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            Capítulo I - Da conversação  | 
           
          
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            Nosso Senhor, na sua bondade, deu-nos um 
            instrumento que nos serve ao mesmo tempo de recreio, de repouso, de 
            alívio ao espírito e de escola de conhecimentos úteis: é a 
            conversação. Quando nos sentimos cansados, nosso espírito busca o 
            descanso no seio dos nossos amigos; acabrunhados, nosso coração 
            verte no coração amigo as suas mágoas e atinge conforto e coragem. 
            Cumpre-nos, pois, o dever sagrado de não convertermos instrumento 
            tão salutar em veneno e perdição. 
            
            Muitas são as regras de civilidade que nos cabe 
            praticar, para que a nossa conversação se torne atraente, instrutiva 
            e honesta. 
            
              - 
              
              Teu porte deve ser correto e nobre, quer estejas 
              sentado, quer de pé. - Deves, quanto possível, colocar-te diante 
              das pessoas com que conversas, para poderes perceber a impressão 
              que tuas palavras produzem; evitando, porém, fitar demasiado algum 
              interlocutor.  
              - 
              
              Tem cuidado em não falar muito próximo das pessoas 
              que te rodeiam, de tal forma que te sintam o hálito, ou sejam 
              alvejadas por algum perdigoto.  
              - 
              
              Evita contrair os lábios, enrugar a fronte, pôr a 
              língua, mostrar os dentes, fazer trejeitos ou gestos exagerados. 
              Evita a afetação na pronúncia e no tom de voz, o hábito de 
              gaguejar, de truncar as palavras ou sílabas; defeitos estes, que 
              causam enfado aos ouvintes.  
              - 
              
              Não fales muito alto, de modo que tuas palavras 
              degenerem em gritos, nem por demais baixo que não te possam ouvir 
              todos. A voz deve ser modulada segundo os lugares, o assunto e o 
              número de ouvintes.  
              - 
              
              Evita falar fanhoso, cantarolar, declamar, repetir 
              muitas vezes a mesma palavra por sestro. Não abuses das palavras 
              exageradas e hiperbólicas, como magnífico, esplêndido, 
              formidável, maravilhoso, etc., como também das palavras 
              estrangeiras ; o que, além de tudo, indica ostentação. Sê parco no 
              uso dos superlativos. Ao belo chamarás belo e não 
              perfeito: ao feio de feio e não horrível. O 
              exagero faz com que muitas pessoas deixem de ser acreditadas.  
              - 
              
              Evita as expressões pouco honestas e pouco 
              descentes e as palavras ofensivas. O hábito de dizer certas 
              coisas, tais quais são, abertamente e sem véu, não se alia à 
              correção dos costumes e à educação.  
              - 
              
              Para assunto das tuas conversas, nunca tomes coisas 
              triviais e frívolas ou demasiado conhecidas, nem tão pouco 
              sublimes e épicas ou melancólicas e tristes. Deves evitar, quanto 
              possível, falar de ti mesmo e, sendo necessário, faze-o em poucas 
              palavras e às pressas. O eu nas conversações é um 
              estribilho muito desagradável ao ouvido. Guarda-te sobretudo de 
              mostrar desejos que te louvem, o que poderia produzir o efeito 
              oposto.  
              - 
              
              Não comeces a contar coisas que não conheces bem, 
              para não te arriscares a ter que interromper no meio da tua 
              narração.  
              - 
              
              A sátira é com razão chamada uma das sete línguas 
              do demônio. Ela não convém à conversação, na qual tudo deve ser 
              agradável. Um satírico mordaz será temido, mas nunca amado.  
              - 
              
              Cuidado com a maledicência e a calúnia. São coisas 
              horríveis, que causam grande mal à sociedade. E há tanto desse 
              veneno por aí, nas conversas e nos jornais... ninguém deve 
              aplaudir ou animar os maldizentes e detratores, e muito menos 
              repetir e espalhar as misérias que eles dizem.  
              - 
              
              É louvável entremear na conversa algum gracejo que 
              mantenha alegre a companhia, quando isso se fizer com 
              espontaneidade, graça e inocência.  
              - 
              
              Não arremedes a voz e as maneiras dos outros, nem 
              ridicularizes ninguém. Os gracejos são permitidos, mas no justo 
              limite. Se o companheiro, a quem são dirigidos os gracejos, se 
              ressentir com isso, será necessário parar imediatamente. Caçoadas 
              que desagradam e ofendem ao próximo são contrárias à caridade.  
              - 
              
              Percebendo que tua conversa redunda em murmuração, 
              é teu dever truncá-la, fosse embora ela atraente. Se ouvires algum 
              companheiro criticar as ações de outrem, procura com bons modos 
              adverti-lo.  
              - 
              
              Se estiveres em numerosa companhia, não deverás 
              falar a um só ou de coisas que só interessem a ti e a ele. Procura 
              falar a todos e de coisas que a todos agradem. Não fales das 
              aflições pessoais ou dos desgostos da família, sem seres 
              interrogado. Os choramingas são de peso aos outros. É preciso 
              saber suportar a nossa cruz como fortes, e só confiar nossas 
              mágoas aos que nos são caros.  
              - 
              
              Procura evitar o cacoetes e bordões, isto é, o 
              hábito de repetir constantemente certos gestos e principalmente 
              certas palavras, como: Não é? Sabe? Já viu? Suponhamos, etc. 
              Quem tiver tais sestros dificilmente os percebe; não assim os 
              ouvintes, que se sentem logo maçados.  
              - 
              
              Evita as contendas. Se alguém te contradisser ou 
              mesmo te ofender, reprime teus ímpetos e sê generoso. Palavras 
              pesadas não convencem o adversário, antes o exasperam, prejudicam 
              a tua reputação perante os outros e fazem-lhes perder o gosto pela 
              conversação.  
              - 
              
              Se houver alterações em tua presença, não trates de 
              atirar também a tua pedra; procura, ao invés, dar novo rumo à 
              conversa.  
              - 
              
              As discussões, embora fora para desejar que não as 
              houvesse, todavia têm não raro as suas vantagens. Acostumam a ter 
              mais exatidão nas expressões, a comunicar-se reciprocamente as 
              luzes intelectuais; dão vida e movimento à conversação. Cumpre, 
              porém, evitar toda questão religiosa e política. Tais gêneros de 
              discussão produzem, em geral, resultados desagradáveis.  
              - 
              
              Se alguém em tua presença sustenta uma opinião, que 
              não parece exata, mesmo se tiveres prova de que é errônea, não lhe 
              dirás: Não é verdade — é mentira, etc.; mas procurarás 
              adoçar a contradição: perdoe-me se não sou do seu parecer — 
              julgo que isto não é exato — talvez o senhor não esteja bem 
              informado, etc.  
              - 
              
              É molesto quem teima na própria opinião, como se 
              ele tivesse o monopólio da verdade... A firmeza nas convicções é 
              virtude; não assim a obstinação em querer ter razão a todo custo. 
              Pretender impor suas opiniões, enfurecendo e vociferando, é 
              próprio dos loucos. Ordinariamente quem tem menos razão é quem 
              mais grita, procurando suprir deste modo a insuficiência dos seus 
              argumentos. As palavras ofensivas, então, nunca foram nem serão 
              argumentos convincentes.  
              - 
              
              Os jovens não devem discutir com os mais velhos, 
              nem os inferiores com os superiores, a não ser que recebam para 
              isto autorização; ainda assim, devem apresentar recusas.  
              - 
              
              Seja tua conversação delicada e conscienciosa. Deus 
              te guarde de falares contra a Igreja e suas instituições, contra o 
              Papa, os Bispos, os Sacerdotes, os Religiosos, etc.  
              - 
              
              Evita falar dos defeitos físicos, da cor, do 
              semblante, dos cabelos, da pronúncia, do andar, numa palavra, do 
              exterior do próximo. Evita sobretudo ridicularizar-lhe o nome, a 
              família, a profissão, a pátria, etc. Todos, em geral, somos por 
              demais sensíveis nestes assuntos, e não podemos admitir que nos 
              toquem nessas fibras. Assim também, nunca deves falar mal de uma 
              corporação religiosa, de um Estado, de uma Nação, uma família, e 
              especialmente dos mortos.  
              - 
              
              Há pessoas, e infelizmente não poucas, que não 
              percebem os dotes estimáveis de outra pessoa, ao passo que nada de 
              reprovável e defeituoso lhes escapa, procurando com arte diabólica 
              evidenciar os defeitos alheios, embora mínimos. Esses 
              assemelham-se ao galo da fábula, que, habituado a ciscar nos 
              monturos, não soube apreciar as pérolas.  
              - 
              
              Esta mania de criticar mostra não só falta de 
              educação, mas sentimentos ignóbeis e caráter baixo. Lembram-no 
              especialmente os inferiores e estudantes, habituados a censurar e 
              pôr em ridículo o que dizem ou fazem os seus superiores! A 
              insolência deles ofendem a caridade, corrompe o ânimo dos 
              ouvintes, fomenta a rebelião e amargura-lhes a existência.  
              - 
              
              Sejam prudentes os que devem corrigir ou admoestar. 
              Sua primeira qualidade é o império sobre si mesmo. Não admoestem, 
              nem castiguem enquanto estiverem alterados, não o façam em 
              presença de outrem, a não ser que se trate de falta grave cometida 
              publicamente. Na calma, a voz da razão é mais facilmente ouvida. A 
              moderação ao corrigir é sinal de muito domínio de si mesmo. As 
              pílulas adoçam-se para mais facilmente engolir; assim, à correção 
              cumpre acrescentar sempre uma palavra de afeto e benevolência.  
              - 
              
              Não mutiles, nem adulteres o sentido dos textos 
              sagrados. Evita também exclamar a todo instante: Meu Deus! 
              Virgem Maria! Valha-me Deus! etc.; o que é proibido pelo 
              próprio Deus no mandamento: “Não tomarás seu Santo Nome em vão”.  
              - 
              
              De modo todo especial, foge e abomina as conversas 
              imorais ou mesmo só inconvenientes, que poderiam ferir um ouvido 
              inocente e puro, e despertar nos outros imagens perigosas. Um 
              jovem cristão nunca será por demais prudente nisto. Longe de ti, 
              pois, toda palavra obscena ou ambígua, toda história picante ou 
              anedota escandalosa. Isso tudo é indício de coração corrompido, e 
              produz tristes ruínas nos outros.  
              - 
              
              Nem se deve falar com leviandade ou desrespeito das 
              pessoas de outro sexo: graçolas e chalaças licenciosas destoam 
              completamente na boa sociedade. Lembremo-nos de nossas mães e de 
              nossas irmãs, e assim evitaremos esses erros tão deploráveis.  
              - 
              
              As imprecações que lhes assemelham, como: Com os 
              demônios! Mil raios te partam! etc., são coisas que nem 
              gracejando se permitem.  
              - 
              
              Passando agora das palavras às ações, procura não 
              fazer em companhia de outrem coisa alguma menos decente e 
              delicada. Por isso, evita:  
             
            
              - 
              
              Cortar ou roer as unhas, coçar, meter os dedos na 
              boca, no nariz, nos ouvidos, etc.  
              - 
              
              Tossir e espirrar no rosto dos outros, assobiar, 
              cantarolar, esfregar corpos ásperos.  
              - 
              
              Falar ao ouvido de alguém sem pedir licença aos 
              presentes; avizinhar-te dos que falam em voz baixa ao contar 
              dinheiro; voltar as costas ou passar diante de alguém sem te 
              desculpares.  
              - 
              
              Fazer cócegas nos outros, chamar alguém de longe; 
              quando for preciso chamar uma pessoa que estiver longe, pedirás 
              licença aos presentes. - É mau costume chamar uma pessoa pelo nome 
              onde se acha muita gente, como nas ruas, nas estações, nos ônibus, 
              etc. A pessoa chamada poderá não apreciar isto!  
              - 
              
              Espreguiçar-se, estalar os dedos, inchar as 
              bochechas e soprar, esfregar as mão e bater a cada passo com os 
              pés.  
              - 
              
              Deve-se também evitar bocejar, o que indica 
              aborrecimento; quando de todo não puderes conter o bocejo, 
              disfarça-o com o lenço ou com a mão aberta, boceja sem rumor e 
              interrompe-te, se estava falando.  
              - 
              
              Quando não puderes reter o espirro, procura 
              valer-te do lenço ou, quando não haja tempo, da mão voltando o 
              rosto para o lado. Caiu em desuso saudar quando alguém espirra. 
              Estando hoje banidas as expressões: 
              Saúde; Deus o ajude; Dominus tecum!  
              - 
              
              Rir muito e por coisa de nada, como fazem os tolos, 
              dar gargalhadas estrondosas que interrompem os outros e os 
              enfadem. Não só o riso deve ser moderado, mas também os outros 
              sinais de alegria, de prazer, de admiração, etc.  
             
            
              - 
              
              Requer a cortesia que, quando alguém fala, sigas 
              com interesse a conversa, e não te ocupes em outras coisas, como 
              ler, escrever, folhear livros, olhar o relógio, trocar sinais, 
              rir, gracejar, interromper quem fala com outros introduzindo 
              outros assuntos. Em alguns casos porém, é lícito e até necessário, 
              com a devida permissão, interromper quem fala, para fazer uma 
              observação ou perguntar alguma coisa que se não compreendeu bem. 
              Para truncar uma conversa indecente e ímpia, o superior e, na 
              falta deste, qualquer pessoa, está obrigada a fazê-lo.  
              - 
              
              Quando durante uma conversação, se tiver que 
              entregar alguma coisa a um dos presentes, não se estenda a mão por 
              diante dos outros, mas entregue-se por detrás. Se houver algum 
              impedimento, então se pedirá licença antes de passar o objeto pela 
              frente.  
              - 
              
              Balançar-se na cadeira, apoiar-se nos cotovelos, 
              são modos inconvenientes. Quando te levantares, não te 
              espreguices, não suspires nem soltes exclamação que indiquem 
              cansaço.  
             
            
            Lembra-te, enfim, que uma boa conversação pode 
            granjear-te grande estima da parte dos outros.  | 
           
         
        
       
      
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            | 
             
            Capítulo II - 
            Ainda sobre a conversação  | 
           
          
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            Aqui vão indicadas mais algumas coisas que se 
            devem evitar: 
            
              - 
              
              Mostrar arrogância aos inferiores e humildes e 
              adulação aos superiores. Com estes últimos devemos ser dignos, com 
              os primeiros devemos ter em consideração os seus sentimentos, por 
              ínfima que seja a sua categoria.  
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              Apresentar senhoras a homens; os homens é que devem 
              ser sempre apresentados às senhoras. Os homens novos apresentam-se 
              aos de idade; com as senhoras segue-se o mesmo sistema.  
              - 
              
              Mexer nas pessoas quando falamos com elas, 
              agarrar-lhes os braços e os ombros, ou sacudi-las para lhes chamar 
              a atenção.  
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              Falar mais alto que os outros, ou tentar 
              monopolizar a conversa.  
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              Repetir os escândalos ou histórias maliciosas, que 
              andam em voga.  
              - 
              
              Tocar em assuntos de discutível decoro.  
              - 
              
              Quando expuseres qualquer fato, exagerar até a 
              mentira. Falar verdade é uma questão de hábito. Se poucas pessoas 
              mentem por má intenção, a maior parte da gente torna-se mentirosa 
              pela falsa mania de exagero.  
              - 
              
              Estar sempre à espreita de ocasião para dizer 
              graçolas. Principalmente os homens tornam-se muito ridículos com a 
              mania de dizer chalaças que incomodam quem as ouve.  
              - 
              
              Quando perguntarem qual é a tua opinião a respeito 
              de alguém, dá-la com precipitação, sem medir as conseqüências que 
              podem resultar, caso repitam a essa pessoa o que disseres.  
              - 
              
              Se tiveres habilidade para imitações, 
              estando sempre pronto para as exibir em sociedade. Poucas pessoas 
              gostam de ver seus defeitos ridicularizados; e, mesmo que estas 
              pessoas não estejam presentes, há sempre um amigo mal 
              intencionado, que lhes faz chegar aos ouvidos que fulano fez um 
              admirável arremedo de sua pessoa, em tal jantar ou reunião.  
              - 
              
              Responder por monossílabos a qualquer observação 
              que te fazem.  
              - 
              
              Ouvir com indiferença ou impaciência o que os 
              outros dizem. Devemos ouvir delicadamente toda a gente; é este um 
              sinal de boa educação, que é necessário cultivar.  
              - 
              
              Estares sempre disposto a depreciar os outros, ou 
              achá-los em falta constantemente. Se os elogios contínuos 
              aborrecem, a censura a todos os atos alheios é igualmente muito 
              irritante.  
              - 
              
              Não ser atencioso com as pessoas de idade. Os moços 
              muitas vezes desdenham dos velhos, especialmente se são surdos ou 
              padecem de qualquer outra enfermidade. Não há nada mais delicado e 
              que melhor mostre a bondade de um coração, do que solícitas 
              atenções, que se prodigalizam às pessoas idosas.  
              - 
              
              Ralhar com as crianças ou criados, diante de outras 
              pessoas.  
              - 
              
              Como dono ou dona da casa, dar as ordens de uma 
              maneira autoritária ou ferir a dignidade dos empregados. Se 
              usarmos bons modos, obedecer-nos-ão da melhor vontade.  
              - 
              
              Aborrecer outras pessoas dando-lhes parte das tuas 
              sensaborias domésticas, como questões com criados ou queixas do 
              jaez.  
              - 
              
              Atormentar crianças, gatos e cães com brincadeiras 
              grosseiras, que são somente prova de pouco siso e aborrecem a quem 
              está presente.  
              - 
              
              Dizer mal de alguém que tenha a tua mesma profissão 
              ou negócio. Devemos ter suficiente respeito de nós mesmos para 
              apreciar os méritos de um rival, em lugar de os depreciar.  
              - 
              
              Julgar que, porque somos idosos, nos é permitido 
              usar uma linguagem menos delicada, ou fazer insinuações que causam 
              embaraços às pessoas novas. O espírito, assim como o bom vinho, 
              deve até tornar-se mais puro e refinado com a idade.  
              - 
              
              Orgulha-te por falares com demasiada franqueza, o 
              que quase sempre equivale a grosseria. Alguns há que repetem à 
              boca cheia: “Eu sou franco”. Ficaria mais certo se 
              dissessem: “Eu sou malcriado”.  
              - 
              
Fazer muitas 
              perguntas a seguir, e insistir quando percebemos certa relutância 
              na resposta. Pode, por motivos desconhecidos para nós, ser penoso 
              ou desagradável ao nosso interlocutor falar nesse assunto.  
             
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            Capítulo III - 
            
            Dos recreios  | 
           
          
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            O recreio é tão necessário para descanso do corpo, 
            como para alívio do espírito. Homens, os mais austeros e virtuosos 
            não só o permitem, mas o recomendam. Nos institutos de educação, os 
            jogos e exercícios ao ar livre são de verdadeira necessidade; nestes 
            jogos é que deve principalmente consistir o recreio de tais 
            institutos. Para maior vantagem, porém, destes recreios, cumpre 
            conhecer e observar algumas regras. 
            
              - 
              
              A recreação não seja demasiado longa, nem breve 
              demais; no primeiro caso tornar-se-ia danosa moralmente; no 
              segundo, fisicamente prejudicial.  
              - 
              
              Deve sempre ser alegre e tranqüila. Por isso, evita 
              com a máxima cautela, as discussões, as brigas, as grosserias, os 
              gritos e algazarras, as desordens de qualquer gênero, como também 
              a tristeza, a melancolia e o afastamento dos outros.  
              - 
              
              Deves preferir os brinquedos que exigem muito 
              movimento. Deixa de lado os jogos em que seja preciso ficar 
              parado, usar indelicadamente das mãos ou fazer qualquer coisa 
              contrária à boa educação.  
              - 
              
              Seja qual for o brinquedo, não te mostre tão 
              apegado a ele, que não queiras ceder o lugar a outrem. Quando te 
              convidarem a tomar parte num brinquedo, aceita com facilidade.  
              - 
              
              Não te excites demais no jogo por capricho ou ânsia 
              de ganhar; nem tampouco estejas distraído e desinteressado, 
              causando assim aborrecimento nos companheiros.  
              - 
              
              É mau costume zangar-se quando se perde, queixar-se 
              dos colegas, atribuir-lhes as perdas, lembrando a cada momento os 
              erros cometidos; quando muito, é permitido adverti-los com bons 
              modos e quase sorrindo.  
              - 
              
              Não mostres alegria pueril, nem te gabes demais, se 
              saíres vencedor; a modéstia, mesmo nos jogos, é sinal de coração 
              bem formado.  
              - 
              
              Trapacear no jogo é coisa reprovável por ser 
              contrária à civilidade e à caridade. Quem não é leal nos 
              brinquedos, dificilmente o será em outras coisas.  
              - 
              
              Em caso de discussão, expõe com bons modos a tua 
              opinião ou as tuas razões. Se o adversário não quiser reconhecer o 
              teu direito, será melhor ceder para que não se ofenda a caridade.  
              - 
              
              Não faças da discussão uma rixa vergonhosa, usando 
              palavras de menosprezo, como: besta, estúpido, animal, etc. 
              Mostrar-te-ias com tal proceder sumamente grosseiro e incivil. 
              Quem emprega as mãos como argumento decisivo, mostra-se pior do 
              que os brutos, que não têm o dom da razão.  
              - 
              
              Pôr as mãos em cima dos companheiros, atirar areia, 
              pedras ou água, dar murros e pontapés como os garotos da rua e 
              fazer outras coisas que não convém enumerar, são atos da maior 
              grosseria.  
              - 
              
              É diabólico o costume de provocar à ira aos outros, 
              quer com palavras pungentes, apelidos e zombarias, quer com atos 
              contra a caridade. Pior ainda, seria chamar outros para gozarem da 
              exasperação dos companheiros. Tais modos são tão incivis, que não 
              se devem tolerar absolutamente.  
              - 
              
              Se porventura fores tu o alvo de tais grosserias, 
              não sejas propenso a queixar-te e procurar vingança. Interpreta-as 
              benignamente e procura sofrer estes pequenos desgostos, ou então 
              rebatê-los com palavras amáveis, que às vezes, para melhor efeito, 
              poderão ter o seu quê de chiste e argúcia.  
              - 
              
              As conversações que se mantêm durante o recreio, 
              devem ser comuns; por isso, será grande falta de cortesia excluir 
              quem quer que seja, dando à conversa aparência de segredo.  
              - 
              
              Não freqüente sempre os mesmos companheiros, 
              formando grupinhos: muito fácil será descambar a conversa para a 
              murmuração ou leviandade e até mesmo para a imoralidade. É esta, 
              sem dúvida, uma das piores pragas dos colégios. Acontece, por 
              vezes, haver meninos que conversam, passeiam e fazem recreio 
              sempre com os mesmos companheiros, com exclusão de todos os 
              outros. Assim fazendo, amesquinham seu próprio coração e o tornam 
              demasiadamente pequeno, envenenam aquela tendência inata que temos 
              para a expansão e amizade, tornam-se antipáticos aos demais e caem 
              numa perene apatia e melancolia.  
              - 
              
              Parar a conversação, ou mudar de assunto ao 
              aproximar-se o superior, equivale a condenar-se por si mesmo, 
              fazendo crer que se dizem coisas que se não deveriam dizer.  
              - 
              
              Procurar companheiros de outras divisões, fugir à 
              presença dos superiores, aproveitar-se de suas distrações, 
              iludir-lhes a vigilância, sair do lugar de recreio sem devida 
              permissão, são coisas que suscitam juízos desfavoráveis a respeito 
              de quem assim procede e dão lugar a justas suspeitas. Evita tudo 
              isto, de modo absoluto.  
              - 
              
              Procedem mal os que se reúnem para fazer algazarra, 
              dar gritos prolongados à maneira de vaia; estes tomam, pouco a 
              pouco, os instintos do vulgar e vão se tornando insolentes e 
              grosseiros.  
              - 
              
              Se algum superior jogar contigo e tu venceres a 
              partida, usa a delicadeza de não exaltares, atribuindo-o antes a 
              uma causalidade; e seja isso em sinal de respeito e estima para 
              quem se faz pequeno contigo.  
             
            
            Seja onde for o recreio, procura não estragar coisa 
            nenhuma. Portanto, se for dentro de casa, não arrastes as cadeiras e 
            as mesas, não quebres louças, não batas com as janelas e portas; se 
            no jardim, respeita as flores, as plantas, as ferramentas, etc.; se 
            no pátio, não estragues paredes, portas, árvores, metendo pregos, 
            riscando, arranhando, escrevendo, etc. Usa especial cuidado em não 
            enxovalhar a roupa dos teus companheiros e a tua própria. 
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            Capítulo IV - 
            
            Como proceder 
            fora de casa  | 
           
          
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            Nos passeios e em 
            geral fora de casa, exigem-se modos mais corretos do que no seio da 
            família ou dentro do colégio. É preciso que todos se mostrem bem 
            educados e civis. Assim é que teu modo de vestir e de andar, tuas 
            palavras e teus atos, e os mesmos companheiros devem ser 
            convenientes à tua condição. 
            
              - 
            
            Teu traje seja adaptado à tua idade, asseado e bem arranjado. 
               
              - 
            
            Teu porte seja moderado e correto. Agitar os braços ou 
            cruzá-los ao peito, inclinar a cabeça para a frente ou para os 
            lados, empinar o peito, requebrar-se, andar aos pulinhos, pôr as 
            mãos nos quadris ou nos bolsos, encarar as pessoas e os edifícios, 
            voltar-se para trás, etc., são atos que parecem muito mal numa 
            pessoa que se preza de bem educada. 
               
              - 
            
            Não deves correr pelas ruas, mormente se forem muito 
            freqüentadas, mas tampouco não andes demasiado devagar. Não batas 
            com os pés no chão, nem os arrastes à maneira dos velhos e 
            reumáticos. 
               
              - 
            
            Levando a bengala ou guarda-chuva, não o ponhas às costas 
            como faz o soldado com o fuzil, não o faças girar, não o tragas em 
            posição horizontal, não apontes com ele nem batas em tudo o que 
            encontrares. 
               
              - 
            
            São incivis os que assobiam ou cantam pelas ruas, atiram 
            pedras, tocam as campainhas das casas, param a espiar para dentro, 
            dão encontrões nos que passam, etc. 
               
              - 
            
            Devendo falar com alguém, não pares no meio da rua, mas sim, 
            próximo à parede e por pouco tempo. Não incomodes nenhum dos 
            transeuntes e, se o fizeres sem perceber, pede-lhe desculpas; se 
            fores tu o incomodado, guarda-te de discutir e segue o teu caminho. 
               
              - 
            
            Quando alguém vier na tua direção, cede-lhe o passo pela 
            esquerda, retirando-te para a direita; se porém o outro não conhecer 
            esta regra e não fizer outro tanto, deixa-o passar por onde quiser e 
            evita questões. Quem caminha na rua rente às paredes, tendo-as à mão 
            direita, conserve a sua direção; os que vêm em direção oposta é que 
            se devem desviar. Nas esquinas, procura evitar qualquer encontrão. 
               
              - 
            
            Quando saíres em companhia de algum superior, ou pessoa 
            distinta, dá-lhe sempre a direita, menos quando andares pelos 
            passeios ou calçadas junto às paredes, caso em que lhe deves dar o 
            lado da parede, embora fiques tu à direita. A razão desta regra é 
            que sendo o lado da parede mais resguardado de encontrões, salpicos 
            de lama e dos veículos, considera-se mais nobre e preferível. 
               
              - 
            
            Evita os ajuntamentos, onde em geral se sai maltratado. 
            Achando-te cercado, procura abrir caminho gentilmente. Não é correto 
            deter-se a ver charlatões e a tomar parte nas diversões do vulgo. 
               
              - 
            
            Se te encontrares em lugares lamacentos, não imites a 
            extravagância dos que, de propósito, metem os pés na água. 
            
             
               
              - 
            
            Caminhando com algum companheiro, não te apóies a ele, nem 
            dês encontrões. Conversando, não fales demasiado alto, de forma que 
            te ouçam os estranhos; portanto, evita a todo o custo as discussões 
            e, uma vez surgidas, interrompe-as prontamente. Não te rias 
            exageradamente, que poderias ser tido por doido ou bêbado. 
               
              - 
            
            Passeando em número de três, darás o centro à pessoa mais 
            digna. Quando houver mais de três, a prática mostrará o critério a 
            seguir. Devem, porém, sempre ocupar os lugares do centro as pessoas 
            mais dignas. 
               
              - 
            
            Não sejas avaro em saudações. Saúda também aos que saudarem 
            os teus companheiros. 
               
              - 
            
            Se um estranho te pedir alguma informação, satisfaze-o 
            gentilmente, deixando-lhe, além da gratidão, uma impressão agradável 
            de ti e de tua terra. 
               
              - 
            
            Se o teu companheiro se detiver a falar com outro, de assunto 
            que não te diz respeito, afasta-te um tanto, para não te mostrares 
            curioso. Isto farás sempre e em qualquer lugar. 
               
              - 
            
            Fitar uma pessoa, especialmente se for 
            desconhecida, observar-lhe os gestos, os passos, o vestuário e 
            adornos, são atos reprováveis, principalmente nos jovens, que devem 
            ser espelho de modéstia. 
               
              - 
            
            Malcriado e merecedor de censura se mostraria quem ousasse 
            proferir graçolas indecentes ou contrárias à religião. 
               
              - 
            
            Nunca te recuses ao passeio prescrito no colégio, pois que 
            esse é um exercício utilíssimo à saúde. Procura achar-te pronto à 
            hora da saída, sem te fazeres esperar. 
               
              - 
            
            Tem cuidado em sair de casa bem asseado e com os sapatos bem 
            engraxados. Obedece de bom grado ao guia do passeio e mostra-te 
            satisfeito do lugar para onde ele se dirigir. 
               
              - 
            
            Por toda a parte encontram-te os olhares dos transeuntes, é 
            preciso, pois, para edificação deles, que sejas reservado nos 
            olhares, nas palavras e nas ações, composto na pessoa, grave no 
            andar. O descuido e negligência neste ponto poderia trazer vergonha 
            aos que te acompanham. 
               
              - 
            
            Guarda a devida distância entre os companheiros, a qual não 
            se deve ser demasiado grande, para que não se interponham ou 
            atravessem pessoas estranhas; nem por demais pequena de modo a haver 
            perigo de pisar os companheiros. 
               
              - 
            
            Lembrem-se todos de que o passeio não é uma corrida; todavia, 
            guardem-se de cair no extremo oposto. Seria louvável igualares o 
            passo com o companheiro. 
               
              - 
            
            Não dirijas as palavras aos que estão longe, nem caminhes tão 
            distraído e absorto que vás de encontro aos que passam e às árvores, 
            ou caias em algum buraco ou valo. 
               
              - 
            
            Se todos falarem em altas vozes, a comitiva parecerá um bando 
            de papagaio palradores ou de estrídulas maritacas. 
               
             
            
            
            Evita com todo o cuidado deter-te a examinar os objetos nas 
            vitrinas, as figuras, os reclamos, etc. Guarda-te de chamares a 
            atenção dos companheiros para tais coisas e de apontar com o dedo 
            para pessoas ou objetos. 
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            Capítulo 
            V - Ainda sobre o procedimento fora de casa  | 
           
          
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            Algumas coisas 
            que deverás evitar: 
            
              - 
            
            Roçar-te pelas outras pessoas, acotovelá-las, ou mostrar de 
            algum modo que não lhes dá consideração. 
               
              - 
            
            Não pedir desculpa, todas as vezes que pisares alguém, ou 
            dares algum encontrão, ou por qualquer forma de incomodares os 
            outros. 
               
              - 
            
            Ficar parado nas esquinas ou nas portas das lojas ou das 
            igrejas e olhar para quem passa. É um hábito insolente e frívolo. 
               
              - 
            
            Fazer parar as pessoas conhecidas no meio dos passeios, 
            impedindo o trânsito aos outros. Quando encontramos alguém com quem 
            desejamos falar, devemos desviar-nos para um dos lados do passeio. 
               
              - 
            
            Parar nas plataformas dos ônibus, ou às portas dos vagões das 
            estradas de ferro, nas estações, estorvando assim a entrada ou saída 
            dos outros passageiros. Lembremo-nos sempre dos direitos e 
            conveniências alheias. 
               
              - 
            
            Fazer parar as senhoras, tuas conhecidas, na rua, quando lhes 
            desejas falar. Devemos seguir um momento à direita delas. 
            
             
               
              - 
            
            Ter pressa em fazer apresentações. Devemos 
            primeiro certificar-nos se as pessoas desejam ser apresentadas umas 
            às outras. 
               
              - 
            
            Durante um passeio, apresentar a pessoa que te acompanha a 
            todas as pessoas do teu conhecimento que encontrares na rua. 
            
             
               
              - 
            
            Fazer parar uma pessoa, conhecida que anda a tratar dos seus 
            negócios, exceto se tiveres qualquer coisa importante para 
            comunicar-lhe. 
               
              - 
            
            Para alcançar lugar num carro ou divertimento público 
            qualquer, empurrar as senhoras e as crianças, os homens mais idosos 
            ou mais fracos. Se numa ocasião dessas, em conseqüência duma 
            delicada concessão, um homem perder o seu lugar, deve ficar com a 
            consolação de valer mais que os outros. 
               
              - 
            
            Ocupar mais espaço do que o permitido num ônibus, ou vagão de 
            estrada de ferro. 
               
              - 
            
            Mentir, asseverando que não há lugar, com o propósito de 
            desviar a concorrência dos outros e ficar mais à vontade. 
               
              - 
            
            Entrar num teatro ou concerto depois do espetáculo estar 
            começado, e desse modo incomodar os outros. Devemos chegar cedo e 
            sentarmos a tempo nos nossos lugares. 
               
              - 
            
            Falar quando se executa o programa. É indício de má educação 
            impedir que os outros gozem do espetáculo. 
               
              - 
            
            Sair de um teatro enquanto se apresenta; esperamos pelo 
            intervalo para o fazer. As pessoas que têm este hábito e que 
            egoisticamente incomodam os outros, ofendem ao mesmo tempo os 
            artistas e o auditório. 
               
              - 
            
            Quando visitarmos uma exposição de arte, passar por diante de 
            outras pessoas que estão examinando qualquer das obras expostas. 
               
             
            
            Afetar conhecimentos artísticos ou técnicos. Se realmente os 
            possuímos, não devemos fazer alarde deles. 
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            Capítulo VI - Das 
            
            visitas  | 
           
          
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            As visitas têm 
            grande importância na vida social. Fazem-se visitas de parabéns, de 
            agradecimento, de augúrios, de pêsames, de amizade, para fazer 
            conhecer, para pedir perdão, etc. As visitas conciliam os ânimos, 
            desfazem as asperezas do caráter, habituam às maneiras delicadas e a 
            um proceder correto; estreitam relações de amizade, granjeiam 
            conhecimentos úteis, resolvem dificuldades nas famílias, às vezes 
            afastam os infortúnios ou pelo menos minoram-lhes o peso. Quantas 
            vezes uma visita reconciliou ânimos desde longa data separados pelo 
            rancor! Ninguém, pois, deve ignorar as regras que presidem às 
            visitas. 
            
              - 
            
            Visitarás teus superiores e os colegas com os quais tiveres 
            relações mais íntimas. 
               
              - 
            
            Farás visitas de agradecimento a um parente, a um amigo ou 
            benfeitor, depois de um favor recebido. 
               
              - 
            
            Farás visita de parabéns aos amigos e conhecidos, por alguma 
            prosperidade que lhes tocou, por uma condecoração, por uma promoção, 
            etc. Nos acontecimentos tristes, far-lhes-ás visitas de pêsames. 
               
              - 
            
            Onde houver costumes, farás visitas de felicitações aos 
            superiores, parentes e amigos, no dia do seu aniversário ou 
            onomástico, nas festas do Natal e Ano Novo; não podendo ser 
            pessoalmente, farás isto por carta ou telefone. 
               
              - 
            
            É um hábito louvável o dos estudantes visitarem durante as 
            férias os seus superiores e mestres, mostrando assim o 
            reconhecimento devido a quem tanto se interessou pelo bem deles. 
               
              - 
            
            Maior é o dever que te incumbe de visitar os amigos ou 
            conhecidos gravemente enfermos. Estes, apenas restabelecidos devem 
            apressar-se em retribuir ou agradecer tais visitas. 
               
              - 
            
            As notícias de pessoas doentes pedem-se pessoalmente por 
            telefone ou por meio de um criado, para que a família possa também 
            responder à voz sem perder tempo em escrever. Só quem mora longe 
            pode pedir informações por escrito. 
               
              - 
            
            Retribuir, em geral, as visitas é coisa indispensável e 
            deve-se fazer possivelmente no prazo de oito dias. Quando, por 
            justos motivos, te vires impedido de retribuir uma visita, procura 
            apresentar suas desculpas para não passares por mal educado e para 
            não ofenderes, talvez a quem te visitou. 
               
              - 
            
            Entre amigos, as visitas não se contam, e por isso, nem 
            sempre é preciso pagá-las. Igualmente os superiores não estão 
            obrigados a isso para com os seus inferiores, mas sempre que o 
            fizerem, darão prova de bondade e grandeza de alma. 
               
              - 
            
            O desejo imoderado de fazer e receber visitas, é indício de 
            vaidade; por outra parte, deixar de fazer as que são impostas pelo 
            dever ou pelo costume, denota preguiça e grosseria. 
               
              - 
            
            Para as visitas, deves procurar as horas mais oportunas para 
            quem as recebe; por isso nem muito de manhã, nem muito de noite, nem 
            durante as refeições, nem nas horas de descanso ou de funções 
            religiosas dos dias santos. Informa-te dos costumes da família a 
            quem te apresentas, para não seres importuno. 
               
              - 
            
            Se porventura fizeres alguma visita intempestiva, procura 
            desculpar-se antes e depois. 
               
              - 
            
            Não entrarás na casa e tanto menos nos aposentos alheios, sem 
            prévia licença; por isso toca delicadamente a campainha, e na falta 
            desta, bate de leve à porta e espera pacientemente que te vão abrir 
            ou te mandarem entrar. 
               
              - 
            
            À entrada e à saída, deves fechar a porta, a não ser que haja 
            alguém incumbido disto. 
               
              - 
            
            Ao entrar, faze o devido cumprimento às pessoas que te 
            apresentarem. 
               
              - 
            
            O chapéu, o guarda-chuva ou a bengala e o sobretudo, 
            deixam-se ordinariamente na ante-sala; quando não a houver, 
            conservarás os mencionados objetos na mão, até seres convidado a 
            depô-los. 
               
              - 
            
            As visitas de cumprimento, de felicitações e de outras 
            semelhantes, devem ser breves, especialmente se quem as recebe está 
            muito ocupado. 
               
              - 
            
            Na casa alheia não fica bem examinar os objetos, a não ser 
            que aí estejam para serem admirados; tocá-los não é permitido, salvo 
            a convite dos donos. 
               
              - 
            
            Introduzido em lugar onde se estiver comendo, é grosseria 
            passear os olhos sobre as iguarias ou pelos pratos dos comensais. 
               
              - 
            
            Durante a visita, observa com escrúpulo todas as regras de 
            civilidade expostas para a conservação, e, ao despedir-te, renova os 
            protestos de estima e as saudações. Se te quiserem seguir, insiste 
            para que não tenham esse incômodo: se, não obstante isso, te 
            seguirem, renova a inclinação na porta. 
               
              - 
            
            Se durante a visita perceberes que os visitados têm pressa de 
            se desocuparem, procura despedir-te logo. 
               
              - 
            
            Quando fores tu o visitado, não faças esperar muito o 
            visitante. Se for uma pessoa notável, vai-lhe ao encontro na 
            ante-sala ou à porta da rua, convida-a a depôr o chapéu, o capote, 
            etc. Ao partir, restitui-lhe esses objetos, acompanha-a até à porta 
            e não te retires enquanto não se tiver afastado. 
               
              - 
            
            Quando chegar à tua casa um forasteiro, especialmente se 
            chegar de viagem, conduze-o a refrescar-se um pouco, ajuda-o a 
            escovar a roupa, manda-lhe dar água para lavar as mãos, etc. Se deve 
            ficar como hóspede em sua casa, designa-lhe um quarto bem arrumado, 
            informa-o do horário, não te esquecendo de indicar-lhe o banheiro e 
            instalação higiênica. Cerca-o, enfim, de carinho e gentileza por 
            todo o tempo que ficar em sua casa. 
               
              - 
            
            Os meninos, ao fazerem visitas, devem ser acompanhados pelos 
            pais ou ter ao menos sua licença. Não te atrevas a visitar pessoas 
            de moralidade duvidosa. Não é suficiente não ter más informações: É 
            preciso tê-las boas e de fonte segura; do contrário, andarás às 
            cegas com manifesto perigo da tua virtude. 
               
              - 
            
            Nas visitas é preciso ainda evitar as seguintes coisas: 
               
             
            
              - 
            
            Entrar na sala carregado de embrulhos, capa e guarda-chuva. 
               
              - 
            
            Tentar apertar a mão de todas as pessoas presentes, quando 
            sejam em grande número. Basta que o façamos ao dono e à dona da 
            casa; um cumprimento geral é suficiente para todos. 
               
              - 
            
            Estender a mão a uma senhora, sem que dela provenha a 
            iniciativa. Em regra, nunca devemos estender a mão às pessoas de 
            mais idade e maior categoria, caso elas nos não animem, estendendo-a 
            primeiro. 
               
              - 
            
            Tirar as luvas quando fazemos uma visita de cerimônia. 
               
              - 
            
            Precipitar-nos para tomar uma cadeira. É melhor esperar 
            sempre que a dona da casa a ofereça para nos sentarmos. 
               
              - 
            
            Mostrar frieza e enfado, assim como ser efusivo e falador 
            demais. 
               
              - 
            
            Reparar na mobília, quadros, ou noutros objetos, como se 
            mentalmente estivéssemos a avaliá-los. 
               
              - 
            
            Fitar os olhos com insistência nas pessoas presentes. 
               
              - 
            
            Não nos levantar todas as vezes que entra na sala uma senhora 
            ou uma pessoa de respeito. 
               
              - 
            
            Reclinar-nos no sofá ou nas poltronas. Só em nosso quarto, 
            bem à vontade, nos é permitida essa exagerada comodidade. 
               
              - 
            
            Cruzar as pernas quando estamos sentados. Muitas pessoas têm 
            esse costume que não é de bom gosto. 
               
              - 
            
            Apoiar-nos apenas nos pés traseiros das cadeiras. 
               
              - 
            
            Fazer movimentos com os pés, redemoinhos com os dedos 
            polegares, manejos com a corrente do relógio, castão da bengala, 
            botões, etc. 
               
              - 
            
            Falar só de assuntos que nos dizem respeito. A verdadeira 
            educação, diz um escritor espirituoso,  
            consiste em ouvir com 
            interesse contar coisas que nós sabemos perfeitamente, por pessoas 
            que as ignoram ou as contam mal. 
               
              - 
            
            Quando nos convidam para tocar ou cantar, recusar sem termos 
            a firme tensão de persistir na recusa. É uma intolerável exibição da 
            vaidade e capricho fazermos que a dona da casa teime conosco, para, 
            por fim, consentirmos em ascender aos rogos. 
               
              - 
            
            Uma dona de casa insistir com uma pessoa para cantar ou 
            tocar, quando essa pessoa já se escusou duas vezes. A primeira 
            escusa pode passar por acanhamento ou modéstia, mas, depois da 
            segunda, deve cessar a insistência. 
               
              - 
            
            Falar em segredo diante da gente. Quando o que temos a dizer 
            não pode ser dito em voz alta, reservamos a confidência para ocasião 
            mais oportuna. 
               
              - 
            
            Numa roda, falar com uma pessoa sobre negócios que só dizem 
            respeito a essa pessoa e a nós próprios, ou que não podem ser 
            compreendidos pelos outros. 
               
              - 
            
            Falar demasiado das nossas doenças ou desgostos. 
               
              - 
            
            Falar somente de pessoas desconhecidas das que estão 
            presentes. 
               
              - 
            
            Fazer espírito à custa dos outros, ou ridicularizar alguém. 
               
              - 
            
            Insistir em falar na beleza de pessoas que não estão 
            presentes, na riqueza das casas de outras pessoas, no brilho de 
            diversões alheias, ou superioridade de alguém. O louvor excessivo de 
            pessoas ou coisas ausentes pode desgostar os presentes. 
               
              - 
            
            Depois de ouvir cantar ou tocar qualquer instrumento, 
            referir-se elogiosamente a outras pessoas que cantaram ou executaram 
            o mesmo trecho. 
               
              - 
            
            Levar a conversa para o lado da religião ou da política. As 
            discussões sobre estes assuntos são freqüentemente causa de 
            irritação; por esse motivo vale mais evitá-las. 
               
              - 
            
            Interromper uma pessoa que esta contando qualquer anedota ou 
            história. É imperdoável esta falta na sociedade. 
               
              - 
            
            Contradizer alguém. Pode haver divergências de opinião; mas a 
            contradição imediata de qualquer coisa que se diz, é de péssimo 
            efeito. 
               
              - 
            
            Questionar com as pessoas. Quando se conversa, é até 
            interessante o vai e vem do contínuo de réplica, mas nunca devemos 
            cair em discussões muito acaloradas. Quando tal suceda, os donos da 
            casa devem intervir, e habilmente desviar a conversação para outro 
            assunto. 
               
              - 
            
            Quando contamos qualquer caso, pormenorizarmos todas as 
            minúcias e fazemos pausas a cada palavra; devemos ser claros e 
            prontos na nossa exposição, para chegar ao fim o mais depressa 
            possível. 
               
              - 
            
            Falar de um único assunto, ou sobre coisas que não interessam 
            às outras pessoas. 
               
              - 
            
            Repetir graças já sabidas ou histórias também muito ouvidas. 
               
              - 
            
            Fazer trocadilhos de mau gosto ou muito pueris. Um bom 
            trocadilho está bem, mas uma série deles redunda em maçada. 
               
              - 
            
            Repetir as conversações que ouvimos; de boca em boca as 
            palavras perdem o sabor, e simples ditos assim repetido podem causar 
            desgostos. 
               
              - 
            
            Contar anedotas e referir reminiscências sobre parentes e 
            amigos, que não são das relações dos presentes, que estes nem sequer 
            conhecem. 
               
              - 
            
            Mostrar vaidade dos nossos conhecimentos ou falar do nosso 
            talento sobre qualquer matéria. 
               
              - 
            
            Tornarmo-nos heróis das nossas próprias histórias. 
               
              - 
            
            Não devemos considerar nossos compatriotas 
            inferiores aos estrangeiros, pela razão de serem diferentes os seus 
            costumes nacionais. 
               
              - 
            
            Amuar porque nos imaginamos esquecidos. Pensemos antes em nos 
            tornar agradáveis e acabaremos por nos divertir. 
               
              - 
            
            Mostrar aborrecimento, mesmo com importuno. É de boa educação 
            fazermos boa cara às várias maçadas inerentes à vida social. 
               
              - 
            
            Diante de gente, abrir um livro e ler. Se estamos 
            aborrecidos, é melhor irmos embora; se não estamos, devemos prestar 
            atenção aos outros. 
               
              - 
            
            Colocarmo-nos no lugar mais cômodo com o prejuízo das outras 
            pessoas. Nunca nos devemos esquecer de que o egoísmo é o pior de 
            todos os defeitos. 
               
              - 
            
            Quando um homem entra ou sai de casa acompanhado de senhoras, 
            passar diante delas. As senhoras têm sempre a preferência. 
               
              - 
            
            
            Olhar constantemente para o relógio, como se estivéssemos 
            impacientes de ver passar o tempo. 
               
             
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            Capítulo 
            VII - Das reuniões, teatros,  seções acadêmicas, etc.  | 
           
          
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            Dom Bosco, o 
            grande apóstolo da juventude, dizia que o teatro deve ser destinado 
            a cultivar o coração, e que, portanto, jamais deverá ser causa da 
            mínima ofensa a Deus. Foge, pois, daqueles espetáculos públicos, e 
            procura tirar vantagens das diversões inocentes, que se costumam dar 
            nos institutos de educação. Para tais diversões, observa-se as 
            seguintes regras: 
            
              - 
            
            Quando tiveres ocasião de assistir a algum espetáculo, seção 
            acadêmica, concerto ou festa escolar, deves ser grato aos teus 
            superiores, que, com sacrifício, promovem essas diversões. Nunca dês 
            sinais de impaciência ou desagrado, mesmo quando houver longos 
            intervalos, e quando a representação não for de teu gosto. 
               
              - 
            
            Não te precipites, não passes na frente dos outros, não tomes 
            o melhor lugar; conserva-te de cabeça descoberta, quieto no seu 
            lugar. Não fiques de pé, pois isto incomoda os outros. 
               
              - 
            
            Não grites, não assobies, não faças sinais imoderados de 
            alegria, e evita tudo quanto deve evitar um menino bem educado. 
               
              - 
            
            Apenas começado o entretenimento, levantado o pano, se for 
            teatro, ou apagadas as luzes, se for cinema, deves logo ficar em 
            silêncio. Se houver na tua frente alguém que te tire a vista, 
            avisa-o com bons modos e não com maneiras bruscas. Se não te atende, 
            paciência. 
               
              - 
            
            Nunca desprezes e ridicularizes os companheiros, que não 
            representam bem, nem sequer dês sinal de desaprovação. Ao cair o 
            pano, ou ao terminar o canto ou declamação, aplaudirás sempre, 
            embora não tivesse saído do teu gosto. 
               
              - 
            
            Evita, a todo custo, o mau costume que têm alguns de 
            cochichar, tossir e assoar-se a cada instante, ou perturbar como 
            quer que seja a declamação, e pior ainda, criticar os gestos ou a 
            voz de quem recita. Não é, sem dúvida, este o modo de recompensar a 
            quem faz todo o possível para te recrear, à custa talvez de grande 
            sacrifício. 
               
              - 
            
            Os que se devem apresentar em público, estejam bem 
            preparados, para não fazerem triste figura e aborrecerem os 
            presentes que, se têm deveres, têm outrossim direitos. Quisera que 
            me entendessem bem aqueles que, ou por deficiência de preparação, ou 
            por fraqueza de voz, ou por mesquinhez de matéria, ou por falta de 
            habilidade, ou ainda por qualquer outro motivo, tornam-se 
            importunos, ou antes, insuportáveis ao auditório. Ótima coisa seria 
            se esses oradores, apenas percebessem o descontentamento geral (e 
            não é difícil perceber o sussurro e o bulício dos ouvintes, os seus 
            freqüentes e prolongados aplausos, na realidade pouco merecidos), 
            pusessem termos aos seus arrazoados. Isto seria coisa muito 
            louvável, ao passo que a obstinação seria sinal de orgulho e má 
            educação. 
               
              - 
            
            São insuportáveis os que, durante uma execução musical, vão 
            cantarolando a melodia aos ouvidos dos outros, para mostrar que 
            conhecem o trecho que se executa. Igualmente impertinentes são os 
            que, durante o cinema, vão explicando previamente aos vizinhos as 
            cenas que vão aparecer na tela. 
               
              - 
            
            
            Saindo do teatro, guarda a devida ordem e não andes aos empurrões. 
            Como em geral a temperatura de fora é mais fria, procura 
            agasalhar-te bem ao sair, para não apanhares resfriados. 
               
             
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