A TERRA TREMEU
(Mt 27, 51)
“... a terra
tremeu e as rochas se fenderam”.
Considera como,
morrendo Jesus Cristo, a terra tremeu, as pedras se
partiram e os sepulcros se abriram. O Senhor ordenou
essas coisas milagrosas, principalmente por duas
causas. A PRIMEIRA, para que as
criaturas insensíveis dessem mostras de dor e sentimento
pela morte do Salvador, detestando a dureza e obstinação
daquele povo rebelde que O crucificou; e juntamente gerasse
confusão aos que não se compadecem da Paixão de Jesus
Cristo, nosso Senhor. Pelo qual devemos tremer e nos
estremecer de dor como a terra, vendo que o Senhor se
estremece na cruz; e o nosso coração deverá partir de dor
como as pedras, vendo que a pedra viva Cristo se parte pelo
meio, apartando-se sua alma do seu sofrido corpo. Quem assim
não o faz, é mais insensível que a terra e possui um coração
mais duro que as pedras. A SEGUNDA causa foi
para expressar que em virtude da Paixão de Cristo nosso
Senhor, tremeriam os corações terrenos com o santo temor de
Deus, que é o início da justificação; e por mais duro que
fossem, se tremeriam com a contrição e dor dos pecados, e se
abririam para descobrir na confissão suas obras mortas que
são as culpas que matam as almas, para ressuscitar com Jesus
Cristo para uma vida nova.
Dom Duarte
Leopoldo ensina:
Nota o Pe. Fouard que uma destas fendas, ainda hoje visível
na igreja do Santo Sepulcro, apresenta um aspecto bastante
extraordinário, pois que a ruptura do rochedo se fez em
sentido transversal, e não segundo a direção das veias como
seria natural.
Santo Afonso
Maria de Ligório comenta:
Continua o Evangelho: E a terra tremeu e as pedras se
partiram (Mt 27,51). É tradição que na morte de Jesus Cristo
houve um grande terremoto universal que abalou todo o globo
mundial segundo Blósio (Lib. 7 c. 4). Dídimo escreve que a
terra foi sacudida até ao seu centro (Fragom. in Job c. 9).
Orígenes e Eusébio (Chron. 1. 2) citam Flegonte, segundo o
qual no ano 33 de Cristo houve um grande terremoto que
causou grandes ruínas nos edifícios de Nicéia na Bitínia.
Plínio, que viveu no tempo de Tibério, em cujo reinado
morreu Jesus, e, Suetônio, atestam que na Ásia por essa
ocasião foram destruídas 12 cidades por um grande terremoto
(Lib. 3 c. 84 — In Tib. c. 48). Vêem nisso os eruditos o
cumprimento da profecia de Ageu: Ainda falta um pouco e eu
comoverei o céu e a terra, o mar e todo o universo (2,7).
São Paulino escreve que Jesus, mesmo pregado na cruz,
para demonstrar
quem ele era, aterrou o mundo universo (De ob. Celsi).
Adricômio
atesta que até hoje se vêem os sinais desse terremoto no
monte Calvário, no lado esquerdo, havendo ali uma fenda de
largura de um corpo humano e tão profunda que se não pode
atingir o fundo (Descriptio Jerusal. n. 252). Barônio narra
(An. 34 n. 107) que em muitos outros lugares fenderam-se os
montes por esse terremoto. No promontório de Gaeta vê-se
ainda hoje um rochedo do qual se diz que, na morte do
Senhor, ele se abriu pelo meio de cima até em baixo e
aparece claramente que a abertura foi prodigiosa, pois é tão
grande que o mar a atravessa pelo meio e o que falta de um
lado vê-se elevar-se perfeitamente correspondente no outro.
A mesma coisa diz a tradição a respeito do monte Colombo,
perto de Rieti, do Monteserrate na Espanha e de diversos
outros montes abertos na Sardenha em redor da cidade de
Gagliari. Mais admirável, porém, é o que se vê no monte
Alverne, na Toscana, onde São Francisco recebeu os sagrados
estigmas, no qual se encontram enormes blocos de pedras
amontoados uns sobre os outros. Diz-se que um anjo revelou a
São Francisco que foi aquele um dos montes que ruíram na
morte de Jesus Cristo, como traz Wadding em seus Anais (An.
Min. an. 1215 n. 15). Santo Ambrósio escreve: Ó peitos dos
judeus mais duros que os rochedos, rompem-se as pedras, mas
esses corações permanecem duros (Lib. 10 in Lc).
ORAÇÃO: Ó
Salvador do mundo! Não permitais que sejamos mais
insensíveis que a terra, e mais duros que as pedras e que os
sepulcros dos mortos; pois, sendo nós os que pecamos, temos
mais razão de sentir o que Vós padeceis por nossos pecados.
Grande confusão é para nós o ver as mostras de dor que dão
as criaturas por vossa morte, vendo a insensibilidade de
nossa alma. Amém!
Pe. Divino Antônio
Lopes FP (C)
Anápolis, 9 de
março de 2015
Bibliografia
Sagrada Escritura
Pe. Ramón Genover,
Meditações Espirituais para todo o ano
Dom Duarte
Leopoldo, Concordância dos Santos Evangelhos
Santo Afonso Maria
de Ligório, A Paixão do Senhor
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