Capítulo I - Procedimento na Igreja |
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A igreja é a casa de Deus e lugar de oração: “Minha
casa será chamada casa de oração”
(Mt 21, 13). Por isso, nela
não deves fazer rumor, conversar ou rir, mas expandir os afetos de
teu coração para com Deus.
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Quando entrares na igreja, toma água benta e faze o
sinal da cruz. Faze inclinação ao altar, se aí só houver o
crucifixo ou alguma imagem; faze genuflexão simples, se houver o
Santíssimo, e genuflexão dupla, se o Santíssimo estiver exposto.
-
Depois de breve oração, se vieste à igreja para
visitá-la, podes levantar-te e, não havendo nenhuma função
religiosa, faze tua visita sem perturbar os outros. Se estiveres
com algum companheiro, poderás precisando trocar com ele algumas
palavras, mas em voz baixa, sem leviandade. Fica, porém, sempre
afastado de quem reza, para não incomodares. Quantos, nestas
ocasiões, se mostram levianos e irreverentes!
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Nunca te ajoelhes com um joelho só, apoiando-te no
outro com o cotovelo. Não te sentes sobre os calcanhares, a
maneira dos cachorrinhos, nem te deites sobre o espaldar do banco
da frente, fazendo arco com o corpo.
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Durante as sagradas funções, abstêm-te de bocejar,
dormir, voltar-te de um lado para outro, e, especialmente de
cochichar ou rir com os companheiros.
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Ouve com atenção os sermões e instruções morais.
Não sejas dos que perturbam o pregador e os ouvintes: tossindo,
assoando-se, trocando de lugar ou fazendo ranger os bancos. Não
saias nunca do sermão sem algum bom pensamento ou máxima para
praticar.
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Fica mal sair da igreja durante o sermão ou durante
a bênção do Santíssimo Sacramento. Se alguém não puder ficar até o
fim, deve retirar-se antes do início de tais atos; mas durante os
mesmos, é preciso prestar-lhes toda atenção, evitando perambular
pela igreja ou rezar nos altares laterais. Estas são as regras de
religião e de boa educação.
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Dá grande importância ao estudo da Santa Doutrina
da Igreja Católica Apostólica Romana e à sua prática, como fazem
os homens verdadeiramente grandes. Aquele que não estuda a
doutrina católica por preguiça e negligência peca mortalmente: “Cometem
falta grave aqueles que, por negligência ou má vontade, não a
quiserem aprender” (2º Catecismo
da Doutrina Cristã, lição preliminar, 15).
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Não cuspas nunca no pavimento, porque isso, além de
ser anti-higiênico e incivil, expõe os vizinhos ao perigo de se
enxovalharem.
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Sê recolhido, mesmo ao sair da igreja. Não te
apresses para sair por primeiro, nem te detenhas a falar ou rir
perto da porta. — Prepare-se para a Santa Missa com o máximo de
piedade, e não saia da mesma, sem antes fazer uma piedosa ação de
graças.
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Quando cantares os cânticos sagrados, observas as
devidas pausas. Não faças dissonâncias de voz, gritando ou
cantando fora de tom, ou prolongando os finais das estrofes ou
refrões. Não abras nunca a boca só para fazer ostentação da tua
voz; pensa ao invés que, com o canto, honras ao Senhor, e que à
tua voz fazem eco os anjos do céu: “Quem
canta reza duas vezes” (Santo
Agostinho, En in Psal. 72, 1) — Quando fores
desentoado para cantar, não invejes aqueles que receberam esse
dom, mas fica feliz em ouvir a voz melodiosa de seus amigos, e
agradeça a Deus por isso. Ao invés de desanimar ou de perseguir os
que sabem cantar, peça ajuda, e assim, com teu esforço e com a
graça de Deus, aos poucos corrigirá a tua voz.
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Tua oração seja freqüente e fervorosa, nunca feita
de má vontade ou com perturbação dos outros: “Orai
sem cessar” (1 Ts 5, 17).
Deves rezar as orações prescritas com atenção, devoção e respeito.
Quando rezares em comum, não levante demais a voz, nem rezes tão
baixo que não sejas ouvido. Dize as orações com as devidas pausas
e no mesmo tom dos outros.
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Durante a oração em comum; não faças leituras
piedosas nem rezes outras orações.
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É falta de piedade e de educação, voltar-se para
ver quem entra ou quem sai da igreja.
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Se tiveres a ventura de ajudar a missa, procura
conhecer e observar com exatidão as cerimônias, especialmente as
inclinações e genuflexões. Muito asseio nas roupas e nas mãos,
seriedade e devoção.
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Acontecendo vir a teu lado um senhor ou senhora de
mais idade, cede-lhes teu lugar, se for preciso.
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Arremedar as cerimônias sagradas demonstra má
educação e provoca os castigos de Deus. Entrar em templos de outra
religião, mesmo por amor a arte, deve ser coisa excepcional, e
nunca em tempo de funções religiosas, para evitar perigos e para
não dar escândalo.
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Na igreja, não se saúdam amigos e conhecidos. Em
casos excepcionais, fá-lo-ás com simples inclinação de cabeça e
nunca com aperto de mão.
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Pêsames e parabéns dar-se-ão fora da igreja, na
saída.
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Capítulo II -
Procedimento na
aula |
Depois da igreja, é a escola que mais merece nosso
respeito. Aí se forma intelectual e moralmente as pessoas; aí se
adquire, a par dos conhecimentos literários e científicos, a nobreza
de coração e a força de caráter. Da escola depende em grande parte,
teu futuro, tua felicidade terrena e quiçá também a eterna. Por
isso, observa as seguintes normas:
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Entra na sala de aula com seriedade e em silêncio;
dirige-te logo ao teu lugar, aí permanecendo sossegado. Apenas te
levantarás à chegada do professor, em sinal de respeito.
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Quando o mestre tardar a chegar, não faças rumor,
mas espera em silêncio, recordando a lição ou lendo algum livro.
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Procura não chegar tarde à aula. Se por justo
motivo tiver que faltar à aula, avisa previamente o professor, se
te for possível. Voltando à aula, antes de ires ao teu lugar,
dá-lhe satisfação da tua ausência.
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Para evitar mau exemplo, é bom informar o
professor, no caso de, por justo motivo, ires à aula sem estar
preparado.
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Durante a explicação, guarda-te de cochichar,
desenhar figuras, fazer bolinhas de papel, dar sinais de
admiração, ou o que é pior, mostrar enfado pela explicação.
Recortar ou rabiscar a carteira é ato de verdadeira selvageria...
-
Não te deves voltar para um e para outro lado, nem
mover o corpo à maneira de pêndulo, nem debruçar-te sobre a
carteira, nem apoiar-te sobre os cotovelos. Evita, sobretudo, os
atos triviais, como resmungar, menear as pernas, bater os pés no
chão, assobiar, falar alto, atirar objetos ao ar, etc. Tais atos,
além de causarem desordem, revelam falta de educação.
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Não interrompas a explicação com perguntas
inoportunas. E quando interrogado, levanta-te prontamente e
responde sem pressa, mas também sem te fazeres esperar. Quando te
esqueceres de alguma passagem da lição, não te ponhas a olhar para
o teto, nem procures sopradores.
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Se durante a aula entra algum superior ou alguma
visita, deves levantar-te em sinal de respeito.
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Na aula e em outros lugares de respeito não se deve
ser absolutamente tolerado o feio hábito de cruzar as pernas ou
estar com as mãos no bolso.
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Às perguntas do professor, deves responder clara e
distintamente. Nunca respondas secamente. “Sim, não!”; mas
“sim, senhor” — “não, senhor professor”, etc.
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Quando repreendido, não respondas com arrogância,
tivesses embora muitas razões; no fim da aula poderás desculpar-te
em particular com o professor. Mostra-te humilhado, mas contente
de ter sido avisado. Não imites os que se encrespam, atiram o
livro ao chão, abaixam a cabeça sobre a carteira com fúria; atos
estes que indicam soberba e má educação.
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Se fores repreendido, não digas: “que é que eu
fiz? Eu não fiz nada”, e coisas semelhantes. Nem te levantes
com altivez, lançando olhares de desdém ao professor ou sorrindo
para os companheiros. Será pior ainda, se, interrogado,
responderes com arrogância ou entre os dentes, com o semblante
carregado.
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Não caçoes nunca de quem erra ou pronuncia mal as
palavras. É também falta de caridade zombar dos mais atrasados. A
inteligência e a memória te foram dadas por Deus. Assim como as
deu, poderia tirá-las.
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Não faça garatujas na pedra, não escrevas palavras
que possam ofender os companheiros, não suje as paredes da sala ou
os mapas geográficos, não derrames tinta, nem sujem com ela a
roupa dos outros, não risques as carteiras. Todos esses atos
denotam pouca educação.
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As tarefas ou temas de aula sejam feitos com
empenho, asseio e boa caligrafia. Temas bem feitos e asseados
denotam diligência e aplicação e granjeiam a benevolência dos
mestres.
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Tanto pelo próprio decoro como pelo respeito devido
aos colegas, apresentar-te-ás à aula sempre decentemente vestido e
asseado; e não levarás brinquedos, figuras, livros estranhos,
revistas, jornais ou coisas semelhantes, cujo menor inconveniente
é a distração dos companheiros.
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Não te afastes do teu lugar, nem dês sinais de
impaciência ou aborrecimento.
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Tanto na saída, como na chegada, evita a desordem e
a confusão e espera em silêncio a tua vez.
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Não quererás por certo imitar aqueles estouvados e
malcriadinhos, que pulam, correm e gritam pelas escadas e
corredores e empurram os colegas.
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Respeita os professores, quer sejam da tua classe,
quer das outras. Deves ter especial estima aos que foram teus
mestres em anos anteriores: A gratidão é uma das virtudes que mais
ornam a tua idade.
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A virtude
que de modo especial se inculca aos estudantes é a humildade.
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Capítulo III
- Procedimento na
sala de
estudo |
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Tudo o que se disse quanto à aula, diga-se também
quanto à sala de estudo. Aí a tua primeira ocupação deve consistir
em fazer as tarefas e estudar as lições. Nos dias em que te sobrar
tempo, poderás ocupar-te em alguma leitura útil.
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Quando escreves, evita estar recurvado, apoiar o
peito à carteira, torcer o pescoço, arregalar os olhos, contrair
os lábios e pôr a língua. Não estudas marcando as palavras em voz
alta, pois assim, além de perturbar os vizinhos, prejudicas a tua
saúde.
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Tem cuidado com os livros, cadernos e em geral, com
tudo o que te pertence. Não faças garatujas e borrões nos livros,
não os estragues dobrando as extremidades das folhas e marcando-os
com tinta ou com a unha.
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Não toques no que não te pertence. Em caso de
necessidade, pedirás com bons modos ao companheiro. Não atires
papel ao chão, mas guarda-o no bolso e à saída deposite-o no cesto
próprio para isso.
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O lugar dos preguiçosos e negligentes distingue-se
pela desordem que aí reina, pelas manchas de tinta e pela desordem
geral. Distintivos dos negligentes são também as manchas de tinta
nas mãos, nas unhas, na roupa, e às vezes até no rosto e no
pescoço.
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Demonstram pouco amor ao estudo, aqueles que se
voltam ao mínimo rumor, fitam quem entra ou sai e o acompanham com
o olhar para ver onde vai e o que faz.
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Não têm franqueza e confiança, e por isso não
merecem a estima dos superiores, aqueles que conservam às ocultas,
livros perigosos, fotografias, figuras e cartões postais. Pior
procedem os que fazem circular tal material às escondidas entre os
companheiros. Estes, desde tenra idade, já mostram ânimo malévolo.
De quantos males deverão dar contas a Deus!
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Capítulo IV - À mesa |
À mesa, mais do que em qualquer outro lugar,
conhece-se uma pessoa bem educada, porque, sendo o comer e o beber
ações de todo materiais, assemelhar-nos-emos aos brutos, se não
usarmos os devidos cuidados.
Na verdade, que se há de dizer dos que se curvam
sobre o prato, e irrequietos lançam olhares ávidos para esta ou
aquela comida ou bebida? Esses podem ser comparados aos irracionais.
Estando, pois, à mesa, em tua casa ou na alheia,
especialmente num jantar de cerimônia, não te descuides de praticar
com atenção ao menos estas principais regras de civilidade.
-
Antes de te pores à mesa, tira o sobretudo e depõe
o chapéu. Para te sentares, espera que o façam os donos da casa; o
mesmo observarás quanto a desdobrar o guardanapo, ao beber e ao
comer.
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Se os lugares estiverem marcados, toma o teu; de
outra forma, espera que o dono da casa o indique. Se tiveres
liberdade de escolher, escolhe de preferência os últimos lugares,
porque é melhor ser convidado a subir do que a descer...
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Não te mostres descontentes do lugar que te coube e
muito menos dos vizinhos que tens; antes é bom fazer-lhes, logo no
princípio, um cumprimento e, durante a refeição, ter para com eles
toda deferência e cortesia.
-
À mesa deves ficar bem composto. Não arregaces as
mangas, não fiques debruçado sobre a mesa, nem tão pouco muito
afastado, não apóies os cotovelos na mesa, mas apenas os pulsos.
Não inclines a cabeça a cada bocado; deves levar a comida à boca e
não a boca à comida; assim também o guardanapo aos lábios e não
vice-versa.
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O pão parte-se com a mão e leva-se à boca de uma só
vez todo o bocado que se partiu. As bebidas levam-se à boca com a
mão direita. Com a direita deve-se também fatiar e oferecer.
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O guardanapo deve-se estender sobre os joelhos.
Familiarmente tolera-se prendê-lo à roupa por uma ponta.
-
Com o guardanapo só se deve limpar os dedos e os
lábios, principalmente antes e depois de beber; não é lícito
enxugar com ele o que quer que seja. É reprovável o costume de
enxugar com o guardanapo os pratos, os copos e talheres, salvo o
caso de evidente necessidade. Tal ato mostraria que o convidado
não tem muita confiança no asseio da família.
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Se acontecer que tenhas mesmo de enxugar os
talheres muito molhados, farás isto com miolo de pão, que depois
se deixa no prato; nunca, porém, usarás o guardanapo ou a toalha.
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A colher segura-se com a mão direita e não com
toda, mas com três dedos e com certa elegância. Não se deve
introduzir toda a colher na boca, mas só até a metade. No fim,
põe-se a colher no prato com a parte côncava para cima.
-
Conforme o uso mais comum, a faca se conserva na
mão direita para cortar carne e outros sólidos, que se levam à
boca com o garfo mantido na esquerda. A faca nunca se leva à boca.
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As viandas tiram-se da travessa com talheres a isso
destinados, e nunca com os talheres individuais.
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É coisa reprovável servir-se dos talheres para
tamborilar, gesticular, etc.
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Quem serve, deve começar pela pessoa mais digna e
passar depois aos outros com certa ordem e sempre à esquerda do
convidado. É costume servir pela direita as bebidas: vinho, café,
etc. Nas refeições íntimas, os próprios comensais podem se
incumbir de passar as travessas. Passando ao vizinho um prato, um
talher ou outra coisa, deve-se fazer do modo mais cômodo para ele.
-
Sê discreto ao servir-te da travessa. Toma o que
estiver mais à mão e não voltes o prato em todas as direções para
escolher o melhor bocado. Não leves nisso muito tempo, há outros
que esperam a sua vez... Cúmulo de incivilidade seria cheirar as
iguarias. Se por acaso ficares privado de alguma coisa, não dês
sinal de desgosto, mas mostra-te indiferente e educado.
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Quando o criado te levar a travessa, não recuses
servir-te, para que outros se sirvam antes de ti. Seria atrapalhar
o serviço e as ordens do dono da casa.
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Se te sentares ao lado duma senhora ou duma pessoa
notável, não só a deverás servir por primeiro, mas procura que
nada lhe falte e oferece-lhe teus serviços quando perceberes que
ela precisa.
-
Nunca toques coisa úmida com as mãos. Só alimentos
enxutos, como pão, biscoito, sanduíches, coxinhas, algumas frutas,
etc., esses podem se tomar e levar à boca com as mãos.
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Trinchando, oferecendo ou servindo-te evita que
caia molho sobre a mesa. E se cair um pedaço de carne ou coisa
semelhante, deverás tomá-lo com o garfo e pô-lo num prato à parte.
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Quando colocares o talher na travessa ou na
compoteira, fazei-o com cuidado, para que fique apoiado nas bordas
e não mergulhe todo no molho.
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Grande grosseria é tirar alguma coisa da travessa e
levá-la diretamente à boca. Pior seria tirar um pedaço de carne da
travessa com o próprio garfo já usado.
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Não empurres o arroz para o teu prato. Tira-se às
colheradas, vagarosamente.
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Geralmente, não peças coisa alguma, mas espera que
te ofereçam. Não critiques as iguarias, nem dês sinal de que te
não apetecem. Se depois de te servires de alguma coisa, não a
puderes comer, deixa-a intacta no prato, que te será retirado.
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Olhar com avidez para o que se apresenta à mesa,
olhar para a boca dos vizinhos, como para lhes contar os bocados,
são atos de grande grosseria.
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Tudo quanto puder suscitar repugnância, deve-se a
todo custo evitar, a saber:
-
Mostrar ao vizinho o que de repugnante se
encontrar na comida, como um cabelo, um inseto, etc. Em tal caso,
chame-se o servente e entrega-lhe o prato para que o retire.
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Projetar da boca para o prato um osso, uma
pedrinha, uma espinha de peixe, etc. Deve-se tirar com a colher ou
garfo, sempre disfarçadamente, e depositar no prato ou numa
vasilha própria para isso.
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Esgravatar os dentes com o garfo ou com as
unhas, enxaguar a boca com vinho, café ou outro líquido para
depois engolir ou cuspir fora, friccionar os dentes com os dedos
ou com o guardanapo. Para limpar os dentes, servem os palitos.
Quando saíres da mesa, não leves o palito na boca, à maneira dos
pássaros quando fazem seus ninhos...
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Misturar no copo diversas bebidas, ou no prato
muitas espécies de comida, a não ser nas refeições familiares.
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Deixar cair da boca os alimentos ou borrifar com
ele o visinho, ao falares. Quem tiver esse defeito, fale pouco e
com cuidado. Em nenhum caso porém, se deve falar com a boca cheia.
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Fazer barulho ao tomar a sopa, fungar, ou com os
lábios e com a língua fazer outros ruídos intoleráveis.
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Dar estalos com a boca, como para mostrar que
está saborosa a comida.
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Enxovalhar a roupa ou a toalha, enchendo demais
o copo. Entornando molho, etc. Do copo deve-se encher somente três
quartas partes do máximo, e nunca esgotá-lo completamente.
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Beber pelo prato: caldo, molho, calda de doce,
etc. Só é lícito usar a colher se inclinar o prato, sem pretender
esgotar o último pingo do líquido...
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Cheirar a comida e os copos, etc., tirar com os
dedos alguma coisa que tenha caído no copo.
-
Falar ou beber com a boca cheia, pôr na boca
muita comida duma só vez.
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Segurar a beirada do prato para que não fuja, ou
comer com o prato na mão, para ficar mais perto da boca...
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Comer às pressas; o que, além de incivil, é
prejudicial à saúde. Evite-se porém, o excesso oposto.
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Abrir a boca, mostrando assim o que se mastiga,
limpar o prato com o pão, lamber os dedos, enxugar os lábios com a
mão ou com a manga e repor na travessa alguma comida que já estava
no próprio prato.
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Virar demasiado o copo na boca, deixando
impressa a marca dos lábios, ou olhar para os lados enquanto se
bebe.
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Respirar, tossir, fazer qualquer rumor no copo,
tomar longa respiração depois de beber.
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Coçar-se, cuspir, tossir, espirrar, tomar rapé
ou assoar, sem absoluta necessidade.
-
Não se deve falar muito ou muito alto, como os
bêbados, nem ficar sério e carrancudo, como se se tivesse
descontente do tratamento.
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Não se critiquem as iguarias e as bebidas, nem se
louvem demasiado.
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Use-se especial cuidado nas conversações, para não
sair dos limites da decência e do decoro, para o que de nada vale
a fórmula “com o perdão da palavra”.
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Além destas regras gerais, daremos agora outras
particulares para os diversos alimentos.
Pão
— Em geral, o pão já se acha cortado em fatias num prato ou
cestinho apropriado, quando não se distribui a cada um dos convivas
um pequeno pão, que depois será repetido conforme for preciso.
Toma-se uma ou duas dessas fatias de cada vez e não muitas;
segurando a fatia com a esquerda, parte-se um bocado com a direita e
com a mesma leva-se à boca. Se porventura se tiver que cortar o pão
na mesa, tomar-se-á com a esquerda e cortar-se-á no ar ou apoiando-o
ao prato, e não encostando-o na mesa ou contra o peito. Não se
separe o miolo da crosta para comê-los separadamente; tão pouco é
lícito esmiuçar o pão para depois comer aos pedacinhos.
Sopa
— Se estiver muito quente, pode-se agitar um pouco com a colher
no fundo do prato. Os goles devem-se fazer sem ruído. No fim
poder-se-á inclinar um pouquinho o prato para recolher o resto, mas
sem tomar o prato na mão.
Enquanto se toma a sopa, não se deve beber qualquer
bebida, o que é muito prejudicial aos dentes.
É reprovável encher demasiado o prato, ensopar o pão,
principiar num ponto do prato e encontrá-lo com a colher e tomar
duas vezes uma só colherada.
Sal —
Não se deve tirar o sal com o dedo, nem com o cabo da colher ou
do garfo. Quando não houver colherzinha apropriada, tirar-se-á com a
ponta da própria faca, se ainda não tiver sido usada. Em caso
contrário, pede-se uma ao criado; não o querendo ou não o podendo
fazer, coma-se do mesmo modo, ou então deixe-se no prato.
Molho —
O molho serve-se com uma colher apropriada e não virando a
vasilha no próprio prato, a não ser quando é servido em vidro como o
molho inglês.
Carne —
A carne, assim como os legumes, come-se com o garfo. Não se toca
com as mãos, não se destaca dos ossos com os dentes, mas com a faca
e o garfo. Os ossos de nenhum modo se devem roer ou chupar; não se
põem sobre a mesa ou debaixo dela, mas na beirada do prato ou
vasilhame apropriado.
A carne pode-se comer de dois modos: cortando-a antes
em pedacinhos, que se levarão à boca com o garfo, ou, o que é mais
comum, segundo o costume inglês, mantendo na direita a faca com que
se cortam vez por vez os pedaços, que são levados à boca com o garfo
conservado na esquerda.
Peixe —
Tira-se o peixe com a faca ao longo do dorso e, quando estiver
servido, com o auxílio do garfo separam-se as espinhas.
Manteiga
— A manteiga é melhor não estendê-la de uma só vez por todo o
pão; à medida que se parte o pão, passa-lhe a manteiga, levando-o
depois à boca.
Quando a manteiga não for servida a cada um dos
convivas, deve-se tirar da manteigueira com a faca, que ao lado dela
estiver, uma certa quantidade, pô-la à beira do prato e servir-se
daí.
-
Apresentando-se à mesa uma iguaria que não
conheces e não sabes como se come, não te deves servir dela. Assim
também, não aceites a incumbência de trinchar, se não o souberes,
pois qualquer imperícia pode ter deploráveis conseqüências. Não é
pois delicado insistir muito para que alguém tome a si tal
encargo.
-
Quando for tempo de mudar os pratos, deixa que
os mudem sem cerimônia. Cabe ao servente tirá-los e não a ti
oferecê-los. Os que retiram os pratos devem fazê-lo do lado
direito.
-
Se durante a refeição houver leitura, deves
escutá-la com atenção e em silêncio, evitando fazer rumor com os
talheres; o mesmo se deve observar se houver canto, música,
declaração ou coisa semelhante.
-
Para os brindes, os costumes variam conforme os
países. Entre nós está prevalecendo a praxe de não se tocar entre
si as taças ao findar o brinde, mas fazer com elas simples acenos
às pessoas brindadas.
-
A oração antes e depois da comida é uma prática
que um cristão nunca deveria omitir.
-
Para coroar este capítulo importantíssimo, resta
dizer que a primeira e mais importante regra de educação à mesa é
a temperança no comer e no beber. Quem come até se empanzinar ou
bebe até ficar alterado, é indigno de sentar-se à mesa com pessoas
educadas. O alimento nos é dado, não para a satisfação do apetite,
como os brutos, mas sim para conservarmos são o corpo, instrumento
da nossa alma. Não é, pois, bem entendida a civilidade daqueles
que insistem muito com os comensais para que comam e bebam.
-
Não será supérfluo recomendar que se evite o
menor estrago de comida. Quantos pobres cobiçam os nossos sobejos!
Jesus Cristo, após o milagre da multiplicação dos pães, ordenou
aos seus discípulos que recolhessem os pedaços que sobraram, para
não se perderem.
-
Um bom cristão não aceita, em dias de
abstinência, convites de pessoas que não a observam. Sendo
surpreendido em tais refeições, deve-se ter bastante coragem para
obedecer às leis da Santa Igreja. O efeito de tal proceder é
sempre a estima dos comensais ajuizados.
Enfim, nem todas as regras aqui compendiadas têm
sempre o mesmo valor. Em família e no seio das comunidades,
permite-se algumas exceções; nunca, porém, em detrimento da
cortesia, pois aí, mais do que em qualquer outro lugar, deve dominar
o afeto, que é a norma da cortesia. |
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Capítulo V
- Ainda sobre o procedimento à mesa |
Acrescentamos aqui, como complemento ao capítulo
precedente, que é sem dúvida dos mais importantes deste compêndio,
alguns preceitos particulares extraídos dos melhores autores.
Algumas coisas que se devem evitar:
-
Fazer sopas de pão dentro do molho ou café,
salvo o caso de intimidade.
-
Encher o garfo de comida com a faca, para depois
lavar à boca. Devemos levar no garfo o que ele pode apanhar com
facilidade, e não mais.
-
Pegar no talher desastradamente. Devemos apoiar
o cabo da faca e do garfo na palma da mão. A maneira de se manejar
graciosamente o talher, só se consegue pela prática e pela
observação.
-
Estar com o garfo espetado à maneira de punhal;
devemos sempre levar a comida à boca com um movimento curvilíneo
ou do garfo ou da colher.
-
Comer e engolir com sofreguidão. Devemos fazê-lo
sempre devagar.
-
Mastigar ruidosamente ou fungando.
-
Molhar o pão ou os biscoitos no leite, café,
chá, etc., salvo o caso de muita intimidade. Leva-se o bocado à
boca, mastiga-se um tanto e depois toma-se um gole do líquido.
Esta regra é geral também para qualquer alimento sólido.
-
Alargar os cotovelos, quando se cortam as
iguarias. Devemos conservar os cotovelos cingidos ao corpo.
-
Comer com a colher tudo o que pode ser comido
com o garfo. Mesmo os gelados são agora freqüentemente comidos com
o garfo.
-
Devorar a última colher de sopa, o último bocado
de pão, a última garfada de qualquer iguaria: a limpeza dos pratos
não pertence aos convivas...
-
Estender a mão por diante das outras pessoas, na
intenção de pegar qualquer coisa que esteja longe de nós.
-
Pedir ao vizinho que nos dê qualquer objeto que
não esteja ao nosso alcance, salvo quando em família. Para isso é
que servem os criados (quando os há).
-
Brincar com o guardanapo, com o copo ou com o
garfo, ou com qualquer outro objeto.
-
Limpar o rosto ou o queixo com o guardanapo.
Devemos somente passá-lo de leve pelos lábios.
-
Voltar as costas a uma pessoa com o propósito de
falar a outra.
-
Conversar por diante da pessoa que está sentada
ao lado.
-
Estar acanhado. Devemos fazer diligência por
estar à vontade, e ter por nós próprios o respeito que devemos aos
outros.
-
Deixar cair a faca ou o garfo no chão; caso
porém, tal aconteça, não devemos ficar atarantados. Dirijamo-nos
calmamente ao criado, pedindo outro, e não pensemos mais em
semelhante ninharia.
-
Debruçar-se sobre a cadeira.
-
Pegar na mão um pedaço de galinha ou de outra
carne.
-
Usar palito à mesa sem necessidade; caso nos
sirvamos dele, devemos cobrir a boca com uma das mãos, enquanto
tiramos dos dentes o que nos incomoda.
-
Comer cebola ou alho, quando se esperam visitas;
devemos guardas as comidas com tais temperos, para quando jantamos
sozinhos e tencionamos ficar sós algumas horas depois do jantar.
Não é agradável manifestar pelo olfato quais foram as nossas
refeições. Para o cheiro da cebola ou alho é eficaz, no entanto,
um copo de leite tomado logo a seguir.
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Teimar com um convidado para que coma.
Antigamente isto era costume e era também considerado delicadeza
da parte do convidado aceitar ou desculpar-se por se ver forçado a
recusar. Aborrecer um conviva com oferecimentos contínuos, é
considerado mau gosto.
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Como convidado, dobrar o guardanapo quando
acabares de jantar. Basta que o ponhas ao lado.
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Ao recusar um prato, dar como razão “que pode
fazer mal” ou “que não gostas”.
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Fazer a mais leve alusão à dispepsia, indigestão
ou incômodos semelhantes. A digestão é um assunto muito íntimo,
que fica só para nós.
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Fazer notar, como conselho de amizade, que uma
certa vianda é indigesta ou prejudicial a qualquer doença, etc.
Não é delicado metermo-nos na vida alheia; naturalmente, a pessoa
a quem nos dirigimos está muito mais apta do que nós de saber o
que lhe faz mal ou bem.
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Mostrar uma correção de maneira demasiado
afetada; devemos ser naturais na nossa delicadeza. Mais vale
cometer leves faltas, que mostrar esforços para não cometê-las.
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Agradecer ao dono ou à dona da casa o jantar
para o qual foste convidado; devemos somente à saída expressar o
prazer que sentimos com o convite.
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Assobiar ou cantar, estando à mesa.
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Beber pelo pires.
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Meter a colher na chávena de chá ou de café,
enquanto servirem; este costume faz que muitas vezes se entornem a
chávena. Devemos deixar ficar a colher no pires e não na xícara.
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Levantarmos da mesa antes de acabar a refeição.
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Ler jornais ou livros à mesa, quando haja outros
convivas.
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Deixar cair pingos de café, leite, etc., ou deitar
nódoas de gordura na roupa. Basta um certo cuidado para evitar
estes incidentes.
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