Capítulo I
- Deveres para com Deus |
-
O
homem não é o senhor do mundo. Acima dele está um Ser Onipotente,
que pode o que ele não pode, que vê o que ele não vê, que sabe o
que ele ignora. Por isso, o homem criado por Deus tem como
primeiro dever o amor a Ele: “Amarás ao Senhor teu Deus de todo
o teu coração, de toda a tua alma e de todo o teu entendimento.
Esse é o maior e o primeiro mandamento”
(Mt 22,37-38),
e:
“Quem só quer Deus, é rico de todos os bens”
(Santo Afonso
Maria de Ligório, A Prática do Amor a Jesus Cristo, Resumo das
Virtudes). Ele, o nosso Criador e Senhor, merece, portanto, todo o
nosso respeito e adoração: “... adorai a Deus nos seus átrios
sagrados!”
(1 Cr 16,29). Consagra-Lhe pois os melhores afetos
de teu coração e tributa-Lhe, todos os dias, a homenagem da
oração, temendo sumamente ofendê-Lo: “Morrer, mas não pecar”
(São Domingos Sávio), e: “Filho,
deves evitar tudo quanto sabes desagradar a Deus, quer dizer, todo
pecado mortal, de tal forma que prefiras ser atormentado por toda
sorte de martírios a cometer um pecado mortal”
(São Luís de França, Do
Testamento Espiritual de São Luís a seu filho).
-
Lembra-te que o temor de Deus é o
princípio da sabedoria: “Feliz o homem que teme a Deus...”
(Sl 111,1), e ele é também a base da santidade. Segue o conselho
do bom Tobias a seu filho: “Meu filho, lembra-te do Senhor
todos os dias e não queiras pecar, nem transgredir seus
mandamentos”
(Tb 4,5).
-
Além de respeitar e amar a Deus,
deves também amor e respeito à Santa Igreja Católica Apostólica
Romana, a única Igreja fundada por Jesus Cristo: “... tu és
Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja...”
(Mt
16,18), e: “Amar a Igreja, eis, amados filhos, o dever da hora
presente. Amá-la significa estimá-la e ser feliz em pertencer a
ela. Significa ser-lhe resolutamente fiel. Significa obedecer-lhe,
servi-la, ajudá-la com alegria até o sacrifício, na sua missão
difícil”
(Papa Paulo VI, 18-09-1968), é preciso também amar e
respeitar os seus ministros: “Não toqueis nos meus ungidos, não
façais mal aos meus profetas!”
(Sl 105,15). Dos ministros de
Deus ou falar bem ou então calar, como se faz com as pessoas que
nos são caras, porque Deus não deixará impune, aquele que
perseguir os seus ministros: “Quem os punir cairá na maior
infelicidade”
(Santa Catarina de Sena, O
Diálogo,116).
-
Faça apostolado com fervor, zelo,
fidelidade e caridade; e diante de uma crítica contra a santa
doutrina da Igreja Católica Apostólica Romana, defenda-a como
verdadeiro filho, mas evite discussões grosseiras: “Nós
nascemos da Igreja; ela nos comunica a riqueza de vida e de graça
de que é depositária, nos concebe pelo batismo, nos alimenta com
os sacramentos e a palavra de Deus, nos prepara para a missão, nos
leva ao desígnio de Deus, razão da nossa existência como cristãos.
Somos seus filhos. Nós a chamamos, com legítimo orgulho, de nossa
mãe, repetindo um título que vem dos primeiros tempos e atravessou
os séculos”
(Papa João Paulo II, 28-01-1979).
-
Confessa sincera e francamente a
sua fé, não haja em seu comportamento nem sombra de respeito
humano: “Todo aquele, portanto, que se declarar por mim diante
dos homens, também eu me declararei por ele diante de meu Pai que
está nos céus. Aquele, porém, que me renegar diante dos homens,
também eu o renegarei diante de meu Pai que está nos céus”
(Mt 10,32-33).
-
Guarda-te de usar em vão o
nome de Deus, da Santíssima Virgem e dos santos; em músicas,
conversas, piadas, ou para desafogarmos os nossos sentimentos,
como fazem alguns incrédulos: “Se amamos
a Deus, amaremos o seu nome e jamais o mencionaremos com falta de
respeito ou de reverência, como exclamação de ira, de impaciência
ou de surpresa: evitaremos tudo quanto possa desonrá-lo. Esse amor
pelo nome de Deus estender-se-á também ao de Maria, sua Mãe, ao de
seus amigos, os santos, e a todas as coisas consagradas a Deus,
cujos nomes pronunciaremos com reverência ponderada. Para que não
esqueçamos nunca este aspecto do nosso amor por Ele, Deus nos deu
o segundo mandamento: “Não pronunciarás em vão o nome de teu Deus,
pois Deus não deixará impune aquele que pronunciar em vão o seu
nome” (Dt 5, 11)”
(Leo J. Trese, A Fé Explicada, Cap. XVII).
|
Subir
Capítulo II - Deveres para com os pais |
-
Depois de Deus, é aos nossos pais que somos mais devedores. Deus
promete vida longa e bênçãos nesta terra aos bons filhos: “Aquele
que honra o pai viverá muito...”
(Eclo 3,6), mas, Ele também
ameaça com seus castigos os maus filhos, que maltratam os pais: “...
amaldiçoado pelo Senhor aquele que irrita a sua mãe”
(Eclo
3,16).
-
O primeiro dever dos filhos para
com os seus pais é amá-los. Seria desnaturado o filho que não os
amassem e os respeitassem.
-
A primeira prova de amor para com
os pais é prestar-lhes obediência e submissão em tudo: “Filhos,
escutai-me, sou vosso pai, e fazei o que vos digo para serdes
salvos”
(Eclo 3,1). O filho só não deve obedecer quando o pai
manda algo ilícito. É intolerável grosseria, é má criação
responder aos pais “Não
quero”. Nunca lhes digas tão feia expressão.
-
Merece repreensão aquele filho que:
mostra importuno e exigente nos seus pedidos aos pais, trata-os
com indiferença, desprezo, grosseria, altera a voz ou canta
enquanto é corrigido ou aconselhado pelos pais, tratá-los de igual
para igual, usando “você”
no lugar de “senhor”
ou “senhora”, etc.: É
digno de maldição o filho que guarda ressentimento dos pais,
deixando até de conversar com eles: “Nem vale a pena lembrar
que odiar os pais, bater-lhes, ameaçá-los, insultá-los,
ridicularizá-los seriamente, amaldiçoá-los ou recusar-lhes ajuda,
se estão em grave necessidade, ou fazer qualquer outra coisa que
lhes cause grande dor ou ira, é pecado mortal. Estas coisas já o
são se feitas a um estranho; feitas aos pais, são pecados de dupla
malícia”
(Leo J. Trese, A Fé Explicada, Cap. XVIII).
-
Ao contrário, é louvável o
procedimento daquele filho que é dócil e que sempre se submete e,
em tudo consulta os seus pais pedindo-lhes licença; e isto, com
expressões educadas, tais como: “se
é do seu agrado, pai”; “se
a senhora deseja, mãe”; “se
me dá licença”; etc.
-
E que coisa insuportável, o
procedimento de um filho grosseiro, que nunca pede licença e que
usa de expressões como estas: “já
disse que não”; “eu
vou sair sim”; “não
quero nem saber”; etc.
-
Evita tudo quanto; direta ou
indiretamente, possa desgostá-los, como seria perturbá-los em suas
ocupações, pegar alguma coisa sem o seu consentimento,
contradizê-los, responder-lhes com maus modos. Procura, ao invés,
fazer tudo quanto lhes possa dar gosto.
-
Não diga nunca a menor coisa que
possa prejudicar a honra de teus progenitores; antes, nada deves
dizer do que se passa em tua casa.
-
Evita toda palavra de desprezo ou
injúria, toda palavra arrogante, ressentida e impertinente.
-
O filho não deve manifestar os
defeitos dos pais, nem mesmo criticá-los, mas rezar por eles e com
respeito orientá-los no caminho certo.
-
Não use para com seus pais maneiras
bruscas, como seria: sacudir desdenhosamente os ombros,
voltar-lhes as costas, abanar a cabeça, bater os pés ou objetos,
olhar de esguelha, levantar a voz ou, o que seria hediondo,
ameaçá-los e agredi-los.
-
É preciso manifestar sempre, nas
palavras e nos atos, o respeito e veneração que lhes tributas,
tanto em casa, como fora, nas conversas e em toda parte.
-
Reza pelos teus pais, todos os
dias. Retribua com sua gratidão e benevolência o amor que te
consagram. O filho que rejeita os carinhos de seus progenitores,
merece ser privado do amor dos mesmos: “Devemos desejar o bem
estar e a salvação eterna dos pais, e rezar por eles. Se já
faleceram, nossos deveres são simples: recordá-los em nossas
orações e na Missa, e oferecer periodicamente alguma Missa pelo
descanso de suas almas”
(Leo J. Trese, A Fé Explicada, Cap.
XVIII).
-
Vai-lhes ao encontro pela manhã e
saúda-os tomando-lhes a bênção. O mesmo fará à noite antes de te
deitares, quando sais de casa ou quando chegas.
-
Os pais merecem, mais do que
quaisquer outras pessoas, nossa estima e respeito. Quem se
mostrasse educado para com os outros e incivil para com seus pais,
seria um impostor.
-
Procura de bom grado sua companhia.
Há crianças e jovens que preferem a companhia dos amigos à dos
pais, dizendo que os pais os tem sempre perto de si. Que
ingratidão! E os pais (pobres pais!) vêem-se muitas vezes
constrangidos a disfarçar os seus sentimentos e a calar. Dias
virão em que estes filhos indiferentes sentirão falta de seus
progenitores e chegarão a compreender toda a sua ingratidão!
-
Sê aberto e franco para com teus
pais. Deposita neles toda a confiança, porque são eles os teus
amigos mais desinteressados e sinceros. E como é impossível
recompensar-lhes o amor que te dedicam, faze tudo para honrá-los e
alegrá-los.
-
Tuas maneiras e teu proceder sejam
tais, que só o fato de te verem lhes cause alegria e consolo. Todo
sorriso que os seus lábios fizeres a somar, toda consolação que
lhes despertares na alma, ser-lhes-á grande recompensa, recompensa
que redundará também em bênção para ti. As bênçãos dos pais são
sempre confirmadas por Deus.
-
Felizes os filhos que desempenharem
fielmente estes deveres. Serão abençoados por Deus. Mas ai dos
desobedientes, que amarguram os dias dos seus pais! Esses atraem
sobre si, ainda nesta vida, as maldições de Deus, que são os
prenúncios das maldições e castigos da outra vida. Maldito é o
filho que não honra o seu pai e sua mãe.
|
Subir
Capítulo III - Deveres para com os superiores |
-
Tudo o que se disse em relação aos
pais, toma-o como dito também em relação aos teus superiores,
porque eles fazem as vezes dos teus pais, e terão que prestar
contas a Deus de vossas almas: “Obedecei aos vossos dirigentes,
e sede-lhes dóceis; porque velam pessoalmente sobre as vossas
almas, e disso prestarão contas” (Hb 13, 17). São teus
superiores: o diretor do colégio, ou escola e os que o auxiliam na
direção, os teus assistentes, vigilantes ou inspetores, como quer
que sejam chamados, os teus mestres e em geral todos aqueles dos
quais de alguma maneira, dependes. Como superiores considerarás
também os anciãos e como tais os respeitarás.
-
A obediência aos superiores é para
cada pessoa o fundamento de toda virtude, e por isso, o seu
primeiro dever: “... a obediência é melhor do que o sacrifício,
a docilidade mais do que a gordura dos carneiros”
(1 Sm 15,
22). A vontade de Deus se realiza obedecendo aos superiores, por
isso, é necessário grande espírito de fé, para não considerá-los
naturalmente, isto é, suas limitações e defeitos; e assim,
submeter a própria vontade a eles de forma consciente e perfeita:
“Por isso é necessário submeter-se não somente por temor do
castigo, mas também por dever de consciência”
(Rm 13, 5).
-
Deves estar certo de que os
superiores compreendem a obrigação que têm de promover o teu
bem-estar, e quando avisam, mandam e corrigem, não visam outra
coisa senão o teu bem.
-
Procedem mal os que não se aproximam
dos seus superiores, antes fogem deles; esse procedimento é
característica de uma pessoa rude e selvagem. Os que mais se
acercam dos superiores, são os que recebem mais avisos e
conselhos. “Os que governam incutem medo quando se pratica o
mal, não quando se faz o bem. Queres então não ter medo da
autoridade? Pratica o bem e dela receberás elogios, pois ela é
instrumento de Deus para te conduzir ao bem. Se, porém, praticares
o mal, teme, porque não é à toa que ela traz a espada: ela é
instrumento de Deus para fazer justiça e punir quem pratica o mal”
(Rm 13, 3-4).
-
Dá-lhes aquelas demonstrações de
afeto e reverência que bem merecem, saudando-os quando os
encontrares, conservando-te sem o chapéu em sua presença
antepondo-lhes ao título a palavra “senhor”, como:
senhor diretor, senhor
professor, reverendíssimo padre, reverendíssima madre,
etc., e bem assim nas afirmações e negações: SIM SENHOR; NÃO
SENHOR.
-
Seja a tua obediência pronta,
respeitosa e alegre: “Obedecer com a vontade é obedecer
espontaneamente e não à força, como fazem os escravos”
(Santo
Afonso Maria de Ligório, A Prática do Amor a Jesus Cristo, Cap.
XIII), não fazendo
observações para te esquivares, não murmurando ou fazendo gestos
de desgosto: “Quem se queixa e murmura não é perfeito, nem
mesmo bom cristão”
(São João da Cruz, Ditos de Luz e Amor, 172).
Obedece mesmo quando o que te mandarem não for de teu agrado,
porque então, será mais meritória a tua obediência.
-
Obedece ainda quando o superior
estiver ausente, porque só os que têm instintos perversos e agem
com hipocrisia, aproveitam da ausência ou distração do superior
para promover distúrbios, gritarias e indisciplinas. Esse tipo de
pessoa não merece confiança. “Servos, obedecei, com temor e
tremor em simplicidade de coração, a vossos senhores nesta vida,
como a Cristo, servindo-os, não quando vigiados, para agradar a
Deus, mas como servos de Cristo, que, põem a alma em atender à
vontade de Deus. Tende boa vontade em servi-los, como ao Senhor e
não como a homens, sabendo que todo aquele que fizer o bem
receberá o bem do Senhor”
(Ef 6,5-8).
-
Deves ter muita confiança em teus
superiores, mas nunca excessiva familiaridade, por mais que eles
se mostrem afáveis para contigo: “Devemos ter caridade para com
todos, mas a familiaridade não convém”
(Imitação de Cristo, Cap VIII, 2). Não busque imitá-los, porque somente Jesus Cristo é
perfeito: “Nunca tomes um homem, por exemplo, no que tiveres a
fazer, por santo que seja, porque o demônio porá diante de ti as
suas imperfeições; mas imita a Cristo que é sumamente perfeito e
sumamente santo e jamais errarás”
(São João da Cruz, Ditos de Luz e Amor, 155).
-
Será de boa educação oferecer aos
superiores alguma coisa que se tem à mão, como frutas, doces,
balas, etc; mas não se deve insistir demasiado para que aceitem.
Não é conveniente que lhes peças tais coisas; quando, porém, ele
lhas oferecerem, aceita com reconhecimento e agradece.
-
Abre com sinceridade o teu coração ao
superior, considerando-o como um pai, que só deseja o teu bem.
Encontrando-o, cumprimenta-o pedindo-lhe a bênção com uma vênia.
Encontrando-te sentado, ponha-te de pé imediatamente à chegada do
superior; não se sente se este, a isso não o autorizar com uma
palavra ou com um aceno; e nunca ponha o chapéu na cabeça em sua
presença sem a devida permissão.
-
Escuta reconhecido suas correções, e
recebe com humildade o castigo das tuas faltas, sem mostrar-te
zangado ou ressentido. É sinal de grande humildade agradecer-lhe a
correção; demonstra também inteligência e bom coração aquele que
no final do castigo volta para agradecer-lhe.
-
Constitui falta de respeito, cercar o
superior no meio do corredor ou sob os pórticos, para propor-lhe
coisas importantes ou simplesmente para lhe pedir alguma
permissão.
-
Quem precisa, procure, com toda
educação e respeito, o superior em seu escritório, nas horas de
expediente: exponha o seu caso e aceite, com docilidade e
gratidão, sua decisão.
-
Evita a companhia daqueles que,
enquanto os superiores se dedicam totalmente ao bem de seus
súditos, censuram-lhes as disposições. É este um sinal de máxima
ingratidão. Uma pessoa que age assim é um câncer maligno para a
comunidade em que vive.
-
Quando fores interrogado pelo
superior a respeito do proceder de algum colega, responde com
franqueza, principalmente se se tratar de impedir ou remediar
algum mal. O silêncio em tal caso seria de dano ao companheiro e
de ofensa a Deus.
-
Sê sempre grato aos teus
superiores. A gratidão é uma veste preciosa que torna a pessoa
agradável a todos; é o imã que atrai sobre ti os dons da
Providência. Esquece, muito embora, os benefícios que a outrem
fizeste; nunca, porém, te esqueças dos que tu próprio recebeste.
|
Subir
Capítulo IV - Deveres para com todos |
-
Deves ser respeitoso e educado para com
todos: “Que vosso amor seja sem hipocrisia, detestando o mal e
apegados ao bem; com amor fraterno, tendo carinho uns para com os
outros, cada um considerando o outro como o mais digno de estima”
(Rm 12, 9 – 10). Honra e ama o teu próximo como a teu irmão: “Amarás
o teu próximo como a ti mesmo”
(Mt 22, 39).
-
Não mandem nem recebam cartas sem antes
mostrá-las ao superior. Perguntados a respeito de qualquer assunto,
respondam sempre com prudência e sinceridade.
-
Fujam, como da peste, das amizades
particulares, que se cultivam às escondidas. Esse tipo de amizade
prejudica a vida espiritual e os estudos: “Não vos deixeis
iludir: as más companhias corrompem os bons costumes”
(1Cor 15,
33) e: “São um dos maiores obstáculos ao progresso espiritual:
Deus, que não quer nada dum coração dividido, começa por fazer
censuras interiores e, se não se escuta a sua voz, retira-se pouco a
pouco da alma e priva-a de luz e consolações interiores. À medida
que os apegos vão crescendo, vai-se perdendo o recolhimento
interior, a paz da alma, o gosto dos exercícios espirituais e do
trabalho”
(Pe. João Ferreira Fontes, Compêndio de Ascética e
Mística, Ad Tanquerey, cap. V, 603-a).
-
É absolutamente proibido dar apelidos.
Chame-se cada pessoa pelo próprio nome: “Não faças a ninguém o
que não queres que te façam”
(Tb 4, 15). Nunca faça de alguém
objeto de riso e zombaria, criticando suas faltas de qualidades e
inteligência, debilidades, cor e condição social, que seria
discriminação: “Mas se fazeis acepção de pessoas, cometeis um
pecado e incorreis na condenação da Lei como transgressores”
(Tg
2, 9).
-
Não ridicularizes os defeitos físicos
ou morais de teu próximo, e não os arremedes, o que seria grande
insulto. A mais das vezes, aqueles que zombam dos defeitos alheios
são os que mais defeitos têm.
-
Sê disponível para prestar ao próximo
algum serviço ou dar-lhe algum conselho, isto sempre de bom grado e
sem almejar ou exigir algo em troca. “Todos vós, conforme o dom
que cada um recebeu, consagrai-vos ao serviço uns dos outros, como
bons dispenseiros da multiforme graça de Deus”
(1Pd 4, 10).
-
Não façam mau juízo de ninguém; não
sejam curiosos de saber as novidades, nem espalhem boatos: “Filho,
não sejas curioso, nem te embaraces com cuidados inúteis”
(Tomás
de kempis, “Imitação de Cristo”, Livro III, Cap. 24); isso
tudo prejudica a vida comunitária, onde deve reinar extrema
caridade. Não fales dos defeitos alheios a não ser que grave motivo
o exija; mas em tal caso não exageres nunca o que disseres. “Nosso
Senhor Jesus Cristo diz-nos expressamente: “Não julgueis, e não
sereis julgados; não condeneis e não sereis condenados”
(Lc 6, 37).
As mais duras palavras saídas da sua boca foram precisamente para
aqueles que se faziam juízes dos outros: os fariseus. Daqui a
importância de evitar qualquer tipo de críticas interiores”
(Ricardo Sada e Alfonso Monroy, Curso de Teologia Moral,
14.2.2).
-
Evitem toda teimosia; suportem com
paciência e suavidade os defeitos dos colegas, pelos quais
alimentarão sempre sentimentos de respeito e estima: “Nós, os
fortes, devemos carregar as debilidades dos fracos e não buscar a
nossa própria satisfação. Cada um de nós procure agradar ao próximo,
em vista do bem, para edificar”
(Rom 15, 1-2).
-
Não sejas molesto a ninguém; perdoe as
ofensas e não cause desgosto a ninguém, embora seja seu inferior: “Portanto,
como eleitos de Deus, santos e amados, revesti-vos de sentimento de
compaixão, de bondade, humildade, mansidão, longanimidade,
suportando-vos uns aos outros, e perdoando-vos mutuamente, se alguém
tem motivo de queixa contra o outro; como o Senhor vos perdoou,
assim também fazei vós”
(Col 3, 12-13).
-
Fuja, como peste da ociosidade e da
preguiça, sempre desagradáveis e prejudiciais, especialmente naquele
que é chamado a desempenhar um assíduo trabalho: “A preguiça faz
cair no torpor; o ocioso passará fome”
(Pr 19, 15), e: “O
desejo do preguiçoso causa a sua morte, porque suas mãos recusam o
trabalho”
(Pr 21, 25).
-
Evite o olhar indiscreto e o levantar a
voz em tom de arrogância. Evite também o barulho e as correrias: “O
olho não se sacia de ver, nem o ouvido se farta de ouvir”
(Ecl
1, 8), e: “A lâmpada do corpo é o olho. Portanto, se o teu olho
estiver são, todo o teu corpo ficará iluminado; mas se o teu olho
estiver doente, todo o teu corpo ficará escuro. Pois se a luz que há
em ti são trevas, quão grandes serão as trevas!”
(Mt 6, 22-23).
-
Há indivíduos cuja convivência se torna
terrivelmente pesada: falam alto e pisam rumorosamente quando os
outros descansam, batem as portas, arrastam camas e cadeiras: “O
barulho distrai a alma do recolhimento interior; andar ou fechar as
portas com ruído, conversar em voz alta, pode impedir os irmãos de
rezar; neste ponto, cada um deve esforçar-se por respeitar a vida
dos irmãos, por facilitá-la, evitando com cuidado tudo o que pode
constituir obstáculo. Pequenas coisas, é verdade, mas agradáveis a
Deus, pois facilitam a sua obra íntima nas almas”
(Dom Columba
Marmion, “Jesus Cristo o Ideal do Monge”). Deixam sujo tudo o
que usam, como por exemplo: banheiros, pias, o seu lugar na mesa,
etc. Isto é falta de caridade e de educação: “A limpeza exterior
representa, até certo ponto, a honestidade interior”
(São
Francisco de Sales, “Introdução à Vida Devota”, Cap. XXV).
-
É absolutamente proibida toda
brincadeira de mão; não há pretexto que a possa justificar. Avise ao
superior sobre qualquer infração a esta proibição: “...nunca
permitas a ti mesmo esses tratos que se dão aos outros por
brincadeiras, mas que são sempre repreensíveis. Jogar um no chão,
beliscar outro, pintar um terceiro de preto, enganar a um tolo, tudo
isso denota uma alegria desenfreada e maligna”
(São Francisco de
Sales, “Introdução à Vida Devota”, Cap. XXIV).
-
Evitem as conversas inúteis, imorais e
levianas e nunca ofendam a ninguém: “Tem todo o cuidado em não
deixar sair de teus lábios alguma palavra desonesta, porque, embora
não proceda duma má intenção, os que a escutam a podem interpretar
de outra forma... passemos o pouco de tempo que nos é dado para uma
conversa recreativa e agradável, de modo que a devoção aí praticada
nos assegure uma eternidade feliz”
(São Francisco de Sales, “Introdução
à Vida Devota”, Cap. XXVII). Evite também de dizer palavras em
louvor de si próprio: “...porque Deus resiste aos soberbos, mas
dá graça aos humildes”
(1 Pd 5, 5).
-
O humilde agrada a todos e é por todos
estimado, ao passo que o orgulhoso se torna antipático e
insuportável; pode ser temido, mas nunca será benquisto: “...
nada fazendo por competição e vanglória, mas com humildade, julgando
cada um os outros superiores a si mesmo...”
(Fl
2, 3).
-
Sê pródigo em demonstrações de afeto,
respeito e cortesia. Uma palavra, um gesto de estima pouco ou nada
custa, mas vale muito. Foge, contudo à adulação, que denota ânimo
mesquinho e hipócrita, e pode até tornar suspeitas as tuas
intenções.
-
Não se deve, porém, usar lisonjas e
carícias para com o próximo: enervam o caráter e produzem arrogantes
e impostores.
-
Na atitude, nos gestos e nas palavras
evitem toda arrogância e soberba, para não se tornar desagradável a
Deus e odioso aos olhos dos homens.
|
Subir
Capítulo V - Deveres para consigo mesmo |
-
Regra fundamental para a educação é a
que nos ensina a ser moderados e civis também quando estamos sós.
Um aluno só se mostra ser verdadeiro, quando ele se comporta
santamente em todos os lugares: “... tornai-vos também vós
santos em todo o vosso comportamento”
(1 Pd 1, 15). Se não
fores bem educado para contigo, aos poucos contrairás hábitos e
modos inconvenientes, que te será difícil abandonar, e muitas
vezes te acontecerá cometeres grosserias perante os outros, sem
dar-te conta, mas não sem desonra e sem vexame. Quantos, até gente
de boa sociedade, querem parecer bem educados, e, no entanto,
esquecem este preceito! — A verdade é que; um aluno só mostra
realmente que amadureceu, quando se comporta bem, longe dos
superiores.
-
Quem se acostuma a ser pouco educado
para consigo, sê-lo-á também para com os outros; por isso deves
acostumar-te a proceder sempre com decoro. E esse tipo de aluno
aos poucos será desprezado por todos da Escola de Santificação.
-
Quando ninguém te vê, seja teu
procedimento com se todos te vissem. Assim te habituarás a
proceder sempre civil e cristãmente, não parta agradar a outrem,
mas pelo sentimento de dignidade própria e pelo amor ao decoro.
Além disso, não é verdade que ninguém te vê: Deus te vê, e isto
basta.
|
Subir
|