A QUEM PROCURAS?
(Jo 20, 15)
“Jesus lhe diz:
‘Mulher, por que choras? A quem procuras?’ Pensando ser ele
o jardineiro ela lhe diz: ‘Senhor, se foste tu que o
levaste, dize-me onde o puseste e eu o irei buscar!’”
“... dize-me onde
o puseste e eu o irei buscar!”
Levá-lO para onde?
Como ocultá-lO aos seus inimigos? Maria
Madalena NÃO RECUA diante de nenhuma
dificuldade, ou melhor, nem sequer imagina que possa
haver obstáculos à realização dos seus desejos. É preciso
ter recebido as confissões (profissão de fé) dos
verdadeiros penitentes para compreender essas palavras.
Esses ressuscitados para a graça, nada receiam, atiram-se
aos mais rudes combates, atrevem-se aos maiores heroísmos, e
com tal ardor, que é muitas vezes necessário moderar-lhes os
transportes do zelo. Toda essa energia que antes empregavam
no vício, volta-se agora para a virtude a que se consagram
inteiramente.
Jesus
ressuscitado
se transforma e se apresenta na forma que quer (Lc 24,
16; Mc 16, 12; Jo c. 21). Ainda que Jesus Cristo não lhe
aparecesse em forma de jardineiro, ela pensou, ao vê-lO ali,
que fosse o encarregado (jardineiro) daquele jardim.
Sua OBSESSÃO (preocupação constante) e
seu CHORO se dirigem a Ele, ao ponto,
para fazer-lhe participante da sua INQUIETUDE e de sua
SOLICITUDE por ir buscá-lO.
Não deixa de ser
estranha esta psicologia, porém reflete o caráter,
obsessivo e impetuoso, de sua impressão e dedução ao
ver afastada a pedra do sepulcro.
Uma
característica do amor é pensar que todo o mundo pensa do
amado como nós pensamos.
Sem nomear a Jesus, nem referir-se ao sepulcro, tratando com
um desconhecido, Maria Madalena lhe fala como se tivesse o
jardineiro seus mesmos sentimentos e fadigas.
Tenhamos o
santo amor por Jesus Cristo, particularmente os que possuem
a missão de dá-lO a conhecer e torná-lO amado pelos homens;
falemos d’Ele oportuna e inoportunamente, de sua doutrina,
de sua vida e de sua obra. Que o mundo compreenda que temos
uma grande preocupação sobre Jesus Cristo. Façamos o bem
ajudando o povo ter Jesus Cristo no coração e na alma.
“Jesus lhe diz:
‘Mulher, por que choras? A quem procuras?”
Maria Madalena
segue CHORANDO e BUSCANDO o
Senhor. A pergunta de Jesus Cristo responde a essa
DUPLA ATITUDE: Por que choras? A quem
procuras? O AMOR e a
PREOCUPAÇÃO de Maria Madalena tiram-na da
realidade, como se vê: 1.º Na ideia que se forma
da nova visão. É correto que no jardim estivesse o
jardineiro; porém, que confundira Jesus com o jardineiro se
explica menos... é “demais”.
2.º A resposta ao jardineiro tampouco
se apóia na realidade. Não é provável que Maria Madalena
pudesse carregar o corpo do Senhor, como ela mesma se dispõe
(eu o irei buscar!),
nem
que o jardineiro o permitira, dado que lhe dissesse onde o
havia posto.
São João
Crisóstomo escreve: “Jesus apareceu aos anjos como Senhor;
porém, não apareceu assim à mulher para não assustá-la, pois
não convinha revelar-se tão prontamente algo grande como era
a sua presença, senão paulatinamente. Jesus disse-lhe: ‘Por
que choras, mulher?’”, e:
“Ele pergunta a causa de sua dor para aumentar seu
desejo, a fim de que cada vez que nomeasse a quem amava,
acendesse mais seu amor” (São Gregório
Magno), e também:
“E como havia aparecido de uma
forma comum, ela pensou que fosse o jardineiro. Por isso
disse: ‘Senhor, se foste tu que o levaste, dize-me onde o
puseste e eu o irei buscar!’ Isto é: se por medo dos judeus
ocultaste o corpo d’Ele, diga onde está e irei buscá-lO”
(São João Crisóstomo), e ainda:
“Mulher, por que choras? A quem
procuras? Quem procuras está contigo, e não o sabes? Possuis
a verdadeira, eterna felicidade e choras? Tens dentro de ti
o que procuras fora. E verdadeiramente estás fora, chorando
perto de um túmulo. (Mas Cristo te diz:) O teu coração é o
meu sepulcro: não repouso aí morto, mas vivo para sempre.
Tua alma é o meu jardim... Teu pranto, teu amor e o teu
desejo são obra minha: tu me possuis dentro de ti sem o
saberes, por isso me procuras fora. Então te aparecerei
externamente, para reconduzir-te ao teu interior e fazer-te
encontrar dentro o que procuras fora” (São
Bernardo de Claraval).
Pe. Divino Antônio
Lopes FP (C)
Anápolis, 23 de
abril de 2014
Bibliografia
Sagrada Escritura
Pe. Manuel de Tuya,
Bíblia comentada
Santo Agostinho,
Escritos
São João
Crisóstomo, Escritos
São Bernardo de
Claraval, Escritos
São Gregório
Magno, Escritos
Dom Duarte
Leopoldo, Concordância dos Santos Evangelhos
Dom Isidro Gomá y
Tomás, O Evangelho Explicado
Bíblia Sagrada,
Pontifício Instituto Bíblico de Roma
Pe. Juan Leal, A
Sagrada Escritura (texto e
comentário)
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