LEVARAM-NO AO SUMO SACERDOTE CAIFÁS
(Mt 26, 57-68; Mc 14,
53-65; Lc 22, 54-55. 66-71; Jo 18, 12-16. 24)
Em Mt 26, 57-68
diz:
“Os que prenderam Jesus
levaram-no ao Sumo Sacerdote Caifás, onde os escribas e os
anciãos estavam reunidos. Pedro seguiu-o de longe até o pátio do
Sumo Sacerdote e, penetrando no interior, sentou-se com os
servidores para ver o fim. Ora, os chefes dos sacerdotes e todo
o Sinédrio procuravam um falso testemunho contra Jesus, a fim de
matá-lo, mas nada encontraram, embora se apresentassem muitas
falsas testemunhas. Por fim, se apresentaram duas que afirmaram:
‘Este homem declarou: Posso destruir o Templo de Deus e
edificá-lo depois de três dias’. Levantando-se então o Sumo
Sacerdote, disse-lhe: ‘Nada respondes? O que testemunham estes
contra ti?’ Jesus, porém, ficou calado. E o Sumo Sacerdote lhe
disse: ‘Eu te conjuro pelo Deus Vivo que nos declares se tu és o
Cristo, o Filho de Deus’. Jesus respondeu: ‘Tu o disseste.
Aliás, eu vos digo que, de ora em diante, vereis o Filho do
Homem sentado à direita do Poderoso e vindo sobre as nuvens do
céu’. O Sumo Sacerdote então rasgou suas vestes, dizendo:
‘Blasfemou! Que necessidade temos ainda de testemunhas? Vede:
vós ouvistes neste instante a blasfêmia. Que pensais?’ Eles
responderam: ‘É réu de morte’. E cuspiram-lhe no rosto e o
esbofetearam. Outros lhe davam bordoadas, dizendo: ‘Faze-nos uma
profecia, Cristo: quem é que te bateu?’”
Em Mc 14, 53-65
diz:
“Levaram Jesus ao Sumo
Sacerdote, e todos os chefes dos sacerdotes, os anciãos e os
escribas estavam reunidos. Pedro seguira-o de longe, até o
interior do pátio do Sumo Sacerdote, e, sentado junto com os
criados, aquecia-se ao fogo. Ora, os chefes dos sacerdotes e
todo o Sinédrio procuravam um testemunho contra Jesus para
matá-lo, mas nada encontravam. Pois muitos davam falso
testemunho contra Ele, mas os testemunhos não eram congruentes.
Alguns, levantando-se, davam falso testemunho contra Ele: ‘Nós
mesmos o ouvimos dizer: Eu destruirei este Templo feito por mãos
humanas e, depois de três dias, edificarei outro, não feito por
mãos humanas’. Mas nem quanto a essa acusação o testemunho deles
era congruente. Levantando então o Sumo Sacerdote no meio deles,
interrogou a Jesus dizendo: ‘Nada respondes? O que testemunham
estes conta ti?’ Ele, porém, ficou calado e nada respondeu. O
Sumo Sacerdote o interrogou de novo: ‘És tu o Messias, o Filho
do Deus Bendito?’ Jesus respondeu: ‘Eu sou. E vereis o Filho
do Homem sentado à direita do Poderoso e vindo com as nuvens do
céu’. O Sumo Sacerdote, então, rasgando as suas túnicas
disse: ‘Que necessidade temos ainda de testemunhas? Ouvistes a
blasfêmia. Que vos parece?’ E todos julgaram-no réu de morte.
Alguns começaram a cuspir n’Ele, a cobrir-lhe o rosto, a
esbofeteá-lo e a dizer: ‘Faça uma profecia!’ E os criados o
esbofeteavam”.
Em Lc 22, 54-55. 66-71diz:
“Prenderam-no e
levaram-no, introduzindo-o na casa do Sumo Sacerdote. Pedro
seguia de longe. Tendo eles acendido uma fogueira no meio do
pátio, sentaram-se ao redor, e Pedro sentou-se no meio deles.
Quando se fez
dia, reuniu-se o conselho dos anciãos do povo, chefes dos
sacerdotes e escribas, e levaram-no para o Sinédrio, dizendo:
‘Se tu és o Cristo, dize-nos!’ Ele respondeu: ‘Se eu vos disser,
não acreditareis, e se eu vos interrogar, não respondereis. Mas,
desde agora, o Filho do Homem estará sentado à direita do
Poder de Deus!’ Todos então disseram: ‘És, portanto, o Filho
de Deus?’ Ele lhes declarou: ‘Vós dizeis que eu sou!’
Replicaram: ‘Que necessidade temos ainda de testemunho?
Ouvimo-lo de sua própria boca!’”
Em Jo 18, 12-16. 24 diz:
“Então a
coorte, o tribuno e os guardas dos judeus prenderam a Jesus e o
ataram. Conduziram-no primeiro a Anás, que era sogro de Caifás,
o Sumo Sacerdote daquele ano. Caifás fora o que aconselhara aos
judeus: ‘É melhor que um só homem morra pelo povo’. Ora, Simão
Pedro, junto com outro discípulo, seguia Jesus. Esse discípulo
era conhecido do Sumo Sacerdote e entrou com Jesus no pátio do
Sumo Sacerdote. Pedro, entretanto, ficou junto à porta, de fora.
Então, o outro discípulo, conhecido do Sumo Sacerdote, saiu,
falou com a porteira e introduziu Pedro. Anás, então, o enviou
manietado a Caifás, o Sumo Sacerdote”.
O Pe. Luis de la Palma comenta:
Voltando a Jerusalém, passaram novamente pela Torrente do Cedron,
levando Jesus amarrado como se fosse um ladrão, com pressa
e gritando; aos empurrões e com pancadas derrubavam-no, e depois
levantavam-no brutalmente.
Levaram-no à residência de Caifás, sumo
sacerdote. Era também presidente do conselho que se chamava
Sinédrio; local onde se reuniam setenta e dois juízes. Era por
volta da meia-noite, porque depois da ceia, quando Judas saiu
“era noite”, Jesus tinha conversado durante um longo
tempo, subido ao horto, orado e só depois foi preso; tinha-se
passado muito tempo. Os juízes e anciãos daquele povo
estavam tão obcecados, que para não perderem tempo e condenarem
o Senhor, reuniram-se mesmo sendo tarde da noite.
Entrou Jesus em Jerusalém, grande Sacerdote
da Nova Aliança, para oferecer a sua vida em sacrifício
agradável a Deus pela redenção do mundo.
O processo começou na casa do sumo pontífice, onde estavam
reunidos à sua espera, os sacerdotes e doutores da lei.
Antes, porém, os soldados levaram-no à casa de Anás, sogro
de Caifás. Honrando assim, sogro e genro; e
desonrando o Senhor. Anás enviou-o preso ao sumo
sacerdote Caifás (Jo 18,24), a quem competia
conduzir o processo. Caifás foi quem deu aos judeus o conselho:
Convém que um só homem morra em lugar do povo (Jo
18, 14). Ele que tinha dado o conselho estava disposto a
executá-lo. Na sua casa aconteceram todas as coisas que se
contam desta noite.
Embora, depois da prisão no horto, todos os
discípulos tenham fugido e deixado Jesus.
Preocupado para onde levariam o seu Senhor, mesmo com
medo, Pedro seguia-o de longe (Mt 26, 58).
Também o seguia outro discípulo que tinha certa amizade com o
sumo sacerdote.
Chegando à casa de Caifás, entrou Jesus e toda
aquela comitiva que voltava do horto; provavelmente outros
se incorporaram atraídos pelo alvoroço pelas ruas da cidade.
Entrando, logo dispensaram o tribuno e os
soldados romanos com uma quantia generosa. Fechariam as portas
para evitar curiosos, com isso ficariam somente os juízes e as
pessoas importantes no processo. Vigiando a porta estava
uma criada, o outro discípulo por ser conhecido, conseguiu
entrar. Ao notar que Pedro tinha ficado de fora, junto à porta,
o discípulo pediu, e a porteira deixou-o entrar. Naquela
noite, a verdade tão perseguida, seria negada por Pedro.
Levaram o Senhor na presença do pontífice.
Pedro e o outro discípulo estavam presentes e testemunharam o
ocorrido. O pontífice, junto com
os sacerdotes e doutores da lei, examinavam o processo contra
Jesus. Pela manhã pretendiam realizar outro conselho, este pleno
e legítimo; este de noite, seria uma preparação para poderem
encontrar provas, e assim condenar o Senhor à morte.
Consideravam-no um farsante e agitador, pregador de mentiras
contra a Lei e a tradição. O sumo sacerdote
examinou: primeiro sobre os seus discípulos, quem e quantos
eram; depois sobre a doutrina que ensinava, para tentar
encontrar alguma mentira ou erro.
O Senhor nada disse sobre os discípulos,
porque, todos tinham fugido escandalizados e envergonhados, e
Pedro que estava presente, atemorizado, não falaria em sua
defesa. Considerando a razão das
perguntas, bastaria responder sobre sua doutrina, que sendo boa
e de Deus, não poderia reunir discípulos para uma causa
perversa. Assim respondeu: Falei publicamente ao
mundo. Ensinei na Sinagoga e no templo, onde se reúnem os
judeus, e nada falei às ocultas (Jo 18,20),
vocês poderiam suspeitar, se a doutrina é nociva, se eu
falasse escondido, mas, nada disse em segredo. Nas vezes que
falei a sós com meus discípulos, foi para explicar as parábolas,
nada falei de diferente ou para se ocultar, pelo contrário, era
exatamente para que pudessem entender e assim transmitir a
todos. Sendo assim, por que me interrogas? Pergunta àqueles que
ouviram o que lhes disse. Estes sabem o que ensinei
(Jo 18, 21); nestes acreditareis
mais do que a mim.
Um dos servos não gostou da resposta dita
com tanta verdade e serenidade,
parecia-lhe que faltava com respeito e rebaixava o sumo
sacerdote, esbofeteando firmemente a Jesus, disse: É assim
que respondes ao sumo sacerdote? (Jo 18,22).
O Senhor não perdeu a serenidade, apesar
desta violência, feita por um simples servo na presença de todos.
Além do insulto e da agressão, dava a entender que sua resposta
não era verdadeira, e nem que sua doutrina era divina. Não
seria humildade calar-se diante deste ultraje.
Calmamente, Jesus mostrou a seu agressor que a violência feita e
a omissão do pontífice eram injustas, não havia motivo algum
para lhe bater. Se este julgamento fosse justo, competia
apenas ouvir as testemunhas, depois dar a sentença; mas, como
este julgamento nascia do ódio e da inveja, jamais seria
imparcial.
Jesus respondeu ao servo: Se falei mal,
prova-o, mas se falei bem, por que me bates? (Jo 18,
23). Nenhuma resposta podia ser mais acertada, justa e
oportuna. Por ter agredido Cristo, este canalha merecia
que a terra se abrisse e o tragasse. Mas Deus foi paciente, em
vez de castigar, venceu pela bondade.
O Senhor estava disposto a oferecer seu próprio
corpo para ser imolado na cruz. Por isso, não deu a outra
face como tinha ensinado, além disso, é melhor responder com a
verdade que oferecer a outra face por orgulho, vaidade ou
aparência. A humildade está no interior, não numa atitude
externa.
Se este processo fosse justo, a resposta do
Senhor teria sido correta e aceita. Mas o julgamento
estava viciado na sua raiz, os juízes eram imparciais e
dissimulados. A inveja e o medo de que os romanos
destruíssem o templo, fez com que todos estivessem com o
veredito de morte pronto. Os príncipes dos sacerdotes e
todo o conselho procuravam um falso testemunho contra Jesus, a
fim de o levarem à morte (Mt 26,59). Seria
necessário mentir, na vida do Senhor não encontrariam nenhum
pretexto para condená-lo. Muitos estavam dispostos a dar falsos
testemunhos, alguns por medo, outros para ficarem bem com os
sacerdotes. Mas todos diziam mentiras e contradições; falavam
que Jesus tinha pacto com o demônio, que não respeitava as
festas, que era glutão e beberrão, que era amigo dos publicanos
e pecadores, que incitava o não pagamento do imposto e que
blasfemava. Mas disseram uma verdade: que era
filho de Deus.
Estes falsos testemunhos, como estavam ensaiados
e se contradiziam, não foram convincentes para condenar Cristo.
Apresentaram-se mais duas falsas testemunhas, que declararam:
Este homem disse: Posso destruir o templo de Deus e
reedificá-lo em três dias (Mt 26,61). Ouvimo-lo
dizer: Eu destruirei este templo feito pelas mãos dos
homens, em três dias edificarei outro, que não será feito por
mãos de homens (Mc 14,58). Era evidentemente
falso, Jesus não disse que podia ou destruiria o templo, mas
que, quando fosse destruído, construiria outro não feito
por mãos dos homens, ele falava do templo do seu corpo
(Jo 2,21). Isto significava que quando morresse ,
ressuscitaria em três dias. Mesmo distorcendo suas
palavras, ainda não tinham provas suficientes para o condenarem
à morte.
O Senhor mantinha-se calado perante as
calúnias e os falsos testemunhos. Tinha percebido perante sua
primeira resposta, que os juízes não estavam buscando a verdade,
e aquela reunião, que só tinha aparência de julgamento, na
verdade era um covil de ladrões.
O sumo sacerdote, impaciente e irado, vendo que
com falsas testemunhas não conseguia condená-lo, perguntou:
Por que te calas? Nada tens a responder ao que essa gente
depõe contra ti? (Mt 26, 62).
Que espécie de arrogância é essa?
Mas Jesus se calava e nada respondia
(Mc 14, 61). Não convinha que o Filho de Deus
falasse por medo a um mero mortal. Quando se é injuriado,
desprezado, ofendido e caluniado, grande é o mérito da virtude
da paciência em ficar calado. Inclusive é perigoso falar
nestes momentos, aconselhava o profeta:
“Velarei sobre os meus atos, para não
pecar mais com a língua. Porei um freio em meus lábios, enquanto
o ímpio estiver diante de mim. Fiquei mudo, mas sem resultado,
porque minha dor recrudesceu” (Sl 38, 2-3).
Mostrou o Senhor sua grande
mansidão profetizada há muito tempo:
“Foi maltratado e resignou-se; não abriu
a boca, como um cordeiro que se conduz ao matadouro e uma ovelha
muda nas mãos do tosquiador” (Is 53, 7).
Como se estivesse presente, o Rei Davi proclama:
“Amigos e companheiros fogem da minha
chaga, e meus parentes permanecem longe. Os que odeiam a minha
vida armam-me ciladas; os que me procuram perder ameaçam-me de
morte; não cessam de planejar traições. Eu, porém, sou como
surdo, não ouço; sou como mudo que não abre os lábios. Fiz-me
como um homem que não ouve e que não tem na boca réplicas a dar” (Sl
37, 12-15). Foi exatamente isso que fez o Senhor.
Cansado, o sumo sacerdote decidiu perguntar-lhe
diretamente o que desejava e necessitava ouvir para condená-lo à
morte. Sabiam que o chamavam de Filho de Deus, e isto era para
eles uma blasfêmia. Usando o nome de Deus, para que não se
calasse, perguntou: “Por Deus vivo,
conjuro-te que nos digas se és o Cristo, o Filho de Deus”
(Mt 26, 63). E esta foi a única
acusação que fizeram perante Pilatos:
“Nós temos uma lei, e segundo essa lei
ele deve morrer, porque se declarou filho de Deus”
(Jo 19, 7).
O Senhor foi obrigado a proclamar a
verdade, honrar o nome de seu Pai, mesmo que isso o levasse à
morte: Eu o sou. E vereis o
Filho do Homem sentado à direita do Poder de Deus, vindo sobre
as nuvens do céu (Mc
14, 62). Agora me veem humilhado e preso, mas
em breve me vereis como juiz do céu e da terra.
Ao ouvir a resposta, o sumo sacerdote furioso
rasgou as suas vestes, como era costume dos judeus, quando
escutavam uma blasfêmia. Caifás, para agravar a cena, exagerava
em sua dramatização ficando com o peito desnudo. Jesus
pôde ver a que ponto chegava a inveja e a maldade. Este
velho sacerdote, não pôde ouvir a maior verdade de todas as
verdades, que o Novo e Eterno Sacerdote proclamava,
preferiu chamar a verdade de blasfêmia. Quando Pedro
confessou que Jesus era o Filho de Deus, fundou a Igreja; quando
Caifás negou-o e chamou de blasfemo, a sinagoga foi enterrada
para sempre.
Lança o olhar à volta e vê: reúnem-se todos
e vêm a ti. Por minha vida, diz o Senhor, de gala te revestirás,
como uma noiva te cingirás (Is
49, 18). A Igreja é a veste do Senhor, embora perseguida,
está fundada sobre a fé em Jesus Cristo, Filho de Deus, e as
portas do inferno não prevalecerão contra ela (Mt 16, 18).
Os soldados não se atreveram a rasgar as vestes do Senhor;
o sumo sacerdote rasgava as vestes com as próprias mãos.
A sinagoga perdeu seu sacerdócio e culto perante a verdade da
Nova e Eterna Aliança.
Escandalizado rasgou as vestes, agora era além de
juiz, também testemunha de acusação: Que necessidade temos
ainda de testemunhas? Acabastes de ouvir a blasfêmia! Qual o
vosso parecer? (Mt 26, 65-66). Que devemos
fazer perante tal evidencia? Então, todos, sem exceção
julgaram merecedor de morte (Mc 14, 64). Assim se cumpria
o que o Senhor havia dito: “O Filho
do Homem será entregue aos príncipes dos sacerdotes e aos
escribas. Eles o condenarão à morte” (Mt 20,
18).
Os servos dos sacerdotes, ao ouvirem a sentença,
cuspiram-lhe então na face, bateram-lhe com os punhos e
deram-lhe tapas (Mt 26, 67). Também os sacerdotes
do Sinédrio bateram e insultaram Jesus.
Estavam convencidos que o castigo era merecido,
pois, Cristo suportava bem. Então, se aproveitaram para
vingar as críticas feitas em público sobre seus vícios e erros.
Levantando-se enfurecidos das cadeiras, onde estavam
indignamente como juízes, começaram a bater-lhe.
Depois, despediram-se e combinaram uma nova
reunião pela manhã, onde o processo e a execução da sentença
seriam validados.
O sumo sacerdote retirou-se ao seu
aposento, e deixou Jesus em poder dos guardas e criados; estes o
levaram a um compartimento menor e ficaram a noite toda com ele.
Divertindo-se escarneciam dele e davam-lhe bofetadas
(Lc 22, 63), cuspiram-lhe então na face
(Mt 26, 67). Estes homens vis emporcalhavam
aquela face divina que os próprios anjos desejavam contemplar
(1Pd 1, 12).
Maltrataram, feriram, bateram, deram pontapés e
socos. Depois, cobriam-lhe os olhos (Lc 22, 64), taparam
aqueles olhos para qual nenhuma criatura lhe é invisível (Hb
4, 13). Continuavam a dar-lhe bofetadas e como tinha fama de
profeta, escarneciam-se:
“Advinha, ó Cristo: quem te bateu?”
(Mt 26, 68). E injuriaram-no ainda de
outros modos (Lc 22, 65).
Vendaram a sua face para se ocultarem ao
seu olhar. Condenaram-se a nunca mais ver Jesus com os olhos da
fé. Não estranheis a maldade destes homens. Nós também fazemos o
mesmo: pecamos e com nossas hipocrisias logo queremos tapar os
olhos de Deus, para que não veja a nossa maldade.
Há muito tempo a profecia mencionava este
sofrimento voluntário: “Aos que me
feriam apresentei as espáduas, e as faces àqueles que me
arrancavam a barba; não desviei o rosto dos ultrajes e dos
escarros”
(Is 50, 6). Mesmo assim,
causa uma grande admiração a mansidão, a paciência e a fortaleza
com que o Senhor sofreu tudo.
Provavelmente os guardas durante a jornada
de vigia daquela noite, se alternaram nas agressões, enquanto
alguns descansavam, outros chegavam com novas zombarias.
O Senhor não pôde dormir, sofreu durante toda à noite.
Para os cegos da sinagoga o amanhecer nunca chegou, pois ficaram
na escuridão para sempre.
Santo Afonso Maria de Ligório |
Santo Afonso Maria de Ligório
ensina: Eis que o Redentor é levado como em triunfo à presença
de Caifás, que já o estava esperando, e vendo-o diante de si, só
e desamparado de seus discípulos, ficou cheio de contentamento.
O ímpio pontífice interroga Jesus Cristo sobre
seus discípulos e sobre sua doutrina, para achar algum pretexto
de condenação. Jesus responde-lhe com humildade: Eu não
falei em segredo, mas em público; todos estes que aqui estão
podem dar testemunho do que eu falei. Diante das
palavras do Senhor, um algoz mais insolente avança e tratando
Jesus Cristo de atrevido, lhe dá uma forte bofetada dizendo:
É assim que respondes ao sumo
sacerdote?
Entretanto, o Conselho procurava testemunhas para
condená-lo à morte, mas não encontravam; pelo que o pontífice
vai novamente buscar matéria de condenação nas palavras de nosso
Salvador, e lhe diz: Eu te conjuro, pelo Deus vivo, que
nos digas, se tu és o Cristo, o Filho de Deus. O Senhor,
ouvindo que o conjuravam em nome de Deus, confessa a verdade e
responde: Sim, eu o sou: e um dia me verás, não tão
desprezível como estou agora diante de ti, mas assentado num
trono de majestade como juiz de todos os homens, acima das
nuvens do céu. Ouvindo estas palavras, o pontífice rasga
suas vestes e diz: Para que mais precisamos de
testemunhas? Acabais de ouvir a blasfêmia.
E todos os outros sacerdotes responderam que sem dúvida
alguma Ele era réu de morte. Então cuspiram-lhe no rosto e
deram-lhe bofetadas. Sendo Jesus Cristo declarado réu de
morte, puseram-se todos a maltratá-lo como a um malfeitor. Um
cospe-lhe no rosto, outro dá-lhe puxões, mais outro lhe dá
bofetadas. Cobrem-lhe os olhos com um pano, escarnecem d’Ele,
chamando-o falso profeta, e dizendo: Já que és profeta,
profetiza agora quem te bateu.
O Pe. Juan Leal explica: Jesus
Cristo, manietado como um malfeitor, foi conduzido primeiramente
ante o tribunal religioso, o sinédrio. Era seu presidente o sumo
sacerdote Caifás, que havia sucedido no cargo a seu sogro Anás.
Este velho astuto gozava de grande prestígio e autoridade ante
os demais membros do sinédrio, e pelo que insinuam os
evangelistas, foi o principal organizador de toda a trama para
prender e condenar a Cristo. Por essa razão foi conduzido o
prisioneiro, primeiro, à sua presença, segundo conta São João
18, 13, como um ato de atenção. Assim que, tendo em conta os
dados que nos oferecem os quatro evangelistas, podemos
distinguir um primeiro comparecimento de Jesus Cristo ante Anás
durante a noite, que somente São João conta; outra
segunda ante Caifás e o sinédrio também pela noite, que contam
São Mateus e São Marcos, e, finalmente, outra
terceira pela manhã, que refere, sobretudo, São Lucas 22,
66-71.
A casa de Anás estava situada,
provavelmente, não longe do cenáculo.
O caminho, portanto, que teve de percorrer agora Jesus Cristo em
sentido inverso foi, pouco mais ou menos, o mesmo, porém em
condições muito distintas, já que ia manietado e conduzido no
meio daquela multidão e soldados rudes, que caminharam
celebrando o êxito por tê-lo prendido.
Segundo a lei mosaica (Dt 17, 6; Nm 35, 30),
se necessitava pelo menos o testemunho de duas testemunhas para
condenar um homem à morte. As testemunhas que neste caso
passaram ante o tribunal foram muitas, como expressamente
advertem São Mateus e São Marcos; porém, sem
resultado positivo, porque não estavam de acordo no que diziam.
Finalmente se apresentaram duas testemunhas que, referindo a
umas palavras que Jesus havia dito no começo da sua vida pública
(Jo 2, 19), comentadas provavelmente pela multidão que
escutou o sermão sobre a destruição de Jerusalém e de seu templo
(Mt 24, 2), o acusaram de querer destruir o templo santo
de Deus. As testemunhas deturparam as palavras de Cristo, que
havia dito: Destruí este templo, e em três dias o erguerei;
isto é, se destruís... Certamente, Jesus Cristo
com estas palavras não se referia ao templo material, mas ao seu
próprio corpo, que o havia de ressuscitar depois da morte (Jo
2, 21). Mais tarde Ele anunciou a destruição do templo e da
religião judaica, que o simbolizava (Mt 24, 2ss), e sua
substituição por um templo novo quando seu corpo ressuscitasse
ao terceiro dia (Mt 16, 21; 17, 23; 20, 19; Jo 2, 21ss),
e, por fim, por um corpo místico a Igreja (Mt 16, 18),
que havia de substituir a antiga sinagoga.
Caifás busca um recurso supremo que sabe de
antemão que dará resultado certo: o juramento solene
jurídico, ao qual ninguém pode fugir, e pelo qual obrigará a
Jesus a fazer uma declaração concreta, que em qualquer hipótese
lhes dará pé para condená-lo. Se respondesse que é o
Messias, o Filho de Deus, o condenarão como blasfemo; se o
negasse, o condenarão como impostor que pretendeu seduzir o povo
proclamando-se o que não era.
É evidente, se se tem em conta todo o contexto,
que a intenção de Caifás ao perguntar-lhe se era o Filho de Deus
se referia a uma filiação natural, pela qual se fazia igual ao
mesmo Deus. Assim se conclui também do conjunto de todo o
evangelho de São Mateus, que é o evangelho não só da
messianidade de Cristo, mas também de sua divindade. Não fazia
muito que ante os mesmos fariseus, provavelmente alguns membros
do sinédrio ali presentes, havia demonstrado que o Messias era
algo mais que um filho de Davi (Mt 22, 45). E sem dúvida
que Caifás e seus companheiros o condenam como blasfemador por
fazer-se filho natural de Deus, como pouco mais tarde dirão
diante de Pilatos (Jo 19, 7). O momento era solene. Jesus
Cristo, perguntado pelo juiz legítimo na forma jurídica,
responde afirmativamente: Tu o dizes; isto é, sou
efetivamente o que acabas de dizer, o Messias, o Filho de Deus.
E, tomando uma atitude majestosa diante do tribunal que o vai
condenar, anuncia que em breve o verão voltar como juiz.
Sentado à direita do Poderoso é uma alusão ao salmo
messiânico 109, 1, e a vinda sobre as nuvens do
céu, à profecia de Daniel 7, 9ss. Confessa
solenemente que Jesus é o Messias, Filho de Deus, e anuncia seu
triunfo definitivo.
Caifás, escandalizado com as palavras de Jesus
Cristo, em sinal de indignação e de horror, rasgou suas vestes,
exclamando: Blasfemou. Era costume dos
judeus piedosos rasgar a túnica uns centímetros junto ao peito
ao escutar uma blasfêmia, manifestando desta maneira seu
protesto e sua repugnância diante da blasfêmia.
Segundo São Mateus, foram os mesmos
membros do sinédrio, ou pelo menos alguns deles, como refere
São Marcos 14, 65, os que maltrataram o Senhor cuspindo em
sua face e dando-lhe bofetadas, exemplo que foi seguido pelos
guardas que o guardaram durante a noite (Lc 22, 63-65).
Para zombar da fama de profeta que havia conquistado, taparam os
seus olhos, e, davam tapas em seu rosto perguntando-lhe:
Adivinha quem te bateu. E, como anota São Lucas,
diziam-lhe muitas outras coisas (Lc 22, 65).
Neste processo não esteve presente nenhum
discípulo.
Pe. Francisco Fernández Carvajal |
O Pe. Francisco Fernández Carvajal
comenta: Era já mais de meia-noite quando conduziram Jesus à
casa de Anás, o sogro do sumo sacerdote Caifás. Este, recorda
São João 18, 13-14, é o que tinha dado aos judeus aquele
conselho: Convém que um homem morra pelo povo.
Jesus Cristo foi levado pelas ruas desertas de
Jerusalém. Caminha aos tropeções, com as mãos atadas atrás
das costas e preso com a soga ao pescoço. Dois dos seus
discípulos – Pedro e João – seguem-no de longe, demasiado de
longe para receber deles uma palavra de alento ou um olhar de
afeto. Sentem um sincero amor e adesão ao seu mestre, mas não o
suficiente para permanecer com Ele. Não sabem o que
fazer. Seguem-no a certa distância.
Quando chegaram ao palácio de Anás, o pequeno
grupo de soldados romanos que tinha acompanhado os servidores do
Templo considerou cumprida a sua missão e regressou ao seu
destacamento, à Torre Antônia. Tudo tinha sido extremamente
simples.
Anás teria desejos de ver Jesus de perto. E
pôde dar-se conta imediatamente que se tratava de um homem
sereno e sem medo, e de que não seria nada fácil condená-lo num
julgamento improvisado. De fato, o
ancião interrogou-o brevemente acerca da sua doutrina
e dos seus discípulos. Que ensinava? Que pretendia
realmente? Quem eram os seus seguidores? Segundo o direito
judaico, o acusado não tinha que dar testemunho de si mesmo; a
acusação era válida se provinha de testemunhas alheias. O Senhor
não quis comprometer nenhum dos seus seguidores, e respondeu:
Eu falei abertamente ao mundo, ensinei sempre na sinagoga e
no Templo, onde todos os judeus se reúnem, e não disse nada em
segredo. Por que me perguntas? Pergunta aos que me ouviram de
que lhes falei: eles sabem o que disse.
Então um zeloso servidor deu-lhe uma
bofetada, enquanto o advertia: Assim respondes ao pontífice? Não
era o pontífice, mas como o tinha sido, chamavam-lhe ainda
assim.
Era a primeira vez que a mão de um homem batia no
rosto de Jesus. Os presentes não o viram, mas o céu inteiro
comoveu-se. O Senhor recebeu com paz essa violência física
inesperada. Era realmente algo baixo e indigno bater num homem
manietado. Talvez esperasse que Anás repreendesse a ação do
servente; mas nada disse. Então Jesus respondeu: Se falei mal,
declara esse mal; mas se falei bem, por que me bates?
Anás remeteu-o imediatamente, atado, assinala
São João, a Caifás, o verdadeiro sumo pontífice. O
preso não era absolutamente estranho para ele. Havia tempo que
lhe chegavam notícias frequentes acerca das suas atividades.
Entretanto, foram avisados alguns membros
do Sinédrio, talvez os mais dedicados ao pontífice, e pouco a
pouco iam chegando ao palácio de Caifás. Outra tarefa difícil
naquelas horas da noite – já faltava pouco para a madrugada –
era a de preparar testemunhas que depusessem contra Ele;
procuravam febrilmente algum testemunho para lhe dar a morte, e
não o encontravam (Mc).
Há pressa por acabar quanto antes; de fato, todo o processo
contra Jesus está cheio de pressas. Ao entardecer do dia
seguinte – sexta-feira – os judeus tomavam a ceia pascal, e esse
dia era uma jornada de grandes preparativos... Tudo era
muito forçado.
Começou o julgamento, provavelmente ao
amanhecer. Muitos testemunhavam falso contra Ele, mas os
testemunhos não eram concordes.
Não resistiam à menor análise. Alguém recordou uma frase sobre o
Templo que talvez pudesse convencer o tribunal, já demasiado
predisposto. Jesus tinha dito: Destruí este Templo e em
três dias o levantarei (Jo 2, 19). Agora
acusam-no de ter dito que pensava destruir o Templo; que este
estava feito por mão de homens, não era coisa de Deus; e que em
três dias Ele levantaria outro novo, não feito por mãos de
homens. Mudam as palavras de Jesus e tergiversam de um modo
tosco o sentido da frase. E nem mesmo assim
coincidia o seu testemunho (Mc). Jesus
estava calado.
Entre os membros do Sinédrio havia homens
honestos, como Gamaliel, que não tolerariam atropelos. E entre
eles havia também amigos de Jesus e discípulos como Nicodemos e
José de Arimateia. O fato de que
no processo não apareça em nenhum momento nenhum deles faz
pensar razoavelmente que não foram convocados. Não parece, por
outro lado, que naquelas horas da noite se reunisse todo o
Sinédrio. Bastavam vinte e três membros para que as sessões se
considerassem legítimas.
Pedro, pelo seu lado, tinha ido seguindo os
passos do Mestre até ao palácio do sumo sacerdote. Com a
influência de João, conhecido do pontífice, passou para dentro e
sentou-se com os criados. Queria saber onde ia parar tudo aquilo.
O julgamento não avançava, pois não encontravam
um verdadeiro testemunho concordante das testemunhas. Segundo a
Lei de Moisés (Dt 17, 6; Nm 35, 30), eram necessárias
pelo menos duas testemunhas concordantes para condenar à morte
um homem. Pela sala passaram muitas testemunhas –
assim o dizem São Mateus e São Marcos -, mas
sem resultado positivo. O silêncio de Jesus e aquelas acusações
sem fundamento devem ter criado um clima de dúvida entre os
membros do Sinédrio.
Então, Caifás situou-se no centro da sala e
disse a Jesus: Não respondes
nada ao que estes testemunham contra ti? O tom
cada veza mais nervoso do pontífice não impressionou o Senhor.
Por outro lado, que ia dizer? Ele permanecia em silêncio e
nada respondeu.
Então Caifás recorreu ao juramento mais solene,
ao qual ninguém se podia subtrair. Em tom majestoso, disse:
Conjuro-te pelo Deus vivo que nos digas se tu és o Messias, o
Filho de Deus (Mt). Pela própria pergunta e por
todo o contexto vê-se que o Pontífice se referia a uma filiação
natural, pela qual se fazia igual ao próprio Deus.
Perante este requerimento, Jesus confessa
solenemente que Ele é o Messias e o Filho de Deus, e anuncia o
seu triunfo definitivo. Tomou uma atitude simples e majestosa ao
mesmo tempo diante do tribunal que o ia condenar, e anunciou que
em breve o veriam vir como juiz: Tu o disseste. Além
disso, digo-vos que um dia vereis o Filho do Homem sentado à
direita do poderoso e vir sobre as nuvens do céu (Mt).
A resposta de Jesus não só dá testemunho de ser o
Messias, mas esclarece a transcendência divina ao aplicar a si a
profecia do Filho do Homem. Jesus define-se com a mais forte das
expressões bíblicas que podiam ser compreendidas pelos seus
ouvintes: a que torna mais manifesta a divindade da sua Pessoa.
O Sumo pontífice escandalizou-se com as
palavras do Senhor, e com gestos de indignação e de horror,
talvez um horror fingido, rasgou as suas vestes com gesto
teatral, enquanto dizia:
Blasfemou! Que necessidade temos já de testemunhas? Já o vedes,
acabais de ouvir a sua blasfêmia. E
voltado para todos perguntou: Qual é
o vosso parecer?
E todos exclamaram: É réu de morte.
Isto era o que se procurava.
Abandonado o capítulo de testemunhas, que não deu
resultado, acolhem-se todos agora ao da blasfêmia, que levava à
pena de morte. Não o condenam por agitador, mas por blasfemo,
porque tinha proclamado abertamente a sua Divindade.
Então os próprios membros do Sinédrio, como diz
São Mateus, ou pelo menos alguns deles, como insinua
São Marcos, dedicaram-se a maltratar o Senhor:
começaram a cuspir-lhe na face e a dar-lhe bofetadas. Lemos e
meditamos muitas vezes esta cena, mas realmente sempre é difícil
imaginá-la: cuspiam-lhe na face, davam-lhe pontapés, bofetadas,
empurrões... A degradação daqueles homens, os guias do povo, era
muito grande. O exemplo dos mesmos foi seguido com
facilidade pelos servidores do Templo, a quem encomendaram a sua
custódia durante aquela noite (Lc). Para se rirem da sua
fama de profeta, cobriram seus olhos e batiam-lhe,
perguntando-lhe a seguir: Adivinha, Cristo, quem te bateu?
São Lucas acrescenta que diziam contra ele muitas
outras injúrias.
Jesus deixa que lhe façam isso; e cresce em
dignidade diante de todos à medida que os outros a perdem.
O dia já começava.
Daniel-Rops
ensina: Pela artéria de degraus, e
depois ao longo de várias ruas em declive, seguindo a mesma
trajetória que já seguira, havia cerca de uma hora, Jesus foi
conduzido ao próprio lugar de onde partira. Jerusalém, à noite,
é uma cidade estranha, com ar de eternidade, em que o visitante
dos nossos dias evoca facilmente o percurso noturno de Cristo
Jesus, com a tropa inimiga que o cercava. Na penumbra,
esquecem-se os enormes monumentos, tão desproporcionados como
exóticos, que a fé das gerações edificou, sem nenhum respeito
pela tradição arquitetural da Palestina: não se vê outra coisa
que não sejam altíssimas paredes, ruas estreitas, as escadas,
pavimentos batidos e escorregadios, e esses poços de sombra
impenetrável, abertos de repente pelas casas, ao enlaçarem-se
por cima das artérias. Nos recantos de muitas ruas, há corpos
embrulhados nos mantos que dormem no lajedo. A via
dolorosa que começara àquela hora, deveria ter tido este
cenário, não podendo terminar senão no Gólgota.
Mas, onde conduziram Jesus, nesse momento? O
pormenor é importante. Dos quatro evangelistas, apenas João
responde com justeza: à casa de Anás, o antigo Sumo
Sacerdote. O que é desagradável é que o texto do IV
Evangelho seja tão confuso, a tal respeito. Ali se lê que
levaram primeiramente Jesus à casa de Anás, sogro de Caifás,
o qual era, naquele ano, o Sumo Sacerdote (Jo 18, 13);
sucede-se uma cena de interrogatório, logo seguida pela negação
de Pedro que parece ser a mesma que os Sinóticos localizam em
casa de Caifás; a seguir, o versículo 24 assinala que Anás
remeteu Cristo, bem amarrado, para Caifás, o Sumo Sacerdote.
Para se conseguir, simultaneamente, a sequência lógica e a
concordância com os Sinóticos, será preciso colocar-se o
versículo 24, logo após o 13 e o 14, lugar
que, aliás, ocupa já num velho manuscrito sírio e em
São Cirilo de Alexandria. Mas, de qualquer modo, nada
se sabe mais sobre o que Anás disse a Jesus Cristo.
O simples fato de terem levado o acusado, em
primeiro lugar, à casa de Anás, é, entretanto, deveras
significativo. Quem era Anás? O antigo Sumo Sacerdote;
investido na função pelo legado Quirino, no ano 7 da nossa era,
estivera em exercício até 14, data em que se iniciou o reinado
de Tibério: Tempo considerável, diz
Flávio Josefo. Se bem que deposto pelos Romanos, continuava
a ser altamente respeitado nos meios sacerdotais; e a prova é
que conseguira fazer chegar à mitra e ao peitoral, cada um por
sua vez, os cinco filhos e o genro. Era um homem muito hábil.
Não havia ninguém – diz ainda Josefo –
mais astucioso do que ele para fazer fortuna! É
muitíssimo provável que, naquela veneração que lhe era
tributada, e naquela influência que todos lhe reconheciam,
estivesse latente um vivo sentimento do partido anti-romano.
Moralmente, era Anás, sem qualquer sombra de dúvida, o chefe
da comunidade judaica: assim o considerou Renan, que vê
nele o principal ator desse drama terrível... e o
verdadeiro autor do assassinato jurídico que iria cometer-se.
Que disse ele a Jesus Cristo? Certamente,
nada. Bastar-lhe-ia haver puxado os cordelinhos
daqueles que, aparentemente, conduziam as coisas, as quais, uma
vez em marcha, bem sabia onde haveriam de parar. Poderá
imaginar-se o tête-à-tête do ancião calculista,
inteiriçado no seu formalismo, secretamente possuído por todas
as paixões que a ambição e o temor semeiam no coração do homem,
com o jovem Profeta que, em certo dia, atirara aos indivíduos
dessa espécie, o anátema dos sepulcros caiados.
Pensando nisso, Anás limitou-se em mandar embora Jesus
Cristo.
Arqueólogos e exegetas têm-se inclinado sempre a
admitir que os dois Sumos Sacerdotes, o antigo e o presente,
habitassem o mesmo palácio, separados apenas por um pátio.
Entretanto, Jesus foi, possivelmente, encerrado em
qualquer prisão. Sobre a presumível localização do
Palácio dos Sumos Sacerdotes, ao fundo duma capela grega ornada
com marfim e mosaico de ouro, uma pequena sala, de teto baixo,
que faz pensar numa acanhada sacristia, pretende ser o ergástulo
em que Jesus Cristo passou algumas horas dessa noite. As paredes
encontram-se revestidas de faianças azuis, de tons suaves; duma
janela alta cai um feixe de luz dourada. Quantos lugares, em
Jerusalém, não falam de outro modo ao peregrino, senão pela
saudade a que ele próprio os associa, e pelo invisível depósito
espiritual acumulado neles, por milenárias devoções!
O segundo lanço de percurso conduziu Jesus à
presença de Caifás. José Kaiâpha era o Sumo Sacerdote em
exercício, ao qual, portanto, cabia a responsabilidade do
processo político-religioso que se ia organizar contra Jesus
Cristo. Elevado ao pontificado pelo procurador Valério Grato, no
ano 18 da nossa era, conseguiu manter-se em exercício durante
todo o tempo que Pilatos governou a Palestina, não vindo a ser
deposto senão pelo legado da Síria, chamado Vitélio: uma tão
longa permanência nesse posto difícil, no qual, havia muito
tempo, os respectivos titulares se sucediam vertiginosamente,
parece indicar a existência, naquele homem, de grandes
faculdades de maleabilidade e adaptação. Para falar com o rigor
conveniente, tratava-se dum desses ambiciosos vulgares que, em
todos os lugares e em todas as épocas, os poderosos sabem
encontrar para lhes servirem de instrumentos. O móbil mais
profundo da sua alma vil deveria ser o medo, esse medo das
histórias que tão bem conhecem as pessoas em semelhantes
condições: pois quê, um aventureiro, um homem da ralé,
permitia-se perturbar a ordem estabelecida e, possivelmente,
incomodar Roma? A Teologia não tinha mais que fornecer,
senão o pretexto adequado para se desfazerem dele.
Entretanto, Pontífices, Escribas e Anciãos do
povo haviam acorrido ao Palácio dos Sumos Sacerdotes, avisados
da prisão efetuada. À volta de Caifás encontrava-se, por
conseguinte, reunido uma espécie de conselho. Aqui se levanta
uma dificuldade cronológica. Os quatro Evangelhos não
parecem concordar, a respeito do momento em que Jesus compareceu
ante Caifás. Segundo São Mateus e São Marcos,
tratava-se duma reunião noturna, precedendo o cantar do galo.
Depois, sendo já dia, uma segunda reunião teria sido celebrada.
No IV Evangelho não existe, porém, mais do que uma
comparência de Jesus, essa noturna, enquanto que São Lucas,
que, de igual modo, só a uma se refere, a diz realizada já de
dia. Três razões nos impelem a seguir, de preferência, a
cronologia dos dois primeiros, isto é, a admitir uma comparência
durante a noite, sem caráter oficial, precedendo a que devia ter
lugar ante o Sinédrio. Primeiro: semelhantes reuniões são, como
se viu, perfeitamente análogas, tais como aquela em que fora
decidida a prisão de Jesus Cristo; depois, é, sem dúvida,
normal, sob o ponto de vista psicológico, que os indivíduos que
resolveram levar avante aquele golpe, tenham tido todo o empenho
de se reunirem, mesmo durante a noite, para observarem a vítima
da qual se apoderaram; por fim, se não tivesse havido mais do
que uma reunião noturna, que seria, evidentemente, a do Sinédrio,
ela haveria sido duma ilegalidade tão patente que o formalismo
judaico jamais a aprovaria, dado que a Mishna o
diz ainda com toda a clareza: Os processos em que estiver
em jogo a vida de um homem, deverão desenrolar-se à luz do
dia.
Pode, portanto, reconstituir-se a intriga toda:
saindo da casa de Anás, Jesus foi conduzido à presença daqueles
que concordavam em fazê-lo morrer; quando romper do dia, será o
Sinédrio convocado para julgar, mas a sentença haverá sido
lavrada adiantadamente e o grande conselho terá fatalmente de se
amarrar a ela. Assim, o povo, colhido de improviso, não poderá
reagir, e as autoridades romanas serão colocadas na presença do
faro consumado. Tudo isto concorda com os conhecidos desejos de
Caifás; porque – não devemos esquecê-lo – (e São João, pelo
menos, o recorda) fora ele quem invocara a razão de Estado e
desejara que só um homem se sacrificasse pelo povo.
O Sumo Sacerdote interrogou Jesus a respeito dos
seus discípulos e da sua doutrina. E Jesus respondeu-lhe:
Falei abertamente ao povo inteiro; falei sempre na sinagoga e no
Templo, onde todos os Judeus costumam reunir-se. Nunca disse em
segredo coisa alguma. Por que motivo, pois, está a
interrogar-me? Pergunta aos que me ouviram, quanto eu disse,
pois que à minha doutrina, todos a conhecem muito bem.
Resposta tão hábil quanto exata; mantinha o silêncio a respeito
dos discípulos, a fim de os não comprometerem, e colocava o
problema no seu campo verdadeiro, o de um processo tendencioso
em que todo o interrogatório é uma fraude. A tais
palavras, um dos satélites deu uma bofetada em Jesus Cristo,
dizendo: É assim que respondes ao Sumo Sacerdote?
Se não fosse evidentíssimo, desde o início do processo, que
a preocupação da legalidade não embaraçava em coisa alguma os
inimigos de Jesus, seria de observar que tal bofetada era de uma
ilegalidade categórica; o Talmud fixará, um dia,
penas contra os juízes que baterem ou mandarem bater num
acusado, e São Paulo, segundo os Atos dos Apóstolos
23, 3, saberá muito bem declarar que as pancadas são
condenadas pela Lei.
É, porém, inegável que estava decidido não
empregar meios ou fórmulas legais, senão na medida em que elas
pudessem ser aproveitadas contra os interesses de Jesus Cristo.
Em todo o negócio de importância, duas testemunhas, pelo
menos, eram julgadas necessárias, visto que a palavra de uma só
não podia ser bastante. Mas não havia dúvida alguma em
arranjá-las! Uma tal miscelânea de formalismo e de ilegalidade,
vê-la-emos em todo o desenrolar deste drama judiciário.
Ouviram-se, portanto, diversos indivíduos, mas os seus
depoimentos eram assaz contraditórios. Os últimos que se
apresentaram depuseram que tinham ouvido Jesus asseverar: Eu
destruirei aquele Templo construído pela mão dos homens, e, em
três dias hei de construir outro novo, que não será edificado
por mão de homem. A lei judaica atribuía
grande importância à exatidão dos pormenores em cada depoimento:
no caso da santa Susana, não havia o grande profeta Daniel
convencido das respectivas imposturas os dois velhos lúbricos,
em virtude de um deles afirmar que avistara os culposos debaixo
de um lentisco, e o outro garantir que se encontravam debaixo de
um carvalho verde? São Mateus e São Marcos
referem, aliás, de modo desigual, os depoimentos das testemunhas
que eram falsas: segundo o primeiro, Jesus teria dito: Eu
posso destruir o Templo; segundo o outro, haveria
declarado: Destrui-lo-ei, quando aquilo que, na
verdade, Cristo dissera, como hipótese, foi: Destruí este
Templo, e eu o reconstruirei no espaço de três dias. Os
acusadores da virtuosa Susana tinham, segundo a Lei, sofridos o
mesmo suplício que lhes merecera a sua vítima: sobre aqueles que
acusaram Jesus, e não passavam de homens para todo o serviço de
Caifás, nada de parecido nos foi mencionado.
O Sumo Sacerdote formulou, então, esta pergunta:
Acaso és tu o Cristo, o filho do Bendito?
Dize lá! Pelo Deus vivo te conjuro! Desta vez, perante
uma intimação jurídica, feita pela autoridade competente, e em
nome de Deus, Jesus nem mesmo pensou em se esquivar. Assim,
responde: Tu o disseste, eu o sou. Também vos declaro que
um dia haveis de ver o Filho do homem, sentado à direita do
Divino Poder, surgindo sobre as nuvens do Céu. Então o
Pontífice rasgou as vestes, exclamando: Blasfemou! Para
que queremos nós mais testemunhos? Bem ouvistes a blasfêmia! Que
vos parece? E todos responderam em uníssono:
Merece a morte!
A cena é bem conduzida e produz o seu efeito. O
ardiloso sacerdote conhece bem o método de empolgar a opinião.
Contra Joana d’Arc, de igual modo, hão de teólogos de não menor
habilidade usarem de análogos processos. Examinadas com rigor
levariam as palavras proferidas à conclusão assassina dos
Judeus? Caifás inutilmente infligiu à sua túnica a pena de ser
despedaçada, na extensão de um palmo, ou seja, de
oito centímetros, conforme era de regra quando um blasfemo
erguia a voz, dado que nada é menos certo que o fato preciso,
isto é, jurídico, da blasfêmia. Blasfemar é dirigir insultos à
majestade de Deus; mas para que tal atentado se fizesse, teria
sido necessário que o nome sagrado, revelado a Moisés – o nome
de Yahweh – fosse empregado, e não qualquer
daqueles sobrenomes tão em voga, como o Trono, o Bendito,
o poder divino e, nem sequer, a própria abreviatura do
nome divino – Yah; o Talmud
explanará tais regras, longamente, com a devida precisão.
Referindo-se ao Divino Poder, Jesus, ao tempo que
afirmava a verdade da sua divina filiação, evitava o escândalo
da blasfêmia. Ainda mesmo quando empregasse o vocábulo
ultra-santo de Israel – o que, porém, ignoramos, pois que o
texto evangélico está escrito em grego – não seria apenas o
Pontífice que deveria rasgar as suas vestes, mas sim toda a
assistência. Tem-se, no entanto, a impressão dum gesto de Caifás
destinado a impressionar o auditório. De resto, para convencer
um homem de blasfemo, seria indispensável todo um cerimonial
complicado que o Tribunal conservou: Esconder duas testemunhas
por detrás duma cortina, colocar o arguido bem à vista e
interrogá-lo, justamente para que ele empregue, na resposta, o
vocábulo santo, e obrigá-lo, finalmente, a retratar-se, antes de
ficar registrada a sua falta: nada disto aparece observado
naquele interrogatório.
Tanto mais que, dizer-se Messias, seria,
porventura, blasfêmia? De modo algum. Seria, acaso, o sinedrita
Nicodemos, que acreditava no messianismo de Jesus, um mero
blasfemo? Parece que Caifás quer estabelecer, como princípio,
que Jesus não tem direito algum a dizer-se Messias, o que não é
suficiente para constituir uma base jurídica. Tudo quanto diz o
inculpado sobre a glória do Messias e o seu regresso, não é mais
do que uma consequência inevitável da declaração inicial, pois
que aplica a si próprio a profecia de Daniel 7. Por conseguinte,
a acusação de blasfemo não tem base. Quanto ao último argumento
de Caifás, invocando a própria confissão de Jesus Cristo, era
ainda duma ilegalidade mais patente que tudo o mais, porquanto a
Lei considerava írrita e nula a confissão do acusado, quando não
tivesse a confirmação de testemunhas, procurando impedir que um
homem doente ou devorado de vergonha pudesse, de tal modo, pôr
legalmente fim à existência; mas haverá necessidade de
fórmulas, quando se trata de aniquilar um adversário político?
Os fins, em casos tais, justificam os meios, e a justiça não
serve senão para defraudar a equidade.
O Pe. Juan de Maldonado comenta:
Caifás. Disse que primeiro foi levado a Caifás, e
escreve de maneira que parece dar e a entender que muitas das
coisas que nos conta ocorreram na casa de Anás; versão grega:
a primeira negação de Pedro, o primeiro interrogatório de Cristo
sobre os seus discípulos e sua doutrina, que ali onde recebeu a
bofetada no rosto dada pelo servo. Muitos grandes autores, como
Santo Agostinho e outros, pensam que tudo o que
foi dito acima aconteceu na casa de Anás. Porém, esta sentença
manifestamente é contradita pelos outros três evangelistas, que
unânimes afirmam que as três negações de Pedro ocorreram na casa
de Caifás. Ainda o mesmo São João disse com claridade que
a primeira negação sucedeu na casa do pontífice;
pois o discípulo conhecido do sumo sacerdote,
introduziu Pedro na casa deste, e Anás não era pontífice, mas
sim, sogro de Caifás, que era o pontífice daquele ano, como
escreveu São João. É verdade que São Lucas havia
dito que São João Batista começou a pregar a penitência sob os
príncipes dos sacerdotes Anás e Caifás; mas não se deve entender
que ambos eram pontífices, porque o cargo era único, mas que no
ano anterior havia sido Anás pontífice, como nos disse Flávio
Josefo, e como em ambos os anos pregou João Batista a
penitência, por isso que dizem que o fez sob o pontificado de
Anás e Caifás (O imediato antecessor
de Caifás não foi seu sogro, mas seu cunhado Eleazar, ainda que
durante o pontificado de ambos quem governou, na realidade, foi
o velho Anás).
Porém, Santo Agostinho e outros autores se
enganaram por não haver separado na transição de São João,
tácita e algo obscura, com a que significa que Jesus Cristo foi
levado da casa de Anás à de Caifás, e se não se lê com atenção o
texto, não se nota: Conduziram-no primeiro a Anás, que era
sogro de Caifás, o Sumo Sacerdote daquele ano. Caifás fora o que
aconselhara aos judeus: É melhor que um só homem morra pelo
povo. Ora, Simão Pedro, junto com outro discípulo, seguia Jesus.
Esse discípulo era conhecido do Sumo Sacerdote e entrou com
Jesus no pátio do Sumo Sacerdote (Jo 18, 13-15).
Não disse claramente que Jesus Cristo fora passado de Anás para
Caifás; porém, não significa quando afirma que primeiro
foi levado a Anás. Indica, por conseguinte, que
depois foi levado a Caifás; e ao dizer que aquele
discípulo que era conhecido do pontífice havia
entrado com Jesus Cristo no átrio do pontífice,
como antes havia advertido que o pontífice era Caifás,
ao acrescentar que introduziu a Pedro no átrio do
pontífice e que ali foi interrogado pela porteira sobre
se era discípulo de Jesus Cristo e o negou, não pode duvidar
ninguém que as negações de Pedro e tudo quanto escreve depois
sucederam na casa do pontífice Caifás.
O que vem a confirmar o erro dos ditos autores
foi o inciso (frase que interrompe o sentido de
outra) de São João na passagem 18, 24:
E o enviou Anás atado ao pontífice Caifás; como
se, depois da primeira negação de Pedro e o interrogatório
narrado, Anás houvesse enviado a Cristo Jesus à casa de Caifás.
Muitos pensam que estas palavras estão desarticuladas e devem
ler-se depois do versículo 13: E levaram a Jesus
primeiro à casa de Anás, que era sogro de Caifás, pontífice
aquele ano; e a continuação: E o enviou Anás atado
a Caifás. Deste modo, a frase e seu significado de
maneira ajustada coincidem.
E, por que primeiro levaram Jesus Cristo à
casa de Anás, sendo que ele não era o pontífice?
São João dá a entender a razão: porque era sogro de
Caifás; sem dúvida alguma, seu conselheiro.
E os príncipes dos sacerdotes.
O original grego acrescenta e os anciãos.
E não encontraram.
No original grego: Não acharam, apesar de que se
apresentaram falsas testemunhas, não acharam; repetição
esta última que nosso tradutor não leu ou não quis colocar,
porém tem sua força. Que necessidade havia de testemunhas,
quando os juízes estavam determinados a condenar a Cristo por
direito ou contra direito? Queriam encobrir seu crime com
aparência de justiça.
Posso destruir o templo de Deus.
Por que chama o evangelista de testemunhas falsas, quando deram,
ao parecer, um testemunho verdadeiro? Jesus Cristo havia dito
que poderia reedificar o templo destruído em três dias (Jo 2,
19). Respondem Orígenes, São João Crisóstomo, São
Jerônimo, São Beda, Teofilacto e Eutimio, que são
chamadas de falsas testemunhas porque repetiram o que Jesus
Cristo havia dito, porém, com má intenção, com outro sentido e
também com palavras diferentes. Jesus Cristo não falava do
templo material, mas do seu corpo, como São João escreve;
e Jesus não havia dito: Posso destruir o templo de Deus;
mas sim: Destruí vocês o templo de Deus; eu em três dias o
levantarei (hebraísmo). As palavras de São
Marcos 14, 58 são diferentes: Nós o ouvimos dizer: Eu
destruirei este templo, feito por mãos, e depois de três dias o
edificarei, e não por mãos. São Mateus diz
que essas falsas testemunhas que disseram tais coisas, eram
duas; os outros evangelistas não dão o número. Foram duas
testemunhas porque eram subornadas pelos príncipes dos
sacerdotes e anciãos, e, é claro, subornaram duas testemunhas
porque a lei dizia: Na boca de duas ou três testemunhas
está toda a palavra (Dt 17, 6). O mesmo aconteceu
no caso de Santo Estêvão que subornaram outras duas falsas
testemunhas (At 6, 13). Acrescenta São Marcos
14, 56, que não era congruente seu testemunho,
que não eram testemunhas justas. Alguns dizem que as duas
testemunhas não disseram a mesma coisa. Parece que o nosso
tradutor entendeu assim; porém, as palavras do original grego
dão um sentido diferente: e nem ainda assim era seu
testemunho justo, isto é, suficiente para condenar a
Jesus Cristo. Esta é a força daquele inciso:
e nem ainda assim; isto é, ainda que afirmavam haver
ouvido dizer a Cristo: Eu destruirei..., não
acreditaram os pontífices que podiam condenar Cristo à morte por
ter dito isso; pois quanto às testemunhas, entre si concordavam,
já que ambas diziam as mesmas palavras e o mesmo sentido.
Então dirá alguém: Como Estêvão fora
apedrejado sem mais delito que o afirmado por duas falsas
testemunhas? Ouvimos que Jesus Nazareno destruirá este lugar
(At 6, 14). Respondo que equivalia a muitas graves
acusações aquela mentira: que Jesus era Deus, blasfêmia horrível
para os judeus, e a lei mandava apedrejar ao blasfemador (Lv
24, 23); também que, segundo Estêvão, mudaria Cristo as
tradições que deu Moisés (At 6, 14).
E levantando-se o príncipe dos sacerdotes.
Não devia o juiz levantar-se, mas estar sentado; porém, não fala
como juiz no tribunal, mas como sacerdote na sinagoga, onde o
que falava ou lia se punha de pé, como em São Lucas 4, 16.
Não respondes?
Para que responder, se a acusação apresentada contra Jesus
Cristo nem para os sacerdotes parecia suficiente para uma
condenação! Fala o mau juiz segundo sua paixão e converte em
argumento de culpabilidade o silêncio de Cristo, quando devia
interpretá-lo como prova da inutilidade das acusações. Como se
Jesus Cristo calara porque lhe pesara a consciência. Então o
sacerdote exagera na sua expressão dizendo:
Nada respondes, diante de tão graves crimes que
eles te lançam ao rosto?
Conjuro-te pelo Deus vivo.
Que significa propriamente: Em nome de Deus e quase por
seu mandato, te forço a que respondas tal coisa! Era
frequente este modo de falar entre os judeus.
Se tu és o Cristo, Filho de Deus.
Como vulgarmente ensinas e tu alguma vez tens chamado a ti
mesmo. Pois por esta causa já em outras ocasiões haviam querido
os judeus te apedrejar: porque se havia feito Filho de
Deus (Jo 10, 31). Não estava agora em disputa sua
filiação divina; porém, o pontífice o interroga sobre ela,
porque buscava, fosse como fosse, ocasião de condená-lo, e como,
em efeito, Jesus Cristo ia ensinar que era Filho de Deus,
acreditava Caifás que não o negaria naquele processo, e não
podia encontrar o juiz outro motivo melhor para condená-lo à
morte que convencer-lhe de haver blasfemado alguma vez. Eram,
pois, a seu juízo, grande blasfêmia chamar-se um Filho de Deus,
porque ninguém podia ser natural Filho de Deus sem ser Deus.
Narra São Lucas 22, 66-67 que todas estas
coisas sucederam sendo já de dia: Quando se fez dia,
reuniu-se o conselho dos anciãos do povo, chefes dos sacerdotes
e escribas, e levaram-no para o Sinédrio, dizendo: Se tu és o
Cristo, dize-nos! Muitos são os que pensam que esta do
terceiro evangelista é história deferente e que Jesus Cristo foi
interrogado duas vezes sobre sua natureza: primeira pelo
pontífice, antes da meia-noite, quando o apresentam a ele, e
depois por toda a assembleia, ao amanhecer, porque, segundo
alguns autores, a primeira vez parece que Cristo não respondera
com claridade quando disse: Tu o dizes. Eu sou da
opinião de Santo Agostinho que crê que nos achamos ante o
mesmo passo do processo. E, quem acreditava que fora de novo
interrogado Jesus Cristo sobre o mesmo, quando tão
terminantemente havia respondido a primeira vez: Tu o
dizes, ou, segundo São Marcos, ainda com maior
claridade: Eu sou; e o pontífice entendeu tão bem
que rasgou suas vestes e disse: Que necessidade temos de
testemunhas? Todos ouviram a blasfêmia.
Porém, como Mateus não expressou a circunstância de tempo
e Lucas sim, quando já era dia, temos de
acreditar que Mateus narrou por antecipação o fato, e não
sem motivo, porque havia começado a expor as incidências do
processo de Jesus Cristo na assembleia dos judeus, uma das quais
foi a pergunta dita, para expor depois sem interrupção as três
negações de Pedro.
O que São Mateus disse sobre o que
perguntou o pontífice, São Lucas 22, 66 põe na boca de
todos os assistentes: Dize-nos se tu és o Cristo.
São Mateus confia que mediu a conspiração do sumo
sacerdote, São Lucas, não; porém, não tem importância
essas divergências que podem explicar-se de duas maneiras: o que
lhe perguntou primeiro o pontífice e depois toda a assembleia,
ou que o pontífice o fez em nome de todos, e, por isso, São
Lucas o atribui aos do Sinédrio.
Tu o dizes.
Tu o dizes e não eu, como se ele não afirmasse que era o Cristo.
São Lucas cita que Cristo respondeu de outra maneira:
Se tu és o Cristo, dize-nos! Ele respondeu: Se eu vos disser,
não acreditareis, e se eu vos interrogar, não respondereis
(Lc 22, 67-68). É provável que Jesus Cristo fora
interrogado duas vezes sobre o mesmo; primeiro simplesmente e
sem adjuração, ao que contestou como São Lucas nos disse:
Dize-nos se tu és o Cristo; e depois, conjurado
pelo pontífice, e então deu a solene resposta citada por São
Mateus e São Marcos: Tu o dizes, eu sou,
ou porque eu o sou (hebraísmo). Acreditam
que Jesus disse as duas coisas.
Ele respondeu não somente o que lhe foi
perguntado, mas disse também o que não lhe havia perguntado,
pois se tratava de coisa muito importante, se era o Cristo, o
Filho de Deus, ou não o era; e de nenhum modo convinha que
naquelas circunstâncias o negasse ou o dissimulasse; mas, pelo
contrário, que o confessasse com liberdade, porque veio a este
mundo unicamente para isso, para que, como Filho de Deus,
morresse pelos filhos de Adão. Acrescentou: Porém vos digo
que vereis o Filho do homem sentado à direita de
Deus vindo sobre as nuvens do céu.
Rasgou suas vestes.
Era costume antigo de muitos povos rasgarem as vestes nos lutos
e na indignação. Os judeus também faziam isso, principalmente em
duas ocasiões: no duelo (Gn 37, 29-30) e
quando ouviam alguma blasfêmia contra Deus. O
pontífice disse que Cristo Jesus blasfemou, isto é, disse
injúria contra Deus.
És réu de morte.
Mandava a lei (Lv 24, 16) que o blasfemador fosse
apedrejado, e por isso, nesta ocasião, os sacerdotes declaram o
Salvador réu de morte.
Outros lhe davam bofetadas.
Jesus foi ferido com paus ou com
as sandálias que os judeus usavam; dizem que os judeus usaram as
sandálias contra a face do Senhor, para que fosse maior a
agressão. Marcos e Lucas escrevem que primeiro
taparam os olhos do Salvador.
Profetiza-nos.
Porque Jesus tinha fama de ser profeta e Ele mesmo havia dito
ser o Filho de Deus. E para zombar d’Ele taparam os seus olhos e
o golpearam dizendo: Profetiza-nos quem te bateu.
1.ª mensagem: Os bons são
perseguidos. |
Jesus Cristo, Luz do mundo, realizou somente o
bem e foi terrivelmente perseguido pelos inimigos:
“Os que prenderam Jesus
levaram-no ao Sumo Sacerdote Caifás, onde os escribas e os
anciãos estavam reunidos” (Mt 26, 57).
Quem segue os passos de Jesus Cristo na
realização das boas obras será perseguido, porque os
inimigos da luz não suportam a presença do justo:
“Se eles me perseguiram, também vos
perseguirão”
(Jo 15, 20).
2.ª mensagem: “Prender” a Jesus Cristo no
nosso coração. |
Nosso Senhor Jesus Cristo foi preso com violência
e levada ao Sumo Sacerdote Caifás:
“Os que prenderam Jesus levaram-no ao
Sumo Sacerdote Caifás” (Mt 26, 57).
Não podemos maltratar um Senhor que
nos ama apaixonadamente; mas sim, devemos “prendê-lo”
com muito amor e respeito no nosso
coração.
3.ª mensagem: Atar a Jesus Cristo com os
laços do amor. |
Os inimigos ataram o Senhor com
agressividade:
“Então a coorte, o tribuno e os guardas dos
judeus prenderam a Jesus e o ataram”(Jo 18,
12).
Devemos viver unidos ao Senhor que cuida de nós,
atando-o não com a “corda”
áspera do pecado; mas sim, com os laços do
verdadeiro amor:
“Cordas que amarrastes a Jesus, prendei-me com
Jesus” (Santo Afonso Maria de Ligório).
4.ª
mensagem: Não somos melhores que o Salvador. |
Jesus Cristo realizou somente o bem e foi preso pelos
inimigos:
“Prenderam-no e levaram-no, introduzindo-o na casa do Sumo
Sacerdote” (Lc 22, 54).
Não somos melhores que o Salvador!
Não podemos desistir de caminhar em busca da Vida Eterna por
causa das perseguições. O Senhor sofreu... os seus
seguidores também sofrem: “O
servo não é maior que seu senhor” (Jo 15, 20).
5.ª mensagem: Inconstância humana. |
Jesus Cristo foi preso e levado ao Sumo Sacerdote:
“Prenderam-no e
levaram-no, introduzindo-o na casa do Sumo Sacerdote”
(Lc 22, 54). Quanta diferença entre a
entrada solene do Salvador em Jerusalém no domingo de ramos, e
esta nova entrada! Quanta
inconstância humana!
É preciso tomar muito cuidado com as
criaturas...
elas mudam continuamente e estão
prontas para destruir amigos e inimigos:
“Guardai-vos dos homens”
(Mt 10, 17).
6.ª mensagem: Confiar somente em Deus. |
O Senhor que arrastava multidões e andava cercado de Apóstolos e
Discípulos, agora está só... Ele e os inimigos:
“Prenderam-no e
levaram-no, introduzindo-o na casa do Sumo Sacerdote”
(Lc 22, 54). Os que disseram:
“Hosana ao Filho de Davi”, estavam do lado dos inimigos.
Devemos confiar somente em Deus,
porque Ele jamais nos abandonará. O
homem muda continuamente e possui um coração traiçoeiro:
“Só em Deus eu
coloquei minha esperança!” (Sl 39, 8).
7.ª mensagem: Serenidade e doçura diante
dos inimigos. |
Jesus Cristo não perdeu a
serenidade e doçura diante de Caifás:
“Os que prenderam Jesus levaram-no ao
Sumo Sacerdote Caifás, onde os escribas e os anciãos estavam
reunidos” (Mt 26, 57).
Infeliz da pessoa que se desespera
e se irrita diante dos perseguidores.
É preciso conservar a serenidade e a doçura diante daqueles
que nos odeiam:
“A ninguém pagueis o mal com o mal”
(Rm 12, 17).
8.ª mensagem: Os inimigos do bem fazem o
mal às escondidas. |
Os juízes
e anciãos daquele povo estavam tão obcecados,
que para não perderem tempo e condenarem o Senhor,
reuniram-se mesmo sendo tarde da noite:
“Os que prenderam Jesus levaram-no ao Sumo Sacerdote Caifás,
onde os escribas e os anciãos estavam reunidos”
(Mt 26, 57). Já era tarde na noite... o
ódio mantinha-os acordados.
Quem odeia o bem faz o mal à
“noite”, isto é, às escondidas...
usa de injustiças para denegrir e
destruir o próximo: “Quem
calunia seu próximo em segredo eu o farei calar”
(Sl 100, 5).
9.ª mensagem: Os filhos das trevas realizam
as coisas com irregularidades para prejudicarem os filhos da luz. |
Estavam todos reunidos esperando a
chegada do Senhor... era tarde da noite e uma reunião
cheia de irregularidades:
“Os que prenderam Jesus
levaram-no ao Sumo Sacerdote Caifás, onde os escribas e os
anciãos estavam reunidos” (Mt 26, 57).
Milhares de seguidores de Jesus Cristo sofrem nas
mãos de autoridades injustas e maldosas; pessoas que
realizam reuniões e julgamentos irregulares para destruírem os
amigos do Senhor: “E, por
causa de mim, sereis conduzidos à presença de governadores e de
reis” (Mt 10, 18).
10.ª mensagem: Paciência diante das
injúrias. |
O Salvador foi injuriado enquanto
era levado à presença de Caifás... e suportou tudo com
paciência:
“Os que prenderam Jesus levaram-no ao
Sumo Sacerdote Caifás” (Mt 26, 57).
Devemos, durante a nossa caminhada nesse mundo,
suportar com paciência as injúrias e zombarias que
vem dos nossos perseguidores:
“Bem-aventurado o homem que suporta com paciência a provação!”
(Tg 1, 12).
11.ª mensagem: Abraçar os sofrimentos de
cada dia. |
No caminho do Getsêmani
até a casa de Caifás o Senhor padeceu graves dores, porque era
levado por seus inimigos com grande
crueldade... dando-lhe golpes e empurrando-o:
“Os que prenderam Jesus levaram-no ao Sumo Sacerdote Caifás”
(Mt 26, 57). Jesus Cristo não
desistiu de caminhar!
Devemos abraçar com amor e alegria os
sofrimentos de cada dia... esse é o caminho que
agrada a Deus: “Portanto, é
no sofrer e no abraçar com alegria as coisas desagradáveis e
contrárias ao nosso amor próprio que se conhece quem ama de
verdade a Jesus Cristo”
(Santo Afonso Maria de Ligório).
12.ª mensagem: Não se apoiar nas criaturas. |
Os Apóstolos fugiram
e Jesus Cristo foi levado só ao Sumo
Sacerdote Caifás: “Os que prenderam
Jesus levaram-no ao Sumo Sacerdote Caifás” (Mt
26, 57). Foi abandonado por todos!
Infeliz da pessoa que busca apoio nas
criaturas! O coração do homem é um
abismo de falsidade:
“Cessai de confiar no homem, cuja vida
se prende por um fôlego” (Is 2, 22).
13.ª
mensagem: Não deixar de percorrer o caminho da santidade por
causa dos obstáculos. |
Do Getsêmani para a casa de Caifás,
talvez o Senhor tenha tropeçado nas pedras ao passar pela
corrente do Cedron:
“Prenderam-no e levaram-no, introduzindo-o na
casa do Sumo Sacerdote” (Lc 22, 54).
O caminho da santidade é cheio de “pedras”,
isto é, de obstáculos; não podemos
deixar de caminhar por causa das dificuldades:
“Não progredir é
regredir” (Santa Catarina de Sena).
14.ª
mensagem: Firmeza diante dos desprezos. |
Jesus Cristo foi
tratado com desprezo pelos soldados no caminho
para a casa de Caifás:
“Prenderam-no e levaram-no, introduzindo-o na
casa do Sumo Sacerdote” (Lc 22, 54).
O Senhor permaneceu firme, não se prostrou à beira do
caminho.
Devemos nos manter firmes e
resolutos diante do desprezo dos
zombadores... imitando o exemplo do nosso Mestre:
“Quando vem a tormenta, desaparece o
ímpio, mas o justo está firme para sempre”
(Pr 10, 25).
15.ª mensagem: Tratar os perseguidores com
mansidão. |
Jesus Cristo, no caminho
para a casa de Caifás, foi maltratado pelos soldados...
mas não faltou com a mansidão: “Prenderam-no
e levaram-no, introduzindo-o na casa do Sumo Sacerdote”
(Lc 22, 54).
Feliz da pessoa que permanece mansa diante
das provocações dos inimigos:
“Como são caros a Jesus Cristo os
corações mansos. Recebendo ofensas, desprezos, calúnias,
perseguições e até mesmo pancadas e ferimentos, não se irritam
contra quem os injuria ou maltrata”
(Santo Afonso Maria de Ligório).
16.ª mensagem: Os amigos das trevas
trabalham para ofuscar a luz. |
Os inimigos de Jesus Cristo o odiavam! Prenderam-no para tentar
ofuscar a luz do seu bom exemplo e da sua
santidade de vida:
“Então a coorte, o tribuno e os guardas
dos judeus prenderam a Jesus e o ataram”(Jo
18, 12). Eles não suportavam a simples presença
do Senhor!
Quem segue os passos de Jesus Cristo imitando as
suas virtudes, deixa os inimigos revoltados e
inquietos... esses começam a tramar contra o amigo do Senhor:
“Cerquemos o justo, porque nos
incomoda e se opõe às nossas ações, nos censura as faltas contra
a Lei, nos acusa de faltas contra a nossa educação”
(Sb 2, 12).
17.ª mensagem: Os medrosos seguem a Jesus
Cristo de longe. |
São Pedro, com medo dos inimigos, seguia a Jesus
Cristo de longe:
“Pedro seguia de longe”
(Lc 22, 54).
Os medrosos se afastam do Senhor
quando os inimigos “uivam” furiosamente.
No “exército” de Deus não existe lugar para os medrosos:
“Quem estiver tremendo de medo volte
e observe do monte Gelboé”
(Jz 7, 3). Não basta seguir a
Jesus... é preciso segui-lo de perto.
18.ª mensagem: Viver às margens. |
São Pedro não quis se aproximar do Mestre para ajudá-lo,
mas permaneceu afastado:
“Pedro seguiu-o de longe...”
(Mt 26, 58).
Milhões de pessoas dizem seguir a Jesus Cristo,
mas quando surgem dificuldades e obstáculos
se afastam e “observam” o Senhor de
longe: “Acovardam-se os que ainda se
não fundamentam na virtude”
(Frei Luís de Granada).
19.ª mensagem: Pecado mortal. |
O Apóstolo Pedro caminhou
distante do Senhor...
percorreu outro caminho:
“Pedro seguiu-o de longe...” (Mt 26, 58).
Quem vive no pecado mortal
caminha longe de Jesus Cristo... a
Luz Eterna não pode habitar num coração cheio de trevas:
“O pecado mortal é uma transgressão da
lei divina, pela qual se falta gravemente aos deveres para com
Deus, para com o próximo, ou para conosco. Chama-se mortal
porque dá a morte à alma, fazendo-a perder a graça santificante,
que é a vida da alma assim como a alma é a vida do corpo”
(São Pio X).
20.ª mensagem: Respeito humano. |
São Pedro permaneceu com Jesus Cristo até surgir uma
dificuldade pelo caminho... depois,
vergonhosamente, se afastou do Mestre:
“Pedro seguiu-o de
longe...” (Mt 26, 58). O
respeito humano tirou de São Pedro a antiga
coragem e o primitivo zelo.
Milhões de pessoas dizem seguir a Jesus Cristo
enquanto está tudo bem, mas o abandonam quando são colocadas à
prova... sentem vergonha de seguir a Nosso Senhor. O
respeito humano já levou muitas pessoas para a perdição eterna:
“Quantas vítimas não se imolam todos
os dias ao ídolo do respeito humano!”
(Pe. Alexandrino Monteiro).
21.ª mensagem:
Indiferença. |
O Apóstolo São Pedro agiu com
total indiferença para com o Senhor que o havia
instruído durante três anos:
“Pedro seguiu-o de longe...” (Mt
26, 58).
Muitas pessoas dizem ser amigas de Jesus
Cristo... mas o tratam com indiferença e
descaso quando são convidadas a manifestar a fé no Filho
de Deus.
São Pedro acompanhou de longe a
Jesus Cristo... com muita frieza:
“Pedro seguiu-o de
longe...” (Mt 26, 58).
Muitos tratam a Jesus Cristo com o máximo de
frieza... preferem caminhar longe do Senhor para não
se comprometerem.
23.ª mensagem:
Quem caminha longe de Jesus Cristo está
mais próximo de negá-lo. |
São Pedro
seguia o Senhor de longe, porque estava próximo de negá-lo:
“Pedro seguiu-o
de longe...” (Mt 26, 58).
Infeliz da pessoa que caminha longe de Jesus
Cristo, vivendo no pecado mortal... nas horas
difíceis não terá forças para professar a fé no Filho de Deus e
o negará.
24.ª mensagem: Não desanimar. |
A adesão e
afeto de Pedro a Jesus Cristo não eram ainda
suficientemente sobrenaturais; à coragem e lealdade de
antes sucede agora o desânimo. Esta situação desembocará na
tripla negação de Pedro:
“Pedro seguiu-o de
longe...” (Mt 26, 58).
O seguidor de Jesus Cristo, por mais nobres
que sejam os seus sentimentos, também não terá a
fortaleza para ser fiel às exigências da fé se não fundamentar a
sua vida numa piedade profunda:
“Exercita-te na piedade. A piedade é
proveitosa para tudo, pois contém a promessa da vida presente e
futura”
(1 Tm 4, 7-8).
25.ª mensagem: Abandonar o verdadeiro Amigo
para viver com as criaturas. |
O
Apóstolo São Pedro abandonou a amizade com Jesus Cristo
para ficar com os seus perseguidores:
“Pedro seguira-o de
longe, até o interior do pátio do Sumo Sacerdote, e, sentado
junto com os criados” (Mc 14, 54).
Infelizmente, muitos seguidores de Nosso Senhor o
abandonam nas horas difíceis e se unem aos seus inimigos.
Desprezam o Eterno para se apoiarem no que passa:
“Tudo passa, tudo morre. Logo, para que
apegar-me a coisas transitórias que não me levam a Deus, que é o
meu fim? As honras, as riquezas não dão a felicidade. Os
aplausos e o carinho se apagam, e se extinguem por qualquer
desengano. Só Deus pode nos satisfazer. Ele é a verdade e o bem
imutável. Ele é o amor eterno. Dia virá na vida em que lutarás
sem ninguém. Quem será então teu apoio? Deus. A morte também é
um abismo de mistérios e tu estarás só com Deus. Por que, pois,
apegar-se a criaturas que passam, que são inconstantes e que
morrem?” (Santa
Teresa dos Andes).
26.ª mensagem: Cruzar os braços nas horas
difíceis. |
São Pedro “cruzou”
os braços no momento em que Jesus Cristo precisava da sua ajuda:
“... sentado junto com os criados, aquecia-se ao fogo”
(Mc 14, 54).
Milhões de pessoas que se dizem seguidoras de
Jesus Cristo o abandonam nas horas
de provações e cruzam os braços, isto é, buscam o mais fácil e
cômodo:
“Muitos seguem a Jesus até ao partir do pão, poucos, porém, até
ao beber do Cálice da sua paixão” (Tomás de
Kempis).
Enquanto Jesus Cristo sofria nas mãos
dos inimigos, São Pedro se aproximou do fogo para se
aquecer:
“... sentado junto com os criados,
aquecia-se ao fogo” (Mc 14, 54).
O mundo está cheio de pessoas egoístas que
buscam exageradamente o próprio interesse,
principalmente a comodidade, desprezando o próximo nas
suas dificuldades: “Sendo o egoísmo
tão perigoso, ocorre fugir dele e estar atento para que não
penetre na alma”
(Santa Catarina de Sena).
28.ª mensagem: Aproximar-se de Deus para
recuperar o “fogo” do amor. |
São
Pedro acompanhava de longe a Jesus Cristo e se aproximou das
criaturas para se aquecer:
“... sentado junto com os criados,
aquecia-se ao fogo” (Mc 14, 54).
Quando o “fogo” do amor de Deus esfriar
em nosso coração, não devemos buscá-lo nas criaturas... mas em
Jesus Cristo nosso Deus Eterno e fonte do Amor Infinito:
“Pois o nosso Deus é um fogo abrasador!”
(Hb 12, 29).
29.ª mensagem: Quem caminha longe de Deus é
vencido pelos inimigos da alma: o mundo, o Demônio e a carne. |
São Pedro entrou no pátio onde estavam
os criados se aquecendo:
“Pedro seguira-o de longe, até o
interior do pátio do Sumo Sacerdote, e, sentado junto com os
criados, aquecia-se ao fogo” (Mc 14, 54).
Pedro foi vencido... em seguida negou covardemente o Mestre.
Quem vive longe de Deus será derrotado
pelos três inimigos da alma. Esses inimigos não dão
descanso para os amigos de Jesus Cristo:
“Aquecer-se ao fogo com os criados no
átrio. O átrio do sacerdote é o mundo; os criados são os
demônios, e o fogo é o desejo carnal”
(Pseudo-Jerônimo).
30.ª mensagem: Cuidado com o fogo maligno. |
São Pedro entrou no átrio para buscar alívio temporal naquela
noite fria:
“Pedro seguira-o de longe, até o interior do pátio do Sumo
Sacerdote, e, sentado junto com os criados, aquecia-se ao fogo”(Mc 14, 54).
Há o fogo da caridade
(Lc 12, 49). Há também o fogo da concupiscência
(Os 7, 4):
“Esse fogo aceso no átrio de Caifás pelo espírito maligno
animava as línguas dos perseguidores para negar e blasfemar
contra Jesus Cristo” (São Beda).
31.ª
mensagem: O coração sem caridade é frio. |
São Pedro
entrou no átrio... sendo que naquele palácio os corações
estavam frios de caridade para com o Senhor:
“Pedro seguira-o de
longe, até o interior do pátio do Sumo Sacerdote, e, sentado
junto com os criados, aquecia-se ao fogo” (Mc
14, 54).
Quem não possui Jesus no coração ou quem trama
contra Ele não possui a verdadeira caridade, mas tem um
coração frio e indiferente porque está cheio de vícios:
“E pelo
crescimento da iniquidade, o amor de muitos esfriará”
(Mt 24, 12).
32.ª mensagem: Falsidade. |
São Pedro no Getsêmani defendeu a Nosso Senhor usando uma
espada; agora, vendo o Senhor sendo maltratado pelos
inimigos se junta aos criados para se aquecer:
“Pedro
seguira-o de longe, até o interior do pátio do Sumo Sacerdote,
e, sentado junto com os criados, aquecia-se ao fogo”
(Mc 14, 54).
Milhares de pessoas pregam sobre Jesus Cristo e o
defende enquanto tudo está bem; mas nas provações o
ignoram... são os falsos seguidores:
“Muitos amam a Jesus,
enquanto não lhes sobrevêm adversidades”
(Tomás de Kempis).
33.ª mensagem: Por Jesus devemos enfrentar
todos os perigos. |
São
Pedro seguia a Jesus Cristo de longe,
moralmente abatido, desconcertado; mas com
valentia entra no átrio da casa de Caifás:
“Pedro seguira-o de longe, até o interior do pátio do Sumo
Sacerdote” (Mc 14, 54).
Nada nesse mundo deve nos intimidar na busca de
Jesus Cristo. Por amor a Ele devemos enfrentar todas as
dificuldades, perseguições e obstáculos:
“Quem nos separará do amor de Cristo? A
tribulação, a angústia, a perseguição, a fome, a nudez, o
perigo, a espada? Pois estou convencido de que nem a morte nem a
vida, nem os anjos nem os principados, nem o presente nem o
futuro, nem os poderes, nem a altura, nem a profundeza, nem
qualquer outra criatura poderá nos separar do amor de Deus
manifestado em Cristo Jesus, nosso Senhor” (Rm
8,35.38-39).
34.ª mensagem:
Manter a calma diante do interrogatório feito pelos
inimigos. |
Jesus Cristo manteve a calma
diante do interrogatório feito pelo inimigo:
“Levantando
então o Sumo Sacerdote no meio deles, interrogou a Jesus
dizendo: ‘Nada respondes? O que testemunham estes conta ti?’”
(Mt 26, 62).
Devemos manter a calma diante das perguntas
constrangedoras feitas por pessoas que nos perseguem:
“A calma impede que se cometam graves
erros” (Ecl 10, 4).
35.ª
mensagem: Insolência das criaturas. |
Um homem
perverso ousa interrogar insolentemente ao
eterno Juiz:
“Levantando então o Sumo Sacerdote no meio deles, interrogou a
Jesus dizendo: ‘Nada respondes? O que testemunham estes conta
ti?’” (Mt 26, 62). Onde pode
chegar o atrevimento de uma pessoa má!
Milhares de pessoas se acham donas da verdade e
querem ocupar o lugar de Deus. Seguem as próprias ideias e
desprezam abertamente o que Deus ordena:
“Eles trocaram a verdade de Deus pela
mentira e adoraram a criatura em lugar do Criador”
(Rm 1, 25).
36.ª mensagem: Calar-se diante das
perguntas embaraçosas. |
Nosso Senhor não foi arrogante, mas calou-se diante do
inimigo:
“Jesus, porém, ficou calado” (Mt
26, 63).
Calar-se
diante dos inimigos que fazem perguntas embaraçosas
é sinal de grande sabedoria:
“Eu disse: ‘Vou guardar meu caminho,
para não pecar com a língua; vou guardar minha boca com mordaça,
enquanto o ímpio estiver à minha frente’”
(Sl 39, 2).
37.ª mensagem: Deixar a iniquidade mentir a
si mesma. |
Jesus Cristo, o Deus da
verdade, ficou calado diante dos iníquos. Nosso Senhor
conhecia muito as injustiças dos inimigos:
“Jesus, porém, ficou
calado” (Mt 26, 63).
Não devemos perder tempo com as pessoas
mentirosas nem saciar suas curiosidades.
38.ª mensagem: Calar os inimigos com o
nosso bom exemplo. |
O Conselho procurava um
falso testemunho para condenar o Senhor à
morte; mas não encontraram: “Ora, os
chefes dos sacerdotes e todo o Sinédrio procuravam um falso
testemunho contra Jesus, a fim de matá-lo, mas nada encontraram,
embora se apresentassem muitas falsas testemunhas”
(Mt 26, 59-60).
Quem vive santamente não teme as calúnias
dos inimigos... o seu bom exemplo tapa a boca de todos:
“Pois esta é a
vontade de Deus que, fazendo o bem, tapeis a boca à ignorância
dos insensatos” (1 Pd 2, 15).
Uma vida sem mancha é a melhor defesa.
39.ª mensagem: Deus não peca. |
O Conselho procurava algo de errado em Jesus Cristo para
condená-lo, mas não encontrou... Deus não pode pecar:
“... os chefes
dos sacerdotes e todo o Sinédrio procuravam um falso testemunho
contra Jesus, a fim de matá-lo, mas nada encontraram”
(Mt 26, 59-60).
Servimos ao Deus Eterno que não pode pecar.
Contemplemos a santidade de Nosso Senhor e imitemos o seu
exemplo:
“Tornai-vos, pois, imitadores de Deus, como filhos amados”
(Ef 5, 1).
40.ª mensagem: Os poderosos do mundo também
cometem injustiça. |
Os juízes, cujo ofício era proteger o inocente, procuravam
testemunhas falsas para condenar o Senhor:
“... os chefes dos
sacerdotes e todo o Sinédrio procuravam um falso testemunho
contra Jesus, a fim de matá-lo, mas nada encontraram”
(Mt 26, 59-60).
Muitos poderosos desse mundo: juízes,
promotores, delegados... sedentos de vingança e para proteger
pessoas criminosas, voltam as costas para a
justiça e condenam muitos
inocentes:
“Que os poderosos reunidos me condenem; o que me importa é o
vosso julgamento!” (Sl 118, 23).
41.ª mensagem: Não atender à voz da paixão. |
Se fossem chefes honestos não atenderia à voz da paixão, mas
ficariam do lado de Jesus Cristo:
“... os chefes dos
sacerdotes e todo o Sinédrio procuravam um falso testemunho
contra Jesus, a fim de matá-lo, mas nada encontraram”
(Mt 26, 59-60). O ódio contra Jesus
Cristo “devorava” seus corações.
As paixões
desordenadas cegam, maculam e fatigam a alma... enfraquecem a
vontade. O escravo das paixões despreza o caminho da luz para
seguir as trevas: “As paixões são
como rapazinhos inquietos e descontentes, que sempre estão
pedindo à mãe ora isto ora aquilo, e não ficam satisfeitos”
(São João da Cruz).
42.ª mensagem: Dizer a verdade aos inimigos
e perseguidores. |
Jesus Cristo não
tremeu nem se intimidou diante do interrogatório,
mas disse a verdade para todos:
“E o Sumo Sacerdote lhe
disse: ‘Eu te conjuro pelo Deus Vivo que nos declares se tu és o
Cristo, o Filho de Deus’. Jesus respondeu: ‘Tu o disseste.
Aliás, eu vos digo que, de ora em diante, vereis o Filho do
Homem sentado à direita do Poderoso e vindo sobre as nuvens do
céu’” (Mt 26, 63-64).
Não podemos esconder a verdade nem
adulterá-la por respeito ou medo
dos perseguidores; mas devemos pregá-la abertamente:
“Enviada e
evangelizadora, a Igreja envia também ela própria
evangelizadores. É ela que coloca em seus lábios a Palavra que
salva, que lhes explica a mensagem de que ela mesma é
depositária, que lhes confere o mandato que ela própria recebeu
e que, enfim, os envia a pregar. E a pregar, não as suas
próprias pessoas ou as suas ideias pessoais, mas sim um
Evangelho do qual nem eles nem ela são senhores e proprietários
absolutos, para dele disporem a seu bel-prazer, mas de que são
os ministros para transmiti-lo com a máxima fidelidade”(Bem-aventurado
Paulo VI).
43.ª mensagem: Hipocrisia humana. |
Caifás, como se estimasse saber a verdade, disse a
Jesus Cristo:
“E o Sumo Sacerdote lhe disse: ‘Eu te conjuro pelo Deus Vivo que
nos declares se tu és o Cristo, o Filho de Deus’”
(Mt 26, 63). Hipocrisia e malícia
requintada! Se Jesus negar, será condenado, porque antes
reivindicou para si esta dignidade; se afirmar, o condenarão
como blasfemador. Jesus Cristo podendo livrar-se da dificuldade,
não o quis em respeito ao nome de Deus e por amor a nós.
Devemos nos manter firmes na fé diante da
hipocrisia dos homens. Caso seja preciso, devemos sacrificar a
vida do que a fé, a inocência ou a glória de Deus:
“Detestarás toda a hipocrisia e tudo o
que é desagradável ao Senhor”
(Didaqué).
44.ª mensagem: Cuidado para não deixar a
graça de Deus passar. |
O pontífice
ouviu a verdade dos lábios de Jesus Cristo e
rasgou as vestes ao invés de adorá-lo como Deus verdadeiro:
“O Sumo Sacerdote, então, rasgando as
suas túnicas” (Mc 14, 63).
Milhões de pessoas ouvem a verdade e não
mudam de vida, não a seguem...
preferem “rasgar” as vestes ao invés de abrir o coração para
Deus: “Rasgai
os vossos corações, e não as vossas roupas” (Jl
2, 13).
45.ª mensagem: Voltar as costas para a
verdade. |
Os inimigos não suportaram ouvir a verdade
e a chamaram de blasfêmia:
“O Sumo Sacerdote então
rasgou suas vestes, dizendo: ‘Blasfemou! Que necessidade temos
ainda de testemunhas? Vede: vós ouvistes neste instante a
blasfêmia. Que pensais?’ Eles responderam: ‘É réu de morte’”
(Mt 26, 65-66).
Milhões de pessoas não suportam ouvir a
verdade e a desprezam com fúria e zombaria...
preferem seguir o caminho da mentira e da
escuridão: “Pois virá um
tempo em que alguns não suportarão a sã doutrina”
(2 Tm 4, 3).
46.ª mensagem: Quem diz a verdade é odiado. |
Jesus Cristo pregou a verdade e
foi odiado:
“Eles responderam: ‘É réu de morte’”
(Mt 26, 66).
Muitas pessoas são odiadas por causa da
verdade... o mundanos não querem ouvi-la:
“A verdade gera o ódio”
(Santo Agostinho).
47.ª mensagem: Quem prega a verdade pode
ser agredido até fisicamente. |
Sendo Jesus Cristo, nosso
Salvador, declarado réu de morte,
puseram-se todos a maltratá-lo como a um malfeitor:
“E cuspiram-lhe no rosto
e o esbofetearam. Outros lhe davam bordoadas, dizendo: ‘Faze-nos
uma profecia, Cristo: quem é que te bateu?’” (Mt
26, 67-68).
Não podemos deixar de pregar a verdade por medo
de sermos agredidos fisicamente; pelo contrário,
devemos imitar o exemplo dos Apóstolos que se alegraram diante
das agressões:
“Chamaram de novo os apóstolos e açoitaram-nos com varas...
Quanto a eles, saíram do recinto do Sinédrio regozijando-se por
terem sido achados dignos de sofrer pelo Nome de Jesus”
(At 5, 40-41).
48.ª
mensagem: Sacrilégio. |
Quem recebe a Santíssima Eucaristia em pecado mortal imita a
crueldade daqueles homens que injuriaram o Senhor:
“E cuspiram-lhe no rosto
e o esbofetearam. Outros lhe davam bordoadas, dizendo: ‘Faze-nos
uma profecia, Cristo: quem é que te bateu?’” (Mt
26, 67-68).
Infeliz da pessoa que se aproxima da
Santíssima Eucaristia em pecado mortal.
Ela imita o péssimo exemplo dos
carrascos que feriram o Senhor: “Quem
recebe a Santíssima Eucaristia estando em pecado mortal
recebe-se na verdade o corpo de Jesus Cristo, não, porém, as
graças ligadas ao Sacramento. Comete-se um pecado enorme: é o
crime de Judas Iscariotes” (Monsenhor Cauly).
49.ª mensagem: Nosso Senhor não ameaçou os
inimigos. |
Cuspiram na
Sagrada Face do Salvador! Ele é o Cordeiro de Deus e
chegou a hora em que se entrega aos sofrimentos e bebe o cálice
de amargura, em que suporta também pacientemente esta
criminosa ignomínia:
“E cuspiram-lhe no rosto e o
esbofetearam” (Mt 26, 67).
Devemos suportar, por amor a Jesus Cristo, as
injustiças e zombarias dos
perseguidores sem ameaçá-los... assim nos unimos ao Senhor
que não ameaçou os seus carrascos:
“Quando injuriado, não revidava; ao
sofrer, não ameaçava” (1 Pd 2, 23).
50.ª mensagem: Ignoraram a beleza de Jesus
Cristo. |
Os inimigos contemplaram
a beleza do Filho de Deus e a ignoraram... preferiram
cuspir na belíssima Face do Redentor:
“E cuspiram-lhe no rosto
e o esbofetearam” (Mt 26, 67).
Os mundanos têm os olhos fechados,
não veem a verdadeira beleza de Deus... e, assim, seguem a
lama do mundo:
“O mundo não é nada. Só Deus é tudo... o mundo
nada tem de bom e de estável. Seus bens não passam de vaidade,
decepção e anarquia. Suas promessas são estéreis, falsas e
pérfidas. Suas honras, seus prazeres e suas amizades geram a
escravidão, o pecado e a apostasia” (São Pedro
Julião Eymard).
51.ª
mensagem: Desprezaram e agrediram a Jesus
Cristo. |
Ao invés dos carrascos beijarem e
adorarem a Face do Salvador, preferiram
esbofeteá-la com violência e maldade:
“E cuspiram-lhe no rosto
e o esbofetearam” (Mt 26, 67).
Hoje, infelizmente, milhões de inimigos de Nosso
Senhor desprezam, profanam e destroem os sacrários
onde está o Santíssimo Corpo do Salvador... pisando e
sujando a sua Santíssima Face:
“Jesus é muito ofendido
na Eucaristia pelas múltiplas irreverências cometidas... cujo
número e malícia causam admiração aos próprios demônios”
(São Pedro Julião Eymard).
52.ª mensagem: Não perder a oportunidade de
se aproximar do Senhor. |
Os
carrascos tiveram uma preciosa oportunidade para
mudarem de vida... estavam próximos do Senhor, bastava pedir-lhe
perdão; mas não, jogaram tudo fora:
“E cuspiram-lhe no rosto
e o esbofetearam” (Mt 26, 67).
São milhões os que ouvem a Palavra de Deus,
recebem bons conselhos, estudam catequese, leem livros piedosos
e até já receberam a Comunhão e foram crismados...
“estiveram” com o Salvador, mas jogaram fora a
oportunidade e preferiram seguir as trevas:
“Com efeito, se, depois de fugir às
imundícies do mundo pelo conhecimento de nosso Senhor Jesus
Cristo, de novo são seduzidos e se deixam vencer por elas, o seu
último estado se torna pior do que o primeiro. Assim, melhor
lhes fora não terem conhecido o caminho da justiça do que, após
tê-lo conhecido, desviarem-se do santo mandamento que lhes foi
confiado. Cumpriu-se neles a verdade do provérbio: O cão
voltou ao seu próprio vômito, e: ‘A porca lavada tornou a
revolver-se na lama’”
(2 Pd 2, 20-22).
53.ª
mensagem: Muitos se aproximam de Jesus Cristo para se condenarem
ao inferno eterno. |
Esses carrascos estavam próximos do
Salvador: contemplaram a sua Santíssima Face, falaram com
Ele, tocaram no seu Santo Corpo... mas não quiseram
segui-lo, jogaram tudo fora... se perderam:
“E cuspiram-lhe no rosto
e o esbofetearam” (Mt 26, 67).
Milhares de pessoas se aproximam de Jesus Cristo
e segue-o até certo ponto; mas depois desistem de segui-lo e se
enveredam pelo caminho da maldade e das trevas.
Conheceram o Salvador para se condenarem ao
inferno: “De
fato, os que uma vez foram iluminados — que saborearam o dom
celeste, receberam o Espírito Santo, experimentaram a beleza da
palavra de Deus e as forças do mundo que há de vir — e, não
obstante, decaíram, é impossível que renovem a conversão uma
segunda vez, porque da sua parte crucificam novamente o Filho de
Deus e o expõem às injúrias” (Hb 6, 4-6).
Infeliz da pessoa que não corresponde à formação recebida!
54.ª mensagem: Deus vê tudo. |
Esses homens vendaram a face do Senhor para
se ocultarem ao seu olhar.
Condenaram-se a nunca mais ver Jesus com os olhos da fé.
Pensavam que Jesus Cristo não veria as suas
más obras:
“Alguns começaram a cuspir n’Ele, a cobrir-lhe o rosto, a
esbofeteá-lo” (Mc 14, 65).
São Jerônimo escreve: “Foram
tantos os insultos e injúrias que naquela noite foram feitos ao
Senhor, que só no dia do juízo final serão conhecidos todos”.
Ninguém consegue se esconder aos olhos de
Deus. Não devemos estranhar a
maldade destes homens. Também fazemos o mesmo: pecamos e
com nossas hipocrisias logo queremos tapar os olhos de Deus,
para que não veja a nossa maldade:
“Do céu Deus contempla e
vê todos os filhos de Adão” (Sl 33, 13).
OBS: Essa pregação não está concluída;
assim que “surgirem” novas mensagens as acrescentaremos.
Pe. Divino Antônio Lopes FP (C)
Anápolis, 19 de agosto de 2016
Bibliografia
Sagrada Escritura
Pe. Luís de la Palma, A Paixão do Senhor
Pe. Juan Leal, A Sagrada Escritura
Daniel-Rops, Jesus no seu tempo
Pe. Juan de Maldonado, Comentário ao Evangelho de
São Mateus
Pe. Francisco Fernández Carvajal, Vida de Jesus
Santo Afonso Maria de Ligório, A prática do amor
a Jesus Cristo
Frei Luís de Granada, Escritos
Edições Theologica
São Beda, Escritos
São Jerônimo, Escritos
Santo Agostinho, Escritos
São Pio X, Catecismo Maior
Pe. João Batista Lehmann, Euntes... Praedicate!
São João da Cruz, Obras Completas
São Pedro Julião Eymard, A Divina Eucaristia,
Vol. 3
Pe. Alexandrino Monteiro, Raios de luz
Adolfo Tanquerey, Compêndio de Teologia Ascética
e Mística
Santa Teresa dos Andes, Diário
Monsenhor Cauly, Curso de Instrução Religiosa
Tomás de Kempis, Imitação de Cristo
Santa Catarina de Sena, Cartas
Pseudo-Jerônimo, Escritos
Didaqué, 4, 12
Bem-aventurado Paulo VI, Exortação Apostólica
“Evangelii Nuntiandi”, n.º 15
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