Disse Jesus Cristo:
“Se alguém quer vir após mim, negue-se a
si mesmo, tome a sua cruz e siga-me”
(Mt 16, 24).
São Gregório Magno escreve:
“Nega a si mesmo aquele que abandona a
má vida e começa a ser o que não era e deixa de ser o que era”,
e: “Nega a si mesmo aquele que
pisoteia seu vão orgulho, e se apresenta diante dos olhos de
Deus... mudado, melhor”
(Idem.), e também:
“Ainda que alguém deixe de pecar,
entretanto, se não tomar a cruz de Cristo, não pode dizer que
está crucificado com Cristo ou que está abraçado com a cruz”
(Orígenes), e ainda:
“Devemos, pois, seguir ao Senhor tomando
a cruz de sua paixão, se não na realidade, ao menos com a
vontade” (Santo Hilário),
e: “Como os dois ladrões sofrem
também muito, o Senhor, para que ninguém tenha por suficiente
esse tipo de sofrimento dos maus, expõe o motivo do verdadeiro
sofrimento, quando diz: ‘E siga-me’. Toda pessoa deve sofrer por
Ele e d’Ele devemos aprender suas virtudes. Porque seguir a
Cristo consiste em ser zeloso pela virtude e sofrer tudo por
Ele” (São João Crisóstomo),
e também: “Ou de outra maneira, tome
a sua cruz o que está crucificado para o mundo, e segue o Senhor
crucificado aquele para quem o mundo está crucificado”
(São Jerônimo).
Desde que a cruz se tornou instrumento de
salvação e glória, ficou meritório o sofrimento, a dor
santificada. Não poderei ser verdadeiro discípulo de Jesus
Cristo, nem ter parte em sua glória, senão carregando, generoso
e resignadamente a minha cruz. A cruz não é só o madeiro que
serve para a crucifixão, mas toda e qualquer angústia, todo e
qualquer sofrimento, tudo, enfim, que me indica que a vida é
deserto, é arena, é exílio, é caminho estreito, é vale de
lágrimas (O Livro do Seminarista).
Santa Elisabete da Trindade escreve sobre a
cruz: “A cruz é
um penhor do amor de Deus. Não há senão um caminho, o da cruz.
Fora dele, não há salvação. Mas isto custa à natureza. É duro
mortificar os sentidos, romper com os maus hábitos. É lá, aos
pés da cruz, que sentimos a confiança em Cristo. Todas as
obscuridades, todos os nossos sofrimentos acabam prendendo-nos
ao nosso único Tudo. Purificam-nos a alma para conduzir-nos à
união. Porventura não é sempre Jesus que nos apresenta a alegria
e a dor, a saúde ou a doença, o consolo ou a cruz? Sim, amemos e
bendigamos a total vontade do amor que nos manda estes
sofrimentos. Amemos, amemos com aquele amor calmo, generoso e
profundo, que não recua diante de sofrimento algum; permaneçamos
aos pés da cruz onde nosso Dileto nos chama e, quando ali não
pudermos mais permanecer, então limitemo-nos a olhá-lo. Jesus dá
sua cruz aos seus verdadeiros amigos para aproximar-se sempre
mais dele. Não é preciso parar diante da cruz e olhá-la como ela
é; mas, recolhendo-nos na luminosidade da fé, é preciso subir
mais alto e refletir que ela é o instrumento que obedece ao amor
de Deus. Apraz-me contemplar a cruz. Ele me revela os excessos
de amor do meu Mestre e me diz que o amor só se paga com o amor”.
Pe. Divino Antônio Lopes FP(C)
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