Capítulo I - Da conversação |
Nosso Senhor, na sua bondade, deu-nos um
instrumento que nos serve ao mesmo tempo de recreio, de repouso, de
alívio ao espírito e de escola de conhecimentos úteis: é a
conversação. Quando nos sentimos cansados, nosso espírito busca o
descanso no seio dos nossos amigos; acabrunhados, nosso coração
verte no coração amigo as suas mágoas e atinge conforto e coragem.
Cumpre-nos, pois, o dever sagrado de não convertermos instrumento
tão salutar em veneno e perdição.
Muitas são as regras de civilidade que nos cabe
praticar, para que a nossa conversação se torne atraente, instrutiva
e honesta.
-
Teu porte deve ser correto e nobre, quer estejas
sentado, quer de pé. - Deves, quanto possível, colocar-te diante
das pessoas com que conversas, para poderes perceber a impressão
que tuas palavras produzem; evitando, porém, fitar demasiado algum
interlocutor.
-
Tem cuidado em não falar muito próximo das pessoas
que te rodeiam, de tal forma que te sintam o hálito, ou sejam
alvejadas por algum perdigoto.
-
Evita contrair os lábios, enrugar a fronte, pôr a
língua, mostrar os dentes, fazer trejeitos ou gestos exagerados.
Evita a afetação na pronúncia e no tom de voz, o hábito de
gaguejar, de truncar as palavras ou sílabas; defeitos estes, que
causam enfado aos ouvintes.
-
Não fales muito alto, de modo que tuas palavras
degenerem em gritos, nem por demais baixo que não te possam ouvir
todos. A voz deve ser modulada segundo os lugares, o assunto e o
número de ouvintes.
-
Evita falar fanhoso, cantarolar, declamar, repetir
muitas vezes a mesma palavra por sestro. Não abuses das palavras
exageradas e hiperbólicas, como magnífico, esplêndido,
formidável, maravilhoso, etc., como também das palavras
estrangeiras ; o que, além de tudo, indica ostentação. Sê parco no
uso dos superlativos. Ao belo chamarás belo e não
perfeito: ao feio de feio e não horrível. O
exagero faz com que muitas pessoas deixem de ser acreditadas.
-
Evita as expressões pouco honestas e pouco
descentes e as palavras ofensivas. O hábito de dizer certas
coisas, tais quais são, abertamente e sem véu, não se alia à
correção dos costumes e à educação.
-
Para assunto das tuas conversas, nunca tomes coisas
triviais e frívolas ou demasiado conhecidas, nem tão pouco
sublimes e épicas ou melancólicas e tristes. Deves evitar, quanto
possível, falar de ti mesmo e, sendo necessário, faze-o em poucas
palavras e às pressas. O eu nas conversações é um
estribilho muito desagradável ao ouvido. Guarda-te sobretudo de
mostrar desejos que te louvem, o que poderia produzir o efeito
oposto.
-
Não comeces a contar coisas que não conheces bem,
para não te arriscares a ter que interromper no meio da tua
narração.
-
A sátira é com razão chamada uma das sete línguas
do demônio. Ela não convém à conversação, na qual tudo deve ser
agradável. Um satírico mordaz será temido, mas nunca amado.
-
Cuidado com a maledicência e a calúnia. São coisas
horríveis, que causam grande mal à sociedade. E há tanto desse
veneno por aí, nas conversas e nos jornais... ninguém deve
aplaudir ou animar os maldizentes e detratores, e muito menos
repetir e espalhar as misérias que eles dizem.
-
É louvável entremear na conversa algum gracejo que
mantenha alegre a companhia, quando isso se fizer com
espontaneidade, graça e inocência.
-
Não arremedes a voz e as maneiras dos outros, nem
ridicularizes ninguém. Os gracejos são permitidos, mas no justo
limite. Se o companheiro, a quem são dirigidos os gracejos, se
ressentir com isso, será necessário parar imediatamente. Caçoadas
que desagradam e ofendem ao próximo são contrárias à caridade.
-
Percebendo que tua conversa redunda em murmuração,
é teu dever truncá-la, fosse embora ela atraente. Se ouvires algum
companheiro criticar as ações de outrem, procura com bons modos
adverti-lo.
-
Se estiveres em numerosa companhia, não deverás
falar a um só ou de coisas que só interessem a ti e a ele. Procura
falar a todos e de coisas que a todos agradem. Não fales das
aflições pessoais ou dos desgostos da família, sem seres
interrogado. Os choramingas são de peso aos outros. É preciso
saber suportar a nossa cruz como fortes, e só confiar nossas
mágoas aos que nos são caros.
-
Procura evitar o cacoetes e bordões, isto é, o
hábito de repetir constantemente certos gestos e principalmente
certas palavras, como: Não é? Sabe? Já viu? Suponhamos, etc.
Quem tiver tais sestros dificilmente os percebe; não assim os
ouvintes, que se sentem logo maçados.
-
Evita as contendas. Se alguém te contradisser ou
mesmo te ofender, reprime teus ímpetos e sê generoso. Palavras
pesadas não convencem o adversário, antes o exasperam, prejudicam
a tua reputação perante os outros e fazem-lhes perder o gosto pela
conversação.
-
Se houver alterações em tua presença, não trates de
atirar também a tua pedra; procura, ao invés, dar novo rumo à
conversa.
-
As discussões, embora fora para desejar que não as
houvesse, todavia têm não raro as suas vantagens. Acostumam a ter
mais exatidão nas expressões, a comunicar-se reciprocamente as
luzes intelectuais; dão vida e movimento à conversação. Cumpre,
porém, evitar toda questão religiosa e política. Tais gêneros de
discussão produzem, em geral, resultados desagradáveis.
-
Se alguém em tua presença sustenta uma opinião, que
não parece exata, mesmo se tiveres prova de que é errônea, não lhe
dirás: Não é verdade — é mentira, etc.; mas procurarás
adoçar a contradição: perdoe-me se não sou do seu parecer —
julgo que isto não é exato — talvez o senhor não esteja bem
informado, etc.
-
É molesto quem teima na própria opinião, como se
ele tivesse o monopólio da verdade... A firmeza nas convicções é
virtude; não assim a obstinação em querer ter razão a todo custo.
Pretender impor suas opiniões, enfurecendo e vociferando, é
próprio dos loucos. Ordinariamente quem tem menos razão é quem
mais grita, procurando suprir deste modo a insuficiência dos seus
argumentos. As palavras ofensivas, então, nunca foram nem serão
argumentos convincentes.
-
Os jovens não devem discutir com os mais velhos,
nem os inferiores com os superiores, a não ser que recebam para
isto autorização; ainda assim, devem apresentar recusas.
-
Seja tua conversação delicada e conscienciosa. Deus
te guarde de falares contra a Igreja e suas instituições, contra o
Papa, os Bispos, os Sacerdotes, os Religiosos, etc.
-
Evita falar dos defeitos físicos, da cor, do
semblante, dos cabelos, da pronúncia, do andar, numa palavra, do
exterior do próximo. Evita sobretudo ridicularizar-lhe o nome, a
família, a profissão, a pátria, etc. Todos, em geral, somos por
demais sensíveis nestes assuntos, e não podemos admitir que nos
toquem nessas fibras. Assim também, nunca deves falar mal de uma
corporação religiosa, de um Estado, de uma Nação, uma família, e
especialmente dos mortos.
-
Há pessoas, e infelizmente não poucas, que não
percebem os dotes estimáveis de outra pessoa, ao passo que nada de
reprovável e defeituoso lhes escapa, procurando com arte diabólica
evidenciar os defeitos alheios, embora mínimos. Esses
assemelham-se ao galo da fábula, que, habituado a ciscar nos
monturos, não soube apreciar as pérolas.
-
Esta mania de criticar mostra não só falta de
educação, mas sentimentos ignóbeis e caráter baixo. Lembram-no
especialmente os inferiores e estudantes, habituados a censurar e
pôr em ridículo o que dizem ou fazem os seus superiores! A
insolência deles ofendem a caridade, corrompe o ânimo dos
ouvintes, fomenta a rebelião e amargura-lhes a existência.
-
Sejam prudentes os que devem corrigir ou admoestar.
Sua primeira qualidade é o império sobre si mesmo. Não admoestem,
nem castiguem enquanto estiverem alterados, não o façam em
presença de outrem, a não ser que se trate de falta grave cometida
publicamente. Na calma, a voz da razão é mais facilmente ouvida. A
moderação ao corrigir é sinal de muito domínio de si mesmo. As
pílulas adoçam-se para mais facilmente engolir; assim, à correção
cumpre acrescentar sempre uma palavra de afeto e benevolência.
-
Não mutiles, nem adulteres o sentido dos textos
sagrados. Evita também exclamar a todo instante: Meu Deus!
Virgem Maria! Valha-me Deus! etc.; o que é proibido pelo
próprio Deus no mandamento: “Não tomarás seu Santo Nome em vão”.
-
De modo todo especial, foge e abomina as conversas
imorais ou mesmo só inconvenientes, que poderiam ferir um ouvido
inocente e puro, e despertar nos outros imagens perigosas. Um
jovem cristão nunca será por demais prudente nisto. Longe de ti,
pois, toda palavra obscena ou ambígua, toda história picante ou
anedota escandalosa. Isso tudo é indício de coração corrompido, e
produz tristes ruínas nos outros.
-
Nem se deve falar com leviandade ou desrespeito das
pessoas de outro sexo: graçolas e chalaças licenciosas destoam
completamente na boa sociedade. Lembremo-nos de nossas mães e de
nossas irmãs, e assim evitaremos esses erros tão deploráveis.
-
As imprecações que lhes assemelham, como: Com os
demônios! Mil raios te partam! etc., são coisas que nem
gracejando se permitem.
-
Passando agora das palavras às ações, procura não
fazer em companhia de outrem coisa alguma menos decente e
delicada. Por isso, evita:
-
Cortar ou roer as unhas, coçar, meter os dedos na
boca, no nariz, nos ouvidos, etc.
-
Tossir e espirrar no rosto dos outros, assobiar,
cantarolar, esfregar corpos ásperos.
-
Falar ao ouvido de alguém sem pedir licença aos
presentes; avizinhar-te dos que falam em voz baixa ao contar
dinheiro; voltar as costas ou passar diante de alguém sem te
desculpares.
-
Fazer cócegas nos outros, chamar alguém de longe;
quando for preciso chamar uma pessoa que estiver longe, pedirás
licença aos presentes. - É mau costume chamar uma pessoa pelo nome
onde se acha muita gente, como nas ruas, nas estações, nos ônibus,
etc. A pessoa chamada poderá não apreciar isto!
-
Espreguiçar-se, estalar os dedos, inchar as
bochechas e soprar, esfregar as mão e bater a cada passo com os
pés.
-
Deve-se também evitar bocejar, o que indica
aborrecimento; quando de todo não puderes conter o bocejo,
disfarça-o com o lenço ou com a mão aberta, boceja sem rumor e
interrompe-te, se estava falando.
-
Quando não puderes reter o espirro, procura
valer-te do lenço ou, quando não haja tempo, da mão voltando o
rosto para o lado. Caiu em desuso saudar quando alguém espirra.
Estando hoje banidas as expressões:
Saúde; Deus o ajude; Dominus tecum!
-
Rir muito e por coisa de nada, como fazem os tolos,
dar gargalhadas estrondosas que interrompem os outros e os
enfadem. Não só o riso deve ser moderado, mas também os outros
sinais de alegria, de prazer, de admiração, etc.
-
Requer a cortesia que, quando alguém fala, sigas
com interesse a conversa, e não te ocupes em outras coisas, como
ler, escrever, folhear livros, olhar o relógio, trocar sinais,
rir, gracejar, interromper quem fala com outros introduzindo
outros assuntos. Em alguns casos porém, é lícito e até necessário,
com a devida permissão, interromper quem fala, para fazer uma
observação ou perguntar alguma coisa que se não compreendeu bem.
Para truncar uma conversa indecente e ímpia, o superior e, na
falta deste, qualquer pessoa, está obrigada a fazê-lo.
-
Quando durante uma conversação, se tiver que
entregar alguma coisa a um dos presentes, não se estenda a mão por
diante dos outros, mas entregue-se por detrás. Se houver algum
impedimento, então se pedirá licença antes de passar o objeto pela
frente.
-
Balançar-se na cadeira, apoiar-se nos cotovelos,
são modos inconvenientes. Quando te levantares, não te
espreguices, não suspires nem soltes exclamação que indiquem
cansaço.
Lembra-te, enfim, que uma boa conversação pode
granjear-te grande estima da parte dos outros. |
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Capítulo II -
Ainda sobre a conversação |
Aqui vão indicadas mais algumas coisas que se
devem evitar:
-
Mostrar arrogância aos inferiores e humildes e
adulação aos superiores. Com estes últimos devemos ser dignos, com
os primeiros devemos ter em consideração os seus sentimentos, por
ínfima que seja a sua categoria.
-
Apresentar senhoras a homens; os homens é que devem
ser sempre apresentados às senhoras. Os homens novos apresentam-se
aos de idade; com as senhoras segue-se o mesmo sistema.
-
Mexer nas pessoas quando falamos com elas,
agarrar-lhes os braços e os ombros, ou sacudi-las para lhes chamar
a atenção.
-
Falar mais alto que os outros, ou tentar
monopolizar a conversa.
-
Repetir os escândalos ou histórias maliciosas, que
andam em voga.
-
Tocar em assuntos de discutível decoro.
-
Quando expuseres qualquer fato, exagerar até a
mentira. Falar verdade é uma questão de hábito. Se poucas pessoas
mentem por má intenção, a maior parte da gente torna-se mentirosa
pela falsa mania de exagero.
-
Estar sempre à espreita de ocasião para dizer
graçolas. Principalmente os homens tornam-se muito ridículos com a
mania de dizer chalaças que incomodam quem as ouve.
-
Quando perguntarem qual é a tua opinião a respeito
de alguém, dá-la com precipitação, sem medir as conseqüências que
podem resultar, caso repitam a essa pessoa o que disseres.
-
Se tiveres habilidade para imitações,
estando sempre pronto para as exibir em sociedade. Poucas pessoas
gostam de ver seus defeitos ridicularizados; e, mesmo que estas
pessoas não estejam presentes, há sempre um amigo mal
intencionado, que lhes faz chegar aos ouvidos que fulano fez um
admirável arremedo de sua pessoa, em tal jantar ou reunião.
-
Responder por monossílabos a qualquer observação
que te fazem.
-
Ouvir com indiferença ou impaciência o que os
outros dizem. Devemos ouvir delicadamente toda a gente; é este um
sinal de boa educação, que é necessário cultivar.
-
Estares sempre disposto a depreciar os outros, ou
achá-los em falta constantemente. Se os elogios contínuos
aborrecem, a censura a todos os atos alheios é igualmente muito
irritante.
-
Não ser atencioso com as pessoas de idade. Os moços
muitas vezes desdenham dos velhos, especialmente se são surdos ou
padecem de qualquer outra enfermidade. Não há nada mais delicado e
que melhor mostre a bondade de um coração, do que solícitas
atenções, que se prodigalizam às pessoas idosas.
-
Ralhar com as crianças ou criados, diante de outras
pessoas.
-
Como dono ou dona da casa, dar as ordens de uma
maneira autoritária ou ferir a dignidade dos empregados. Se
usarmos bons modos, obedecer-nos-ão da melhor vontade.
-
Aborrecer outras pessoas dando-lhes parte das tuas
sensaborias domésticas, como questões com criados ou queixas do
jaez.
-
Atormentar crianças, gatos e cães com brincadeiras
grosseiras, que são somente prova de pouco siso e aborrecem a quem
está presente.
-
Dizer mal de alguém que tenha a tua mesma profissão
ou negócio. Devemos ter suficiente respeito de nós mesmos para
apreciar os méritos de um rival, em lugar de os depreciar.
-
Julgar que, porque somos idosos, nos é permitido
usar uma linguagem menos delicada, ou fazer insinuações que causam
embaraços às pessoas novas. O espírito, assim como o bom vinho,
deve até tornar-se mais puro e refinado com a idade.
-
Orgulha-te por falares com demasiada franqueza, o
que quase sempre equivale a grosseria. Alguns há que repetem à
boca cheia: “Eu sou franco”. Ficaria mais certo se
dissessem: “Eu sou malcriado”.
-
Fazer muitas
perguntas a seguir, e insistir quando percebemos certa relutância
na resposta. Pode, por motivos desconhecidos para nós, ser penoso
ou desagradável ao nosso interlocutor falar nesse assunto.
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Capítulo III -
Dos recreios |
O recreio é tão necessário para descanso do corpo,
como para alívio do espírito. Homens, os mais austeros e virtuosos
não só o permitem, mas o recomendam. Nos institutos de educação, os
jogos e exercícios ao ar livre são de verdadeira necessidade; nestes
jogos é que deve principalmente consistir o recreio de tais
institutos. Para maior vantagem, porém, destes recreios, cumpre
conhecer e observar algumas regras.
-
A recreação não seja demasiado longa, nem breve
demais; no primeiro caso tornar-se-ia danosa moralmente; no
segundo, fisicamente prejudicial.
-
Deve sempre ser alegre e tranqüila. Por isso, evita
com a máxima cautela, as discussões, as brigas, as grosserias, os
gritos e algazarras, as desordens de qualquer gênero, como também
a tristeza, a melancolia e o afastamento dos outros.
-
Deves preferir os brinquedos que exigem muito
movimento. Deixa de lado os jogos em que seja preciso ficar
parado, usar indelicadamente das mãos ou fazer qualquer coisa
contrária à boa educação.
-
Seja qual for o brinquedo, não te mostre tão
apegado a ele, que não queiras ceder o lugar a outrem. Quando te
convidarem a tomar parte num brinquedo, aceita com facilidade.
-
Não te excites demais no jogo por capricho ou ânsia
de ganhar; nem tampouco estejas distraído e desinteressado,
causando assim aborrecimento nos companheiros.
-
É mau costume zangar-se quando se perde, queixar-se
dos colegas, atribuir-lhes as perdas, lembrando a cada momento os
erros cometidos; quando muito, é permitido adverti-los com bons
modos e quase sorrindo.
-
Não mostres alegria pueril, nem te gabes demais, se
saíres vencedor; a modéstia, mesmo nos jogos, é sinal de coração
bem formado.
-
Trapacear no jogo é coisa reprovável por ser
contrária à civilidade e à caridade. Quem não é leal nos
brinquedos, dificilmente o será em outras coisas.
-
Em caso de discussão, expõe com bons modos a tua
opinião ou as tuas razões. Se o adversário não quiser reconhecer o
teu direito, será melhor ceder para que não se ofenda a caridade.
-
Não faças da discussão uma rixa vergonhosa, usando
palavras de menosprezo, como: besta, estúpido, animal, etc.
Mostrar-te-ias com tal proceder sumamente grosseiro e incivil.
Quem emprega as mãos como argumento decisivo, mostra-se pior do
que os brutos, que não têm o dom da razão.
-
Pôr as mãos em cima dos companheiros, atirar areia,
pedras ou água, dar murros e pontapés como os garotos da rua e
fazer outras coisas que não convém enumerar, são atos da maior
grosseria.
-
É diabólico o costume de provocar à ira aos outros,
quer com palavras pungentes, apelidos e zombarias, quer com atos
contra a caridade. Pior ainda, seria chamar outros para gozarem da
exasperação dos companheiros. Tais modos são tão incivis, que não
se devem tolerar absolutamente.
-
Se porventura fores tu o alvo de tais grosserias,
não sejas propenso a queixar-te e procurar vingança. Interpreta-as
benignamente e procura sofrer estes pequenos desgostos, ou então
rebatê-los com palavras amáveis, que às vezes, para melhor efeito,
poderão ter o seu quê de chiste e argúcia.
-
As conversações que se mantêm durante o recreio,
devem ser comuns; por isso, será grande falta de cortesia excluir
quem quer que seja, dando à conversa aparência de segredo.
-
Não freqüente sempre os mesmos companheiros,
formando grupinhos: muito fácil será descambar a conversa para a
murmuração ou leviandade e até mesmo para a imoralidade. É esta,
sem dúvida, uma das piores pragas dos colégios. Acontece, por
vezes, haver meninos que conversam, passeiam e fazem recreio
sempre com os mesmos companheiros, com exclusão de todos os
outros. Assim fazendo, amesquinham seu próprio coração e o tornam
demasiadamente pequeno, envenenam aquela tendência inata que temos
para a expansão e amizade, tornam-se antipáticos aos demais e caem
numa perene apatia e melancolia.
-
Parar a conversação, ou mudar de assunto ao
aproximar-se o superior, equivale a condenar-se por si mesmo,
fazendo crer que se dizem coisas que se não deveriam dizer.
-
Procurar companheiros de outras divisões, fugir à
presença dos superiores, aproveitar-se de suas distrações,
iludir-lhes a vigilância, sair do lugar de recreio sem devida
permissão, são coisas que suscitam juízos desfavoráveis a respeito
de quem assim procede e dão lugar a justas suspeitas. Evita tudo
isto, de modo absoluto.
-
Procedem mal os que se reúnem para fazer algazarra,
dar gritos prolongados à maneira de vaia; estes tomam, pouco a
pouco, os instintos do vulgar e vão se tornando insolentes e
grosseiros.
-
Se algum superior jogar contigo e tu venceres a
partida, usa a delicadeza de não exaltares, atribuindo-o antes a
uma causalidade; e seja isso em sinal de respeito e estima para
quem se faz pequeno contigo.
Seja onde for o recreio, procura não estragar coisa
nenhuma. Portanto, se for dentro de casa, não arrastes as cadeiras e
as mesas, não quebres louças, não batas com as janelas e portas; se
no jardim, respeita as flores, as plantas, as ferramentas, etc.; se
no pátio, não estragues paredes, portas, árvores, metendo pregos,
riscando, arranhando, escrevendo, etc. Usa especial cuidado em não
enxovalhar a roupa dos teus companheiros e a tua própria.
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Capítulo IV -
Como proceder
fora de casa |
Nos passeios e em
geral fora de casa, exigem-se modos mais corretos do que no seio da
família ou dentro do colégio. É preciso que todos se mostrem bem
educados e civis. Assim é que teu modo de vestir e de andar, tuas
palavras e teus atos, e os mesmos companheiros devem ser
convenientes à tua condição.
-
Teu traje seja adaptado à tua idade, asseado e bem arranjado.
-
Teu porte seja moderado e correto. Agitar os braços ou
cruzá-los ao peito, inclinar a cabeça para a frente ou para os
lados, empinar o peito, requebrar-se, andar aos pulinhos, pôr as
mãos nos quadris ou nos bolsos, encarar as pessoas e os edifícios,
voltar-se para trás, etc., são atos que parecem muito mal numa
pessoa que se preza de bem educada.
-
Não deves correr pelas ruas, mormente se forem muito
freqüentadas, mas tampouco não andes demasiado devagar. Não batas
com os pés no chão, nem os arrastes à maneira dos velhos e
reumáticos.
-
Levando a bengala ou guarda-chuva, não o ponhas às costas
como faz o soldado com o fuzil, não o faças girar, não o tragas em
posição horizontal, não apontes com ele nem batas em tudo o que
encontrares.
-
São incivis os que assobiam ou cantam pelas ruas, atiram
pedras, tocam as campainhas das casas, param a espiar para dentro,
dão encontrões nos que passam, etc.
-
Devendo falar com alguém, não pares no meio da rua, mas sim,
próximo à parede e por pouco tempo. Não incomodes nenhum dos
transeuntes e, se o fizeres sem perceber, pede-lhe desculpas; se
fores tu o incomodado, guarda-te de discutir e segue o teu caminho.
-
Quando alguém vier na tua direção, cede-lhe o passo pela
esquerda, retirando-te para a direita; se porém o outro não conhecer
esta regra e não fizer outro tanto, deixa-o passar por onde quiser e
evita questões. Quem caminha na rua rente às paredes, tendo-as à mão
direita, conserve a sua direção; os que vêm em direção oposta é que
se devem desviar. Nas esquinas, procura evitar qualquer encontrão.
-
Quando saíres em companhia de algum superior, ou pessoa
distinta, dá-lhe sempre a direita, menos quando andares pelos
passeios ou calçadas junto às paredes, caso em que lhe deves dar o
lado da parede, embora fiques tu à direita. A razão desta regra é
que sendo o lado da parede mais resguardado de encontrões, salpicos
de lama e dos veículos, considera-se mais nobre e preferível.
-
Evita os ajuntamentos, onde em geral se sai maltratado.
Achando-te cercado, procura abrir caminho gentilmente. Não é correto
deter-se a ver charlatões e a tomar parte nas diversões do vulgo.
-
Se te encontrares em lugares lamacentos, não imites a
extravagância dos que, de propósito, metem os pés na água.
-
Caminhando com algum companheiro, não te apóies a ele, nem
dês encontrões. Conversando, não fales demasiado alto, de forma que
te ouçam os estranhos; portanto, evita a todo o custo as discussões
e, uma vez surgidas, interrompe-as prontamente. Não te rias
exageradamente, que poderias ser tido por doido ou bêbado.
-
Passeando em número de três, darás o centro à pessoa mais
digna. Quando houver mais de três, a prática mostrará o critério a
seguir. Devem, porém, sempre ocupar os lugares do centro as pessoas
mais dignas.
-
Não sejas avaro em saudações. Saúda também aos que saudarem
os teus companheiros.
-
Se um estranho te pedir alguma informação, satisfaze-o
gentilmente, deixando-lhe, além da gratidão, uma impressão agradável
de ti e de tua terra.
-
Se o teu companheiro se detiver a falar com outro, de assunto
que não te diz respeito, afasta-te um tanto, para não te mostrares
curioso. Isto farás sempre e em qualquer lugar.
-
Fitar uma pessoa, especialmente se for
desconhecida, observar-lhe os gestos, os passos, o vestuário e
adornos, são atos reprováveis, principalmente nos jovens, que devem
ser espelho de modéstia.
-
Malcriado e merecedor de censura se mostraria quem ousasse
proferir graçolas indecentes ou contrárias à religião.
-
Nunca te recuses ao passeio prescrito no colégio, pois que
esse é um exercício utilíssimo à saúde. Procura achar-te pronto à
hora da saída, sem te fazeres esperar.
-
Tem cuidado em sair de casa bem asseado e com os sapatos bem
engraxados. Obedece de bom grado ao guia do passeio e mostra-te
satisfeito do lugar para onde ele se dirigir.
-
Por toda a parte encontram-te os olhares dos transeuntes, é
preciso, pois, para edificação deles, que sejas reservado nos
olhares, nas palavras e nas ações, composto na pessoa, grave no
andar. O descuido e negligência neste ponto poderia trazer vergonha
aos que te acompanham.
-
Guarda a devida distância entre os companheiros, a qual não
se deve ser demasiado grande, para que não se interponham ou
atravessem pessoas estranhas; nem por demais pequena de modo a haver
perigo de pisar os companheiros.
-
Lembrem-se todos de que o passeio não é uma corrida; todavia,
guardem-se de cair no extremo oposto. Seria louvável igualares o
passo com o companheiro.
-
Não dirijas as palavras aos que estão longe, nem caminhes tão
distraído e absorto que vás de encontro aos que passam e às árvores,
ou caias em algum buraco ou valo.
-
Se todos falarem em altas vozes, a comitiva parecerá um bando
de papagaio palradores ou de estrídulas maritacas.
Evita com todo o cuidado deter-te a examinar os objetos nas
vitrinas, as figuras, os reclamos, etc. Guarda-te de chamares a
atenção dos companheiros para tais coisas e de apontar com o dedo
para pessoas ou objetos.
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Capítulo
V - Ainda sobre o procedimento fora de casa |
Algumas coisas
que deverás evitar:
-
Roçar-te pelas outras pessoas, acotovelá-las, ou mostrar de
algum modo que não lhes dá consideração.
-
Não pedir desculpa, todas as vezes que pisares alguém, ou
dares algum encontrão, ou por qualquer forma de incomodares os
outros.
-
Ficar parado nas esquinas ou nas portas das lojas ou das
igrejas e olhar para quem passa. É um hábito insolente e frívolo.
-
Fazer parar as pessoas conhecidas no meio dos passeios,
impedindo o trânsito aos outros. Quando encontramos alguém com quem
desejamos falar, devemos desviar-nos para um dos lados do passeio.
-
Parar nas plataformas dos ônibus, ou às portas dos vagões das
estradas de ferro, nas estações, estorvando assim a entrada ou saída
dos outros passageiros. Lembremo-nos sempre dos direitos e
conveniências alheias.
-
Fazer parar as senhoras, tuas conhecidas, na rua, quando lhes
desejas falar. Devemos seguir um momento à direita delas.
-
Ter pressa em fazer apresentações. Devemos
primeiro certificar-nos se as pessoas desejam ser apresentadas umas
às outras.
-
Durante um passeio, apresentar a pessoa que te acompanha a
todas as pessoas do teu conhecimento que encontrares na rua.
-
Fazer parar uma pessoa, conhecida que anda a tratar dos seus
negócios, exceto se tiveres qualquer coisa importante para
comunicar-lhe.
-
Para alcançar lugar num carro ou divertimento público
qualquer, empurrar as senhoras e as crianças, os homens mais idosos
ou mais fracos. Se numa ocasião dessas, em conseqüência duma
delicada concessão, um homem perder o seu lugar, deve ficar com a
consolação de valer mais que os outros.
-
Ocupar mais espaço do que o permitido num ônibus, ou vagão de
estrada de ferro.
-
Mentir, asseverando que não há lugar, com o propósito de
desviar a concorrência dos outros e ficar mais à vontade.
-
Entrar num teatro ou concerto depois do espetáculo estar
começado, e desse modo incomodar os outros. Devemos chegar cedo e
sentarmos a tempo nos nossos lugares.
-
Falar quando se executa o programa. É indício de má educação
impedir que os outros gozem do espetáculo.
-
Sair de um teatro enquanto se apresenta; esperamos pelo
intervalo para o fazer. As pessoas que têm este hábito e que
egoisticamente incomodam os outros, ofendem ao mesmo tempo os
artistas e o auditório.
-
Quando visitarmos uma exposição de arte, passar por diante de
outras pessoas que estão examinando qualquer das obras expostas.
Afetar conhecimentos artísticos ou técnicos. Se realmente os
possuímos, não devemos fazer alarde deles.
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Capítulo VI - Das
visitas |
As visitas têm
grande importância na vida social. Fazem-se visitas de parabéns, de
agradecimento, de augúrios, de pêsames, de amizade, para fazer
conhecer, para pedir perdão, etc. As visitas conciliam os ânimos,
desfazem as asperezas do caráter, habituam às maneiras delicadas e a
um proceder correto; estreitam relações de amizade, granjeiam
conhecimentos úteis, resolvem dificuldades nas famílias, às vezes
afastam os infortúnios ou pelo menos minoram-lhes o peso. Quantas
vezes uma visita reconciliou ânimos desde longa data separados pelo
rancor! Ninguém, pois, deve ignorar as regras que presidem às
visitas.
-
Visitarás teus superiores e os colegas com os quais tiveres
relações mais íntimas.
-
Farás visitas de agradecimento a um parente, a um amigo ou
benfeitor, depois de um favor recebido.
-
Farás visita de parabéns aos amigos e conhecidos, por alguma
prosperidade que lhes tocou, por uma condecoração, por uma promoção,
etc. Nos acontecimentos tristes, far-lhes-ás visitas de pêsames.
-
Onde houver costumes, farás visitas de felicitações aos
superiores, parentes e amigos, no dia do seu aniversário ou
onomástico, nas festas do Natal e Ano Novo; não podendo ser
pessoalmente, farás isto por carta ou telefone.
-
É um hábito louvável o dos estudantes visitarem durante as
férias os seus superiores e mestres, mostrando assim o
reconhecimento devido a quem tanto se interessou pelo bem deles.
-
Maior é o dever que te incumbe de visitar os amigos ou
conhecidos gravemente enfermos. Estes, apenas restabelecidos devem
apressar-se em retribuir ou agradecer tais visitas.
-
As notícias de pessoas doentes pedem-se pessoalmente por
telefone ou por meio de um criado, para que a família possa também
responder à voz sem perder tempo em escrever. Só quem mora longe
pode pedir informações por escrito.
-
Retribuir, em geral, as visitas é coisa indispensável e
deve-se fazer possivelmente no prazo de oito dias. Quando, por
justos motivos, te vires impedido de retribuir uma visita, procura
apresentar suas desculpas para não passares por mal educado e para
não ofenderes, talvez a quem te visitou.
-
Entre amigos, as visitas não se contam, e por isso, nem
sempre é preciso pagá-las. Igualmente os superiores não estão
obrigados a isso para com os seus inferiores, mas sempre que o
fizerem, darão prova de bondade e grandeza de alma.
-
O desejo imoderado de fazer e receber visitas, é indício de
vaidade; por outra parte, deixar de fazer as que são impostas pelo
dever ou pelo costume, denota preguiça e grosseria.
-
Para as visitas, deves procurar as horas mais oportunas para
quem as recebe; por isso nem muito de manhã, nem muito de noite, nem
durante as refeições, nem nas horas de descanso ou de funções
religiosas dos dias santos. Informa-te dos costumes da família a
quem te apresentas, para não seres importuno.
-
Se porventura fizeres alguma visita intempestiva, procura
desculpar-se antes e depois.
-
Não entrarás na casa e tanto menos nos aposentos alheios, sem
prévia licença; por isso toca delicadamente a campainha, e na falta
desta, bate de leve à porta e espera pacientemente que te vão abrir
ou te mandarem entrar.
-
À entrada e à saída, deves fechar a porta, a não ser que haja
alguém incumbido disto.
-
Ao entrar, faze o devido cumprimento às pessoas que te
apresentarem.
-
O chapéu, o guarda-chuva ou a bengala e o sobretudo,
deixam-se ordinariamente na ante-sala; quando não a houver,
conservarás os mencionados objetos na mão, até seres convidado a
depô-los.
-
As visitas de cumprimento, de felicitações e de outras
semelhantes, devem ser breves, especialmente se quem as recebe está
muito ocupado.
-
Na casa alheia não fica bem examinar os objetos, a não ser
que aí estejam para serem admirados; tocá-los não é permitido, salvo
a convite dos donos.
-
Introduzido em lugar onde se estiver comendo, é grosseria
passear os olhos sobre as iguarias ou pelos pratos dos comensais.
-
Durante a visita, observa com escrúpulo todas as regras de
civilidade expostas para a conservação, e, ao despedir-te, renova os
protestos de estima e as saudações. Se te quiserem seguir, insiste
para que não tenham esse incômodo: se, não obstante isso, te
seguirem, renova a inclinação na porta.
-
Se durante a visita perceberes que os visitados têm pressa de
se desocuparem, procura despedir-te logo.
-
Quando fores tu o visitado, não faças esperar muito o
visitante. Se for uma pessoa notável, vai-lhe ao encontro na
ante-sala ou à porta da rua, convida-a a depôr o chapéu, o capote,
etc. Ao partir, restitui-lhe esses objetos, acompanha-a até à porta
e não te retires enquanto não se tiver afastado.
-
Quando chegar à tua casa um forasteiro, especialmente se
chegar de viagem, conduze-o a refrescar-se um pouco, ajuda-o a
escovar a roupa, manda-lhe dar água para lavar as mãos, etc. Se deve
ficar como hóspede em sua casa, designa-lhe um quarto bem arrumado,
informa-o do horário, não te esquecendo de indicar-lhe o banheiro e
instalação higiênica. Cerca-o, enfim, de carinho e gentileza por
todo o tempo que ficar em sua casa.
-
Os meninos, ao fazerem visitas, devem ser acompanhados pelos
pais ou ter ao menos sua licença. Não te atrevas a visitar pessoas
de moralidade duvidosa. Não é suficiente não ter más informações: É
preciso tê-las boas e de fonte segura; do contrário, andarás às
cegas com manifesto perigo da tua virtude.
-
Nas visitas é preciso ainda evitar as seguintes coisas:
-
Entrar na sala carregado de embrulhos, capa e guarda-chuva.
-
Tentar apertar a mão de todas as pessoas presentes, quando
sejam em grande número. Basta que o façamos ao dono e à dona da
casa; um cumprimento geral é suficiente para todos.
-
Estender a mão a uma senhora, sem que dela provenha a
iniciativa. Em regra, nunca devemos estender a mão às pessoas de
mais idade e maior categoria, caso elas nos não animem, estendendo-a
primeiro.
-
Tirar as luvas quando fazemos uma visita de cerimônia.
-
Precipitar-nos para tomar uma cadeira. É melhor esperar
sempre que a dona da casa a ofereça para nos sentarmos.
-
Mostrar frieza e enfado, assim como ser efusivo e falador
demais.
-
Reparar na mobília, quadros, ou noutros objetos, como se
mentalmente estivéssemos a avaliá-los.
-
Fitar os olhos com insistência nas pessoas presentes.
-
Não nos levantar todas as vezes que entra na sala uma senhora
ou uma pessoa de respeito.
-
Reclinar-nos no sofá ou nas poltronas. Só em nosso quarto,
bem à vontade, nos é permitida essa exagerada comodidade.
-
Cruzar as pernas quando estamos sentados. Muitas pessoas têm
esse costume que não é de bom gosto.
-
Apoiar-nos apenas nos pés traseiros das cadeiras.
-
Fazer movimentos com os pés, redemoinhos com os dedos
polegares, manejos com a corrente do relógio, castão da bengala,
botões, etc.
-
Falar só de assuntos que nos dizem respeito. A verdadeira
educação, diz um escritor espirituoso,
consiste em ouvir com
interesse contar coisas que nós sabemos perfeitamente, por pessoas
que as ignoram ou as contam mal.
-
Quando nos convidam para tocar ou cantar, recusar sem termos
a firme tensão de persistir na recusa. É uma intolerável exibição da
vaidade e capricho fazermos que a dona da casa teime conosco, para,
por fim, consentirmos em ascender aos rogos.
-
Uma dona de casa insistir com uma pessoa para cantar ou
tocar, quando essa pessoa já se escusou duas vezes. A primeira
escusa pode passar por acanhamento ou modéstia, mas, depois da
segunda, deve cessar a insistência.
-
Falar em segredo diante da gente. Quando o que temos a dizer
não pode ser dito em voz alta, reservamos a confidência para ocasião
mais oportuna.
-
Numa roda, falar com uma pessoa sobre negócios que só dizem
respeito a essa pessoa e a nós próprios, ou que não podem ser
compreendidos pelos outros.
-
Falar demasiado das nossas doenças ou desgostos.
-
Falar somente de pessoas desconhecidas das que estão
presentes.
-
Fazer espírito à custa dos outros, ou ridicularizar alguém.
-
Insistir em falar na beleza de pessoas que não estão
presentes, na riqueza das casas de outras pessoas, no brilho de
diversões alheias, ou superioridade de alguém. O louvor excessivo de
pessoas ou coisas ausentes pode desgostar os presentes.
-
Depois de ouvir cantar ou tocar qualquer instrumento,
referir-se elogiosamente a outras pessoas que cantaram ou executaram
o mesmo trecho.
-
Levar a conversa para o lado da religião ou da política. As
discussões sobre estes assuntos são freqüentemente causa de
irritação; por esse motivo vale mais evitá-las.
-
Interromper uma pessoa que esta contando qualquer anedota ou
história. É imperdoável esta falta na sociedade.
-
Contradizer alguém. Pode haver divergências de opinião; mas a
contradição imediata de qualquer coisa que se diz, é de péssimo
efeito.
-
Questionar com as pessoas. Quando se conversa, é até
interessante o vai e vem do contínuo de réplica, mas nunca devemos
cair em discussões muito acaloradas. Quando tal suceda, os donos da
casa devem intervir, e habilmente desviar a conversação para outro
assunto.
-
Quando contamos qualquer caso, pormenorizarmos todas as
minúcias e fazemos pausas a cada palavra; devemos ser claros e
prontos na nossa exposição, para chegar ao fim o mais depressa
possível.
-
Falar de um único assunto, ou sobre coisas que não interessam
às outras pessoas.
-
Repetir graças já sabidas ou histórias também muito ouvidas.
-
Fazer trocadilhos de mau gosto ou muito pueris. Um bom
trocadilho está bem, mas uma série deles redunda em maçada.
-
Repetir as conversações que ouvimos; de boca em boca as
palavras perdem o sabor, e simples ditos assim repetido podem causar
desgostos.
-
Contar anedotas e referir reminiscências sobre parentes e
amigos, que não são das relações dos presentes, que estes nem sequer
conhecem.
-
Mostrar vaidade dos nossos conhecimentos ou falar do nosso
talento sobre qualquer matéria.
-
Tornarmo-nos heróis das nossas próprias histórias.
-
Não devemos considerar nossos compatriotas
inferiores aos estrangeiros, pela razão de serem diferentes os seus
costumes nacionais.
-
Amuar porque nos imaginamos esquecidos. Pensemos antes em nos
tornar agradáveis e acabaremos por nos divertir.
-
Mostrar aborrecimento, mesmo com importuno. É de boa educação
fazermos boa cara às várias maçadas inerentes à vida social.
-
Diante de gente, abrir um livro e ler. Se estamos
aborrecidos, é melhor irmos embora; se não estamos, devemos prestar
atenção aos outros.
-
Colocarmo-nos no lugar mais cômodo com o prejuízo das outras
pessoas. Nunca nos devemos esquecer de que o egoísmo é o pior de
todos os defeitos.
-
Quando um homem entra ou sai de casa acompanhado de senhoras,
passar diante delas. As senhoras têm sempre a preferência.
-
Olhar constantemente para o relógio, como se estivéssemos
impacientes de ver passar o tempo.
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Capítulo
VII - Das reuniões, teatros, seções acadêmicas, etc. |
Dom Bosco, o
grande apóstolo da juventude, dizia que o teatro deve ser destinado
a cultivar o coração, e que, portanto, jamais deverá ser causa da
mínima ofensa a Deus. Foge, pois, daqueles espetáculos públicos, e
procura tirar vantagens das diversões inocentes, que se costumam dar
nos institutos de educação. Para tais diversões, observa-se as
seguintes regras:
-
Quando tiveres ocasião de assistir a algum espetáculo, seção
acadêmica, concerto ou festa escolar, deves ser grato aos teus
superiores, que, com sacrifício, promovem essas diversões. Nunca dês
sinais de impaciência ou desagrado, mesmo quando houver longos
intervalos, e quando a representação não for de teu gosto.
-
Não te precipites, não passes na frente dos outros, não tomes
o melhor lugar; conserva-te de cabeça descoberta, quieto no seu
lugar. Não fiques de pé, pois isto incomoda os outros.
-
Não grites, não assobies, não faças sinais imoderados de
alegria, e evita tudo quanto deve evitar um menino bem educado.
-
Apenas começado o entretenimento, levantado o pano, se for
teatro, ou apagadas as luzes, se for cinema, deves logo ficar em
silêncio. Se houver na tua frente alguém que te tire a vista,
avisa-o com bons modos e não com maneiras bruscas. Se não te atende,
paciência.
-
Nunca desprezes e ridicularizes os companheiros, que não
representam bem, nem sequer dês sinal de desaprovação. Ao cair o
pano, ou ao terminar o canto ou declamação, aplaudirás sempre,
embora não tivesse saído do teu gosto.
-
Evita, a todo custo, o mau costume que têm alguns de
cochichar, tossir e assoar-se a cada instante, ou perturbar como
quer que seja a declamação, e pior ainda, criticar os gestos ou a
voz de quem recita. Não é, sem dúvida, este o modo de recompensar a
quem faz todo o possível para te recrear, à custa talvez de grande
sacrifício.
-
Os que se devem apresentar em público, estejam bem
preparados, para não fazerem triste figura e aborrecerem os
presentes que, se têm deveres, têm outrossim direitos. Quisera que
me entendessem bem aqueles que, ou por deficiência de preparação, ou
por fraqueza de voz, ou por mesquinhez de matéria, ou por falta de
habilidade, ou ainda por qualquer outro motivo, tornam-se
importunos, ou antes, insuportáveis ao auditório. Ótima coisa seria
se esses oradores, apenas percebessem o descontentamento geral (e
não é difícil perceber o sussurro e o bulício dos ouvintes, os seus
freqüentes e prolongados aplausos, na realidade pouco merecidos),
pusessem termos aos seus arrazoados. Isto seria coisa muito
louvável, ao passo que a obstinação seria sinal de orgulho e má
educação.
-
São insuportáveis os que, durante uma execução musical, vão
cantarolando a melodia aos ouvidos dos outros, para mostrar que
conhecem o trecho que se executa. Igualmente impertinentes são os
que, durante o cinema, vão explicando previamente aos vizinhos as
cenas que vão aparecer na tela.
-
Saindo do teatro, guarda a devida ordem e não andes aos empurrões.
Como em geral a temperatura de fora é mais fria, procura
agasalhar-te bem ao sair, para não apanhares resfriados.
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