E AO VOLTAR DE NOVO, ENCONTROU-OS DORMINDO

(Mt 26, 40-46; Mc 14, 37-42; Lc 22, 45-46)

 

Em Mt 26, 40-46 diz: “E, ao voltar para junto dos discípulos, encontra-os dormindo. E diz a Pedro: ‘Como assim? Não fostes capazes de vigiar comigo por uma hora! Vigiai e orai, para que não entreis em tentação, pois o espírito está pronto, mas a carne é fraca’. Afastando-se de novo pela segunda vez, orou: ‘Meu Pai, se não é possível que isto passe sem que eu o beba, seja feita a tua vontade!’ E ao voltar de novo, encontrou-os dormindo, pois os seus olhos estavam pesados de sono. Deixando-os, afastou-se e orou pela terceira vez, dizendo de novo as mesmas palavras. Vem, então, para junto dos discípulos e lhes diz: ‘Dormi agora e repousai: eis que a hora está chegando e o Filho do Homem está sendo entregue às mãos dos pecadores. Levantai-vos! Vamos! Eis que meu traidor está chegando’”.

 

Em Mc 14, 37-42 diz: “Ao voltar, encontra-os dormindo e diz a Pedro: ‘Simão, estás dormindo? Não foste capaz de vigiar por uma hora? Vigiai e orai para que não entreis em tentação: pois o espírito está ponto, mas a carne é fraca’. E, afastando-se de novo, orava dizendo a mesma coisa. E, ao voltar, de novo encontrou-os dormindo, pois os seus olhos estavam pesados de sono. E não sabiam o que dizer-lhe. E, vindo pela terceira vez, disse-lhes: ‘Dormi agora e repousai. Basta! A hora chegou! Eis que o Filho do Homem está sendo entregue às mãos dos pecadores. Levantai-vos! Vamos! Eis que o meu traidor está chegando’”.

 

Em Lc 22, 45-46 diz: “Erguendo-se após a oração, veio para junto dos discípulos e encontrou-os adormecidos de tristeza. E disse-lhes: ‘Por que estais dormindo? Levantai-vos e orai, para que não entreis em tentação!’”

 

COMENTÁRIOS

 

 

Pe. Juan de Maldonado

 

O Pe. Juan de Maldonado explica: Jesus Cristo vem aos discípulos. Os intérpretes hereges dizem que vem a eles buscando consolo, falando com pouco apreço da divindade de Cristo que necessitava de consolação; não havia necessidade do consolo dos discípulos, cuja fraqueza conhecia.  Veio, pois, aos discípulos, porque já havia terminado a oração e queria orar três vezes com algum intervalo; ou veio para animar os discípulos e avisar-lhes, como se vê pelo efeito.

E os achou dormindo de tristeza. Costuma a tristeza, o mesmo que derramar lágrimas, enviar vapores ao cérebro, do que se origina o sono; e assim vemos que os meninos, depois de chorar, dormem profundamente; e os adultos, quando estão tristes, são dominados pelo sono.

Assim não fostes capazes. Dupla interrogação hão de ter estas palavras, como advertiu Eutímio: uma, depois da partícula assim, e outra depois da seguinte oração, a qual não se há de juntar com o adverbio, senão se há de referir ao anteriormente dito por Pedro em primeiro lugar: Mesmo que tiver de morrer contigo, não te negarei (Mt 26, 35), e logo dito por todos os apóstolos. Agora Jesus Cristo recorda a Pedro do que havia dito. Assim você está preparando os outros Apóstolos para morrer por mim... sendo que não é capaz de vigiar uma hora comigo? Nosso Senhor disse isso somente a Pedro (Mc 14, 37), porque foi ele o primeiro a fazer maiores alardes, como observam São João Crisóstomo, São Jerônimo, São Beda, Teofilacto e Eutimio. São Marcos disse que Jesus Cristo não disse a todos, mas somente a Pedro. Porém, dizendo a Pedro é como se dissesse a todos, por ser o chefe dos demais. São Mateus nos deu o sentido e não as palavras: como dito a todos. Uma hora: para significar um espaço de tempo contínuo e de regular extensão, não porque conste que Jesus estivera precisamente rezando durante uma hora. Quis significar uma medida de tempo vulgarmente admitida. Há hebraísmo em chamar a qualquer espaço de tempo uma hora.

Comigo. É incrível a força desta palavra para incomodar aos discípulos, como se dissesse: Não fostes capazes de vigiar comigo; que estava vigiando, orando e lutando com a morte?

Vigiai e orai. Não se trata de mim, mas de vocês; no trecho de Mt 26, 38 fala de vigiar, e agora acrescenta orar, indicando que o perigo se aproximava.

Para que não entreis em tentação. Não entrar em tentação, segundo São Jerônimo, São Beda, Eutimio e Teofilacto, e todos os intérpretes posteriores que recordo haver lido, é não só não cair em tentação, mas vencê-la. Eu creio melhor que, conforme indicam as mesmas palavras, não entrar em tentação é não cair nela; isso é o que pedimos a Deus, sabedores da nossa fraqueza: não só vencer os perigos, porém, ainda ver-nos livres de perigos.

O espírito está pronto, mas a carne é fraca. Aqui dá a causa porque devem orar, e é que, ainda quando não lhes falte ânimo e vontade, entretanto, não terão forças para a luta como não as alcancem de Deus pela oração. O espírito neste lugar não é o Espírito Santo, mas é o espírito dos discípulos, sua vontade como disse São Paulo (1 Cor 7, 34),  quando pede que a donzela seja santa no corpo e no espírito, isto é, casta e pura, não somente no corpo, mas na vontade. Parece que alude Jesus Cristo à jactância dos discípulos de umas horas antes, quando todos eles disseram que possuíam grande ânimo, com ostentação de muito valor, seguindo a Pedro: Ainda que fosse necessário morrer contigo, não te negarei. Não é que Cristo reprove e despreze aqueles atos de coragem, mas que, ainda louvando-os, avisa da fragilidade da carne, para ensinar-lhes que, não obstante seu ânimo pronto e valente necessita orar, porque a carne é fraca. Segundo disse São Paulo (2 Cor 4, 7), levamos um tesouro em vasos de barro.

Pois tinham os olhos pesados. Isto é, estavam pesados de sono, porque já era muito avançada a noite, ou pela melancolia, como indica São Lucas.

E orou terceira vez. Em seguida nos vem uma dúvida: porque Cristo orou três vezes, nem mais nem menos? Segundo São João Crisóstomo, Eutimio e Teofilacto, o número três indica verdade, perfeição, constância, virtudes que vemos confirmadas com muitos exemplos da Escritura. Aquele lençol cheio de todo gênero de animais que São Pedro viu foi estendido três vezes desde o céu (At 10, 16); e São Paulo diz que três vezes rogou ao Senhor que o livrasse daquele espírito de Satanás (2 Cor 12, 8); São Pedro negou três vezes a Jesus Cristo; Cristo perguntou três vezes a Pedro: Me amas mais que estes? (Jo 21, 15). Da mesma maneira, Cristo orou três vezes, porque o que se faz três vezes parece que se faz sempre e em definitivo: como ele nos havia ensinado a orar sempre (Lc 18, 1).

Dizendo as mesmas palavras. Não é preciso que entendamos que foram as mesmas palavras, mas o mesmo sentido que teve a oração de Jesus Cristo, como já indicou Eutimio. O que disse o evangelista aqui equivale afirmar que havia orado sobre o mesmo assunto e não havia pedido coisa nova que antes não suplicasse ao Senhor. Ainda que suspeitasse que o evangelista acrescentasse estas palavras para indicar que sempre Jesus Cristo teve presente aquelas admoestações e condições que antes havia usado: Porém não se faça o que eu quero, mas o que tu queres. Com isso nos ensina o Salvador que, ainda insistindo na oração, não se esqueça daquela submissão à vontade divina, na qual consistia todo o louvor de sua oração; isto é o que significa dizendo as mesmas palavras.

São Lucas faz menção somente de uma oração de Cristo; ao que suspeito, porque apesar de que foram três, como São Mateus avisa que sempre disse a mesma oração, pode considerar-se como uma só. Em seguida passa a contar-nos a aparição do anjo. Não sabemos, pois, em qual das três orações ele apareceu; em todas três, como alguns pensam, não parece provável. É de supor que ocorreu aquele milagre para dar uma resposta segura à oração do Senhor da parte do Pai; parece, pois, natural, que o anjo apareceu na terceira oração.

Dormi agora e descansai. Santo Agostinho e São Beda sobre esta passagem, pensam que Jesus Cristo não disse isso com ironia, mas com seriedade; sendo que em São Marcos aparece a palavra: Basta! Como se dissesse: basta já de vigiar; agora podeis descansar e dormir. Ao contrário, São João Crisóstomo, Eutimio e Teofilacto julgam que foi dito com ironia, pois os manda dormir e descansar quando não havia tempo para isso, porque os inimigos já estavam chegando. Jesus fala como se falasse com meninos. Ele disse aos seus Apóstolos: dormi e descansai, no tempo em que, ainda querendo eles fazer, vendo aos inimigos, não poderiam fazê-lo; censurava-os porque antes, quando deviam vigiar, dormiram, apesar da proibição.

Nas mãos dos pecadores. Dos gentios. Era costume dos hebreus chamar absolutamente pecadores aos gentios; como em São Lucas 24, 7: Convém que o Filho do Homem seja entregue nas mãos dos pecadores e seja crucificado; e como em Gálatas 2, 15: Nós por natureza judeus, e não pecadores dos gentios. A maior parte dos que vieram prender a Jesus Cristo eram soldados romanos; que, como disse São João, o traidor havia procurado uma coorte militar.

 

Pe. Juan Leal

 

O Pe. Juan Leal comenta: Querendo encontrar algum alívio na companhia dos seus discípulos, se aproximou deles depois desta primeira oração e os encontrou dormindo. Então, dirigindo-se principalmente a São Pedro, que havia manifestado com decidida vontade de segui-lo até a morte, os repreende com palavras suaves por não terem sido capazes de acompanhar-lhe na oração durante aquele tempo. Certamente, a hora avançava na noite e a tristeza que havia invadido seu coração com os acontecimentos do cenáculo explicam de alguma maneira a sonolência dos discípulos, porém o exemplo do Mestre e a exortação que lhes havia dito a que vigiassem juntamente com ele deveria fazê-los vencer o sono e a orar. De novo, pois, manda-os que estejam acordados e que orem para que não sucumbam às solicitações do diabo. Porque, ainda que todos houvessem mostrado seu ânimo bem disposto para seguir a Cristo, contudo, a carne debilita as forças espirituais e leva facilmente a consentir na tentação.

A segunda oração foi igual à primeira, ainda que São Mateus seja um pouco diferente na forma. Na primeira pedia diretamente ver-se livre dos tormentos da paixão, ainda que se submetesse à vontade do Pai; nesta segunda não pedia diretamente ver-se livre da paixão, mas que sua oração expressa sua absoluta conformidade com a vontade do Pai. Seu sentido parece ser: já que não é possível que eu deixe de beber desse cálice, estou preparado para cumprir perfeitamente a sua vontade. Esta conformidade com o Pai não diminuía sua repugnância e horror do seu apetite sensitivo à paixão, antes ia aumentando. Voltou outra vez para perto dos discípulos e encontrou-os dormindo: seus olhos estavam pesados de sono. Despertados pelo Senhor, não sabiam o que dizer-lhe (Mc 14, 40).

Somente São Mateus recorda expressamente esta terceira oração de Cristo.  De novo manifesta nela sua plena conformidade com a vontade do Pai. A oração e súplica prolongada e repetida era uma mostra dos sofrimentos internos que estava padecendo o coração de Jesus Cristo e da repugnância que sua vontade natural sentia para abraçar todos os tormentos da paixão. Voltou Jesus Cristo outra vez para perto dos apóstolos  e os encontrou dormindo. As palavras que agora lhes dirige são uma queixa revestida de doce ironia. Passou o tempo em que devíeis ter velado comigo. Boa hora é esta para descansar! O momento da prova chegou.

 

MENSAGENS PARA A VIDA

 

1.º mensagem: Não “dormir” diante dos inimigos.

 

 Os Apóstolos Pedro, Tiago e João estavam dormindo numa hora não adequada: “E, ao voltar para junto dos discípulos, encontra-os dormindo” (Mt 26, 40).

Não podemos “dormir” espiritualmente diante dos inimigos da nossa alma (carne, mundo e o Demônio)...  eles não “dormem”, mas trabalham continuamente para nos perder: “... então, mais que nunca, deves estar prevenido para o combate, porque nossos inimigos, o mundo, o demônio e a carne, agora mais que nunca, se armarão para te atacar e fazer-te perder tudo o que tiveres conquistado” (Santo Afonso Maria de Ligório).

 

2.º mensagem: Permanecer atento, mesmo diante do cansaço.

 

 Jesus Cristo disse ao três Apóstolos que estavam adormecidos: “Como assim? Não fostes capazes de vigiar comigo!” (Mt 26, 40).

Deus quer que permaneçamos atentos espiritualmente em qualquer situação, também quando o nosso corpo estiver exausto... para salvar a alma não podemos vacilar: “Quero salvar a minha alma a todo o custo, embora venha a sofrer o martírio” (São Pedro Julião Eymard).

 

3.º mensagem: O inimigo não “cochila”.

 

Enquanto os Apóstolos dormiam, Judas Iscariotes, o traidor, caminhava apressadamente e bem acordado para entregar o Salvador nas mãos dos inimigos.

Infeliz da pessoa que vive adormecida na vida espiritual, mergulhada na preguiça... essa será vencida pelos inimigos. Deus quer que trabalhemos com valentia para realizar o bem, porque os perseguidores estão sempre acordados e maquinando contra a nossa vida: “Quanto mais uma alma se entrega a Deus, com tanto maior empenho e inferno procura arrebatá-la” (São Dionísio Cartusiano).

 

4.º mensagem: Prometer e fazer.

 

São Pedro prometeu seguir a Jesus Cristo e até dar a vida por Ele; mas não cumpriu o que prometeu: “Pedro, tu também dormes? Não pudeste vigiar uma hora!” (Mc 14, 37).

Deus quer que sejamos fiéis aos nossos propósitos; não basta fazê-los, mas é preciso cumpri-los com fidelidade: “Melhor é calar e ser, do que falar e não ser. Coisa boa é ensinar, se quem diz o faz” (Santo Inácio de Antioquia).

 

5.º mensagem: Quem promete e não cumpre deve ficar de boca fechada.

 

Afastando-se de novo, ao voltar, Jesus Cristo encontrou-os dormindo: “E não sabiam o que dizer-lhe” (Mc 14, 40). Ficaram emudecidos.

Quem promete seguir a Jesus Cristo com amor, perseverança e fidelidade, mas envereda por outro caminho que não agrada ao Senhor, deve pedir com humildade perdão a Deus e viver, ao invés de prometer: “Cessem, peço, os discursos, falem as obras” (Santo Antônio de Pádua).

 

6.º mensagem: Cuidado com a presunção.

 

Jesus Cristo não poupou a Tiago e João que haviam imitado a Pedro na presunção e disse-lhes: “Por que estais dormindo? Levantai-vos e orai, para que não entreis em tentação!” (Lc 22, 46).

Devemos desconfiar com frequência da nossa fraqueza deixando de lado a presunção (opinião excessivamente boa acerca de si mesmo). Para vencer os obstáculos e cumprirmos os propósitos é preciso apoiar em Deus que tudo pode: “Combatamos com coragem, contemplando Jesus Crucificado que da sua cruz nos ofe­rece sua ajuda, a vitória, a coroa. Caímos no passado porque deixamos de olhar para as chagas e as ignomínias sofridas pelo nosso Redentor e, assim, não recorremos a ele pedindo ajuda” (Santo Afonso Maria de Ligório).

 

7.º mensagem: Não se descuidar.

 

Jesus Cristo vendo os Apóstolos adormecidos disse-lhes: “Levantai-vos” (Lc 22, 46).

Não podemos viver descuidados nesse mundo tão perigoso para a vida espiritual; mas precisamos caminhar com atenção para não sermos pegos de surpresa pelo inimigo da nossa alma. Quem vive descuidado torna-se presa fácil do tentador: “Sede sóbrios e vigilantes! Eis que o vosso adversário, o diabo, vos rodeia como um leão a rugir, procurando a quem devorar. Resistir-lhe, firmes na fé” (1 Pd 5, 8-9). Devemos estar sempre de “pé”, isto é, vivendo cuidadosamente.

 

8.º mensagem: Perseverar na oração.

 

Jesus Cristo ordena aos Apóstolos que rezem... não basta vigiar: “... orai, para que não entreis em tentação, pois o espírito está pronto, mas a carne é fraca” (Mt 26, 41).

Para vencer o nosso maior inimigo, a carne, é preciso perseverar na oração... estar em contínua união com Deus: “Grande, portanto, é a excelência da castidade; mas também terrível é a guerra que a carne nos declara para no-la roubar. Nossa carne é a arma mais poderosa que possui o demônio para nos escravizar” (Santo Afonso Maria de Ligório).

 

9.º mensagem: Quem não reza bem é fraco na ação.

 

Jesus Cristo voltou, preocupado com a fraqueza dos Apóstolos, e outra vez encontra-os adormecidos. Como eram preguiçosos em rezar, demostravam como seriam fracos na ação.

A oração fortalece a alma... e quem não reza possui a alma fraca para a ação e aberta para a tentação. A oração é tão necessária para a alma como o alimento material é para o corpo; por isso, quem não reza se condenará: “Quem reza se salva, quem não reza se condena” (Santo Afonso Maria de Ligório), e: “Aprendeu a bem viver quem aprendeu a bem rezar” (Santo Agostinho).

 

10.º mensagem: Insistir na oração diante das provações.

 

Jesus Cristo, nosso Salvador, deixou os Apóstolos pela terceira vez e foi rezar: “Deixando-os, afastou-se e orou pela terceira vez” (Mt 26, 44). O Senhor não abandonou a oração, mas insistiu nela.

Quanto maior for a provação, mais insistentes devemos ser na oração. Quem abandona a oração sucumbirá diante das provações e não se salvará: “Se deixarmos de rezar, rompemos a corrente de nossas orações e, então, se romperá igualmente a corrente das graças que nos hão de alcançar a salvação e, assim, não nos salvaremos” (Santo Afonso Maria de Ligório).

 

11.º mensagem: Não inventar “orações”.

 

Jesus Cristo não fez orações diferentes: “Deixando-os, afastou-se e orou pela terceira vez, dizendo de novo as mesmas palavras” (Mt 26, 44). Dialogar com Deus não é o momento para novidades.

Quando estamos tristes e oprimidos, não são necessárias palavras novas para dirigirmos nossas preces a Deus; bastam as mesmas, repetidas vezes, para que o Senhor nos escute: “Haja ordem na palavra e na súplica dos que oram, tranquilos e respeitosos. Pensemos estar na presença de Deus” (São Cipriano).

 

12.º mensagem: Luta interior.

 

São Lucas conta que era grande a agonia de Jesus Cristo nesta terceira volta: “E, cheio de angústia, orava com mais insistência ainda, e o suor se lhe tornou semelhante a espessas gotas de sangue que caíam por terra” (Lc 22, 44). Agonia significa: estado de transição que precede a morte, espaço de tempo que dura este estado, luta, sofrimento e amargura. Jesus Cristo lutava dentro de si; por um lado estava a natureza humana que rejeitava esta morte, do outro a natureza divina que desejava obedecer ao mandato de seu Pai.

No âmbito da vida espiritual, o nosso amor ao Senhor não se mede tanto pelos êxitos que julgamos ter alcançado, quanto pela capacidade de começar de novo, de renovar a luta interior. A desistência ou o desleixo no cumprimento dos propósitos e metas da vida interior são sinal evidente de mediocridade espiritual e de tibieza. No caminho que nos conduz a Deus, “dormir é morrer” (São Gregório Magno).

 

13.º mensagem: Rezar com fervor.

 

O Espírito lutava contra a carne e animava-o a aceitar o martírio, nesta batalha o Senhor rezou com mais fervor e sua oração foi longa.

A nossa oração não pode ser fria nem indiferente, mas deve ser fervorosa. Deus sabe quão salutar é para nós a necessidade de rezar com fervor principalmente nas horas difíceis: “São fortes as potências do inferno, entretanto, a oração é mais forte do que todos os demônios” (São Bernardo de Claraval).

 

14.º mensagem: Fortaleza.

 

Jesus Cristo não convidou os Apóstolos para fugir; mas disse-lhes com firmeza: “Levantai-vos! Vamos!” (Mc 14, 42).

Não podemos abandonar a nossa missão nas horas difíceis e cheias de provações; pelo contrário, devemos olhar para o céu e enfrentar todas as dificuldades cheios de fortaleza: “A fortaleza é uma virtude moral sobrenatural que robustece a alma na conquista do bem árduo, sem se deixar abalar pelo medo, nem sequer pelo temor da morte” (Pe. Adolfo Tanquerey).

 

15.º mensagem: Valentia.

 

Jesus Cristo não tremeu de medo diante de Judas Iscariotes e dos soldados; mas disse aos Apóstolos: “Levantai-vos! Vamos! Eis que o meu traidor está chegando” (Mc 14, 42).

Perante a dificuldade é preciso mostrar valentia e enfrentar, sem medo, os que nos perseguem: “Aprendemos que o ato supremo da fortaleza consiste em enfrentar o martírio com valentia. Na época dos mártires, os que claudicavam era considerados apóstatas. E eu às vezes me pergunto: se neste nosso tempo as pessoas mascaram a sua fé pelo simples temor de uma gozação, que aconteceria se vivessem na época de Nero ou de Diocleciano, quando confessar a fé significava perder a vida? Sem dúvida, a apostasia – disfarçada de ‘jeitinhos’ e ‘jogos de cintura’ – converter-se-ia em verdadeira doença epidêmica” (Dom Rafael Llano Cifuentes).

 

16.º mensagem: Cuidado com as amizades.

 

Por três vezes Jesus Cristo procura a companhia na oração daqueles três Apóstolos. Velai comigo, ficai a meu lado, não me deixeis sozinho, tinha-lhes pedido. Mas os amigos abandonaram o Amigo.

Feliz da pessoa que age com prudência em relação às amizades. O coração do homem é um abismo, profundo abismo... não se pode confiar totalmente nas amizades: “... há amigo que o é só de nome” (Eclo 37, 1).

 

17.º mensagem: Não falhar com Deus.

 

Era uma noite para os Apóstolos permanecerem velando e rezando; e dormem... deixam Jesus sozinho. O Senhor não encontra apoio deles; tinham sido escolhidos para isso e falharam: “Levando Pedro e os dois filhos de Zebedeu...” (Mt 26, 37).

Não podemos falhar com Deus! Devemos, custe o que custar, viver na presença do Senhor principalmente nas horas difíceis... nada nesse mundo pode nos separar d’Ele: “Viva neste mundo como se só com Deus vivesse a fim de que o seu coração não seja detido por coisa humana... Não apascente o espírito senão em Deus... Toma a Deus por esposo e amigo com quem andes de contínuo e não pecarás” (São João da Cruz).

 

18.º mensagem: Sem oração é impossível seguir a Jesus Cristo.

 

São Pedro não pôde cumprir a sua promessa naquela noite, entre outros motivos, porque não perseverou na oração que Jesus Cristo lhe pedia: “E diz a Pedro: ‘Como assim? Não fostes capazes de vigiar comigo por uma hora!’” (Mt 26, 40).

Se a nossa oração diária for verdadeira, manter-nos-á vigilantes diante do inimigo que não repousa. E dar-nos-á a coragem de que necessitamos para enfrentar e vencer as tentações e dificuldades: “Sem oração é difícil de acompanhar Jesus Cristo” (São Josemaría Escrivá).

 

19.º mensagem: Nunca omitir a oração diária.

 

São Pedro vacilou na oração... não imitemos seu péssimo exemplo: “Não fostes capazes de vigiar comigo por uma hora!” (Mt 26, 40).

Devemos olhar o péssimo exemplo de São Pedro e sermos fortes para nunca omitirmos a nossa oração diária... sem essa oração contínua é impossível fazer a vontade de Deus nas coisas que custam: “Rezemos orações curtas, mas fervorosas! Se não nos salvarmos, a culpa é nossa” (Santo Afonso Maria de Ligório).

 

20.º mensagem: Vigiar e rezar para vencer as tentações.

 

Disse Jesus Cristo aos Apóstolos: “Vigiai e orai, para que não entreis em tentação” (Mt 26, 41). Não basta somente vigiar... não basta também somente rezar.

A vigilância e a oração são meios mais eficazes para contrabalançar o efeito das tentações. A vigilância faz evitar o que poderia prejudicar-nos gravemente. A oração nos fortalecerá, onde por nossa natureza jamais seríamos.

 

21.º mensagem: Praticar a caridade durante as provações.

 

Nosso Senhor se levantou da oração e foi visitar os Apóstolos: “E, ao voltar para junto dos discípulos...” (Mt 26, 40).

Não podemos deixar que as dificuldades que surgem pelo caminho esfrie a caridade do nosso coração para com o próximo; pelo contrário, quanto mais pesada for a cruz, mais devemos servir com amor ao próximo: “Carregai o peso uns dos outros...” (Gl 6, 2).

 

22.º mensagem: Paciência nas aflições.

 

Nosso Senhor, no meio de tantas aflições, não foi grosseiro nem rude com os Apóstolos; mas disse-lhes: “Vigiai e orai, para que não entreis em tentação” (Mt 26, 41).

Não podemos perder a paciência diante dos obstáculos; mas, apoiados em Jesus, devemos suportar tudo com serenidade: “Bem-aventurado o homem que suporta com paciência a provação! Porque, uma vez provado, receberá a coroa da vida, que o Senhor prometeu aos que o amam” (Tg 1, 12).

 

23.º mensagem: Alertar o próximo sobre o perigo.

 

Nosso Senhor deixou a oração e foi ao encontro dos Apóstolos e alertou-os dizendo: “Vigiai e orai para que não entreis em tentação: pois o espírito está ponto, mas a carne é fraca” (Mc 14, 38).

É grande caridade alertar o próximo sobre os ataques do inimigo que não dorme. Muitas pessoas que vivem acomodadas na vida espiritual são presas fáceis do Maligno: “O infame não cessará com seus ataques até o último suspiro da alma que não soube defender-se já contra os primeiros golpes” (São João Crisóstomo).

 

24.º mensagem: Não se indignar contra o próximo diante de suas fraquezas.

 

Jesus Cristo interrompe sua oração para visitar os Apóstolos... encontra-os dormindo e não fica indignado contra eles.

Devemos suportar as fraquezas do próximo e jamais humilhá-lo por causa de suas quedas: “Nós, os fortes, devemos carregar as debilidades dos fracos e não buscar a nossa própria satisfação” (Rm 15, 1).

 

25.º mensagem: Respeito com quem nos corrige.

 

Os Apóstolos não responderam com azedume a Jesus Cristo por ter-lhes chamado a atenção, mas permaneceram em silêncio: “E não sabiam o que dizer-lhe” (Mc 14, 40).

Devemos tratar com respeito  as pessoas que nos corrigem para o nosso próprio bem: “Quem ama a disciplina ama o conhecimento, quem detesta a repreensão é estúpido” (Pr 12, 1).

 

26.º mensagem: Salvação da alma.

 

Jesus Cristo deixou a oração e foi dizer aos Apóstolos que se mantivessem atentos, porque a carne é fraca: “Vigiai e orai para que não entreis em tentação: pois o espírito está ponto, mas a carne é fraca” (Mc 14, 38).

Não podemos ficar indiferentes vendo uma pessoa em perigo de se perder eternamente; mas devemos orientá-la no caminho da salvação: “Salvar as almas, é entre as obras divinas, a mais divina” (São Dionísio Areopagita).

 

27.º mensagem: Confiança em Deus.

 

Jesus Cristo estava privado de todo o consolo: os Apóstolos estavam dormindo, sua Santa Mãe estava ausente... Ele não se impacientou, mas confiou no Pai.

Quando formos deixados de lado pelos amigos, parentes e conhecidos, não nos desesperemos nem impacientemos; mas confiemos no Deus que tudo pode: “Meu pai e minha mãe me abandonaram, mas Deus me acolhe!” (Sl 27, 10).

 

28.º mensagem: Os inimigos de Deus às vezes trabalham mais que os seus amigos.

 

Os Apóstolos estavam dormindo, enquanto que Judas Iscariotes caminhava para entregar o Senhor: “Levantai-vos! Vamos! Eis que o meu traidor está chegando” (Mc 14, 42).

São muitos os que adormecem na tarefa de semear virtudes entre a gente e de manter a verdadeira doutrina, enquanto os inimigos de Jesus Cristo, com o objetivo de semear o vício e de desarraigar a fé, se mantêm bem acordados: “Pois os filhos deste século são mais prudentes com sua geração do que os filhos da luz” (Lc 16, 8).

 

29.º mensagem: Não podemos realizar o bem longe de Deus.

 

Assim que Jesus Cristo, o Salvador, se afastou para rezar, os Apóstolos adormeceram.

Para realizarmos boas obras e perseverarmos no caminho da santidade necessitamos da ajuda de Deus... longe d’Ele desanimaremos e o fracasso será total: “Os Apóstolos não puderam velar, se quer, por uma hora longe de Jesus Cristo. Devemos pedir ao Senhor que não afaste de nós, nem por um instante” (Orígenes).

 

30.º mensagem: Deus repreende os que confiam nas próprias forças.

 

Quando Jesus Cristo voltou para perto dos Apóstolos e os encontrou dormindo, repreendeu especialmente a São Pedro, porque se gloriava de que não se escandalizaria: “E diz a Pedro: ‘Como assim? Não fostes capazes de vigiar comigo por uma hora!’” (Mt 26, 40).

Devemos confiar no poder de Deus e desconfiar das nossas forças... quem se apoia em Deus vence os obstáculos; quem confia em si mesmo será  derrotado: “Quem ama a Deus é verdadeiramente humilde. Não se orgulha vendo em si algumas boas qualidades. Sabe que tudo quanto possui é dom de Deus; de seu, só tem o nada e o pecado” (Santo Afonso Maria de Ligório).

 

31.º mensagem: Vigiar é realizar o bem.

 

Nosso Senhor Jesus Cristo disse aos Apóstolos que vigiassem: “Vigiai...” (Mc 14, 38).

Ser vigilante não significa viver na comodidade; mas entesourar tesouros no céu através das boas obras: “Vigilante é aquele que pratica boas obras e que procura com cuidado não cair em erro algum”(Orígenes).

 

32.º mensagem: Vencer as tentações.

 

Jesus Cristo não disse aos Apóstolos que pedissem para não serem tentados; mas que vencessem as tentações: “Vigiai e orai, para que não entreis em tentação” (Mt 26, 41).

Ninguém nesse mundo está livre das tentações... é preciso lutar para vencê-las: “É impossível que a alma humana viva isenta de tentações... por isso, Jesus disse que os Apóstolos vigiassem e orassem, para não serem vencidos pela tentação” (São Jerônimo).

 

33.º mensagem: Deus não peca.

 

A razão de Jesus Cristo aconselhar aos Apóstolos que rezassem para que não caíssem em tentação: “Vigiai e orai para que não entreis em tentação: pois o espírito está ponto, mas a carne é fraca” (Mc 14, 38), não dizia isso de si mesmo, mas aos seus Apóstolos.

O homem é pecador e precisa da ajuda de Deus para não cair; mas em Deus não há pecado: “Ele não cometeu nenhum pecado...” (1 Pd 2, 22).

 

34.º mensagem: Dirigir toda a oração ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo.

 

Jesus Cristo rezou três vezes: “Deixando-os, afastou-se e orou pela terceira vez” (Mt 26, 44).

Nosso Senhor rezou três vezes para alcançar-nos o perdão dos pecados, para defender-nos dos males presentes e para prevenir-nos dos perigos futuros: “Também para que dirijamos toda oração ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo. Além disso, para que se conservem íntegros nosso espírito, nossa alma e o nosso corpo” (Rábano).

 

OBS: Essa pregação não está concluída; assim que “surgirem” novas mensagens as acrescentaremos.

 

Pe. Divino Antônio Lopes FP (C)

Anápolis, 06 de julho de 2016

 

 

Bibliografia

 

Sagrada Escritura

Pe. Juan de Maldonado, Comentário ao Evangelho de São Mateus

Pe. Juan Leal, A Sagrada Escritura

Rábano, Escritos

São Jerônimo, Escritos

Santo Afonso Maria de Ligório, Escritos

Orígenes, Escritos

São Dionísio Areopagita, Escritos

São João Crisóstomo, Escritos

São João da Cruz, Escritos

São Josemaría Escrivá, Escritos

São João Bosco, Escritos

Dom Rafael Llano Cifuentes, Escritos

Pe. Adolfo Tanquerey, Escritos

São Cipriano, Escritos

São Gregório Magno, Escritos

São Bernardo de Claraval, Escritos

Santo Antônio de Pádua, Escritos

Santo Inácio de Antioquia, Escritos

São Pedro Julião Eymard, Escritos

São Dionísio Cartusiano, Escritos

Santo Agostinho, Escritos

 

 

 

 

 

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Depois de autorizado, é preciso citar:

Pe. Divino Antônio Lopes FP(C). “E ao voltar de novo, encontrou-os dormindo”
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