BEIJO DE JUDAS

(Mt 26, 49)

 

“E logo, aproximando-se de Jesus, disse: ‘Salve, Rabi!’ e o beijou”.

 

 

Disse Judas Iscariotes: “Aquele a quem eu der um beijo, prendei-O” (Mt 26, 48). O ódio e a paixão nada esquecem. Judas lembrou-se que Jesus tinha escapado aos que O quiseram apedrejar e aos que O queriam coroar. Quanto era para desejar que com igual zelo fizesse o bem!

A ingratidão e a infidelidade, como vermes, corroíam o coração daquele que foi chamado para ser um apóstolo santo de Cristo Jesus: “Chamou os doze... Estes são os nomes dos doze apóstolos... e Judas Iscariotes, aquele que o traiu” (Mt 10, 1-3). Judas recebeu até o Sacramento do Corpo e Sangue do Senhor.

Judas estava cego, o mesmo persistia na sua obstinação... continuou junto de todos conversando e comendo com Aquele que sabia da sua traição: “Em verdade, em verdade vos digo: um de vós me há de trair!” (Jo 13, 21).

Hoje, são milhares os católicos que imitam rigorosamente o apóstolo Judas Iscariotes; esses vivem cegos espiritualmente... são infiéis ao Mestre e se aproximam da Santíssima Eucaristia como cobras venenosas: “Se Jesus-Eucaristia cai por terra nas santas parcelas tantas vezes sem que ninguém disto se aperceba, quantas vezes não cai de dor ao ver o pecado mortal macular uma alma. E quão mais doloroso é ainda para Jesus cair num coração infantil que o recebe indignamente quando a ele se chega pela primeira vez. É cair num coração de gelo que o fogo do seu Amor não consegue fundir, num espírito orgulhoso e dissimulado que seu Poder não consegue tocar, num corpo humano que não passa dum túmulo cheio de podridão... Todos os dias – e quantas vezes por dia! – o Deus da Eucaristia cai pela Comunhão em corações covardes e tíbios, que o recebem sem preparo, guardam-no sem piedade, deixam-no ir sem um ato sequer de amor ou gratidão” (São Pedro Julião Eymard), e: “Seria inconveniente que a pureza da Eucaristia fosse recebida em uma mente e em um corpo impuros” (Santa Catarina de Sena).

Por que será que milhares de católicos recebem o Santíssimo Corpo do Senhor e vivem na tibieza? “Quem se aproximasse (da comunhão) em pecado mortal, nenhuma graça receberia, embora acolha em si o todo-Deus e todo-Homem. Sabes a que se assemelha a pessoa que comunga indignamente? Se assemelha a uma vela molhada na água que apenas faz barulho ao ser encostada ao fogo; e, se por acaso acende, logo se apaga, fazendo fumaça” (Idem.).

São milhares os católicos que foram batizados, crismados, fizeram a primeira comunhão... e vivem como Judas Iscariotes.

Judas disse: “Deus te salve, Mestre”, e O beijou. Eis o cúmulo da hipocrisia! Judas dá o “salve” a quem quer perder, abusando, pois, do sinal de amizade. Quantos católicos não se assemelham a Judas Iscariotes! Quantos até procedem de modo pior, como já foi comentado, recebendo Jesus Cristo num coração indigno!

O apóstolo Judas Iscariotes, fingindo-se amigo de Cristo Jesus, saudou-O: “Deus te salve, Mestre”. O Senhor deixou-se beijar.

Milhares de católicos fingem ser amigos de Nosso Senhor Jesus Cristo. Esses dizem que amam o Senhor, que estão prontos a servi-Lo na alegria e nas dificuldades... mas quando são abordados pelos inimigos da Santa Igreja Católica, dão-Lhe o beijo da traição e abandonam a Santa Igreja. Quem abandona a Igreja Católica para seguir as seitas, deve ser chamado de Judas traidor.

Otto Hophan escreve: “O pecado do traidor chegou ao auge quando Judas atravessou a noite amena e alegre da Páscoa, docemente iluminada pela lua cheia, à frente de uma grande multidão, armada de espadas e varapaus (Mt 26, 47). Lucas observa que Judas os precedia (Lc 22, 47): a um apóstolo convertido em apóstata, tudo lhe parece pouco para demonstrar o seu novo ardor. Não percebia ele como era inacreditável a sua atitude? Realmente, há momentos no coração dos homens em que todas as luzes parecem extinguir-se. Levando ao limite o seu descaramento, Judas tinha-lhes dado este sinal: Aquele a quem eu beijar, é esse; prendei-o e levai-o com cuidado. Logo que chegou, aproximando-se d’Ele, saudou-o dizendo-lhe: ‘Mestre!’ E beijou-o (Mc 14, 44 ss; Mt 26, 48 ss)”.

São milhões os que serviam a Cristo Jesus na Igreja Católica, e agora, encabeçam o exército de apóstatas para perseguir a Santa Igreja com calúnias e difamações. Quanta traição! Viveram muitos anos ao lado do Mestre, e agora O perseguem.

Católico, Jesus Cristo disse a Judas: “Amigo, a que vieste?” (Mt 26, 50). Nosso Senhor chama ao traidor ainda de amigo, dando-lhe a entender que perdoaria se se arrependesse. Não o trata de ingrato, como merecia.

Católico, Cristo não fez assim contigo? E tu? Cuidado para não abusar da misericórdia do Senhor que morreu na cruz para te salvar: “O Senhor é bom, mas também é justo. Não queiramos considerar unicamente uma das faces de Deus” (São Basílio Magno), e: “A clemência foi oferecida a quem teme a Deus e não a quem abusa dela” (Santo Afonso Maria de Ligório), e também: “Acautelai-vos quando o demônio (não Deus) vos promete a misericórdia divina com o fim de que pequeis” (São João Crisóstomo).

Disse-lhe o Senhor: “Judas, com um beijo entregas o Filho do homem?” (Lc 22, 48). É o último convite ao pecador para abandonar seu intento. Em vão! Judas não ouve o seu melhor amigo. A paixão o obceca...

Católico, Nosso Senhor te admoesta nas horas da tentação pela voz da consciência. Já foste um Judas? Quererás sê-lo no futuro?

Não vire as costas para o Senhor que cuida de ti. Ele fez o bem para Judas que O traiu; depois de ter recebido o beijo, mostrou-lhe carinho de amigo, chamando-o pelo nome, não censurando, mas perguntando-lhe com ternura: “Judas, com um beijo entregas o Filho do homem?”

O Senhor perdoa um pecador arrependido... mas não perdoa quem abusa de sua misericórdia: “Judas se condenou, porque se atreveu a pecar confiando na clemência de Jesus Cristo” (São João Crisóstomo).

 

Pe. Divino Antônio Lopes FP.

Anápolis, 21 de maio de 2009

 

 

Bibliografia

 

Sagrada Escritura

Frei Pedro Sinzig, Breves meditações para todos os dias do ano

Pe. Luiz de la Palma, A Paixão do Senhor

São Pedro Julião Eymard, A Divina Eucaristia, Volume 03

Santa Catarina de Sena, Carta 266, 6; O Diálogo

Otto Hophan, Judas Iscariotes

São João Crisóstomo, Hom. 50 ad pop. Antioch.

Santo Afonso Maria de Ligório, Preparação para a morte, Consideração 17

 

 

 

 

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Pe. Divino Antônio Lopes FP. “Beijo de Judas”

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