CORREÇÃO FRATERNA

(Pr 12, 1)

 

"Quem ama a disciplina ama o conhecimento, quem detesta a repreensão é estúpido".

 

 

 

"Mestre, como devo fazer para me salvar?"

– Como te ensina a lei santa?

"A lei santa me ensina a amar a Deus de todo o coração, a amar o próximo como a mim mesmo".

– Muito bem: faze assim e te salvarás.

Este diálogo tinha lugar entre Jesus e um escriba doutor da lei. Mas o doutor não podia resignar-se a ser posto em liberdade como um menino de escola de quem se ficou satisfeito. A sua pergunta, afinal de contas, não podia dizer-se esgotada com uma resposta tão fácil e tão elementar: o grosso das dificuldades permanecia, e por isto ele acrescentou: "Amar o próximo como a mim mesmo: disto estou convencido. Mas, e quem é o próximo?"

E Jesus respondeu-lhe com esta parábola: "Um homem descia de Jerusalém para Jericó". Jericó, cidade das rosas, a segunda, em importância, da Palestina, distava de Jerusalém vinte quilômetros, mas achava-se mais baixa quase mil metros. A estrada que a ligava à capital atravessava colinas avermelhadas e desertas, e era fácil aos beduínos acampados nos vales vizinhos barrarem o caminho, não para matar, mas para assaltar os viandantes. Ordinariamente não se chegava a maior violência senão contra os que opunham resistência. Tal foi o caso do nosso viajante, o qual, topando com os salteadores, foi deixado semimorto no terreno, despojado do dinheiro e privado da cavalgadura.

Passa por ali um sacerdote: vê-o, e segue adiante.

Passa por ali um levita: olha para ele, e segue adiante.

Passa por ali, finalmente, um samaritano. Samaritanos e judeus viam-se bem entre si como os cães e os gatos: todavia, este se aproxima, enfaixa as feridas do outro, desinfeta-as com vinho, aplaca-as com óleo. Mas não basta: carrega-o no seu jumento e conduze-o a uma estalagem, assiste-o por uma noite. E, no dia seguinte, dando dois dinheiros ao estalajadeiro, diz-lhe: "Toma cuidado dele: se despenderes mais pagar-te-ei na minha volta".

Jesus concluiu a parábola dirigindo-se ao escriba doutor: "Compreendeste qual desses três - sacerdote, levita, samaritano – foi o mais próximo para o homem que topou com os ladrões?"

"Aquele que usou de misericórdia com ele".

"Muito bem! Pois vai, e faze assim também".

Não apenas ao doutor da lei o Mestre impôs o seu mandamento de amor: vai, e faze o mesmo, mas também a cada um de nós.

Não apenas com aquele que topa com os ladrões de dinheiro, com aquele que tem as chagas na carne devemos usar de misericórdia, mas também, e especialmente, com aquele que topa com os ladrões de alma, com aquele que tem chagas no espírito. É sobre estas chagas que eu quisera ensinar-vos a verter óleo e vinho.

Infelizmente o egoísmo e a indiferença têm tornado mesquinho o nosso coração. E não é raro ouvir da boca dos católicos a desumana palavra de Caim: "Sou eu, por acaso, o guarda do meu irmão?" (Gn 4, 9). Sua alma, sua bolsa: ele que se arranje. Quem quiser desviar-se que se desvie; quem quiser perder-se que se perca; que me importa a mim? Não me interessam os outros; já é até muito se eu cuido de mim.

São João Crisóstomo escreve: "Que importa a vós? A vós não interessa? Ele é vosso irmão, filho como vós daquele Pai que tendes no céu; regenerado também por aquele sangue que foi o vosso resgate; renascido também daquela fonte de que vós tirastes vida de graça; educado por essa Igreja que reconheceis como Mãe; alimentado por aquela mesa que Cristo vos preparou com a sua carne; destinado também àquela herança que sobre as estrelas vos espera... E tendes coragem de dizer que ele não vos importa e que não vos interessa? Ó indolência digna de mil raios!"

Depois destas palavras já se não faz mister que eu vos demonstre a necessidade de ajudar o próximo a salvar sua alma, a ressurgir dos seus pecados e a corrigir-se dos seus defeitos. Só resta que da correção fraterna, se exponha quem a deve fazer, como se deve fazê-la e como se deve recebê-la.

 

1. Quem deve fazer as correções

 

O profeta Jeremias um dia exclamou: "Vejo no horto um sinal misterioso: uma vara erguida, tendo no cimo um olho que vigia" (Jr 1, 11).

Se no horto da paróquia, da família, da oficina e da alma, houvesse sempre uma vara vigilante, pronta a curvar-se e a deter quem erra! Pois que, se pelo amor recíproco todos são obrigados a corrigir, algumas pessoas têm disso uma obrigação especial que deriva do ofício que exercem ou do lugar que ocupam.

Entre estes, os primeiros são os pastores de almas, os quais devem, com todo esforço, impedir os fiéis confiados ao seu cuidado espiritual de caírem no abismo do pecado e do inferno. Ai do sacerdote que, por temor, por vergonha, por complacência, não eleva a voz. Ai de mim se estiver mudo diante da vossa ruína! "Proclama a palavra, insiste, no tempo oportuno e no importuno, refuta, ameaça, exorta com toda paciência e doutrina" (2 Tm 4, 2).

Centenas de bispos e milhares de sacerdotes calam-se diante dos erros dos fiéis, deixando-os viverem nas trevas: "É bom que te diga: a principal causa de tanta anarquia e divisão, no mundo, entre leigos e religiosos, clérigos e prelados, encontra-se na ausência da justiça. O homem que não corrige, nem é corrigido, assemelha-se a um membro em decomposição, sobre o qual um falso médico derrama unguento, deixando de queimar a ferida e permitindo que a carne apodreça. O mesmo se deve dizer dos prelados e demais autoridades. Ao notarem que um súdito se decompõe no mau cheiro do pecado, se não o repreendem chamando-lhe a atenção, mas apenas usam o unguento da adulação, jamais o curarão. Muito ao contrário, tal súdito corromperá os demais membros do corpo social em que convivem ao lado do mesmo pastor. Que os pastores de hoje sejam como aqueles antigos, médicos bons e verdadeiros que, juntamente com o óleo, usavam o fogo da repreensão. Caso o súdito se obstine no mal, cortem-no da comunhão, evitando que contamine os outros com seu mal. Não agem assim os prelados atuais; procuram nada ver. Sabes por quê? Porque neles ainda está viva a raiz do egoísmo, de onde recebem o temor servil. Não corrigem por medo de perder o cargo, civil ou eclesiástico, e seus bens. Comportamento de cegos! Ignoram que o autêntico modo de conservar o Estado é praticar a justiça. Se soubessem disso, bem que o poderiam conservar. São cegos, ignoram. Julgam possível manter o Estado pela injustiça; por isso não corrigem os súditos. Enganam-se devido à ganância de poder e prelaturas. Outro motivo pelo qual prelados e autoridades não corrigem seus súditos é este: possuem os mesmos defeitos, se não maiores. Sentindo-se igualmente culpados, perdem a ousadia e segurança. Amarrados pelo medo, fingem nada ver; e, quando percebem, não corrigem. Palavras aduladoras conquistam-nos; donativos também. Aliás, eles mesmos saem à cata de razões falsas para não castigar. Cumpre-se neles aquela palavra de Cristo nos Evangelhos: 'São cegos e guias de cego. Se um cego conduz o outro, ambos caem no fosso' (Mt 15, 14)" (Santa Catarina de Sena, O Diálogo, 28. 4. 3).

São João Crisóstomo, zeloso e santo pastor da Santa Igreja Católica Apostólica Romana, corrigia e punia os desobedientes: "Não me digais: 'São poucos os que foram roubados ao rebanho!' Pois mesmo que fossem apenas dez, a perda não seria insignificante; mesmo que cinco, dois ou até um! O Bom Pastor deixou as noventa e nove ovelhas e foi em busca de uma, não regressando senão quando a pode reconduzir e completar o número desfalcado de seu rebanho. Não deveis dizer: trata-se de apenas um! Pensai que se trata de uma alma, de algo que motivou a criação do mundo visível, a existência das leis, dos castigos, das disposições e dos inúmeros milagres e das obras de Deus; de uma alma, por quem Deus não poupou seu próprio Unigênito. Pensai quão grande preço foi pago por cada pessoa, não desprezeis sua salvação! Saí à sua procura, reconduzi-a, convencendo-a a não mais cair no mesmo vício! Se, porém, o pecador não voltar, a despeito de meus conselhos, de vossas exortações, farei então uso do poder que Deus me deu, para edificação e não para destruição vossa. Por isso, advirto-vos e digo em alta e clara voz que se alguém, depois desta minha exortação e ensinamento, voltar à perniciosidade dos teatros, não o receberei dentro destas paredes, não lhe administrarei os sacramentos, não lhe permitirei que se aproxime da sagrada mesa. Assim como os pastores afastam das sãs as ovelhas infestadas de sarna, para não as contagiarem, da mesma forma o farei. Outrora o leproso tinha de ficar fora do acampamento e até, sendo rei, perdia seu diadema. Muito mais nós baniremos fora deste recinto sagrado aquele que for leproso na alma! Se no princípio usei exortações e conselhos, enfim me verei na necessidade de recorrer à amputação. Já faz um ano que governo vossa cidade e não deixei de continuamente vos exortar. Permanecendo alguns na corrupção, recorrerei à amputação. Embora não tendo instrumento de ferro, tenho minha palavra mais cortante do que o ferro. Embora não use o fogo, valho-me de uma doutrina mais ardente e comburente que o fogo. Não desprezeis nossa advertência. Somos insignificantes e míseros, mas recebemos da divina graça uma dignidade que nos habilita a tais medidas. Sejam expulsas, pois, tais pessoas, a fim de que os sãos tenham uma saúde mais robusta ainda e os doentes se restabeleçam de sua grave moléstia. Se estremecerdes ao ouvir esta sentença – pois vejo que vos afligis e compungis – convertam-se os culpados e a sentença estará suspensa. Pois assim como recebi o poder de ligar, recebi o de absolver. Não queremos esmagar nossos irmãos, mas apenas defender a Igreja contra o opróbrio. Sim, porque os pagãos e judeus riem de nós quando não nos importamos com os pecados, e ao contrário nos elogiam e admiram a Igreja, ao verem e respeitarem nossa disciplina. Portanto, quem quiser continuar na vida impura não entre na Igreja, mas seja censurado por vós, seja nosso inimigo comum. Se alguém não obedecer ao que ordenamos por carta, observai-o e não tenhais relações com ele. Fazei assim, não converseis com tal pessoa, não a recebais em casa, não comais com ela, evitai sua companhia nas viagens, passeios e negócios. Desta maneira será reconquistada com facilidade. Assim como os caçadores costumam acossar de todos os lados as feras mais difíceis, também encurralemos os transviados, nós de um lado, vós de outro, e em pouco tempo os apanharemos nas redes da salvação. Para isso indignai-vos, juntamente comigo, também vós! Condoei-vos, por amor às leis de Deus e separai do convívio os doentes e transgressores, a fim de recuperá-los para sempre. Não seria pequeno vosso pecado se negligenciásseis proceder assim, ficaríeis réus de grave castigo. Se já na vida civil não se pune somente o empregado apanhado em roubo de ouro ou prata, mas também se punem os que, estando a par do crime, não o denunciaram, muito mais na Igreja! Deus mesmo vos dirá: Como pudestes silenciar, vendo que se tira de minha casa, não ouro ou prata, mas a observância? Como pudestes silenciar vendo que alguém, após receber meu precioso Corpo e participar do Sacrifício, se encaminha para tão grande pecado? Como silenciastes e suportastes isso? Como não o denunciastes ao sacerdote para escapardes de castigos não leves? Assim também eu, embora com tristeza, não pouparei a nenhum dos que me são caros! Antes afligir-vos agora e resguardar-vos da condenação futura do que agradar-vos e ser depois castigado convosco. Suportar em silêncio tal corrupção seria imprudência e perigo, pois se cada um de nós tem de prestar contas de seus atos, eu sou responsável pela salvação de todos. Não me calarei, pois, e farei até o impossível, mesmo com o risco de vos afligir, de parecer molesto e desagradável, para que possa apresentar- me sem mácula nem ruga diante do terrível Tribunal" (Sermão "Contra os espetáculos", PG 56, 264-270).

Como é triste e vergonhoso ver bispos e sacerdotes de bocas fechadas assistindo os fiéis cometerem todo tipo de escândalos. Para esses pastores mudos diz o profeta Isaías: "Todas as sentinelas são cegas, nada percebem; todas elas são uns cães mudos, incapazes de latir; vivem a resfolegar deitados, gostam de dormir" (Is 56, 10).

Existem milhões de católicos percorrendo o caminho da condenação, exatamente porque os bispos e sacerdotes não os corrigem; mas os mesmos terão que prestar contas a Deus de cada alma que se perdeu por falta da correção fraterna: "Ora, a ti, filho do homem, te pus como atalaia para a casa de Israel. Assim, quando ouvires uma palavra da minha boca, hás de avisá-los de minha parte. Quando eu disser ao ímpio: 'Ó ímpio, certamente hás de morrer' e tu não o desviares do seu caminho ímpio, o ímpio morrerá por causa da sua iniquidade, mas o seu sangue o requererei de ti" (Ez 33, 7 - 8).

Depois vêm os pais, que devem considerar como um dos seus deveres mais sagrados, e como uma das suas responsabilidades mais temíveis: o formar a mente e o coração de seus filhos. Se, por excessiva fraqueza, os deixarem crescer caprichosamente, um dia a sua memória será amaldiçoada. Não raramente se encontram pessoas que dizem, soluçando: "Se meu pai tivesse sido mais severo. Se minha mãe tivesse cuidado mais atentamente de mim!... agora é tarde demais!" Por isto São Paulo inculca: "... mas criai-os na disciplina e correção do Senhor" (Ef 6, 4).

Santo Tomás de Aquino escreve: "O filho é naturalmente algo do pai (...); por isso, é de direito natural que o filho, antes do uso da razão, esteja sob o cuidado do pai. Seria, portanto, contrário à justiça natural que a criança, antes do uso da razão, fosse subtraída ao cuidado dos pais, ou se dispusesse dela, de qualquer maneira, contra a vontade dos pais" (Suma Teológica, II-II, q. 10, a. 12). E como a obrigação dos pais continua até que a prole esteja em condições de se prover a si mesma, perdura também o mesmo inviolável direito educativo: "Porque a natureza não pretende somente a geração da prole, mas também o seu desenvolvimento e progresso até ao perfeito estado do homem enquanto homem, isto é, o estado de virtude" (Santo Tomás de Aquino, Suma Teológica, III, Suplemento, q. 41, a. 1), e: "Os pais são os principais educadores dos seus filhos, tanto no aspecto humano como no sobrenatural, e hão de sentir a responsabilidade dessa missão, que exige deles compreensão, prudência, saber ensinar e, sobretudo, saber amar; e que se preocupem por dar bom exemplo. A imposição autoritária e violenta não é caminho acertado para a educação. O ideal dos pais concretiza-se antes em tornarem-se amigos dos filhos: amigos a quem se confiam as inquietações, a quem se consulta nos problemas, de quem se espera uma ajuda eficaz e amável" (São Josemaría Escrivá, Cristo que passa, n° 27).

Há, além desses, os patrões, os quais devem dar aos seus domésticos e operários não só a recompensa material, mas também o exemplo das virtudes cristãs, e empenhar-se, com os seus bons conselhos e censuras, em fazê-los caminhar pela senda reta, justa e honesta.

Enfim, direi que também os amigos têm uma especial obrigação na correção. Do contrário, de que servirá a amizade? Do contrário, que significaria o dito santo: Quem acha um amigo acha um tesouro? Muitas vezes, a palavra de uma pessoa a quem amamos causa-nos mais impressão e insinua-se melhor no nosso coração: "É preciso ter a coragem de calcar aos pés o respeito humano. Deveis chegar ao ponto de não terdes nenhuma dificuldades de advertir o colega acerca de um defeito, uma falta de civilidade. Então, sim, haverá bom espírito comunitário e vivereis como anjos!" (Bem-aventurado José Allamano, A Vida Espiritual, Capítulo 24).

O amigo verdadeiro corrige o outro sem respeito humano; enquanto que o amigo falso deixa o outro viver nas trevas.

 

2. Como se deve corrigir

 

Mas como deve esses corrigir para conseguirem fazer o bem?

1. Com a oração. "Salvar uma alma, dissuadi-la do mal, levantá-la do pecado, não são coisas para as quais bastem as nossas forças. Eu sei de algumas mães que nunca ordenam nada de importante a seus filhos e nem lhes fazem nenhuma censura, sem antes terem rezado ao Anjo da Guarda deles" (Pe. João Colombo).

2. Com a prudência. "E a primeira coisa que a prudência quer é que o corretor seja isento do defeito que repreende nos outros. Com as mãos untadas não se tiram manchas. Se um pai é blasfemador, certamente não terá eficácia quando corrigir seu filho para não blasfemar. Um avarento é ridículo quando recomenda a generosidade. Hipócrita! 'Tira primeiro a trave do seu olho' (Mt 7, 5). A prudência quer, ainda, que se estude o modo mais adequado à pessoa que erra. Passou a provérbio o caso de um médico que punha no bolso várias receitas já escritas para muitas espécies de doenças. No momento oportuno ele metia a mão no bolso, e, tirando fora a primeira receita que vinha, estendia-a ao doente, dizendo: "Deus te dê boa sorte". Não se medicam nem se corrigem todos da mesma maneira. Para alguns é necessária uma correção áspera, outros não suportam senão as leves. Às vezes será preciso derramar vinho que queime e desinfete, às vezes óleo que suavize" (Pe. João Colombo).

Enfim, a prudência quer, ainda, que a correção não seja feita em público, para não humilhar, mas em segredo, e sempre com amor.

3. Com fortaleza. "Ai do cirurgião que se deixa comover pelos gemidos do paciente! Mas ai também dos que, forçados pelo seu ofício a corrigir, têm temor de corrigir! Lembrai-vos de Santo Ambrósio, que não tremeu diante do Imperador Teodósio, mas, detendo-o à porta da catedral de Milão, lhe disse: 'Assim não podeis entrar no templo de Deus! Primeiro fazei penitência'. Lembrai-vos do profeta Natã que não se receou de entrar no palácio real de Davi para lhe dizer: És tu esse homem. Lembrai-vos de São João Batista que perdeu a cabeça, mas não hesitou em dizer ao adúltero monarca: Não é lícito" (Pe. João Colombo).

4. Com mansidão. "O superior deve usar de toda mansidão com os seus súditos. Ao lhes impor alguma coisa, deve antes pedir que mandar" (Santo Afonso Maria de Ligório), e: "Para os superiores, não há melhor meio de se fazer obedecer do que a mansidão" (São Vicente de Paulo), e também: "Experimentei todos os meios de governar, e não encontrei nenhum melhor do que o modo bondoso e paciente" (Santa Joana de Chantal), e ainda: "O superior deve mostrar-se benigno mesmo nas repreensões que tem a fazer. Uma coisa é repreender com energia e outra repreender com aspereza. É preciso, às vezes, repreender com energia, quando a falta é grave, principalmente em caso de repetição da falta e depois da pessoa ter sido avisada. Mas evitemos repreender com aspereza e com raiva; quem repreende com raiva faz mais mal do que bem" (Santo Afonso Maria de Ligório).

 

3.  Como receber as correções

 

Taís, mulher famosa na antiguidade pelos seus deslizes, já envelhecida e definhada, apresentou-se ante o espelho, e, vendo-se qual não queria ver-se, enrugada e fenecida, quebrou todos os espelhos da casa e não quis mais ver nenhum.

A correção verdadeira é como um espelho límpido que nos mostra a nós, que põe diante das nossas pupilas as nossas deformidades. Quem odeia o espelho é porque quer permanecer sujo, quem não ama a correção é porque quer ficar no vício.

A correção, porém, deve ser acolhida:

1. Com humildade: Não desculpar a própria falta, mas admiti-la sinceramente; pois Salomão diz que o justo é o primeiro a se acusar a si mesmo.

Santo Afonso Maria de Ligório escreve: "Devemos praticar a humildade principalmente quando somos repreendidos por alguma falta pelos nossos superiores ou por outra pessoa qualquer", e: "Alguns fazem como ouriços: quando não são atacados, parecem calmos e cheios de mansidão. Mas quando um superior ou amigo lembra-lhes alguma coisa mal feita, arrepiam logo os espinhos. Respondem com azedume dizendo que não é verdade ou que tiveram motivos para o fazer, ou que não tinha cabimento aquela admoestação. Em resumo, quem os repreende torna-se seu inimigo. Fazem como aqueles que se zangam com o médico porque os faz sofrer dores quando realiza os curativos de suas feridas" (São Bernardo de Claraval).

2. Com docilidade. Não basta acolher os avisos, é preciso depois esforçar-se para pô-los em prática. Um dia Deus nos pedirá contas de todas as correções que nos foram feitas.

O Bem-aventurado José Allamano escreve: "Quem recebe a correção deve aceitá-la como se viesse de Deus. Evitar, portanto, a vingança de dizer: 'Você também tem este defeito!' Frases como esta, proferidas em tal ocasião, têm sabor de vingança ou demonstram certo ressentimento" (A Vida Espiritual, Capítulo 24), e: "A pessoa santa é humilde, quando é repreendida, arrepende-se da falta que fez. Ao contrário, quem é orgulhoso fica magoado quando é corrigido. Fica magoado por ver descoberto o seu defeito e por isso responde e indigna-se com quem o adverte" (São João Crisóstomo).

3. Com reconhecimento. Guardamos reconhecimento ao médico que cura o corpo, ainda mesmo com operações dolorosas; guardamos reconhecimento ao mestre que corrige nossos deveres e nossas palavras; guardamos reconhecimento mesmo à criança que nos indica o verdadeiro caminho quando nos achamos no falso: e por que então não guardaremos reconhecimento também a quem nos cura os males da alma, a quem corrige os erros do nosso coração e a quem nos ensina o reto caminho do céu?

Se tivésseis no rosto uma mancha que vos tornasse ridículo, não gostaria de que alguém vos avisasse disso?

Mas quanto é raro achar homens que gostem de ser repreendidos! "Repreende o sábio, e ele te agradecerá" (Pr 9, 8).

Escreve São Felipe Néri: "Quem quer ficar verdadeiramente santo nunca deve se desculpar, nem que seja falso o que lhe atribuem", e: "A única exceção acontece quando é necessário defender-se para evitar escândalo" (Santo Afonso Maria de Ligório).

 

Pe. Divino Antônio Lopes FP.

Anápolis, 01 de julho de 2008

 

 

Vide também:

...onde dois ou três

Se o teu irmão pecar

 

 

 

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Pe. Divino Antônio Lopes FP. "Correção fraterna"

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