CORAÇÃO
DOLOROSO DE MARIA SANTÍSSIMA:
ESCOLA
CONSOLADORA
Ao lado do
Homem das dores (Is 53, 3), coloca a Igreja Católica a Mãe
Dolorosa.
I.
Grandeza das dores de Maria
Santíssima
A vida
dolorosa de Nossa Senhora parece, como a do Salvador, um
resumo e acúmulo de todos os sofrimentos e provações
imagináveis, especialmente dos mais penosos padecimentos
morais. A escola dolorosa da pobreza e humilhação, Maria
Santíssima cursou-a profundamente, do princípio ao fim.
Recebeu a maravilhosa vocação de ser Mãe de Deus, tanto como
uma graça, quanto como um sofrimento indizível e opressivo.
O Menino de Belém era a delícia, mas também, desde a sua
primeira respiração, a dor e o cuidado de seu coração
materno. Ela sentia continuamente no coração, a ponta
daquela espada que Simeão lhe tinha predito. Na fuga para o
Egito, ao perder o Menino Jesus em Jerusalém, ao
encontrar-se com Jesus no caminho da Cruz e ao pé da Cruz,
ao descer o Corpo de Jesus da Cruz e ao depositá-lo no
sepulcro.
São
Bernardo de Claraval escreve:
“Ó
Mãe bem-aventurada, verdadeiramente uma espada transpassou
vossa alma! A não ser assim, não teria podido transpassar a
carne de vosso Filho. Com efeito, depois que vosso Jesus – o
Jesus de todos, sim, mas especialmente vosso, exalou o
último suspiro, a lança cruel que lhe feriu o lado... não
atingiu sua alma e, sim, a vossa. A dele já não estava no
Corpo; a vossa não podia ser arrancada. A força da dor
penetrou vossa alma! Assim vos consideramos mais do que
mártir, pois padecestes intimamente com ele no espírito em
tal medida que superou, de muito, os sofrimentos físicos.
Não terão sido para vós mais que espada, e não vos
transpassaram a alma e o espírito as palavras de Cristo:
‘Mulher, eis aí teu filho?’ Que troca! Recebeis João em
lugar de Jesus, o servo em lugar do Senhor, o discípulo em
lugar do Mestre, o filho de Zebedeu em lugar do Filho de
Deus, um simples homem em lugar do verdadeiro Deus”
(De
duódecim Praerogativis B.M.V. 14-15), e:
“Para vir a ser Mãe
do Filho de Deus, bastaram-lhe sua fé invicta, seu ‘Fiat’
cheio de amor e a extrema pobreza de Belém. Para vir a ser
Mãe dos homens, teve de sofrer também as atrozes dores do
Calvário. Só então lhe diz Jesus, apresentando-lhe a
humanidade na pessoa de João: ‘Mulher, eis aí teu filho’ (Jo
19, 26), como a significar que a participação na Paixão
deva-lhe o direito de ser oficialmente reconhecida como Mãe
dos homens. Em Belém, na paz da noite, com imensa alegria,
Nossa Senhora deu à luz a Cristo. No Calvário, entre os
gritos dos carrascos e com indizível dor, gerou os homens
para a vida da graça”
(Pe. Gabriel de
Santa Maria Madalena).
A Paixão
do Filho de Deus é também a Paixão da Mãe de Deus. A única
diferença é que a Paixão de Jesus é cruenta e a de Maria é
incruenta:
“Não vos maravilhais,
irmãos, ao ouvir dizer que foi Maria mártir na alma? Se pôde
Jesus morrer corporalmente, por que não poderia ela morrer
no coração? Nele atuou uma caridade sem igual; nela uma
caridade que jamais possuiu qualquer outra simples criatura”
(São Bernardo de
Claraval, De duod. Praerog. 15).
Se todas as chagas de Cristo houvessem sido abertas em Nossa
Senhora, ela não teria podido senti-las mais realmente e
mais dolorosamente.
II.
Doce consolação para nós
A Mãe
Dolorosa tornou-se o sinal característico da humanidade
sofredora.
Olhemos
para ela, a fim de acharmos consolação, santificação e
graças! “A devoção à dores de
Nossa Senhora é, por certo, uma das que mais agradam à Mãe
de Deus, e para nós – uma das mais úteis... É próprio de um
coração delicado compadecer-se dos grandes sofrimentos da
Mãe; e a Mãe não pode deixar de receber com alegria tal
homenagem. Não somente ela, mas também Nosso Senhor”
(Bem-aventurado José Allamano).
Quando o
Rei Luiz II da Baviera, num acesso de loucura, se afogou no
lago de Starnberg, a “Rainha Mãe
Maria, profundamente angustiada, visitava constantemente a
imagem milagrosa da Mãe Dolorosa. Fez-se inscrever na
Irmandade das Sete Dores de Maria, com a observação de que
ali, como uma verdadeira mãe dolorosa, estava em boa
companhia” (Hammer, O Rosário).
No
hospital de uma cidadezinha do Palatinado (Alemanha),
estavam pai e mãe junto ao leito do filho moribundo, durante
a guerra mundial. Todos os suspiros e lágrimas não puderam
afastar a morte; o coração do rapaz tornava-se cada vez mais
fraco, até que afinal parou. A mãe não pode mais se conter;
atirou-se, soluçando apaixonadamente, sobre o cadáver do
filho querido. O marido tomou-lhe a mão e disse ternamente:
“Sê forte, minha mulher! Lembra-te da mãe de Theodoro
Kõrner, que passou pelo mesmo golpe”. “Vou tentar
fazê-lo!”, disse a mãe baixinho e começou a chorar
silenciosamente. Quando o corpo ficou frio e hirto, ambos
partiram. A mulher quis procurar um lugarzinho onde pudesse
rezar sossegada. Como eram protestantes, dirigiram-se ao
próximo templo protestante. Mas estava fechado, foram
adiante e entraram numa Igreja Católica. Ali havia, num
nicho lateral, uma imagem da Mãe Dolorosa com o corpo do seu
Divino Filho no regaço. Sob a imagem se liam as palavras:
“Ó vós todos que passais, vede se há dor semelhante à
minha!”
Diante da
imagem, ardia silenciosa e solitária, uma vela. Um pouco de
lado, estava ajoelhada uma senhora, em vestes de luto. A mãe
do soldado morto, que ainda chorava, ajoelhou-se diante da
imagem de Maria e cobriu o rosto com as mãos, rezando. Por
vezes, erguia os olhos para a imagem. Longo tempo esteve de
joelhos. Depois lhe disse baixinho o marido que estava ao
lado: “Vamos, minha mulher; é hora”. Em silêncio,
caminharam durante algum tempo, um ao lado do outro. A
mulher não chorava mais e parecia inteiramente calma.
“Estás
agora conformada?”, perguntou-lhe afetuosamente o
marido.
“Sim,
agora estou calma”, respondeu ela. “Quando a dor
quiser dominar-te, lembra-te de outras mães que tiveram de
sofrer o mesmo”, exortou-a o esposo solícito, “eu
faço assim”.
A mulher
fitou-o e disse, com tanta simplicidade e singeleza, mas,
contudo, de modo tão convincente, que o marido sentiu no
coração uma impressão singular: “Olha, meu marido, para
nós dois é uma dor profunda e queremos consolar-nos
mutuamente, do melhor modo possível. Mas devo confessar-te
que, se eu não tivesse outra consolação senão me lembrar da
mãe de Theodoro Kõrner ou de outros heróis, creio que minha
dor seria insuportável. Pois não sei se essas mães amavam os
filhos como eu amava o meu. Mas depois que olhei para Maria,
estou consolada; pois sei que ela amou seu Filho muito mais
ardentemente ainda do que eu ao meu. E com ela aprendi
quanto têm de sofrer aqueles que estão mais perto de Deus”.
A mulher comprou uma imagem da Mãe Dolorosa e colocou-a num
nicho solitário, em sua casa. E todas as vezes que a dor lhe
atormentava por demais a alma, ela se dirigia à imagem da
Virgem Dolorosa e sempre achava consolação. A piedosa mãe do
famoso historiador João Janssen, falecido em 1891, tinha
recomendado ao filho, pouco antes de morrer: “Reza muitas
vezes diante da imagem da Virgem das Dores e coloca-te sob a
proteção de Deus, por intercessão de sua Mãe Dolorosa;
rezando diante dessa imagem, muitas orações minhas foram
atendidas por Nosso Senhor. A última vez que estive na
Igreja, ainda rezei lá por ti”.
A
ex-Imperatriz Zita, da Áustria, tinha na capela de sua casa,
em Liqueitio, na Espanha, uma imagem da Mãe Dolorosa, que
ela escolheu para modelo em todo o tempo.
Recomendo
a todos: Ide à Mãe das Dores! Junto dela achareis muito
consolo e sereis atendidos.
Aprendamos
da Virgem Santíssima a sofrer amando:
“É de amor e de dor a maternidade de
Nossa Senhora para com todos os homens. Para ser dignos
filhos seus, temos de aprender dela a amar e a sofrer. Amar
a Deus e todos os seus divinos quereres, aceitar com amor as
tribulações da vida e lhas oferecer em união com a Paixão de
Jesus e a compaixão de Maria, pela salvação nossa e dos
irmãos. A contemplação de Maria aos pés da Cruz suaviza a
aspereza de nossas dores. Infunde-nos também coragem,
ajuda-nos a sofrer com generosidade, na serena esperança de
que tudo coopere para o bem dos que amam a Deus”
(Pe. Gabriel de Santa
Maria Madalena), e:
“Quando sofrer, olhe sua Mãe
Dolorosa com Jesus morto entre seus braços. Compare sua dor.
Nada há que se lhe assemelhe. É seu único Filho, morto,
despedaçado pelos pecadores. E à vista do corpo
ensangüentado de seu Deus, das lágrimas de sua Mãe Maria,
aprenda sofrer resignado, aprenda a consolar a Santíssima
Virgem...” (Santa Teresa dos Andes, Carta 150).
Rezemos
piedosamente o Stabat Mater:
De pé a
Mãe dolorosa,
junto da
cruz, lacrimosa,
via Jesus
que pendia.
No coração
transpassado
sentia o
gládio enterrado
de uma
cruel profecia.
Mãe entre
todas bendita,
do Filho
único, aflita,
a imensa
dor assistia.
E,
suspirando, chorava,
e da cruz
não se afastava,
ao ver que
o Filho morria.
Pobre mãe,
tão desolada,
ao vê-la
assim transpassada,
quem de
dor não choraria?
Quem na
terra há que resista,
se a mãe
assim se contrista
ante uma
tal agonia?
Para
salvar sua gente,
eis que
seu Filho inocente
suor e
sangue vertia.
Na cruz
por seu Pai chamando,
vai a
cabeça inclinando,
enquanto
escurece o dia.
Quando
chegar minha hora,
dai-me,
Jesus, sem demora,
a
intercessão de Maria.
Faze, ó
Mãe, fonte de amor,
que eu
sinta em mim tua dor,
para
contigo chorar.
Faze arder
meu coração,
partilhar
tua paixão
e teu
Jesus consolar.
Ó santa
Mãe, por favor,
faze que
as chagas do amor
em mim se
venham gravar.
O que
Jesus padeceu
venha a
sofrer também eu,
causa de
tanto penar.
Ó dá-me,
enquanto viver,
com Jesus
Cristo sofrer,
contigo
sempre chorar!
Quero
ficar junto à cruz,
velar
contigo a Jesus,
e o teu
pranto enxugar.
Quando eu
da terra partir,
para o céu
possa subir,
e então
contigo reinar.
Virgem Mãe
tão santa e pura,
vendo eu
tua amargura,
possa
contigo chorar.
Que do
Cristo eu traga a morte,
sua paixão
me conforte,
sua cruz
possa abraçar!
Em sangue
as chagas me lavem
e no meu
peito se gravem,
para não
mais se apagar.
No
julgamento consegue
que às
chamas não seja entregue
quem soube
em ti se abrigar.
Que a
santa cruz me proteja,
que eu
vença a dura peleja,
possa do
mal triunfar!
Vindo, ó
Jesus, minha hora,
por essas
dores de agora,
no céu
mereça um lugar.
Pe. Divino
Antônio Lopes FP.
Anápolis,
17 de fevereiro de 2008
Bibliografia
Bíblia Sagrada
Pe. João Batista Lehmann, Euntes... Praedicate!
Bem-aventurado José Allamano, A Vida Espiritual
Pe. Gabriel de Santa Maria Madalena, Intimidade Divina
Santa Teresa dos Andes, Pensamentos
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