser-lhe fiel a todo custo e, portanto, luta sem tréguas para superar as tentações do egoísmo e as atrações do mundo. Prometendo-Lhe fidelidade, digamos de todo o coração: Por meio da fé, ó Senhor, nos unimos a Vós; por meio da inteligência, somos vivificados. Fazei-nos primeiro unidos a Vós pela fé, a fim de sermos depois vivificados por meio da inteligência. Quem não se une convosco, Vos opõe resistência; quem Vos opõe resistência não crê. E como poderia ser vivificado quem Vos resiste, ó Senhor? Volta as costas ao raio de luz que o deveria iluminar: não afasta os olhos mas fecha a mente. Dai-me, ó Senhor, crer e me abrir; abrir-me para ser iluminado. Se nos afastarmos de Vós, a quem iremos? “Tendes palavras de vida eterna”. Eis que nos dais a vida eterna, oferecendo-nos Vosso Corpo e Vosso Sangue. “E nós cremos e conhecemos”. Cremos para poder conhecer; se quiséssemos conhecer antes de crer, não teríamos conseguido conhecer nem crer. Que é que cremos e conhecemos? “Que sois o Cristo Filho de Deus”, isto é, que sois a própria vida eterna e, tanto na carne como no sangue, nos dais o que sois. Católico, o Verbo Encarnado não permanece ocioso no estábulo em que repousa. Do fundo do presépio ilumina a todo homem que vem a este mundo e comunica às almas fiéis a luz da fé. Se o Verbo Encarnado não permanece ocioso no estábulo; por que você católico vive de braços cruzados, acomodado em sua “poltronice”? É vontade de Nosso Senhor que sejamos fiéis às suas graças, porque sendo luz, podemos iluminar àqueles que vivem nas trevas. O Senhor oferece-nos constantemente a sua graça para nos ajudar a sermos fiéis, isto é, a cumprir o dever de cada momento. Da nossa parte, resta-nos aceitar essas ajudas e cooperar com elas generosamente e com docilidade. Infeliz de quem joga fora a graça de Deus. Dá-se na alma algo de semelhante ao que acontece com o corpo: os pulmões necessitam continuamente de aspirar oxigênio para renovar o sangue; quem não respira morre asfixiado. Pois bem, quem não recebe docilmente a graça que lhe é dada por Deus em cada momento, acaba por morrer de asfixia espiritual. O Senhor quer que recebamos com docilidade suas graças. Receber a graça com docilidade é empenhar-se em realizar aquilo que o Espírito Santo sugere na intimidade do coração... Quanto maior for a nossa fidelidade a essas graças, melhor nos prepararemos para receber outras, maior a facilidade que teremos para realizar boas obras, maior a alegria que experimentaremos na nossa vida, porque a alegria sempre está estreitamente relacionada com a correspondência à graça. Voltemos à Gruta de Belém; é o Menino Deus que envia uma estrela aos Magos do Oriente, iluminando ao mesmo tempo a sua inteligência para atraí-los a Belém. Quantos outros terão contemplado o meteoro luminoso, sem lhe compreenderem o sentido, detendo-se apenas em uma admiração estéril! Isso não se deu com os Santos Reis; tocados pela graça sem se deixarem intimidar nem pelo respeito humano, nem pela oposição de seus amigos e parentes, nem pelo pensamento das fadigas e dos perigos da viagem, decidem-se a seguir o sinal manifestado pelo céu. Deus fala, sua vontade se lhes manifesta, e isso lhes basta. Que fé! Que felicidade! Se o Senhor nos convida a aproximarmos d’Ele, nada nos deverá deter; quanto maiores forem os obstáculos, mais devemos nos esforçar. Não desanimemos; pelo contrário, tenhamos paciência durante as provações. A paciência é virtude tão agradável a vós, Ó Deus, e tão necessária à salvação, que, sem ela, não podemos contentar-nos nem receber o fruto de nossos trabalhos por vós permitidos para salvação nossa. São milhões os que abandonam a Cristo Jesus por respeito humano, por medo das críticas e zombarias. Pobres medíocres! Pobres infelizes! “Que dirão os homens?” – Eis o fantasma que intimida muitos cristãos e os retrai da igreja, da freqüência dos sacramentos e do exercício da virtude. Católico, os Magos chegam perto de Jerusalém, a estrela desaparece; nova provação para eles! Mas, sem se perturbar, vão consultar os depositários da Escritura, a fim de ouvirem de seus lábios os oráculos divinos e com eles conformarem-se humildemente. Mal se põem novamente a caminho, a estrela reaparece, recompensando a sua submissão aos representantes de Deus. Às vezes a “estrela” também “desaparece” na nossa vida. Quando isso acontecer, isto é, quando sentirmos mergulhados na escuridão das tentações, securas espirituais, incompreensões... não nos desesperemos, mas confiemos no Senhor e continuemos a caminhar, esperançosos de que a “estrela” reaparecerá. Esperemos com paciência e fé, e a exemplo dos Magos nos alegraremos quando a “estrela” reaparecer. Os Magos chegam a Belém; com que lá se deparam? Ah! Pasmaram em não achar Jerusalém em festa pelo nascimento do Messias. Agora sua admiração atinge o auge: em vez de um rei coroado de diadema e circundado da sua corte, contemplam um menino pobre, fraco e sem palavra: Que provação suprema para sua fé! Quem não sucumbiria? Mas esses dignos descendentes de Abraão crêem contra todas as aparências. Prosternam-se por terra e, sem outro raciocínio, adoram o eterno feito mortal por seu amor. Tomados de admiração por verem em Jesus tanta grandeza oprimida, tantos esplendores obscurecidos, tanta majestade velada, permanecem presos de respeito, alegria, reconhecimento e ternura. Ó triunfo da fé, quanto ela arde nos corações! Examinemos se não temos faltas acerca dessa fé viva em nossas relações com Jesus no Sacramento dos altares, onde Ele está tão realmente como outrora em Belém. Imitemos os sentimentos dos Magos, sempre que nos é dado entrar em uma igreja onde reside o Deus da Eucaristia. Quando entrarmos na casa de Deus, respeitemos esse Santo lugar e adoremos com fé a Jesus Sacramentado. A alma amante terá então uma só potência, uma só vida: Nosso Senhor no Santíssimo Sacramento. Ele aí está! E esta idéia domina-a inteiramente. Ele aí está! Então há correspondência de amor e há sociedade de vida. Meu amado Redentor, os Magos pasmaram ao encontrar-Vos tão pobre sob os paninhos da vossa infância; quanto mais não devemos nós admirar, adorando-Vos sob as mais humildes espécies após as glórias da vossa ressurreição! Ah! Comunicai-me: 1.° A fé, o respeito, a admiração dos santos reis para as vossas grandezas ocultas; 2.° A sua gratidão por ter sido eu escolhido, entre milhares, para conhecer esses mistérios da salvação; 3.° O seu fervor e fidelidade, a fim de me utilizar de tantos meios de santificação que no culto Eucarístico me são proporcionados com mais abundância do que aos Reis Magos em Belém. Jesus Menino predestinou-nos como aos Reis Magos, não só à fé e à graça, mas ainda à perfeição do seu amor: “Nele ele nos escolheu antes da fundação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis diante dele no amor” (Ef 1, 4). Quantas provas desta verdade não temos nós em nossa vida! Logo após o nosso nascimento, fomos levados à pia batismal, purificados do pecado, arrancados das garras de Satanás, tornados filhos de Deus e da Igreja, constituídos herdeiros do reino dos céus! Para dar-nos tempo de aumentarmos os nossos merecimentos, o Senhor prolongou a nossa vida, proporcionou-nos uma educação cristã, muniu-nos de suas luzes, inspirou-nos o gosto pela piedade. Quantos bons movimentos e inclinações para a virtude não temos recebido! Quantos meios de santificação não nos foram concedidos na oração sob todas as suas formas e em todos os instantes: nos sacramentos tão fecundos em frutos de salvação, e no sacrifício dos nossos altares, o mesmo do Calvário que resgatou do pecado o gênero humano vendido a Satanás. Tantos socorros foram-nos acaso concedidos sem finalidade alguma? Não provam eles que o Senhor deseja ver-nos santos e perfeitos? Contas terríveis temos de prestar-Lhe se por nossa negligência não correspondermos a tantas graças, ou se por nossa tibieza voluntária, delas abusarmos em detrimento da sua glória e do nosso progresso. É, pois, imprescindível que façamos frutificarem em nós os bens celestes, trabalhando, cada dia, seriamente na nossa santificação. — Temos assim procedido até agora? Não temos sido rebeldes às acusações interiores que o Menino Deus nos faz? Examinemos diante do presépio: 1.° Se, por seu amor, combatemos nossa vaidade, dissipação, apegos, desejos precipitados, freqüentes transportes de cólera, e tantos outros obstáculos ao reino da sua graça em nós; 2.° Se, para o imitarmos, trabalhamos em humilhar-nos diante de Deus, em desfazer-nos em amabilidades para com o próximo e em desprezar-nos a nós mesmos, atendendo sempre à presença divina e resignando-nos nas contrariedades. Católico, não seja negligente e tíbio. Não jogue fora a graça de Deus. Lembre-se de que existe um julgamento após a morte; nesse dia Deus lhe pedirá severas contas. Cristo deixou-nos na terra a fim de que nos tornássemos faróis que iluminam, doutores que ensinam; a fim de que cumpríssemos o nosso dever de fermento; a fim de que nos comportássemos como anjos, como anunciadores entre os homens; a fim de que fôssemos adultos entre os menores, homens espirituais entre os carnais a fim de os ganharmos; a fim de que fôssemos semente e déssemos frutos numerosos. Amabilíssimo Salvador, chamai-me a vós como aos Magos e proponde-me a perfeição do vosso amor. Não permitais que me mostre indócil à vossa voz e infiel aos vossos atrativos. Que não sofreram os Santos Reis para chegarem a Vós? Quantas fadigas! Quantos desgostos! Quantas privações! Inspirai-me a coragem: 1.° De trabalhar seriamente como eles, em minha santificação, por uma vida de vigilância, de recolhimento e de oração; 2.° De suportar os sofrimentos, os desgostos, as dificuldades inseparáveis do cumprimento dos meus deveres; 3.° De renunciar ao meu juízo próprio, à minha vontade, às minhas más inclinações e a todos os defeitos que impedem em minha alma o vosso reino perfeito.
Pe. Divino Antônio Lopes FP. Anápolis, 23 de dezembro de 2008
Bibliografia
Bíblia Sagrada Santa Catarina de Sena, Epistolário Pe. Gabriel de Santa Maria Madalena, Intimidade Divina São João Crisóstomo, Homilias São Pedro Julião Eymard, Escritos e Sermões Santo Agostinho, Em Jo 27, 7. 9 Catena Aurea Pe. Alexandrino Monteiro, Raios de Luz Pe. Francisco Fernández-Carvajal, Falar com Deus Pe. Luis Bronchain, Meditações para todos os dias do ano
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