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ENQUANTO LÁ ESTAVAM... (Lc 2, 6)
“Enquanto lá estavam...”
Belém significa “a casa do pão”. A Virgem Maria, com o Verbo divino no seio, e o esposo São José, estavam na “casa do pão”... sem pão, sem hospedagem...desprezados: “Quantos há que amam os parentes, os amigos, até os animais, mas não amam a Jesus Cristo e nenhum caso fazem de sua graça e de seu amor” (Santo Afonso Maria de Ligório).
O Senhor que veio para salvar os homens não foi bem recebido por eles em Belém: “... não havia um lugar para eles na sala” (Lc 2, 7). Quem os reconhece? Quem vai ao encontro deles? Quem lhes oferece hospedagem? Ninguém! Hoje, depois de dois mil anos de cristianismo, não é diferente!
O Santo Casal, José e Maria, não encontrou abrigo para Jesus Cristo na cidade de Belém: “Veio para o que era seu e os seus não o receberam” (Jo 1, 11). Essa cidade foi figura daqueles muitos corações ingratos que dão acolhida a tantos miseráveis e não a Deus.
A Virgem Maria trazia o Verbo divino no seio... e São José estava aflito procurando um lugar para a sofrida esposa, depois de uma difícil viagem... mas foram desprezados por todos: “Eles são pobres e como pobres são desprezados; são tratados ainda pior do que os outros pobres e até repulsos” (Santo Afonso Maria de Ligório). Não desanimemos diante do desprezo das pessoas: “O mais nobre de todos foi tratado como se fosse o mais vil de todos” (São Bernardo de Claraval).
Nossa Senhora não ficou desanimada diante dos desprezos das criaturas; ela sabia muito bem que os amigos de Deus são desprezados pelos homens... até hoje ela é desprezada! Quem não gosta de Nossa Senhora, quem a odeia... terá grande dificuldade de “arranjar” um lugar para “morar” após a morte. Ela está no céu de corpo e alma... ela visita as almas do purgatório... e também é Rainha do Inferno. Então? Pobres protestantes!
Nossa Senhora e São José, seu amado esposo, estão cansados... fizeram uma longa viagem; ela está já prestes a dar à luz... mas não podem descansar num lugar tranquilo e seguro. Deus não promete para os seus seguidores alívio nesse mundo; somente na outra vida: “No mundo tereis tribulações” (Jo 16, 33).
São José, esposo zeloso e cheio de amor puro pela Virgem Maria, bate em muitas portas em busca de alojamento. O dia avançava, ele explicava uma e outra vez, com angústia crescente, a mesma história... recebeu somente não... muitos nãos. É na precisão... na necessidade imediata, que conhecemos os verdadeiros amigos. Quanta surpresa desagradável! Quantas portas no rosto! “Há amigo que é companheiro de mesa, mas que não será fiel no dia de tua tribulação” (Eclo 6, 10).
Nossa Senhora, grávida e cansada, estava a poucos metros de São José... ela via o esposo e ouvia as negativas, sente pena pelo seu esposo, mas não perde a serenidade. Aprendamos de Nossa Senhora a manter a serenidade diante das dificuldades que surgem pelo caminho: “Seja como for, por trás de tudo está o Senhor” (Pe. Richard Gräf), e: “Nada poderá acontecer que Deus não queira. E tudo quanto Ele quer, mesmo que nos pareça mau, é, na verdade, realmente ótimo” (Santo Tomás More).
Enquanto São José procurava, cheio de angústia, um lugar para Nossa Senhora, ela se “agarrava” em duas riquezas: a primeira era o Verbo divino que estava no seu seio... e a segunda “riqueza” era a trouxa com os paninhos e faixas para agasalhar o Filhinho após o nascimento... ao menos esse conforto Ele teria: “Toma, pois, as faixas e os pobres paninhos já preparados e parte com José” (Santo Afonso Maria de Ligório). Quem ama verdadeiramente a Jesus dá o melhor para Ele... mas com amor: “... recorda-nos o dever de sermos magnânimos no culto de Deus. – Todo o luxo, majestade e beleza me parecem pouco” (São Josemaría Escrivá).
Belém estava agitada! O Santo Casal teve que suportar o barulho: burros que zurram... camelos, entre as baias, procuram libertar-se; várias mulheres disputam um cantinho abrigado das correntes de ar; e sobre toda esta gente extenuada paira o odor do sebo requentado que as multidões do Oriente desprendem, sem exceção. O Santo Casal não perdeu a paciência diante desse alarido: “Bem-aventurado o homem que suporta com paciência a provação!” (Tg 1, 12).
Nossa Senhora andava pelas ruas de Belém sobre um jumentinho? Não sabemos! Estava a pé? Não sabemos! São Fulgêncio, São Bernardo de Claraval e Nicéforo dizem: antes podemos pensar que o mesmo Cristo a impulsasse, porque desejava nascer ali; e que, mais que ser levado pela Virgem, pode-se dizer que Ele levava a sua Mãe.
Pe. Divino Antônio Lopes FP (C) Anápolis, 24 de outubro de 2017
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