FOI TRANSFIGURADO DIANTE DELES

(Mc 9, 2-8)

 

 2 Seis dias depois, Jesus tomou consigo a Pedro, Tiago e João, e os levou, sozinhos, para um lugar retirado sobre uma alta montanha. Ali foi transfigurado diante deles. 3 Suas vestes tornaram-se resplandecentes, extremamente brancas, de uma alvura tal como nenhum lavadeiro na terra as poderia alvejar. 4 E lhes apareceram Elias com Moisés, conversando com Jesus. 5 Então Pedro, tomando a palavra, diz a Jesus: ‘Rabi, é bom estarmos aqui. Façamos, pois, três tendas: uma para ti, outra para Moisés e outra para Elias’. 6 Pois não sabia o que dizer, porque estavam aterrorizados. 7 E uma nuvem desceu, cobrindo-os com sua sombra. E da nuvem saiu uma voz: ‘Este é o meu Filho amado; ouvi-o’. 8 E de repente, olhando ao redor, não viram mais ninguém: Jesus estava sozinho com eles”.

 

 

Em Mc 9, 2 diz: “Seis dias depois, Jesus tomou consigo a Pedro, Tiago e João, e os levou, sozinhos, para um lugar retirado sobre uma alta montanha. Ali foi transfigurado diante deles”.

 

Apesar da clareza das palavras de Jesus Cristo, os apóstolos não compreenderam bem a que se referia quando lhes falava de morrer e ressuscitar ao terceiro dia. Os apóstolos acreditavam, como muitos de seus contemporâneos judeus, numa ressurreição no fim dos tempos, mas não podiam imaginar que Jesus regressasse à vida depois da morte.

Por isso, Jesus decide antecipar-se uma centelha da sua glória que os reconforte, antes que cheguem esses momentos terríveis da Paixão, que já se aproximava a grandes passos. São Leão Magno diz: “… o fim principal da transfiguração foi desterrar das almas dos discípulos o escândalo da cruz”. Para isto, tomou consigo Pedro, Tiago e seu irmão João, que tinham estado presentes na ressurreição da filha de Jairo (Cf. Mc 5, 37), e que serão testemunhas da agonia d’Ele no Getsêmani (Cf. Mt 26, 37).

Teofilacto escreve : “Tomou, pois, consigo as três eminências dos apóstolos: São Pedro que o ama e o confessa, São João, o discípulo amado e São Tiago, o teólogo eloqüente, ao que Herodes mandou matar, desejando agradar aos judeus que não podiam suportar esta qualidade”.

Neste versículo 2 do capítulo 9 de São Marcos diz: “Seis dias depois…”; em São Mateus 17, 1 diz: “Seis dias depois…”; e em São Lucas 9, 28 diz: “Mais ou menos oito dias…”; São Lucas diz mais ou menos oito dias, talvez porque conta o próprio dia dos acontecimentos de Cesaréia e da Transfiguração.

Pseudo-Jerônimo escreve:“Depois da confirmação da cruz, se mostra a glória da Ressurreição, para que não temam o opróbrio  da cruz aqueles que com seus olhos haviam de ver a glória da futura ressurreição, e assim disse: ‘Seis dias depois’, etc”.

A Transfiguração do Senhor sucedeu seis dias depois da confissão de Pedro em Cesaréia de Filipe (Cf. Mc 8, 27-30), e poucas semanas antes da festa dos Tabernáculos, que se celebrava no mês de Setembro.

Quanto ao lugar diz: “… e os levou, sozinhos, para um lugar retirado sobre uma alta montanha”; está claro que em Mc 9, 2 diz que os levou a uma alta montanha. Segundo uma tradição muito antiga, este monte foi o Tabor, a uns setenta quilômetros de Cesaréia de Filipe, e uns vinte a sudeste do mar da Galiléia. Esta montanha possui apenas 560 metros de altura, e dá para subi-la com facilidade numa hora.

"Alguns autores modernos propuseram o Hermon como lugar da Transfiguração, este monte tem 2.756 metros de altura e encontra-se só a uns 22 quilômetros a nordeste de Cesaréia de Filipe. Contudo, a tradição a favor do monte Tabor é muito clara e encontra-se atestada, entre outros, por Orígenes, São Cirilo de Jerusalém, São Jerônimo e Eusébio de Cesaréia…" (Pe. Francisco Fernández-Carvajal). Existem além disso restos arqueológicos de um santuário erigido no século IV em comemoração deste mistério, e segundo o Cônego Duarte Leopoldo, esse santuário foi construído por Santa Helena.

Pseudo-Crisóstomo escreve: “Não lhes manifesta sua glória em uma casa, mas num elevado monte, posto que convinha a elevação de um monte para manifestar a elevação de sua glória”, e: “Os leva a um lugar retirado, porque o que devia revelar-lhes eram mistérios. A transfiguração se deve entender, não como uma troca de figura, a qual seguiu sendo a mesma, senão como uma adição de certo esplendor inexplicável” (Teofilacto).

Em Mc 9, 2 diz ainda: “Ali foi transfigurado diante deles”.

Jesus Cristo se transfigurou sobre uma alta montanha; mas para se transfigurar, Ele teve que subir essa alta montanha.

Lembre-se de que a Transfiguração de Jesus é símbolo da nossa transfiguração: “… quem não inicia essa transfiguração aqui na terra, nunca chegará à completa transfiguração do Paraíso” (Pe. João Colombo).

Observemos os seguintes pontos em relação à subida de Jesus Cristo à esta alta montanha.

 

I. Ele não se transfigurou na planície, e sim, no cume de um monte.

 

O católico, para se transfigurar, deve deixar a “planície” do mundo e do pecado, deve se desapegar de tudo aquilo que desagrada a Deus. Em Colossenses 3, 1-2 diz: “… procurai as coisas do alto, onde Cristo está sentado à direita de Deus. Pensai nas coisas do alto, e não nas da terra”, e em Romanos 12, 2 diz também: “… não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos”; e no Salmo 24, 3-4 diz ainda: “Quem pode subir à montanha do Senhor? Quem pode ficar de pé no seu lugar santo? Quem tem mãos inocentes e coração puro, e não se entrega à falsidade, nem faz juramentos para enganar”; e São João da Cruz também escreve: “A alma presa pelos encantos de qualquer criatura, é sumamente feia diante de Deus, e não pode de forma alguma transformar-se na verdadeira beleza, que é Deus, pois a fealdade é de todo incompatível com a beleza”.

O católico que vive mergulhado na lama do mundo e se alimentando do lixo da vaidade, jamais se transfigurará; é impossível ser santo e viver ao mesmo tempo seguindo as máximas do mundo, como está em 1ª Tessalonicenses 4, 7: “Pois Deus não nos chamou para a impureza, mas sim para a santidade”.

 

II. Jesus Cristo perseverou na subida desta alta montanha de 560 metros de altura, Ele não ficou sentado ao pé da mesma ou parado na metade, mas perseverou até o fim, isto é, até ao cume do monte.

 

Para se transfigurar, isto é, para se santificar, para possuir uma vida cheia de virtudes e vazia de vícios, o católico deve perseverar em seus propósitos e buscar continuamente a santidade, como está em São Mateus 5, 48: “Portanto, deveis ser perfeitos como o vosso Pai Celeste é perfeito”. São Jerônimo escreve: “Muitos começam bem, mas poucos são os que perseveram”, e Santo Afonso Maria de Ligório também escreve: “Um Saul, um Judas, um Tertuliano, começaram bem, mas acabaram mal, porque não perseveraram como deviam”.

Lembre-se, católico, de que Jesus Cristo não ficou sentado ao pé da montanha ou parado na metade do caminho; Ele perseverou até o fim; e você para transfigurar-se, é preciso que persevere até o fim, como escreve São Bernardo de Claraval: “Não é ao que começa que se oferece o prêmio, mas sim, unicamente, ao que persevera”; e ao católico que não persevera, que fica adormecido à beira do caminho, está reservado o fogo do inferno, porque o próprio Jesus diz em São Mateus 10, 22: “Aquele que perseverar até o fim, esse será salvo”, não tem nada de bom reservado para aquele que fica sentado à beira do caminho, como escreve Santo Afonso Maria de Ligório: “Tu… que abandonaste o pecado e esperas, com razão, que tenham sido perdoadas as tuas culpas, gozas da amizade de Deus; todavia ainda não estás salvo, nem o estarás enquanto não tiveres perseverado até o fim”, e o mesmo Santo diz: “… se retrocederes e tornares a trilhar o mau caminho, Deus te excluirá do prêmio da glória”.

Então católico, sacode a poeira da preguiça e do comodismo, e persevere no caminho até o fim, somente assim você se transfigurará.

 

III. Jesus Cristo subiu a encosta áspera e nua daquela alta montanha, com certeza houve esforço por parte d’Ele, para subir uma montanha de 560 metros de altura.

 

Católico, se você deseja realmente se transfigurar, não recuse covardemente o esforço. Tome o Crucifixo e beijando-o, como os cavaleiros antigos beijavam as suas espadas, diga-lhe assim: “Meu Jesus, durante os trinta e três anos passados nesta terra, trabalhaste e choraste bastante. Hoje repousais. Cabe a mim combater e sofrer”.

Sem luta não há transfiguração; é preciso o esforço para tirar do coração tudo aquilo que atrapalha o nosso progresso no caminho da santidade, como está no livro do profeta Joel 2, 13: “Rasgai os vossos corações, e não as vossas roupas”.

Na subida da alta montanha da santidade, com certeza encontraremos muitas pedras, espinhos e poeiras; sentiremos também desânimo e cansaço, mas não devemos nos retroceder, pelo contrário, esforcemo-nos e assim chegaremos com a ajuda do Senhor ao lugar desejado, como escreve Clemente de Alexandria: “O Reino dos Céus não pertence aos que dormem e vivem dando-se todos os gostos, mas aos que lutam contra si mesmos…”, e São Josemaría Escrivá diz: “Ser fiel a Deus exige luta. E luta corpo a corpo, homem a homem – homem velho e homem de Deus –, detalhe a detalhe, sem claudicar, sem errar”, e o mesmo santo ainda diz: “A santidade, o verdadeiro afã por alcançá-la, não faz pausas nem tira férias”. Está claro que não existe transfiguração sem esforço, e esforço contínuo; é pura ilusão tentar chegar ao cume da santidade sem se esforçar.

Em Mc 9, 2 diz: “Ali foi transfigurado diante deles”.

O Senhor Jesus, agora já está no cume da alta montanha; Ele não está mais na planície do Esdrelon, subiu à montanha com perseverança e com um certo esforço. Em São Lucas 9, 28 diz: “… ele subiu à montanha para orar”.

Católico, Jesus te convida a subir a montanha para rezar, isto é, a se afastar do barulho do mundo e também, a deixar de lado as distrações, e assim, no silêncio e no recolhimento rezarás com maior perfeição e fervor.

O Pe. Juan de Maldonado comenta esse trecho de São Marcos.

Depois de seis dias. O mesmo tempo põe São Marcos (9, 2). Lucas (9, 28) diz: Depois de uns oito dias, o qual São Jerônimo, São João Crisóstomo, São Beda, Teofilacto e Eutimio explicam dizendo que Mateus e Marcos não contaram o dia em que foi feita a promessa, e, em compensação, Lucas sim. Também se poderia dizer que Lucas notou o tempo de um modo vago, e por isso disse oito dias.

Tomou. Aqui se podem propor muitas questões. Primeira: Por que Cristo quis transfigurar-se? Respondem Santo Hilário, São João Crisóstomo e Eutimio, que transfigurou para consolar aos discípulos aflitos pelo anúncio de sua morte. Teofilacto diz que Cristo transfigurou para provar o que havia dito no capítulo anterior: que viria na glória de seu Pai. Ambas coisas são mais prováveis que o que dizem os intérpretes hereges: que o fez para demonstrar que morreria por sua vontade e não à força, já que possuía tanta glória. Segunda questão: Por que não se transfigurou diante de todos os discípulos? A razão pode coligir do versículo 9, onde manda àqueles três preferidas testemunhas de sua majestade que a ninguém revele aquela visão até que o Filho do homem houvesse ressuscitado dentre os mortos. Não quis Cristo que sua divindade se divulgasse pelas razões ali expostas. Terceira razão: Por que manifestou sua glória a três discípulos e não aos outros? A mim parece, porque queria ter algumas testemunhas dela, uma única testemunha não é suficiente contra alguém (Dt 19, 15). Escolheu esses três discípulos que O acompanharia nas ocasiões mais solenes, como aparece em São Marcos (14, 33). Quarta questão: Por que teve preferência a Pedro, Tiago e João? Pedro era o primeiro dos apóstolos e quem mais O amava; João, a quem Cristo mais amava; Tiago, o primeiro depois de Pedro, ardentíssimo na fé, e que deu a vida pelo Mestre pelas mãos de Herodes, antes de seus condiscípulos. Estas informações trazem Orígenes, Santo Ambrósio, Santo Agostinho, São Jerônimo, Teofilacto e Eutimio. Uma coisa equivocara Santo Ambrósio e Santo Agostinho, dizer ser este Tiago o irmão do Senhor, quando o evangelista diz que foi irmão de João filho de Zebedeu.

Para um  monte elevado. Que monte fora este, não o dizem os evangelistas... e tão pouco o menciona os autores. Entretanto, já opinaram dizendo que foi o monte Tabor, do qual diz São Jerônimo que está na metade da Galiléia, de grande altura e bela forma redonda (Os modernos pensam que seria o monte Hermón de 2. 860 m. e próximo à Cesaréia, onde achava Jesus. Porém, a tradição do tabor é muito antiga; é também o tabor, conforme a descrição do texto, bastante alto (600 m.) e não tanto longe da Cesaréia). Se fosse este ou outro qualquer, poderia o leitor perguntar: por que razão escolheu Cristo um monte para demonstrar sua glória? Escreve São Lucas 9, 28: Subiu ao  monte para rezar; pois Cristo subia aos montes para rezar, onde é maior a solidão e mais livre a contemplação do céu.

E se transfigurou. Estupidamente, a meu juízo, traduziu o intérprete herege; e se transformou, quando o verbo grego do original não menos significa transfigurar-se que transformar-se, e o correspondente latino, em seu sentido de transforma-se, não é mais que transfigurar-se, v. gr., por Plínio, Quintiliano e Suetônio, e tem uma perigosa ambiguidade, já que pode referir-se à figura externa e à forma que chamam essencial quando Cristo é declarado, como observa São Jerônimo, o qual não mudou a natureza de seu corpo, mas só a externa figura e o aspecto.

 

Em Mc 9, 3 diz: “Suas vestes tornaram-se resplandecentes, extremamente brancas, de uma alvura tal como nenhum lavadeiro na terra as poderia alvejar”.

 

Era verão, e a vegetação que encontraram à sua passagem, a própria de um monte, estava meio seca. Devem ter empreendido o caminho já bem tarde. O Cônego Duarte Leopoldo diz: “A transfiguração se realizou, ao que parece, durante a noite”. Em São Lucas diz que os apóstolos “estavam pesados de sono” (9, 32), e também fala sobre tendas (9, 33), que sugere Pedro para passar a noite, e no mesmo, 9, 37 diz ainda: “No dia seguinte, ao descerem da montanha…”, de fato, passaram a noite no monte.

O Pe. João Colombo também escreve: “Cansados do caminho – estava ainda em pleno verão – os discípulos adormeceram no alto da montanha, acariciados pelo ar fresco; Jesus, porém, começou a orar”.

Católico, quando os apóstolos acordaram, uma grande luz resplandecia diante dos seus olhos confusos: a face do Mestre estava fúlgida como sol, e as vestes estavam brilhantes como neve. O corpo de Cristo transformou-se, e aparecia radiante de luz e de beleza. Cristo Jesus, Nosso Senhor, transfigurou-se.

Alguém poderia perguntar-me: o que devo fazer para transfigurar-me? Eu lhe diria que é necessário apenas uma coisa: rezar, rezar muito, rezar com fervor, rezar com devoção, atenção, respeito e perseverança. Santo Afonso Maria de Ligório escreve: “A oração é uma âncora segura para quem está em perigo de naufragar, é um tesouro imenso de riquezas para quem é pobre, é um remédio eficacíssimo para os enfermos e um fortificante certo para nossa saúde”, e o próprio Jesus Cristo se transfigurou enquanto rezava, como está em São Lucas 9, 29: “Enquanto orava, o aspecto de seu rosto se alterou, suas vestes tornaram-se de fulgurante brancura”. Está claro que Nosso Senhor se transfigurou enquanto rezava; e você se transfigurará se rezares com atenção, devoção e respeito.

São Beda escreve: “Transfigurado o Salvador, não perdeu sua substância corporal, mas mostrou a glória da sua futura ressurreição ou nossa. Ele que apareceu assim aos Apóstolos, assim aparecerá depois do juízo a todos os eleitos. ‘De forma que suas vestes apareceram resplandecentes’, etc” ( in Marcum, 3, 27), e: “Com razão se considera as vestes do senhor... as quais brilharam com uma nova brancura, devendo entender-se por lavadeiro aquele a quem se dirige o salmista quando disse: ‘Lava-me da minha iniqüidade e limpa-me do meu pecado’ (Sl 50, 4), porque não pode dar na terra a seus fiéis a claridade que reserva para eles no Céu” (Idem), e também: “As vestes brancas são os escritos evangélicos e apostólicos, cuja claridade não admite comparação, nem pode igualar nenhum dos expositores” (São João Crisóstomo, Homilia in Marcum, Hom., 10).

A oração enche de luz a nossa mente. Descendo do Sinai, Moisés, porque falara com Deus, tinha a mente cheia de esplendor (Cf. Ex 34, 29-35). Também nós, quando verdadeiramente rezamos e não pronunciamos só maquinalmente as palavras, como gramofone, ascendemos a um colóquio com Deus. É o Criador que escuta a nossa humilde voz, que acolhe os suspiros do nosso coração e que aceita os nossos desejos.

Santo Tomás de Aquino, quando tinha alguma dificuldade, rezava;  logo na sua mente fazia-se luz. Façamos assim também: quando tivermos aborrecimentos pela cabeça, rezemos e teremos a calma; quando tivermos tentações tormentosas, rezemos e obteremos vitória, e quando tivermos dúvida sobre a religião, rezemos, e obteremos a fé.

Além de encher a nossa mente de luz; a oração enche também de luz as nossas ações.

Uma noviça bate à porta e entra no quarto de Santa Teresinha do Menino Jesus. A santinha estava costurando; mas o triste quarto é inundado de um perfume primaveril, e no rosto da mesma palpita uma grande alegria. A noviça fica maravilhada e pergunta-lhe: “Em que está pensando?” E a santa lhe diz: “Estou meditando o Pai-Nosso”, e depois acrescenta: “É tão doce chamar a Deus de Pai-nosso…”, e nos seus olhos brilharam as lágrimas.

Mães cristãs, imitem o exemplo de Santa Teresinha do Menino Jesus; enquanto costuram a roupa de vossos filhos; enquanto preparam a comida para a família, etc., elevem o coração na oração, com aquelas orações devotas que vocês conhecem de cor, e assim, cada ação praticada por vocês se transfigurará como uma veste luminosa.

Esse exemplo de Santa Teresinha do Menino Jesus, de conversar com Deus durante o trabalho, não deve ser imitado só pelas mães; mas também pelos operários que trabalham nas oficinas, entre o barulho dos martelos, entre o rodar das máquinas… também eles devem lembrar-se de Deus, repetir alguma jaculatória e elevar a Deus o próprio trabalho. As suas jornadas se transfigurariam em jornadas luminosas, como as vestes de Jesus Cristo.

Também os estudantes, os lavradores, os atletas, os comerciantes, os motoristas, etc., todos devem imitar o exemplo de Santa Teresinha, isto é, de dialogar com Deus durante o trabalho, e assim, cada ação praticada se transfigurará como uma veste luminosa.

A oração, além de encher a nossa mente e as nossas ações de luz; enche também de luz o mundo inteiro.

Santo Antão, filho de família rica, viveu 70 anos no deserto. Dormia numa esteira áspera ou diretamente na terra; vivia só de pão e água, e jejuava até quatro dias seguidos. Certa vez foi procurá-lo um sábio, e perguntou-lhe como podia suportar aquela solidão sem livros; ele respondeu: “O meu livro é a natureza das coisas criadas por Deus… quando eu rezo, elas me abrem os livros divinos”.

Católico, quando você reza, não é verdade que o mundo todo vos parece mais belo e vos incita a rezar mais? As aves com o seu gorjeio, os rios com os seus murmúrios, as estrelas luzentes no firmamento, os montes verdes, as flores dos campos e dos jardins; tudo, numa palavra, nos eleva e nos consola. Está claro católico, que a oração bem feita enche de luz a nossa mente, as nossas ações e o mundo inteiro; por isso, aquele que quiser se transfigurar, deve rezar com atenção, devoção e respeito.

 

Em Mc 9, 4 diz: “E lhes apareceram Elias com Moisés, conversando com Jesus”.

 

Em seguida, os apóstolos puderam comprovar que Jesus Cristo não estava só. Moisés e Elias, também glorificados, resplandecentes (cfr. Lc 9, 31), falavam com Ele. O Pe. Francisco Fernández-Carvajal escreve: “Em Moisés estava representada a Lei, e em Elias os profetas. No meio encontra-se Jesus Cristo, em quem confluem e têm a sua plena realização tanto as antigas profecias como a Lei judaica”.

Não sabemos como os apóstolos reconheceram estes personagens, Moisés e Elias. Talvez pela conversa ou por uma graça especial. É possível também que Jesus lhos tenha dito mais tarde. Conversavam sobre a morte de Jesus que havia de ter lugar em Jerusalém (Cf. Lc 9, 31). A transfiguração era, em certo modo, uma preparação da Paixão, profetizada já no Antigo Testamento. Moisés e Elias sustentam a humanidade de Jesus, como uma antecipação do que realizará o anjo enviado pelo Pai durante a agonia no Getsêmani.

O Pe. Gabriel de Santa Maria Madalena também escreve: “Junto ao Senhor transfigurado aparecem dois homens: Moisés e Elias. O primeiro (Moisés) representa a lei, o segundo (Elias), os profetas. A lei que Jesus veio aperfeiçoar, os profetas, cujos ensinamentos e profecias veio respectivamente completar e realizar. A presença das duas personagens demonstra a continuidade entre o Antigo e o Novo Testamento e sua conversa anuncia a Paixão de Jesus; assim como, pela causa de Deus, sofreram e foram perseguidos, Moisés e Elias, assim também deverá padecer Jesus. Visão de glória, portanto, que se intercala com conversas sobre a Paixão: dois aspectos opostos, mas não contraditórios, do único mistério pascal de Cristo. Morte e Ressurreição, Cruz e glória”.

 

Em Mc 9, 5-6 diz: “Então Pedro, tomando a palavra, diz a Jesus: “Rabi, é bom estarmos aqui. Façamos, pois, três tendas: uma para ti, outra para Moisés e outra para Elias”. Pois não sabia o que dizer, porque estavam aterrorizados”.

 

O Pe. João Colombo escreve: “São Pedro viu apenas um raio do Céu na transfiguração, e logo se esqueceu de comer, de beber e de tudo, contanto que ali ficasse sempre a contemplar”, e “O apóstolo Pedro, animado pelas revelações destes mistérios, desprezando os bens mundanos e entediado dos terrenos, foi de certo modo raptado em espírito pelo anelo dos eternos. Repleto de alegria pelo conjunto da visão, queria habitar com Jesus no lugar onde se regozijava de ver revelada sua glória. O Senhor não respondeu a esta sugestão, indicando não ser má, mas desordenada a sua ambição. O mundo só podia ser salvo pela morte de Cristo. O Senhor com seu exemplo apelava pela fé dos fiéis. Se não podemos duvidar das promessas da bem-aventurança, entendamos, contudo, de vermos entre as tentações desta vida, antes pedir a paciência do que a glória, pois a felicidade do reino não pode antecipar-se ao tempo de sofrimento” (São Leão Magno), e também: “Jesus é tudo para ti, Ele é tudo o que pode desejar: se tens fome é pão, se tens a sede é água, se não vês é luz…” (Santo Agostinho) , e ainda: “Se a transfiguração de Cristo e a companhia dos santos, vistas por um instante, agradam de tal modo a Pedro, que para não desaparecerem, quer brindar sua hospitalidade; quanto não será a felicidade da contemplação perpétua da Divindade em meio dos coros dos anjos? ‘Porque ele não sabia o que dizia, continua” (São Beda, in Marcum, 3, 27), e: “Pedro, tão pouco entendeu que o Senhor havia se transfigurado para demonstrar sua verdadeira glória, nem que o espírito de Moisés não estava unido ainda com seu corpo, que fazia isso para ensinar aos homens, sendo muitos os que haviam de sair da multidão para ir morar nos desertos” (São João Crisóstomo), e também: “Ou de outro modo: Temendo Pedro descer do monte, porque sabia já que Cristo devia ser crucificado, disse: ‘É bom permanecermos aqui’, e não descer para o meio dos judeus. Se eles vierem furiosos contra ti, temos a Moisés, que combateu os egípcios, e a Elias, que fez descer fogo do céu e que destruiu cinqüenta homens” (Teofilacto).

Esta centelha da glória divina inundou os Apóstolos de uma felicidade tão grande que fez Pedro exclamar: Senhor, é bom permanecermos aqui. Façamos três tendas… Pedro quer prolongar a situação. Mas, como dirá mais adiante o evangelista, “… não sabia o que dizia”; pois, o que é bom, o que importa, não é estar aqui ou ali, mas estar sempre com Cristo, em qualquer parte, e vê-lO por trás das circunstâncias em que nos encontramos. Se estamos com Jesus Cristo, se vivemos unidos ao nosso Mestre, tanto faz que estejamos rodeados dos maiores consolos do mundo ou prostrados na cama de um hospital, padecendo dores terríveis. O que importa é somente isso: ver a Jesus Cristo e viver sempre com Ele. Esta é a única coisa verdadeiramente boa e importante na vida presente e não na outra. São Beda escreve: “Jesus Cristo, numa piedosa autorização, permitiu que Pedro, Tiago e João fruíssem durante um tempo muito curto da contemplação da felicidade que dura para sempre, a fim de fortalecê-los perante a adversidade”.

A vida dos homens é uma caminhada para o céu, que é a nossa morada (Cf. 2 Cor 5, 2). Uma caminhada que, às vezes, se torna áspera e difícil, porque com freqüência devemos, remar contra a corrente e lutar contra muitos inimigos interiores ou de fora. Mas o Senhor quer confortar-nos com a esperança do céu, de modo especial nos momentos mais duros ou quando se torna mais patente a fraqueza da nossa condição. São Josemaría Escrivá diz: “À hora da tentação, pensa no Amor que te espera no Céu. Fomenta a virtude da esperança, que não é falta de generosidade”, e São João Crisóstomo também escreve: “No céu tudo é repouso, alegria, regozijo; tudo é serenidade e calma, tudo paz, resplendor e luz. Não é uma luz como de que gozamos agora, a qual, comparada com aquela, não passa de uma lâmpada ao lado do sol… Porque lá não há noite nem tarde, frio nem calor, mudança alguma no modo de ser, mas um estado tal que somente o entendem os que são dignos de gozá-lo. Não há ali velhice, nem dores, nem nada que se assemelhe à corrupção, porque é o lugar e aposento da glória imortal… E, acima de tudo, é o convívio e o gozo eterno com Cristo, com os anjos…, todos perpetuamente unidos num sentir comum, sem medo das investidas do demônio nem das ameaças do inferno e da morte”.

São Pedro disse a Jesus Cristo: “Senhor, é bom estarmos aqui”. São Pedro estava no cume do monte, afastado do barulho e da lama do mundo, estava no silêncio e unido a Nosso Senhor,  por isso, não sentia mais vontade de descer do monte, queria permanecer no monte, porque ali  sentia a felicidade e a paz verdadeira.

Também você, católico, se estiver sempre unido a Cristo Jesus, mergulhado nesse Oceano de Amor e da Paz, com certeza não sentirá mais vontade de servir ao mundo inimigo de Deus, porque em Cristo Jesus encontrarás o verdadeiro consolo, como está no Salmo 73, 25-28: “Contigo, nada mais me agrada na terra…. Quanto a mim, estar junto de Deus é o meu bem!”

A alma que se sente feliz por estar unida ao Esposo Celeste é fiel e sabe realmente escolher o melhor; mas, a alma que abandona o Esposo Celeste para fuçar o lixo do mundo é adúltera e traidora, digna de ser cuspida.

 

Em Mt 9, 7 diz: “E uma nuvem desceu, cobrindo-os com sua sombra. E da nuvem saiu uma voz: “Este é o meu Filho amado; ouvi-o”.

 

Essa nuvem evoca-nos aquela que acompanhava a presença de Deus no Antigo Testamento: “A nuvem cobriu a Tenda da Reunião, e a glória de Deus encheu a  habitação. Moisés não pôde entrar na Tenda da Reunião porque a nuvem permanecia sobre ela, e a glória de Deus enchia a Habitação” (Ex 40, 33-35). A nuvem era o sinal que acompanhava as intervenções divinas; Êxodo 19, 9 diz: “Deus disse a Moisés: “Eis que virei a ti na escuridão de uma nuvem, para que o povo ouça quando eu falar contigo, e para que também creiam sempre em ti”. Essa nuvem envolve agora Cristo no Tabor e dela surge a voz poderosa de Deus Pai: “Este é o meu filho muito amado; ouvi-o” (Mc 9, 7).

Em Mt 17, 6 diz: “Os discípulos, ouvindo a voz, muito assustados, caíram com o rosto no chão”. São Leão Magno escreve: “Os discípulos foram tomados de medo, não só do Pai, mas também tremeram perante a majestade do Filho”. A Palavra de Deus diz que essa voz saiu da nuvem.

São Beda escreve: “Depois de pensar em uma tenda material, Pedro recebeu abrigo em uma nuvem, com o qual lhe ensinou que na ressurreição seremos protegidos, não por um teto de uma casa, mas pela glória do Espírito Santo. ‘Se formou uma nuvem que o cobriu’. Porém, como fez uma pergunta imprudente, não mereceu resposta do Senhor; é o Pai quem responde  pelo Filho. ‘E saiu de uma nuvem uma voz que dizia: Este é meu Filho’, etc” (in Marcum, 3, 27).

Depois daquele breve esplendor de Paraíso, uma nuvem ocultou a glória de Jesus e ouviu-se somente uma voz.

Jesus Cristo está no meio de nós, mas ainda hoje, como outrora, está velado por uma nuvem.

"Uma nuvem vela Jesus, presente na Eucaristia; e você que não quiser reconhecê-Lo, por estar Ele escondido por trás da nuvem eucarística, Ele não te reconhecerá quando, manifesto na sua glória, vier para te julgar.

Uma nuvem vela Jesus presente no seu sacerdote.

Na França, uma multidão procurava diariamente São João Maria Vianney; e quem era esse homem que fascinava os corações? Era o sacerdote: o humilde, o pobre, o mais obscuro sacerdote de Cristo; porém, de seu corpo macerado pelo jejum e pela penitência, transparecia, como através de uma nuvem cândida, a figura de Jesus. O sacerdote é um outro Cristo" (Pe. João Colombo).

“Estarei convosco até o fim dos séculos”, disse Jesus, e o está na pessoa dos sacerdotes. “Isto é o meu corpo…” diz o sacerdote consagrando, porque ele é Jesus.

“Eu te absolvo…”, diz-nos na confissão.

Quantos católicos que não escutam o sacerdote! Quantos que o desprezam e o perseguem! Esses infelizes perseguem a Jesus Cristo.

"Uma nuvem vela Jesus presente no Evangelho.

É o Evangelho que nos pinta diante dos olhos a divina figura do Salvador: toda a vida de Jesus, toda a sua paixão é, no Evangelho, como que refeita sob os nossos olhares.

No Evangelho há as palavras mais belas de Jesus Cristo, e a sua voz divina, através das palavras, ainda palpita, desce aos corações, e nós a reconhecemos" (Pe. João Colombo).

Apontando o Evangelho, diz o divino Pai: “É o meu Filho dileto que fala: escutai-O”. E hoje, milhares de católicos não suportam, sequer, ouvir nem por meia hora a explicação do Santo Evangelho; mas possuem tempo para ouvir músicas profanas e piadas imorais.

Em Mc 9, 7 diz também: “Este é o meu Filho amado; ouvi-o”.

São Leão Magno, comentando esse versículo escreve: “Este é o meu Filho’ que a divindade de mim não separa, o poder não divide, a eternidade não discerne. ‘Este é o meu Filho’, não adotivo, mas próprio; não criado de outrem, mas gerado de mim; não de outra natureza comparável a minha, mas igual a mim, nascido de minha essência. Este é o meu Filho, por quem todas as coisas foram feitas, e sem ele, coisa alguma foi feita, porque tudo o que eu faço, ele o faz de modo semelhante, e tudo o que eu opero, ele o faz comigo inseparavelmente e sem diferença. O Filho está no Pai, e o Pai no Filho e a nossa unidade é indivisível. E sendo eu uma Pessoa que gerou, ele outra, a quem gerei, não é lícito pensar dele algo de diverso do que é possível cogitar a meu respeito. ‘Este é o meu Filho’ que não se prevaleceu da igualdade que tem comigo, nem presumiu usurpar. Permanecendo na natureza de minha glória, a fim de cumprir o desígnio comum de restaurar o gênero humano, condescendeu até unir a imutável Divindade à natureza de servo”.

E o mesmo São Leão Magno comentando a expressão: “Ouvi-O”, escreve:

“Ouvi-O! Os mistérios da lei prenunciaram. Cantaram-no os lábios dos profetas.

Ouvi-O! Redime o mundo em seu sangue, amarra o diabo e toma seus utensílios, destrói o documento do pecado e rompe o pacto da prevaricação.

Ouvi-O! Ele abre o caminho do céu, e pelo suplício da cruz, prepara-vos a ascensão ao reino”.

 

Em Mc 9, 8 diz: “E de repente, olhando ao redor, não viram mais ninguém: Jesus estava sozinho com eles”.

 

Elias e Moisés já não estavam presentes. "Só vêem o Senhor: o Jesus de sempre, que por vezes passa fome, que se cansa, que se esforça por ser compreendido…Jesus sem especiais manifestações gloriosas. Normalmente, os Apóstolos viam o Senhor assim; vê-lO transfigurado foi uma exceção.

 Devemos encontrar esse Jesus na nossa vida corrente, no meio do trabalho, na rua, nos que nos rodeiam, na oração, quando nos perdoa no Sacramento da Penitência, e, sobretudo na Sagrada Eucaristia, onde se encontra verdadeira, real e substancialmente presente. Devemos aprender a descobri-Lo nas coisas ordinárias, correntes, fugindo da tentação de desejar o extraordinário" (Pe. Francisco Fernández-Carvajal).

São Beda escreve: “Mostra Deus Pai aos discípulos, que devem ouvir ao Verbo feito carne, a quem Moisés predisse (Dt 18) que devia ouvir, todo o que quisesse se salvar quando viesse em carne mortal. ‘E olhando em torno, não viram consigo ninguém’, etc.” (in Marcum, 3, 27), e: “Em sentido místico, isto significa que depois da consumação deste mundo – que foi feito em seis dias -, se somos seus discípulos, Jesus nos levará ao alto monte, isto é, ao Céu, e então veremos sua singular glória” (Teofilacto).

Não devemos esquecê-Lo nunca: esse Jesus que esteve no Tabor com aqueles três privilegiados, é o mesmo que está ao nosso lado diariamente.

 

Pe. Divino Antônio Lopes FP.

Anápolis, 08 de fevereiro de 2008

 

 

 

Vide também:

Ouvi-o

... sobre uma alta montanha

 

 

 

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Depois de autorizado, é preciso citar:

Pe. Divino Antônio Lopes FP. “Foi transfigurado diante deles”.

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