ABRAÇARAM-LHE
OS PÉS
(Mt 28, 9)
“Elas,
aproximando-se, abraçaram-lhe os pés, prostrando-se diante
dele”.
São João
Evangelista indica que Maria Madalena não chegou a
tocar os pés de Jesus Cristo, pois Ele a proibiu:
“Não me toques”
(Jo 20, 17). Esta aparição é a mesma
de que fala São Mateus (28, 9), e não
parece ser difícil conciliar os dois textos. São João não
disse precisamente que Maria Madalena deixou de
tocar os pés de Jesus Cristo, senão que Jesus não
queria que os tocasse. Porém, o que provavelmente
sucedeu, é que quando o Senhor disse isso, Maria
Madalena já havia abraçado os seus pés, como
fervorosa penitente; talvez o abraçasse mesmo contra a
sua proibição, com a persistência própria do
amor.
Em outro
trecho aconteceu algo semelhante:
Jesus Cristo curou os cegos e pediu que não dissesse nada a
ninguém sobre a cura; mas eles contaram para todos (Mt 9,
27-31). Acreditaram ser piedoso e
obediente desobedecer ao Senhor.
Porém, São João dá
a entender que somente Maria Madalena foi proibida de tocar
em Jesus Cristo. Será que todas as mulheres receberam tal
proibição? São João fala somente de Maria Madalena, porque a
ela restringe seu relato. Porém, os demais evangelistas que
falam da aparição não deixam claro. Também não afirmam a
respeito de Maria Madalena. Da mesma maneira, pois, que
certamente calaram sobre essa, silenciaram provavelmente o
que tocava às demais; porque sua intenção era narrar
não o que Cristo proibia, mas sim, o que realizava.
Alguns (São
João Crisóstomo, Santo Ambrósio, São Jerônimo e Santo
Agostinho) pensam que Cristo proibiu que Maria Madalena
tocasse seus pés porque era indigna, por causa
da sua incredulidade a respeito da ressurreição... mesmo
depois do Anjo ter-lhe falado e insistido em buscar o vivo
entre os mortos.
Outros acreditam
que Maria Madalena representa a Igreja dos gentios
que não crêem em Jesus Cristo (tocar-lhe) antes que
Ele subisse ao céu, como interpreta Santo Agostinho.
São João
Crisóstomo
interpreta assim: Não me toques; não deves tocar-me,
mas acreditar em mim.
Calvino, sem
mais nem menos, disse que Jesus Cristo só pronunciou
essas palavras depois que Maria Madalena o tocou uma vez e
insistiu em tocá-lo... por isso, Ele a proibiu. Essa
“jóia” preciosa disse também que Maria Madalena se
mostrou supersticiosa em sua piedade
e religião... e chama o amor de Madalena para
com Jesus Cristo de fervor tolo e
estúpido. Quanta
burrice!
Outros dizem que
Jesus Cristo a proibiu que o tocasse, porque ela o tocava de
modo que parecia que não o veria mais, como se temesse que
em seguida Ele desaparecesse e subisse ao Pai. E Cristo a
tranquilizou dizendo: “Não te preocupes, mulher, que
ainda não subi ao meu Pai; tempo terá de sobra para que me
toques antes que eu suba ao Pai. Agora não me toques
tanto... mas vá dizer aos meus irmãos que me encontrarão na
Galiléia... lá me verão”.
“Elas,
aproximando-se...”
É grande a emoção
deste encontro. O rosto do Salvador... seu aspecto, sua voz.
Era Ele!
Elas se prostraram diante d’Ele e abraçaram seus pés. Sem
palavras, mas com todo o afeto e amor... do modo
oriental; as mulheres abraçam os pés de Jesus, sem
dúvida, com beijos e lágrimas.
“...
prostrando-se diante dele”:
Imitando-as, adoremos também a Jesus ressuscitado, pois se
Ele, por sua morte, nos mereceu a graça de morrer
santamente, por sua ressurreição nos alcançou o direito à
ressurreição gloriosa. Se acreditamos, como diz São Paulo,
que Jesus morreu e ressuscitou, acreditamos também que
havemos de ressuscitar, nós os que estamos mortos para o
pecado.
“Não me toques”
(Jo 20, 17). Tocar, aqui, não é
o simples contato, mas um estreito e prolongado abraço,
como explica no grego. É como se Jesus Cristo
dissesse: Não me abrace, porque tempo terá para isso,
pois não subirei ao Pai agora, mas somente no dia da
ascensão. Ou: Não me abrace como se faz numa
despedida, como se Eu já fosse partir.
São João
Crisóstomo escreve:
“Queria Maria
Madalena tratar a Jesus Cristo como havia feito antes de sua
paixão, e a alegria a impediu de ver que a carne de Jesus se
havia dignificado ressuscitando... por isso lhe disse: ‘Não
me toques’, como quis também que seus discípulos lhe
tratassem com maior reverência que antes de morrer. É a suma
reverência com que nós devemos tratar-lhe”.
Pe. Divino Antônio
Lopes FP (C)
Anápolis, 17 de
abril de 2014
Bibliografia
Sagrada Escritura
Pe. Juan de
Maldonado, Comentários aos quatro Evangelhos
Pe. Manuel de Tuya,
Bíblia comentada
Santo Agostinho,
Escritos
São João
Crisóstomo, Escritos
Santo Ambrósio,
Escritos
São Jerônimo,
Escritos
Pe. Juan Leal, A
Sagrada Escritura (texto e
comentário)
Dom Isidro Gomá y
Tomás, O Evangelho Explicado
Dom Duarte
Leopoldo, Concordância dos Santos Evangelhos
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