CHAMAI-ME
“CHEIA DE AMARGURA”
(Rt 1, 20)
Santo Antonino,
arcebispo, faz Maria Santíssima dizer:
“Abaixa teus galhos
árvore da cruz, para que alcance meu Filho, o abrace e
console”. Este pedido não é atendido. Por isso a Mãe de Deus a nós se
dirige com a súplica: Não me deis o nome de Maria, que
significa Bela, mas chamai-me
“cheia de amargura”
(Rt 1, 20).
Dizeis:
“Bendito é o fruto do vosso ventre”;
meu Jesus é insultado, ludibriado, perseguido até à morte,
até à morte na cruz. A vós Ele chama de irmãos. Para vós é
que Ele sofre. Se lhe tendes amor, chorai comigo sua morte;
Ele é meu Filho.
O sofrimento é a lei da vida; dores físicas e morais acompanham-nos
sempre.
Perda de amigos ou parentes, doenças e mortes, infortúnios
diversos, ingratidão e traição daqueles a quem amamos,
injustiças e decepções, perda dos bens temporais – tudo isso
são motivos de mágoas e sofrimentos. Do berço ao túmulo – o
primeiro e o último sinais de vida são manifestações de dor.
A compaixão está ligada ao sofrimento. Há no coração humano uma
reserva, um depósito de compaixão e piedade para com os que
sofrem.
É por isso que chamamos corações de pedra àqueles que se não
comovem ante o sofrimento alheio... Ruínas materiais e
morais: cidades e monumentos destruídos... decadência moral
e o espetáculo do vício e da degradação despertam em nós
sentimentos de comiseração e piedade.
Os animais rugem e enfurecem-se, quando sentem uma grande dor; só o
homem se apieda dos semelhantes e cristaliza a dor na
lágrima.
Há dores tão grandes e tão cruéis, que esgotam, por assim dizer, a
nossa capacidade de sofrer... é então que o homem procura
refúgio e consolo na solidão, onde possa, à vontade,
derramar lágrimas amargas.
A Santíssima Virgem chorou, chorou amargamente:
“Inundados de
lágrimas andavam os olhos de nossa Mãe, ao ver chegar o
momento da Paixão e ao notar que faltava pouco tempo para
perder o seu Filho. Um suor frio lhe cobria o corpo, causado
pelo vivo terror que a assaltava a idéia do próximo e
doloroso espetáculo”
(Santo Afonso
Maria de Ligório).
O Pe. J. Cabral escreve:
“Dentre as grandes
dores humanas nenhuma há que se compare à de Maria, nas suas
lágrimas, quando da morte de Jesus.
A sua dor era
ilimitada, como ilimitado era o seu amor a Jesus. Mal
podemos fazer uma avaliação do amor que Maria dedicava ao
Filho e da dor que experimentou pela sua Morte...
1. – Virgem-Mãe;
virgem de alma, de corpo e de coração, concentrava no Filho
todo o seu amor.
2. – Mãe de Deus;
um duplo afeto maternal e filial a prendia a Jesus – seu
Deus e seu Filho.
Há nisso, um abismo
de amor, que não podemos sondar.
Consideremos, um
pouco que seja, as heróicas virtudes de Maria em suas
amarguras e nas suas lágrimas.
a. – Paciência
inabalável... tudo suporta sem desfalecimentos, sem
queixas, sem murmurações e sem fraquezas...
b. – Humildade
profunda; aceita sobre si a ignomínia e o opróbrio de
ser Mãe de um condenado ao suplício infamante dos escravos,
a cruz...
c. – Resignação
perfeita; submete-se, sem a mínima restrição, aos
desígnios de Deus, que decretara o sacrifício do seu
Unigênito pela redenção da humanidade pecadora.
Virgem santa, pelas
vossas lágrimas na Paixão do vosso Filho, dai-nos a graça da
verdadeira contrição dos nossos pecados, que foram a causa
das vossas dores e da morte de Jesus”.
Seca estas lágrimas,
Mãe dolorosa;
Ouve piedosa
O meu clamor!
Fecha estas pálpebras
Sem luz, sem vida
Amortecida
Divina flor!
Desce do Gólgota;
Cessa esse pranto.
Vês, sofro tanto
Com teu penar!
Sempre mestíssima,
Sempre chorosa...
Oh! Branca rosa,
Levou-te o mar!
Se com meus ósculos,
Ah! Se eu pudesse!
Ah! Se absorvesse,
Toda a tua dor!
Ah! Se estas lágrimas
Eu desfizesse!
Se as embebesse,
No meu amor!
E tantas súplicas
Tu não atendes?
Ó Mãe pretendes
Sempre chorar?...
Ai de vós míseros,
Vis pecadores,
Se a Mãe das Dores
Não vos salvar!...
Pe. Divino Antônio Lopes FP.
Anápolis, 04 de fevereiro de 2008
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