Maria chorando
 

 

VINDE COMER!

(Jo 21, 12)

 

“Disse-lhes Jesus: ‘Vinde comer!’ Nenhum dos discípulos ousava perguntar-lhe: ‘Quem és tu?’, porque sabiam que era o Senhor”.

 

 

“Vinde comer!”, o CONVITE para participar no autêntico banquete do Messias. Tudo era obra d’Ele.

Jesus Cristo convida-os a comer para obrigá-los a que, gostando, tocando, experimentem a verdade do pão e do peixe criados por milagre.

Encontramos aqui DUPLO PROBLEMA: Que peixes foram aqueles que proporcionaram aquela comida... o que estava na brasa ou aqueles também que acabaram de pescar?

São João Crisóstomo pensa que Cristo convidou para comer unicamente do primeiro peixe.

Santo Agostinho e Eutímio dizem que o primeiro e os outros fizeram parte do banquete. Os últimos também foram colocados sobre as brasas, como parece natural.

Jesus Cristo convidou os Apóstolos para que vissem a verdade do milagre, sendo este DUPLO: ter CRIADO o PEIXE e ter PESCADO TANTOS, podendo assim comer do primeiro e também dos outros peixes. A OUTRA QUESTÃO é se Cristo comeu com eles! O evangelista não diz nada sobre isso. Grandes autores ignoram este pormenor.  Outros autores dizem que Jesus Cristo comeu com os Apóstolos; dentre esses: São Gregório Magno, Leôncio, Teofilacto e Eutímio. Primeiro, porque a razão o pedia, já que queria manifestar-lhes para confirmar sua fé na ressurreição; segundo, porque sempre que lhes aparecia costumava fazer, mesmo quando a comida não estava preparada, nem quando os apóstolos estivessem comendo, como está em Lc 24, 41: Tendes algo para comer? Além disso, que pensariam os discípulos se eles comessem e Ele não? Que seria um fantasma; porque Ele não disse: Ide e comei, mas sim: Vinde comer! Como se dissesse: Vinde e comei comigo; lendo e meditando essas palavras, parece que Jesus Cristo foi o primeiro que comeu o pão e o peixe, para depois dizer aos apóstolos: Vinde e comei, para que não somente com as palavras, mas também com o exemplo fora feito o convite.

São João Crisóstomo e Teofilacto observam que Jesus Cristo não levantou os olhos ao céu... nem deu graças (Jo 6, 11 e Lc 9, 16). Antes da ressurreição o Senhor se portava como um HOMEM, humildemente; e, depois da ressurreição, como DEUS.

São Cirilo de Jerusalém, Teofilacto e Ruperto interpretam assim esse trecho: Jesus Cristo convida os discípulos para comer depois de arrastarem a rede, para ensinar-lhes que depois do trabalho dessa vida, de haver cumprido com perfeição a missão que nos mandou, nos convidará para comer e beber em sua mesa no reino de seu Pai, e nos dirá: Vinde benditos de meu Pai, para possuir o reino preparado para vocês desde a fundação do mundo. O banquete está preparado por Jesus Cristo aos seus discípulos; preparado desde a fundação do mundo.

Eusébio Emiseno fala do convite eucarístico e da pregação da palavra de Deus, às quais Cristo nos envia diariamente e nos dá de comer, nos revigora e nos ajuda a crer: “Todos os dias nos convida o Senhor a comer. Cada dia nos serve o pão e o peixe. Diariamente nos administra o manjar evangélico e seu corpo e sangue. Quando lemos essas coisas do Evangelho, nos sacia interiormente com seu pão. Aqui nos oferece também o peixe assado, pois aqui encontramos a Ele, Cristo, paciente conosco. Não podem arrastar bem as redes de Jesus Cristo, quem não se alimenta com esses manjares”.

“Nenhum dos discípulos ousava perguntar-lhe”, como em Jo 4, 27.

Santo Agostinho diz: “Se sabiam que era Jesus Cristo, que necessidade havia de perguntar? E se não havia tal necessidade, por que foi dito que não ousava perguntar-lhe? Como se por medo não se atrevessem”.

São João Crisóstomo, Teofilacto e Eutímio pensam que, não perguntaram que era Ele, devido à EXTERIOR MAJESTADE daquele personagem. Todavia, ninguém se atreveu a perguntar, porque dos milagres feitos então se deduzia claramente que não podia ser outro, senão Cristo. Logo, pelo que ali não entenderam bem, era necessário e queriam perguntar quem era Ele; porém, não se atreveram pela reverência que lhes inspirava tanta majestade; e, porque, bem entenderam que era o Cristo. Da mesma maneira interpretam Teodoro de Heraclea e Leôncio; só que esses acreditam que os discípulos não reconheceram o Salvador, porque ainda não era dia claro ou porque havia mudado Ele de aparência, para não ser reconhecido. Porém, as palavras do Evangelho têm outro valor. Não dizem que não se atreveram a perguntar por reverência, mas porque sabiam que era o Senhor.

Ruperto afirma: “Então não se atreviam e, atentos somente a olhar-Lhe e vê-lO, faziam-Lhe reverência; quando a todos os seus convida àquele banquete eterno, já não haverá necessidade de perguntar-Lhe, sabendo que é Jesus Cristo, sabendo, digo, e conhecendo perfeitamente o que só conhecemos agora, em parte, lendo as Sagradas Escrituras e consultando ao divino Espírito, até que venha o que é perfeito e desapareça o que é em parte”.

Santo Agostinho e São Beda comentam: “Tanta era a certeza da verdade com que Jesus Cristo apareceu aos seus discípulos, que não somente lhes era impossível negá-la, mas que nenhum se atrevia a duvidar, porque do contrário teriam obrigação de perguntar-lhe. Assim disse que nenhum se atrevia a perguntar-lhe quem era, como se dissesse: ‘Ninguém se atrevia a duvidar que fosse Ele’”.

Outros autores comentam: Tão certos estavam os discípulos, pelos milagres e por convicção, de que era Cristo quem estava comendo com eles, ainda quando não fora na mesma forma acostumada, ainda que contradissessem os olhos, todavia, não podiam duvidar. Isto é aplicável à Eucaristia, oportuna e utilmente. Quando assistimos àquele espiritual convite, ainda que os olhos e os sentidos todos contradigam; todavia, pelo íntimo convencimento da fé devemos estar tão certos de que ali se encontra Cristo, que nem sequer nos atrevemos a perguntar-lhe: Tu quem és?

 

FELIZ DO CATÓLICO QUE RECEBE COM FREQUÊNCIA E DIGNAMENTE A SANTÍSSIMA EUCARISTIA.

 

Se nos Anjos pudesse entrar a inveja, tê-la-iam dos homens que, todos os dias podem-se aproximar da mesa eucarística e alimentar-se do corpo e sangue do Deus humanado!

Que Maravilha! O pobre, o servo e o humilde têm por manjar o corpo do Senhor! Ó sagrado banquete em que se recorda a sua Paixão e em que se nos dá o penhor da futura glória!

Que bondade a vossa, ó meu Deus, para com tão desprezíveis criaturas como nós! Que vistes nos homens, para assim vos desentranhardes para com eles em tão finas demonstrações de amor? Que esperáveis receber de nós em troco desse dom inestimável que nos fizestes, no vosso Corpo e Sangue sacramentado na Eucaristia?

Se conhecêssemos bem este dom de Deus! Que feliz é o povo cristão, que não tem como o povo de Israel o maná do deserto para sustento na sua longa peregrinação para a terra prometida, mas o pão dos Anjos, o pão que não só sustenta, mas nos dá a verdadeira vida! Se não comerdes a carne do filho do homem e não beberdes o seu sangue, não tereis a vida em vós, disse Jesus (Jo 6,53).

O que é o mundo onde vivemos, senão um deserto? E o que é a vida de cada um dos homens, senão uma peregrinação para a terra prometida – o céu? Para fazer esta viagem é preciso força, coragem e energia. Onde buscá-la? No pão que Jesus nos deu para sustento da nossa alma. Pois, quem será tão presumido que ouse chegar ao termo de tão trabalhosa peregrinação, sem se munir do viático que Jesus nos deixou antes de sua ida para o céu? Como atravessar, sem ter uma fonte de água viva, esses áridos desertos do mundo, em que tudo é areia movediça, que são as vicissitudes das coisas da terra?

Que diz Jesus Cristo? Palavras divinas, cheias de mistério e dignas de profunda meditação: Quem come a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna (Jo 6,54). E aquelas: Quem se alimenta deste pão, viverá eternamente (Jo 6,51).

Quem fala? É Jesus, é Deus, é a Sabedoria em pessoa. É a infalível Verdade que não nos pode enganar. É a onipotência de Deus que pode fazer o que nós não podemos entender.

E há quem negue a presença real de Jesus Cristo na Eucaristia! E há quem diga que não são para os tempos de agora essas crenças da velha sociedade!

Como se está afundando no paganismo a hodierna geração! Que morta está a fé num povo que já foi a admiração do mundo! Como se vão riscando da nossa história moderna as santas e gloriosas tradições de nossos maiores, tradições reveladoras da fé inabalável que sempre tivera em Deus Sacramentado!

“Vinde a mim todos!” Doces palavras do divino Mestre, convidando-nos ao sagrado banquete da comunhão; porém, quantos ouvidos estão surdos a elas!

Já não gosta deste sagrado manjar, porque o excessivo uso das iguarias materiais dos sentidos embotou o paladar para as iguarias espirituais que são o conforto e a vida da alma.

Se queremos viver para a graça, acorramos à fonte donde ela jorra em abundância. Se nos queima o fogo das paixões, vamos refrescar a alma nas águas vivas que manam do lado de Jesus. Se nos abrasa a sede dos prazeres mundanos, aproximemo-nos do divino sacramento da Eucaristia, e não sentiremos mais o seu ardor; mas sim, o de outra sede que nos impelirá para mais e mais amarmos a Jesus Cristo.

Aproximemo-nos com fé, humildade e com amor da Santa Comunhão. Com fé viva para desagravarmos a Jesus da incredulidade com que muitas almas O comungam. Com humildade profunda para combatermos o orgulho dos que se julgam desprezados ao se ajoelharem à mesa do Senhor. Com ardente amor para suprirmos a frieza com que Jesus não só é amado, mas ainda, esquecido e odiado.

Com fé nas palavras com que Jesus nos convida a recebê-lO: - Tomai e comei: este é o meu corpo (Mt 26,26).

Com fé na onipotência de Deus; pois assim como criou o céu e a terra e se fez homem por nosso amor, pode também fazer-se nosso alimento, dando-nos a comer o seu Corpo e a beber o seu Sangue, sob as espécies de pão e vinho.

Com humildade. – Senhor, quem sou eu, e quem sois vós?Vós, o meu Deus; e eu, vossa criatura! – Vós tudo, eu nada! – Vós Senhor, eu escravo!

Que é o nosso coração?Um covil de feras! Pois o que são todos os vícios que nele se albergam, senão verdadeiras feras que me estão dilacerando a alma?

Senhor, não sou digno de que entreis em minha casa, mas dizei uma só palavra e minha alma será salva.

Com amor! Com amor Jesus vem nos visitar...  com amor devemos recebê-lO!

Com amor devemos recebê-lO; pois Ele vem nos visitar com as mãos cheias de benefícios para nos cumular no tempo que se demorar conosco.

Com amor devemos recebê-lO; pois com amor se deixou ficar no Sacramento do altar para ser o nosso sustento.

Com amor devemos recebê-lO; pois, esquecido de todas as nossas ingratidões, está ansioso para hospedar em nosso coração.

Finalmente, com desejo devemos recebê-lO! Sim! Quem não há de desejar receber um tão grande Senhor?

 

Pe. Divino Antônio Lopes FP (C)

Anápolis, 11 de maio de 2014

 

 

Bibliografia

 

Sagrada Escritura

Pe. Manuel de Tuya, Bíblia comentada

Pe. Juan de Maldonado, Comentário do Evangelho de São João

Pe. Alexandrino Monteiro, Raios de luz

Santo Agostinho, Escritos

Eusébio Emiseno, Escritos

Ruperto, Escritos

São Gregório Magno, Escritos

São Cirilo de Jerusalém, Escritos

Teofilacto, Escritos

Leôncio, Escritos

Teodoro de Heraclea, Escritos

Eutímio, Escritos

São João Crisóstomo, Escritos

São Beda, Escritos

Pe. Juan Leal, A Sagrada Escritura (texto e comentário)

 

 

 

 

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Pe. Divino Antônio Lopes FP. “Vinde comer!”

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