Disse Jesus Cristo:
“E vós também dareis testemunho, porque
estais comigo desde o princípio” (Jo 15,
27).
O respeito humano é o grande mal da
nossa sociedade. O respeito humano é apostasia e inutiliza
toda graça divina. Uma das humilhações mais atrozes que
Jesus Cristo padeceu na sua paixão foi, certamente, no pretório
de Pôncio Pilatos, procurador da Judeia. Todos o acusavam, e
Jesus se calava. Pilatos tinha medo daquele silêncio de Jesus.
Todo ano, na festa da Páscoa, era costume libertar um
prisioneiro, qualquer um que a multidão pedisse. Naquele ano
havia no cárcere um revolucionário que também cometera um
homicídio numa revolta: Barrabás. Pilatos perguntou para o povo:
Quereis Jesus ou Barrabás? Então sobre toda a multidão passou o
sopro instigador dos sacerdotes e dos anciãos. Pilatos perguntou
ainda: Jesus ou Barrabás? E todo o povo gritou: Barrabás! Mas
como? Jesus não era o Mestre, o Benfeitor... aquele que curava
os doentes e enxugava o pranto aos aflitos? Não importa.
Liberdade a Barrabás! A mesma afronta, de modo mais velado,
porém não menos verdadeiro, fazem a Deus aqueles que se deixam
dominar pelas ameaças dos maus. Esses preferem o mundo a Deus;
os juízos do mundo aos juízos divinos. O respeito humano é,
pois, uma apostasia; e não somente isto, mas é também um grave
mal da alma, o qual inutiliza toda graça divina para a salvação.
Deus bem pode suscitar no coração disposições para uma vida mais
cristã, pode sugerir propósitos de conversão; mas o homem
possuído pelo respeito humano deixa abortar as boas inspirações
por medo do mundo. Deus bem pode fazer-lhe ouvir uma
pregação que o ilumine, que o convença; mas ele não tem a
coragem de mostrar-se convencido. Deus pode enviar-lhe também
uma doença que o leve à extremidade da vida e o faça olhar no
abismo da eternidade; mas depois, curado, ele ainda tem a mesma
“energia” diante de si: Que dirão? Que farão? Muitos
católicos são vítimas do respeito humano até no momento da
morte. E, por vergonha de viverem como cristãos, morrem como
cães (Pe. João Colombo).
A arca de Noé.
Um dia Deus se arrependeu de haver criado o
homem, e Noé já fabricava a rústica arca. Por longos anos o
patriarca manejou os martelos e suou para unir as tábuas
aplainadas.
E São João Crisóstomo descreve as zombarias
lançadas pelos homens corrompidos contra o piedoso Noé.
“Ó velho caduco! Ó falso profeta; não vês
como o céu está limpo, e tu ameaças com dilúvio?”
E Noé maneja o martelo sem pausa. E
aqueles dizem: “Todos gostam de gozar ar livre e céu
espaçoso, e este quer fazer uma caixa de madeira para se fechar
nela vivo com sua família e com os animais e com os trastes”.
E Noé acabou a arca e entrou nela. E a gente a correr em volta
com gritos, com assovios, com ferozes despeitos.
Mas, completando de sete dias, as cascatas do
céu se abriram com fragor imenso; todas as fontes rebentaram,
todos os rios transbordaram, e as ondas do mar inundaram a
terra. Todos pereceram no dilúvio universal... mas a arca boiava
sobre as águas esverdeadas, e Noé louvava o Senhor.
A vida neste mundo, para nós, é como a
construção da arca de Noé.
Toda obra boa é motivo de zombaria e de
perseguição para os inimigos de Deus. Não cedamos, não nos
envergonhemos do Evangelho.
Quando o respeito humano estiver para nos
tornar vis (de pouco valor), lembremo-nos das palavras que Jesus
Cristo nos dirá no dia do juízo: Por te haveres envergonhado
de mim diante dos homens, eu também me envergonharei de ti
diante de meu Pai.
Pe. Divino Antônio Lopes FP(C) |