QUARTA-FEIRA DE CINZAS
No Livro do Profeta Joel 2, 12-13 diz:
“Agora, portanto — oráculo do Senhor —
retornai a mim de todo vosso coração, com jejum, com lágrimas e
com lamentação’. Rasgai os vossos corações, e não as vossas
roupas, retornai ao Senhor, vosso Deus, porque ele é bondoso e
misericordioso, lento na ira e cheio de amor, e se compadece da
desgraça”.
A Igreja no-lo indica nas orações recitadas
por seus ministros: “Deus, que não quereis a morte, mas a
conversão dos pecadores, apiedai-vos da fragilidade humana e
abençoai estas cinzas que pretendemos colocar sobre a nossa
cabeça, como sinal de humildade cristã por nós professada, e em
sinal de penitência para obtermos perdão”. É, pois, a
penitência que a Igreja nos quer ensinar pela cerimônia deste
dia.
Já no Antigo Testamento os homens
cobriam-se de cinzas para exprimir sua dor e humilhação (Jó
42, 6). Nos primeiros séculos da Igreja, os penitentes
públicos apresentavam-se nesse dia ao bispo ou penitenciário,
pediam perdão revestidos de um saco; e como sinal da sua
contrição, cobriam a cabeça de cinzas. Mas como todos os
homens são pecadores, diz Santo Agostinho, estenderam essa
cerimônia a todos os fiéis, para lhes recordar o preceito da
penitência. Não havia exceção alguma: pontífices, bispos,
sacerdotes, reis, almas inocentes, todos se submetiam a essa
humilhante expressão de arrependimento.
Entremos nos mesmos sentimentos. Deploremos as
nossas faltas ao recebermos das mãos do ministro de Deus as
cinzas bentas pelas orações da Igreja. Quando o sacerdote
nos disser: “Lembra-te que és pó e em pó te há de tornar”,
humilhemos o nosso espírito pelo pensamento da morte, que,
reduzindo-nos ao pó, nos porá sob os pés de todos. – Assim
dispostos, longe de lisonjearmos o nosso corpo destinado à
dissolução, decidir-nos-emos a tratá-lo com dureza, a maltratar
o nosso paladar, os nossos olhos, os nossos ouvidos, a nossa
língua, todos os sentidos; a observar, o mais possível, o jejum
e abstinência que a Igreja nos prescreve.
A Igreja termina a bênção das cinzas por uma
exortação aos fiéis: admoesta-nos a não nos contentarmos com
sinais externos de penitência, mas a lhe bebermos o espírito e
os sentimentos. Jejuemos, diz ela, como o Senhor deseja, mas
acompanhemos o jejum com lágrimas de arrependimento,
prostremo-nos diante de Deus e deplorando a nossa ingratidão na
amargura dos nossos corações. – Mas essa contrição, para ser
proveitosa, deve ser acompanhada de confiança. Por isso a Igreja
acrescenta, a seguir, que nosso Deus é cheio de bondade e
misericórdia, sempre pronto a perdoar-nos. Forte motivo este
para esperarmos firmemente a remissão das nossas faltas, se
delas nos arrependermos! Deus não despreza jamais um coração
contrito e humilhado (Pe. Luís Bronchain).
No Livro do Gênesis 3, 19 diz:
“Lembra-te, ó homem, que és pó e em pó
te hás de tornar”.
Para compreendermos em toda a sua extensão o
sentido destas palavras, imaginemos ver uma pessoa que acaba de
morrer. Ó Deus, a cada um que vê esse corpo, inspira nojo e
horror. Não passaram bem vinte e quatro horas depois que aquela
pessoa morreu, e já o mau cheiro se faz sentir. É preciso abrir
as janelas e queimar bastante incenso, a fim de que o mau cheiro
não infeccione a casa toda. Os parentes com pressa mandam
levar o defunto para fora da casa e sepultá-lo.
Colocado que foi o cadáver na sepultura,
vai-se tornando amarelo e depois preto.
Em seguida, aparece em todos os membros uma penugem branca e
repelente, donde sai um pus fedorento que corre pela terra e
donde se gera uma multidão de vermes. Os ratos vem também
procurar alimento nesse cadáver, roendo-o uns por fora, ao passo
que outros entram na boca e nas entranhas. As faces caem por
terra, os lábios, os cabelos também; escarnam-se os braços e as
pernas apodrecidas, e afinal os vermes, depois de consumidas
todas as carnes, consomem-se a si próprios. E deste corpo só
restará um esqueleto fedorento, que com o tempo se divide,
ficando reduzido a um punhado de pó.
Eis ai o que é o homem, considerando como
criatura mortal. Eis ai o estado a que tu também, meu irmão,
serás, talvez em breve, reduzido: um punhado de pó fedorento.
Nada importa ser alguém moço ou velho, são ou doente... a todos
caberá a mesma sorte, o que a Igreja recorda pondo a cinza benta
sobre a cabeça de todos: “Lembra-te,
ó homem, que és pó e em pó te hás de tornar”
(Gn 3, 19).
Os loucos e mundanos que não creem no Céu e
tem as verdades eternas por lendas, estimulam-se, com a
lembrança da morte, a levar vida folgada e a gozarem:
“Comamos e bebamos, porque amanhã
morreremos”
(Is 22, 13).
De maneira bem diferente, porém,
diz Santo Agostinho, deve proceder o cristão, que pela fé
sabe que a alma sobrevive ao corpo, e que depois da morte deste,
terá de dar contas rigorosíssimas de tudo quanto tiver feito.
– O cristão, que se lembra de que em breve deverá deixar o
mundo, cuidará da sua eternidade e procurará aplacar a justiça
divina com penitências e orações. É por isso exatamente que a
Igreja, depois de nos ter posto as cinzas sobre a cabeça, ordena
a seus ministros que notifiquem aos fiéis o jejum quaresmal:
“Fazei soar as
trombetas em Sião, santificai o jejum” (Jl
2, 15).
Conformemo-nos, portanto, com as intenções de
nossa Santa Igreja; e como ela mesma ordena, sejamos no santo
Tempo da Quaresma mais sóbrios em palavras, na comida, na
bebida, no sono, nos divertimentos; e, o que é mais
necessário, afastemo-nos mais de toda a culpa por meio de uma
vida recolhida e consagrada à oração, porquanto, no dizer de São
Leão Magno, “sem proveito se subtrai
o alimento ao corpo, se o espírito não se afasta da iniquidade”
(Santo Afonso Maria de Ligório).
Você que participou da festa do demônio,
isto é, do carnaval... que pisou o Sangue de Jesus Cristo
durante alguns dias e que serviu o demônio, rei das trevas; peça
perdão a Deus e mude de vida... abandonando essa festa do
demônio para sempre. A terça-feira que antecede a quarta-feira
de cinzas é o feriado do demônio.
A vida é breve e a sua hora de prestar
contas a Deus chegará... pode demorar cem anos, mas chegará!
Pe. Divino Antônio Lopes FP(C)
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