VEIO PARA DAR TESTEMUNHO DA LUZ “6 Houve um homem enviado por Deus. Seu nome era João. 7 Este veio como testemunha, para dar testemunho da luz, a fim de que todos cressem por meio dele. 8 Ele não era a luz, mas veio para dar testemunho da luz. 19 Este foi o testemunho de João, quando os judeus enviaram a Jerusalém sacerdotes e levitas para o interrogarem: ‘Quem és tu?’ 20 Ele confessou e não negou; confessou: ‘Eu não sou o Cristo’. 21 Perguntaram-lhe: ‘Quem és, então? És tu Elias?’ Ele disse: ‘Não o sou’. – 22 Disseram-lhe, então: ‘Quem és, para darmos uma resposta aos que nos enviaram? Que dizes de ti mesmo?’ 23 Disse ele: ‘Eu sou a voz do que clama no deserto: Endireitai o caminho do Senhor, como disse o profeta Isaías’. 24 Eles tinham sido enviados pelos fariseus. 25 Perguntaram-lhe ainda: ‘E por que batizas, se não és o Cristo, nem Elias, nem o profeta?’ 26 João lhes respondeu: ‘Eu batizo com água. No meio de vós, está alguém que não conheceis, 27 aquele que vem depois de mim, do qual não sou digno de desatar a correia da sandália’. 28 Isso se passava em Betânia, do outro lado do Jordão, onde João batizava”.
Em Jo 1, 6-8 diz: “Houve um homem enviado por Deus. Seu nome era João. Este veio como testemunha, para dar testemunho da luz, a fim de que todos cressem por meio dele. Ele não era a luz, mas veio para dar testemunho da luz”.
Santo Agostinho escreve: “Tudo o que foi dito até agora se refere à divindade de Jesus Cristo, que veio a nós sob forma humana. E como era homem em quem Deus se encontrava oculto, foi enviado antes d’Ele um grande homem, por cujo testemunho se sabia que era mais que homem. E quem era este? ‘Foi um homem” (In Ioannem, Tract. 2, sparsim), e: “Não um anjo, para que ninguém suspeitasse” (Teofilacto), e também: “E como podia esse homem dizer a verdade de Deus? ‘Foi enviado por Deus” (Santo Agostinho, Ut Sup), e ainda: “Quem era o chamado?’ O que tinha por nome João” (Idem., Ut Sup), e: “Para que veio? Veio em testemunho, para dar testemunho da luz” (Idem., In Ioannem, Tract. 2), e também: “Não porque necessitasse testemunho da luz, mas para dar razão de sua vinda, nos ensina João dizendo: ‘Para que todos acreditassem por ele’. Assim como se fez carne para que não se perdessem todos os homens, assim enviou diante um mensageiro para que ouvindo uma voz que conhecessem, acudissem com maior facilidade” (São João Crisóstomo, In Ioannem, Hom. 5), e ainda: “Porém não disse: para que todos cressem nele – porque é maldito o homem que confia no homem (Jr 17, 5) -, mas ‘para que todos cressem por ele’, isto é, para que cressem na luz por testemunho seu” (São Beda).
Edições Theologica comenta Jo 1, 6-8. Depois de considerar a divindade do Verbo, passa-se a tratar da Encarnação, e começa-se por falar de João Batista, que aparece num momento histórico concreto como a testemunha direta de Jesus Cristo diante dos homens (Jo 1, 15.19-36; 3, 22 ss.). Assim diz Santo Agostinho: “Porque (o Verbo Encarnado) era homem e ocultava a Sua divindade, precedeu-O um grande homem com a missão de dar testemunho a favor daquele que era mais que homem” (In loann. Evang., 2,5). Todo o Antigo Testamento é uma preparação para a vinda de Cristo. Assim os Patriarcas e os Profetas anunciaram de diversas maneiras a salvação que viria pelo Messias. Mas João Batista, o maior dos nascidos de mulher (cfr Mt 11,11), pôde indicar com o dedo o próprio Messias (cfr Jo 1, 29), sendo o testemunho do Batista a culminação de todas as profecias anteriores. A missão de João Batista como testemunha de Jesus Cristo é tão importante que os Evangelhos Sinóticos começam a narração do ministério público de Jesus por esse testemunho. Os discursos de São Pedro e de São Paulo, recolhidos nos Atos dos Apóstolos, também aludem ao testemunho de João (At 1,22; 10,37; 12,24). O quarto Evangelho menciona-o sete vezes (1,6.15.19.29.35; 3,27; 5,33). Sabemos, além disso, que o apóstolo São João tinha sido discípulo do Batista antes de o ser do Senhor, e que precisamente o Batista foi quem o encaminhou para Cristo (cfr 1. 37 ss). O Novo Testamento, pois, ensina-nos a transcendência da missão do Batista, ao mesmo tempo em que a clara consciência deste, não ser, senão o Precursor imediato do Messias, ao qual não é digno de desatar as correias das Suas sandálias (cfr Mc 1, 7); por isso o Batista insiste no seu papel de testemunha de Cristo e na sua missão de preparar o caminho ao Messias (cfr Lc 1, 15-17; Mt 3, 3-12). O testemunho de João Batista permanece através dos tempos, convidando todos os homens a abraçar a fé em Jesus, a Luz verdadeira.
O Pe. Manuel de Tuya escreve sobre esse trecho do Evangelho de São João. O Verbo até agora não havia oferecido aos homens mais que uma certa participação de sua luz; agora vai dá-la com o grande esplendor de sua encarnação. Para isto aparece introduzida a figura do Batista. João (Yohannan, abreviatura de Yehohannan = Deus fez graça) aparece situado num momento histórico já passado (ao) em contraposição ao Verbo que sempre existe. João não vem por seu próprio impulso; “é enviado por Deus”. Traz uma missão oficial. Vem a “testificar” (martyrese), que em seu sentido original indica preferentemente um testemunho presencial. Vem testificar a Luz, que se vai encarnar, para que todos possam crer por meio dele. O prestígio do Batista era excepcional em Israel (Jo 1, 19-28), até ser recolhido este ambiente de expectação e prestígio pelo mesmo Flávio Josefo (Antig. XVIII 5, 2). O versículo 8 insiste em algo evidente: que João não era Luz, mas que vinha a testemunhar a Luz. Qual é o significado desta estranha insistência? Para uns é o situar a Luz, que vai se encarnar, em uma esfera totalmente superior à do Precursor (Lagrange, Évangile s. St. Jean (1927) p. II); outros vêem nele um indício polêmico, com o qual se quer combater certas seitas “batistas” que, elevando a João, rebaixaram a Cristo. Os Atos dos Apóstolos (19, 1ss) e as Recognitiones Clementis (1, 50, 60) falam de seitas que se batizavam, ainda tardiamente, só no batismo de João. A relação que pode ter isto com a seita “mandea” do século II é muito obscura (Braun, Évangile s. St. Jean (1946) p. 315).
O Pe. Juan Leal comenta o versículo 7 do capítulo 1 do Evangelho de São João. A importância da missão de João aparece no versículo 7 de três proposições finais e ascendentes. A 1ª geral: dar testemunho; a 2ª concreta o objeto do testemunho: testemunhar sobre a luz; a 3ª especifica o fim do testemunho: para que todos acreditem por seu meio; dificilmente se pode referir à luz com sentido final: para que todos acreditem na luz. A preposição tem sentido causal em 1, 3. Às vezes se omite a pessoa em quem se crê, porque se entende claramente, como aqui. Testemunho, testemunhar expressam conceitos fundamentais no quarto evangelho. Dar testemunho foi a missão própria e essencial de João. Os que o precederam anunciaram ao Messias futuro. Ele o marcou com o dedo. O testemunho o dá ele que vê para os que não vêem. João viu ao Espírito descer sobre Jesus (1, 32s). O testemunho se relaciona com a fé, à qual procede e edifica. A fé dos primeiros discípulos começou apoiando-se no testemunho de João (1, 35ss).
Em Jo 1, 19-28 diz: “Este foi o testemunho de João, quando os judeus enviaram a Jerusalém sacerdotes e levitas para o interrogarem: ‘Quem és tu?’ Ele confessou e não negou; confessou: ‘Eu não sou o Cristo’. Perguntaram-lhe: ‘Quem és, então? És tu Elias?’ Ele disse: ‘Não o sou’. – Disseram-lhe, então: ‘Quem és, para darmos uma resposta aos que nos enviaram? Que dizes de ti mesmo?’ Disse ele: ‘Eu sou a voz do que clama no deserto: Endireitai o caminho do Senhor, como disse o profeta Isaías’. Eles tinham sido enviados pelos fariseus. Perguntaram-lhe ainda: ‘E por que batizas, se não és o Cristo, nem Elias, nem o profeta?’ João lhes respondeu: ‘Eu batizo com água. No meio de vós, está alguém que não conheceis, aquele que vem depois de mim, do qual não sou digno de desatar a correia da sandália’. Isso se passava em Betânia, do outro lado do Jordão, onde João batizava”.
Orígenes escreve: “Segundo se lê, esse testemunho o deu São João Batista referindo-se a Jesus Cristo, começando pelas palavras: Este é o que eu disse: o que há de vir após mim’. E conclui com aquela: ‘Ele mesmo tem declarado” (Ut Sup), e: “Depois que o Evangelista disse que São João Batista falava de Jesus Cristo, dizendo: ‘Foi gerado antes de mim’, agora acrescenta que São João Batista neste testemunho voltou a se referir a Jesus Cristo, dizendo: ‘É este o testemunho de João, quando os judeus enviaram a ele, de Jerusalém, sacerdotes e levitas” (Teofilacto), e também: “Os judeus, na verdade, como parentes do Batista, por pertencer à família sacerdotal, destinam sacerdotes e levitas para que desde Jerusalém, venham perguntar-lhe quem era São João” (Orígenes, Ut Sup), e ainda: “Negou claramente o que não era, mas não negou o que era. Porque assim, dizendo a verdade, se fazia membro seu, não usurpando enganosamente...” (São Gregório, In Evang. Hom. 7), e: “Sabiam, pois, que Elias viria antes de Cristo. O nome de Cristo não era desconhecido para nenhum dos hebreus, porém não acreditavam que ele fosse o Cristo. E, entretanto, acreditavam absolutamente que o Cristo havia de vir” (Santo Agostinho, Ut Sup), e também: “Destas palavras se suscita certa questão complexa. Porque noutro lugar, perguntado o Senhor por seus discípulos acerca da vinda de Elias, lhes respondeu: ‘E, se quiserdes dar crédito, ele é o Elias que deve vir’ (Mt 11, 14). Mas, perguntado, São João nega: ‘Eu não sou Elias’. Como é o profeta da verdade, se não está conforme a explicação da mesma verdade” (São Gregório, In Evang. Hom. 7), e ainda: “Veja aqui como insistem e perguntam com mais força. Mas este destrói com a sua mansidão todas as suspeitas que não estavam inspiradas na verdade, e restabelece a opinião verdadeira. Por isso segue: ‘E digo: sou a voz do que clama no deserto” (São João Crisóstomo, In Ioannem, Hom. 15), e: “Isaías disse e sua profecia se realizou em São João” (Santo Agostinho, Ut Sup), e também: “Já sabemos que o Filho Unigênito se chama o Verbo do Pai e por nossa mesma linguagem sabemos que primeiro soa a voz para depois poder ouvir a palavra; mas São João assegura que ele é a voz que precede à palavra e que por sua mediação o Verbo do Pai é ouvido pelos homens” (São Gregório, In Evang. Hom. 7), e ainda: “São João clamava no deserto, porque anunciava o consolo do Redentor à Judéia, que estava como abandonada e deserta” (Idem., Ut Sup), e: “O caminho do Senhor é endereçado ao coração quando se ouve com humildade a palavra da verdade. O caminho do Senhor é endereçado ao coração quando se prepara a vida ao cumprimento de sua lei” (São Gregório, Ut Sup), e também: “E àquelas palavras: ‘Por que batizas?’, não convinha contestar outra coisa que indicar que seu batismo era carnal ou manifestar que era natural” (Orígenes, Ut Sup), e ainda: “Apareceu humilde e pelo mesmo é tocha acesa” (Santo Agostinho, In Ioannem, Tract. 4), e: “Ao dizer: ‘Foi feito antes de mim’, dá a entender que havia sido anteposto a Ele. Vem depois de mim, porque nasceu depois. Foi gerado antes de mim, porque é superior a mim” (São Gregório, Ut Sup), e também: “Também se fixa nisto por outra causa. Porque não referia coisas antigas, mas as que haviam ocorrido pouco tempo antes, pelo que cita como testemunhas os que estavam presentes e haviam visto aquilo que se referia, fazendo a demonstração até dos lugares” (São João Crisóstomo, Ut Sup), e ainda: “Mas Betânia quer dizer casa da obediência, por meio da qual se manifesta que todos devem obediência à fé para vir ao batismo” (Alcuino).
O Pe. João Colombo comenta esse trecho falando sobre o Exame de Consciência. João Batista era um homem verdadeiramente extraordinário, de boca em boca corriam o seu nome, as suas virtudes e os seus feitos. Falava-se dele como de um profeta, como do Messias. E o Sinédrio decidiu enviar-lhe uma embaixada para pedir explicação de tudo o que se passava. “Tu quem és, pois?” E João não se calou, mas confessou quem era, pois ele não era iludido a seu respeito, ou um distraído da sua própria realidade. Quão oportuno seria que freqüentemente chegasse a muitos cristãos, a nós, engolfados em mil preocupações, mesmo necessárias, mas sempre terrenas e inúteis, uma bela e terrível embaixada que nos obrigasse a uma visão ou revisão profunda, real, do nosso “eu” e das nossas contas! Mas, se escutarmos, é um complexo de vozes que realmente instam em torno de nós, suscitados por Deus e ocultas nas dobras da nossa consciência, ou no rude apelo oriundo de certos contratempos, ou nas vozes dos que nos criticam e nos assaltam, ou nas circunstâncias diversas da vida. Uma verdadeira embaixada que interroga amiúde, quebrando os encantos: “Quem és tu? Por que fazes isto? És digno disso? Sabes o que fazes?” Se fôssemos, pois, nós mesmos que nos fizéssemos tais perguntas e soubéssemos responder com sincera franqueza, que proveito para a nossa vida moral! O exame de consciência é assunto muito útil: vejamos a sua necessidade, e as suas diversas espécies.
1. O exame de consciência é necessário.
a) Para nos conhecermos.
Impressiona o modo como João responde aos seus interlocutores. A sua consciência é um livro aberto, ordenado e edificante. A sua resposta é sincera, clara e de inconfundível humildade e verdade. Eu não sou o Cristo; todavia, preparo-lhe o caminho. Batizo, mas em água: é o prelúdio do grande Sacramento. Não sou nem Elias, nem um profeta, mas apenas uma voz. Vede, de preferência, o Messias que já está entre vós, e que ninguém percebe. Exame e resposta pronta. Ao contrário disso, um sinal de grande desleixo moral em muitos cristãos é a resistência e às vezes a repugnância a colocar-se frente ao próprio “eu”. Passar sequer um só minuto em face de si mesmo parece morrer. E é verdade. Morreria essa personalidade fictícia, extravagante, insignificante que fizemos para nós dia a dia, desde o uso da razão em diante. São mesmo os antigos pagãos que nos dão a lição disso. Eles consideravam o exame de consciência um meio importantíssimo para adquirir a sabedoria. Quem não se lembra do lema deles: “Conhece-te a ti mesmo?” Eles o esculpiam até mesmo no templo. Sêneca escreveu sobre si mesmo: “Esforço-me por meditar na minha responsabilidade cotidiana, toda noite quando a luz se apaga e os servos dormem. Meço as minhas palavras e as minhas obras; não me dissimulo nada, e castigo-me naquilo onde faltei, para aí não tornar a cair”. Sabedoria antiga, mas verdadeira, e quão aperfeiçoada pelo Cristianismo! São Paulo recomendava aos Gálatas: “Cada um examine as suas ações”.
b) Para nos corrigirmos.
Nunca vimos em certos mapas geográficos antigos, em certos pontos assim assinaladas: “Terra desconhecida”, “Zona ignorada?” Quantos de nós poderiam dizer o mesmo da sua consciência! Quantas dobras do nosso coração ainda inexploradas! Realmente nos arriscamos a morrer sem nos havermos conhecido ao menos suficientemente. Não são poucos os iludidos que acreditam ser homens de bem, enquanto têm a consciência literalmente coberta de idéias falsas e de preconceitos sobre a religião, sobre o próprio caráter, sobre os deveres do seu estado, sobre a necessidade das boas obras, sobre a obrigação da instrução religiosa. E, quando não se conhece uma zona, como se pode valorizá-la, beneficiá-la? Como obter rendimento? Se o médico não examina bem o doente, não lhe será fácil curá-lo. Estulta pretensão é corrigir-se, progredir na virtude, se a pessoa não se examina. O oitavo sacramento (a ignorância), que muitas vezes, como se diz, salva muitos cristãos, é preciso ver “se” e “quando” vale no caso individual, depois de todos os apelos do Senhor, que são uma verdadeira aflição que nos assedia. Santo Inácio de Loiola diz que a doença que nos dispensa da oração ordinária, não nos exonera do exame de consciência. São João D’Ávila, verdadeiro mestre espiritual, declarou abertamente: “Se fazeis com constância o exame de consciência, os vossos defeitos não podem durar muito”. De modo que poderíamos afirmar que, quanto mais conhecedores formos das nossas condições de consciência, tanto mais elevada será a nossa perfeição.
2. Diversos exames de consciência.
Habitualmente distinguem-se três espécies: o exame para a Confissão, o exame cotidiano e o exame particular. a) Nem sempre se pretenderá do comum dos fiéis o exame particular. Mas não se diga que seja uma mesquinharia de convento. É um pequeno exame breve, que se faz de vez em quando no correr do dia sobre um fato ou sobre uma virtude. Por exemplo, pela manhã, apenas levantados e depois de feito o sinal da cruz; ao meio-dia e ao mudar as roupas depois do trabalho: “Quantas vezes escorreguei na crítica? Guardar-me-ei melhor ao retomar o trabalho”. Pequenas coisas; mas não é de pequenos pontos o precioso bordado? Não é a pequenos movimentos de asa que a ave se eleva para o céu? Não é a pequenas explosões que a motocicleta devora o caminho? b) Se durante o dia o trabalho nos absorve, entretanto é belo e de dever para um cristão dobrar o joelho, à noite, e tomar em mãos, como um livro, a própria consciência, e reler, ainda que por alto tudo quanto se praticou. Fixados os pontos negros, a princípio verifica-se que as culpas dificilmente diminuem; mas, pouco a pouco, a vontade reagirá com fruto. Mister se faz também procurar os pontos de ouro (não só evitar o mal, mas é necessário fazer o bem), e perguntar-se se não se desperdiçou tempo precioso. É melhor encurtar as orações, se se está cansado, do que descurar o exame de consciência! A vantagem do exame cotidiano à noite tornará muito mais fácil o exame de confissão. c) Que ao menos aqui fôssemos solícitos e sérios! Justamente aqueles que nunca se examinam jamais conseguem achar o que quer que seja de grave. Os santos, ao contrário, habituados a lançar feixes de luz na sua consciência, descobriram sempre defeitos, e, em conseqüência, tornavam sempre mais refulgente o seu espírito. Eis aí por que São Carlos até em Visita Pastoral levava consigo o seu diretor espiritual; para não deixar escapar nada, e brilhar sempre aos olhos de seu Deus. A sinceridade deve guiar-nos sempre. Sinceridade com Deus e conosco. Basta aplicarmos o ouvido para nos sentirmos chamados à ordem pela lei de Deus, pelos nossos deveres, pelos juízos dos nossos amigos e familiares. Quando for útil, sim, aproveitar também destes. Quem és tu? Como nos sentiremos embaraçados para responder também a eles! Parecer-nos-á amesquinharmo-nos. Mesmo em face de uma virtude nossa eles podem sempre acrescentar um “porém”, um “mas”, que nos confunde. Portanto, que a cena da embaixada a São João nos recorde o importante dever do exame de consciência.
Edições Theologica comenta Jo 1, 19-28. V.V. 19-24. Num ambiente de intensa expectativa messiânica, o Batista aparece como uma figura rodeada de um prestígio extraordinário; prova disso é que as autoridades judaicas enviam personagens qualificadas (sacerdotes e levitas de Jerusalém) a perguntar-lhe se é o Messias. Chama a atenção a grande humildade de João: adianta-se aos seus interlocutores afirmando: “Não sou o Cristo”. Considera-se tão pequeno diante do Senhor que dirá: “Não sou digno de desatar a correia das Suas sandálias” (v. 27). Toda a fama de que desfrutava põe-se ao serviço da sua missão de Precursor do Messias e, com esquecimento total de si mesmo, afirma que “é necessário que Ele cresça e que eu diminua” (Jo 3, 30). V.V. 25-26. “Batizar”: Significava originariamente submergir na água, banhar. O rito da imersão exprimia entre os Judeus a purificação legal daqueles que tivessem contraído alguma impureza prevista pela Lei. Existia também o batismo dos prosélitos, que era um dos ritos de incorporação dos gentios no povo judeu. Nos manuscritos do mar Morto fala-se de um batismo como rito de iniciação e purificação dos adeptos à seita judaica de Qumrán, que existia em tempos de Nosso Senhor. O batismo de João tinha um marcado caráter de conversão interior. As palavras de exortação que pronunciava o Batista, e o reconhecimento humilde dos pecados por parte dos que acorriam a ele, dispunham para receber a graça de Cristo. O batismo de João constituía, pois, um rito de penitência muito apto para preparar o povo para a vinda do Messias, cumprindo-se com isso as profecias que falavam precisamente de uma purificação pela água perante o advento do Reino de Deus nos tempos messiânicos (cfr Zc 13, 1; Ez 36, 25; 37, 23; Jr 4, 14). O batismo de João, todavia, não tinha poder para limpar a alma dos pecados, como faz o Batismo cristão (cfr Mt 3, 11; Mc 1, 4). “Quem vós não conheceis”: Com efeito, Jesus ainda não Se tinha manifestado publicamente como o Messias e Filho de Deus; ainda que alguns O conhecessem enquanto homem, São João Batista pode afirmar que realmente não O conheciam. V. 27. O Batista declara a primazia de Cristo sobre ele por meio da comparação do escravo que desata a correia das sandálias do seu senhor. Para nos aproximarmos de Cristo, que João anuncia, é preciso imitar o Batista. Como diz Santo Agostinho: “Entenderá estas palavras quem imita a humildade do precursor... O mérito maior de João é, meus irmãos, este ato de humildade” (In Ioann. Evang., 4, 7). V. 28. Refere-se à cidade de Betânia que estava situada na margem oriental do Jordão, em frente de Jericó, diferente da Betânia onde vivia a família de Lázaro, próximo de Jerusalém (cfr Jo 11, 18).
O Pe. Gabriel de Santa Maria Madalena comenta esse trecho. Meios poderosos para testemunhar Cristo e torná-lo conhecido pelo mundo, são a viva fé e a bondade operosa dos fiéis para com os irmãos. Ressoa ainda hoje, dolorosamente atual, a palavra do Batista: “No meio de vós está alguém que vós não conheceis” (Jo 1, 26). Está Jesus no meio de nós: na sua Igreja, na Eucaristia, na sua graça que o torna presente e operante nos batizados. Mas o mundo não o conhece porque fecha os olhos e também porque são poucos os que dão testemunho de um Evangelho vivido, de bondade que revele a bondade do Salvador. Os próprios fiéis o conhecem pouco, porque sua comunhão com ele é superficial, pouco alimentada pela oração e sem intimidade... No Advento, apresenta-se o Batista como modelo de testemunha de Cristo: com sua vigorosa fé, vida austera, desinteresse, humildade e caridade; veio “para dar testemunho da luz, a fim de que todos cressem por meio dele” (v. 7).
Sobre o trecho: “Eu sou a voz do que clama no deserto: Endireitai o caminho do Senhor” (Jo 1, 23), comenta Eusébio de Cesaréia: “O profeta afirma claramente que não será em Jerusalém, mas no deserto que se realizará esta profecia, isto é, a manifestação da glória do Senhor e o anúncio da salvação de Deus para toda a humanidade. Na verdade, tudo isto se realizou literalmente na história, quando João Batista anunciou no deserto do Jordão a vinda salvífica de Deus e ali se revelou a salvação de Deus. De fato, Cristo manifestou-se a todos em sua glória quando, depois de seu batismo, os céus se abriram e o Espírito Santo, descendo em forma de pomba, pousou sobre ele; e a voz do Pai se fez ouvir, dando testemunho do Filho: Este é o meu Filho amado, escutai-o (Mt 17, 5). Estas coisas foram ditas porque Deus deveria vir ao deserto, desde sempre fechado e inacessível. Com efeito, todas as nações pagãs estavam privadas do conhecimento de Deus, e os homens justos e os profetas de Deus nunca haviam penetrado nelas. Por este motivo, a voz ordena que se prepare um caminho para a Palavra de Deus e se aplainem os terrenos escarpados e ásperos, a fim de que o nosso Deus possa entrar quando vier. Preparai o caminho do Senhor (Mc 1, 3): é esta a pregação evangélica que traz um novo consolo e deseja ardentemente que o anúncio da salvação de Deus chegue a todos os homens” (Dos Comentários sobre o Profeta Isaías), e: “Justamente porque é difícil não confundir a voz com a palavra, julgaram que João era o Cristo. Confundiram a voz com a palavra. Mas a voz reconheceu o que era para não prejudicar a palavra: Eu não sou o Cristo (Jo 1, 20), disse João, nem Elias nem o profeta. Perguntaram-lhe então: Quem és tu? Eu sou, respondeu ele, a voz que grita no deserto: ‘Aplainai o caminho do Senhor’ (Jo 1, 19. 23). É a voz do que grita no deserto, do que rompe o silêncio. Aplainai o caminho do Senhor, como se dissesse: ‘Sou a voz que se faz ouvir apenas para levar o Senhor aos vossos corações. Mas ele não se dignará vir aonde o quero levar, se não preparardes o caminho’. O que significa: Aplainai o caminho, senão: Orai como se deve orar? O que significa ainda: Aplainai o caminho, senão: Tende pensamentos humildes? Imitai o exemplo de João. Julgam que é o Cristo e ele diz não ser aquele que julgam; não se aproveita do erro alheio para uma afirmação pessoal. Se tivesse dito: ‘Eu sou o Cristo”, facilmente teriam acreditado nele, pois já era considerado como tal antes que o dissesse. Mas não disse; pelo contrário, reconheceu o que era, disse o que não era, foi humilde. Viu de onde lhe vinha a salvação; compreendeu que era uma lâmpada e temeu que o vento do orgulho pudesse apagá-la” (Santo Agostinho, Sermões).
Pe. Divino Antônio Lopes FP. Anápolis, 09 de dezembro de 2008
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