LEVARAM-NO AO SUMO SACERDOTE CAIFÁS

(Mt 26, 57-68; Mc 14, 53-65; Lc 22, 54-55. 66-71; Jo 18, 12-16. 24)

 

Em Mt 26, 57-68 diz: “Os que prenderam Jesus levaram-no ao Sumo Sacerdote Caifás, onde os escribas e os anciãos estavam reunidos. Pedro seguiu-o de longe até o pátio do Sumo Sacerdote e, penetrando no interior, sentou-se com os servidores para ver o fim. Ora, os chefes dos sacerdotes e todo o Sinédrio procuravam um falso testemunho contra Jesus, a fim de matá-lo, mas nada encontraram, embora se apresentassem muitas falsas testemunhas. Por fim, se apresentaram duas que afirmaram: ‘Este homem declarou: Posso destruir o Templo de Deus e edificá-lo depois de três dias’. Levantando-se então o Sumo Sacerdote, disse-lhe: ‘Nada respondes? O que testemunham estes contra ti?’ Jesus, porém, ficou calado. E o Sumo Sacerdote lhe disse: ‘Eu te conjuro pelo Deus Vivo que nos declares se tu és o Cristo, o Filho de Deus’. Jesus respondeu: ‘Tu o disseste. Aliás, eu vos digo que, de ora em diante, vereis o Filho do Homem sentado à direita do Poderoso e vindo sobre as nuvens do céu’. O Sumo Sacerdote então rasgou suas vestes, dizendo: ‘Blasfemou! Que necessidade temos ainda de testemunhas? Vede: vós ouvistes neste instante a blasfêmia. Que pensais?’ Eles responderam: ‘É réu de morte’. E cuspiram-lhe no rosto e o esbofetearam. Outros lhe davam bordoadas, dizendo: ‘Faze-nos uma profecia, Cristo: quem é que te bateu?’”

 

Em Mc 14, 53-65 diz: “Levaram Jesus ao Sumo Sacerdote, e todos os chefes dos sacerdotes, os anciãos e os escribas estavam reunidos. Pedro seguira-o de longe, até o interior do pátio do Sumo Sacerdote, e, sentado junto com os criados, aquecia-se ao fogo. Ora, os chefes dos sacerdotes e todo o Sinédrio procuravam um testemunho contra Jesus para matá-lo, mas nada encontravam. Pois muitos davam falso testemunho contra Ele, mas os testemunhos não eram congruentes. Alguns, levantando-se, davam falso testemunho contra Ele: ‘Nós mesmos o ouvimos dizer: Eu destruirei este Templo feito por mãos humanas e, depois de três dias, edificarei outro, não feito por mãos humanas’. Mas nem quanto a essa acusação o testemunho deles era congruente. Levantando então o Sumo Sacerdote no meio deles, interrogou a Jesus dizendo: ‘Nada respondes? O que testemunham estes conta ti?’ Ele, porém, ficou calado e nada respondeu. O Sumo Sacerdote o interrogou de novo: ‘És tu o Messias, o Filho do Deus Bendito?’ Jesus respondeu: ‘Eu sou. E vereis o Filho do Homem sentado à direita do Poderoso e vindo com as nuvens do céu’. O Sumo Sacerdote, então, rasgando as suas túnicas disse: ‘Que necessidade temos ainda de testemunhas? Ouvistes a blasfêmia. Que vos parece?’ E todos julgaram-no réu de morte. Alguns começaram a cuspir n’Ele, a cobrir-lhe o rosto, a esbofeteá-lo e a dizer: ‘Faça uma profecia!’ E os criados o esbofeteavam”.

 

Em Lc 22, 54-55. 66-71diz: “Prenderam-no e levaram-no, introduzindo-o na casa do Sumo Sacerdote. Pedro seguia de longe. Tendo eles acendido uma fogueira no meio do pátio, sentaram-se ao redor, e Pedro sentou-se no meio deles. Quando se fez dia, reuniu-se o conselho dos anciãos do povo, chefes dos sacerdotes e escribas, e levaram-no para o Sinédrio, dizendo: ‘Se tu és o Cristo, dize-nos!’ Ele respondeu: ‘Se eu vos disser, não acreditareis, e se eu vos interrogar, não respondereis. Mas, desde agora, o Filho do Homem estará sentado à direita do Poder de Deus!’ Todos então disseram: ‘És, portanto, o Filho de Deus?’ Ele lhes declarou: ‘Vós dizeis que eu sou!’ Replicaram: ‘Que necessidade temos ainda de testemunho? Ouvimo-lo de sua própria boca!’”

 

Em Jo 18, 12-16. 24 diz: “Então a coorte, o tribuno e os guardas dos judeus prenderam a Jesus e o ataram. Conduziram-no primeiro a Anás, que era sogro de Caifás, o Sumo Sacerdote daquele ano. Caifás fora o que aconselhara aos judeus: ‘É melhor que um só homem morra pelo povo’. Ora, Simão Pedro, junto com outro discípulo, seguia Jesus. Esse discípulo era conhecido do Sumo Sacerdote e entrou com Jesus no pátio do Sumo Sacerdote. Pedro, entretanto, ficou junto à porta, de fora. Então, o outro discípulo, conhecido do Sumo Sacerdote, saiu, falou com a porteira e introduziu Pedro. Anás, então, o enviou manietado a Caifás, o Sumo Sacerdote”.

 

 

COMENTÁRIOS

 

 

Pe. Luis de la Palma

 

O Pe. Luis de la Palma comenta: Voltando a Jerusalém, passaram novamente pela Torrente do Cedron, levando Jesus amarrado como se fosse um ladrão, com pressa e gritando; aos empurrões e com pancadas derrubavam-no, e depois levantavam-no brutalmente.

Levaram-no à residência de Caifás, sumo sacerdote. Era também presidente do conselho que se chamava Sinédrio; local onde se reuniam setenta e dois juízes. Era por volta da meia-noite, porque depois da ceia, quando Judas saiu “era noite”, Jesus tinha conversado durante um longo tempo, subido ao horto, orado e só depois foi preso; tinha-se passado muito tempo. Os juízes e anciãos daquele povo estavam tão obcecados, que para não perderem tempo e condenarem o Senhor, reuniram-se mesmo sendo tarde da noite.

Entrou Jesus em Jerusalém, grande Sacerdote da Nova Aliança, para oferecer a sua vida em sacrifício agradável a Deus pela redenção do mundo. O processo começou na casa do sumo pontífice, onde estavam reunidos à sua espera, os sacerdotes e doutores da lei. Antes, porém, os soldados levaram-no à casa de Anás, sogro de Caifás. Honrando assim, sogro e genro; e desonrando o Senhor. Anás enviou-o preso ao sumo sacerdote Caifás (Jo 18,24), a quem competia conduzir o processo. Caifás foi quem deu aos judeus o conselho: Convém que um só homem morra em lugar do povo (Jo 18, 14). Ele que tinha dado o conselho estava disposto a executá-lo. Na sua casa aconteceram todas as coisas que se contam desta noite.

Embora, depois da prisão no horto, todos os discípulos tenham fugido e deixado Jesus. Preocupado para onde levariam o seu Senhor, mesmo com medo, Pedro seguia-o de longe (Mt 26, 58). Também o seguia outro discípulo que tinha certa amizade com o sumo sacerdote.

Chegando à casa de Caifás, entrou Jesus e toda aquela comitiva que voltava do horto; provavelmente outros se incorporaram atraídos pelo alvoroço pelas ruas da cidade.

Entrando, logo dispensaram o tribuno e os soldados romanos com uma quantia generosa. Fechariam as portas para evitar curiosos, com isso ficariam somente os juízes e as pessoas importantes no processo. Vigiando a porta estava uma criada, o outro discípulo por ser conhecido, conseguiu entrar. Ao notar que Pedro tinha ficado de fora, junto à porta, o discípulo pediu, e a porteira deixou-o entrar. Naquela noite, a verdade tão perseguida, seria negada por Pedro.

Levaram o Senhor na presença do pontífice. Pedro e o outro discípulo estavam presentes e testemunharam o ocorrido. O pontífice, junto com os sacerdotes e doutores da lei, examinavam o processo contra Jesus. Pela manhã pretendiam realizar outro conselho, este pleno e legítimo; este de noite, seria uma preparação para poderem encontrar provas, e assim condenar o Senhor à morte. Consideravam-no um farsante e agitador, pregador de mentiras contra a Lei e a tradição. O sumo sacerdote examinou: primeiro sobre os seus discípulos, quem e quantos eram; depois sobre a doutrina que ensinava, para tentar encontrar alguma mentira ou erro.

O Senhor nada disse sobre os discípulos, porque, todos tinham fugido escandalizados e envergonhados, e Pedro que estava presente, atemorizado, não falaria em sua defesa. Considerando a razão das perguntas, bastaria responder sobre sua doutrina, que sendo boa e de Deus, não poderia reunir discípulos para uma causa perversa. Assim respondeu: Falei publicamente ao mundo. Ensinei na Sinagoga e no templo, onde se reúnem os judeus, e nada falei às ocultas (Jo 18,20), vocês poderiam suspeitar, se a doutrina é nociva, se eu falasse escondido, mas, nada disse em segredo. Nas vezes que falei a sós com meus discípulos, foi para explicar as parábolas, nada falei de diferente ou para se ocultar, pelo contrário, era exatamente para que pudessem entender e assim transmitir a todos. Sendo assim, por que me interrogas? Pergunta àqueles que ouviram o que lhes disse. Estes sabem o que ensinei (Jo 18, 21); nestes acreditareis mais do que a mim.

Um dos servos não gostou da resposta dita com tanta verdade e serenidade, parecia-lhe que faltava com respeito e rebaixava o sumo sacerdote, esbofeteando firmemente a Jesus, disse: É assim que respondes ao sumo sacerdote? (Jo 18,22).

O Senhor não perdeu a serenidade, apesar desta violência, feita por um simples servo na presença de todos. Além do insulto e da agressão, dava a entender que sua resposta não era verdadeira, e nem que sua doutrina era divina. Não seria humildade calar-se diante deste ultraje. Calmamente, Jesus mostrou a seu agressor que a violência feita e a omissão do pontífice eram injustas, não havia motivo algum para lhe bater. Se este julgamento fosse justo, competia apenas ouvir as testemunhas, depois dar a sentença; mas, como este julgamento nascia do ódio e da inveja, jamais seria imparcial.

Jesus respondeu ao servo: Se falei mal, prova-o, mas se falei bem, por que me bates? (Jo 18, 23). Nenhuma resposta podia ser mais acertada, justa e oportuna. Por ter agredido Cristo, este canalha merecia que a terra se abrisse e o tragasse. Mas Deus foi paciente, em vez de castigar, venceu pela bondade.

O Senhor estava disposto a oferecer seu próprio corpo para ser imolado na cruz. Por isso, não deu a outra face como tinha ensinado, além disso, é melhor responder com a verdade que oferecer a outra face por orgulho, vaidade ou aparência. A humildade está no interior, não numa atitude externa.

Se este processo fosse justo, a resposta do Senhor teria sido correta e aceita. Mas o julgamento estava viciado na sua raiz, os juízes eram imparciais e dissimulados. A inveja e o medo de que os romanos destruíssem o templo, fez com que todos estivessem com o veredito de morte pronto. Os príncipes dos sacerdotes e todo o conselho procuravam um falso testemunho contra Jesus, a fim de o levarem à morte (Mt 26,59). Seria necessário mentir, na vida do Senhor não encontrariam nenhum pretexto para condená-lo. Muitos estavam dispostos a dar falsos testemunhos, alguns por medo, outros para ficarem bem com os sacerdotes. Mas todos diziam mentiras e contradições; falavam que Jesus tinha pacto com o demônio, que não respeitava as festas, que era glutão e beberrão, que era amigo dos publicanos e pecadores, que incitava o não pagamento do imposto e que blasfemava. Mas disseram uma verdade: que era filho de Deus.

Estes falsos testemunhos, como estavam ensaiados e se contradiziam, não foram convincentes para condenar Cristo. Apresentaram-se mais duas falsas testemunhas, que declararam: Este homem disse: Posso destruir o templo de Deus e reedificá-lo em três dias (Mt 26,61). Ouvimo-lo dizer: Eu destruirei este templo feito pelas mãos dos homens, em três dias edificarei outro, que não será feito por mãos de homens (Mc 14,58). Era evidentemente falso, Jesus não disse que podia ou destruiria o templo, mas que, quando fosse destruído, construiria outro não feito por mãos dos homens, ele falava do templo do seu corpo (Jo 2,21). Isto significava que quando morresse , ressuscitaria em três dias. Mesmo distorcendo suas palavras, ainda não tinham provas suficientes para o condenarem à morte.

O Senhor mantinha-se calado perante as calúnias e os falsos testemunhos. Tinha percebido perante sua primeira resposta, que os juízes não estavam buscando a verdade, e aquela reunião, que só tinha aparência de julgamento, na verdade era um covil de ladrões.

O sumo sacerdote, impaciente e irado, vendo que com falsas testemunhas não conseguia condená-lo, perguntou: Por que te calas? Nada tens a responder ao que essa gente depõe contra ti? (Mt 26, 62). Que espécie de arrogância é essa?

Mas Jesus se calava e nada respondia (Mc 14, 61). Não convinha que o Filho de Deus falasse por medo a um mero mortal. Quando se é injuriado, desprezado, ofendido e caluniado, grande é o mérito da virtude da paciência em ficar calado. Inclusive é perigoso falar nestes momentos, aconselhava o profeta: “Velarei sobre os meus atos, para não pecar mais com a língua. Porei um freio em meus lábios, enquanto o ímpio estiver diante de mim. Fiquei mudo, mas sem resultado, porque minha dor recrudesceu” (Sl 38, 2-3). Mostrou o Senhor sua grande mansidão profetizada há muito tempo: “Foi maltratado e resignou-se; não abriu a boca, como um cordeiro que se conduz ao matadouro e uma ovelha muda nas mãos do tosquiador” (Is 53, 7). Como se estivesse presente, o Rei Davi proclama: “Amigos e companheiros fogem da minha chaga, e meus parentes permanecem longe. Os que odeiam a minha vida armam-me ciladas; os que me procuram perder ameaçam-me de morte; não cessam de planejar traições. Eu, porém, sou como surdo, não ouço; sou como mudo que não abre os lábios. Fiz-me como um homem que não ouve e que não tem na boca réplicas a dar” (Sl 37, 12-15). Foi exatamente isso que fez o Senhor.

Cansado, o sumo sacerdote decidiu perguntar-lhe diretamente o que desejava e necessitava ouvir para condená-lo à morte. Sabiam que o chamavam de Filho de Deus, e isto era para eles uma blasfêmia. Usando o nome de Deus, para que não se calasse, perguntou: “Por Deus vivo, conjuro-te que nos digas se és o Cristo, o Filho de Deus” (Mt 26, 63). E esta foi a única acusação que fizeram perante Pilatos: “Nós temos uma lei, e segundo essa lei ele deve morrer, porque se declarou filho de Deus” (Jo 19, 7).

O Senhor foi obrigado a proclamar a verdade, honrar o nome de seu Pai, mesmo que isso o levasse à morte: Eu o sou. E vereis o Filho do Homem sentado à direita do Poder de Deus, vindo sobre as nuvens do céu (Mc 14, 62). Agora me veem humilhado e preso, mas em breve me vereis como juiz do céu e da terra.

Ao ouvir a resposta, o sumo sacerdote furioso rasgou as suas vestes, como era costume dos judeus, quando escutavam uma blasfêmia. Caifás, para agravar a cena, exagerava em sua dramatização ficando com o peito desnudo. Jesus pôde ver a que ponto chegava a inveja e a maldade. Este velho sacerdote, não pôde ouvir a maior verdade de todas as verdades, que o Novo e Eterno Sacerdote proclamava, preferiu chamar a verdade de blasfêmia. Quando Pedro confessou que Jesus era o Filho de Deus, fundou a Igreja; quando Caifás negou-o e chamou de blasfemo, a sinagoga foi enterrada para sempre.

Lança o olhar à volta e vê: reúnem-se todos e vêm a ti. Por minha vida, diz o Senhor, de gala te revestirás, como uma noiva te cingirás (Is 49, 18). A Igreja é a veste do Senhor, embora perseguida, está fundada sobre a fé em Jesus Cristo, Filho de Deus, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela (Mt 16, 18). Os soldados não se atreveram a rasgar as vestes do Senhor; o sumo sacerdote rasgava as vestes com as próprias mãos. A sinagoga perdeu seu sacerdócio e culto perante a verdade da Nova e Eterna Aliança.

Escandalizado rasgou as vestes, agora era além de juiz, também testemunha de acusação: Que necessidade temos ainda de testemunhas? Acabastes de ouvir a blasfêmia! Qual o vosso parecer? (Mt 26, 65-66). Que devemos fazer perante tal evidencia? Então, todos, sem exceção julgaram merecedor de morte (Mc 14, 64). Assim se cumpria o que o Senhor havia dito: “O Filho do Homem será entregue aos príncipes dos sacerdotes e aos escribas. Eles o condenarão à morte” (Mt 20, 18).

Os servos dos sacerdotes, ao ouvirem a sentença, cuspiram-lhe então na face, bateram-lhe com os punhos e deram-lhe tapas (Mt 26, 67). Também os sacerdotes do Sinédrio bateram e insultaram Jesus.

Estavam convencidos que o castigo era merecido, pois, Cristo suportava bem. Então, se aproveitaram para vingar as críticas feitas em público sobre seus vícios e erros. Levantando-se enfurecidos das cadeiras, onde estavam indignamente como juízes, começaram a bater-lhe.

Depois, despediram-se e combinaram uma nova reunião pela manhã, onde o processo e a execução da sentença seriam validados.

O sumo sacerdote retirou-se ao seu aposento, e deixou Jesus em poder dos guardas e criados; estes o levaram a um compartimento menor e ficaram a noite toda com ele. Divertindo-se escarneciam dele e davam-lhe bofetadas (Lc 22, 63), cuspiram-lhe então na face (Mt 26, 67). Estes homens vis emporcalhavam aquela face divina que os próprios anjos desejavam contemplar (1Pd 1, 12).

Maltrataram, feriram, bateram, deram pontapés e socos. Depois, cobriam-lhe os olhos (Lc 22, 64), taparam aqueles olhos para qual nenhuma criatura lhe é invisível (Hb 4, 13). Continuavam a dar-lhe bofetadas e como tinha fama de profeta, escarneciam-se: “Advinha, ó Cristo: quem te bateu?” (Mt 26, 68). E injuriaram-no ainda de outros modos (Lc 22, 65).

Vendaram a sua face para se ocultarem ao seu olhar. Condenaram-se a nunca mais ver Jesus com os olhos da fé. Não estranheis a maldade destes homens. Nós também fazemos o mesmo: pecamos e com nossas hipocrisias logo queremos tapar os olhos de Deus, para que não veja a nossa maldade.

Há muito tempo a profecia mencionava este sofrimento voluntário: “Aos que me feriam apresentei as espáduas, e as faces àqueles que me arrancavam a barba; não desviei o rosto dos ultrajes e dos escarros” (Is 50, 6). Mesmo assim, causa uma grande admiração a mansidão, a paciência e a fortaleza com que o Senhor sofreu tudo.

Provavelmente os guardas durante a jornada de vigia daquela noite, se alternaram nas agressões, enquanto alguns descansavam, outros chegavam com novas zombarias. O Senhor não pôde dormir, sofreu durante toda à noite. Para os cegos da sinagoga o amanhecer nunca chegou, pois ficaram na escuridão para sempre.

 

Santo Afonso Maria de Ligório

 

Santo Afonso Maria de Ligório ensina: Eis que o Redentor é levado como em triunfo à presença de Caifás, que já o estava esperando, e vendo-o diante de si, só e desamparado de seus discípulos, ficou cheio de contentamento.

O ímpio pontífice interroga Jesus Cristo sobre seus discípulos e sobre sua doutrina, para achar algum pretexto de condenação. Jesus responde-lhe com humildade: Eu não falei em segredo, mas em público; todos estes que aqui estão podem dar testemunho do que eu falei. Diante das palavras do Senhor, um algoz mais insolente avança e tratando Jesus Cristo de atrevido, lhe dá uma forte bofetada dizendo: É assim que respondes ao sumo sacerdote?

Entretanto, o Conselho procurava testemunhas para condená-lo à morte, mas não encontravam; pelo que o pontífice vai novamente buscar matéria de condenação nas palavras de nosso Salvador, e lhe diz: Eu te conjuro, pelo Deus vivo, que nos digas, se tu és o Cristo, o Filho de Deus. O Senhor, ouvindo que o conjuravam em nome de Deus, confessa a verdade e responde: Sim, eu o sou: e um dia me verás, não tão desprezível como estou agora diante de ti, mas assentado num trono de majestade como juiz de todos os homens, acima das nuvens do céu. Ouvindo estas palavras, o pontífice rasga suas vestes e diz: Para que mais precisamos de testemunhas? Acabais de ouvir a blasfêmia. E todos os outros sacerdotes responderam que sem dúvida alguma Ele era réu de morte. Então cuspiram-lhe no rosto e deram-lhe bofetadas. Sendo Jesus Cristo declarado réu de morte, puseram-se todos a maltratá-lo como a um malfeitor. Um cospe-lhe no rosto, outro dá-lhe puxões, mais outro lhe dá bofetadas. Cobrem-lhe os olhos com um pano, escarnecem d’Ele, chamando-o falso profeta, e dizendo: Já que és profeta, profetiza agora quem te bateu.

 

Pe. Juan Leal

 

O Pe. Juan Leal explica: Jesus Cristo, manietado como um malfeitor, foi conduzido primeiramente ante o tribunal religioso, o sinédrio. Era seu presidente o sumo sacerdote Caifás, que havia sucedido no cargo a seu sogro Anás. Este velho astuto gozava de grande prestígio e autoridade ante os demais membros do sinédrio, e pelo que insinuam os evangelistas, foi o principal organizador de toda a trama para prender e condenar a Cristo. Por essa razão foi conduzido o prisioneiro, primeiro, à sua presença, segundo conta São João 18, 13, como um ato de atenção. Assim que, tendo em conta os dados que nos oferecem os quatro evangelistas, podemos distinguir um primeiro comparecimento de Jesus Cristo ante Anás durante a noite, que somente São João conta; outra segunda ante Caifás e o sinédrio também pela noite, que contam São Mateus e São Marcos, e, finalmente, outra terceira pela manhã, que refere, sobretudo, São Lucas 22, 66-71.

A casa de Anás estava situada, provavelmente, não longe do cenáculo. O caminho, portanto, que teve de percorrer agora Jesus Cristo em sentido inverso foi, pouco mais ou menos, o mesmo, porém em condições muito distintas, já que ia manietado e conduzido no meio daquela multidão e soldados rudes, que caminharam celebrando o êxito por tê-lo prendido.

Segundo a lei mosaica (Dt 17, 6; Nm 35, 30), se necessitava pelo menos o testemunho de duas testemunhas para condenar um homem à morte. As testemunhas que neste caso passaram ante o tribunal foram muitas, como expressamente advertem São Mateus e São Marcos; porém, sem resultado positivo, porque não estavam de acordo no que diziam. Finalmente se apresentaram duas testemunhas que, referindo a umas palavras que Jesus havia dito no começo da sua vida pública (Jo 2, 19), comentadas provavelmente pela multidão que escutou o sermão sobre a destruição de Jerusalém e de seu templo (Mt 24, 2), o acusaram de querer destruir o templo santo de Deus. As testemunhas deturparam as palavras de Cristo, que havia dito: Destruí este templo, e em três dias o erguerei; isto é, se destruís... Certamente, Jesus Cristo com estas palavras não se referia ao templo material, mas ao seu próprio corpo, que o havia de ressuscitar depois da morte (Jo 2, 21). Mais tarde Ele anunciou a destruição do templo e da religião judaica, que o simbolizava (Mt 24, 2ss), e sua substituição por um templo novo quando seu corpo ressuscitasse ao terceiro dia (Mt 16, 21; 17, 23; 20, 19; Jo 2, 21ss), e, por fim, por um corpo místico a Igreja (Mt 16, 18), que havia de substituir a antiga sinagoga.

Caifás busca um recurso supremo que sabe de antemão que dará resultado certo: o juramento solene jurídico, ao qual ninguém pode fugir, e pelo qual obrigará a Jesus a fazer uma declaração concreta, que em qualquer hipótese lhes dará pé para condená-lo. Se respondesse que é o Messias, o Filho de Deus, o condenarão como blasfemo; se o negasse, o condenarão como impostor que pretendeu seduzir o povo proclamando-se o que não era.

É evidente, se se tem em conta todo o contexto, que a intenção de Caifás ao perguntar-lhe se era o Filho de Deus se referia a uma filiação natural, pela qual se fazia igual ao mesmo Deus. Assim se conclui também do conjunto de todo o evangelho de São Mateus, que é o evangelho não só da messianidade de Cristo, mas também de sua divindade. Não fazia muito que ante os mesmos fariseus, provavelmente alguns membros do sinédrio ali presentes, havia demonstrado que o Messias era algo mais que um filho de Davi (Mt 22, 45). E sem dúvida que Caifás e seus companheiros o condenam como blasfemador por fazer-se filho natural de Deus, como pouco mais tarde dirão diante de Pilatos (Jo 19, 7). O momento era solene. Jesus Cristo, perguntado pelo juiz legítimo na forma jurídica, responde afirmativamente: Tu o dizes; isto é, sou efetivamente o que acabas de dizer, o Messias, o Filho de Deus. E, tomando uma atitude majestosa diante do tribunal que o vai condenar, anuncia que em breve o verão voltar como juiz. Sentado à direita do Poderoso é uma alusão ao salmo messiânico 109, 1, e a vinda sobre as nuvens do céu, à profecia de Daniel 7, 9ss. Confessa solenemente que Jesus é o Messias, Filho de Deus, e anuncia seu triunfo definitivo.

Caifás, escandalizado com as palavras de Jesus Cristo, em sinal de indignação e de horror, rasgou suas vestes, exclamando: Blasfemou. Era costume dos judeus piedosos rasgar a túnica uns centímetros junto ao peito ao escutar uma blasfêmia, manifestando desta maneira seu protesto e sua repugnância diante da blasfêmia.

Segundo São Mateus, foram os mesmos membros do sinédrio, ou pelo menos alguns deles, como refere São Marcos 14, 65, os que maltrataram o Senhor cuspindo em sua face e dando-lhe bofetadas, exemplo que foi seguido pelos guardas que o guardaram durante a noite (Lc 22, 63-65). Para zombar da fama de profeta que havia conquistado, taparam os seus olhos, e, davam tapas em seu rosto perguntando-lhe: Adivinha quem te bateu.  E, como anota São Lucas, diziam-lhe muitas outras coisas (Lc 22, 65).

Neste processo não esteve presente nenhum discípulo.

 

Pe. Francisco Fernández Carvajal

 

O Pe. Francisco Fernández Carvajal comenta:  Era já mais de meia-noite quando conduziram Jesus à casa de Anás, o sogro do sumo sacerdote Caifás. Este, recorda São João 18, 13-14, é o que tinha dado aos judeus aquele conselho: Convém que um homem morra pelo povo.

Jesus Cristo foi levado pelas ruas desertas de Jerusalém. Caminha aos tropeções, com as mãos atadas atrás das costas e preso com a soga ao pescoço. Dois dos seus discípulos – Pedro e João – seguem-no de longe, demasiado de longe para receber deles uma palavra de alento ou um olhar de afeto. Sentem um sincero amor e adesão ao seu mestre, mas não o suficiente para permanecer com Ele. Não sabem o que fazer. Seguem-no a certa distância.

Quando chegaram ao palácio de Anás, o pequeno grupo de soldados romanos que tinha acompanhado os servidores do Templo considerou cumprida a sua missão e regressou ao seu destacamento, à Torre Antônia. Tudo tinha sido extremamente simples.

Anás teria desejos de ver Jesus de perto. E pôde dar-se conta imediatamente que se tratava de um homem sereno e sem medo, e de que não seria nada fácil condená-lo num julgamento improvisado. De fato, o ancião interrogou-o brevemente acerca da sua doutrina e dos seus discípulos. Que ensinava? Que pretendia realmente? Quem eram os seus seguidores? Segundo o direito judaico,  o acusado não tinha que dar testemunho de si mesmo; a acusação era válida se provinha de testemunhas alheias. O Senhor não quis comprometer nenhum dos seus seguidores, e respondeu: Eu falei abertamente ao mundo, ensinei sempre na sinagoga e no Templo, onde todos os judeus se reúnem, e não disse nada em segredo. Por que me perguntas? Pergunta aos que me ouviram de que lhes falei: eles sabem o que disse.

Então um zeloso servidor deu-lhe uma bofetada, enquanto o advertia: Assim respondes ao pontífice? Não era o pontífice, mas como o tinha sido, chamavam-lhe ainda assim. Era a primeira vez que a mão de um homem batia no rosto de Jesus. Os presentes não o viram, mas o céu inteiro comoveu-se. O Senhor recebeu com paz essa violência física inesperada. Era realmente algo baixo e indigno bater num homem manietado. Talvez esperasse que Anás repreendesse a ação do servente; mas nada disse. Então Jesus respondeu: Se falei mal, declara esse mal; mas se falei bem, por que me bates?

Anás remeteu-o imediatamente, atado, assinala São João, a Caifás, o verdadeiro sumo pontífice. O preso não era absolutamente estranho para ele. Havia tempo que lhe chegavam notícias frequentes acerca das suas atividades.

Entretanto, foram avisados alguns membros do Sinédrio, talvez os mais dedicados ao pontífice, e pouco a pouco iam chegando ao palácio de Caifás. Outra tarefa difícil naquelas horas da noite – já faltava pouco para a madrugada – era a de preparar testemunhas que depusessem contra Ele; procuravam febrilmente algum testemunho para lhe dar a morte, e não o encontravam (Mc). Há pressa por acabar quanto antes; de fato, todo o processo contra Jesus está cheio de pressas. Ao entardecer do dia seguinte – sexta-feira – os judeus tomavam a ceia pascal, e esse dia era uma jornada de grandes preparativos... Tudo era muito forçado.

Começou o julgamento, provavelmente ao amanhecer. Muitos testemunhavam falso contra Ele, mas os testemunhos não eram concordes. Não resistiam à menor análise. Alguém recordou uma frase sobre o Templo que talvez pudesse convencer o tribunal, já demasiado predisposto. Jesus tinha dito: Destruí este Templo e em três dias o levantarei (Jo 2, 19). Agora acusam-no de ter dito que pensava destruir o Templo; que este estava feito por mão de homens, não era coisa de Deus; e que em três dias Ele levantaria outro novo, não feito por mãos de homens. Mudam as palavras de Jesus e tergiversam de um modo tosco o sentido da frase. E nem mesmo assim coincidia o seu testemunho (Mc). Jesus estava calado.

Entre os membros do Sinédrio havia homens honestos, como Gamaliel, que não tolerariam atropelos. E entre eles havia também amigos de Jesus e discípulos como Nicodemos e José de Arimateia. O fato de que no processo não apareça em nenhum momento nenhum deles faz pensar razoavelmente que não foram convocados. Não parece, por outro lado, que naquelas horas da noite se reunisse todo o Sinédrio. Bastavam vinte e três membros para que as sessões se considerassem legítimas.

Pedro, pelo seu lado, tinha ido seguindo os passos do Mestre até ao palácio do sumo sacerdote. Com a influência de João, conhecido do pontífice, passou para dentro e sentou-se com os criados. Queria saber onde ia parar tudo aquilo.

O julgamento não avançava, pois não encontravam um verdadeiro testemunho concordante das testemunhas. Segundo a Lei de Moisés (Dt 17, 6; Nm 35, 30), eram necessárias pelo menos duas testemunhas concordantes para condenar à morte um homem. Pela sala passaram muitas testemunhas – assim o dizem São Mateus e São Marcos -, mas sem resultado positivo. O silêncio de Jesus e aquelas acusações sem fundamento devem ter criado um clima de dúvida entre os membros do Sinédrio.

Então, Caifás situou-se no centro da sala e disse a Jesus: Não respondes nada ao que estes testemunham contra ti?  O tom cada veza mais nervoso do pontífice não impressionou o Senhor. Por outro lado, que ia dizer? Ele permanecia em silêncio e nada respondeu.

Então Caifás recorreu ao juramento mais solene, ao qual ninguém se podia subtrair. Em tom majestoso, disse: Conjuro-te pelo Deus vivo que nos digas se tu és o Messias, o Filho de Deus (Mt). Pela própria pergunta e por todo o contexto vê-se que o Pontífice se referia a uma filiação natural, pela qual se fazia igual ao próprio Deus.

Perante este requerimento, Jesus confessa solenemente que Ele é o Messias e o Filho de Deus, e anuncia o seu triunfo definitivo. Tomou uma atitude simples e majestosa ao mesmo tempo diante do tribunal que o ia condenar, e anunciou que em breve o veriam vir como juiz: Tu o disseste. Além disso, digo-vos que um dia vereis o Filho do Homem sentado à direita do poderoso e vir sobre as nuvens do céu (Mt).

A resposta de Jesus não só dá testemunho de ser o Messias, mas esclarece a transcendência divina ao aplicar a si a profecia do Filho do Homem. Jesus define-se com a mais forte das expressões bíblicas que podiam ser compreendidas pelos seus ouvintes: a que torna mais manifesta a divindade da sua Pessoa.

O Sumo pontífice escandalizou-se com as palavras do Senhor, e com gestos de indignação e de horror, talvez um horror fingido, rasgou as suas vestes com gesto teatral, enquanto dizia: Blasfemou! Que necessidade temos já de testemunhas? Já o vedes, acabais de ouvir a sua blasfêmia.  E voltado para todos perguntou: Qual é o vosso parecer?

E todos exclamaram: É réu de morte. Isto era o que se procurava.

Abandonado o capítulo de testemunhas, que não deu resultado, acolhem-se todos agora ao da blasfêmia, que levava à pena de morte. Não o condenam por agitador, mas por blasfemo, porque tinha proclamado abertamente a sua Divindade.

Então os próprios membros do Sinédrio, como diz São Mateus, ou pelo menos alguns deles, como insinua São Marcos, dedicaram-se a maltratar o Senhor: começaram a cuspir-lhe na face e a dar-lhe bofetadas. Lemos e meditamos muitas vezes esta cena, mas realmente sempre é difícil imaginá-la: cuspiam-lhe na face, davam-lhe pontapés, bofetadas, empurrões... A degradação daqueles homens, os guias do povo, era muito grande. O exemplo dos mesmos foi seguido com facilidade pelos servidores do Templo, a quem encomendaram a sua custódia durante aquela noite (Lc). Para se rirem da sua fama de profeta, cobriram seus olhos e batiam-lhe, perguntando-lhe a seguir: Adivinha, Cristo, quem te bateu? São Lucas acrescenta que diziam contra ele muitas outras injúrias.

Jesus deixa que lhe façam isso; e cresce em dignidade diante de todos à medida que os outros a perdem. O dia já começava.

 

Daniel-Rops

 

Daniel-Rops ensina: Pela artéria de degraus, e depois ao longo de várias ruas em declive, seguindo a mesma trajetória que já seguira, havia cerca de uma hora, Jesus foi conduzido ao próprio lugar de onde partira. Jerusalém, à noite, é uma cidade estranha, com ar de eternidade, em que o visitante dos nossos dias evoca facilmente o percurso noturno de Cristo Jesus, com a tropa inimiga que o cercava. Na penumbra, esquecem-se os enormes monumentos, tão desproporcionados como exóticos, que a fé das gerações edificou, sem nenhum respeito pela tradição arquitetural da Palestina: não se vê outra coisa que não sejam altíssimas paredes, ruas estreitas, as escadas, pavimentos batidos e escorregadios, e esses poços de sombra impenetrável, abertos de repente pelas casas, ao enlaçarem-se por cima das artérias. Nos recantos de muitas ruas, há corpos embrulhados nos mantos que dormem no lajedo. A via dolorosa que começara àquela hora, deveria ter tido este cenário, não podendo terminar senão no Gólgota.

Mas, onde conduziram Jesus, nesse momento? O pormenor é importante. Dos quatro evangelistas, apenas João responde com justeza: à casa de Anás, o antigo Sumo Sacerdote. O que é desagradável é que o texto do IV Evangelho seja tão confuso, a tal respeito. Ali se lê que levaram primeiramente Jesus à casa de Anás, sogro de Caifás, o qual era, naquele ano, o Sumo Sacerdote (Jo 18, 13);   sucede-se uma cena de interrogatório, logo seguida pela negação de Pedro que parece ser a mesma que os Sinóticos localizam em casa de Caifás; a seguir, o versículo 24 assinala que Anás remeteu Cristo, bem amarrado, para Caifás, o Sumo Sacerdote.  Para se conseguir, simultaneamente, a sequência lógica e a concordância com os Sinóticos, será preciso colocar-se o versículo 24, logo após o 13 e o 14, lugar que, aliás, ocupa já num velho manuscrito sírio e em São Cirilo de Alexandria. Mas, de qualquer modo, nada se sabe mais sobre o que Anás disse a Jesus Cristo.

O simples fato de terem levado o acusado, em primeiro lugar, à casa de Anás, é, entretanto, deveras significativo. Quem era Anás? O  antigo Sumo Sacerdote; investido na função pelo legado Quirino, no ano 7 da nossa era, estivera em exercício até 14, data em que se iniciou o reinado de Tibério: Tempo considerável, diz Flávio Josefo. Se bem que deposto pelos Romanos, continuava a ser altamente respeitado nos meios sacerdotais; e a prova é que conseguira fazer chegar à mitra e ao peitoral, cada um por sua vez, os cinco filhos e o genro. Era um homem muito hábil. Não havia ninguém – diz ainda Josefo mais astucioso do que ele para fazer fortuna!    É muitíssimo provável que, naquela veneração que lhe era tributada, e naquela influência que todos lhe reconheciam, estivesse latente um vivo sentimento do partido anti-romano. Moralmente, era Anás, sem qualquer sombra de dúvida, o chefe da comunidade judaica: assim o considerou Renan, que vê nele o principal ator desse drama terrível... e o verdadeiro autor do assassinato jurídico que iria cometer-se.

Que disse ele a Jesus Cristo? Certamente, nada. Bastar-lhe-ia haver puxado os cordelinhos daqueles que, aparentemente, conduziam as coisas, as quais, uma vez em marcha, bem sabia onde haveriam de parar. Poderá imaginar-se o tête-à-tête do ancião calculista, inteiriçado no seu formalismo, secretamente possuído por todas as paixões que a ambição e o temor semeiam no coração do homem, com o jovem Profeta que, em certo dia, atirara aos indivíduos dessa espécie, o anátema dos sepulcros caiados. Pensando nisso, Anás limitou-se em mandar embora Jesus Cristo.

Arqueólogos e exegetas têm-se inclinado sempre a admitir que os dois Sumos Sacerdotes, o antigo e o presente, habitassem o mesmo palácio, separados apenas por um pátio. Entretanto, Jesus foi, possivelmente, encerrado em qualquer prisão. Sobre a presumível localização do Palácio dos Sumos Sacerdotes, ao fundo duma capela grega ornada com marfim e mosaico de ouro, uma pequena sala, de teto baixo, que faz pensar numa acanhada sacristia, pretende ser o ergástulo em que Jesus Cristo passou algumas horas dessa noite. As paredes encontram-se revestidas de faianças  azuis, de tons suaves; duma janela alta cai um feixe de luz dourada. Quantos lugares, em Jerusalém, não falam de outro modo ao peregrino, senão pela saudade a que ele próprio os associa, e pelo invisível depósito espiritual acumulado neles, por milenárias devoções!

O segundo lanço de percurso conduziu Jesus à presença de Caifás. José Kaiâpha era o Sumo Sacerdote em exercício, ao qual, portanto, cabia a responsabilidade do processo político-religioso que se ia organizar contra Jesus Cristo. Elevado ao pontificado pelo procurador Valério Grato, no ano 18 da nossa era, conseguiu manter-se em exercício durante todo o tempo que Pilatos governou a Palestina, não vindo a ser deposto senão pelo legado da Síria, chamado Vitélio: uma tão longa permanência nesse posto difícil, no qual, havia muito tempo, os respectivos titulares se sucediam vertiginosamente, parece indicar a existência, naquele homem, de grandes faculdades de maleabilidade e adaptação. Para falar com o rigor conveniente, tratava-se dum desses ambiciosos vulgares que, em todos os lugares e em todas as épocas, os poderosos sabem encontrar para lhes servirem de instrumentos. O móbil mais profundo da sua alma vil deveria ser o medo, esse medo das histórias que tão bem conhecem as pessoas em semelhantes condições: pois quê, um aventureiro, um homem da ralé, permitia-se perturbar a ordem estabelecida e, possivelmente, incomodar Roma? A Teologia não tinha mais que fornecer, senão o pretexto adequado para se desfazerem dele.

Entretanto, Pontífices, Escribas e Anciãos do povo haviam acorrido ao Palácio dos Sumos Sacerdotes, avisados da prisão efetuada. À volta de Caifás encontrava-se, por conseguinte, reunido uma espécie de conselho. Aqui se levanta uma dificuldade cronológica. Os quatro Evangelhos não parecem concordar, a respeito do momento em que Jesus compareceu ante Caifás. Segundo São Mateus e São Marcos, tratava-se duma reunião noturna, precedendo o cantar do galo. Depois, sendo já dia, uma segunda reunião teria sido celebrada. No IV Evangelho não existe, porém, mais do que uma comparência de Jesus, essa noturna, enquanto que São Lucas, que, de igual modo, só a uma se refere, a diz realizada já de dia. Três razões nos impelem a seguir, de preferência, a cronologia dos dois primeiros, isto é, a admitir uma comparência durante a noite, sem caráter oficial, precedendo a que devia ter lugar ante o Sinédrio. Primeiro: semelhantes reuniões são, como se viu, perfeitamente análogas, tais como aquela em que fora decidida a prisão de Jesus Cristo; depois, é, sem dúvida, normal, sob o ponto de vista psicológico, que os indivíduos que resolveram levar avante aquele golpe, tenham tido todo o empenho de se reunirem, mesmo durante a noite, para observarem a vítima da qual se apoderaram; por fim, se não tivesse havido mais do que uma reunião noturna, que seria, evidentemente, a do Sinédrio, ela haveria sido duma ilegalidade tão patente que o formalismo judaico jamais a aprovaria, dado que a Mishna o diz ainda com toda a clareza: Os processos em que estiver em jogo a vida de um homem, deverão desenrolar-se à luz do dia.

Pode, portanto, reconstituir-se a intriga toda: saindo da casa de Anás, Jesus foi conduzido à presença daqueles que concordavam em fazê-lo morrer; quando romper do dia, será o Sinédrio convocado para julgar, mas a sentença haverá sido lavrada adiantadamente e o grande conselho terá fatalmente de se amarrar a ela. Assim, o povo, colhido de improviso, não poderá reagir, e as autoridades romanas serão colocadas na presença do faro consumado. Tudo isto concorda com os conhecidos desejos de Caifás; porque – não devemos esquecê-lo – (e São João, pelo menos, o recorda) fora ele quem invocara a razão de Estado e desejara que só um homem se sacrificasse pelo povo.

O Sumo Sacerdote interrogou Jesus a respeito dos seus discípulos e da sua doutrina. E Jesus respondeu-lhe: Falei abertamente ao povo inteiro; falei sempre na sinagoga e no Templo, onde todos os Judeus costumam reunir-se. Nunca disse em segredo coisa alguma. Por que motivo, pois, está a interrogar-me? Pergunta aos que me ouviram, quanto eu disse, pois que à minha doutrina, todos a conhecem muito bem.  Resposta tão hábil quanto exata; mantinha o silêncio a respeito dos discípulos, a fim de os não comprometerem, e colocava o problema no seu campo verdadeiro, o de um processo tendencioso em que todo o interrogatório é uma fraude. A tais palavras, um dos satélites deu uma bofetada em Jesus Cristo, dizendo: É assim que respondes ao Sumo Sacerdote? Se  não fosse evidentíssimo, desde o início do processo, que a preocupação da legalidade não embaraçava em coisa alguma os inimigos de Jesus, seria de observar que tal bofetada era de uma ilegalidade categórica; o Talmud fixará, um dia, penas contra os juízes que baterem ou mandarem bater num acusado, e São Paulo, segundo os Atos dos Apóstolos 23, 3, saberá muito bem declarar que as pancadas são condenadas pela Lei.

É, porém, inegável que estava decidido não empregar meios ou fórmulas legais, senão na medida em que elas pudessem ser aproveitadas contra os interesses de Jesus Cristo. Em todo o negócio de importância, duas testemunhas, pelo menos, eram julgadas necessárias, visto que a palavra de uma só não podia ser bastante. Mas não havia dúvida alguma em arranjá-las! Uma tal miscelânea de formalismo e de ilegalidade, vê-la-emos em todo o desenrolar deste drama judiciário. Ouviram-se, portanto, diversos indivíduos, mas os seus depoimentos eram assaz contraditórios. Os últimos que se apresentaram depuseram que tinham ouvido Jesus asseverar: Eu destruirei aquele Templo construído pela mão dos homens, e, em três dias hei de construir outro novo, que não será edificado por mão de homem. A lei judaica atribuía grande importância à exatidão dos pormenores em cada depoimento: no caso da santa Susana, não havia o grande profeta Daniel convencido das respectivas imposturas os dois velhos lúbricos, em virtude de um deles afirmar que avistara os culposos debaixo de um lentisco, e o outro garantir que se encontravam debaixo de um carvalho verde? São Mateus e São Marcos referem, aliás, de modo desigual, os depoimentos das testemunhas que eram falsas: segundo o primeiro, Jesus teria dito: Eu posso destruir o Templo;  segundo o outro, haveria declarado: Destrui-lo-ei, quando aquilo que, na verdade, Cristo dissera, como hipótese, foi: Destruí este Templo, e eu o reconstruirei no espaço de três dias. Os acusadores da virtuosa Susana tinham, segundo a Lei, sofridos o mesmo suplício que lhes merecera a sua vítima: sobre aqueles que acusaram Jesus, e não passavam de homens para todo o serviço de Caifás, nada de parecido nos foi mencionado.

O Sumo Sacerdote formulou, então, esta pergunta: Acaso és tu o Cristo, o filho do Bendito? Dize lá! Pelo Deus vivo te conjuro! Desta vez, perante uma intimação jurídica, feita pela autoridade competente, e em nome de Deus, Jesus nem mesmo pensou em se esquivar. Assim, responde: Tu o disseste, eu o sou. Também vos declaro que um dia haveis de ver o Filho do homem, sentado à direita do Divino Poder, surgindo sobre as nuvens do Céu. Então o Pontífice rasgou as vestes, exclamando: Blasfemou! Para que queremos nós mais testemunhos? Bem ouvistes a blasfêmia! Que vos parece? E todos responderam em uníssono: Merece a morte!

A cena é bem conduzida e produz o seu efeito. O ardiloso sacerdote conhece bem o método de empolgar a opinião. Contra Joana d’Arc, de igual modo, hão de teólogos de não menor habilidade usarem de análogos processos. Examinadas com rigor levariam as palavras proferidas à conclusão assassina dos Judeus? Caifás inutilmente infligiu à sua túnica a pena de ser despedaçada, na extensão de um palmo, ou seja, de oito centímetros, conforme era de regra quando um blasfemo erguia a voz, dado que nada é menos certo que o fato preciso, isto é, jurídico, da blasfêmia. Blasfemar é dirigir insultos à majestade de Deus;  mas para que tal atentado se fizesse, teria sido necessário que o nome sagrado, revelado a Moisés – o nome de Yahweh – fosse empregado, e não qualquer daqueles sobrenomes tão em voga,  como o Trono, o Bendito, o poder divino e, nem sequer, a própria abreviatura do nome divino – Yah; o Talmud explanará tais regras, longamente, com a devida precisão. Referindo-se ao Divino Poder, Jesus, ao tempo que afirmava a verdade da sua divina filiação, evitava o escândalo da blasfêmia. Ainda mesmo quando empregasse o vocábulo ultra-santo de Israel – o que, porém, ignoramos, pois que o texto evangélico está escrito em grego – não seria apenas o Pontífice que deveria rasgar as suas vestes, mas sim toda a assistência. Tem-se, no entanto, a impressão dum gesto de Caifás destinado a impressionar o auditório. De resto, para convencer um homem de blasfemo, seria indispensável todo um cerimonial complicado que o Tribunal conservou: Esconder duas testemunhas por detrás duma cortina, colocar o arguido bem à vista e interrogá-lo, justamente para que ele empregue, na resposta, o vocábulo santo, e obrigá-lo, finalmente, a retratar-se, antes de ficar registrada a sua falta: nada disto aparece observado naquele interrogatório.

Tanto mais que, dizer-se Messias, seria, porventura, blasfêmia? De modo algum. Seria, acaso, o sinedrita Nicodemos, que acreditava no messianismo de Jesus, um mero blasfemo? Parece que Caifás quer estabelecer, como princípio, que Jesus não tem direito algum a dizer-se Messias, o que não é suficiente para constituir uma base jurídica. Tudo quanto diz o inculpado sobre a glória do Messias e o seu regresso, não é mais do que uma consequência inevitável da declaração inicial, pois que aplica a si próprio a profecia de Daniel 7. Por conseguinte, a acusação de blasfemo não tem base. Quanto ao último argumento de Caifás, invocando a própria confissão de Jesus Cristo, era ainda duma ilegalidade mais patente que tudo o mais, porquanto a Lei considerava írrita e nula a confissão do acusado, quando não tivesse a confirmação de testemunhas, procurando impedir que um  homem doente ou devorado de vergonha pudesse, de tal modo, pôr legalmente fim à existência;  mas haverá necessidade de fórmulas, quando se trata de aniquilar um adversário político? Os fins, em casos tais, justificam os meios, e a justiça não serve senão para defraudar a equidade.

 

Pe. Juan de Maldonado

 

O Pe. Juan de Maldonado comenta: Caifás. Disse que primeiro foi levado a Caifás, e escreve de maneira que parece dar e a entender que muitas das coisas que nos conta ocorreram na casa de Anás; versão grega: a primeira negação de Pedro, o primeiro interrogatório de Cristo sobre os seus discípulos e sua doutrina, que ali onde recebeu a bofetada no rosto dada pelo servo. Muitos grandes autores, como Santo Agostinho e outros, pensam que tudo o que foi dito acima aconteceu na casa de Anás. Porém, esta sentença manifestamente é contradita pelos outros três evangelistas, que unânimes afirmam que as três negações de Pedro ocorreram na casa de Caifás. Ainda o mesmo São João disse com claridade que a primeira negação sucedeu na casa do pontífice; pois o discípulo conhecido do sumo sacerdote, introduziu Pedro na casa deste, e Anás não era pontífice, mas sim, sogro de Caifás, que era o pontífice daquele ano, como escreveu São João. É verdade que São Lucas havia dito que São João Batista começou a pregar a penitência sob os príncipes dos sacerdotes Anás e Caifás; mas não se deve entender que ambos eram pontífices, porque o cargo era único, mas que no ano anterior havia sido Anás pontífice, como nos disse Flávio Josefo, e como em ambos os anos pregou João Batista a penitência, por isso que dizem que o fez sob o pontificado de Anás e Caifás (O imediato antecessor de Caifás não foi seu sogro, mas seu cunhado Eleazar, ainda que durante o pontificado de ambos quem governou, na realidade, foi o velho Anás).

Porém, Santo Agostinho e outros autores se enganaram por não haver separado na transição de São João, tácita e algo obscura, com a que significa que Jesus Cristo foi levado da casa de Anás à de Caifás, e se não se lê com atenção o texto, não se nota: Conduziram-no primeiro a Anás, que era sogro de Caifás, o Sumo Sacerdote daquele ano. Caifás fora o que aconselhara aos judeus: É melhor que um só homem morra pelo povo. Ora, Simão Pedro, junto com outro discípulo, seguia Jesus. Esse discípulo era conhecido do Sumo Sacerdote e entrou com Jesus no pátio do Sumo Sacerdote (Jo 18, 13-15). Não disse claramente que Jesus Cristo fora passado de Anás para Caifás; porém, não significa quando afirma que primeiro foi levado a Anás. Indica, por conseguinte, que depois foi levado a Caifás; e ao dizer que aquele discípulo que era conhecido do pontífice havia entrado com Jesus Cristo no átrio do pontífice, como antes havia advertido que o pontífice era Caifás, ao acrescentar que introduziu a Pedro no átrio do pontífice e que ali foi interrogado pela porteira sobre se era discípulo de Jesus Cristo e o negou, não pode duvidar ninguém que as negações de Pedro e tudo quanto escreve depois sucederam na casa do pontífice Caifás.

O que vem a confirmar o erro dos ditos autores foi o inciso (frase que interrompe o sentido de outra) de São João na passagem 18, 24: E o enviou Anás atado ao pontífice Caifás; como se, depois da primeira negação de Pedro e o interrogatório narrado, Anás houvesse enviado a Cristo Jesus à casa de Caifás. Muitos pensam que estas palavras estão desarticuladas e devem ler-se depois do versículo 13: E levaram a Jesus primeiro à casa de Anás, que era sogro de Caifás, pontífice aquele ano; e a continuação: E o enviou Anás atado a Caifás. Deste modo, a frase e seu significado de maneira ajustada coincidem.

E, por que primeiro levaram Jesus Cristo à casa de Anás, sendo que ele não era o pontífice? São João dá a entender a razão: porque era sogro de Caifás; sem dúvida alguma, seu conselheiro.

E os príncipes dos sacerdotes. O original grego acrescenta e os anciãos.

E não encontraram. No original grego: Não acharam, apesar de que se apresentaram falsas testemunhas, não acharam; repetição esta última que nosso tradutor não leu ou não quis colocar, porém tem sua força. Que necessidade havia de testemunhas, quando os juízes estavam determinados a condenar a Cristo por direito ou contra direito? Queriam encobrir seu crime com aparência de justiça.

Posso destruir o templo de Deus. Por que chama o evangelista de testemunhas falsas, quando deram, ao parecer, um testemunho verdadeiro? Jesus Cristo havia dito que poderia reedificar o templo destruído em três dias (Jo 2, 19). Respondem Orígenes, São João Crisóstomo, São Jerônimo, São Beda, Teofilacto e Eutimio, que são chamadas de falsas testemunhas porque repetiram o que Jesus Cristo havia dito, porém, com má intenção, com outro sentido e também com palavras diferentes. Jesus Cristo não falava do templo material, mas do seu corpo, como São João escreve; e Jesus não havia dito: Posso destruir o templo de Deus; mas sim: Destruí vocês o templo de Deus; eu em três dias o levantarei (hebraísmo). As palavras de São Marcos 14, 58 são diferentes: Nós o ouvimos dizer: Eu destruirei este templo, feito por mãos, e depois de três dias o edificarei, e não por mãos. São Mateus diz que essas falsas testemunhas que disseram tais coisas, eram duas; os outros evangelistas não dão o número. Foram duas testemunhas porque eram subornadas pelos príncipes dos sacerdotes e anciãos, e, é claro, subornaram duas testemunhas porque a lei dizia: Na boca de duas ou três testemunhas está toda a palavra (Dt 17, 6). O mesmo aconteceu no caso de Santo Estêvão que subornaram outras duas falsas testemunhas (At 6, 13). Acrescenta São Marcos 14, 56, que não era congruente seu testemunho, que não eram testemunhas justas. Alguns dizem que as duas testemunhas não disseram a mesma coisa. Parece que o nosso tradutor entendeu assim; porém, as palavras do original grego dão um sentido diferente: e nem ainda assim era seu testemunho justo, isto é, suficiente para condenar a Jesus Cristo. Esta é a força daquele inciso: e nem ainda assim; isto é, ainda que afirmavam haver ouvido dizer a Cristo: Eu destruirei..., não acreditaram os pontífices que podiam condenar Cristo à morte por ter dito isso; pois quanto às testemunhas, entre si concordavam, já que ambas diziam as mesmas palavras e o mesmo sentido.

Então dirá alguém: Como Estêvão fora apedrejado sem mais delito que o afirmado por duas falsas testemunhas? Ouvimos que Jesus Nazareno destruirá este lugar (At 6, 14). Respondo que equivalia a muitas graves acusações aquela mentira: que Jesus era Deus, blasfêmia horrível para os judeus, e a lei mandava apedrejar ao blasfemador (Lv 24, 23); também que, segundo Estêvão, mudaria Cristo as tradições que deu Moisés (At 6, 14).

E levantando-se o príncipe dos sacerdotes. Não devia o juiz levantar-se, mas estar sentado; porém, não fala como juiz no tribunal, mas como sacerdote na sinagoga, onde o que falava ou lia se punha de pé, como em São Lucas 4, 16.

Não respondes? Para que responder, se a acusação apresentada contra Jesus Cristo nem para os sacerdotes parecia suficiente para uma condenação! Fala o mau juiz segundo sua paixão e converte em argumento de culpabilidade o silêncio de Cristo, quando devia interpretá-lo como prova da inutilidade das acusações. Como se Jesus Cristo calara porque lhe pesara a consciência. Então o sacerdote exagera na sua expressão dizendo: Nada respondes, diante de tão graves crimes que eles te lançam ao rosto?

Conjuro-te pelo Deus vivo. Que significa propriamente: Em nome de Deus e quase por seu mandato, te forço a que respondas tal coisa! Era frequente este modo de falar entre os judeus.

Se tu és o Cristo, Filho de Deus. Como vulgarmente ensinas e tu alguma vez tens chamado a ti mesmo. Pois por esta causa já em outras ocasiões haviam querido os judeus te apedrejar: porque se havia feito Filho de Deus (Jo 10, 31). Não estava agora em disputa sua filiação divina; porém, o pontífice o interroga sobre ela, porque buscava, fosse como fosse, ocasião de condená-lo, e como, em efeito, Jesus Cristo ia ensinar que era Filho de Deus, acreditava Caifás que não o negaria naquele processo, e não podia encontrar o juiz outro motivo melhor para condená-lo à morte que convencer-lhe de haver blasfemado alguma vez. Eram, pois, a seu juízo, grande blasfêmia chamar-se um Filho de Deus, porque ninguém podia ser natural Filho de Deus sem ser Deus.

Narra São Lucas 22, 66-67 que todas estas coisas sucederam sendo já de dia: Quando se fez dia, reuniu-se o conselho dos anciãos do povo, chefes dos sacerdotes e escribas, e levaram-no para o Sinédrio, dizendo: Se tu és o Cristo, dize-nos! Muitos são os que pensam que esta do terceiro evangelista é história deferente e que Jesus Cristo foi interrogado duas vezes sobre sua natureza: primeira pelo pontífice, antes da meia-noite, quando o apresentam a ele, e depois por toda a assembleia, ao amanhecer, porque, segundo alguns autores, a primeira vez parece que Cristo não respondera com claridade quando disse: Tu o dizes. Eu sou da opinião de Santo Agostinho que crê que nos achamos ante o mesmo passo do processo. E, quem acreditava que fora de novo interrogado Jesus Cristo sobre o mesmo, quando tão terminantemente havia respondido a primeira vez: Tu o dizes, ou, segundo São Marcos, ainda com maior claridade: Eu sou; e o pontífice entendeu tão bem que rasgou suas vestes e disse: Que necessidade temos de testemunhas? Todos ouviram a blasfêmia. Porém, como Mateus não expressou a circunstância de tempo e Lucas sim, quando já era dia, temos de acreditar que Mateus narrou por antecipação o fato, e não sem motivo, porque havia começado a expor as incidências do processo de Jesus Cristo na assembleia dos judeus, uma das quais foi a pergunta dita, para expor depois sem interrupção as três negações de Pedro.

O que São Mateus disse  sobre o que perguntou o pontífice, São Lucas 22, 66 põe na boca de todos os assistentes: Dize-nos se tu és o Cristo. São Mateus confia que mediu a conspiração do sumo sacerdote, São Lucas, não;  porém, não tem importância essas divergências que podem explicar-se de duas maneiras: o que lhe perguntou primeiro o pontífice e depois toda a assembleia, ou que o pontífice o fez em nome de todos, e, por isso, São Lucas o atribui aos do Sinédrio.

Tu o dizes. Tu o dizes e não eu, como se ele não afirmasse que era o Cristo. São Lucas cita que Cristo respondeu de outra maneira: Se tu és o Cristo, dize-nos! Ele respondeu: Se eu vos disser, não acreditareis, e se eu vos interrogar, não respondereis (Lc 22, 67-68). É provável que Jesus Cristo fora interrogado duas vezes sobre o mesmo; primeiro simplesmente e sem adjuração, ao que contestou como São Lucas nos disse: Dize-nos se tu és o Cristo; e depois, conjurado pelo pontífice, e então deu a solene resposta citada por São Mateus e São Marcos: Tu o dizes, eu sou, ou porque eu o sou (hebraísmo). Acreditam que Jesus disse as duas coisas.

Ele respondeu não somente o que lhe foi perguntado, mas disse também o que não lhe havia perguntado, pois se tratava de coisa muito importante, se era o Cristo, o Filho de Deus, ou não o era; e de nenhum modo convinha que naquelas circunstâncias o negasse ou o dissimulasse; mas, pelo contrário, que o confessasse com liberdade, porque veio a este mundo unicamente para isso, para que, como Filho de Deus, morresse pelos filhos de Adão. Acrescentou: Porém vos digo que vereis o Filho do homem sentado à direita de Deus vindo sobre as nuvens do céu.

Rasgou suas vestes. Era costume antigo de muitos povos rasgarem as vestes nos lutos e na indignação. Os judeus também faziam isso, principalmente em duas ocasiões: no duelo (Gn 37, 29-30) e quando ouviam alguma blasfêmia contra Deus. O pontífice disse que Cristo Jesus blasfemou, isto é, disse injúria contra Deus.

És réu de morte. Mandava a lei (Lv 24, 16) que o blasfemador fosse apedrejado, e por isso, nesta ocasião, os sacerdotes declaram o Salvador réu de morte.

Outros lhe davam bofetadas.  Jesus foi ferido com paus ou com as sandálias que os judeus usavam; dizem que os judeus usaram as sandálias contra a face do Senhor, para que fosse maior a agressão. Marcos e Lucas escrevem que primeiro taparam os olhos do Salvador.

Profetiza-nos. Porque Jesus tinha fama de ser profeta e Ele mesmo havia dito ser o Filho de Deus. E para zombar d’Ele taparam os seus olhos e o golpearam dizendo: Profetiza-nos quem te bateu.

 

 

MENSAGENS PARA A VIDA

 

1.ª mensagem: Os bons são perseguidos.

 

Jesus Cristo, Luz do mundo, realizou somente o bem e foi terrivelmente perseguido pelos inimigos: “Os que prenderam Jesus levaram-no ao Sumo Sacerdote Caifás, onde os escribas e os anciãos estavam reunidos” (Mt 26, 57).

Quem segue os passos de Jesus Cristo na realização das boas obras será perseguido, porque os inimigos da luz não suportam a presença do justo: “Se eles me perseguiram, também vos perseguirão” (Jo 15, 20).

 

2.ª mensagem: “Prender” a Jesus Cristo no nosso coração.

 

Nosso Senhor Jesus Cristo foi preso com violência e levada ao Sumo Sacerdote Caifás: “Os que prenderam Jesus levaram-no ao Sumo Sacerdote Caifás” (Mt 26, 57).

Não podemos maltratar um Senhor que nos ama apaixonadamente; mas sim, devemos “prendê-lo” com muito amor e respeito no nosso coração.

 

3.ª mensagem: Atar a Jesus Cristo com os laços do amor.

 

Os inimigos ataram o Senhor com agressividade: “Então a coorte, o tribuno e os guardas dos judeus prenderam a Jesus e o ataram”(Jo 18, 12).

Devemos viver unidos ao Senhor que cuida de nós, atando-o não com a “corda” áspera do pecado; mas sim, com os laços do verdadeiro amor: “Cordas que amarrastes a Jesus, prendei-me com Jesus” (Santo Afonso Maria de Ligório).

 

4.ª mensagem: Não somos melhores que o Salvador.

 

Jesus Cristo realizou somente o bem e foi preso pelos inimigos: “Prenderam-no e levaram-no, introduzindo-o na casa do Sumo Sacerdote” (Lc 22, 54).

Não somos melhores que o Salvador! Não podemos desistir de caminhar em busca da Vida Eterna por causa das perseguições. O Senhor sofreu... os seus seguidores também sofrem: “O servo não é maior que seu senhor” (Jo 15, 20).

 

5.ª mensagem: Inconstância humana.

 

Jesus Cristo foi preso e levado ao Sumo Sacerdote: “Prenderam-no e levaram-no, introduzindo-o na casa do Sumo Sacerdote” (Lc 22, 54). Quanta diferença entre a entrada solene do Salvador em Jerusalém no domingo de ramos, e esta nova entrada! Quanta inconstância humana!

É preciso tomar muito cuidado com as criaturas... elas mudam continuamente e estão prontas para destruir amigos e inimigos: “Guardai-vos dos homens” (Mt 10, 17).

 

6.ª mensagem: Confiar somente em Deus.

 

O Senhor que arrastava multidões e andava cercado de Apóstolos e Discípulos, agora está só... Ele e os inimigos: “Prenderam-no e levaram-no, introduzindo-o na casa do Sumo Sacerdote” (Lc 22, 54). Os que disseram: “Hosana ao Filho de Davi”, estavam do lado dos inimigos.

Devemos confiar somente em Deus, porque Ele jamais nos abandonará. O homem muda continuamente e possui um coração traiçoeiro: “Só em Deus eu coloquei minha esperança!” (Sl 39, 8).

 

7.ª mensagem: Serenidade e doçura diante dos inimigos.

 

Jesus Cristo não perdeu a serenidade e doçura diante de Caifás: “Os que prenderam Jesus levaram-no ao Sumo Sacerdote Caifás, onde os escribas e os anciãos estavam reunidos” (Mt 26, 57).

Infeliz da pessoa que se desespera e se irrita diante dos perseguidores. É preciso conservar a serenidade e a doçura diante daqueles que nos odeiam: “A ninguém pagueis o mal com o mal” (Rm 12, 17).

 

8.ª mensagem: Os inimigos do bem fazem o mal às escondidas.

 

Os juízes e anciãos daquele povo estavam tão obcecados, que para não perderem tempo e condenarem o Senhor, reuniram-se mesmo sendo tarde da noite: “Os que prenderam Jesus levaram-no ao Sumo Sacerdote Caifás, onde os escribas e os anciãos estavam reunidos” (Mt 26, 57). Já era tarde na noite... o ódio mantinha-os acordados.

Quem odeia o bem faz o mal à “noite”, isto é, às escondidas... usa de injustiças para denegrir e destruir o próximo: “Quem calunia seu próximo em segredo eu o farei calar” (Sl 100, 5).

 

9.ª mensagem: Os filhos das trevas realizam as coisas com irregularidades para prejudicarem os filhos da luz.

 

Estavam todos reunidos esperando a chegada do Senhor... era tarde da noite e uma reunião cheia de irregularidades: “Os que prenderam Jesus levaram-no ao Sumo Sacerdote Caifás, onde os escribas e os anciãos estavam reunidos” (Mt 26, 57).

Milhares de seguidores de Jesus Cristo sofrem nas mãos de autoridades injustas e maldosas; pessoas que realizam reuniões e julgamentos irregulares para destruírem os amigos do Senhor: “E, por causa de mim, sereis conduzidos à presença de governadores e de reis” (Mt 10, 18).

 

10.ª mensagem: Paciência diante das injúrias.

 

O Salvador foi injuriado enquanto era levado à presença de Caifás... e suportou tudo com paciência: “Os que prenderam Jesus levaram-no ao Sumo Sacerdote Caifás” (Mt 26, 57).

Devemos, durante a nossa caminhada nesse mundo, suportar com paciência as injúrias e zombarias que vem dos nossos perseguidores: “Bem-aventurado o homem que suporta com paciência a provação!” (Tg 1, 12).

 

11.ª mensagem: Abraçar os sofrimentos de cada dia.

 

No caminho do Getsêmani até a casa de Caifás o Senhor padeceu graves dores, porque era levado por seus inimigos com grande crueldade... dando-lhe golpes e empurrando-o: “Os que prenderam Jesus levaram-no ao Sumo Sacerdote Caifás” (Mt 26, 57). Jesus Cristo não desistiu de caminhar!

Devemos abraçar com amor e alegria os sofrimentos de cada dia... esse é o caminho que agrada a Deus: “Portanto, é no sofrer e no abraçar com alegria as coisas desagradáveis e contrárias ao nosso amor próprio que se conhece quem ama de verdade a Jesus Cristo” (Santo Afonso Maria de Ligório).

 

12.ª mensagem: Não se apoiar nas criaturas.

 

Os Apóstolos fugiram e Jesus Cristo foi levado só ao Sumo Sacerdote Caifás: “Os que prenderam Jesus levaram-no ao Sumo Sacerdote Caifás” (Mt 26, 57). Foi abandonado por todos!

Infeliz da pessoa que busca apoio nas criaturas! O coração do homem é um abismo de falsidade: “Cessai de confiar no homem, cuja vida se prende por um fôlego” (Is 2, 22).

 

13.ª mensagem: Não deixar de percorrer o caminho da santidade por causa dos obstáculos.

 

Do Getsêmani para a casa de Caifás, talvez o Senhor tenha tropeçado nas pedras ao passar pela corrente do Cedron: “Prenderam-no e levaram-no, introduzindo-o na casa do Sumo Sacerdote” (Lc 22, 54).

O caminho da santidade é cheio de “pedras”, isto é, de obstáculos; não podemos deixar de caminhar por causa das dificuldades: “Não progredir é regredir” (Santa Catarina de Sena).

 

14.ª mensagem: Firmeza diante dos desprezos.

 

Jesus Cristo foi tratado com desprezo pelos soldados no caminho para a casa de Caifás: “Prenderam-no e levaram-no, introduzindo-o na casa do Sumo Sacerdote” (Lc 22, 54). O Senhor permaneceu firme, não se prostrou à beira do caminho.

Devemos nos manter firmes e resolutos diante do desprezo dos zombadores... imitando o exemplo do nosso Mestre: “Quando vem a tormenta, desaparece o ímpio, mas o justo está firme para sempre” (Pr 10, 25).

 

15.ª mensagem: Tratar os perseguidores com mansidão.

 

Jesus Cristo, no caminho para a casa de Caifás, foi maltratado pelos soldados... mas não faltou com a mansidão:  “Prenderam-no e levaram-no, introduzindo-o na casa do Sumo Sacerdote” (Lc 22, 54).

Feliz da pessoa que permanece mansa diante das provocações dos inimigos: “Como são caros a Jesus Cristo os corações mansos. Recebendo ofensas, desprezos, calúnias, perseguições e até mesmo pancadas e ferimentos, não se irritam contra quem os injuria ou maltrata” (Santo Afonso Maria de Ligório).

 

16.ª mensagem: Os amigos das trevas trabalham para ofuscar a luz.

 

Os inimigos de Jesus Cristo o odiavam! Prenderam-no para tentar ofuscar a luz do seu bom exemplo e da sua santidade de vida: “Então a coorte, o tribuno e os guardas dos judeus prenderam a Jesus e o ataram”(Jo 18, 12). Eles não suportavam a simples presença do Senhor!

Quem segue os passos de Jesus Cristo imitando as suas virtudes, deixa os inimigos revoltados e inquietos... esses começam a tramar contra o amigo do Senhor: “Cerquemos o justo, porque nos incomoda e se opõe às nossas ações, nos censura as faltas contra a Lei, nos acusa de faltas contra a nossa educação” (Sb 2, 12).

 

17.ª mensagem: Os medrosos seguem a Jesus Cristo de longe.

 

São Pedro, com medo dos inimigos, seguia a Jesus Cristo de longe: “Pedro seguia de longe” (Lc 22, 54).

Os medrosos se afastam do Senhor quando os inimigos “uivam” furiosamente. No “exército” de Deus não existe lugar para os medrosos: “Quem estiver tremendo de medo volte e observe do monte Gelboé” (Jz 7, 3). Não basta seguir a Jesus... é preciso segui-lo de perto.

 

18.ª mensagem: Viver às margens.

 

São Pedro não quis se aproximar do Mestre para ajudá-lo, mas permaneceu afastado: “Pedro seguiu-o de longe...” (Mt 26, 58).

Milhões de pessoas dizem seguir a Jesus Cristo, mas quando surgem dificuldades e obstáculos se afastam e “observam” o Senhor de longe: “Acovardam-se os que ainda se não fundamentam na virtude” (Frei Luís de Granada).

 

19.ª mensagem: Pecado mortal.

 

O Apóstolo Pedro caminhou distante do Senhor... percorreu outro caminho: “Pedro seguiu-o de longe...” (Mt 26, 58).

Quem vive no pecado mortal caminha longe de Jesus Cristo... a Luz Eterna não pode habitar num coração cheio de trevas: “O pecado mortal é uma transgressão da lei divina, pela qual se falta gravemente aos deveres para com Deus, para com o próximo, ou para conosco. Chama-se mortal porque dá a morte à alma, fazendo-a perder a graça santificante, que é a vida da alma assim como a alma é a vida do corpo” (São Pio X).

 

20.ª mensagem: Respeito humano.

 

São Pedro permaneceu com Jesus Cristo até surgir uma dificuldade pelo caminho... depois, vergonhosamente, se afastou do Mestre: “Pedro seguiu-o de longe...” (Mt 26, 58). O respeito humano tirou de São Pedro a antiga coragem e o primitivo zelo.

Milhões de pessoas dizem seguir a Jesus Cristo enquanto está tudo bem, mas o abandonam quando são colocadas à prova... sentem vergonha de seguir a Nosso Senhor. O respeito humano já levou muitas pessoas para a perdição eterna: “Quantas vítimas não se imolam todos os dias ao ídolo do respeito humano!” (Pe. Alexandrino Monteiro).

 

21.ª mensagem: Indiferença.

 

O Apóstolo São Pedro agiu com total indiferença para com o Senhor que o havia instruído durante três anos: “Pedro seguiu-o de longe...” (Mt 26, 58).

Muitas pessoas dizem ser amigas de Jesus Cristo... mas o tratam com indiferença e descaso quando são convidadas a manifestar a fé no Filho de Deus.

 

22.ª mensagem: Frieza.

 

São Pedro acompanhou de longe a Jesus Cristo... com muita frieza: “Pedro seguiu-o de longe...” (Mt 26, 58).

Muitos tratam a Jesus Cristo com o máximo de frieza... preferem caminhar longe do Senhor para não se comprometerem.

 

23.ª mensagem: Quem caminha longe de Jesus Cristo está mais próximo de negá-lo.

 

São Pedro seguia o Senhor de longe, porque estava próximo de negá-lo: “Pedro seguiu-o de longe...” (Mt 26, 58).

Infeliz da pessoa que caminha longe de Jesus Cristo, vivendo no pecado mortal... nas horas difíceis não terá forças para professar a fé no Filho de Deus e o negará.

 

24.ª mensagem: Não desanimar.

 

A adesão e afeto de Pedro a Jesus Cristo não eram ainda suficientemente sobrenaturais; à coragem e lealdade de antes sucede agora o desânimo. Esta situação desembocará na tripla negação de Pedro: “Pedro seguiu-o de longe...” (Mt 26, 58).

O seguidor de Jesus Cristo, por mais nobres que sejam os seus sentimentos, também não terá a fortaleza para ser fiel às exigências da fé se não fundamentar a sua vida numa piedade profunda: “Exercita-te na piedade. A piedade é proveitosa para tudo, pois contém a promessa da vida presente e futura” (1 Tm 4, 7-8).

 

25.ª mensagem: Abandonar o verdadeiro Amigo para viver com as criaturas.

 

O Apóstolo São Pedro abandonou a amizade com Jesus Cristo para ficar com os seus perseguidores: “Pedro seguira-o de longe, até o interior do pátio do Sumo Sacerdote, e, sentado junto com os criados” (Mc 14, 54).

Infelizmente, muitos seguidores de Nosso Senhor o abandonam nas horas difíceis e se unem aos seus inimigos. Desprezam o Eterno para se apoiarem no que passa: “Tudo passa, tudo morre. Logo, para que apegar-me a coisas transitórias que não me levam a Deus, que é o meu fim? As honras, as riquezas não dão a felicidade. Os aplausos e o carinho se apagam, e se extinguem por qualquer desengano. Só Deus pode nos satisfazer. Ele é a verdade e o bem imutável. Ele é o amor eterno. Dia virá na vida em que lutarás sem ninguém. Quem será então teu apoio? Deus. A morte também é um abismo de mistérios e tu estarás só com Deus. Por que, pois, apegar-se a criaturas que passam, que são inconstantes e que morrem?” (Santa Teresa dos Andes).

 

26.ª mensagem: Cruzar os braços nas horas difíceis.

 

São Pedro “cruzou” os braços no momento em que Jesus Cristo precisava da sua ajuda: “... sentado junto com os criados, aquecia-se ao fogo” (Mc 14, 54).

Milhões de pessoas que se dizem seguidoras de Jesus Cristo o abandonam nas horas de provações e cruzam os braços, isto é, buscam o mais fácil e cômodo: “Muitos seguem a Jesus até ao partir do pão, poucos, porém, até ao beber do Cálice da sua paixão” (Tomás de Kempis).

 

27.ª mensagem:  Egoísmo.

 

Enquanto Jesus Cristo sofria nas mãos dos inimigos, São Pedro se aproximou do fogo para se aquecer: “... sentado junto com os criados, aquecia-se ao fogo” (Mc 14, 54).

O mundo está cheio de pessoas egoístas que buscam exageradamente o próprio interesse, principalmente a comodidade, desprezando o próximo nas suas dificuldades: “Sendo o egoísmo tão perigoso, ocorre fugir dele e estar atento para que não penetre na alma” (Santa Catarina de Sena).

 

28.ª mensagem: Aproximar-se de Deus para recuperar o “fogo” do amor.

 

São Pedro acompanhava de longe a Jesus Cristo e se aproximou das criaturas para se aquecer: “... sentado junto com os criados, aquecia-se ao fogo” (Mc 14, 54).

Quando o “fogo” do amor de Deus esfriar em nosso coração, não devemos buscá-lo nas criaturas... mas em Jesus Cristo nosso Deus Eterno e fonte do Amor Infinito: “Pois o nosso Deus é um fogo abrasador!” (Hb 12, 29).

 

29.ª mensagem: Quem caminha longe de Deus é vencido pelos inimigos da alma: o mundo, o Demônio e a carne.

 

São Pedro entrou no pátio onde estavam os criados se aquecendo: “Pedro seguira-o de longe, até o interior do pátio do Sumo Sacerdote, e, sentado junto com os criados, aquecia-se ao fogo” (Mc 14, 54). Pedro foi vencido... em seguida negou covardemente o Mestre.

Quem vive longe de Deus será derrotado pelos três inimigos da alma. Esses inimigos não dão descanso para os amigos de Jesus Cristo: “Aquecer-se ao fogo com os criados no átrio. O átrio do sacerdote é o mundo; os criados são os demônios, e o fogo é o desejo carnal” (Pseudo-Jerônimo).

 

30.ª mensagem: Cuidado com o fogo maligno.

 

São Pedro entrou no átrio para buscar alívio temporal naquela noite fria: “Pedro seguira-o de longe, até o interior do pátio do Sumo Sacerdote, e, sentado junto com os criados, aquecia-se ao fogo”(Mc 14, 54).

Há o fogo da caridade (Lc 12, 49). Há também o fogo da concupiscência (Os 7, 4): “Esse fogo aceso no átrio de Caifás pelo espírito maligno animava as línguas dos perseguidores para negar e blasfemar contra Jesus Cristo” (São Beda).

 

31.ª mensagem: O coração sem caridade é frio.

 

São Pedro entrou no átrio... sendo que naquele palácio os corações estavam frios de caridade para com o Senhor: “Pedro seguira-o de longe, até o interior do pátio do Sumo Sacerdote, e, sentado junto com os criados, aquecia-se ao fogo” (Mc 14, 54).

Quem não possui Jesus no coração ou quem trama contra Ele não possui a verdadeira caridade, mas tem um coração frio e indiferente porque está cheio de vícios: “E pelo crescimento da iniquidade, o amor de muitos esfriará” (Mt 24, 12).

 

32.ª mensagem: Falsidade.

 

São Pedro no Getsêmani defendeu a Nosso Senhor usando uma espada; agora, vendo o Senhor sendo maltratado pelos inimigos se junta aos criados para se aquecer: “Pedro seguira-o de longe, até o interior do pátio do Sumo Sacerdote, e, sentado junto com os criados, aquecia-se ao fogo” (Mc 14, 54).

Milhares de pessoas pregam sobre Jesus Cristo e o defende enquanto tudo está bem; mas nas provações o ignoram... são os falsos seguidores: “Muitos amam a Jesus, enquanto não lhes sobrevêm adversidades” (Tomás de Kempis).

 

33.ª mensagem: Por Jesus devemos enfrentar todos os perigos.

 

São Pedro seguia a Jesus Cristo de longe, moralmente abatido, desconcertado; mas com valentia entra no átrio da casa de Caifás: “Pedro seguira-o de longe, até o interior do pátio do Sumo Sacerdote” (Mc 14, 54).

Nada nesse mundo deve nos intimidar na busca de Jesus Cristo. Por amor a Ele devemos enfrentar todas as dificuldades, perseguições e obstáculos: “Quem nos separará do amor de Cristo? A tribulação, a angústia, a perseguição, a fome, a nudez, o perigo, a espada? Pois estou convencido de que nem a morte nem a vida, nem os anjos nem os principados, nem o presente nem o futuro, nem os poderes, nem a altura, nem a profundeza, nem qualquer outra criatura poderá nos separar do amor de Deus manifestado em Cristo Jesus, nosso Senhor” (Rm 8,35.38-39).

 

34.ª mensagem: Manter a calma diante do interrogatório feito pelos inimigos.

 

Jesus Cristo manteve a calma diante do interrogatório feito pelo inimigo: “Levantando então o Sumo Sacerdote no meio deles, interrogou a Jesus dizendo: ‘Nada respondes? O que testemunham estes conta ti?’” (Mt 26, 62).

Devemos manter a calma diante das perguntas constrangedoras feitas por pessoas que nos perseguem: “A calma impede que se cometam graves erros” (Ecl 10, 4).

 

35.ª mensagem: Insolência das criaturas.

 

Um homem perverso ousa interrogar insolentemente ao eterno Juiz: “Levantando então o Sumo Sacerdote no meio deles, interrogou a Jesus dizendo: ‘Nada respondes? O que testemunham estes conta ti?’” (Mt 26, 62). Onde pode chegar o atrevimento de uma pessoa má!

Milhares de pessoas se acham donas da verdade e querem ocupar o lugar de Deus. Seguem as próprias ideias e desprezam abertamente o que Deus ordena: “Eles trocaram a verdade de Deus pela mentira e adoraram a criatura em lugar do Criador” (Rm 1, 25).

 

36.ª mensagem: Calar-se diante das perguntas embaraçosas.

 

Nosso Senhor não foi arrogante, mas calou-se diante do inimigo: “Jesus, porém, ficou calado” (Mt 26, 63).

Calar-se diante dos inimigos que fazem perguntas embaraçosas é sinal de grande sabedoria: “Eu disse: ‘Vou guardar meu caminho, para não pecar com a língua; vou guardar minha boca com mordaça, enquanto o ímpio estiver à minha frente’” (Sl 39, 2).

 

37.ª mensagem: Deixar a iniquidade mentir a si mesma.

 

Jesus Cristo, o Deus da verdade, ficou calado diante dos iníquos. Nosso Senhor conhecia muito as injustiças dos inimigos: “Jesus, porém, ficou calado” (Mt 26, 63).

Não devemos perder tempo com as pessoas mentirosas nem saciar suas curiosidades.

 

38.ª mensagem: Calar os inimigos com o nosso bom exemplo.

 

O Conselho procurava um falso testemunho para condenar o Senhor à morte; mas não encontraram: “Ora, os chefes dos sacerdotes e todo o Sinédrio procuravam um falso testemunho contra Jesus, a fim de matá-lo, mas nada encontraram, embora se apresentassem muitas falsas testemunhas” (Mt 26, 59-60).

Quem vive santamente não teme as calúnias dos inimigos... o seu bom exemplo tapa a boca de todos: “Pois esta é a vontade de Deus que, fazendo o bem, tapeis a boca à ignorância dos insensatos” (1 Pd 2, 15). Uma vida sem mancha é a melhor defesa.

 

39.ª mensagem: Deus não peca.

 

O Conselho procurava algo de errado em Jesus Cristo para condená-lo, mas não encontrou... Deus não pode pecar: “... os chefes dos sacerdotes e todo o Sinédrio procuravam um falso testemunho contra Jesus, a fim de matá-lo, mas nada encontraram” (Mt 26, 59-60).

Servimos ao Deus Eterno que não pode pecar. Contemplemos a santidade de Nosso Senhor e imitemos o seu exemplo: “Tornai-vos, pois, imitadores de Deus, como filhos amados” (Ef 5, 1).

 

40.ª mensagem: Os poderosos do mundo também cometem injustiça.

 

Os juízes, cujo ofício era proteger o inocente, procuravam testemunhas falsas para condenar o Senhor: “... os chefes dos sacerdotes e todo o Sinédrio procuravam um falso testemunho contra Jesus, a fim de matá-lo, mas nada encontraram” (Mt 26, 59-60).

Muitos poderosos desse mundo: juízes, promotores, delegados... sedentos de vingança e para proteger pessoas criminosas, voltam as costas para a justiça e condenam muitos inocentes: “Que os poderosos reunidos me condenem; o que me importa é o vosso julgamento!” (Sl 118, 23).

 

41.ª mensagem: Não atender à voz da paixão.

 

Se fossem chefes honestos não atenderia à voz da paixão, mas ficariam do lado de Jesus Cristo: “... os chefes dos sacerdotes e todo o Sinédrio procuravam um falso testemunho contra Jesus, a fim de matá-lo, mas nada encontraram” (Mt 26, 59-60). O ódio contra Jesus Cristo “devorava” seus corações.

As paixões desordenadas cegam, maculam e fatigam a alma... enfraquecem a vontade. O escravo das paixões despreza o caminho da luz para seguir as trevas: “As paixões são como rapazinhos inquietos e descontentes, que sempre estão pedindo à mãe ora isto ora aquilo, e não ficam satisfeitos” (São João da Cruz).

 

42.ª mensagem: Dizer a verdade aos inimigos e perseguidores.

 

Jesus Cristo não tremeu nem se intimidou diante do interrogatório, mas disse a verdade para todos: “E o Sumo Sacerdote lhe disse: ‘Eu te conjuro pelo Deus Vivo que nos declares se tu és o Cristo, o Filho de Deus’. Jesus respondeu: ‘Tu o disseste. Aliás, eu vos digo que, de ora em diante, vereis o Filho do Homem sentado à direita do Poderoso e vindo sobre as nuvens do céu’” (Mt 26, 63-64).

Não podemos esconder a verdade nem adulterá-la por respeito ou medo dos perseguidores; mas devemos pregá-la abertamente: “Enviada e evangelizadora, a Igreja envia também ela própria evangelizadores. É ela que coloca em seus lábios a Palavra que salva, que lhes explica a mensagem de que ela mesma é depositária, que lhes confere o mandato que ela própria recebeu e que, enfim, os envia a pregar. E a pregar, não as suas próprias pessoas ou as suas ideias pessoais, mas sim um Evangelho do qual nem eles nem ela são senhores e proprietários absolutos, para dele disporem a seu bel-prazer, mas de que são os ministros para transmiti-lo com a máxima fidelidade”(Bem-aventurado Paulo VI).

 

43.ª mensagem: Hipocrisia humana.

 

Caifás, como se estimasse saber a verdade, disse a Jesus Cristo: “E o Sumo Sacerdote lhe disse: ‘Eu te conjuro pelo Deus Vivo que nos declares se tu és o Cristo, o Filho de Deus’” (Mt 26, 63). Hipocrisia e malícia requintada! Se Jesus negar, será condenado, porque antes reivindicou para si esta dignidade; se afirmar, o condenarão como blasfemador. Jesus Cristo podendo livrar-se da dificuldade, não o quis em respeito ao nome de Deus e por amor a nós.

Devemos nos manter firmes na fé diante da hipocrisia dos homens. Caso seja preciso, devemos sacrificar a vida do que a fé, a inocência ou a glória de Deus: “Detestarás toda a hipocrisia e tudo o que é desagradável ao Senhor” (Didaqué).

 

44.ª mensagem: Cuidado para não deixar a graça de Deus passar.

 

O pontífice ouviu a verdade dos lábios de Jesus Cristo e rasgou as vestes ao invés de adorá-lo como Deus verdadeiro: “O Sumo Sacerdote, então, rasgando as suas túnicas” (Mc 14, 63).

Milhões de pessoas ouvem a verdade e não mudam de vida, não a seguem... preferem “rasgar” as vestes ao invés de abrir o coração para Deus: “Rasgai os vossos corações, e não as vossas roupas” (Jl 2, 13).

 

45.ª mensagem: Voltar as costas para a verdade.

 

Os inimigos não suportaram ouvir a verdade e a chamaram de blasfêmia: “O Sumo Sacerdote então rasgou suas vestes, dizendo: ‘Blasfemou! Que necessidade temos ainda de testemunhas? Vede: vós ouvistes neste instante a blasfêmia. Que pensais?’ Eles responderam: ‘É réu de morte’” (Mt 26, 65-66).

Milhões de pessoas não suportam ouvir a verdade e a desprezam com fúria e zombaria... preferem seguir o caminho da mentira e da escuridão: “Pois virá um tempo em que alguns não suportarão a sã doutrina” (2 Tm 4, 3).

 

46.ª mensagem:  Quem diz a verdade é odiado.

 

Jesus Cristo pregou a verdade e foi odiado: “Eles responderam: ‘É réu de morte’” (Mt 26, 66).

Muitas pessoas são odiadas por causa da verdade... o mundanos não querem ouvi-la: “A verdade gera o ódio” (Santo Agostinho).

 

47.ª mensagem: Quem prega a verdade pode ser agredido até fisicamente.

 

Sendo Jesus Cristo, nosso Salvador, declarado réu de morte, puseram-se todos a maltratá-lo como a um malfeitor: “E cuspiram-lhe no rosto e o esbofetearam. Outros lhe davam bordoadas, dizendo: ‘Faze-nos uma profecia, Cristo: quem é que te bateu?’” (Mt 26, 67-68).

Não podemos deixar de pregar a verdade por medo de sermos agredidos fisicamente; pelo contrário, devemos imitar o exemplo dos Apóstolos que se alegraram diante das agressões: “Chamaram de novo os apóstolos e açoitaram-nos com varas... Quanto a eles, saíram do recinto do Sinédrio regozijando-se por terem sido achados dignos de sofrer pelo Nome de Jesus” (At 5, 40-41).

 

48.ª mensagem: Sacrilégio.

 

Quem recebe a Santíssima Eucaristia em pecado mortal imita a crueldade daqueles homens que injuriaram o Senhor: “E cuspiram-lhe no rosto e o esbofetearam. Outros lhe davam bordoadas, dizendo: ‘Faze-nos uma profecia, Cristo: quem é que te bateu?’” (Mt 26, 67-68).

Infeliz da pessoa que se aproxima da Santíssima Eucaristia em pecado mortal. Ela imita o péssimo exemplo dos carrascos que feriram o Senhor: “Quem recebe a Santíssima Eucaristia estando em pecado mortal recebe-se na verdade o corpo de Jesus Cristo, não, porém, as graças ligadas ao Sacramento. Comete-se um pecado enorme: é o crime de Judas Iscariotes” (Monsenhor Cauly).

 

49.ª mensagem: Nosso Senhor não ameaçou os inimigos.

 

Cuspiram na Sagrada Face do Salvador! Ele é o Cordeiro de Deus e chegou a hora em que se entrega aos sofrimentos e bebe o cálice de amargura, em que suporta também pacientemente esta criminosa ignomínia: “E cuspiram-lhe no rosto e o esbofetearam” (Mt 26, 67).

Devemos suportar, por amor a Jesus Cristo, as injustiças e zombarias dos perseguidores sem ameaçá-los... assim nos unimos ao Senhor que não ameaçou os seus carrascos: “Quando injuriado, não revidava; ao sofrer, não ameaçava” (1 Pd 2, 23).

 

50.ª mensagem: Ignoraram a beleza de Jesus Cristo.

 

Os inimigos contemplaram a beleza do Filho de Deus e a ignoraram... preferiram cuspir na belíssima Face do Redentor: “E cuspiram-lhe no rosto e o esbofetearam” (Mt 26, 67).

Os mundanos têm os olhos fechados, não veem a verdadeira beleza de Deus... e, assim, seguem a lama do mundo: “O mundo não é nada. Só Deus é tudo... o mundo nada tem de bom e de estável. Seus bens não passam de vaidade, decepção e anarquia. Suas promessas são estéreis, falsas e pérfidas. Suas honras, seus prazeres e suas amizades geram a escravidão, o pecado e a apostasia” (São Pedro Julião Eymard).

 

51.ª mensagem: Desprezaram e agrediram a Jesus Cristo.

 

Ao invés dos carrascos beijarem e adorarem a Face do Salvador, preferiram esbofeteá-la com violência e maldade: “E cuspiram-lhe no rosto e o esbofetearam” (Mt 26, 67).

Hoje, infelizmente, milhões de inimigos de Nosso Senhor desprezam, profanam e destroem os sacrários onde está o Santíssimo Corpo do Salvador... pisando e sujando a sua Santíssima Face: “Jesus é muito ofendido na Eucaristia pelas múltiplas irreverências cometidas... cujo número e malícia causam admiração aos próprios demônios” (São Pedro Julião Eymard).

 

52.ª mensagem: Não perder a oportunidade de se aproximar do Senhor.

 

Os carrascos tiveram uma preciosa oportunidade para mudarem de vida... estavam próximos do Senhor, bastava pedir-lhe perdão; mas não, jogaram tudo fora: “E cuspiram-lhe no rosto e o esbofetearam” (Mt 26, 67).

São milhões os que ouvem a Palavra de Deus, recebem bons conselhos, estudam catequese, leem livros piedosos e até já receberam a Comunhão e foram crismados... “estiveram” com o Salvador, mas jogaram fora a oportunidade e preferiram seguir as trevas: “Com efeito, se, depois de fugir às imundícies do mundo pelo conhecimento de nosso Senhor Jesus Cristo, de novo são seduzidos e se deixam vencer por elas, o seu último estado se torna pior do que o primeiro. Assim, melhor lhes fora não terem conhecido o caminho da justiça do que, após tê-lo conhecido, desviarem-se do santo mandamento que lhes foi confiado. Cumpriu-se neles a verdade do provérbio: O cão voltou ao seu próprio vômito, e: ‘A porca lavada tornou a revolver-se na lama’” (2 Pd 2, 20-22).

 

53.ª mensagem: Muitos se aproximam de Jesus Cristo para se condenarem ao inferno eterno.

 

Esses carrascos estavam próximos do Salvador: contemplaram a sua Santíssima Face, falaram com Ele, tocaram no seu Santo Corpo... mas não quiseram segui-lo, jogaram tudo fora... se perderam: “E cuspiram-lhe no rosto e o esbofetearam” (Mt 26, 67).

Milhares de pessoas se aproximam de Jesus Cristo e segue-o até certo ponto; mas depois desistem de segui-lo e se enveredam pelo caminho da maldade e das trevas. Conheceram o Salvador para se condenarem ao inferno: “De fato, os que uma vez foram iluminados — que saborearam o dom celeste, receberam o Espírito Santo, experimentaram a beleza da palavra de Deus e as forças do mundo que há de vir — e, não obstante, decaíram, é impossível que renovem a conversão uma segunda vez, porque da sua parte crucificam novamente o Filho de Deus e o expõem às injúrias” (Hb 6, 4-6). Infeliz da pessoa que não corresponde à formação recebida!

 

54.ª mensagem: Deus vê tudo.

 

Esses homens vendaram a face do Senhor para se ocultarem ao seu olhar. Condenaram-se a nunca mais ver Jesus com os olhos da fé. Pensavam que Jesus Cristo não veria as suas más obras: “Alguns começaram a cuspir n’Ele, a cobrir-lhe o rosto, a esbofeteá-lo” (Mc 14, 65). São Jerônimo escreve: “Foram tantos os insultos e injúrias que naquela noite foram feitos ao Senhor, que só no dia do juízo final serão conhecidos todos”.

Ninguém consegue se esconder aos olhos de Deus. Não devemos estranhar a maldade destes homens. Também fazemos o mesmo: pecamos e com nossas hipocrisias logo queremos tapar os olhos de Deus, para que não veja a nossa maldade: “Do céu Deus contempla e vê todos os filhos de Adão” (Sl 33, 13).

 

OBS: Essa pregação não está concluída; assim que “surgirem” novas mensagens as acrescentaremos.

 

Pe. Divino Antônio Lopes FP (C)

Anápolis, 19 de agosto de 2016

 

 

Bibliografia

 

Sagrada Escritura

Pe. Luís de la Palma, A Paixão do Senhor

Pe. Juan Leal, A Sagrada Escritura

Daniel-Rops, Jesus no seu tempo

Pe. Juan de Maldonado, Comentário ao Evangelho de São Mateus

Pe. Francisco Fernández Carvajal, Vida de Jesus

Santo Afonso Maria de Ligório, A prática do amor a Jesus Cristo

Frei Luís de Granada, Escritos

Edições Theologica

São Beda, Escritos

São Jerônimo, Escritos

Santo Agostinho, Escritos

São Pio X, Catecismo Maior

Pe. João Batista Lehmann, Euntes... Praedicate!

São João da Cruz, Obras Completas

São Pedro Julião Eymard, A Divina Eucaristia, Vol. 3

Pe. Alexandrino Monteiro, Raios de luz

Adolfo Tanquerey, Compêndio de Teologia Ascética e Mística

Santa Teresa dos Andes, Diário

Monsenhor Cauly, Curso de Instrução Religiosa

Tomás de Kempis, Imitação de Cristo

Santa Catarina de Sena, Cartas

Pseudo-Jerônimo, Escritos

Didaqué, 4, 12

Bem-aventurado Paulo VI, Exortação Apostólica “Evangelii Nuntiandi”, n.º 15

 

 

 

 

 

Este texto não pode ser reproduzido sob nenhuma forma; por fotocópia ou outro meio qualquer sem autorização por escrito do autor Pe. Divino Antônio Lopes FP.

Depois de autorizado, é preciso citar:

Pe. Divino Antônio Lopes FP(C). “Levaram-no ao Sumo Sacerdote Caifás”
www.filhosdapaixao.org.br/escritos/comentarios/paixao/paixao_cristo_027.htm