|  
                       
                    
                    SEGUNDA 
                    DOR DE NOSSA SENHORA 
                    (Mt 2, 13-14) 
                    
                      
                    
                    
                    “13 
                    Após sua partida, eis que o Anjo do Senhor manifestou-se em 
                    sonho a José e lhe disse: ‘Levanta-te, toma o menino e sua 
                    mãe e foge para o Egito. Fica lá até que eu te avise, porque 
                    Herodes vai procurar o menino para o matar.  
                    
                    14 Ele se levantou, tomou o menino e sua mãe, durante a noite, e 
                    partiu para o Egito”. 
                    
                      
                    
                    
                      
                      
                    
                    O Pe. Meschler escreve:
                     
                    “A segunda dor teve por causador Herodes, de cujas mãos 
                    assassinas teve que salvar seu Filhinho pela fuga 
                    precipitada para o Egito, terra estrangeira, de todo 
                    desconhecida, tomando sobre si os mil incômodos de uma 
                    viagem incômoda e difícil”. 
                    
                    Rábano 
                    escreve: “São Mateus omite nesta 
                    passagem, o dia da purificação, na qual o primogênito 
                    deveria ser apresentado no templo com a oferenda de um 
                    cordeiro, um par de rolas ou pombos. O temor que tinham de 
                    Herodes não foi impedimento para que cumprissem com a Lei e 
                    levassem o menino ao Templo. Entretanto, quando começou a 
                    espalhar-se o rumor do nascimento do menino, foi enviado um 
                    anjo para indicar a José que levasse o menino ao Egito. No 
                    livro sagrado diz ‘Um anjo do Senhor apareceu a José em 
                    sonhos”, e: 
                     
                     “De 
                    que o anjo foi sempre enviado a José enquanto dormia, 
                    devemos deduzir que aqueles que vivem distanciados dos 
                    cuidados da terra e das preocupações mundanas, são dignos de 
                    gozar das visões celestiais. O anjo disse-lhe: “Levanta-te, 
                    toma o menino e sua mãe”
                    
                    (Remígio), e também: “Antes, para dar a 
                    entender que ela estava desposada com um justo, chamou-a de 
                    sua esposa, porém agora, depois do nascimento de Jesus, não 
                    lhe é dado outro título que o de mãe e isto porque assim 
                    como o casamento com José apresenta-se como garantia da 
                    virgindade de Maria, assim a maternidade divina nos oferece 
                    a prova mais irrecusável desta virgindade”
                     
                    (Santo Hilário, In Matthaeum, 1), 
                    e ainda:
                     “Não diz: ‘Toma a mãe e 
                    ao seu filho’, e sim o oposto, porque o menino não nasceu 
                    pela mãe, e sim a mãe foi preparada para o menino. 
                    Prosseguem as palavras: ‘Foge para o Egito’. Mas como o 
                    filho de Deus foge diante de um homem? Quem se verá livre 
                    dos inimigos, se Ele mesmo teme seus inimigos? Mas, em 
                    primeiro lugar, seria conveniente que também nisto seguisse 
                    a lei da natureza humana, à qual havia sido submetido. Lei 
                    que exige que a natureza humana, abandonada às suas próprias 
                    forças e em idade terna, fuja quando um poder nos ameaça. 
                    Ademais, seria conveniente que assim sucedera, para que os 
                    cristãos não se envergonhassem de fugir quando a perseguição 
                    os obrigue a isso. Mas, por que a Egito? Porque o Senhor, 
                    cuja cólera não permanece para sempre, lembrou-se de todos 
                    os males com os quais havia afligido ao Egito e querendo dar 
                    a este povo um sinal de grande reconciliação, envia ali, a 
                    seu filho como medicina, que devia curar as dez pragas de 
                    outro tempo; para que fosse custódio de seu único Filho, 
                    àquele que havia sido perseguidor do seu povo escolhido; 
                    para fazer fiéis servidores de Jesus àqueles que haviam sido 
                    tiranos dominadores de seu povo; e para fazê-los desta 
                    forma, dignos não das mortíferas águas do Mar Vermelho e sim 
                    das fontes vivificantes do batismo”
                    (Pseudo-Crisóstomo, Opus imperfectum super Matthaeum, hom. 
                    2), 
                    e: 
                    “Ouve o grande mistério que aqui finaliza: Moisés 
                    em outro tempo havia fechado as portas do dia aos traidores 
                    no Egito. Cristo, chegando ali, voltou à luz a estes homens 
                    que se encontravam nas trevas. Cristo foge, não para 
                    ocultar-se e sim para iluminar. O texto sagrado continua: ‘E 
                    permanece ali até que eu te diga, porque há de acontecer que 
                    Herodes procure o menino para matá-lo”
                    
                    (Santo Agostinho, In Sermonibus de Epiphania), 
                    e também:
                     “O afortunado tirano 
                    temia ser afastado de seu trono. Mas não era assim; Cristo 
                    não veio para arrebatar a glória dos outros e sim para dar a 
                    sua. ‘Levantando-se ele, tomou de noite o menino e sua mãe, 
                    e foi para o Egito”  
                    (Santo Agostinho, In Sermonibus de innocentibus), 
                    e ainda: 
                    “No Egito, cheio de ídolos, pois perseguido pelos judeus, 
                    deixa em Judéia sua afronta pública para ir a buscar 
                    homenagens entre os gentios”
                    (Santo Hilário, In Matthaeum, 1), 
                    e: “Quando toma a mãe e ao menino 
                    para ir ao Egito, o faz à noite e no meio das trevas; mas 
                    quando volta a Judéia, não fala o evangelista, nem da noite 
                    nem das trevas”
                     (São 
                    Jerônimo, In Matthaeum), 
                    e também: 
                    “As angústias da perseguição comparam-se à noite; consolo 
                    e paz são semelhantes ao dia”
                     (Pseudo-Crisóstomo, 
                    Opus imperfectum super Matthaeum, hom. 2), e ainda: “Ou bem, que ao 
                    retirar-se a luz verdadeira, seus inimigos permaneceram nas 
                    trevas e foram iluminados quando esta voltou a aparecer” 
                     
                    (Rábano), 
                    e: “Veja o tirano encher-se de 
                    ira apenas nasce este menino, e veja também a Mãe fugir com 
                    o filho à terra estrangeira, e sirva isto de exemplo para 
                    que quando comeceis alguma obra espiritual e os sintais 
                    aflitos pela tribulação, não os turbeis nem deixeis levar 
                    pelo abatimento senão suportais com valor e heroísmo todas 
                    as contradições”
                     (São João Crisóstomo, Homiliae in Matthaeum, hom. 8), 
                    e também: “O Salvador, conduzido 
                    ao Egito pelos seus pais, nos ensina que muitas vezes os 
                    bons vêm-se obrigados a fugir de seus lares pela 
                    perversidade dos maus e ainda também condenados a um 
                    desterro. O que haveria de dizer aos seus: ‘Quando os 
                    perseguis em uma cidade fugis a outra’, deu-nos primeiro o 
                    exemplo, fugindo como um homem diante de outro homem depois 
                    de ter sido adorado pelos magos e anunciado por uma estrela”
                    
                    (Beda, Homilia in Nat. Innocent), 
                    e:
                    
                    
                    “O profeta Isaías tinha predito a fuga do Senhor ao Egito, por 
                    estas palavras: ‘Eis que o Senhor, montado numa nuvem 
                    rápida, vem ao Egito. Os ídolos do Egito tremem diante dele, 
                    e o Egito sente desfalecer sua coragem’. (Is 19,1). São 
                    Mateus tem o costume de confirmar tudo quanto diz, e isto 
                    porque escreveu para os judeus, por isso complementa: Para 
                    que se cumprisse o que havia dito o profeta: ‘Do Egito 
                    chamei a meu filho”
                    (Remígio). 
                    
                      
                    
                    
                    “Levanta-te, toma o menino e sua mãe e foge para o Egito”
                    
                    (Mt 2, 13). 
                    
                    A fuga de Jesus Cristo, Nossa Senhora e São José 
                    para o Egito, tem sempre sido considerada por todos como uma 
                    fonte fecunda para a poesia e para as artes, de que tanto os 
                    fiéis como os pagãos se serviram para imortalizar suas 
                    obras. Para a Igreja Católica, em particular, foi sempre 
                    considerada como um mistério de predileção para com os 
                    gentios. Jesus foge e vai procurar um abrigo no meio do 
                    paganismo; Jesus consagra e santifica com sua presença a 
                    terra considerada por todos como o foco da idolatria; Jesus 
                    derruba os ídolos e semeia a santidade que em breve será a 
                    mais florescente do cristianismo. Mas para as almas 
                    piedosas, a fuga para o Egito tem sido e será sempre uma 
                    fonte abundante de lágrimas e de contemplação. 
                    
                    Triste, mas resignada, saía Maria Santíssima do 
                    Templo, levando consigo a ferida aberta pelas palavras do 
                    Santo velho Simeão, e dirigia-se para Nazaré onde tencionava 
                    levar uma vida retirada. Deus, porém, tinha diferentemente 
                    disposto. A infausta predição do Santo velho Simeão estava a 
                    ponto de começar a averiguar-se tanto para ela, como para 
                    seu Filho. Já a tempestade, sem ela perceber, roncava sobre 
                    sua cabeça, apenas acabava de nascer o divino Infante, já os 
                    poderes da terra procuravam sua morte. Herodes, vendo-se 
                    iludido pelos Reis que voltaram para o Oriente por outro 
                    caminho, dissimulou por algum tempo as suspeitas que o 
                    inquietavam, mas não escutando mais senão a ambição, o ódio 
                    e o furor, com a sentença, a mais sanguinária, condenou à 
                    morte todos os meninos de Belém e dos seus arredores, não se 
                    comovendo com as lágrimas que fará derramar a tantas mães 
                    infelizes, nem com as maldições que arrancará aos pais 
                    desesperados, nem com o ódio do povo e execração de todos os 
                    séculos; só uma coisa pretende: assegurar por qualquer modo 
                    seu trono. 
                    
                    Apenas emanada a ordem sanguinária, que jamais 
                    presenciaram os séculos, os cruéis satélites, dignos de um 
                    Príncipe tão desumano, cumprem exatamente tão bárbaro 
                    decreto, e armados do punhal homicida, procuram com ânsia 
                    satisfazer a barbaridade de Herodes e a própria crueldade. 
                    Ignoram eles que a cada menino que transpassam com o 
                    mortífero punhal, vão coroando com um imortal diadema, e que 
                    esta legião de mártires inocentes, formará no céu a guarda 
                    de honra do Cordeiro divino. 
                    
                    Já estava começada a fatal carnificina, já o 
                    sangue corria por todas as partes, já os gritos retumbavam 
                    nas cidades e nos campos, e a Sagrada Família descansava 
                    tranquilamente, quando o Anjo de Deus aparece a José 
                    ordenando-lhe  que fuja à toda pressa para o Egito, a fim de 
                    pôr em segurança a Mãe e o Filho.  Mal acabava de falar o 
                    Anjo, quando José corre a acordar a Virgem Maria, e lhe 
                    comunica a ordem recebida. Nossa Senhora ouve as palavras de 
                    José sem se perturbar, e sorrindo para ele como para lhe 
                    agradecer seus cuidados, levanta-se prontamente, e tomando 
                    em seus braços a Jesus que dormia, sai logo com seu casto 
                    esposo, pondo-se a caminho guiados pela pálida luz das 
                    estrelas. 
                    
                    Oh! Que dores, que mágoas devia produzir ordem 
                    tão decisiva! Fugir da pátria e de noite e com tanta 
                    precipitação! Abandonar os parentes, a terra abençoada, 
                    ilustrada por tantos Patriarcas e por tantos Profetas! 
                    Afastar-se do lugar onde não há muito lhe aparecera o 
                    Embaixador celeste! Deixar essa morada onde tinha descido e 
                    encarnado o Filho de Deus, e no tempo em que o divino 
                    Infante carecia de maiores cuidados Mas sobretudo, abandonar 
                    esses lugares na ocasião em que tantas mães precisariam de 
                    seu socorro e de sua consolação! Abandonar na ocasião em que 
                    ouvia os gritos lastimosos de tantas inocentes vítimas, em 
                    que ouvia tantos gemidos e tantas lágrimas misturarem-se com 
                    tanto sangue! Dizem os contemplativos, que cada lágrima, 
                    cada gemido era como uma nova ferida para o Coração de Maria 
                    Santíssima. Além disso, que temores, que sustos devia ter a 
                    Senhora de ser a cada passo alcançada pelos satélites de 
                    Herodes. Se uma mãe receia o mais leve perigo para seu 
                    filho, quanto mais Nossa Senhora em  ocasião tão arriscada. 
                    Pois o conhecimento que a Senhora tinha do futuro, embora 
                    muito extenso, todavia, por disposição divina, não abrangia 
                    todas as coisas; podia, portanto, haver perigos inesperados, 
                    como aconteceu quando o perdeu no Templo; por isso, embora 
                    soubesse Maria Santíssima que Jesus não havia ainda de ser 
                    morto, sem embargo disso, podia acontecer coisa pior para 
                    seu coração; podia os soldados maltratá-lo, feri-lo, 
                    desfigurá-lo; podiam os satélites arrancá-lo de suas mãos e 
                    separar o Filho de sua Mãe, podia Herodes subtraí-lo a seus 
                    carinhos e entregá-lo a uma serva cruel, prendendo-o em um 
                    calabouço. 
                    
                    Que aflições, que angústias para uma mãe, ter de 
                    entrar em um deserto onde não encontraria socorro, agasalho 
                    e consolação! Que aflição ver-se exposta com um tenro 
                    Menino, e com seu esposo aos ventos, às chuvas, às feras que 
                    bramiam nos bosques e nas matas imensas! Que angústias ter 
                    de caminhar por mais de um mês sem provisões, sem sustento, 
                    sem pousos para pernoitar; sem se poder resguardar dos raios 
                    do sol, nem de qualquer intempérie da estação! – Muitos 
                    séculos antes o povo judaico tinha errado 40 anos nesse 
                    deserto, mas Deus realizou a favor do mesmo inumeráveis 
                    prodígios; uma coluna de fogo o alumiava de noite, nuvens 
                    benéficas o defendiam de dia dos ardentes raios do sol; dos 
                    rochedos arrebentavam águas para matar a sede, e do Céu 
                    chovia o sustento de que diariamente precisavam. As 
                    planícies e os montes, os mares e os areais foram 
                    testemunhas de tais prodígios que nunca viram os séculos. 
                    Porém, não são as criaturas que vão errando, mas o mesmo 
                    Criador; não é Maria irmã de Moisés, mas a verdadeira Mãe de 
                    Deus; não é José distribuidor dos bens do Egito, mas outro 
                    José, muito mais poderoso; não se vêem colunas de fogo, nem 
                    nuvens, nem maná, nem outro qualquer prodígio a favor destes 
                    fugitivos: 
                    “Bem pode cada qual adivinhar o que padeceu Maria 
                    nessa viagem. Da Judéia ao Egito era muito longe a jornada. 
                    Com Sebastião Barradas, fala-se, geralmente, em mais de cem 
                    horas de caminho. Por isso a viagem durou pelo menos trinta 
                    dias. Além disso, como descreve Boaventura Barrádio, era o 
                    caminho desconhecido e péssimo, cortado de carrascais e 
                    pouco freqüentado. Estava-se no inverno e a Sagrada Família 
                    teve de viajar debaixo de aguaceiros, neves e ventos, por 
                    estradas alagadas e lamacentas. Quinze anos tinha então 
                    Maria; era uma donzela delicada, nada afeita a semelhantes 
                    viagens. Finalmente não tinham os fugitivos quem lhes 
                    servisse. José e Maria, na frase de São Pedro Crisólogo, não 
                    tinham nem criados nem criadas; eram senhores e criados ao 
                    mesmo tempo. Meu Deus! Como excita a compaixão ver essa 
                    tenra virgenzinha, com esse Menino recém-nascido ao colo, 
                    fugindo por este mundo! Boaventura Baduário pergunta: Aonde 
                    iam comer e dormir? Em que hospedagem ficariam? Qual podia 
                    ser o alimento deles, senão um pedaço de pão duro trazido 
                    por São José ou recebido como esmola? Onde hão de ter 
                    dormido durante a viagem, especialmente durante as 50 horas 
                    da travessia do deserto, sem casas e hospedaria? Onde, senão 
                    a areia ou debaixo de alguma árvore do bosque, ao relento, 
                    expostos aos ladrões e às feras, tão abundantes no Egito? 
                    Oh! Quem encontrasse então esses três grandes personagens, 
                    tê-los-ia certamente tomado por ciganos e mendigos. No Egito 
                    Maria habitou em um lugar chamado Matarieh, conforme afirmam 
                    Burcardo de Saxônia e Jansênio Gandense, embora Strabo diga 
                    que moravam na cidade de Heliópolis. Aí sofreram extrema 
                    pobreza, durante sete anos que permaneceram escondidos, 
                    segundo Santo Antonino e Santo Tomás e outros autores. Eram 
                    estrangeiros, desconhecidos, sem rendimentos, sem dinheiro e 
                    sem parentes. A muito custo conseguiam sustentar-se com o 
                    fruto de suas fadigas. Por serem pobres, escreve São 
                    Basílio, era-lhes bem penoso conseguir o indispensável para  
                    passar a vida”  
                    (Santo Afonso Maria de Ligório). 
                    
                    
                    O que mais ainda devia agravar a dor de Maria Santíssima, 
                    era ver que estas tribulações pareciam vir mais diretamente 
                    da maldade humana, do que da mão de Deus. A primeira dor 
                    tinha sido uma revelação feita por Deus ao Santo velho 
                    Simeão, esta segunda é produzida pela violência e 
                    barbaridade humana, mais custosa de se suportar, menos 
                    consoladora e muito mais para se recear; tanto é verdade que 
                    o Rei Davi tendo de escolher entre três castigos: guerra, 
                    fome ou peste, escolheu a peste de três dias, como vindo 
                    mais diretamente de Deus, de preferência a cair nas mãos dos 
                    homens. No país para onde se dirigiam não haviam de 
                    encontrar as consolações da Religião; não havia Templos, nem 
                    altar, nem culto ao verdadeiro Deus; não havia sacrifícios, 
                    senão os que eram abomináveis aos olhos de Deus, devendo 
                    assim viver em uma atmosfera de trevas, de incredulidade e 
                    de idolatria. Que tristeza para Nossa Senhora! Que terríveis 
                    angústias para seu Coração! Que aflição para sua alma! Esta 
                    aflição explicou um Santo, dizendo que Deus fez do deserto 
                    um prolongado Getsêmani para Maria Santíssima! 
                    
                    Todavia, sempre resignada às disposições divinas, 
                    enxugava as próprias lágrimas e as lágrimas do Menino Deus, 
                    consolava e animava a seu casto esposo, sendo 
                    verdadeiramente aquela mulher forte que o Evangelho 
                    descreve; amante, generosa, pronta a todo e qualquer 
                    sacrifício, a qual esquecida de si mesma, cuidava só em 
                    repartir benefícios. 
                    
                    A Virgem Maria, portanto sempre resignada, 
                    adorava e se conformava aos decretos de Deus, por isso, 
                    embora fosse a viagem tão grande e tão dificultosa, 
                    achando-se ora prostrada pelo cansaço; ora retida pela 
                    correnteza dos rios; ora queimada pelos ardores do sol; ora 
                    embaraçada pela escuridão da noite; ora assustada pelo rugir 
                    dos leões; em todos estes trabalhos, como em qualquer outro 
                    perigo, apertava a Jesus em seu seio, n’Ele encontrava todo 
                    o alento e toda a consolação. 
                    
                    Que consolação também teria sido a nossa, se 
                    tivéssemos podido unir-nos a esses três grandes personagens, 
                    fugir com eles, acompanhá-los e carregar nos nossos braços o 
                    Menino Jesus! Isto é o que podemos ainda fazer até hoje, que 
                    Jesus Cristo continua sendo perseguido, desprezado, 
                    vilipendiado por todos que maldizem sua lei, sua moral, as 
                    virtudes, a santidade, por todos aqueles que criticam sua 
                    Igreja, que atacam seus dogmas, que desprezam suas graças, 
                    seus sacramentos e seus ministros; destes é que devemos 
                    fugir, como Jesus fugia de Herodes, e defendê-Lo 
                    animosamente das garras dos que o perseguem.   
                    
                    Podemos acompanhá-lo no desterro, visto que nossa 
                    vida é uma peregrinação contínua, abandonando-nos 
                    inteiramente na divina providência, sofrendo com resignação 
                    as privações e os trabalhos desta vida e atribuindo todos os 
                    acontecimentos não à maldade humana, mas à justa disposição 
                    de Deus, lembrando-nos sempre, que nos achamos em um vale de 
                    lágrimas, e não em um jardim de delícias. Refere Santo 
                    Afonso Maria de Ligório, que a Bem-aventurada Verônica 
                    Agostiniana foi transportada em espírito para acompanhar ao 
                    Egito a Sagrada família; no fim da viagem, voltando-se Maria 
                    para ela, lhe disse: vede minha filha com quantos trabalhos 
                    havemos chegado ao termo da viagem, ficai portanto bem 
                    certificada que ninguém chega felizmente ao termo da vida 
                    sem passar por muitos sofrimentos. 
                    
                    Para adoçarem as fadigas da viagem, para nos 
                    fortalecermos no meio das provações que se encontram no 
                    deserto desta vida, vamos carregando conosco a prenda que 
                    levava Nossa Senhora, esse Doce Jesus que ela apertava a seu 
                    peito, e que nós podemos levar e apertar no nosso coração, 
                    recebendo-o freqüentemente na Comunhão; o fogo de seu amor 
                    abrasando nosso coração, o preservará do frio da indiferença 
                    que reina neste mundo; a sua sombra benéfica nos defenderá 
                    dos ventos das paixões e das ciladas do demônio. Ele é fonte 
                    de água viva, por isso, apagará nossa sede. Ele é pão 
                    celestial, por isso, sustentará as nossas forças. Ele é um 
                    amigo fiel que enxugará as nossas lágrimas, e quando no fim 
                    da viagem, nos acharmos cansados, exaustos e abandonados por 
                    todos, este amigo divino nos ajudará na luta suprema até nos 
                    introduzir consigo na celeste Pátria.   
                    
                    
                    “Assim, pois, ó Maria, nem depois de vosso Filho ter sido 
                    imolado pelos homens, que o perseguiram até à morte, 
                    cessaram esses ingratos de persegui-lo com seus pecados, e 
                    de afligir-vos, ó Mãe dolorosa? E eu mesmo, ó meu Deus, não 
                    tenho sido um desses ingratos? Ah! Minha Mãe dulcíssima, 
                    impetrai-me lágrimas para chorar tanta ingratidão. E pelas 
                    muitas penas que sofrestes na viagem para o Egito, 
                    assisti-me com vosso auxílio na viagem que estou fazendo 
                    para a eternidade, a fim de que possa um dia ir amar 
                    convosco meu Salvador perseguido, na pátria dos 
                    bem-aventurados. Amém”
                    (Santo Afonso Maria de Ligório). 
                    
                      
                    
                    Pe. Divino Antônio Lopes FP. 
                    
                    Anápolis, 28 de janeiro de 2008 
                    
                      
                    
                      
                    
                    
                    Bibliografia 
                    
                      
                    
                    
                    Bíblia Sagrada 
                    
                    Santo Afonso Maria de Ligório, Glórias de Maria 
                    
                    Catena Aurea 
                     
                      Pe. João Batista Lehmann, Euntes... Praedicate! 
                    
                    Sacerdote da Congregação da Missão, Sagrada 
                    Paixão de Nosso  Senhor Jesus Cristo e Dores de Maria 
                    Santíssima 
                    
                      
  
                     |