MINHA ALMA ESTÁ TRISTE ATÉ A MORTE
(Mt 26, 36-39; Mc 14, 32-36; Lc 22, 40-44)
Em Mt 26, 36-39 diz:
“... e disse aos discípulos: ‘Sentai-vos
aí enquanto vou até ali para orar’. Levando Pedro e os dois
filhos de Zebedeu, começou a entristecer-se e a angustiar-se.
Disse-lhes, então: ‘Minha alma está triste até a morte.
Permanecei aqui e vigiai comigo’ E indo, um pouco adiante,
prostrou-se com o rosto em terra e orou: ‘Meu Pai, se é
possível, que passe de mim este cálice; contudo, não seja como
eu quero, mas como tu queres’”.
Em Mc 14, 32-36 diz:
“E ele disse a seus discípulos:
‘Sentai-vos aqui enquanto vou orar’. E, levando consigo Pedro,
Tiago e João, começou a apavorar-se e a angustiar-se. E
disse-lhes: ‘A minha alma está triste até a morte. Permanecei
aqui e vigiai’ E, indo um pouco adiante, caiu por terra, e orava
para que, se possível, passasse dele a hora. E dizia: ‘Abba! Ó
Pai! Tudo é possível para ti: afasta de mim este cálice; porém,
não o que eu quero, mas o que tu queres’”.
Em Lc 22, 40-44 diz:
“Chegando ao lugar, disse-lhes: ‘Orai
para não entrardes em tentação’. E afastou-se deles mais ou
menos a um tiro de pedra, e, dobrando os joelhos, orava: ‘Pai,
se queres, afasta de mim este cálice! Contudo, não a minha
vontade, mas a tua seja feita!’ Apareceu-lhe um anjo do céu, que
o confortava. E, cheio de angústia, orava com mais insistência
ainda, e o suor se lhe tornou semelhante a espessas gotas de
sangue que caíam por terra”.
O Pe. Luis de la Palma comenta:
Chegando à entrada do horto, Jesus ordenou que
ficassem ali. Encarregou-os de velar e que não
adormecessem, porque iria fazer suas orações, e para não caírem
em tentação, que fizessem o mesmo.
Adentrou no horto com Pedro, João e Tiago; mas
também se afastou deles à distância de um tiro de pedra (Lc
22, 41). O Senhor começou a sentir uma angústia profunda, e
disse aos três discípulos mais queridos:
“Minha alma está triste até a morte”
(Mt 26, 38). A tristeza é um sentimento que nasce do pavor ou
medo, ante a dor que se está para sofrer. Ambas as coisas, a
tristeza e o medo, como se fossem duas pesadas pedras, oprimiram
o Coração do Senhor até lhe causar angústia. Começou a ter
pavor e angustiar-se (Mc 14, 33).
O Senhor tinha motivos para estar angustiado e
triste. Durante toda a sua vida, sofreu por amor aos homens; mas
naquele momento, a sua dor era ainda mais forte. É verdade que
Jesus Cristo contemplava a Deus com infinita claridade, e quem
vê a Deus desta maneira não sofre nenhuma aflição e goza de uma
felicidade sem limites. Mas foi desejo de Deus que Jesus
Cristo sofresse para que pudéssemos ser redimidos;
sofreu a dor no seu corpo e sofreu tristeza e angústia na sua
alma. Demonstrou que era um verdadeiro homem ao sofrer, ao
sentir e ao comover-se. Não foi menos Redentor ao
padecer fome, sede, cansaço e fadiga no seu corpo, como também,
não foi menos Redentor ao padecer tristeza, medo e angústia na
sua alma. Quando um homem sofre uma terrível dor física e tem ao
seu alcance um remédio eficaz e não o utiliza, dizemos que este
homem sofre porque quer. Do mesmo modo, o Senhor podia
suprimir imediatamente a dor do seu corpo e da sua alma, mas não
usou de seu poder divino, portanto, é certo que sofreu porque
desejou. E esse foi, talvez, o desamparo de que se queixou na
cruz: “Meu Deus, meu Deus,
por que me abandonaste?” (Mt 27, 46).
Uma das razões pelas quais Jesus Cristo
quis sofrer a dor no seu corpo e na sua alma, foi para nos
demonstrar que era verdadeiro homem, com a nossa mesma natureza,
que sentia como nós a tortura e os insultos, que não era
“de bronze e de pedra”
(Jó 6, 12).
Quando sentimos a força das tentações, não
devemos desanimar e pensar que perdemos a graça de Deus. Estes
sentimentos não são pecados, mas manifestações da debilidade
natural do homem. O Senhor quis sentir esta fraqueza, fazendo-se
igual a nós – exceto no pecado – para que nós nos fizéssemos
iguais a Ele, na fortaleza e na obediência à vontade de Deus...
Como diz Santo Ambrósio: “Não
devem ser considerados valentes, os que mais feridas recebem,
mas os que mais sofrem por elas”. Quis o Senhor
participar como nós das dores do corpo e também das tristezas da
alma, porque quanto mais participasse dos nossos males, mais
participantes nos fariam dos seus bens.
“Tomou a minha tristeza
– diz Santo Ambrósio –
para me dar a sua alegria; com meus passos desceu à morte, para
que com os seus passos eu subisse à vida”.
Tomou o Senhor as nossas enfermidades para que
fôssemos curados; castigou-se a si mesmo pelos nossos pecados,
para que nós recebêssemos o perdão. Curou a nossa soberba
com as suas humilhações; a nossa gula, bebendo fel; a nossa
sensualidade, com a sua dor e a sua tristeza.
Por outros motivos que ultrapassam o
conhecimento humano, nosso Senhor misericordioso e amoroso, quis
ser açoitado, esbofeteado, coroado de espinhos, ter os pés e
mãos perfurados; como também permitiu que os enviados das trevas
o atormentassem e a tristeza se apoderasse do seu coração.
O Senhor teve muitos motivos para ficar triste, e
como não quis que fossem atenuados, sofreu uma angústia de morte
em seu Coração. Aquele dia fora exaustivo para Jesus.
Caminhou de Betânia a Jerusalém, celebrou a ceia pascal, lavou
os pés dos Apóstolos, instituiu o Sacramento da Eucaristia e o
repartiu com seus discípulos. Conversou durante muito tempo,
procurando animá-los e confortá-los; esquecendo-se de sua
aflição, para acalentá-los, consumindo-se nesta entrega afetuosa.
Disse-lhes que eles eram os seus amigos, os escolhidos,
companheiros de suas penas; que deveriam estar mais unidos a Ele
que o sarmento à videira; que a dor seria breve, e a alegria
grande; que lhes enviaria o Espírito Santo para defendê-los e
ensiná-los. Que Ele partiria na frente recebendo no seu corpo as
feridas, e eles alcançariam a vitória depois. Disse-lhes por
último que os deixaria, e que voltaria para seu Pai, e isto era
uma felicidade tão grande, que deveriam ficar alegres, e depois
retornaria e os levaria para junto d’Ele no céu.
Sofreu muito por Judas, demonstrou isto, várias
vezes naquela noite, até o ponto de não poder disfarçar mais a
tristeza. Lutando contra a dureza do seu coração, usou leves
insinuações, palavras claras e diretas, e com provas de
particular amizade e carinho, não conseguiu vencer. Teve tanta
dor e desgosto, ao ver um amigo se converter em traidor.
Na despedida de sua Mãe, a dor de Maria
Santíssima despedaçou o seu Coração.
Em todas estas ocasiões tinha procurado
dominar-se, mostrar confiança, esconder o que se passava no seu
íntimo; para confortar os seus e cumprir como dever naquela
última ceia. Mas esta tristeza contida trouxe ainda mais
dor, quando o Senhor se viu só no horto, longe dos oitos
discípulos que haviam ficado à entrada, começou a chorar;
mostrou toda a sua amargura, desejava aliviar o coração,
consolar-se com o amor e a lealdade dos três discípulos mais
queridos. E foi a eles que disse:
“Minha alma está triste até a morte”
(Mt 26, 38).
Sentia grande aflição ao ver a perversidade
dos seus inimigos. Do ódio nascia o desejo de matá-lo, de
inventar injúrias, de o torturarem e de zombarem de sua
amargura. Era como se o inimigo triunfasse e Deus o tivesse
abandonado. Deus o
abandonou. Persegui-o e prendei-o, porque não há ninguém para
livrá-lo (Sl 70, 11). Esta sensação de ser
oprimido pelos seus inimigos, de que tinha chegado o momento de
desejarem todo seu ódio contra Ele, fazia que chamasse ao Pai em
seu auxílio: “Olhai, Senhor para
minha miséria, porque o inimigo se ensoberbece”
(Lm 1,9).
Ao escutarmos o bramido de um touro ou o rugido
de um leão, mesmo protegidos, ficamos apavorados em imaginar o
que poderia acontecer, se estas feras estivessem soltas; assim,
podemos pensar na angústia que sentia Jesus, rodeado de tantas
pessoas furiosas e com o poder de fazer com Ele o que quisessem.
O povo escolhido voltou-se ferozmente contra Cristo, assim o
profeta indicava: Meu povo foi para mim qual leão na
floresta, a rugir contra mim (Jr 12, 8).
Em outra profecia, encontramos este ódio dos
príncipes dos sacerdotes e do povo: Cercam-me touros
numerosos, rodeiam-me touros de Basã; contra mim eles abrem suas
goelas, como leão que ruge e arrebata (Sl 21, 13 –
14).
O Senhor conhecia os planos de seus algozes.
Muito tempo antes o profeta antecipava toda dor e sofrimento:
Instruído pelo Senhor, eu o desvendei. Vós me fizestes
conhecer seus intentos. E eu, qual manso cordeiro conduzido à
matança, ignorava as maquinações tramadas contra mim
(Jr 11, 18-19).
Sabia também que nenhum amigo o defenderia,
quando estivesse rodeado por seus inimigos sofrendo todo tipo de
calúnia. Olho para a direita e vejo: não há ninguém que
cuide de mim. Não existe para mim refúgio, ninguém que se
interesse pela minha vida (Sl 141, 5). E o
desamparo dos amigos o angustiava: Derramo-me como água,
todos os meus ossos se desconjuntam; meu coração tornou-se como
cera e derrete-se nas minhas entranhas (Sl 21, 15).
Com a proximidade de sua morte, estava em sua
mente toda a dor e tormento que sofreria na cruz. Pensava
na injustiça, nos insultos, nas calúnias, nos escárnios e nas
agressões que sofreria. O simples fato de imaginar
assustava mais que a própria morte. Os condenados têm os olhos
vendados para atenuar este sentimento. Mas o Senhor não teve
nenhum alívio. Salvai-me, ó Deus, porque as águas me vão
submergir (Sl 68, 2).
Imaginava também: Pilatos por medo e
respeito humano, enviando-lhe a Herodes, que o trataria como um
louco na frente de seus cortesões; sendo devolvido a Pilatos,
que mandaria açoitá-lo; os soldados colocando em sua cabeça uma
coroa de espinhos para zombar de sua realiza; a sentença de
morte na cruz. A dor e humilhação em seu Coração eram maiores
quando imaginava sua Mãe, presenciando tudo, junto às mulheres
que o seguiam.
Era impossível afastar de seu pensamento aquele
lugar terrível: o Calvário. Anteviu sua
crucificação: completamente despido, rebaixado como um
marginal no meio de dois ladrões, suspenso por mais de três
horas, insultado pelos inimigos e desamparado pelos amigos.
O Senhor não foi poupado de nenhum destes
sentimentos. Foi tanta dor que começou a ter pavor e
angustiar-se (Mc 14,33).
Para descansar um pouco, pediu aos três amigos:
“Minha alma está triste até a morte.
Ficai aqui e vigiai comigo” (Mt 26, 38).
Apesar da grande dor e tristeza, nada impediria o
Senhor em obedecer a seu Pai no oferecimento de sua vida para
salvar a humanidade. Mas, com tamanho peso em seus ombros, Ele
entrou em agonia e orava ainda com mais instância, e seu
suor tornou-se como gotas de sangue a escorrer pela terra
(Lc 22, 44).
Jesus Cristo participava da essência de Deus, e
vivia como que arrebatado na ânsia de servi-lo com toda a força
do seu amor. Conhecia todos os pecados cometidos e que
seriam cometidos contra Deus. Não nos surpreende que
Jesus sofresse tanto; talvez muitos homens tenham estado em
situações mais dramáticas, mas lembre-se: Não chames
valente a quem recebe mais feridas, mas ao que mais sofre por
elas e as suporta. E ninguém como Cristo teve uma alma tão
grande: a sua dor foi à medida de seu amor; não compreendemos
inteiramente o seu amor, por isso não compreendemos sua dor.
A dor proveniente do arrependimento dos pecados
levou alguns homens a morrer. Se esta fagulha do amor de Deus
fez morrer estes santos, assim podemos imaginar o sofrimento de
morte do Senhor, cujo amor a Deus e aos homens não tem medida, é
fogo eterno!
Se o apóstolo São Paulo confidenciava que a
preocupação com as igrejas era mais importante que seu cansaço e
as perseguições que sofria, podemos imaginar como seria o
sofrimento do Senhor, que tinha uma caridade infinitamente maior
que este apóstolo e desejava salvar a todos, mesmo que fosse com
a sua vida; que amava tanto aos homens e sabia a grande desgraça
que é perder a amizade de Deus e ficar privado para sempre de
sua presença e amor. Só Ele podia entristecer-se no fundo
da alma pelas ofensas a Deus que ocasionariam a condenação
eterna.
Nosso Senhor tinha tomado como se fossem seus
todos os pecados, e estava disposto a pagar pessoalmente todas
as dívidas perante o Pai ofendido. Todos nós andávamos
desgarrados como ovelhas, seguíamos cada qual nosso caminho;
o Senhor fazia recair sobre ele o castigo das faltas de todos
nós (Is 53,6). O Senhor com amor aceitou esta
rigorosa sentença da justiça divina, e carregou todos os pecados
cometidos e que se cometeriam até o fim dos tempos. É
impossível calcular a maldade cometida pela humanidade, mais
ainda, a dor de Cristo.
Quando uma pessoa paga a dívida de outra não fica
com vergonha; pelo contrário, orgulha-se por pagar uma conta que
não era obrigada. Mas Cristo pagou nossas dívidas como se fosse
suas; por isso não pagou somente com o seu sangue, mas com a
vergonha desses pecados: Continuamente estou envergonhado;
a confusão cobre-me a face (Sl 43, 16).
Pois foi por vós que eu sofri afrontas. Bem vedes minha vergonha
(Sl 68, 8.20).
O Senhor também pediu perdão pelos pecados como
se fossem seus. Quando alguém comete um delito, muitos amigos
para não perder a honra, afirmam não o conhecer, e se um amigo
ajuda, deixa claro que não tem nenhum vínculo com o ocorrido.
Jesus de maneira inversa apresenta-se sempre para socorrer a
todos diante do tribunal divino, mesmo que sejamos delinquentes
e pecadores, chamando-nos em alta voz de amigos, irmãos, filhos,
membros de seu corpo. Defende nossa absolvição e paga as nossas
penas. Embora tivesse rogado três vezes para que se fosse
possível afastar o cálice de sua morte, sabia que não seria
atendido, pois carregava o peso de nossos pecados, como se
fossem seus. E permaneceis longe de minhas súplicas e de
meus gemidos? (Sl 21,2).
“Como seria sua tristeza que o fez suar
sangue. Que vergonha passaria quando diante de Deus, escutaria o
peso de nossos pecados, como se fossem seus. Ai de nós, porque
nós os fizemos!” (São João de Ávila).
Parece-nos que a tristeza de Jesus Cristo não
poderia ser maior, mas aumentou mais ainda, pela nossa
ingratidão. Viu que muitos não reconheciam, outros não
apreciavam, e que vários não agradeciam seu esforço em nosso
favor; e que mesmo depois de derramar o seu sangue
para limpar nossa imundice, muitos terminariam na
condenação eterna. Seu coração foi ferido de tal maneira
que é impossível descrever com palavras. Sentia o novo pecado
dos homens: o desprezo pelo seu amor. Essa ingratidão
dilacera muito mais quando provêm dos cristãos, pois estes
receberam as maiores provas de amor.
Diz-nos, Senhor, que sentes tu, que nos tens
tanto amor, quando te desprezamos e nos esquecemos de ti?
Sentiu uma mistura de dor e consolação, quando
seus discípulos lutavam contra as tentações. Viu sua
mortificação e penitencia; as perseguições, injúrias e
humilhações que sofreria; o trabalho, o cansaço e a dor, e
muitas vezes seus martírio. Previu o padecimento de seus
seguidores que seriam perseguidos por causa de seu nome e de sua
doutrina. O Senhor tomou tudo para si, isto dilacerava seu
Coração. Quando Saulo perseguia os cristãos, disse: Por
que me persegues?, de forma análoga, as pedras que
mataram o diácono Estevão, o fogo que queimou São Lourenço e as
tribulações de seus santos foram assumidas por Cristo. O
sofrimento de seu corpo místico, que é a Igreja, são os
sofrimentos do seu próprio corpo. Ele que conhecia tudo e
compreendia melhor que ninguém esta dor, em suas orações
ofereceu tudo a seu Pai.
Sabia que tudo é ordenado pela Providência
Divina, que nem uma folha cai sem sua permissão. Quando
orares, entra no teu quarto, fecha a tua porta e ora ao teu Pai
em segredo, e teu Pai, que vê num lugar oculto, recompensar-te-á
(Mt 6,6). Como tinha ensinado, afastou
deles e caiu por terra (Mc 14, 35): Pai,
meu Pai... Começou a consolar-se em seu Pai, o mesmo que
lhe enviava para a morte. Obedecia como Filho, mas ao contrário
de Isaac, seus olhos estavam abertos. Ensinou a chamar Deus de
Pai, mesmo quando parece que nos castiga.
Meu Pai, se é possível
(Mt 26, 39), se é do teu agrado afasta de mim este cálice!
(Lc 22,42). Suplicava para não beber do cálice amargo:
Eu não quero nada que Tu não queiras; porém, se Tu queres, se
é possível, faz que não beba este cálice. Sentir aversão
perante a dor e querer evitá-la, não diminui o mérito, pelo
contrário, aumenta, quando se conforma com a vontade de Deus.
Jesus mostrou sua aversão natural ante a dor – Afasta de
mim, este cálice – mas acrescentou: Se é possível,
se tu queres. Assim Cristo submete-se e abraça a vontade
do Pai: “Todavia não se faça o que
quero, mas sim o que tu queres” (Mt 26,39).
Edições Theologica
explica: É nesta hora suprema que Nosso Senhor deixa entrever
toda a realidade e a delicada sensibilidade da sua natureza
humana. Rigorosamente falando, Cristo teria podido, graças ao
domínio que tinha de si mesmo, impedir esta emoção das
faculdades sensíveis, Mas assim mostra-se melhor o mistério da
sua verdadeira Humanidade e, na mesma medida, torna-se mais
fácil de imitar. O Demônio, depois das tentações com que o tinha
acometido no deserto, “afastou-se
d’Ele até um certo tempo”
(Lc 4, 13). Agora, durante a Paixão
volta ao ataque apoiando-se para isso na repugnância da carne
pelo sofrimento, porque está é a sua hora
“e o poder das trevas”
(Lc 22, 53).
Sentai-vos aqui
(como se não quisesse desanimá-los com o espetáculo da sua
agonia) e velai comigo para me fazerdes companhia e também
para que vos vades preparando pela oração para as tentações que
se avizinham. E adiantou-se um pouco, isto é, à distância de
um tiro de pedra (Lc 22, 41). Como estava em
tempo de lua cheia, os Apóstolos podiam ver Jesus;
os mais próximos até talvez tivessem podido ouvir algumas
palavras da oração do seu Mestre. Esta suposição, porém, não
basta para explicar o número e a precisão dos pormenores do
relato. É de crer que o Senhor, depois da sua Ressurreição,
comunicasse aos seus discípulos as angústias da sua agonia
(At 1, 3), da mesma forma que lhes tinha contado as
tentações no deserto (Mt 4, 1).
Chama a atenção o modo tão humano com que Jesus
enfrenta a sua iminente Paixão e Morte. Sente o que todo o homem
sentiria nesses momentos.
“Levou consigo apenas três discípulos que tinham
contemplado a sua glória no monte Tabor, para que aqueles que
viram o seu poder vejam também a sua tristeza e descubram nessa
mesma tristeza que era verdadeiro homem. E, porque tinha tomado
toda a humanidade, tomou as propriedades do homem: o temor, a
angústia, a natural tristeza; pois é lógico que os homens vão
para a morte contra a sua vontade”
(Teofilacto).
A oração do horto mostra-nos, como nenhum
outro testemunho dos Santos Evangelhos, que a oração do Senhor
era também de petição. Não só pelos outros, mas por si próprio.
Porque havia na unidade da sua Pessoa duas naturezas, a humana e
a divina; e, como a vontade humana não era onipotente, convinha
que Cristo pedisse ajuda ao Pai para fortalecer tal vontade
(Suma Teológica, III, q. 21, a. 1).
Uma vez mais, Jesus ora com um sentido profundo
da sua filiação divina (Mt 11, 25; Lc 23, 46; Jo 17, 1).
Só São Marcos nos conserva na própria língua original a
exclamação filial de Jesus ao Pai: “Abbá”, que é o
nome com que os filhos se dirigem intimamente a seus pais. Uma
confiança filial semelhante é a que há de ter todo o cristão na
sua vida, e de modo especial na oração. Neste momento
culminante, Jesus volta a retirar-se para a solidão do diálogo
com seu Pai e pede aos discípulos que orem para não caírem na
tentação. É de notar que os evangelistas, movidos pelo Espírito
Santo, recolhem tanto a oração de Jesus, como o mandato de orar.
Não se trata de um acontecimento ocasional, mas de um episódio
que é modelo do que devem fazer os cristãos: rezar como
meio imprescindível para se manterem fiéis a Deus. Quem não
rezar, que não tenha ilusões de superar as tentações do Demônio:
“Se o Senhor nos dissesse somente
vigiai, pensaríamos que podíamos fazer tudo sozinhos; mas quando
acrescenta orai, mostra-nos que, se Ele não cuidar das nossas
almas no tempo da tentação, em vão vigiarão aqueles que cuidam
dela
(Sl 127, 1)”
(São Francisco de Sales).
Ao chegar ao horto o Senhor dispõe-se a viver a
hora suprema da sua agonia. Antes de se afastar um pouco para
orar, pede aos discípulos que perseverem também em oração.
Avizinha-se para eles uma grave tentação de escândalo ao ver que
é preso o Senhor (Mt 26, 31). Jesus Cristo anunciou-lhes
durante a Última Ceia (Jo 16, 32); agora adverte-os de
que se não permanecerem vigilantes e a orar não resistirão à
provação.
Jesus orava de joelhos.
São Muitas as passagens dos Evangelhos que nos falam da oração
do Senhor, mas só desta vez se descreve a sua atitude exterior,
que se deve ter repetido noutras ocasiões. A posição de
joelhos é uma manifestação da atitude interior de humildade
diante de Deus.
Jesus Cristo é perfeito Deus e perfeito
Homem: igual ao Pai enquanto Deus, menor que o Pai enquanto
homem. Por esta razão, enquanto homem, podia e devia fazer
oração. Assim o fez durante toda a
sua vida. Agora, quando o padecimento espiritual é tão intenso
que o faz entrar em agonia, o Senhor dirige-se a seu Pai com uma
oração que mostra ao mesmo tempo a sua confiança e a sua
angústia: Chama-o com o entranhável nome de “Abbá”,
Pai, e pede-lhe que afaste d’Ele este cálice de amargura.
Atormenta o Senhor o conhecimento das imensas dores da Paixão
que aceita voluntariamente; pesam sobre Ele todos os pecados do
gênero humano, a infidelidade do povo escolhido e o escândalo
dos seus discípulos. Todas estas causas de aflição eram captadas
em toda a sua intensidade pela alma de Cristo. A angústia do
nosso Redentor é tal que chega a suar sangue. Este fenômeno
extraordinário é prova da aflição extrema do Senhor; a sua
natureza humana aparece aqui em toda a sua capacidade de
sofrimento.
Jesus persevera na mesma oração: Não se
faça a minha vontade, mas a tua. Manifesta assim a
realidade da sua vontade humana e a sua perfeita conformidade
com a Vontade divina. Esta oração do Senhor é, além disso, uma
lição perfeita de abandono e de união com a Vontade de Deus,
traços que devem acompanhar sempre a nossa oração, sobretudo,
nos momentos de dificuldades.
Repetidamente aparece no Evangelho a intervenção
dos anjos na vida do Senhor. Um anjo anuncia à Santíssima Virgem
o mistério da Encarnação (Lc 1, 26); coros angélicos
louvam a Deus no nascimento de Jesus em Belém (Lc 2, 13);
os anjos servem-no depois das tentações no deserto (Mt 4, 11);
agora Deus Pai envia um anjo para que o conforte na agonia.
São Tomás More
escreve: Avançou Cristo uns passos e, de repente, sentiu no seu
corpo um ataque tão amargo e agudo de tristeza e de dor, de medo
e de abatimento, que, embora estivessem outros junto d’Ele, o
levou a exclamar imediatamente palavras que indicam bem a
angústia que oprimia o seu Coração: A minha alma está
triste até a morte. Um peso esmagador começou a ocupar o
corpo bendito e jovem do Salvador. Sentia que a prova era agora
já algo iminente e que estava a ponto de tombar sobre Ele:
o infiel e pérfido traidor, os inimigos enfurecidos, as
cordas e as cadeias, as calúnias, as blasfêmias, as falsas
acusações, os espinhos e as pancadas, os cravos e a cruz, as
torturas horríveis prolongadas durante horas. Mais que
tudo isto o esmagava e doía-lhe o espanto dos discípulos, a
perdição dos Judeus, e inclusivamente o fim desgraçado do homem
que perfidamente o atraiçoava. Acrescia, além disso, a inefável
dor de sua Mãe queridíssima. Pesares e sofrimentos revolviam-se
como um redemoinho tempestuoso em seu Coração amabilíssimo e
inundavam-no como as águas do oceano avançam sem piedade através
dos diques destruídos. O medo à morte ou aos tormentos nada tem
de culpa, mas antes de pena: é uma aflição das que Cristo veio
para padecer e não para escapar. Nem se há de chamar covardia ao
medo e horror diante dos suplícios. Não obstante, fugir por medo
à tortura ou à própria morte numa situação em que é necessário
lutar, ou também, abandonar toda a esperança de vitória e
entregar-se ao inimigo, isto, sem dúvida, é um crime grave na
disciplina militar. Além disso, não importa quão perturbado e
assustado pelo medo esteja o ânimo de um soldado; se apesar de
tudo avança quando o manda o capitão, e marcha e luta e vence o
inimigo, nenhum motivo tem para temer que aquele seu primeiro
medo possa diminuir o prêmio. De fato, deveria receber
inclusivamente maior louvor, visto que teve de superar não só o
exército inimigo, mas também o seu próprio temor; e este último,
com frequência, é mais difícil de vencer que o próprio inimigo.
São Josemaría Escrivá
comenta: Jesus ora no horto: Meu Pai (Mt 26,
39), Abba, Pai (Mc 14, 36). Deus
é meu Pai, ainda que me envie sofrimento. Ama-me com
ternura, mesmo quando me bate. Jesus sofre para cumprir a
Vontade do Pai... E eu, que também
quero cumprir a Santíssima Vontade de Deus, seguindo os passos
do mestre, poderei queixar-me, se encontro por companheiro de
caminho o sofrimento?
Constituirá um sinal certo da minha filiação,
porque me trata como ao seu Divino Filho. E, então, como Ele,
poderei gemer e chorar sozinho no meu Getsêmani; mas, prostrado
em terra, reconhecendo o meu nada, subirá ao Senhor um grito do
íntimo da minha alma: Meu Pai, Abba,
Pai... faça a sua Vontade!
O Pe. Juan Leal ensina: Para não
entrardes em tentação, isto é, para não cair nela. Afastando dos
Apóstolos na distância de um tiro de pedra segundo São Lucas
22, 41, caiu primeiro de joelhos em terra, e depois
prostrou todo seu corpo até o solo para mostrar sua profunda
reverência para com o Pai e a espantosa amargura em que estava
mergulhado seu Coração. Nesta atitude humilde começa sua
oração, que nos revela as angústias mortais que então
atormentavam a alma de Cristo. Em sua oração temos de distinguir
duas partes: na primeira expressa a repugnância de seu apetite
sensitivo e de sua vontade natural aos tormentos da paixão. Por
isso pede que, se é possível, que afaste aquele cálice tão
amargo. Na segunda parte explicitamente manifesta ao Pai o
desejo de sua vontade deliberada e absoluta de que se cumpra a
vontade do Pai. Esta luta entre a parte inferior e superior da
vontade de Cristo é uma prova manifesta de que tomou uma
verdadeira natureza humana com todas suas debilidades, com
exceção do pecado e de todas as desordens morais que dela
procedem. Aparece claramente no modo de Cristo falar que
há n’Ele duas vontades, uma divina e outra humana, conforme à
qual pede como homem a seu Pai que o livre dos padecimentos da
paixão. Jesus Cristo, em sua natureza humana, inferior à dos
anjos (Hb 2, 7-9), é consolado por um anjo que vem da parte de
Deus. O suor de sangue deve tomar-se em sentido próprio,
de sangue físico que saiu através da transpiração... seu suor
foram gotas de sangue que caía gota a gota na terra. A terra
deve tomar-se em sentido amplo. A violência da agonia ou luta
tem seu efeito fisiológico, que se revela no suor de sangue. O
suor foi abundante, pois caiu em gotas por terra. Trata-se de um
fenômeno natural, muito raro, que não deve explicar-se por via
de milagre.
Daniel-Rops
comenta: Sentai-vos aqui – disse Jesus aos seus discípulos,
quando eles entraram no jardim. Quanto a mim, irei mais longe,
para orar. E vós rezai também, a fim de não sucumbirdes à
tentação. Levou consigo apenas Pedro e os dois filhos de
Zebedeu, Tiago e João. O espanto e o desgosto, a tristeza e a
agonia começavam a invadi-lo. – A minha alma está triste
até a morte – declarou: ficai aqui e velai comigo, ao
mesmo tempo! Depois, afastando-se até ao alcance duma pedra
arremessada, ajoelhou-se e, de face contra a terra, suplicou: –
Meu Pai, se é ainda possível afastai de mim este cálice de
amargura. No entanto, seja feita a vossa vontade e não a minha!
A noite deveria estar fria, naquele retiro de
sombra; do outro lado do Cedron erguiam-se as paredes do Templo,
azuis sob o luar, rematadas pelas colunatas dos pórticos.
Santo Antônio Maria Claret |
Santo Antônio Maria Claret
ensina: Depois de dizer o hino de ação de graças, saiu Jesus do
Cenáculo com seus discípulos, entrou no jardim do Getsêmani e
começou a orar; mas apenas começa a sua oração, acomete-o ao
mesmo tempo um grande temor, um grande tédio e uma grande
tristeza: começou a apavorar-se, a angustiar-se, diz São
Marcos 14, 33; e São Mateus acrescenta: começou a
entristecer-se e a agoniar-se (Mt 26, 37). Oprimido de
tamanha tristeza nosso Redentor diz que sua bendita alma está
aflita com angústia de morte: Triste está minha alma até a
morte (Mc 14, 34). Apresentou-se então à sua
imaginação a fúnebre representação de tantos tormentos e
opróbrios que lhe estavam preparados. Estes tormentos durante
sua paixão afligiram-no um depois do outro, mas agora vieram a
atormentá-lo todos ao mesmo tempo: as bofetadas, os escarros, os
açoites, os espinhos, os vitupérios que havia de sofrer
sucessivamente, abraçava-os então todos juntos; e à vista e
experiência deles teme, agoniza e reza. Posto em oração orava
mais demoradamente (Lc 22, 44).
Pe. Juan de Maldonado
explica: São Pedro, São Tiago e São João Evangelista. Por
que tomou alguns Apóstolos consigo? Não é difícil de
explicar. Quis ter testemunhas de sua oração, de sua dor e
do suor de sangue. Por que Jesus escolheu esses
três e não outros? Porque, segundo
Santo Hilário, São João Crisóstomo e Teofilacto,
este três tinham visto sua glória e majestade na
transfiguração no Monte Tabor, e era de temer que outros que não
presenciaram aquela cena se escandalizassem com esta, vendo a
fraqueza de Cristo.
Porém, pode-se responder mais simplesmente
dizendo que tomou estes três, e não outros, porque confiava mais
nesses, e por isso os levava consigo em ocasiões de segredo,
como foi na transfiguração.
Nosso Senhor começou a entristecer-se e a
afligir-se.
Isto é, a afligir-se e a angustiar-se.
A palavra grega significa entristecer-se com o
veemente medo do que se teme, até ficar o paciente exânime e
fora de si. Os evangelistas São Mateus e São Marcos,
que usaram este verbo, só quiseram declarar-nos a grandeza da
tristeza de Jesus Cristo.
Antigamente alguns autores, segundo São João
Crisóstomo e Santo Ambrósio, negaram as realidades
destes sentimentos no Senhor; também São João Damasceno o
afirma de alguns hereges. Não se sabe se Santo Hilário
participou imprudentemente desse erro, porque ele diz algo muito
parecido no livro X De la Trinidad, onde diz que
Cristo não sofria dor. Segundo Evagrio, o
Imperador Constantino fez a mesma afirmação dizendo que Cristo
era impassível. Jesus Cristo é a melhor testemunha
dizendo que sua alma estava triste até a morte.
Outros autores, pelo contrário, diz Santo Tomás de Aquino,
chegaram a afirmar que até a divindade de Jesus Cristo sofreu
dor e a paixão; esses ignorantes não entendiam a divindade.
Outros dizem que a tristeza de Cristo não foi paixão, mas
propaixão, como dizem os gregos; e a diferença entre
ambos os termos é a que põem hoje nossos teólogos entre
primeiros e segundos movimentos. Paixão é, dizem, a que perturba
de alguma maneira o ânimo e arranca algum consentimento, ainda
que imperfeito, da vontade. E propaixão, a que
inquieta o homem e o faz experimentar alguma dor e prazer,
porém, não tira a sua paz. Desta maneira creem Orígenes, São
Jerônimo e São Beda que Cristo foi contristado e que
esta é a força particular da palavra começou; como
se houvesse iniciado o fenômeno, porém, não passou adiante,
pois a propaixão não chega à paixão. Mas bem creio eu
que a paixão significa que Cristo não foi forçado a afligir-se
quando se lhe apresentou o objeto de perigo, mas que se
contristou quando quis, quanto quis e como quis, segundo pode
apreciar-se no contexto. Pouco antes, estando com os
onzes discípulos, não se havia contristado, porque não queria
que sua tristeza fosse conhecida de todos; e em seguida que se
separou deles e se uniu aos três mais familiares, começou a
entristecer-se, segundo notaram os evangelistas, indicando que
se afligiu quando quis e como quis. São João Damasceno
explicou muito bem a diferença entre nossas paixões e as de
Jesus Cristo: as nossas paixões se adiantam à ação da
vontade, e as de Cristo a seguem; isto é, que nós, ainda que não
queiramos, temos paixões, Cristo somente querendo-as. Além
disso, as nossas nascem de natural consequência do pecado
original, e as de Cristo, não do pecado nem da necessidade, mas
de sua misericórdia.
Como pode ser que Jesus Cristo, que era
bem-aventurado, tivesse tristeza?
Alguns dizem que era bem-aventurado somente na parte superior da
alma; que seu corpo, todavia, não o era, porque, a fim de que
pudesse padecer não lhe havia afetado a bem-aventurança; e a
tristeza foi na parte inferior que está no corpo. Porém,
Jesus Cristo nos diz que é sua alma a que está triste até a
morte; com essa palavra indica que a tristeza se havia
transbordado por toda sua alma; e depois acrescenta: Não
como eu quero, mas como tu. E outro evangelista diz
claramente: Não faça a minha vontade, mas a tua. É
dizer, bem claramente, que também na vontade, que é a parte
superior da alma, se havia afligido e evitava morrer. Em Jesus
Cristo havia duas vontades: divina e humana.
E por que Cristo afligiu-se?
Santo Hilário, São Jerônimo
e São Beda dizem que não foi por medo da
morte, mas por comiseração (compaixão) dos discípulos que
haviam de suportar escândalo: tal é o valor da frase...
minha alma está triste até a morte. Como se dissesse:
Quando vier a morte, já não estarei triste, porque o
escândalo terá passado. Jesus Cristo temeu de verdade,
porém, espontaneamente e livremente; e assim, ainda que tivesse
temido a morte mais que a temeram seus mártires, não se poderá
dizer que foi mais tímido que eles. Não foi, mas sim, foi
fortíssimo, o que teme quando quer. De sorte que não há
mais remédio que admitir que Cristo temeu a morte; o qual não
poderia negar-se sem negar a autoridade da Escritura.
Pois, se por sua vontade temeu, por que
quis temer? Poderia responder com
outra pergunta: se por sua vontade morreu, por que quis
morrer? Por nós, verdade! Pois por nós também sofreu...
antes da morte sofreu dores, tristezas e o suor de sangue.
Cristo não quis morrer por nós repentinamente, mas aceitou a
morte com todos seus horrores: a dor, os açoites, os insultos, a
vergonha e outras penas. São Jerônimo, São Beda,
Eutimio, Teofilacto e Santo Agostinho escrevem:
Temeu e se contristou Cristo para manifestar-se verdadeiro
homem; assim mesmo, para que seus membros, isto é, os fiéis, se
alguma vez se afligem, não creem que seja pecado.
Porém, por que se contristou com maior veemência que os demais
homens só pelo medo, até ao ponto de suceder o que conta São
Lucas 22, 44, que gotas de sangue, ou, como diz o grego,
coágulo de sangue ou grandes gotas dele saíssem de seu corpo e
corressem pela terra? Avisa Santo Hilário e São
Jerônimo que em seu tempo esta passagem, próprio de São
Lucas, do sangue e do anjo que apareceu para
Jesus Cristo, faltava em muitos códices gregos e latinos. Alguns
autores não honram o texto, é verdade, porém enfraquecem seu
sentido, como se na realidade Cristo não houvesse suado sangue,
mas que apenas sentiu grandíssimo temor, como as pessoas que
sofrem angústias, mas não suam sangue (Eutimio e Teofilacto).
Porém, o evangelista disse textualmente que as gotas de sangue
correram por terra; o qual não pode explicar-se de outro modo
senão que Cristo suara verdadeiramente sangue. Pensam outros que
esse suor de Cristo é milagroso e fora das leis da natureza, e
que tem seu mistério: e que todo o corpo de Cristo, que é
a Igreja, cai banhado no seu sangue. Eu entendo que o
suor foi natural, ainda raro, e, por isso, talvez tido por
milagroso, como sucede com todas as coisas raras. Vemos que
todas as pessoas atacadas de um medo repentino suam de angústia;
pois de análoga maneira Jesus Cristo, que era por natureza
delicadíssimo, sabendo do gênero de morte que o esperava, suou
sangue. A maior admiração é que Jesus Cristo se assustasse tanto
com a morte, que suasse sangue. Responde Santo Tomás de
Aquino que não foi só a morte, mas principalmente a
causa dela, isto é, os pecados dos homens.
Minha alma está triste até a morte.
A tristeza invadiu a alma de Nosso Senhor. Até a morte.
Segundo Orígenes, Santo Hilário e São Jerônimo,
significa que está triste sua alma, porém que esta tristeza não
durará senão até a morte. Outros dizem: Minha alma está
triste até a morte, isto é, Cristo estava triste que a
sua aflição poderia causar-lhe a morte... como se dissesse:
Morro de dor, morro de fome. O verdadeiro sentido é o
que indica Eutimio: Minha alma está triste até a
morte, isto é, tão triste como se já tivesse morrido,
segundo disse Davi: Cercam-me laços de morte
(Sl 114, 3), isto é, tão grandes como os que na morte se
sentem.
Esperai aqui.
Aos outros discípulos lhes havia dito pouco antes que
permanecessem ali e que se sentassem ou descansassem; que
ficassem atentos em vigília, isto é, que fizessem guarda, pois o
perigo estava próximo, e que queria que fossem testemunhas.
Ele ordenou que não só permanecessem ali e que vigiassem, mas
também que rezassem.
E adiantando-se um pouco.
São Lucas diz que a distância de um tiro de pedra Lc
22, 41. Por que Jesus se afastou dos discípulos para
rezar? Santo Tomás de Aquino diz que para seguir
o mesmo conselho que Ele havia dado: Tu, porém, quando
orares, entre no teu quarto e, fechando tua porta (Mt
6, 6).
Prostrou-se.
São Marcos disse que Jesus prostrou-se por terra. São
Lucas disse que Jesus colocou-se de joelhos. Entende-se,
então, que Nosso Senhor não se prostrou totalmente por terra,
mas, colocou-se de joelhos. São Marcos disse prostrou-se,
porque quem se ajoelha, prostra-se de alguma maneira.
Pai, se é possível.
Jesus Cristo sabia que absolutamente era possível para Deus,
como São Marcos escreve: Pai, Pai, todas as coisas te são
possíveis (Mc 14, 36): Porém, o decreto divino que
determinava que Cristo morresse por nós, sabia Ele, se era
possível, que o cálice passasse? Por que, então, pedia
que, se era possível, que passasse esse cálice? Deixava
que sua natureza humana se manifestasse tal como era, do mesmo
modo que se não estivesse unida à sua divindade nem soubesse
nada do divino decreto. Santo Agostinho diz que se
possível vale tanto como se tu quiseres.
Afasta de mim.
Quer dizer que não o beba eu.
Este cálice.
A paixão, esta terrível morte, se chama cálice. São Jerônimo
e São Beda acreditam que disse este cálice
para indicar o cálice dos judeus, isto é, seu
pecado e perdição; pois Cristo não temia sua morte própria, mas
a desgraça dos judeus.
Não como eu quero, mas como tu queres.
Está claro que em Jesus Cristo existem duas naturezas:
humana e divina. Alguém poderia
perguntar: Como pode Jesus Cristo recusar a morte com a
vontade humana, quando Deus queria que morresse? Parece
que teve vontade contrária à divina; o qual não pode haver sem
pecado; pois, como disse Santo Agostinho, o pecado
é dito, ação ou desejo contra a lei de Deus e sua divina vontade.
Esta vontade de Jesus Cristo, com a qual recusou a morte, não
foi plena e perfeita, como dizem os teólogos, mas condicional;
pois não dizia: não quero morrer, mas, não
queria morrer se fosse possível; e esta vontade não é
pecado, devido a condição.
Santo Afonso Maria de Ligório |
Santo Afonso Maria de Ligório
escreve: Sabendo Jesus que era chegada a hora de sua paixão,
depois de haver lavado os pés de seus discípulos e instituído o
Santíssimo Sacramento do Altar, no qual nos deixou todo a si
mesmo, se dirige ao horto de Getsêmani, onde seus inimigos iriam
procurá-lo para o prender, como já era de seu conhecimento. Aí
põe-se a orar e eis que se sente assaltado por um grande temor,
um grande tédio e uma grande tristeza: Começou a ter
pavor, tédio e tristeza (Mc 14,33; Mt 26,37).
Assaltou-o primeiramente um grande temor da morte tão amarga que
devia sofrer sobre o Calvário e de todas as angústias e
desolações que deveriam acompanhá-la. No decurso de sua paixão,
os flagelos, os espinhos, os cravos e os outros tormentos o
afligiram cada um por sua vez; no horto, porém, vieram todos
juntos atormentá-lo. Ele os abraça a todos por nosso amor, mas
isso o faz tremer e agonizar: Posto em agonia, orava com
maior instância (Lc 22,44). Doutro lado,
assalta-o um grande tédio ou repugnância pelo que devia sofrer e
por isso suplica ao Pai que o livre disso: Meu Pai, se for
possível, afasta de mim este cálice (Mt 26,39).
Ele orou assim para ensinar-nos que bem podemos pedir a Deus nas
tribulações que nos livre delas, mas ao mesmo tempo devemos nos
submeter à sua vontade e dizer então como Jesus: Contudo,
não se faça como eu quero, mas como tu queres. Sim, meu
Jesus, não se faça a minha vontade, mas a vossa. Eu aceito todas
as cruzes que quiserdes enviar-me. Vós, inocente, tanto
sofrestes por meu amor; é justo que eu, pecador, réu do inferno,
padeça por vosso amor tudo o que determinardes. Assaltou-o
também uma tristeza tão grande, que bastaria para lhe dar a
morte, se Ele não a tivesse detido, para expirar crucificado por
nós, depois de ter sofrido ainda mais. Minha alma está
triste até a morte (Mc 14,34). Essa grande
tristeza foi motivada pela vista da ingratidão futura dos
homens, que, em vez de corresponder a tão grande amor, haveriam
de ofendê-lo com tantos pecados, o que o faz suar sangue:
E seu suor se fez como gotas de sangue correndo sobre a terra
(Lc 22,44). Assim, ó meu Jesus, mais cruéis que os
carrascos, os flagelos, os espinhos, a cruz, foram os meus
pecados que tanto vos afligiram no horto. Fazei-me
participar daquela dor e aversão que experimentastes no horto,
para que eu chore amargamente até à morte, os desgostos que eu
vos dei. Eu vos amo, ó meu Jesus, acolhei um pecador que vos
quer amar.
1.ª mensagem: Excesso de amor. |
Por excesso de amor,
Jesus Cristo sujeitou-se a sofrer tristeza e aflição
mortais no Monte das Oliveiras. Via diante de si todas
as fases de sua paixão e morte, da
qual se horrorizava sua natureza humana:
“Ó Jesus, Tu és um louco
de amor...” (Santa Maria
Madalena de Pazzi), e: “O amor de
Jesus Cristo aos homens era tanto que desejava a hora de sua
morte para lhes mostrar o afeto que lhes tinha”
(Santo Afonso Maria de Ligório), e
também: “Devo receber o batismo, e
quanto o desejo até que ele se realize” (Lc 12, 50).
Se Jesus Cristo nos ama, deixemos de lado a
ingratidão e a indiferença e o
amemos de todo o coração. O caminho mais curto
para a santidade consiste em amar a Nosso Senhor sobre todas as
coisas, como ordena o primeiro mandamento:
“Alguns põem a perfeição
na austeridade da vida, outros na oração, estes na frequência
dos sacramentos, aqueles nas esmolas. Enganam-se. A perfeição
consiste em amar a Deus de todo o coração”
(São Francisco de Sales), e:
“É pouco demais só um coração para amar
a Deus que ama tanto e é tão capaz de ser amado, merecedor de um
amor infinito. Como então ainda dividir este coração entre as
criaturas e o Criador?” (Santo Afonso Maria de
Ligório).
2.ª mensagem: Sofreu para nos consolar. |
Sofreram seu corpo e sua alma para
assim dar satisfação por todas as culpas. Jesus Cristo
padeceu para nos servir de consolo nas horas de dor e,
principalmente, na hora da morte.
Quando o sofrimento pesar em nossos ombros,
contemplemos o Servo Sofredor e aprendamos d’Ele a carregar
com serenidade as cruzes de cada dia. Ele nos
consola com o seu sofrimento contínuo:
“... também Cristo sofreu por vós,
deixando-vos um exemplo, a fim de que sigais os seus passos”
(1 Pd 2, 21).
3.ª mensagem: Paciência na dor. |
Jesus Cristo, manso Cordeiro, não se
impacientou diante de tão grande provação no Getsêmani.
O exemplo de Cristo paciente é
sempre para os seus seguidores ponto obrigatório de referência:
por grandes que sejam os sofrimentos
que se padeçam, nunca serão tantos nem tão injustos como os do
Senhor: “Não
existe coisa mais agradável a Deus do que sofrer com paciência e
paz todas as cruzes por ele enviadas”
(Santo Afonso Maria de Ligório), e:
“Bem-aventurado o homem que suporta com
paciência a provação! Porque, uma vez provado, receberá a coroa
da vida, que o Senhor prometeu aos que o amam”
(Tg 1, 12).
4.ª mensagem: Os amigos de Jesus Cristo são
provados. |
Aos três
Apóstolos que o viram transfigurado no Monte
Tabor, mostrou também a sua aflição no Getsêmani.
Não está isento de dor e
provações quem recebe consolações divinas.
Quem é amigo íntimo de Deus e fiel à sua Lei não deve
ficar assustado e perturbado diante das provações:
“Como Deus
tratou seu Filho predileto, do mesmo modo trata a todos aqueles
que Ele ama e recebe como filhos”
(Santo Afonso Maria de Ligório).
5.ª mensagem: Fazer a vontade de Deus. |
Jesus orou no Getsêmani para
ensinar-nos que bem podemos pedir a Deus nas tribulações que nos
livre delas, mas ao mesmo tempo devemos nos submeter à sua
vontade e dizer: Contudo, não se faça como eu quero, mas
como tu queres.
O caminho da vontade divina, essa
estrada soberana que conduz ao céu, é um caminho reto. É de
todos os caminhos o mais fácil, o mais perfeito e o mais rico de
merecimentos: “A vontade de Deus é a
nossa salvação” (Pe. Richard Gräf).
6.ª mensagem: Combater o próprio medo. |
No Getsêmani, Jesus orava com
maior insistência: “E, cheio
de angústia, orava com mais insistência ainda”
(Lc 22, 44). Por um lado Nosso
Senhor receava a paixão, por outro a desejava, combatendo o
próprio medo.
Diante das dificuldades devemos
rezar com insistência e perseverança.
Imitemos o Salvador! Muitas vezes teremos de lutar contra a lei
da carne, para que prevaleça a do espírito. Quanto maior
for a nossa aflição, mais ardentemente devemos rezar. Deus
premeia o bom combatente:
“Entre todos os remédios contra as tentações, o mais eficaz e
mais necessário, o remédio dos remédios, é suplicar a Deus o seu
auxílio e continuar a pedir enquanto durar a tentação”
(Santo Afonso Maria de Ligório).
7.ª mensagem: Gratidão a Jesus Cristo. |
Nosso Senhor sofreu muito no Getsêmani: “...
e o suor se lhe tornou semelhante a espessas gotas de sangue que
caíam por terra” (Lc 22, 44).
Contemplemos com santa comoção o triste estado do
Filho de Deus que sofre por nós. Estávamos doentes; Ele,
derramando abundante suor de sangue curou-nos do mal. Éramos
culpados; Ele sofre o castigo que nos era devido. Como
mostramos até hoje nossa gratidão ao Senhor? Ou pertencemos, por
acaso, aos ingratos? “Ao
tomar conhecimento da grande dívida que tem para com Deus, a
pessoa se esforça por viver virtuosamente, pois sabe que Deus
não lhe pede outra coisa. Portanto, meus bondosos filhos,
recordai-vos dos inúmeros favores dados por Deus, de modo que
assim adquirais essa mãe-virtude, a gratidão”
(Santa Catarina de Sena).
8.ª mensagem: Servir a Jesus Cristo com
dedicação. |
Jesus Cristo suou sangue por nosso
amor... o sangue do Bondoso Senhor correu por terra:
“... e o suor se lhe
tornou semelhante a espessas gotas de sangue que caíam por
terra” (Lc 22, 44).
É correto permanecermos de braços cruzados diante
de tanto amor? Não! Por amor d’Ele
não podemos recear nem fadiga, nem suor, nem perda do próprio
sangue... devemos servi-lo com dedicação e garra:
“Decidimos, contudo,
confiados em nosso Deus, anunciar-vos o evangelho de Deus, no
meio de grandes lutas” (1 Ts 2,
2).
9.ª mensagem: O anjo da guarda nos consola
nos sofrimentos. |
Jesus Cristo, em sua natureza humana, inferior à
dos anjos (Hb 2,7-9), é consolado por um
anjo que vem da parte de Deus:
“Apareceu-lhe um anjo do
céu, que o confortava” (Lc 22,
43).
Quem permanece fiel a Deus nas provações...
no auge da dor, quando mais necessitar da ajuda
do alto, ela virá: “Deus não
deixou nossa franqueza sem ajuda; mas, destinou-nos um Anjo para
auxiliar a vida de cada um de nós, e esse Anjo é de natureza
totalmente incorpórea” (São
Gregório Nazianzeno).
10.ª mensagem: Aceitar com humildade a
ajuda do próximo. |
Nosso Senhor Jesus Cristo, Deus
Poderoso, aceitou a consolação dum anjo:
“Apareceu-lhe um anjo
do céu, que o confortava” (Lc
22, 43).
Se Jesus deixou-se consolar por uma criatura, um
anjo; por que rejeitarmos com orgulho o conselho e o
auxílio de uma pessoa que nos quer o bem?
“Ouve o conselho para chegares a ser
sábio depois”
(Pr 19, 20).
11.ª mensagem: Ânimo nas horas difíceis. |
Sabia Jesus Cristo que muitas
pessoas de constituição débil se encheriam de
terror diante do perigo de serem torturadas, e quis
dar-lhes ânimo com o exemplo da sua própria dor, da sua própria
tristeza, do seu próprio abatimento e medo inigualável.
Contemplando os sofrimentos de Jesus Cristo,
as pessoas débeis e frouxas tornam-se fortes e prontas para
seguir em frente no caminho das provações:
“Tu temeroso e enfermiço, toma-me a mim
como modelo. Desconfiado de ti, espera em mim. Olha como caminho
diante de ti neste caminho tão cheio de temores. Agarra-te à
orla do meu manto, e sentirás fluir dele um poder que não
permitirá que o sangue do teu coração se derrame em vãos temores
e angústias”
(São Tomás More).
12.ª mensagem: Viver sempre na presença de
Deus. |
Devemos estar
sempre com o Senhor, também nos momentos de dificuldades
e de tribulações; este mandato assinala-nos os
meios que devemos empregar: a oração e a vigilância:
“Orai para que não entreis em tentação”
(Lc 22, 40).
É muito fácil e cômodo
seguir a Jesus Cristo quando está tudo bem na vida... mas o
Senhor quer que o sigamos sempre, também nas provações...
fortalecidos com a oração e vigilantes para não
tropeçarmos: “Tem
muitos sedentos de consolações, raros de tribulações... Todos
desejam gozar com ele; poucos querem sofrer alguma coisa por seu
amor” (Tomás de Kempis).
13.ª mensagem: Vigiar e orar para
permanecer de pé diante das tentações. |
Ao chegar ao horto o Senhor
dispõe-se a viver a hora suprema da sua agonia. Antes de se
afastar um pouco para orar, pede aos discípulos que perseverem
também em oração. Jesus adverte-os de que se não
permanecerem vigilantes e a orar não resistirão à provação.
Quem quiser vencer as provações que
surgem pelo caminho deve vigiar cada dia como se
fosse o último da sua vida; mas não basta vigiar, é
preciso também rezar e rezar muito:
“Quem reza se salva, quem
não reza se condena” (Santo
Afonso Maria de Ligório).
14.ª mensagem: Deus é Pai, ainda quando
envia sofrimentos. |
Jesus Cristo reza no horto:
“E dizia: ‘Abba! Ó Pai!”
(Mt 26, 39). Mergulhado
num oceano de sofrimentos não murmurava contra Deus.
Devemos amar e respeitar
a Deus principalmente quando a cruz pesar em nossos ombros...
dos nossos lábios não deve sair nenhuma queixa:
“Deus ama-me com ternura, mesmo quando
me bate. Jesus sofre para cumprir a vontade do Pai... e eu, que
também quero cumprir a Santíssima Vontade de Deus, seguindo os
passos do Mestre, poderei queixar-me, se encontro por
companheiro de caminho o sofrimento?”
(São Josemaría Escrivá).
15.ª mensagem: Jesus Cristo chama os
valentes para acompanhá-lo. |
No Getsêmani, chama Pedro, Tiago e
João para serem testemunhas de sua aflição:
“Esses deviam ser mais
fortes e mais firmes na fé da sua Divindade”
(Santo Tomás de Aquino). São Pedro havia dito:
“Ainda que
todos se escandalizem por tua causa, eu jamais me
escandalizarei... Mesmo que tiver de morrer contigo, não te
negarei” (Mt 26, 33. 35). São
Tiago e São João tinham declarado que estavam prontos para beber
o cálice da Paixão, dizendo:
“Podemos”
(Mt 20, 22).
Deus não aceita
soldado fraco, mole e frouxo no seu exército:
“Sê firme...”
(Js 1, 6). Não aceita
soldado medroso, indeciso e
inconstante no seu batalhão:
“Sê corajoso”
(Js 1, 6). Também não aceita
seguidor assustado, tremente e choramingo na sua
companhia:
“Não temas e não te apavores” (Js 1, 9). Deus quer soldado
violento no seu exército, batalhão e companhia:
“O Reino dos Céus sofre
violência, e violentos se apoderam dele”
(Mt 11, 12).
16.ª mensagem: Buscar apoio em Deus e não
nas criaturas: |
“Chegando ao lugar,
disse-lhes: ‘Orai para não entrardes em tentação’. E afastou-se
deles mais ou menos a um tiro de pedra, e, dobrando os joelhos,
orava: ‘Pai, se queres, afasta de mim este cálice!”
(Lc 22, 40-42).
Imitemos o exemplo de Jesus Cristo buscando a
proteção, apoio e ajuda de Deus nas
provações, e não o apoio dos homens que
são falhos e inconstantes:
“É principalmente nos
dias de aborrecimentos, doenças, impaciência, tentação, aridez
espiritual, provações... que o abandono é agradável a Deus”
(Bem-aventurado Columba
Marmion), e: “O
nosso fim é Deus, fonte de todos os bens, e devemos, como
repetimos em nossa oração, confiar unicamente n’Ele e em mais
ninguém” (São Jerônimo
Emiliani).
17.ª mensagem: Falar com Deus é o melhor
remédio para curar a tristeza. |
“E afastou-se deles mais
ou menos a um tiro de pedra, e, dobrando os joelhos, orava:
‘Pai’” (Lc 22, 41-42).
Nosso Senhor nos ensina com sua palavra e exemplo
que o melhor remédio para curar a tristeza não é falar com os
homens que não podem consolar verdadeiramente um coração
entristecido; mas sim, falar com Deus através da oração
fervorosa e confiante:
“No dia da angústia eu
procuro o Senhor” (Sl 76, 3),
e: “A oração é um remédio salutar
contra a tristeza porque eleva o nosso espírito a Deus que é a
nossa alegria e consolação. Emprega em tuas orações essas
palavras e afetos que inspiram maior confiança em Deus e em seu
amor: Ó Deus de misericórdia! Ó Deus infinitamente bom! Meu
benigníssimo Salvador! Ó Deus de meu coração, minha alegria e
minha esperança! Ó caro Esposo de minha alma! Ó Dileto de meu
coração!” (São
Francisco de Sales), e também:
“Alguém de vós está triste? Reze”
(Tg 5, 13), ainda:
“Se alguém está triste, faça uma visita a Jesus Sacramentado e
ficará contente”
(Bem-aventurado José Allamano).
18.ª mensagem: Para vencer as tentações é
preciso rezar com fé e confiança. |
“E, dobrando os
joelhos, orava: ‘Pai’” (Lc 22,
41-42).
Quem não reza será vencido pelas tentações.
Jesus nos ensina que o único e eficaz remédio para não cair
nas tentações e não perecer nos perigos é a oração:
“Volto a repetir: entre todos os
remédios contra as tentações, o mais eficaz e mais necessário, o
remédio dos remédios, é suplicar a Deus o seu auxílio e
continuar a pedir enquanto durar a tentação. Não é raro que o
Senhor destine a vitória não na primeira oração, mas sim na
segunda, na terceira ou na quarta. É preciso que nos convençamos
de que da oração depende todo o nosso bem. Da oração depende a
nossa mudança de vida, o vencer das tentações; dela depende
conseguirmos o amor de Deus, a perfeição, a perseverança e a
salvação eterna”
(Santo Afonso Maria de Ligório).
19.ª mensagem: Estar sempre prevenido
contra as tentações. |
“Orai para não entrardes em tentação”
(Lc 22, 40).
Os inimigos da nossa alma não tiram férias, mas
estão sempre guerreando contra ela... é preciso, então,
que estejamos sempre atentos e preparados para vencê-los:
“É nas asas da
oração que a alma se desprende da materialidade desta vida para
subir até Deus, a buscar n’Ele o remédio e alívio de suas penas.
O homem é fraco por natureza, mas com a oração pode derrotar
exércitos como fazia Moisés, orando sobre o monte”
(Pe. Alexandrino Monteiro).
20.ª mensagem: Estar na companhia de Jesus
Cristo nas horas das tentações. |
“Vigiai comigo”.
Jesus Cristo é o Mestre! Disse: vigiai
comigo; isto é, na minha companhia, como eu também
vigio, imitando-me. Dando a entender que Ele vigia com
os que vigiam, e reza com os que rezam; e os que vigiam e rezam,
fazem isso com Ele... tendo-o por Mestre e
companheiro:
“Cristo comigo, a quem temerei?”
(São João Crisóstomo).
21.ª mensagem: Estar a sós com Deus na
oração. |
“E
afastou-se deles” (Lc 22, 41).
O Senhor retirou-se da presença dos Apóstolos para falar a
sós com o Pai, rompendo violentamente com a inclinação
natural de estar com seus Apóstolos.
Aprendamos com Jesus Cristo a ficar a sós
com Deus nos momentos de
oração, afastando de tudo e de todos:
“A alma que realmente
vive a sua fé cristã sabe que necessita de se retirar
frequentemente para orar a sós com seu Pai. Jesus, que nos dá
este ensinamento acerca da oração, praticou-o na sua vida
terrena” (Edições Theologica).
22.ª mensagem: Confiança em Deus. |
Jesus Cristo confiou no Pai Eterno dizendo:
“Meu Pai”
(Mt 26, 39). Outras vezes o chama só de Pai;
porém, desta vez diz Meu Pai; dando mostras de
aumentar a confiança com quem era particularmente
Pai seu, não por adoção, mas por natureza.
Devemos confiar sempre em Deus, principalmente
nas horas difíceis. Não podemos voltar as costas para o Criador
para contar com as criaturas: “O
homem justo há de alegrar-se no Senhor e junto dele encontrará o
seu refúgio, e os de reto coração triunfarão”
(Sl 63, 11), e:
“É melhor buscar refúgio no Senhor, do
que pôr no ser humano a esperança”
(Sl 117, 8).
23.ª mensagem:
Humildade diante da grandeza de Deus. |
Jesus Cristo orava de joelhos:
“... dobrando os joelhos,
orava” (Lc 22, 41). São muitas
as passagens dos Evangelhos que nos falam da oração do Senhor,
mas só desta vez se descreve a sua atitude exterior, que se deve
ter repetido noutras ocasiões.
Imitemos o exemplo do Senhor mantendo-nos
humildes interiormente e também externamente diante da grandeza
do Criador, principalmente na oração:
“A posição de joelhos é
uma manifestação da atitude interior de humildade diante de
Deus” (Edições Theologica).
Jesus Cristo é perfeito Deus e
perfeito Homem: igual ao Pai enquanto Deus, menor que o Pai
enquanto homem. Por esta razão, enquanto homem podia e
devia fazer oração:
“... orava com mais insistência”
(Lc 22, 44).
Devemos rezar com frequência, imitando a Jesus
Cristo! A oração é a mais poderosa arma para nos defendermos dos
nossos inimigos. Quem não se serve dela está perdido:
“Não há nada mais poderoso do que um
homem que reza” (São João Crisóstomo).
25.ª mensagem: Não desanimar nas horas
difíceis. |
O Senhor pediu que o cálice fosse
afastado... não desanimou e fez a vontade do Pai:
“Meu Pai, se é
possível, que passe de mim este cálice; contudo, não seja como
eu quero, mas como tu queres” (Mt 26, 39).
Na nossa vida, pode haver momentos de luta mais
intensa, talvez de escuridão e de dor
profunda, em que nos custe aceitar a vontade de
Deus e sejamos assaltados pela tentação do
desânimo: “A imagem de Cristo
no Monte das Oliveiras há de mostrar-nos então o que devemos
fazer: abraçar-nos à vontade de Deus, sem lhe estabelecer
limites nem condições de tipo algum, e identificar-nos com o
querer de Deus por meio de uma oração perseverante”
(Pe. Francisco Fernández Carvajal).
26.ª mensagem: Para nos fazer iguais a Ele. |
Uma das razões pelas quais Jesus
Cristo quis sofrer a dor no seu corpo e na sua alma, foi
para nos demonstrar que era verdadeiro homem, com a nossa mesma
natureza, que sentia como nós a tortura e os insultos:
“...
começou a entristecer-se e a angustiar-se”
(Mt 26, 37).
Quando sentimos a força das tentações, não
devemos desanimar e pensar que perdemos a graça de Deus. Estes
sentimentos não são pecados, mas manifestações da debilidade
natural do homem. Jesus Cristo quis sentir esta fraqueza,
fazendo-se igual a nós – exceto no pecado -, para que nós nos
fizéssemos iguais a Ele, na fortaleza e na obediência à vontade
de Deus: “Não devem ser
considerados valentes os que mais feridas recebem, mas os que
mais sofrem por elas”
(Santo Ambrósio).
27.ª mensagem: Para nos fazer participantes
de seus bens. |
Quis o Senhor participar como nós
das dores do corpo e também das tristezas da alma, porque
quanto mais participasse dos nossos males, mais participantes
nos fariam dos seus bens:
“Minha alma está triste até a morte”
(Mt 26, 38).
Jesus Cristo tomou as nossas enfermidades para
que fôssemos curados; castigou-se a si mesmo pelos nossos
pecados, para que nós recebêssemos o perdão. Curou a nossa
soberba com as suas humilhações; a nossa gula, bebendo fel; a
nossa sensualidade, com a sua dor e a sua tristeza:
“Tomou a minha tristeza para me dar a
sua alegria; com meus passos desceu à morte, para que com os
seus passos eu subisse à vida”
(Santo Ambrósio).
28.ª mensagem: Perseverar durante as
provações. |
No Getsêmani, Jesus Cristo sentiu
grande aflição ao ver a perversidade dos seus inimigos. Do ódio
nascia o desejo de matá-lo, de inventar injúrias, de o
torturarem, de zombarem de sua amargura. Era como se o inimigo
trinfasse e Deus o tivesse abandonado:
“Deus o abandonou. Persegui-o e
prendei-o, porque não há ninguém para livrá-lo”
(Sl 70, 11).
Quem quiser se salvar deve perseverar no
bem durante as provações, sem se assustar com a aspereza das
dificuldades: “Concedei-me, ó
Deus eterno, ser constante, perseverante na virtude, a fim de
que não volte para trás a olhar o arado, mas com perseverança
siga o caminho da verdade”
(Santa Catarina de Sena).
29.ª mensagem: Falsidade. |
Nosso Senhor conhecia muito bem o
coração dos homens; sabia que nenhum amigo o defenderia quando
estivesse rodeado por seus inimigos, sofrendo todo tipo de
calúnia: “Olho para a direita e vejo:
não há ninguém que cuide de mim. Não existe para mim refúgio,
ninguém que se interesse pela minha vida” (Sl 141,
5).
De vez em quando precisamos sacudir a
árvore das amizades para caírem as podres.
Jamais devemos suportar as falsas amizades:
“Há amigo que se torna inimigo”
(Eclo 6, 9).
30.ª mensagem: Sofrimento sem alívio. |
Com a proximidade de sua morte,
estava em sua mente toda a dor e tormento que sofreria na cruz.
Pensava na injustiça, nos insultos, nas calúnias, nos escárnios
e nas agressões que sofreria. O simples fato de imaginar
assustava mais que a própria morte. Os condenados têm os olhos
vendados para atenuar este sentimento. Mas Jesus Cristo
não teve nenhum alívio:
“Salvai-me, ó Deus, porque as águas me vão submergir”
(Sl 68, 2).
Contemplemos a Cristo Jesus no Getsêmani
sofrendo sem alívio, e aprendamos d’Ele a suportar
os sofrimentos com aceitação e sem
refrigério: “Sim, meu Senhor,
por vosso amor abraço todas as cruzes que me queirais enviar”
(Santo Afonso Maria de Ligório).
31.ª mensagem: Não fugir diante de
prováveis sofrimentos. |
Era impossível afastar de seu pensamento aquele lugar terrível:
o Calvário. Anteviu sua crucificação:
completamente despido, rebaixado como um marginal no meio de
dois ladrões, suspenso por mais de três horas, insultado pelos
inimigos e desamparado pelos amigos. Jesus Cristo não foi
poupado de nenhum destes sentimentos. Foi tanta dor que
começou a ter pavor e angustiar-se (Mc 14, 33).
O Senhor não fugiu!
Devemos, confiados em Deus,
suportar as provações de cada dia e
não fugirmos de prováveis sofrimentos. Nosso
Senhor quer que sejamos fiéis até o fim:
“Não tenhas medo do que
irás sofrer”
(Ap 2, 10).
32.ª mensagem: Pedir ajuda aos amigos
verdadeiros nas horas difíceis. |
Jesus Cristo, para descansar um
pouco, pediu aos três amigos:
“Minha alma está triste
até a morte. Ficai aqui e vigiai comigo”
(Mt 26, 38).
Quando as nossas forças estiverem se
esgotando diante de contínuos
sofrimentos e provações, sem
desprezar a ajuda de Deus, podemos pedir ajuda aos amigos fiéis:
“Contudo, eu
vos peço, irmãos, por nosso Senhor Jesus Cristo, e pelo amor do
Espírito, que luteis comigo, nas orações que fazeis a Deus por
mim...”
(Rm 15, 30).
33.ª mensagem: Obedecer a Deus
principalmente nas dificuldades. |
Apesar da grande dor e tristeza, nada
impediria o Senhor em obedecer a seu
Pai no oferecimento de sua vida para salvar a humanidade.
Mas, com tamanho peso em seus ombros, Ele entrou em agonia e
orava ainda com mais instância, e seu suor tornou-se como
gotas de sangue a escorrer pela terra (Lc 22, 44).
Devemos obedecer a Deus em tudo,
principalmente quando a cruz pesar em nossos ombros e as
dificuldades se multiplicarem, lembrando que
“o Salvador exige que carreguemos
diariamente a nossa cruz e o sigamos pela obediência... o que
quer é que lhe renunciemos ao uso egoísta e arbitrário da nossa
vontade, que lhe entreguemos a nossa vontade, o nosso coração”
(Pe. Richard Gräf).
34.ª mensagem: Servir a Deus com amor. |
Jesus Cristo participava da essência
de Deus, e vivia como que arrebatado na ânsia de servi-lo
com toda a força do seu amor. Conhecia todos os pecados
cometidos e que seriam cometidos contra Deus:
“Ninguém como Cristo teve uma alma tão
grande: a sua dor foi à medida de seu amor; não compreendemos
inteiramente o seu amor, por isso não compreendemos sua dor”
(São João de Ávila).
Para servir a Deus com amor é
preciso arrancar do coração o egoísmo
e a mesquinhez; Deus não aceita um coração
dividido com as criaturas: “O
amor gratuito de Deus, que se antecipa ao homem, quer ser
correspondido com este amor de amizade, pelo qual se entrega o
homem totalmente a Deus, querendo só o que ele quer”
(Pe. Gabriel de Santa Maria Madalena).
35.ª mensagem: Ingratidão. |
Parece-nos que a tristeza de Jesus
Cristo não poderia ser maior, mas aumentou mais ainda pela
nossa ingratidão. Viu que muitos não reconheciam, outros
não apreciavam, e que vários não agradeciam seu esforço em nosso
favor; e que mesmo depois de derramar o seu sangue para
limpar nossa imundice, muitos terminariam na condenação eterna.
Contemplemos a Jesus Cristo que fez tanto pelas
almas e que recebeu ingratidões. Não podemos
desanimar nem encurtar os nossos passos na realização das boas
obras; pelo contrário, devemos passar sobre as ingratidões
com um coração sedento de realizar somente o bem:
“Nunca, jamais desanimeis, embora venham
ventos contrários” (Santa Paulina). A
ingratidão é um vento contrário que desanima somente os fracos.
36.ª mensagem: Procurar a fortaleza de Deus. |
A natureza de Cristo rejeitava a
cruz, mas prostrou-se e rezou,
procurando a fortaleza de Deus.
Quando as nossas forças se
esgotarem e sentirmos o abandono de todos,
prostremo-nos confiantes no Deus forte que ajuda quem
implora sua força:
“Sejam fortes e corajosos. Não tenham medo nem fiquem apavorados
por causa delas, pois o Senhor, o seu Deus, vai com vocês; nunca
os deixará, nunca os abandonará”
(Dt 3, 6).
37.ª mensagem: Deus está por trás de tudo. |
Jesus Cristo sabia que tudo é ordenado pela Providência
Divina, que nem uma folha cai sem sua permissão.
Tudo o que nos acontecer ou é vontade de
Deus ou foi permitido por Ele... não devemos nos
preocupar: “Toda a santidade
consiste em amar a Deus, e todo o amor a Deus consiste em fazer
a sua vontade. Devemos, pois, acolher sem reserva todas as
disposições da Providência a nosso respeito e, consequentemente,
abraçar em paz tudo o que nos acontece de favorável ou
desfavorável, nosso estado de vida, nossa saúde, tudo o que Deus
quer. Todas as nossas orações devem ser dirigidas pedindo que
ele nos ajude a cumprir sua santa vontade”
(Santo Afonso Maria de Ligório), e:
“Quem vive e morre perfeitamente
fazendo a vontade de Deus, é impossível que Nosso Senhor não o
receba imediatamente no céu”
(São Francisco de Sales).
38.ª mensagem: Buscar consolo em Deus. |
Ele disse:
“Meu Pai”
(Mt 26, 39). Começou a
consolar-se em seu Pai, o mesmo que lhe enviava para a morte.
Obedecia como Filho... seus olhos estavam abertos.
Ensinou-nos a chamar Deus de Pai, mesmo quando parece que nos
castiga.
Devemos inclinar a cabeça diante do Criador
e buscar consolo n’Ele, também quando as coisas não vão bem na
nossa vida:
“Por tudo dai graças, pois esta é a vontade de
Deus a vosso respeito” (1 Ts 5,
18).
39.ª mensagem: Conformar com a vontade de
Deus. |
Sentir aversão perante a dor
e querer evitá-la, não diminui o mérito, pelo contrário,
aumenta, quando se
conforma com a vontade de Deus:
“Meu Pai, se é possível, que passe de mim este cálice; contudo,
não seja como eu quero, mas como tu queres”
(Mt 26, 39).
Nenhum acontecimento deve nos inquietar
nem perturbar, porque sabemos que tudo vem de
Deus e que a sua vontade, mil vezes amável, dirige a tudo. Este
pensamento muda o sofrimento em alegria, a amargura em doçura...
e o que desconsola os outros, consola-nos, quando nos
conformamos com a vontade de Deus:
“Querer o que Deus quer; querê-lo no
modo, no tempo e nas circunstâncias que Ele quer; e querer tudo
isto não por outros motivos, mas somente porque Deus quer assim”
(São José Cafasso).
40.ª mensagem: Abraçar todas as cruzes. |
Jesus Cristo disse:
“... contudo, não seja como eu quero,
mas como tu queres” (Mt 26,
39). Nosso Senhor não fugiu das cruzes, mas fez a
vontade do Pai.
Por amor a Jesus Cristo, nosso Salvador,
devemos abraçar todas as cruzes enviadas pelo Criador; fazendo a
vontade de d’Ele e não a nossa:
“Persuadamo-nos que neste vale de
lágrimas não pode ter a verdadeira paz interior senão quem
recebe e abraça com amor os sofrimentos, tendo em vista agradar
a Deus” (Santo Afonso Maria de Ligório).
41.ª mensagem: Dor pelos pecados cometidos. |
Jesus
“caiu por terra”
(Mc 14, 35). Durante a sua oração, Jesus Cristo
prostrou-se com a face em terra, porquanto, vendo-se
coberto com a vestidura sórdida de todos os nossos pecados,
parece que se envergonhava de levantar os olhos ao céu.
Peçamos perdão a Jesus por tê-lo ofendido tanto.
Pela cruel agonia que Nosso Senhor sofreu no Getsêmani,
peçamos-lhe uma parte do horror que sofreu por nossos pecados:
“Entre os atos
do penitente, a contrição vem em primeiro lugar. Consiste numa
dor da alma e detestação do pecado cometido, com a resolução de
não mais pecar no futuro” (Catecismo da Igreja Católica; Concílio de Trento).
42.ª mensagem: O consolo que vem do alto
não é para nos livrar das cruzes. |
Apesar de aparecer no horto um
anjo a confortá-lo, segundo São Lucas 22,43, contudo,
esse conforto em vez de aliviar-lhe a pena, mais a acerbou:
“O conforto não diminuiu, mas aumentou a
dor”
(São Beda). Depois do consolo do
anjo, Jesus, cheio de angústia, orava com mais insistência
ainda, e o suor se lhe tornou semelhante a espessas gotas de
sangue que caíam por terra (Lc 22, 44). O Senhor
não ficou livre dos sofrimentos.
Devemos pedir a Deus que nos conforte
e nos ajude a suportar o peso das cruzes de cada
dia; mas não para afastá-las da nossa vida:
“Não se pode salvar
sem sofrer, querer amar a Deus sem sofrer é ilusão”
(Santa Margarida Maria Alacoque).
OBS: Essa pregação não está concluída;
assim que “surgirem” novas mensagens as acrescentaremos.
Pe. Divino Antônio Lopes FP (C)
Anápolis, 27 de junho de 2016
Bibliografia
Sagrada Escritura
Pe. Luis de la Palma, A Paixão do Senhor
Edições Theologica
Pe. Juan Leal, A Sagrada Escritura
Santo Ambrósio, Escritos
São João de Ávila, Tratado 10 do Santíssimo
Sacramento, 7
Teofilacto, Enarratio in Evangelium Marci, ad loc;
outros Escritos
Santo Tomás de Aquino, Suma Teológica, III, q.
21, a. 1
São Francisco de Sales, Tratado do amor de Deus,
livro 2, cap. 1
São Tomás More, A agonia de Cristo, ad loc.
São Josemaría Escrivá, Via-Sacra, I, n.º 1
P. Bonnetain: RevPA 50 (1930) 681-90; 51 (1931)
276-85
Santo Antônio Maria Claret, Caminho reto e seguro
para chegar ao céu
Pe. Juan de Maldonado, Comentário ao Evangelho de
São Mateus
Santo Hilário, Escritos
São João Crisóstomo, Escritos
São João Damasceno, Escritos
Santo Afonso Maria de Ligório, A Paixão de Jesus
Cristo
Frei Pedro Sinzig, Breves meditações para todos
os dias do ano
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