A PREGUIÇA
(Pe. Divino Antônio Lopes FP (C)
(resumo)
I PONTO
DEFINIÇÃO
A preguiça é uma tendência à
ociosidade (desocupado) ou ao menos à negligência (descuido,
desleixo), ao torpor (indiferença) na ação. Às vezes é uma
disposição mórbida que vem do mau estado da saúde. As mais
das vezes, porém, é uma doença da vontade que teme e recusa
o esforço.
O preguiçoso QUER EVITAR
qualquer trabalho, tudo quanto lhe pode
perturbar o sossego e arrastar consigo
fadigas.
VERDADEIRO PARASITA
(explorar, viver à custa),
vive, quanto pode, a expensas (à custa)
dos outros. Manso e resignado, enquanto o não inquietam,
impacienta-se e irrita-se, se o
querem tirar da sua inércia (preguiça,
indolência).
II PONTO
GRAUS DIVERSOS DA PREGUIÇA
A. O
desleixado ou indolente não se move
para cumprir o seu dever senão com lentidão, moleza
e indiferença; tudo o que faz fica sempre mal
feito.
B. O
ocioso não recusa absolutamente o trabalho,
mas anda sempre atrasado, vagueia por toda a parte sem fazer
nada (é o famoso enrolão), adia
indefinidamente a tarefa de que se encarregara.
C. O
verdadeiro preguiçoso, esse não quer fazer nada que
fadigue (canse), e mostra aversão
pronunciada para qualquer trabalho sério do corpo ou
do espírito.
D. A
preguiça nos exercícios de piedade chama-se
ACÉDIA: é um certo fastio (aversão,
repugnância) das coisas espirituais que leva a
fazê-las desleixadamente, a encurtá-las,
e até às vezes a omiti-las por vãos pretextos.
III PONTO
MALÍCIA DA PREGUIÇA
Para compreendermos a malícia da
preguiça, cumpre-nos recordar que o homem foi feito
para o TRABALHO. Quando Deus criou o nosso
primeiro pai, pô-lo num paraíso de delícias, para que
nele trabalhasse: “Deus
tomou o homem e o colocou no jardim de Éden para o cultivar
e guardar” (Gn 2, 15). É
que, efetivamente, o homem não é, como Deus, um ser
perfeito; tem numerosas faculdades que, para se
aperfeiçoarem, necessitam de operar; é, pois uma exigência
da sua natureza trabalhar para cultivar as potências, prover
às necessidades do corpo e alma, e tender assim para o seu
fim. A lei do trabalho precede (anterior),
pois, a culpa original. Mas, depois que o homem pecou,
tornou-se para ele o trabalho não somente uma lei da
natureza, senão também um castigo, isto é, tornou-se penoso,
como meio que é de reparar a sua falta. Com o suor do rosto
havemos de comer o nosso pão, tanto o pão da inteligência
como o pão que nos alimenta o corpo:
“Com o suor de teu rosto comerás teu
pão até que retornes ao solo, pois dele foste tirado”
(Gn 3, 19).
Ora, a esta dupla lei, natural e positiva, é
que o preguiçoso falta; comete, pois, um
pecado, cuja gravidade se mede pela gravidade dos deveres
que descura.
A. Quando chega
a omitir os deveres religiosos necessários à
própria salvação, há falta grave. O mesmo se
diga, quando despreza voluntariamente, em matéria
importante, algum dos seus deveres de estado.
B. Quando este
torpor o não leva a descurar (descuidar)
senão deveres, religiosos ou civis,
de menor importância, não passa de venial o
pecado. Mas a ladeira é escorregadia: se não se luta contra
a negligência, não tarda esta em se agravar, tornando-se
mais funesta e culpável.
C. Quanto à
perfeição, é a preguiça espiritual
um dos obstáculos mais sérios, por causa dos seus
funestos resultados.
Torna-nos a vida mais ou menos estéril.
Pode-se efetivamente, aplicar à alma o que a Sagrada
Escritura diz do campo do preguiçoso:
“Passei junto ao
campo do preguiçoso, pela vinha de um homem sem juízo: Eis
que tudo estava cheio de urtigas, sua superfície coberta de
espinhos, e seu muro de pedras em ruínas”
(Pr 24, 30-31).
É exatamente o que se encontra na alma do
preguiçoso: em lugar das virtudes, são os vícios
que lá crescem, e os muros, que a mortificação tinha elevado
para proteger a virtude, caem pouco a pouco, preparando o
caminho à invasão do inimigo, isto é, do pecado.
D. Dentro em
breve, efetivamente, se tornam mais veementes e importunas
as tentações:
“Manda-o para o trabalho, para que não fique ocioso, porque
a ociosidade ensinou muitos males” (Eclo
33, 28). Foi a ociosidade que,
com o orgulho, perdeu Sodoma:
“Eis qual foi o crime de Sodoma: o orgulho, a abundância e o
repouso sem cuidados em que vivia com suas filhas”
(Ez 16, 49). É que, na verdade, o
espírito e o coração do homem não podem estar inativos: se
não se absorvem no estudo ou em qualquer outro trabalho, são
logo invadidos por um sem-número de imagens, pensamentos,
desejos e afetos; ora, no estado de natureza decaída, o que
domina em nós, quando não reagimos contra ela, é a tríplice
concupiscência; serão, pois, pensamentos sensuais,
ambiciosos, orgulhosos, egoístas, interesseiros, que tomarão
o predomínio em nossa alma, expondo-a ao pecado.
E. Não é, pois,
somente a perfeição da nossa alma que está aqui em jogo, mas
até a sua eterna salvação. Porque, além das
faltas em que nos faz cair a ociosidade,
só o fato de não cumprirmos os nossos deveres importantes é
causa suficiente de reprovação. Fomos criados para servir a
Deus e cumprir os nossos deveres de estado, somos operários
enviados por Deus para trabalhar na sua vinha. Ora, o
Senhor não exige somente aos obreiros que se abstenham de
fazer mal; quer que trabalhem. A árvore
estéril, só pelo fato de não produzir fruto, merece ser
cortada e lançada ao fogo (Mt 3, 10).
IV PONTO
A PREGUIÇA É MÃE DE TODOS OS VÍCIOS
A preguiça gera principalmente
a OCIOSIDADE e a PERDA do
TEMPO, origem da ignorância e da
incapacidade; produz a inconstância,
a infidelidade aos compromissos,
e a inutilidade da vida; abre o caminho para
todas as tentações, nomeadamente para a gula e
a impureza; finalmente vai dar na
miséria e no desgosto da vida.
Como já foi explicado no início da palestra,
a preguiça não é o simples desagrado perante o
trabalho; há muita gente que não acha agradável o seu
trabalho. A preguiça é, antes de tudo, fugir
do trabalho pelo esforço que ele implica. É o desgosto e a
recusa ante o cumprimento de nossos deveres, especialmente
de nossos deveres para com Deus. Se nos contentamos com um
nível baixo na nossa procura da santidade, especialmente se
nos conformarmos com a mediocridade espiritual, é
quase certo que a sua causa é a preguiça.
V PONTO
NENHUMA HORA É TÃO PRÓPRIA DO DEMÔNIO,
QUANTO A HORA DO ÓCIO E DA PREGUIÇA
A hora do inimigo não é somente a hora da
noite, mas também a hora do ócio... a hora da preguiça.
Há o sono que sana e restaura as forças perdidas; e há outra
espécie de sono que debilita e arruína a alma e o corpo:
o ócio... a preguiça. Nenhuma hora é tão própria
do Demônio, quanto a hora do ócio e da preguiça.
O povo Hebreu decidiu adorar o bezerro de ouro no momento do
ócio e da preguiça:
“Não vos torneis idólatras como
alguns dentre eles, segundo está escrito: O povo sentou-se
para comer e beber; depois levantara-se para se divertir”
(1 Cor 10, 7). Santo Tomás de
Villanova diz que Davi tornou-se adúltero na hora do
ócio e da preguiça:
“Nas horas de guerra, Davi
conservou-se santo; na hora do ócio, tornou-se adúltero e
homicida”. Em 1 Sm 11, 2. 4-5 diz:
“Aconteceu que, numa
tarde, Davi, levantando-se da cama, pôs-se a PASSEAR pelo
terraço do palácio e do terraço avistou uma mulher que
tomava banho. E era muito bonita a mulher... Então Davi
enviou emissário que a trouxessem. Ela veio ter com ele, e
ele deitou-se com ela, que tinha acabado de se purificar de
suas regras. Depois ela voltou para a sua casa. A mulher
concebeu e mandou dizer a Davi: ‘Estou grávida!’”
VI PONTO
REMÉDIOS PARA CURAR A PREGUIÇA
A. Para curar o
preguiçoso, é necessário antes de tudo
inculcar-lhe convicções profundas sobre a necessidade
do trabalho, fazer-lhe compreender que ricos e
pobres estão sujeitos a esta lei e que basta faltar a ela
para incorrer na eterna condenação. É esta a lição que nos
dá Nosso Senhor Jesus Cristo na parábola da figueira
estéril. Três anos a fio vem o dono buscar os frutos;
não os encontrando, dá ordem ao pomareiro que corte a árvore
(Lc 13, 7).
E ninguém diga: eu sou rico, não tenho
necessidade de trabalhar. – Se não precisais de trabalhar
para vós mesmos, deveis fazê-lo para os outros. É Deus,
vosso Senhor, que vo-lo manda: se vos deu braços, cérebro,
inteligência, recursos, foi para que os utilizásseis para
sua glória e para o bem de vossos irmãos. É certo que não
são as Obras de caridade ou zelo que faltam: quantos pobres
para socorrer, quantos ignorantes para instruir, quantos
corações aflitos para consolar, quantas empresas para
fundar, a fim de dar trabalho e pão aos que o não têm! E
quem pretende fundar uma família numerosa, não tem que
sofrer e trabalhar para assegurar o futuro dos filhos?-
Ninguém esqueça, pois, a grande lei da solidariedade cristã,
em virtude da qual o trabalho de cada um é útil para todos,
enquanto a preguiça danifica o bem geral, como o
particular.
B. Às
convicções cumpre juntar o esforço consequente
e metódico. E, como o preguiçoso recua
instintivamente perante o esforço, importa mostrar-lhe que
não há, afinal, ninguém mais infeliz que o ocioso:
não sabendo como empregar ou, segundo a sua expressão,
matar o tempo, enfada-se, desgosta-se de
tudo, e acaba por ter horror à vida. Não vale mais
fazer um esforço para se tornar útil e conquistar um pouco
de felicidade, ocupando-se em fazer felizes à volta de si
mesmo?
Entre os preguiçosos, há alguns que
desenvolvem uma certa atividade, mas unicamente em jogos,
desportos e reuniões mundanas. A estes é necessário
lembrar-lhes a seriedade da vida e o dever de se tornarem
úteis, para que dirijam a atividade para um campo mais nobre
e tenham horror de ser PARASITAS. O matrimônio
cristão, com as obrigações de família que traz consigo, é
muitas vezes excelente remédio: um pai de família sente a
necessidade de trabalhar para os filhos e de não confiar a
estranhos a administração dos seus bens.
Mas o que nunca se deve cessar de recordar ao
preguiçoso é o FIM da VIDA:
estamos aqui, na terra, não para vivermos como parasitas,
senão para conquistarmos, pelo trabalho e pela virtude, um
lugar no céu. E Deus não cessa de nos dizer: Que
fazeis aqui, preguiçosos? Ide também trabalhar na minha
vinha (Mt 22, 6-9).
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