É AQUELE QUE EU BEIJAR; PRENDEI-O

(Mt 26, 47-56; Mc 14, 43-52; Lc 22, 47-53; Jo 18, 2-11)

 

Em Mt 26, 47-56 diz: “E enquanto ainda falava, eis que veio Judas, um dos Doze acompanhado de grande multidão com espadas e paus, da parte dos chefes dos sacerdotes e dos anciãos do povo. O seu traidor dera-lhes um sinal, dizendo: ‘É aquele que eu beijar; prendei-o’. E logo, aproximando-se de Jesus, disse: ‘Salve, Rabi!’ e o beijou. Jesus respondeu-lhe: ‘Amigo, para que estás aqui?’ Então, avançando, deitaram a mão em Jesus e o prenderam. E eis que um dos que estavam com Jesus, estendendo a mão, desembainhou a espada e, ferindo o servo do Sumo Sacerdote, decepou-lhe a orelha. Mas Jesus lhe disse: ‘Guarda a tua espada no seu lugar, pois todos os que pegam a espada pela espada perecerão. Ou pensas tu que eu não poderia apelar para o meu Pai, para que ele pusesse à minha disposição, agora mesmo, mais de doze legiões de anjos? E como se cumpririam então as Escrituras, segundo as quais isso deve acontecer?’ E naquela hora, disse Jesus às multidões: ‘Como a um ladrão, saístes para prender-me com espadas e paus! Eu me sentava no Templo ensinando todos os dias e não me prendestes’. Tudo isso, porém, aconteceu para se cumprirem os escritos dos profetas. Então todos os discípulos, abandonando-o, fugiram”.

 

Em Mc 14, 43-52 diz: “E, imediatamente, enquanto ainda falava, chegou Judas, um dos Doze, com uma multidão trazendo espadas e paus, da parte dos chefes dos sacerdotes, escribas e anciãos. O seu traidor dera-lhes uma senha, dizendo: ‘É aquele que eu beijar. Prendei-o e levai-o bem guardado’. Tão logo chegou, aproximando-se d’Ele, disse: ‘Rabi!’ E o beijou. Eles lançaram a mão sobre Ele e o prenderam. Um dos que estavam presentes, tomando da espada, feriu o servo do Sumo Sacerdote e decepou-lhe a orelha. Jesus, tomando a palavra, disse: ‘Como a um ladrão, saíste para prender-me com espadas e paus! Eu estive convosco no Templo, ensinando todos os dias, e não me prendestes. Mas é para que as Escrituras se cumpram’. Então, abandonando-o, fugiram todos. Um jovem o seguia, e a sua roupa era só um lençol enrolado no corpo. E foram agarrá-lo. Ele, porém, deixando o lençol, fugiu nu”.

 

Em Lc 22, 47-53 diz: “Enquanto ainda falava, eis que chegou uma multidão. À frente estava o chamado Judas, um dos Doze, que se aproximou de Jesus para beijá-lo. Jesus lhe disse: ‘Judas, com um beijo entregas o Filho do Homem?’ Vendo o que estava para acontecer, os que se achavam com ele disseram-lhe: ‘Senhor, e se ferirmos à espada?’ E um deles feriu o servo do Sumo Sacerdote, decepando-lhe a orelha direita. Jesus, porém, tomou a palavra e disse: ‘Deixai! Basta!’ E tocando-lhe a orelha, curou-o. Depois, Jesus dirigiu-se àqueles que vieram de encontro a ele, chefes dos sacerdotes, chefes da guarda do Templo e anciãos: ‘Como a um ladrão saístes com espadas e paus? Eu estava convosco no Templo todos os dias e não pusestes a mão sobre mim. Mas é a vossa hora, e o poder das Trevas’”.

 

Em Jo 18, 2-11 diz: “Tendo dito isso, Jesus foi com seus discípulos para o outro lado da torrente do Cedron. Havia ali um jardim, onde Jesus entrou com seus discípulos. Ora, Judas, que o estava traindo, conhecia também esse lugar, porque, frequentemente, Jesus e seus discípulos aí se reuniam. Judas, então, levando a coorte e guardas destacados pelos chefes dos sacerdotes e pelos fariseus, aí chega, com lanternas, archotes e armas. Sabendo Jesus tudo o que lhe aconteceria, adiantou-se e lhes disse: ‘A quem procurais?’ Responderam: ‘Jesus, o Nazareu’. Disse-lhes: ‘Sou eu’. Judas, que o estava traindo, estava também com eles. Quando Jesus lhes disse ‘Sou eu’, recuaram e caíram por terra. Perguntou-lhes, então, novamente: ‘A quem procurais?’ Disseram: ‘Jesus, o Nazareu’. Jesus respondeu: ‘Eu vos disse que sou eu. Se, então, é a mim que procurais, deixai que estes se retirem’, a fim de se realizar a palavra que diz: Não perdi nenhum dos que me deste. Então, Simão Pedro, que trazia uma espada, tirou-a, feriu o servo do Sumo Sacerdote, a quem decepou a orelha direita. O nome do servo era Malco. Jesus disse a Pedro: ‘Embainha a tua espada. Deixarei eu de beber o cálice que o Pai me deu?’”

 

 

COMENTÁRIOS

 

 

Pe. Luís de la Palma

 

O Pe. Luís de la Palma comenta: Após sair, Judas que não acreditava mais em Jesus, pois o considerava como um enganador, começou a organizar como o entregar. Foi à casa dos príncipes dos sacerdotes, para indicar que aquela era a ocasião oportuna para que se cumprisse o combinado, assim deu as coordenadas para a captura. Conseguiu uma comitiva de soldados da guarda. Parecendo pouco, mandaram criados e alguns dos príncipes dos sacerdotes, com isso davam uma autoridade ao fato, pois estes bem armados e equipados com espadas e paus, lanternas e tochas. Judas armou tudo para que nada saísse errado. Na cidade, todo este alvoroço não passou despercebido. Juntou-se todo tipo de gente: judeus, gentios, servos, comerciantes, vagabundos, prostitutas; todos nesta noite prenderiam Jesus, porque a graça da redenção seria para todos.

Judas tomou o comando desta operação, São Lucas diz que: “… à frente deles vinha um dos doze, que se chamava Judas” (Lc 22, 47), e que é confirmado pelos Atos dos Apóstolos: “… foi o guia daqueles que prenderam Jesus” (At 1,16). Judas, o traidor, conhecia também  aquele lugar, porque Jesus ia frequentemente para lá com seus discípulos (Jo 18,2), então escolhendo a noite, quando Jesus estaria com poucos amigos e fora da cidade, evitariam tumulto e resistência de seus seguidores, satisfazendo assim, o temor dos pontífices que tinham medo e queriam prender Jesus após a Páscoa. O poder das trevas buscava na escuridão a Luz Eterna; seria necessário então tochas e lanternas. Como era noite, seria necessário um sinal para que não houvesse engano, pois alguns não o conheciam, um beijo foi o modo que Judas o encontrou. Com um beijo no rosto, a saudação habitual entre amigos, sinalizaria para capturarem Jesus. Agindo com falsidade e duplicidade, características de um traidor, entregaria Jesus com um beijo, pois era um dos apóstolos. Comunicou a todos, o sinal para prender Jesus: “Aquele que eu beijar, é ele. Prendei-o (Mt 26, 48). Vemos que nem sempre aqueles que seguem Jesus são bons, muitas vezes se tornam como Judas, os piores traidores.

Judas e seu séquito saíram da cidade em direção ao Monte das Oliveiras. As armas brilhavam à luz dos archotes. O traidor caminhava na frente como se fosse pacificar a cidade prendendo um chefe de quadrilha. Chegaram ao Horto de Getsêmani no momento que Jesus ainda falava com os discípulos.

O Senhor demonstrou a sua divindade entregando-se livremente. Mesmo com o beijo, nada aconteceu como Judas tinha planejado; ninguém reconheceu e prendeu Jesus, e ele não passou despercebido perante os outros apóstolos. Quando Judas aproximava-se, Jesus foi ao seu encontro. Fingindo-se amigo, saudou-o: “Salve, Mestre. E beijou-o” (Mt 26, 49). O Senhor que somente quer a paz deixou-se beijar. Com mansidão, aceitava aquele beijo, para mostrar que se entregava por vontade própria.

Fazendo o bem para aquele que lhe fazia mal; depois de ter recebido o beijo, mostrou-lhe o carinho de amigo, chamando-o pelo nome, não censurando, mas perguntando-lhe com ternura: “Judas, com um beijo trais o Filho do homem? (Lc 22,48), com sinais de amor e paz me entregas à morte? Amigo, é então, para isso que vens aqui? (Mt 26, 50). Minhas dor é maior porque vem de um amigo, se o ultraje viesse de um inimigo, eu o teria suportado; se a agressão partisse de quem me odeia, dele em esconderia (Sl 54, 13).

Judas Iscariotes ficou emocionado diante da serena reação de amizade demonstrada pelo Senhor; perante o olhar do Mestre, ficou paralisado. Mas, sua disposição para o mal venceu, então, juntou-se aos soldados. Mesmo após o sinal, nenhum soldado prendeu Jesus; sua prisão não seria como eles planejaram, mas, somente quando Ele permitisse.

Judas tinha se afastado, os soldados não o prendiam. Como Jesus soubesse tudo o que havia de lhe acontecer, adiantou-se e perguntou-lhes: “A quem buscais?” (Jo 18,4). Cegados não o viam, Judas continuou calado, e eles responderam: A Jesus de Nazaré. Todos os preparativos foram inúteis, mas Jesus deu-se a conhecer: Sou eu. Sua voz majestosa e imponente saiu como um raio… espantados recuaram.

Os apóstolos alegraram-se com a força de seu Mestre; com sua resposta derrubou um exército. Perante Ele não há nenhum poder. O que acontecerá com os ímpios quando Ele vier Julgar?

Jesus estava imponente e os soldados caídos. Quando se levantaram, perguntou-lhes novamente: A quem buscais? Perante a grandeza de Jesus, deviam adorá-lo e servi-lo; mas não reconhecendo sua realeza, persistiam em sua intenção: A Jesus de Nazaré. Percebendo que não era possível fazê-los enxergar e preocupado com seus discípulos respondeu-lhes: “Já vos disse que sou eu. Se é, pois, a mim que buscais, deixai ir estes” (Jo 18,8). Assim, Pedro que feriu um servo do sumo sacerdote, poderia sair ileso. Todos obedeceram, e assim se cumpriu as Escrituras: “Conservei os que me deste, e nenhum deles se perdeu, exceto o filho da perdição” (Jo 17, 12). Entre aquela multidão, estava Malco, servo do sumo sacerdote, que estava indignado pelo que havia escutado sobre Jesus. Quando o Senhor se revelou, Malco o atacou violentamente. Os discípulos vendo que a situação era dramática, perguntaram: “Senhor, devemos atacá-los à espada?” (Lc 22, 49). Pedro não esperou nenhuma autorização, desembainhou a espada e desferiu o golpe na cabeça de Malco, pegando de raspão no capacete cortou-lhe a orelha direita.

Jesus que desejava entregar-se livremente, vendo Pedro e os outros que tentavam defendê-lo, disse: “Deixai, basta!” (Lc 22, 51). Com sua habitual piedade, tentando abrandar a ira de Malco, tocou-lhe a ferida e curou-o. É assim que Jesus domina o ódio de seus inimigos, com caridade.

Após curar a ferida de seu amigo, corrigiu os discípulos mostrando novamente que oferecia sua vida por vontade própria; para se cumprir as profecias e o mandato de seu Pai. Embora os inimigos atacassem, mandou: “Embainha sua espada, porque todos aqueles que usarem da espada, pela espada morrerão” (Mt 26,52). Eu não fujo da morte, aceito-a com amor, não são eles que me matam, mas a vontade de meu Pai, então, não hei de beber eu o cálice que o Pai me deu?  (Jo 18,11). Crês tu que não posso invocar meu Pai e ele não me enviaria imediatamente mais de doze legiões de anjos? Mas como se cumpririam então as Escrituras, segundo as quais é preciso que seja assim? (Mt 26, 53-54).

Embora fosse preso porque quis, foi uma desonra para Jesus; pois era uma pessoa conhecida por suas virtudes, pelos seus milagres, por suas palavras. O povo o considerava como um profeta. Mas foi preso como um malfeitor, um ladrão; o Senhor que tinha deixado passar várias injúrias, desta vez foi incisivo: “Saístes armados de espadas e varapaus, como se viésseis contra um ladrão” (Lc 22, 52). Exprimia seu sentimento pelo que faziam: cegos e enganados, tratavam o Senhor como um malfeitor; estava sempre no meio deles, na cidade, mas o prenderam no campo; usaram de armas para quem só pregava a paz; buscaram um traidor, contra aquele que sempre fora leal e fazia tudo às claras.

Por que não se atreveram prender-me, antes? Fizeste-o, de noite, como se prendessem a um ladrão; mas só o fizeram, porque consenti. Mas esta é vossa hora (Lc 22, 53), e é isso que permite a minha prisão; são as trevas com seu poder que lhes movem.

Com estas palavras, os demônios e seus servidores, encontraram-se livres para fazer com Jesus o que bem entendessem. Agarraram-no, e golpearam-no com violência e insultos. Depois amarraram suas mãos, prendendo assim, o autor da liberdade. Judas andava ao lado dos sacerdotes e magistrados, comentando o seu êxito, embora fosse melhor que não tivesse nascido.

Os apóstolos, envergonhados e assustados, esquecendo-se que tinham prometido, o abandonaram e fugiram (Mc 14, 50).

Seguia-o um jovem coberto somente de um pano de linho (Mc 14, 51), talvez, acordado pelo grande alvoroço e barulho que faziam os que traziam Jesus, foi notado e tentaram prendê-lo, mas largando o lençol, escapou nu. Assim, acontece, sofremos mais por fugir da cruz do que de carregá-la.

Os apóstolos, dispersos pela fuga, talvez se reunissem na casa onde tinham ceado; contariam a Maria todo o ocorrido no horto; descreveriam a prisão de seu Filho, e a Virgem ficaria ferida de uma dor profunda, embora conformada com a vontade de Deus.

 

Pe. Juan Leal

 

O Pe. Juan Leal explica: Ao que parece, Judas Iscariotes, depois de sair do cenáculo, se dirigiu à casa do sumo sacerdote Caifás para fazer-lhe conhecer e aos demais membros do Sinédrio que seu propósito de entregar-lhes Jesus havia sido descoberto durante a ceia, e que, portanto, era preciso agir rapidamente. Ainda que não fosse conveniente prender Jesus Cristo durante os dias da festa da Páscoa, contudo, diante das circunstâncias propícias que Judas oferecia, decidiram prendê-lo naquela noite, o mais secreto possível, para que o povo não espalhasse a notícia. Combinaram em tomar todas as precauções para que os discípulos de Jesus não oferecessem resistência.

O beijo entre os judeus era habitual nas saudações e despedidas. Quando se tratava de saudação dos discípulos a seus rabinos ou mestres, era também um sinal de reverência. O beijo era dado somente na bochecha ou nas mãos, e é provável que os apóstolos usassem desta classe de saudação com seu Mestre, Jesus, depois de alguma ausência prolongada. Jesus contesta o beijo de Judas com palavras cheias de mansidão. Com a palavra, amigo, lhe recorda os laços estreitos que possuía com ele até aquele momento e lhe insinua que por sua parte está disposto a admiti-lo de novo na sua amizade se fizesse penitência do seu pecado. Era, por outra parte, esta palavra, dita naquelas circunstâncias, um indício da horrorosa ingratidão e deslealdade do traidor.

Os detalhes que da prisão de Jesus Cristo nos oferecem os três sinóticos são completados com outros detalhes do Evangelho de São João 18, 4-9. Antes que os inimigos se adiantassem para prender Jesus, Ele lhes perguntou: A quem procurais? Então, responderam: A Jesus Nazareno. Então, ao responder-lhe o Senhor: Sou Eu, afastaram e caíram por terra. Jesus Cristo mostrou assim o seu poder para manifestar que se entregava voluntariamente à morte. E, Ele mesmo, depois de perguntar-lhes pela segunda vez se era Ele a quem buscavam, se entregou em suas mãos, pedindo que deixassem em paz os seus apóstolos.

Quando os inimigos se aproximaram para prender Jesus, os discípulos perguntaram-lhe: … e se ferirmos à espada? São Pedro adiantando-se, antes de Cristo dar a resposta, pegou a espada e cortou a orelha de Malco. Os três sinóticos, ao contar esse episódio, calam o nome de Pedro, não porque ignorasse que tinha sido ele o protagonista da cena, mas por razões de prudência e reserva, para não criar-lhe nenhum compromisso. São João Evangelista, que escreveu uns sessenta anos mais tarde, supre essa omissão dos sinóticos, dando-nos expressamente o nome de Simão Pedro, que já havia sofrido o martírio em Roma no ano 67.

Jesus Cristo reprime o zelo imprudente e inútil do impetuoso apóstolo com umas palavras cheias de mansidão e paciência. Recorda uma máxima proverbial que violência gera violência… e que o reino que veio estabelecer se fundará na caridade, na renúncia e na paciência, para dar aos homens a paz verdadeira, como já havia pregado no sermão da Montanha (Mt 5, 39-42). Por outra parte, se nos planos de Deus houvesse entrado que Ele devesse se defender com a força, bastava-lhe reclamar o auxílio de seu Pai, que podia socorrê-lo imediatamente com doze legiões de anjos. Uma legião do exército romano constava de dez coortes, isto é, de quatro a seis mil homens. Por conseguinte, doze legiões representavam um corpo de exército muito considerável. Naturalmente que Jesus Cristo, ao usar estes termos concretos, quis significar simplesmente que em sua mão estava, se quisesse, frustrar os planos dos inimigos. Porém, como acrescenta imediatamente, é necessário que se cumpra o profetizado nas Escrituras do Antigo Testamento, segundo as quais Jesus Cristo devia entregar-se sem resistência, como ovelha levada ao matadouro (Is 53, 7).

Jesus Cristo, entretanto, quer fazer constar o ultraje de que é objeto pela maneira como vem prendê-lo, como se Ele fosse um ladrão e malfeitor… que deve ser preso à noite e num lugar solitário, armados com todo tipo de armas. Se a causa de sua prisão foram seus ensinamentos, então deveriam ter feito publicamente quando ensinava no templo. É certo que já haviam tentado prender Jesus Cristo; porém, os perseguidores não se atreveram a fazê-lo, e voltaram dizendo: Jamais pessoa alguma falou como esse homem (Jo 7, 46). As palavras do último versículo são colocadas na boca de Jesus por São Marcos (Mc 14, 49). Não há dificuldades de admitir que São Mateus as fizesse suas, e por sua conta, como geralmente, advertisse que em tudo isso se cumprirá as Escrituras dos profetas segundo as quais (Is 53, 12) Cristo havia de ser contado entre os criminosos. Como o mesmo Jesus havia dito (Mt 26, 31; Jo 16, 32), então seus discípulos lhe abandonaram e fugiram.

 

Pe. Juan de Maldonado

 

O Pe. Juan de Maldonado ensina: Ainda estava Ele falando. Os três evangelistas (Mateus, Marcos e Lucas) notaram que Jesus Cristo ainda estava falando no momento que Judas Iscariotes chegou… com a intenção de confirmar que o Senhor havia sido verdadeiramente preso: Levantai-vos, vamos: eis que o traidor está chegando. São João disse isso com outras palavras: Sabendo Jesus tudo o que lhe aconteceria, adiantou-se e lhes disse: ‘A quem procurais?’ (Jo 18, 4).

Eis que veio Judas. Nomeia primeiro a Judas, como um capitão. O mesmo diz São Marcos; porém, São Lucas, por distinta razão, mencionou primeiro a multidão e depois a Judas; porque, como é natural, antes se distinguiu entre as trevas da noite a multidão que ao traidor.

Multidão. Assim escreve São Marcos e São Lucas; São João escreve: Judas, então, levando a coorte e guardas. Está claro que Judas reuniu toda classe de gente para prender o Senhor; a saber: um dos doze apóstolos que o havia vendido e comandava aos servos dos sacerdotes, escribas e anciãos; pois todos os evangelistas afirmam que aquele a quem Pedro cortara a orelha era um servo do pontífice. Foram também soldados com armas para apoderar-se de Cristo como se Ele fosse um ladrão e malfeitor… ou talvez por medo dos apóstolos; traziam luzes porque estava escuro.

O seu traidor dera-lhes um sinal. Que necessidade havia deste sinal, sendo que Jesus Cristo era tão conhecido por todos? Segundo Orígenes, era tradição em seu tempo que Jesus Cristo se mostrava com dois aspectos: um natural e comum, pelo que todos o conheciam, e outro sobrenatural para algumas ocasiões, como quando se transfigurou. Porém, Teofilacto, com mais prudência, disse que como a maior parte das pessoas que vieram prender a Cristo Jesus eram soldados, isto é, gentios, que não ouviam as sua pregações, pois eram distantes da religião dos judeus, não o conheciam.

Leôncio chega a dizer que Jesus Cristo fez com seu poder, que não somente os soldados, mas nem sequer Judas, apesar de ter vivido muito tempo com ele, o conhecera naquele momento; e o mesmo diz Teodoro de Heraclea, São João Crisóstomo, São Cirilo de Jerusalém e Teofilacto. E não foi a causa disso as trevas, que por isso nos avisa o evangelista que vinham os soldados com tochas e lanternas, e, além disso, acrescenta: E estava também Judas, que o entregava, com eles; como se dissesse: Ainda que Judas estava com eles para indicar-lhes a Jesus Cristo, entretanto, não o conheceram. Teodoro de Mopsuestia, ao contrário, acredita que o evangelista notou esta circunstância para declarar o cinismo e a maldade de Judas Iscariotes: diante de tão grande milagre, não desistiu de seu crime.

Por que razão usaria Judas Iscariotes deste sinal (beijo) e não de outro? Segundo o meu parecer, porque com ele jogava duas cartas: entregava a Jesus Cristo aos soldados e ocultava a Cristo sua traição. Era costume entre os judeus, principalmente em se tratando de inferiores com superiores e dos que muito se amavam, saudar-se com um beijo; costume que passou também aos cristãos, entre os que se conservou por longo tempo, segundo nos informa Tertuliano.  Jesus Cristo disse ao fariseu: Entrei em sua casa e não me deste um beijo (Lc 7, 45). Pensava o infeliz Judas que poderia esconder sua traição ao Salvador, porque não acreditava n’Ele, mas que, como entendem São Jerônimo e São Beda, quantos milagres feitos por Jesus havia ele presenciado, mas pensava que tudo era feito por arte e magia. Algo disso parece indicar Cristo em São João 6, 64: Porém, alguns de vocês não acreditam; falava com os apóstolos e se referia a Judas, segundo declara o mesmo evangelista, dizendo: Sabia Jesus desde o princípio quem eram os que não acreditavam e o que o havia de entregar. Orígenes aponta duas explicações do beijo de Judas. Uma é que, todavia, não havia perdido o Iscariotes o costume de reverência para com Jesus Cristo e uma sombra de vergonha. E, como de todas as maneiras tivesse que beijar a Cristo, quis que esse beijo obrigado de saudação fosse também sinal para os soldados. E a outra é que o traidor temia, se usasse outro sinal, que Jesus Cristo entendesse o laço que se lhe tendia e o evitasse, como em tantas outras ocasiões.

Levai-o bem guardado. Marcos 14, 44 disse que Judas Iscariotes acrescentou: Levai-o bem guardado. Judas Iscariotes tinha medo que Jesus escapasse… então ele perderia o Mestre e o dinheiro. Recordava quantas vezes os judeus tentaram prendê-lo e Ele fugido (Lc 4, 30; Jo 8, 59). São João Evangelista acrescenta nessa passagem: Sabendo Jesus tudo o que lhe aconteceria, adiantou-se e lhes disse: A quem procurais? (Jo 18, 4). Dois dados que demonstram que Jesus Cristo não só se entregou aos inimigos com coragem e serenidade; mas, de certo modo, também quis provocá-los. A pergunta feita por Ele não era de um covarde que tinha a intenção de se esconder; mas de um homem forte, capaz de defender-se, como notou Leôncio.

Deus te salve, Mestre. Com a frase e com o beijo trata o discípulo de esconder a traição; enquanto que Jesus Cristo lhe dá a entender que não ignora a coragem com que vem, e assim no versículo que segue lhe interroga desta maneira: Amigo, para que estás aqui? Segundo Lucas, acrescentou (Lc 22, 48): Com um beijo você entrega o Filho do Homem? Entretanto, aqueles a quem se dava o sinal, ainda depois de dado, não conheceram a Jesus Cristo; porque, a meu parecer, o beijo de Judas foi antes que a pergunta de Cristo aos soldados, o qual supõe que estes se achavam ignorantes e indecisos, e o confirma sua resposta, que não foi te buscamos a ti; mas a Jesus Nazareno; e teve Jesus Cristo de repetir sua interrogação para que o reconhecessem. E também, se a pergunta feita por Jesus Cristo tivesse sido antes do beijo de Judas Iscariotes, não haveria sido necessário o sinal do traidor, já que Cristo por duas vezes havia dito: Sou eu. Essa parece ser a opinião de Santo Agostinho.

Amigo, para que estás aqui? Não parece senão que Jesus Cristo quis com estas palavras declarar que conhecia o porquê da vinda de Judas, encorajando o vacilante traidor a fazer a entrega com ânimo. Também na ceia lhe havia dito (Jo 13, 27): Faze depressa o que estás fazendo.

E eis que um dos que estavam com Jesus. Ou seja, dos três que Jesus Cristo havia levado consigo para rezar (Pedro era um daqueles três), ou um dos onze discípulos que na ocasião haviam reunido com Jesus Cristo. O primeiro parece mais provável, porque, quando Judas Iscariotes veio com os soldados, Jesus Cristo falava só com os três (Pedro, Tiago e João). São João Evangelista nos diz quem foi (Jo 18, 10): Foi Simão Pedro que tirou a espada e cortou a orelha do servo do pontífice. São Lucas 22, 49 indica que todos os discípulos  presentes estavam preparados com armas para resistir, já que todos perguntaram a Cristo: Senhor, e se ferirmos à espada? Talvez não entendessem o que pouco antes Cristo lhes havia aconselhado (Lc 22, 38), quando respondendo aos apóstolos que disseram: Eis aqui duas espadas, disse: Basta! Porque o que havia dito: Quem não tem espada, que venda a túnica e a compre (Lc 22, 36), só queria avisar que lhes aguardava um grande perigo, daqueles que os homens só podem livrar-se com armas, não que Ele necessitasse de armas ou eles deviam usá-las. Aquele basta dito pelo Senhor não indicava que as espadas eram suficientes para a defesa e que não precisavam de mais armas; mas foi uma maneira de cortar a conversa, que não queria aquelas espadas nem armas alguma.

Cortou-lhe a orelha. São Lucas e São João dizem que foi a orelha direita… muitos afirmam haver mistério. Cortou a orelha e ela caiu por terra? Não consta com claridade, mas parece que não foi separada da cabeça… porque não diz que Jesus a colocou de novo, mas apenas que a tocou e a curou.

Todos os que pegam a espada pela espada perecerão. Orígenes interpreta assim essa passagem: Os autores das guerras e revoltas perecem nelas. São Jerônimo e São Beda entendem da espada espiritual ou vingança divina, que sofrerão nessa vida ou na outra. Eutimio pensa que se refere Jesus Cristo somente aos judeus, que por causa de sua morte perecerão pela espada dos romanos. Porém, tudo isso, o que tem que a ver com São Pedro? Logo Jesus Cristo não quer dizer que materialmente todos os que usam da espada pela espada morrerão, já que muitos deles não foram mortos dessa maneira; mas se limita a recordar a lei que mandava matar ao homicida: O que derrama sangue humano, também terá o seu derramado (Gn 9, 6). Não disse que pena haverão de padecer expressamente, mas que castigo merecem como já indicaram Santo Agostinho e Teofilacto.

Muitos se admiram de que Jesus Cristo repreendesse a Pedro porque queria expulsar os inimigos com a espada para defender o Mestre, coisa lícita pelo direito natural divino e humano. Santo Agostinho pensa que a repreensão não foi por ter cortado a orelha do servo do pontífice, pois julga que o fez com a permissão do mesmo Jesus Cristo, o qual deduz daquela frase de Lc 22, 51: Deixai! Basta! Como se dissesse: Basta já por ter cortado a orelha desse homem; agora guarda a espada na bainha, acrescenta Jo 18, 11; porque todo o que usa da espada, pela espada morrerá. Só, segue Santo Agostinho, tratou de deter a Pedro para que não passasse adiante. Está claro que Jesus repreendeu a Pedro. E por que o repreendeu? Primeiro, porque ele não era defesa: O que podia fazer um homem contra uma coorte, senão irritar os soldados para que tratassem pior a Jesus Cristo? Além disso, havia agido Pedro sem esperar a licença do Senhor. E, por último, ainda que pudesse impedir a morte de Jesus Cristo não deveria fazê-lo; como Cristo mesmo não pediu doze legiões de anjos a seu Pai para que o defendesse. O Senhor preferiu obedecer a vontade do Pai e cumprir o que disse os profetas; razão pelo qual disse neste lugar e por São João 18, 11: Deixarei eu de beber o cálice que o Pai me deu? Já em ocasião semelhante (Mt 16, 23) havia repreendido São Pedro: Afasta-te de mim Satanás! Tu me serves de pedra de tropeço, porque não pensas as coisas de Deus, mas as dos homens! Pedro tratava então também de afastá-lo da morte.

Doze legiões de anjos. Quanto à forma é uma frase romana que os evangelistas usaram falando em grego, como outras muitas palavras latinas que utilizaram. Ninguém, longe dos romanos, tinha legiões; assim que acreditamos que Jesus Cristo falou conforme ao costume dos romanos que dominavam a Judeia. Segundo escrevem Vegecio e São Jerônimo, a legião constava de seis mil homens, ou, como Políbio ensina, as legiões geralmente tinham quatro mil e duzentos soldados e trezentos cavalos. Jesus Cristo quis expressar um número de anjos, contrapondo-os aos homens: aqueles muitos, estes poucos; poderosos os primeiros, impotentes os segundos. Um anjo em só uma noite matou cento e oitenta mil homens no exército de Senaquerib (2 Rs 19, 35). Parece mais provável que Jesus Cristo comparava os anjos a seus discípulos e não aos soldados; porque os apóstolos, ainda contando com Judas, não passavam de doze, e por isso cita doze legiões, nem mais nem menos para dar a entender que por doze homens escassos podia Ele dispor de doze legiões de anjos, cada uma delas contava seis mil deles ou mais, se as informações de Vegecio forem corretas.

Os anjos bons, segundo Orígenes, estão em perpétua luta com os anjos maus, e que por isso na Escritura são chamados várias vezes de exército celestial, pois são enviados frequentemente por Deus aos homens, não só para defendê-los dos anjos maus, mas também dos demais homens.

Então todos os discípulos, abandonando-o, fugiram. Pedro o seguia, ainda que de longe, e também João, segundo escreve ele mesmo (Jo 18, 15). Todos, disse São Mateus, o abandonaram; porém, Teofilacto diz que matematicamente não foram todos; ou, então, temos de entender que a princípio todos fugiram, porém, pouco depois Pedro e João voltaram e seguiram a Jesus Cristo.

 

Pe. Francisco Fernández Carvajal

 

O Pe. Francisco Fernández Carvajal comenta: Enquanto os discípulos dormiam, os inimigos vigiavam e organizavam-se. Tudo tinha sido preparado em poucas horas. Por isso houve muitas idas e vindas e a agitação à volta do Tempo foi grande.

Ao sair do cenáculo, Judas Iscariotes iria aos príncipes dos sacerdotes para lhes dizer que era o momento oportuno para prender Jesus. Naquela noite poderia levar-se a cabo. Tudo deve ter acontecido muito depressa. Talvez esperassem o aviso, mas não tão cedo. De fato, tinham previsto aguardar que passassem as festas, mas imediatamente formou-se um grupo de gente diversa, especialmente servidores do Templo, para o prenderem e aproveitar assim a ocasião única que lhes oferecia um dos seus discípulos mais próximos. Não podiam deixar escapar esta oportunidade.

Judas sabia que Jesus não voltaria para Betânia. É possível que, depois de se pôr de acordo com os judeus, se mantivesse oculto numa esquina e seguisse depois os passos da pequena comitiva até que se internou no horto. Não esqueçamos que a ceia e a conversa posterior se alongaram bastante. Depois foi à procura da tropa improvisada, que já estava preparada para atuar. Apesar da hora, conseguiram de Pilatos alguns poucos soldados para acompanhar os servidores do Templo e do sumo sacerdote. O Templo tinha a sua própria guarda aceita pelos romanos.

São Marcos diz que acompanhava Judas uma multidão com espadas e varapaus, e que ia da parte dos príncipes dos sacerdotes, dos escribas e dos anciãos. Intervêm os três estamentos que compunham o Sinédrio, a assembleia suprema nacional e religiosa: os sumos sacerdotes eram todas aquelas pessoas que durante algum tempo tinham conseguido essa  dignidade; os anciãos eram a aristocracia laica, varões de grande relevo social; e os escribas – na sua maioria fariseus –, peritos e intérpretes da Lei.

O grupo que acompanhava Judas era exclusivamente Judeu. São João menciona a coorte e o tribuno, mas os termos empregados pelo evangelista induzem a pensar que o contributo romano para a prisão de Jesus se reduziu a uma assistência mais ou menos passiva de uns poucos soldados, destinada, sobretudo, a proteger a ordem em caso de tumulto. De nenhuma maneira tiveram a iniciativa; a responsabilidade judaica parece assinalada expressamente pelos evangelistas. Não era aquele certamente um assunto da administração romana.

Jesus Cristo estava ainda a falar com os seus adormecidos discípulos quando apareceu aquele grupo armado, com Judas à frente. O resto dos apóstolos também se tinham aproximado ao perceber o ruído daquelas gentes e a claridade dos archotes.

Judas adiantou-se e beijou o Mestre: era o sinal combinado com aqueles que haviam de detê-lo. Enquanto o beijava, saudou-o: Salve, Mestre. Jesus estremeceu e respondeu-lhe com imensa pena: Amigo a que vieste?

São João refere que, antes de se entregar, Jesus quis dar uma última prova do seu poder. Adiantou-se uns passos e perguntou: A quem procurais? E responderam: Jesus Nazareno. E ao dizer Jesus: Sou eu; todos retrocederam e caíram por terra. Bastaram duas palavras cheias de majestade para que todos rolassem pelo chão. Jesus já não é a vítima que se encontrava numa profunda agonia uns minutos antes; agora é o homem excepcional de sempre. Ele sabe o que o espera. De novo voltou a perguntar-lhes o mesmo. Então pediu que deixassem partir os seus apóstolos.

Os apóstolos tinham levado consigo as duas espadas que havia no cenáculo! Talvez alguém pensasse que poderiam ser úteis… e levaram-nas para o Getsêmani. Quando todos se lançaram sobre Jesus Cristo, Pedro puxou por uma delas e feriu um servo do pontífice chamado Malco, e cortou-lhe uma orelha.

O Senhor reprimiu o zelo inútil do seu apóstolo com estas palavras: Mete a tua espada na bainha. Porventura não vou beber o cálice que o Pai me deu? Ou pensas que não posso recorrer a meu Pai e no mesmo instante poria à minha disposição mais de doze legiões de anjos? Como se cumpririam então as Escrituras, segundo as quais tem que suceder assim? E curou a orelha do servo do pontífice. É a última cura de Jesus, que conhecemos, antes da sua ressurreição. Imediatamente rodearam-no; Judas partiria em breve. Já tinha concluído a sua missão. Desde então já não teria um momento de paz.

O Senhor, enquanto olhava, disse-lhes em amável queixa: Como contra um ladrão vistes com espadas e varapaus prender-me? Todos os dias me sentava a ensinar no Templo, e não me prendestes; teria sido mais simples para vós. É provável que algum deles tivesse escutado os seus ensinamentos nos átrios do Templo. Muitos conheceriam o milagre da cura do cego de nascença, que tanta agitação tinha organizado entre os seus chefes. E o da ressurreição de Lázaro.

Prenderam a seguir Jesus Cristo. São João diz que o ataram; provavelmente com as mãos atrás. Quando os discípulos viram Jesus preso deixaram-no e fugiram. Para fugir estavam bem acordados. A Paixão é para Jesus só.

São Marcos conta-nos que havia no horto um jovem que, envolvido o seu corpo nu com um lençol, o seguia, e agarraram-no. Mas ele, largando o lençol, escapou-se nu e escondeu-se na noite. Nenhum outro evangelista faz menção deste jovem. Muitos comentaristas pensam que, dado que esta passagem nada oferece à vida do Senhor, o jovem é o próprio Marcos. É como se dissesse: eu estava ali.

 

Edições Theologica

 

Edições Theologica explica: O Senhor volta a sublinhar a liberdade da sua entrega quando aquele tropel de gente se aproxima para se apoderar d’Ele. Podia recorrer ao Pai pedindo o envio de anjos que atuassem em sua defesa, mas não o fez. Conhece o porquê destes fatos e assim o quer manifestar claramente: não são a violência nem as exigências dos homens que, em última análise, o conduzem à morte, mas o seu amor e o seu desejo de cumprir a vontade do Pai.

Os judeus não compreendem este modo sobrenatural que caracteriza o proceder do Senhor; tinha estado entre eles a ensiná-los. Mas a dureza de coração tinha-os impedido de compreender e de aceitar a sua doutrina.

Judas Iscariotes, para levar a cabo a sua traição, emprega um sinal que, por si, indica amizade e confiança. O Senhor, mesmo conhecendo os seus propósitos, trata-o  com grande delicadeza: dá-lhe uma oportunidade para abrir o seu coração e para se arrepender. A atitude do Senhor ensina-nos a respeitar e a tratar com caridade delicada inclusive aqueles que nos fazem o mal.

 

MENSAGENS PARA A VIDA

 

1.ª mensagem: O traidor torna-se implacável.

 

Os Apóstolos dormiam, mas Judas Iscariotes, o traidor, não dormia; pelo contrário, andava desesperadamente de um lado para o outro negociando a entrega do Salvador.

Quando um católico abandona a Igreja Católica Apostólica Romana e entra numa seita, torna-se implacável… trabalha com garra para arruinar outros católicos.

 

2.ª mensagem: Rebeldia.

 

Quando estava com Jesus Cristo, Judas Iscariotes vivia às margens e desprezava o Senhor: “Então Maria, tendo tomado uma libra de um perfume de nardo puro, muito caro, ungiu os pés de Jesus e os enxugou com seus cabelos; e a casa inteira ficou cheia do perfume do bálsamo. Disse, então, Judas Iscariotes, um de seus discípulos, o que o iria trair: ‘Por que não se vendeu este perfume por trezentos denários para dá-los aos pobres?’ Ele disse isso, não porque se preocupasse com os pobres, mas porque era ladrão e, tendo a bolsa comum, roubava o que aí era colocado” (Jo 12, 3-6).

Milhares de pessoas que foram batizadas na Igreja Católica, Única Igreja fundada por Jesus Cristo, quando estavam na Igreja eram rebeldes e não faziam nenhum tipo de trabalho… viviam às margens. Agora, participando das seitas, são as primeiras a atacarem a Doutrina Católica, “evangelizam”, pagam o dízimo com alegria e lutam para fazer a seita crescer.

 

3.ª mensagem: Quem trai Jesus Cristo fica cego espiritualmente.

 

Por que Judas Iscariotes estava à frente de um grupo de pessoas armadas com paus e espadas? Ele não ouviu que Jesus era manso e humilde de Coração? Por que tantas armas e pessoas para prender um Senhor tão bondoso e amigo? Judas Iscariotes já estava cego espiritualmente… de nada se lembrava, nada enxergava.

Quem abandona a Jesus Cristo fica cego espiritualmente… não enxerga mais todo o bem que o Senhor lhe fez. Esta é a primeira astúcia do Demônio para arrastar os pecadores: torna-os cegos para que nada vejam, em nada reparem.

 

4.ª mensagem: Ajudar o próximo a enxergar seu erro.

 

Jesus Cristo que tinha chamado a Pedro de Satanás, porque por um amor indiscreto queria dissuadi-lo de morrer por nós: “Ele, porém, voltando-se para Pedro, disse: 'Afasta-te de mim, Satanás! Tu me serves de pedra de tropeço, porque não pensas as coisas de Deus, mas as dos homens!” (Mt 16, 23), chama a Judas, o traidor, de amigo, porque conhecia as suas intenções, dizendo-lhe: “Amigo, para que estás aqui?” (Mt 26, 50); para que, entrando em si, conhecesse seu erro e detestasse a sua culpa.

Devemos ajudar as pessoas que caminham longe de Deus a reconhecerem seus erros e voltarem para o caminho da luz, isto é, para perto do Criador: “Saiba que aquele que reconduz um pecador desencaminhado salvará sua alma da morte e cobrirá uma multidão de pecados” (Tg 5, 20).

 

5.ª mensagem: Coração petrificado.

 

Jesus Cristo chamou Judas Iscariotes de amigo: “Amigo, para que estás aqui?” (Mt 26, 50); mas o seu coração não esmoreceu.

Feliz da pessoa que esmorece o coração diante da bondade de Jesus Cristo. Pecar e permanecer no pecado é grande rebeldia:  “… retornai a mim de todo vosso coração” (Jl 2, 12).

 

6.ª mensagem: A força da Palavra de Deus.

 

Jesus Cristo disse aos inimigos: “Sou eu” (Jo 18, 5), e todos caíram por terra. Nunca houve quem com uma só palavra fosse capaz de derrubar a seus inimigos. Nem Alexandre, nem César com todo seu poder, nem Pompeu, nem Aníbal com todas as suas astúcias puderam produzir efeitos semelhantes a este.

Todos ouvirão esse Sou eu após a morte na hora do Julgamento. Sou eu a quem tendes ofendido tantas vezes; Sou eu contra quem vos tendes levantado; Sou eu a quem tendes desprezado; Sou eu que venho agora fazer justiça à minha Majestade infinita ofendida. Esse Sou eu será terrível! Feliz da pessoa que vive santamente… não temerá esse Sou eu na hora do Juízo.

 

7.ª mensagem: Abrir o coração para Deus.

 

Os inimigos ouvindo Cristo dizer: “Sou eu” (Jo 18, 5), caíram por terra: “… recuaram e caíram por terra” (Jo 18, 6). Nenhum se arrependeu de perseguir o Senhornão abriu o coração diante desse estrondoso acontecimento.

Devemos nos inclinar diante da grandeza de Jesus Cristo, do seu poder, milagres, santidade, amor, mansidão… É loucura conhecer a Jesus Cristo e o seu poder e continuar com o coração fechado.

 

8.ª mensagem: Nem todos que conhecem a Jesus Cristo se salvarão.

 

Essas pessoas se aproximaram de Jesus Cristo, Luz do mundo, mas permaneceram nas trevas… não aceitaram a amizade com o Senhor: “Então, avançando, deitaram a mão em Jesus e o prenderam” (Mt 26, 50).

Para alcançar a salvação eterna não basta ter conhecido a Jesus Cristo, mas é preciso perseverar com sinceridade na sua amizade: “Não basta ter-se uma ideia geral do espírito que Jesus viveu, é preciso aprender com Ele pormenores e atitudes. É preciso contemplar a sua vida, sobretudo para daí tirar força, luz, serenidade e paz. Quando se ama alguém, deseja-se conhecer toda a sua vida, o seu caráter, para nos identificarmos com essa pessoa. Por isso, temos de meditar na vida de Jesus, desde o seu nascimento num presépio até à sua morte e à sua ressurreição” (São Josemaría Escrivá).

 

9.ª mensagem: Muitos contemplam a Jesus Cristo, mas permanecem nas trevas.

 

Esse grupo de soldados contemplou a Santíssima Face do Salvador e permaneceu no caminho escuro.

Milhares de pessoas “contemplam” a Face de Cristo através da pregação, bons conselhos, leitura espiritual, adoração do Santíssimo Sacramento, Confissão, Santa Missa… e permanecem no caminho da perdição… não aceitam o Senhor.

 

10.ª mensagem: Não pagar o mal com o mal.

 

Os inimigos se aproximam de Jesus Cristo para prendê-lo, São Pedro fere a Malco, servo do Sumo Pontífice, e Jesus o repreende: “Guarda a tua espada no seu lugar, pois todos os que pegam a espada pela espada perecerão” (Mt 26, 52).

O Salvador não quer que paguemos o mal com o mal; mas sim, que paguemos a maldade com a bondade: “A ninguém pagueis o mal com o mal” (Rm 12, 17).

 

11.ª mensagem:  Não basta não fazer o mal, mas é preciso realizar o bem.

 

O Senhor mandou São Pedro guardar a espada e curou imediatamente a orelha de Malco: “E tocando-lhe a orelha, curou-o” (Lc 22, 51).

Milhões de pessoas desculpam-se dizendo – eu não faço nada de mal: não odeio, não roubo, não blasfemo… Mas não basta não fazer nada de mal: o não fazer nada de bem já é um fazer mal: “Seja a vossa preocupação fazer o que é bom para todos os homens” (Rm 12, 17).

 

12.ª mensagem: Ingratidão.

 

Jesus Cristo chamou Judas, o traidor, de amigo, curou a orelha de Malco… não ameaçou os soldados nem os servos. Mesmo assim, nenhum se arrependeu.

E nós? Somos gratos para com Nosso Senhor? Agradecemos ao Senhor por ter morrido na cruz para nos salvar e pelas graças que recebemos de suas mãos generosas… ou somos ingratos para com o Senhor? Continuaremos, portanto, a desprezá-lo e a ofendê-lo?

 

13.ª mensagem: Amizade fingida.

 

Judas Iscariotes, o traidor, entregou o Filho de Deus à morte com um fingido beijo de amizade: “‘Salve, Rabi!’ e o beijou” (Mt 26, 49).

A nossa amizade com o próximo deve ser sincera; nenhum fingimento deve existir no nosso coração: “Um amigo fiel é um poderoso refúgio, quem o descobriu, descobriu um tesouro” (Eclo 6, 14).

 

14.ª mensagem: Arrogância de quem trai.

 

São Cipriano diz: “A multidão perversa e desenfreada, que nesta fatal noite procurava a Jesus no Jardim das Oliveiras, devia naturalmente ser precedida e guiada pelo mais perverso, pelo mais infame dos homens, Judas Iscariotes!” Judas estava à frente: “À frente estava o chamado Judas, um dos Doze” (Lc 22, 47). Com arrogância, querendo ser o superior de todos.

Milhares de pessoas abandonam a Jesus Cristo e encabeçam a fila dos perseguidores contra o Senhor. Gastam dinheiro, escrevem livros e reúnem multidões com a intenção de “destruir” o Salvador: “Meu povo, que te fiz eu? Em que te cansei? Responde-me!” (Mq 6, 3). Os que abandonam o caminho da luz tornam-se arrogantes.

 

15.ª mensagem: Hipocrisia.

 

Judas Iscariotes beija Jesus Cristo para entregá-lo aos perseguidores. Nunca as histórias registrarão hipocrisia tão detestável. O traidor chamou Jesus de Mestre quando já tinha renunciado a ser seu Apóstolo: “‘Salve, Rabi!’ e o beijou” (Mt 26, 49).

Hipocrisia é mentira em ato, que consiste em aparentar qualidades que não se tem, para os outros nos julgarem menos culpados ou mais virtuosos… consiste em aparentar exteriormente o que não se é na realidade, a fim de conquistar a estima dos outros. É sempre feio fingir; mas fingir virtude que não existe, é das simulações, a pior: “Menor pecado é pecar abertamente que simular santidade” (São Jerônimo). Que o nosso coração esteja livre de toda hipocrisia.

 

16 .ª mensagem: Desmascarar os falsos.

 

Jesus Cristo não esperou que o prendessem, mas perguntou a quem estavam procurando… para descobrir a traição de Judas Iscariotes que ocultava seu delito sob uma aparência pacifica.

Não podemos permitir que a pessoa falsa viva nesse mundo enganando o próximo; mas devemos desmascará-la, mostrando para todos a sua intenção.

 

17.ª mensagem: Existe beijo sincero e beijo falso.

 

Há uma diferença muito grande entre o beijo de Santa Maria Madalena e o beijo de Judas Iscariotes.  Um alcança o perdão, outro a reprovação; um eleva a Maria Madalena à maior santidade, outro leva Judas ao desespero e a reprovação eterna.

O que dizer do beijo de um esposo dado em sua esposa depois de trai-la com outra mulher? É um beijo que santifica ou condena? E um filho que beija seus pais dizendo que está tudo bem, mas anda na companhia dos maus? Esse beijo é verdadeiro ou falso? A falsidade não pode agradar a Deus!

 

18.ª mensagem: Sacrilégio.

 

Quanto deve dilacerar o Coração de Jesus os hipócritas imitadores de Judas Iscariotes que “beijam” Jesus Cristo comungando em pecado mortal. Esses cometem o horrível pecado de sacrilégio!

Não pode agradar a Jesus Cristo quem afirma ser amigo d’Ele e se aproxima da comunhão em pecado mortal.

 

19.ª mensagem: Nem sempre um beijo é sinal de paz.

 

O sinal dado por Judas Iscariotes para prender Jesus não foi uma bofetada, mas um beijo. Santo Agostinho diz: “Ó Judas, que infâmia! Que sacrilégio! Servir-te de um sinal pacífico para quebrantar a paz, do amor para ferir, da amizade para matar?”, e: “Como te atreveste imprimir teus lábios e derramar o fel da perfídia sobre aquele rosto, onde brotava a graça e a vida?” (Santo Ambrósio).

Devemos ser prudentes com as pessoas, porque o coração do homem é um abismo. A pessoa de palavra fácil e personalidade agradável raras vezes é pessoa de bem. Não nos enganemos com beijos, palavras suaves e sorrisos; pois os falsos também sabem fazer isso: “Sua boca é mais lisa do que o creme, mas no seu coração está a guerra; são suaves como óleo suas palavras, porém são espadas fora da bainha” (Sl 55, 22).

 

20.ª mensagem: Buscar continuamente a Jesus Cristo.

 

Judas Iscariotes buscou com garra a Jesus Cristo para entregá-lo aos inimigos.

Nós também devemos buscar Jesus Cristo com garra, esforço e muito amor, não para entregá-lo aos inimigos; mas sim, para ser nosso amigo íntimo: “Estar com Jesus é suave paraíso” (Tomás de Kempis).

 

21.ª mensagem: Conservar Jesus Cristo na nossa alma.

 

Judas Iscariotes mandou prender a Jesus Cristo e guardá-lo bem: “Prendei-o e levai-o bem guardado” (Mc 14, 44).

Não basta encontrar a Jesus Cristo! Devemos encontrá-lo e guardá-lo bem… com cautela, conservando-nos na sua graça, para que possamos dizer com a esposa do Cântico dos Cânticos: “Achei meu amor e não o largarei mais” (Ct 3, 4).

 

22.ª mensagem: Beijo de amor.

 

Judas Iscariotes beijou a Santíssima Face do Senhor como sinal de traição: “‘Salve, Rabi!’ e o beijou” (Mt 26, 49).

Devemos imprimir com frequência sinceros beijos de amor no crucifixo: “A minha mais elevada sabedoria é conhecer a Jesus crucificado” (São Bernardo de Claraval).

 

23.ª mensagem: Inveja.

 

Jesus Cristo fora preso por inveja: “Para manifestar o Evangelista que era a inveja a causa da prisão de Jesus Cristo” (Remígio), acrescenta: “Enviados pelos príncipes dos sacerdotes e anciãos do povo” (Mt 26, 47).

Inveja é o vício pelo qual o homem experimenta tristeza profunda em face do bem alheio, acompanhada do desejo de que esse seja destruído. O invejoso não se contenta nunca com aquilo que possui ou recebe, e fica revoltado com os benefícios, elogios ou felicidade de qualquer tipo atribuídos a outra pessoa. A inveja leva, frequentemente, à maledicência e à calúnia.

 

24.ª mensagem:  É impossível agradar a todas as pessoas.

 

Jesus Cristo, o Deus da Verdade, não agradou a todos com as suas pregações. Muitos creram n’Ele, muitos também o perseguiram: “… grande multidão com espadas e paus, da parte dos chefes dos sacerdotes e dos anciãos do povo” (Mt 26, 47). Orígenes escreve: “Pode alguém dizer que por ser muitos os que acreditavam em Jesus Cristo, foram também muitos os que se reuniram contra Ele”.

Não podemos desanimar quando as pessoas se revoltam contra nós por causa da verdade e nos persegue… nem por isso devemos omiti-la. Não devemos pregar para agradar aos homens: “A verdade possui poucos amigos” (Santo Agostinho), e: “Em suas pregações, procure não agradar aos homens” (São João Crisóstomo).

 

25.ª mensagem: Não duvidar do poder de Jesus Cristo.

 

Os inimigos vieram ao encontro de Jesus Cristo com paus e espadas por medo d’Ele usar forças do mal para se libertar: “Eu acredito também em outra coisa; porque como acreditavam que expulsava os demônios em nome de Belzebu, imaginavam que Jesus escaparia por arte do demônio” (Orígenes).

Não podemos duvidar do poder de Jesus Cristo. Ele é Deus poderoso e não necessita da ajuda das criaturas… principalmente do Demônio.

 

26.ª mensagem: Heresias.

 

Jesus Cristo foi preso por pessoas armadas de espadas. O Senhor continua sendo perseguido até hoje pela espada da heresia: “Muitos são também agora os que se armam contra Jesus com as espadas espirituais da heresia” (Orígenes).

Existem muitos hereges dentro da Santa Igreja. Pessoas batizadas que se recusam a crer numa ou mais verdades reveladas por Deus e ensinadas pela Igreja Católica Apostólica Romana.

 

27.ª mensagem: Jesus Cristo não fingiu.

 

Nosso Senhor não nos ensina a fingir: “Recebeu o Senhor o beijo do traidor, não para ensinar-nos a fingir, mas para nos mostrar que não fugiu da traição” (Rábano).

Não podemos fugir diante da traição e vivermos em cantos escuros; pelo contrário, confiantes no Deus da Verdade, permaneçamos firmes e convictos na presença do Senhor sem nos vender.

 

28.ª mensagem: Fingindo amar a Jesus Cristo.

 

Jesus Cristo é a Verdade… Judas Iscariotes beijou o Senhor fingindo amar a Verdade: “Eu jugo que todos os traidores da verdade usam do beijo fingindo amá-la” (Orígenes).

Milhares de pessoas fingem amar a Jesus Cristo pregando, isto é, “beijando” a verdade; mas são traidoras porque não vivem o que pregam: “Melhor é calar-se e ser, do que falar e não ser. Coisa boa é ensinar, se quem diz o faz” (Santo Inácio de Antioquia).

 

29.ª mensagem: Jesus Cristo repreende os hereges.

 

Jesus Cristo não aceita a falsidade dos hereges, principalmente aqueles que o chamam de Mestre: “Todos os hereges (como Judas) dizem a Jesus: Mestre. Porém, Jesus Cristo mansamente lhes diz: ‘Amigo, para que estás aqui?’ Chama-os de amigos repreendendo sua falsidade” (Orígenes).

Infeliz do herege que chama Jesus Cristo de Mestre para traí-lo, enganado as almas que estão no bom caminho. Deus não aceita essa aparência de respeito.

 

30.ª mensagem: Não se apoiar nas criaturas.

 

Judas Iscariotes abandonou a Jesus Cristo para buscar apoio nas criaturas: “… eis que veio Judas, um dos Doze acompanhado de grande multidão com espadas e paus, da parte dos chefes dos sacerdotes e dos anciãos do povo” (Mt 26, 47). Pseudo-Jerônimo escreve: “Se apoia nos homens o que se desespera do auxílio de Deus”.

É grande loucura desprezar e desconfiar do poder de Deus para se apoiar naquilo que passa, isto é, na força das criaturas.

 

31.ª mensagem: É impossível enganar a Deus.

 

Judas fingiu ser amigo de Jesus Cristo beijando-o, mas estava à frente dos inimigos do Senhor: “Observemos a loucura deste homem que acreditava enganar a Cristo com um beijo e ser tido por seu amigo. Porém, se era amigo do Senhor, por que razão estava encabeçando o grupo de inimigos do d’Ele?” (Teofilacto).

Jesus Cristo não aceita uma amizade fingida… um coração dividido entre Ele e os inimigos. É impossível enganar um Deus que tudo sabe! Muitos dizem serem amigos de Cristo, mas vivem com o Maligno na alma.

 

32.ª mensagem: É preciso ouvir atentamente a Palavra de Deus.

 

Jesus Cristo havia pregado para todos sobre a sua dolorosa paixão; mas, tudo indica, o sumo sacerdote estava surdo à sua pregação: “Cortou a orelha do servo do sumo sacerdote, porque os sumos sacerdotes foram os primeiros que desobedeceram as Escrituras como se não as entendessem” (Teofilacto).

Não podemos tapar os ouvidos para a mensagem da Sagrada Escritura, mas devemos ouvi-la atentamente sem jamais desprezá-la: “Grande precipício e profundo abismo é desconhecer as Escrituras” (Santo Apifânio). Quem tapa os ouvidos para a Palavra de Deus caminha na escuridão.

 

33.ª mensagem: Não se queixar no trabalho para a glória de Deus.

 

Jesus Cristo não se queixou nem ficou revoltado na hora da prisão, mas se entregou voluntariamente: “Esta é uma manifestação da sua divindade; pois quando ensinava no templo não puderam apoderar-se d’Ele, ainda que o tivesse em suas mãos, porque ainda não havia chegado a hora da paixão. Porém, quando quis, então se entregou Ele mesmo cumprindo-se assim as Escrituras, porque foi levado como um cordeiro à morte (Is 53, 7). Não se queixou nem gritou, mas sofreu voluntariamente” (Teofilacto).

Não devemos trabalhar para a glória de Deus e pelo das almas com o semblante carregado e o coração revoltado; mas sim, voluntariamente, com amor, disponibilidade e alegria: “Deus ama a quem dá com alegria” (2 Cor 9, 7).

 

34.ª mensagem: Não abandonar a Jesus Cristo diante das provações.

 

Um jovem que seguia a Jesus Cristo fugiu dos perseguidores: “Um jovem o seguia, e a sua roupa era só um lençol enrolado no corpo. E foram agarrá-lo. Ele, porém, deixando o lençol, fugiu nu” (Mc 14, 51-52).

Não podemos deixar de seguir a Jesus Cristo por causa das perseguições; nas provações é que se conhecem os verdadeiros amigos do Senhor.

 

35.ª mensagem: Abandonar tudo o que é mundano.

 

O jovem deixou o lençol e fugiu nu: “Assim como José que abandonando a capa fugiu sem roupa daquela mulher impura (Gn 39, 7ss.); quem quiser fugir das mãos dos iníquos deve abandonar tudo o que é mundano e correr em busca de Jesus Cristo” (Pseudo-Jerônimo).

Para se livrar das mãos dos mundanos é preciso desprezar as coisas da terra… um coração cheio das coisas passageiras não pode seguir a Jesus Cristo.

 

36.ª mensagem: Arrepender-se depois de uma fraqueza.

 

Tudo indica, esse jovem que fugiu voltou logo em seguida para pegar o lençol que havia deixado: “Pode ter acontecido, que escapando das mãos dos que queriam detê-lo, voltou em seguida para pegar o lençol que havia deixado no Getsêmani” (São Beda).

Está claro que uma pessoa pode voltar para Deus depois de ter perdido a graça santificante. Nem tudo está perdido; mas é preciso se arrepender e pegar o “lençol” da graça deixado pelo caminho.

 

37.ª mensagem: Obstinação no pecado.

 

Judas Iscariotes estava obstinado no pecado… nem as palavras do Senhor esmorecia seu coração petrificado: “Assim como as feridas incuráveis não obedecem às medicinas mais eficazes, nem aos mais rigorosos cuidados, assim o espírito, uma vez aprisionado e entregue a algum pecado, não pode sair desse estado por meio de exortações nem conselhos. Isso aconteceu com Judas por não ter deixado a tempo suas intenções de ser traidor, ainda que este tantas vezes havia sido proibido pelo Salvador quando pregava às pessoas” (São João Crisóstomo).

Emendar de vida é uma necessidade para chegar a uma verdadeira conversão. Quem teima no pecado corre grande risco de se condenar eternamente: “De que serve confessar os pecados, se a vida continua a mesma?” (Pe. Alexandrino Monteiro).

 

38.ª mensagem: Não podemos deixar de admoestar os pecadores.

 

Jesus Cristo não voltou as costas para o traidor, mas disse-lhe: “Judas, com um beijo entregas o Filho do Homem?” (Lc 22, 48).

Não podemos desprezar as pessoas por causa dos seus pecados, mas devemos ajudá-las a voltarem para Deus aconselhando-as com bondade: “Quando eu disser ao ímpio: ‘Ó ímpio, certamente hás de morrer’ e tu não o desviares do seu caminho ímpio, o ímpio morrerá por causa da sua iniquidade, mas o seu sangue o requererei de ti” (Ez 33, 8).

 

39.ª mensagem: Corrigir as pessoas com amabilidade.

 

Jesus Cristo não falou com grosseira e ira com Judas, o traidor, mas com amabilidade: “Jesus não disse: entregas a teu Mestre, nem entregas o teu Senhor, nem a teu benfeitor; mas ao Filho do Homem, isto é, manso e humilde” (São João Crisóstomo).

Devemos corrigir o próximo com amabilidade e bondade: “Admoestações feitas com zelo amargo causam mais frequentemente mais prejuízo do que proveito, principalmente estando perturbada a pessoa a ser corrigida” (Santo Afonso Maria de Ligório).

 

40.ª mensagem: São Pedro recebeu o poder de ligar e desligar.

 

São Pedro cortou a orelha de Malco, o servo do sumo pontífice: “Então, Simão Pedro, que trazia uma espada, tirou-a, feriu o servo do Sumo Sacerdote, a quem decepou a orelha direita. O nome do servo era Malco” (Jo 18, 10). Santo Ambrósio diz: “Quando São Pedro cortou voluntariamente a orelha deu a conhecer que não devemos fixar nosso ouvido nas coisas superficiais, mas nos mistérios. Porém, por que foi São Pedro que feriu o servo? Porque havia recebido o poder de ligar e desligar. Ele pega a espada espiritual e corta com ela o ouvido interno do que ouve mal”.

Devemos ter um grande respeito pelo Santo Padre, o Papa, porque ele é o sucessor de São Pedro e possui o poder de ligar e desligar: “Eu te darei as chaves do Reino dos Céus e o que ligares na terra será ligado nos céus, e o que desligares na terra será desligado nos céus” (Mt 16, 19).

 

41.ª mensagem: Quem se converte poderá se salvar.

 

Jesus Cristo, o Deus de bondade, curou a orelha de Malco: “E tocando-lhe a orelha, curou-o” (Lc 22, 51). Santo Ambrósio diz: “Porém, o Senhor coloca a orelha de Malco no seu devido lugar, dando a entender que se se convertem, poderão se salvar todos os que pecaram na paixão do Senhor”.

Nosso Senhor, o Deus de misericórdia, está sempre pronto para perdoar um coração contrito e humilhado que deseja verdadeiramente mudar de vida. Ele não quer a morte do pecador, mas a sua mudança de vida… conversão.

 

42.ª mensagem: A força de Jesus e a fraqueza dos homens.

 

Jesus Cristo disse aos inimigos: “Sou eu” (Jo 18, 6), todos caíram por terra. Santo Agostinho diz: “Onde está a coorte de soldados? Onde estão as armas? Uma voz derrubou por terra uma grande multidão enfurecida de ódio e temida pelas armas”.

Infeliz da pessoa que despreza a força de Deus para contar com o apoio das criaturas volúveis e fracas.

 

43.ª mensagem: Amor de Jesus Cristo pelos homens.

 

Jesus Cristo disse aos soldados: “Se, então, é a mim que procurais, deixai que estes se retirem” (Jo 18, 8). O Senhor não quer que os seus amigos sejam presos. São João Crisóstomo escreve: “Como se dissesse: ‘Se buscais a mim, deixai que estes se retirem… eu mesmo me entrego’, demonstrando assim a consequência do seu amor aos seus amigos até a última hora”.

Se algo desagradável está acontecendo conosco, não podemos querer que as pessoas próximas de nós também sofram; mas devemos carregar a nossa cruz de cada dia conformando com a vontade de Deus.

 

44.ª mensagem: Quem odeia não esquece.

 

Judas Iscariotes disse aos soldados: “É aquele que eu beijar; prendei-o” (Mt 26, 48). Judas não confiava no Senhor. O ódio e a paixão nada esquecem. Judas lembrou-se que Jesus Cristo tinha escapado aos que o quiseram apedrejar e aos que o queriam coroar como rei.

Feliz da pessoa que não guarda ódio no coração; principalmente daquelas pessoas que a socorreu nas horas difíceis: “Todo aquele que odeia o seu irmão é homicida” (1 Jo 3, 15).

 

45.ª mensagem: Enfrentar os perseguidores sem medo.

 

Jesus Cristo caminhou sem medo ao encontro dos inimigos e lhes disse: “Sou eu” (Jo 18, 6). Eles caíram por terra.

Não podemos deixar de fazer o bem nem de caminhar na presença de Deus por causa dos perseguidores; mas sim, apoiados em Deus, devemos enfrentar a todos: “Decidimos, contudo, confiados em nosso Deus, anunciar-vos o evangelho de Deus, no meio de grandes lutas” (1 Ts 2, 2).

 

46.ª mensagem: Sem respeito humano.

 

Jesus Cristo não se escondeu dos inimigos, mas foi ao encontro deles e disse: “Sou eu” (Jo 18, 6). O Senhor não negou ser o Filho de Deus.

Milhares de pessoas se envergonham de professarem a fé em Jesus Cristo dizendo que não o conhece. O respeito humano já levou milhares de pessoas para a perdição: “Aquele, porém, que me renegar diante dos homens, também o renegarei diante de meu Pai que está nos Céus” (Mt 10, 33).

 

47.ª mensagem: Não se intimidar diante dos inimigos.

 

Nosso Senhor Jesus Cristo não se intimidou diante da multidão de inimigos; mas disse-lhes com coragem: “Sou eu” (Jo 18, 6).

Confiante em Deus que é forte e protege os seus amigos, não podemos nos intimidar diante dos perseguidores: “Não tenhais medo deles, portanto” (Mt 10, 26).

 

48.ª mensagem: Não recuar diante da multidão de inimigos.

 

Eram muitos os inimigos do Senhor: “… eis que veio Judas, um dos Doze acompanhado de grande multidão com espadas e paus, da parte dos chefes dos sacerdotes e dos anciãos do povo” (Mt 26, 47). O Senhor não recuou, mas foi ao encontro deles e disse-lhes: “Sou eu” (Jo 18, 6).

Não podemos recuar diante dos inimigos, mesmo que sejam numerosos; mas sim, devemos caminhar em frente sem desanimar: “Ainda que um exército acampe contra mim, meu coração não temerá” (Sl 27, 3). Devemos dizer a todos: “Estive, estou e estarei sempre com Cristo” (São Teodoro, mártir).

 

49.ª mensagem: Os maus irão para o inferno.

 

Quando Jesus Cristo disse: “Sou eu” (Jo 18, 6), todos caíram por terra: “… recuaram e caíram por terra” (Jo 18, 6). Não ficou nenhum de pé diante de Jesus Cristo.

Que será dos maus quando o Senhor vier como Rei para julgá-los no fim do mundo e dizer-lhes: “Apartai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno preparado para o diabo e para os seus anjos” (Mt 25, 41). Sem dúvida será como um vento impetuoso que soprará contra eles lançando-os não em terra, mas nas chamas do inferno.

 

50.ª mensagem: Ousadia diante dos inimigos.

 

Nosso Senhor Jesus Cristo disse: “Sou eu” (Jo 18, 6). Depois que os inimigos se levantaram, disse-lhes pela segunda vez: “Eu vos disse que sou eu” (Mt 18, 8). O Senhor os enfrentou com coragem e ousadia.

Devemos enfrentar os inimigos com ousadia e coragem. Não devemos nos intimidar nem calar a boca diante dos seus insultos: “Recuar diante do inimigo ou calar-se, quando de toda parte se ergue tanto alarido contra a verdade, é próprio de homem covarde ou de quem vacila no fundamento de sua crença” (Leão XIII).

 

51.ª mensagem: Os maus também pronunciam o Santíssimo Nome de Jesus.

 

Jesus Cristo perguntou aos inimigos: “A quem procurais?” (Jo 18, 4). Eles Responderam: “Jesus, o Nazareu” (Mt 18, 5). Pronunciaram o nome do Senhor com o ódio no coração.

Milhares de pessoas são inimigos de Jesus Cristo e pronunciam o seu Nome. São pessoas que falam de Nosso Senhor da boca para fora, não vive o que Ele ordena: “Este povo me honra com os lábios, mas o coração está longe de mim” (Mt 15, 8).

 

52.ª mensagem: Usar de mansidão com os perseguidores.

 

Jesus Cristo ordenou que São Pedro guardasse sua espada: “Guarda a tua espada no seu lugar, pois todos os que pegam a espada pela espada perecerão” (Mt 26, 52). O Senhor é manso, não violento.

Não devemos vingar dos nossos perseguidores; mas sim, tratá-los com mansidão: “O espírito de mansidão é próprio de Deus… A pessoa que ama a Deus, ama a todos os que são amados por Deus, isto é, todos os homens” (Santo Afonso Maria de Ligório).

 

53.ª mensagem: Não fugir da cruz.

 

Jesus Cristo, Deus forte e poderoso, não fugiu da cruz: “Embainha a tua espada. Deixarei eu de beber o cálice que o Pai me deu?” (Mt 18, 11). O Senhor não foge das dificuldades e provações.

Infeliz da pessoa que aceita ajuda do próximo para fugir da estrada estreita que leva ao céu; essa encontrará uma cruz bem mais pesada: “A maior parte dos homens voltam às costas às cruzes e fogem diante delas. Quanto mais eles correm, tanto mais a cruz os persegue” (São João Maria Vianney).

 

54.ª mensagem: Fazer a vontade de Deus.

 

Após curar a ferida do servo Malco, corrigiu os discípulos mostrando novamente que oferecia sua vida por vontade própria; para se cumprir as profecias e o mandato de seu Pai: “Deixarei eu de beber o cálice que o Pai me deu?” (Mt 18, 11).

Devemos fazem sempre a vontade de Deus; esse é o caminho mais curto para o céu: “Toda a santidade consiste em amar a Deus, e todo o amor a Deus consiste em fazer a sua vontade” (Santo Afonso Maria de Ligório).

 

55.ª mensagem: Aceitar a vontade de Deus principalmente nas dificuldades e provações.

 

Embora os inimigos atacassem, Jesus Cristo mandou: “Embainha sua espada, porque todos aqueles que usarem da espada, pela espada morrerão” (Mt 26,52). O Senhor aceitou a vontade do Pai também nas provações.

É preciso aceitar a vontade de Deus em tudo, principalmente quando surgem dificuldades e obstáculos pelo caminho: “O Senhor deu, o Senhor tirou, bendito seja o nome do Senhor” (Jó 1, 21). Quem não aceita a vontade de Deus vive infeliz e inquieto.

 

56.ª mensagem: Fazer a vontade de Deus com alegria.

 

Jesus Cristo não olhava para o cálice como vindo das mãos dos inimigos, mas vindo da vontade de seu Pai… Ele queria cumpri-la mesmo o cálice sendo amargo… vindo da vontade do Pai, para Ele era doce. O Senhor aceitou o cálice com alegria: “Eu não fujo da morte, aceito-a com amor, não são eles que me matam, mas a vontade de meu Pai, então, não hei de beber eu o cálice que o Pai me deu?” (Pe. Luis de la Palma).

Devemos receber as cruzes com ânimo generoso, abraçá-las com alegria, pois são presentes preciosos com que Deus nos visita: “Seguir a Cristo levando com Ele a nossa cruz é preciso para salvar a nossa alma” (Pe. Alexandrino Monteiro).

 

57.ª mensagem: Não escolher nem fabricar as cruzes.

 

Jesus Cristo não fez a própria vontade, não escolheu o cálice… mas aceitou o cálice enviado pelo Pai: “Deixarei eu de beber o cálice que o Pai me deu?” (Mt 18, 11).

Infeliz da pessoa que despreza a vontade de Deus para fazer a própria vontade e que escolhe as suas cruzes… ela jamais será feliz. Não devemos fabricar as nossas cruzes; mas sim, aceitá-las com generosidade das mãos de Deus: “Nosso Senhor é o nosso modelo: tomemos nossa cruz e sigamo-lo. Se o bom Deus nos envia cruzes, desanimamos, nos queixamos e murmuramos; somos de tal modo inimigos de tudo o que nos contraria, porque gostaríamos de estar sempre numa caixa de algodão” (São João Maria Vianney).

 

58.ª mensagem: Não agir contra a vontade de Deus.

 

Jesus veio para fazer a vontade do Pai e não para agir contra ela: “Mas Jesus lhe disse: ‘Guarda a tua espada no seu lugar, pois todos os que pegam a espada pela espada perecerão. Ou pensas tu que eu não poderia apelar para o meu Pai, para que ele pusesse à minha disposição, agora mesmo, mais de doze legiões de anjos? E como se cumpririam então as Escrituras, segundo as quais isso deve acontecer?’” (Mt 26, 52-54).

Quando se trata de fazer a vontade de Deus, não podemos agir contra ela… ainda que fosse possível conseguir muito sucesso. Devemos pedir somente que a vontade de Deus seja feita: “A perfeição consiste em mortificar a nossa vontade e uni-la à vontade de Deus” (Santo Afonso Maria de Ligório).

 

59.ª mensagem: Quem vingar será castigado.

 

Nosso Senhor Jesus Cristo não aceitou a vingança: “Guarda a tua espada no seu lugar, pois todos os que pegam a espada pela espada perecerão” (Mt 26, 52).

Quem mata o seu inimigo por vingança terá a mesma pena, caso não se arrependa: “Aquele que se vinga encontrará a vingança do Senhor” (Eclo 28, 1).

 

60.ª mensagem: Não entristecermos quando formos tidos por maus.

 

Jesus Cristo chamou a atenção dos inimigos pelas armas que usaram para prendê-lo: “E naquela hora, disse Jesus às multidões: ‘Como a um ladrão, saístes para prender-me com espadas e paus! Eu me sentava no Templo ensinando todos os dias e não me prendestes’” (Mt 26, 55).

Quando os inimigos disserem todo o mal contra nós, não podemos entristecer nem deixarmos de realizar o bem. Os amigos de Deus são tratados assim: “Bem-aventurados sois, quando vos injuriarem e vos perseguirem e, mentindo, disserem todo o mal contra vós por causa de mim. Alegrai-vos e regozijai-vos, porque será grande a vossa recompensa nos céus” (Mt 5, 11-12).

 

61.ª mensagem: Humildade de Jesus Cristo na hora da prisão.

 

Jesus Cristo, o Deus Eterno e Poderoso, que está acima dos querubins e serafins, deixou-se prender pelos pecadores: “Eles lançaram a mão sobre Ele e o prenderam” (Mc 14, 46).

Devemos imitar a humildade de Nosso Senhor, não agindo com aspereza diante dos ataques dos inimigos: “Não acrediteis ter progredido na perfeição, se não vos julgardes piores de todos e se não desejais ser tratados como os últimos” (Santa Teresa de Jesus).

 

62.ª mensagem: Paciência de Nosso Senhor na hora da prisão.

 

O Senhor, durante a prisão, sofreu muitas injúrias e golpes com muita paciência… não ficou irado.

Para agradar a Deus é preciso suportar com paciência os sofrimentos de cada dia: “Não existe coisa mais agradável a Deus do que sofrer com paciência e paz todas as cruzes por ele enviadas” (Santo Afonso Maria de Ligório).

 

63.ª mensagem: Silêncio do Senhor na hora da prisão.

 

Nosso Senhor Jesus Cristo sofreu em silêncio… não abriu a boca para reclamar nem disse palavras ásperas: “Foi maltratado… não abriu a boca” (Is 53, 7).

Devemos sofrer em silêncio a exemplo de Jesus Cristo. Quem se queixa das dificuldades não pode agradar a Deus: Lamentamo-nos porque sofremos; maior razão teríamos para queixar-nos se não sofrêssemos, visto que nada nos torna mais semelhantes a Nosso Senhor. Bela união da alma com Nosso Senhor Jesus Cristo mediante o amor de sua cruz!” (São João Maria Vianney).

 

64.ª mensagem: Caridade de Jesus na hora da prisão.

 

Jesus Cristo deixou que os inimigos atassem, com crueldade, suas benditas mãos que sempre fizeram o bem a todos.

Devemos usar de caridade com todos os perseguidores; principalmente com aqueles que “amarram” a nossa vida com a “corda” da calúnia, difamação e maledicência: “Bendizei os que vos amaldiçoam, orai por aqueles que vos difamam” (Lc 6, 28).

 

65.ª mensagem: Não deixemos que atem as nossas mãos.

 

Jesus Cristo se entregou livremente… deixou que atassem suas mãos de livre e espontânea vontade, estava fazendo a vontade do Pai: “O Senhor demonstrou a sua divindade entregando-se livremente” (Pe. Luis de la Palma). O Senhor deixou que atassem suas mãos para morrer para nos salvar.

Não deixemos que os inimigos da Santa Igreja “atem” nossas mãos impedindo-as de realizar boas obras. Não podemos deixar de praticar o bem por causa das perseguições: “Chamaram de novo os apóstolos e açoitaram-nos com varas. E, depois de intimá-los a que não falassem mais no nome de Jesus, soltaram-nos. Quanto a eles, saíram do recinto do Sinédrio regozijando-se, por terem sido achados dignos de sofrer afrontas pelo Nome. E cada dia, no Templo e pelas casas, não cessavam de ensinar e de anunciar a Boa Nova de Cristo Jesus” (At 5, 40-42).

 

66.ª mensagem: Seguir a Jesus Cristo com fé.

 

Os Apóstolos disseram que seguiriam a Jesus até a morte; mas o abandonaram diante das provações: “Então todos os discípulos, abandonando-o, fugiram” (Mt 26, 56).

Devemos seguir a Jesus Cristo na tranquilidade e principalmente nas provações e dificuldades… é preciso seguir o Senhor com fé: “Quem nos separará do amor de Cristo? A tribulação, a angústia, a perseguição, a fome, a nudez, o perigo, a espada? Pois estou convencido de que nem a morte nem a vida, nem os anjos nem os principados, nem o presente nem o futuro, nem os poderes, nem a altura, nem a profundeza, nem qualquer outra criatura poderá nos separar do amor de Deus manifestado em Cristo Jesus, nosso Senhor” (Rm 8,35.38-39).

 

67.ª mensagem: Não podemos brincar com os sacramentos.

 

Os pés dos Apóstolos que foram lavados por Jesus Cristo na última ceia fugiram covardemente… os corações que foram fortalecidos com o seu Santíssimo Corpo também na última ceia, perderam a fortaleza pelo medo de perder a vida.

Milhões de católicos que foram lavados com a água do batismo e fortalecidos com a Santíssima Eucaristia fogem diante das críticas, zombarias e perseguições dos inimigos de Deus e da Santa Igreja: “Fugir é próprio do covarde. A cruz não acolhida torna-se duplamente pesada… Duas ou três vezes na vida poderemos, porventura, demonstrar que somos valentes, mas todos os dias podemos demonstrar que não somos covardes. Enfrentemos o medo. O medo é mais covarde do que nós. Desaparece, escapa, quando o encaramos. Decidamo-nos a não ter medo de nada…” (Dom Rafael Llano Cifuentes).

 

68.ª mensagem: Consolar a Jesus Cristo no Santíssimo Sacramento.

 

Jesus Cristo, na hora da prisão foi cercado pelos inimigos, “lobos” e “leões”, furiosos que o agarraram e o ataram furiosamente: “Eles lançaram a mão sobre Ele e o prenderam” (Mc 14, 46).

Devemos consolar o Senhor que é recebido por muitas pessoas em estado de pecado mortal… são “lobos” e “leões” que recebem a Santíssima Eucaristia indignamente cometendo o terrível pecado de sacrilégio: “Jesus é muito ofendido na Eucaristia pelas múltiplas irreverências cometidas pelos próprios cristãos; pelos sacrilégios, cujo número e malícia causam admiração aos próprios demônios” (São Pedro Julião Eymard).

 

69.ª mensagem: Nunca se desesperar.

 

Jesus Cristo ofereceu a Judas Iscariotes muitas oportunidades de voltar a si e de se arrepender. Não o afastou de sua companhia. Não lhe tirou a dignidade que tinha como Apóstolo. Nem lhe tirou a bolsa, e isso apesar de ser ladrão… o convidou várias vezes ao perdão e o chamou de amigo no Getsêmani. Não permitiu que o traidor perecesse senão por ele próprio… se desesperando.

Infeliz da pessoa que se desespera diante dos seus pecados. Essa atitude não pode agradar o Coração Misericordioso de Jesus Cristo. Deus quer o arrependimento, não o desespero: “Quando o pecador se arrepende das faltas passadas é perdoado. Minha misericórdia é infinitamente maior que todos os pecados que os homens possam cometer. Entristece-me o fato de que alguém considere suas faltas maiores que meu perdão” (Santa Catarina de Sena, O Diálogo).

 

70.ª mensagem: Nunca devemos  nos afastar de Jesus Cristo.

 

Judas era sombrio… obscuro… misterioso… “tresmalhado”… possuía algumas “manchas” escondidas. O traidor desiludiu-se com Jesus Cristo. Ele esperava que Jesus fosse um libertador revolucionário; mas o Senhor veio para salvar as almas imortais.

Hoje, infelizmente, milhões de católicos se afastam de Jesus Cristo dizendo que foram enganados pelo Senhor… que Jesus não atendeu os seus pedidos. Esses querem um Deus comerciante que entrega a “mercadoria” após a entrega de uma “moeda” imediatamente, sem atraso.

 

71.ª mensagem: Não deixar o amor por Jesus Cristo se esfriar.

 

Será que Judas já nasceu traidor? Não! Ele foi escolhido por Jesus Cristo para ser luz… para produzir muitos frutos. Ele foi chamado por Jesus… se tornou Apóstolo pela vontade do Senhor. Ele permitiu que o seu amor pelo Salvador se fosse esfriando.

Muitas pessoas começam trabalhar para Deus com fervor; mas com o passar do tempo se esfriam e acabam por voltar as costas para o Senhor.

 

72.ª mensagem: Falsidade.

 

Judas Iscariotes era falso sua vida de entrega amorosa a Deus converteu-se numa farsa; mais de uma vez deve ter considerado que teria sido muito melhor se não tivesse seguido o Senhor.

Jesus Cristo não aceita um coração falso na sua amizade. O Senhor exige fidelidade até o fim. Muitos começam bem, poucos perseveram como verdadeiros amigos de Jesus Cristo.

 

73.ª mensagem: Não se esquecer da proteção de Jesus Cristo.

 

Judas Iscariotes já não se lembra dos milagres, das curas, dos seus momentos felizes ao lado de Nosso Senhor… a proteção que o Senhor lhe deu foi esquecida totalmente.

Milhares de pessoas tornam-se inimigas de Jesus Cristo esquecendo completamente dos seus favores e proteção; enveredam por caminhos tortuosos buscando segurança longe d’Ele.

 

74.ª mensagem: A grande apostasia é “feita” de pequenas apostasias.

 

Judas Iscariotes não se tornou traidor de um dia para o outro. O ato que agora se consuma foi precedido por infidelidades e faltas de lealdade cada vez maiores. Ele achava um desperdício cuidar bem do Mestre… roubava o dinheiro que era colocado na bolsa (Jo 12, 5-6)… e outros.

É preciso ser fiel ao Senhor nas grandes e pequenas coisas, apoiado na humildade de recomeçar quando por fragilidade tenha havido algum extravio: “Uma casa não desaba por um movimento momentâneo. Na maioria dos casos, esse desastre é consequência de um antigo defeito de construção. Mas, por vezes, o que motiva a penetração da água é o prolongado desleixo dos moradores: a princípio, a água infiltra-se gota a gota e vai insensivelmente roendo a madeira e apodrecendo a armação; com o decorrer do tempo, o pequeno orifício vai ganhando proporções cada vez maiores, ocasionando fendas e desmoronamentos consideráveis; por fim, a chuva penetra na casa como um rio caudaloso” (Cassiano).

 

75.ª mensagem: Perseverar até o fim.

 

Judas, o traidor, não perseverou na amizade de Jesus Cristo, mas distanciou-se do Mestre percorrendo caminhos tortuosos: “Judas começou bem, mas acabou mal, porque não perseverou como devia” (Santo Afonso Maria de Ligório).

Para se salvar é preciso perseverar até o fim ao lado de Jesus Cristo. Perseverar é responder positivamente às pequenas e constantes chamadas que o Senhor faz ao longo de uma vida, ainda que não faltem obstáculos e dificuldades: “Sem perseverança, impossível é chegar à santidade ou à salvação: não basta sermos virtuosos e generosos alguns dias ou alguns anos; necessário é sê-lo sempre, até o fim” (Pe. Gabriel de Santa Maria Madalena).

 

76.ª mensagem: Jamais trair a Jesus Cristo.

 

Judas vivia na amizade de Jesus Cristo e o traiu vergonhosamente: “Judas, com um beijo entregas o Filho do Homem?” (Lc 22, 48). Deixou a Luz Eterna e mergulhou nas trevas e na inquietação.

Quem comete pecado mortal trai o Salvador. A traição consuma-se no católico pelo pecado mortal. Qualquer pecado está íntima e misteriosamente  relacionado com a Paixão do Senhor. A nossa vida ou é uma afirmação ou é uma negação de Jesus Cristo.

 

77.ª mensagem: Não podemos recusar a ajuda do Senhor.

 

Jesus Cristo, o Deus de bondade, estendeu a mão para Judas, o traidor, chamando-o de amigo: “Amigo, para que estás aqui?” (Mt 26, 50). Judas recusou a mão que o Senhor lhe estendia. A sua vida, sem Jesus, ficou desconjuntada e sem sentido.

O Senhor está sempre disposto a readmitir-nos na sua amizade, mesmo depois das maiores infâmias que possamos cometer: “Mesmo que os vossos pecados sejam como escarlate, tornar-se-ão alvos como a neve; ainda que sejam vermelhos como carmesim, tornar-se-ão como a lã” (Is 1, 18).

 

OBS: Essa pregação não está concluída; assim que “surgirem” novas mensagens as acrescentaremos.

 

Pe. Divino Antônio Lopes FP (C)

Anápolis, 19 de julho de 2016

 

Bibliografia

 

Sagrada Escritura

Pe. Luís de la Palma, A Paixão do Senhor

Pe. Juan Leal, A Sagrada Escritura

F. Zorell, Amice, ad quid venisti?: VD 9 (1929) 112-116

Pe. Juan de Maldonado, Comentário ao Evangelho de São Mateus

Teofilacto, Escritos

Orígenes, Escritos

Leôncio, Escritos

Teodoro de Heraclea, Escritos

São João Crisóstomo, Escritos

São Cirilo de Jerusalém, Escritos

Teodoro de Mopsuestia, Escritos

Tertuliano, Escritos

São Jerônimo, Escritos

São Beda, Escritos

Santo Agostinho, Escritos

Eutimio, Escritos

Vegecio, Escritos

Políbio, Escritos

Pe. Francisco Fernández Carvajal, Vida de Jesus

Edições Theologica

Pe. Gabriel de Santa Maria Madalena, Intimidade Divina

Santa Catarina de Sena, O Diálogo

Cassiano, Escritos

Dom Rafael Llano Cifuentes

São Pedro Julião Eymard, Escritos

São João Maria Vianney, Escritos

Santo Afonso Maria de Ligório, Escritos

Santa Teresa de Jesus, Escritos

Pe. Alexandrino Monteiro, Raios de luz

Papa Leão XIII, Escritos

Pseudo-Jerônimo, Escritos

Santo Epifânio, Escritos

São Josemaría Escrivá, Escritos

Tomás de Kempis, Imitação de Cristo

São Cipriano, Escritos

Rábano, Escritos

Santo Inácio de Antioquia, Escritos

 

 

 

 

 

Este texto não pode ser reproduzido sob nenhuma forma; por fotocópia ou outro meio qualquer sem autorização por escrito do autor Pe. Divino Antônio Lopes FP.

Depois de autorizado, é preciso citar:

Pe. Divino Antônio Lopes FP(C). “É aquele que eu beijar; prendei-o
www.filhosdapaixao.org.br/escritos/comentarios/paixao/paixao_cristo_026.htm