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					ESTARÁS COMIGO 
					
					(Lc 23, 43) 
					  
					
					“Em verdade, eu 
					te digo, hoje estarás comigo no Paraíso”. 
					  
					
					À súplica do 
					bom ladrão, Jesus Cristo respondeu: 
					“Em verdade, eu te digo, hoje estarás comigo no Paraíso”. 
					Diante desta esplêndida resposta de Jesus Cristo, é preciso 
					considerar primeiramente a eficácia da oração em que rogou 
					pelos pecadores, colhendo logo o fruto dela neste 
					grande pecador; do qual dizem alguns que no início 
					blasfemava contra Jesus, juntamente com o seu companheiro.
					São Mateus e São Marcos dizem no 
					plural que os ladrões escarneciam de Nosso Senhor; e sendo 
					assim, muito mais sobressai a virtude de Jesus Cristo em 
					converter este blasfemo, como depois se mostrou em converter 
					a Saulo pela oração de Santo Estevão. Pondera como 
					resplandece também aqui a eficácia do Sangue de Jesus Cristo 
					derramado na cruz, da qual foram primícias este bom 
					ladrão, convertendo de modo maravilhoso, perdoando-lhe 
					seus pecados... a culpa e a pena, prometendo-lhe a entrada 
					no paraíso sem demora, e assegurando-lhe a salvação. Olha, 
					por último, a generosidade e riqueza desta promessa de Jesus 
					Cristo. O bom ladrão pede a Jesus apenas que 
					se lembre dele quando vier com seu reino, e Jesus Cristo lhe 
					garante que naquele mesmo dia estará com Ele no paraíso. 
					Jesus não lhe diz que entrará no paraíso depois de alguns 
					dias... nem que passará algum tempo no purgatório, mas quer 
					que do tormento da cruz passe imediatamente ao paraíso, 
					cumprindo nesse afortunado ladrão o que havia dito, 
					que o que O seguisse estaria com Ele para sempre. 
					
					José A. 
					Marques 
					comenta: Ao responder ao bom ladrão, Jesus manifesta que é 
					Deus, porque dispõe da sorte eterna do homem; que é 
					infinitamente misericordioso e não rejeita a alma que se 
					arrepende com  sinceridade. De igual modo com essas 
					palavras, Jesus revela-nos uma verdade fundamental da nossa 
					fé. 
					
					O 
					Bem-aventurado Paulo VI 
					escreve: Cremos na vida eterna. Cremos que as almas de todos 
					aqueles que morreram na graça de Cristo – tanto as que ainda 
					devem ser purificadas com o fogo do Purgatório, como as que 
					são recebidas por Jesus no Paraíso a seguir à separação do 
					corpo, como o Bom Ladrão -, constituem  o Povo de Deus 
					depois da morte, a qual será destruída por completo no dia 
					da Ressurreição, em que estas almas se unirão com os seus 
					corpos. 
					
					O Pe. Manuel 
					de Tuya comenta:
					A resposta de Jesus Cristo é prometer-lhe, com grande 
					solenidade, que
					“hoje estarás comigo no Paraíso”. 
					Cristo diz-lhe que não será condenado. Não é um profeta que 
					anuncia uma revelação escondida; é Cristo Jesus que aparece 
					dizendo que ele não será condenado. E isto é poder exclusivo 
					de Deus. O “paraíso”, palavra persa, significa 
					jardim. Os judeus conheciam este como lugar das almas 
					justas com o nome de “Grande Éden”, “Jardim do 
					Éden”. Entretanto, aqui não é o céu como lugar, 
					já que neste não entrou ninguém, até que ingressasse nele 
					Cristo ressuscitado. Não obstante, ao descer Cristo aos 
					infernos, conferiu a visão beatífica às almas já 
					justificadas (Santo Tomás de Aquino). 
					Os 
					autores costumam valorizar esta expressão não de lugar, mas 
					de participação da felicidade com Jesus Cristo  (Fl 1, 23).
					Baseiam-se na locução análoga “seio de Abraão”,
					que não indica propriamente lugar, 
					mas participação na felicidade do pai dos fiéis. O mesmo que 
					em outras locuções semelhantes: “estar entre os santos”,
					“congregar-se com os pais”. 
					
					O 
					Pe. Juan Leal explica: 
					Jesus Cristo se revela agora como o redentor dos pecadores e 
					concede mais do que o bom ladrão pede. Naquele mesmo dia vai 
					entrar com Ele na mansão dos justos. Hoje se 
					deve unir com a frase que segue: “estarás comigo no 
					paraíso”,e não com o verbo que o precede: “te digo 
					hoje”. Paraiso: é palavra tomada do persa 
					pairidaeza. Em hebraico e arameo pardes significa 
					um parque e jardim de recreio. É possível que 
					o Novo testamento coloque o paraiso no céu segundo a fórmula 
					de Mc 13, 27, muito mais clara em 2 Cor 12, 2ss, donde o 
					paraiso ou morada dos defuntos está em paralelo com o 
					terceiro céu. O abismo que separa o rico opulento do pobre 
					Lázaro supõe a mesma opinião. 
					
					
					Santo Afonso Maria de Ligório
					escreve:
					
					Jesus promete-lhe então o paraíso para o mesmo dia: 
					
					Em verdade eu te digo que hoje estarás comigo no paraíso. 
					Escreve um douto autor que com essa palavra o Senhor nesse 
					mesmo dia, imediatamente depois de sua morte, se lhe mostrou 
					sem véu, fazendo-o imensamente feliz, embora não lhe 
					conferisse todas as
					
					delícias do céu antes de entrar nele. 
					 Notemos 
					nesta passagem a bondade de Deus que concede sempre mais do 
					que se lhe pede como diz Santo Ambrósio: O Senhor sempre 
					concede mais do que se lhe pede; o ladrão pedia que se 
					recordasse dele e Jesus lhe respondeu: Hoje estarás comigo 
					no Paraíso. E São João Crisóstomo escreve: Não encontrarás 
					nenhum homem que tenha merecido tal promessa antes do bom 
					ladrão. Realizou-se o que Deus disse por Ezequiel que, 
					quando o pecador se arrepende deveras de suas culpas, ele o 
					perdoa de tal modo, como se esquecesse todas as ofensas que 
					lhe foram feitas. E Isaías nos faz saber que Deus é tão 
					inclinado ao nosso bem que, quando o imploramos, ele nos 
					atende imediatamente. E Santo Agostinho diz que Deus está 
					sempre pronto para abraçar os pecadores penitentes. A cruz 
					do mau ladrão, suportada com impaciência, aumentou sua 
					desgraça no inferno; pelo contrário, a cruz do bom ladrão, 
					levada com paciência, tornou-se uma escada para o céu. Ó 
					feliz ladrão, que tiveste a sorte de unir a tua morte com a 
					morte de teu Salvador. Ó meu Jesus, eu vos sacrifico 
					doravante a minha vida e vos suplico a graça de poder unir 
					na hora de minha morte o sacrifício de minha vida com aquele 
					que oferecestes a Deus na cruz. Por ele espero morrer na 
					vossa graça e amando-vos com puro amor despojado de todo o 
					afeto terreno para continuar a amar-vos com todas as minhas 
					forças por toda a eternidade. 
					
					O Pe. Luis 
					de La Palma explica:
					O Senhor alegrou-se pelo primeiro 
					fruto de seu sangue derramado; a primeira conversão de um 
					pecador, que imediatamente se fazia de apóstolo. Como 
					Sacerdote lhe concedeu perdão, como Rei deu-lhe a riqueza:
					Em verdade te digo: hoje estarás comigo no paraíso (Lc 
					23, 43). 
					
					Um sacerdote 
					da Missão escreve: 
					Jesus Cristo, desse lugar humilhante, desse leito de dor, 
					dessa cadeira da verdade e de amor, profere uma palavra de 
					consolação para o bom ladrão: Hoje estarás comigo no 
					paraíso. 
					
					Mas direi melhor; Jesus deixou escapar 
					esta palavra de consolação para nós todos, para todo o 
					gênero humano. 
					
					Todo o gênero humano se acha como que 
					cravado na cruz: trabalhos, doenças, enfermidades e 
					contradições formam o suplício da totalidade das criaturas, 
					mas nem todos recebem do mesmo modo este suplício universal: 
					uns blasfemam, outros rezam; uns morrem na raiva e no 
					desespero; outros morrem na esperança e na tranquilidade... 
					uns como o bom ladrão, outros como o mau ladrão! Eis o 
					resumo da história do gênero humano! 
					
					O homem deve reconhecer sua incapacidade. 
					O homem com todos seus esforços, com todos seus desejos, 
					deve confessar hoje, como no passado, a sua limitação: o 
					homem, o cristão deve esperar de Deus o remédio real e 
					verdadeiro dos seus males, e Deus neste dia do alto da cruz 
					deixa cair uma palavra que consola, uma palavra que 
					sustenta, uma palavra que é o único e verdadeiro remédio a 
					todas as misérias que afligem a humanidade: 
					Hoje estarás comigo no paraíso.Verdadeira 
					palavra de consolação: hoje, isto é, brevemente 
					desaparecerá a pobreza, acabarão os padecimentos... em breve 
					não terão mais lugar as perseguições. 
					Porque em breve estarás comigo no paraíso! 
					
					Haverá, pois, 
					um dia para o gênero humano, em que terá lugar o que hoje se 
					verifica sobre o Calvário. Uns estarão à direita de Jesus 
					Cristo, outros à esquerda... como o bom ladrão e o mau 
					ladrão. À direita de Jesus está o paraíso, à sua esquerda o 
					inferno... à sua direita a vida e a felicidade eterna, à sua 
					esquerda a morte e o desespero eterno! A uns reprovará 
					eternamente, a outros enxugará as lágrimas, livrará das 
					aflições, e com uma só palavra remediará e sarará todos os 
					males que tiverem padecido: Hoje estarás comigo no 
					paraíso. 
					
					Repare cada qual a quem é que Jesus Cristo 
					diz estas consoladoras palavras: 
					Hoje estarás comigo no paraíso. 
					A um ladrão, a um criminoso crucificado, que já começa a 
					sofrer com paciência e resignação o seu suplício, e que não 
					só não se queixa e nem blasfema, mas repreende até o outro 
					condenado que continuava com suas blasfêmias... A um ladrão, 
					a um criminoso que reconhece dever fazer penitência... A um 
					ladrão, a um criminoso arrependido que se reconhece indigno 
					de tudo, só pede a Jesus que se lembre dele. A este 
					criminoso que sofre com paciência, que suporta seu martírio 
					em espírito de penitência, que se entrega inteiramente à 
					misericórdia de Deus é que Jesus Cristo dirige estas 
					consoladoras palavras: Hoje estarás comigo no paraíso. 
					Os teus pecados estão perdoados, tua penitência aceita, tua 
					resignação e confiança já merecem recompensa: Hoje 
					estarás comigo no paraíso. 
					
					Ó palavras 
					verdadeiramente consoladoras para todo o gênero humano! Não 
					somente para nos aliviar, fortalecer nas tribulações 
					inseparáveis desta vida, com a esperança da recompensa que 
					nos espera; mas também porque, por grandes que tenham sido 
					os nossos crimes, uma só palavra bastará para nos 
					purificar. 
					
					É bastante 
					suportar as tribulações com paciência, é bastante reconhecer 
					que merecemos sofrer, para que um grito do nosso coração nos 
					alcance o perdão de nossas culpas e a entrada no paraíso. É 
					bastante voltarmo-nos para Jesus Cristo como o bom ladrão e 
					dizermos: Senhor, lembrai-vos de mim; Senhor, tende 
					misericórdia de mim; Senhor, eu sou um grande pecador, não 
					sou digno dos vossos favores... me arrependo de todo 
					coração, só vos peço que do vosso augusto trono vos lembreis 
					de mim... e Ele nos responderá logo: Hoje estarás comigo 
					no paraíso. 
					
					Tu que lastimas a tua sorte... que vives 
					na pobreza, que desejarias abundância e comodidades; olha 
					para Deus que, sendo infinitamente rico, se fez pobre por 
					teu amor; recorda-te que Ele nos diz quanto seja dificultosa 
					aos ricos a entrada no paraíso, pelo abuso que 
					ordinariamente fazem da abundância, não esqueças que o mesmo 
					Deus chamou bem-aventurados aos pobres, e que finalmente em 
					breve acabarão as misérias... visto que hoje estarás no 
					paraíso. 
					
					Tu que sofres em uma cama, que tantas 
					doenças te acabrunham, que gastarias todo teu patrimônio 
					para adquirir saúde e prosperidade,  lembra-te do que diz o 
					Espírito Santo, que a prosperidade leva facilmente ao 
					esquecimento de Deus; lembra-te que proclamou 
					bem-aventurados os que sofrem, os que padecem e que em breve 
					acabarão as suas aflições e serão enxugadas as suas 
					lágrimas, porque hoje estarás 
					comigo no paraíso. 
					
					Tu que és 
					vítimas das perseguições e injustiças que tanto martirizam o 
					corpo, quanto penalizam a alma; olha para Jesus tão 
					injustamente condenado à morte... e como chamou de 
					bem-aventurados aos que choram e padecem perseguição, e que 
					a estes reserva uma recompensa muito grande, e ela não está 
					longe, pois hoje estarás comigo no paraíso. 
					
					Hoje, 
					isto é, em breve, talvez amanhã, talvez este ano... daqui a 
					dez anos! E, na verdade, o que são dez, vinte e trinta 
					anos?Toda a vida não é senão como um dia, comparada com a 
					eternidade! Com razão, pois, podemos dizer: hoje vai acabar 
					a pobreza... hoje vão desaparecer os sofrimentos... hoje vão 
					cessar as tribulações desta vida... hoje vai começar uma 
					vida nova, uma vida feliz, uma vida verdadeiramente 
					bem-aventurada; porque estaremos com Deus reinando 
					eternamente no paraíso: Hoje estarás comigo no 
					paraíso. 
					
					O Pe. Juan 
					de Maldonado explica: 
					E Jesus lhe disse: Hoje estarás comigo no paraíso. 
					Três palavras fazem aqui esta passagem: Hoje, paraíso 
					e comigo. HOJE, alguns que não acertavam com o 
					sentido da frase juntavam a palavra HOJE com as 
					anteriores, desta maneira: Em verdade te digo hoje (Teofilacto). 
					Porém, esta é uma sentença insípida e sem valor. Perdeu sua 
					ênfase. Em verdade te digo hoje, melhor seria: Em 
					verdade te digo agora. Outro escritor mais desatinado 
					ainda dá à palavra HOJE uma extensão desmesurada, até 
					o fim dos tempos, como se dissera Cristo: Em verdade te 
					digo: Hoje estarás comigo no paraíso, isto é, depois da 
					ressurreição e do último juízo. Tal opinião defenderam 
					muitos dos que acreditavam – autores não desprezíveis – que 
					as almas dos bem-aventurados não iam ao céu antes do último 
					juízo. Foram muitos os que assim pensaram. Se fosse isso que 
					Jesus Cristo quisesse dizer, não haveria respondido 
					oportunamente às preces do bom ladrão. 
					
					No paraíso. 
					O entendem de diversa maneira os antigos e os modernos.  Uns 
					acreditam que é o CÉU, como São Cirilo de Jerusalém, São 
					Gregório de Nissa, São João Crisóstomo e Santo Agostinho. E 
					ao perguntar como podia o bom ladrão estar no CÉU com 
					Jesus Cristo naquele mesmo dia, sendo que o Senhor tardaria 
					quarenta dias para subir para a glória; respondem parte dos 
					autores citados, com outros que seguem suas opiniões, que 
					Jesus Cristo, enquanto Deu está em todas as partes, e onde 
					quer que Ele esteja ali está o CÉU. Mesmo que essa 
					sentença venha de autores insignes, não posso aprová-la. 
					Outros comentaristas afirmam que se trata do paraíso 
					terreal, o de Adão e Eva (Teofilacto e Eutimio). Porém, 
					estes autores se guiam pelo som repetitivo da palavra, e 
					levam a Jesus Cristo, depois da sua morte, com o bom ladrão, 
					à região da Mesopotâmia. O que Cristo Jesus tinha que fazer 
					ali depois da morte?Que benefício encontraria ali o bom 
					ladrão, num lugar devastado e inútil para qualquer descanso? 
					
					O paraíso neste 
					lugar significa o seio de Abraão, onde as pessoas santas 
					estavam recolhidas até que se lhes abrissem o CÉU. 
					Aquele bem podia chamar-se paraíso e lugar de descanso... 
					pois para ele, como a mansão de delícias, ou pelo menos de 
					repouso, foi levado Lázaro depois de morto pelos anjos, e 
					como naquele local havia Cristo de descer na mesma 
					sexta-feira para mostrar-se ao santos que ali estavam presos 
					e pregar-lhes o Evangelho (1 Pd 3, 19) e tirar dali cativo o 
					cativeiro (Ef 4, 8), promete ao bom ladrão levá-lo consigo 
					àquele paraíso no mesmo dia (São Justino, Santo Atanásio e 
					Prudêncio). 
					  
					
					ORAÇÃO: Ó 
					Rei da glória! Se com tanta generosidade premiais ao que só 
					O seguiu três ou quatro horas de um dia; como premiareis ao 
					que O seguirdes com perfeição todas as horas de sua vida?Se 
					tão agradecido mostrais ao pecador que te injuriou muitas 
					vezes por ter-Lhe honrado apenas uma vez; que agradecimento 
					mostrará ao que te honrou durante toda a vida? Amém! 
					  
					
					Pe. Divino Antônio 
					Lopes FP (C) 
					
					Anápolis, 04 de 
					março de 2015 
					  
					  
					
					Bibliografia 
					  
					
					Sagrada Escritura 
					
					Pe. Ramón Genover, 
					Meditações Espirituais para todo o ano 
					
					
					Strack-B., Kommentar... II p. 264-268 
					
					Santo Tomás de 
					Aquino, Suma Teológica, III q. 52 a. 5 
					
					Pe. Manuel de Tuya, 
					Bíblia Comentada 
					
					L. 
					Leloir, Hodie mecum eris in paradiso: VD 28 (1959) 372-380 
					
					Santo Afonso Maria 
					de Ligório, A Paixão do Senhor 
					
					Pe. Luis de La 
					Palma, A Paixão do Senhor 
					
					José A. Marques, 
					Escritos 
					
					Bem-aventurado 
					Paulo VI, Credo do Povo de Deus 
					
					Sacerdote da 
					Missão, A Sagrada Paixão de Nosso Senhor Jesus 
					Cristo 
					
					Pe. Juan de Maldonado, Comentário sobre São 
					Mateus 
                      
					  
                      
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