VIRAM O MENINO COM MARIA, SUA MÃE (Mt 2, 11)
“Ao entrar na casa, viram o menino com Maria, sua mãe”.
1.° Disposições requeridas para visitar o Menino Deus
Os primeiros visitantes do Divino Infante no estábulo de Belém foram os Espíritos bem-aventurados: “Logo que o Pai eterno introduziu seu unigênito Filho sobre a terra, ordenou a seus anjos que o adorassem” (Hb 1, 6). E esses espíritos celestes desceram à Gruta onde repousava o Divino Infante. Com que assombro contemplavam a sua pobreza, a sua pequenez, o estado de sujeição a que se reduziu Aquele que gozava nos céus tantas riquezas, glória, poder e independência! Qual não foi sua admiração, vendo a Majestade divina humilhada, o esplendor eterno obscurecido, a alegria do paraíso chorando e gemendo sobre um leito de palha como uma criança abandonada! Quem de nós não cai de joelhos, penetrado de veneração profunda diante desse espetáculo arrebatador? Ele, o Deus Eterno, nasce numa Gruta úmida e fria, num alpendre desabrigado, onde falta o conchego do lar doméstico, um bercinho fofo, o asseio... falta tudo! Nasce pobre, para que nós, com Seu exemplo, nos animemos a deixar as riquezas e comodidades da vida. Nasce no mais completo abandono, para que nós tenhamos por melhor que o nosso nome seja desconhecido. O Deus, riqueza infinita, nasce na extrema pobreza. Uma gruta fria... uns pobres paninhos para cobri-lO, um pouco de palha para leito e uma vil manjedoura para O colocar. Católico, contemple o Menino Deus na pobre, fria e úmida Gruta de Belém. Contemple-O e core. Ele, o Deus Infinito nasceu numa Gruta, enquanto que você procura e exige sempre o mais cômodo. Quanta mordomia e falta de amor ao sacrifício! É assim que você deseja alcançar a Vida Eterna? Vivendo longe do sacrifício e do caminho estreito? Lembre-se de que o amor deve culminar no sacrifício, que o Senhor ama os corações fortes e generosos e que quanto mais amamos, mas necessitamos e desejamos o sacrifício. Será que você ama verdadeiramente a Deus? Infeliz do católico que foge do sacrifício e que se poupa; esse não pode ser chamado discípulo do Menino Deus. O católico que se poupa, que calcula para dar a Deus o mínimo indispensável, de modo a não lhe ser traidor, que vive procurando antes fugir da cruz que carregá-la, antes defender-se que renunciar-se, antes salvar a própria vida que sacrificá-la, não é discípulo de Cristo. Se não nos é dado testemunhar nosso amor e nossa fé com o martírio do sangue, devemos, todavia, testemunhá-los abraçando com generoso coração todos os deveres que o seguimento de Cristo impõe, sem recuar perante o sacrifício. Aproximemo-nos da Gruta de Belém e, com humildade, digamos ao Menino Jesus: Ó Senhor, quão pouco fazemos por Vós! É grande miséria dar peso a certos “sacrificiozinhos” que por Vós fazemos, ainda que fossem muitos! Católico, os anjos vão anunciar o Menino Deus aos pastores que guardam os seus rebanhos. Esses homens simples acorrem, mas que encontram? Um menino envolto em paninhos e reclinado num presépio, como lhes fora dito. Prostram-se e, repletos de terna devoção, agradecem a seu Deus Salvador por se ter abaixado até eles e suplicam-Lhe a graça de servi-lO fielmente. Depois, derramando seus corações em piedosos afetos, consagram-se ao divino Messias esperado há tantos séculos como um poderoso monarca e que se lhes apresenta sob a forma duma graciosa criança. A exemplo dos pastores, prostremos também nós por terra, e prometamos ao Rei dos reis servi-lO com fidelidade até a morte. Sirvamos ao Senhor e consumamo-nos por Ele. Se todas as criaturas têm por nobre destino servir a Deus, seu Criador, num grandioso cântico de homenagem aos seus infinitos atributos; por que só o homem reage e não quer servi-lO? Na terra julgam-se honrados aqueles que servem grandes senhores. Por que não se achará o homem honrado em servir o supremo Senhor do universo? É nosso dever servir a Deus na mocidade e na velhice. Entretanto há quem diga: Sou novo, tenho tempo de dar-me à religião mais tarde. Só os filhos mais velhos que devem veneração aos pais ou também os mais novos? Não são todos filhos? A Sagrada Escritura ordena que o homem sirva a Deus na sua juventude: “Lembra-te do teu Criador nos dias da mocidade” (Ecl 12, 1). Será que existe maior felicidade do que a de servir ao nosso Deus Eterno? Como é agradável e seguro ser escravo do Senhor que cuida de nós! Louco é aquele que deixa de servir ao Senhor da Vida para se entregar ao príncipe das trevas. Deus é o Senhor da nossa vida inteira. Não queiramos deixar para a velhice o servi-lO, entregando ao demônio e ao mundo as forças da mocidade; mas desde a nossa juventude sirvamo-lO, para não sentirmos um dia cruéis remorsos. Católico, depois dos pastores, vêm enfim, os Reis do Oriente, a seu turno, prestar suas homenagens ao Redentor recém-nascido. Oferecem-Lhe a expressão da sua fé, de sua confiança e de seu amor nos dons preciosos que depõem a Seus pés e que são para nós símbolos das disposições que devemos levar ao berço de Jesus, e diante dos tabernáculos onde repousa dia e noite. Ó meu Amável Salvador, cada dia que Vos for visitar nas igrejas ou receber-vos na Santa Mesa, proponho: 1.° Unir-me à admiração dos anjos, maravilhados de ver em Vós a força invencível reduzida por Vosso Coração amoroso à mais completa impotência; — 2.° Pedir emprestado aos pastores seus sentimentos de respeito às Vossas grandezas, de gratidão por Vossos benefícios e de esperança em Vossa bondade sem limites; — 3.° Quero pedir-Vos em particular o fervor e o amor dos três Reis Magos para consagrar-Vos o meu corpo, a minha alma, todos os meus instantes, a fim de que tudo o que me pertence esteja sujeito ao Vosso império e ao Vosso serviço.
2° Frutos a tirar das visitas a Jesus
O Rei Jesus, lírio também Ele, compraz-se entre os lírios. É aos anjos que Ele primeiro chama ao seu berço. Por isso, quando O visitamos no estábulo ou em nossas igrejas, peçamos-Lhe a pureza de coração que tanto Lhe agrada por inspirar-nos o horror das menores faltas e o desapego das criaturas. Nosso Senhor não aceita um coração dividido; é preciso amá-lO com todo o coração e estar com o mesmo voltado para Ele. À imitação do girassol que se volta continuamente em torno do sol, mesmo quando o céu está encoberto, assim nós, muito embora em meio das contrariedades, nos devemos voltar sempre para Deus. É vontade do Senhor que desapeguemos o coração das criaturas. O que elas podem dar ao nosso coração? Somente tristeza e amargura. A alma, prendendo seu coração aos bens deste mundo, torna-se viciosa aos olhos de Deus; e assim como a malícia não pode entrar em comunhão com a bondade, também esta alma não se poderá unir perfeitamente ao Senhor, que é bondade por essência. Toda a sabedoria do mundo e toda a habilidade humana comparadas à sabedoria infinita de Deus são pura e suprema ignorância. Pela pureza conseguiremos aquela simplicidade e retidão para com Deus, virtudes das quais os pastores nos dão o exemplo e que devemos também reclamar do Salvador sempre que aparecemos em sua presença. Ele ama ternamente as almas simples, que vão diretamente a Ele, sem rodeios e sem fingimento. Com que complacência considera Ele um coração que não procura a si mesmo, vive sem pretensões e deseja ardentemente a glória de seu bem-amado! Em nossas visitas a Jesus, peçamos a graça de tornar-nos, como o apóstolo, capazes de proceder neste mundo, não segundo as regras da sabedoria carnal e da prudência mundana, mas em toda a simplicidade de coração e na sinceridade de Deus. Que é preciso acrescentar ainda a essa retidão? “O amor, porque amo aqueles que me amam” (Pr 8, 17). Mas para esse amor ser verdadeiro, deve assemelhar-se ao dos Reis Magos e manifestar-se em ações. Deve, por conseguinte: 1.° Induzir-nos a fazer por Jesus o sacrifício de tudo o que nos impede de chegar a Ele, como os Reis que deixaram as suas terras; 2.° Constranger-nos a consagrarmo-nos sem reserva ao Salvador com tudo o que nos pertence. Daí a obrigação para nós de não mais seguir o caminho da natureza, depois da visita de Jesus; mas de guiarmo-nos em tudo pelo espírito de fé, mormente na oração, nos sofrimentos e nos combates. Adorável Salvador, tesouro do céu e da terra, viestes trazer-nos as riquezas da salvação. Inspirai-me o desejo de obtê-las quando Vos visito no presépio ou nas igrejas onde residis. Quero pedir-Vos especialmente a pureza de coração, a retidão de intenção e a força de praticar o que o verdadeiro amor exige, isto é, a abnegação, a paciência e a união habitual Convosco. Quantas vezes não me tenho queixado de não ter tido tempo de meditar, suplicar e prestar-Vos as minhas homenagens nos santuários em que habitais! Mas ouço a Vossa voz a responder-me na Imitação: “Se renunciais aos discursos supérfluos, viagens inúteis à procura de novidades e ao ruído do mundo, achareis tempo e repouso bastante para as meditações piedosas e para as visitas às igrejas onde vos espero para cumular-vos de bens”.
Pe. Divino Antônio Lopes FP. Anápolis, 28 de dezembro de 2008
Bibliografia
Bíblia Sagrada Pe. Gabriel de Santa Maria Madalena, Intimidade Divina Santo Afonso Maria de Ligório, Meditações Bem-aventurada Elisabete da Trindade, Obras Completas Pe. Luis Bronchain, Meditações para todos os dias do ano Pe. Alexandrino Monteiro, Raios de Luz Santa Teresa de Jesus, Vida Frei Mateus Maria do Souto, Verdade e Luz Santa Teresa dos Andes, Cartas São João da Cruz, Obras Completas
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