TODOS RESSUSCITARÃO
(1 Cor 15, 12)
“Ora, se se prega que Cristo ressuscitou dos mortos, como podem alguns dentre vós dizer que não há ressurreição dos mortos?”
I. Justos e pecadores ressuscitarão
Já que formamos um corpo místico com Jesus, de que Ele é a cabeça, a sua ressurreição leva consigo a nossa, assim como a nossa exige a d’Ele; pois que não se pode separar a vida da cabeça da dos membros, nem dar movimento a estes sem o auxílio daquela:
“Ora, se se prega que Cristo ressuscitou dos mortos, como podem alguns dentre vós dizer que não há ressurreição dos mortos?”
(1 Cor 15, 12).
A ressurreição dos justos não é só consequência da do Salvador, mas ser-lhe-á também conforme (Fl 3, 2-21). “Ressurreição, diz o divino Mestre, para a vida eterna” (Jo 5, 24-29). Os seus corpos, como o de Jesus, serão adornados de quatro qualidades gloriosas:
1. A impassibilidade, que os isentará do sofrimento, da morte e de qualquer alteração (Consiste em que o corpo não estará sujeito ao sofrimento nem à morte).
Em que consiste a impassibilidade?
Santo Tomás de Aquino escreve: No domínio e senhorio absolutos da alma sobre o corpo, em virtude dos quais este, sob a tutela daquela, estará isento e livre de toda debilidade e padecimento.
2. A subtilidade, que consiste em que poderá penetrar outros corpos, como Cristo penetrou no Cenáculo depois da Ressurreição.
3. A agilidade, pela qual poderão locomover-se com a rapidez do relâmpago (Consiste em que poderá deslocar-se num momento a lugares muito distantes).
Em que consiste a agilidade?
Santo Tomás de Aquino escreve: Um dote que consiste em sujeitá-los tão plena e absolutamente aos impulsos motores da alma, que os obedecerão com uma prontidão e rapidez maravilhosas.
4. A claridade, que os fará como outros tantos sóis, cujo brilho não deslumbrará a vista (Consiste em que estará revestido de incomparável glória e formosura).
Em que consiste a claridade?
Santo Tomás de Aquino escreve: Que o resplendor das almas glorificadas comunicará e infiltrará nos corpos uma claridade que os tornará luminosos e radiantes como o sol, e transparentes como o mais puro cristal; apesar disso, a luminosidade não apagará as cores naturais; pelo contrário, se amoldará às suas distintas tonalidades para realçá-los, embelezá-los e comunicar-lhes uma formosura mais divina de que humana.
Todos os corpos possuirão o mesmo grau de claridade?
Não; porque a claridade dos corpos é o reflexo da alma, e, portanto, proporcional ao grau de glória de que esta desfruta. Por isso, querendo São Paulo dar-nos a entender algo destas verdades sublimes, nos disse que serão os corpos gloriosos como os astros do firmamento, entre os quais um é o brilho do sol, outro o da lua e outro o das estrelas, e ainda umas estrelas diferem das outras em brilho e claridade (1 Cor 15, 41).
Se isso se dá com o corpo dos justos, depois da ressurreição, que será das suas almas bem-aventuradas? Meu Deus! Quem no-lo poderá dizer, senão Vós? Cada uma delas excederá em brilho e beleza a todos os corpos gloriosos reunidos, pois que a superioridade da alma sobre o corpo é de certo modo infinita. Essa verdade deveria inspirar-nos ardor na prática da mortificação dos sentidos e da renúncia a nossas más inclinações.
“Os pecadores ressurgirão para o julgamento”. Bem diferente dos justos, eles serão disformes, hediondos, miseráveis nos corpos e nas almas. Sob o peso de males incompreensíveis, cumulados de vergonha, tristeza e remorsos, em vez de voarem nos ares com os eleitos, arrastar-se-ão penosamente até ao vale, onde a sentença final acabará mergulhando-os nos opróbrios, tormentos e desesperos sem fim.
Para os bem-aventurados será um corpo de glória; para os réus, um corpo para sempre obscurecido. Diante de Jesus Cristo os condenados sentirão grande vergonha; também diante dos santos. Os condenados sofrerão pena eterna em seus corpos usados para o pecado.
“Jesus, preservai-me dessa terrível maldição e, para esse fim, inspirai-me a coragem: 1. De reprimir o orgulho por um verdadeiro desprezo de mim mesmo e por um cuidado particular de submeter-me aos meus superiores e de condescender com os meus iguais; 2. De praticar a mortificação dos sentidos e a oração assídua, a fim de evitar todas as faltas e merecer a sentença dos servos fiéis e vigilantes”
(Pe. Luis Bronchain).
II. O que deve ser feito para merecer a ressurreição gloriosa
Para merecer essa ressurreição, é preciso evitar o que pode manchar o corpo e a alma. O nosso corpo deve reunir-se à alma e partilhar a sua glória: eis por que foi santificado com ela pelo Batismo, pela Eucaristia, pela Unção dos Enfermos, pelas bênçãos da Igreja, jejuns e abstinências:
“Não sabeis que sois o templo de Deus e que o Espírito Santo habita em vós? Se alguém violar esse templo, que é o vosso corpo, o Senhor o destruirá”
(1 Cor 3, 16-17; 6, 15). Mereceremos ressuscitar para a vida eterna: recusando as satisfações proibidas, mortificando-nos e praticando a castidade.
Sábio é o católico que vive nesse mundo mortificando o seu corpo, carregando a cruz com alegria e buscando a santidade.
Agora não é tempo de se poupar, de viver na “poltronice” e de se enveredar por um caminho fácil; mas sim, é tempo de se consumir por Deus para conquistar o prêmio eterno, isto é, o céu.
Aquele que busca uma vida fácil não pode ser chamado de discípulo de Cristo Jesus:
“O cristão que se poupa, que calcula para dar a Deus o mínimo indispensável, de modo a não lhe ser traidor, que vive procurando antes fugir da cruz que carregá-la, antes defender-se que renunciar-se, antes salvar a própria vida que sacrificá-la, não é discípulo de Cristo. Se não nos é dado testemunhar nosso amor e nossa fé com o martírio do sangue, devemos, todavia, testemunhá-los abraçando com generoso coração todos os deveres que o seguimento de Cristo impõe, sem recuar perante o sacrifício”
(Pe. Gabriel de Santa Maria Madalena).
As nossas almas são as esposas do Deus de santidade. Criadas à sua imagem e semelhança, resgatadas pelo sangue de Jesus, são destinadas a contemplar, depois desta vida, a própria divindade, a amá-la e possuí-la para sempre. Um fim tão sublime exige de nós conduta irrepreensível. Senhor, vós dissestes:
“Os pecadores não ressuscitarão para a glória”
(Sl 1, 5).
Tal ventura reclama o fervor e a constância no bem. Não basta começar, é preciso perseverar até à morte na piedade sólida, isto é, na piedade que nos ensina a separar-nos de nós mesmos e a unir-nos a Deus. Para isso: 1. Meditemos e rezemos não só na abundância do fervor, mas também na aridez da alma. 2. Mortifiquemos os olhos, a língua e o paladar, combatamos o mau humor, o caráter, os maus hábitos, de sorte a nos tornarmos tudo para todos, mansos com os temperamentos difíceis, caridosos para os que nos contrariam, bons e pacientes para com os que nos afligem. Numa palavra, fujamos do mal e façamos o bem até ao derradeiro suspiro; assim teremos parte na ressurreição gloriosa do nosso amante Redentor.
Católico, para ressuscitarmos gloriosamente, precisamos perseverar no caminho estreito e carregar as cruzes com paciência:
“Ó Cristo Crucificado, vós me bastais, convosco quero sofrer e repousar... Fazei que, crucificado convosco interior e exteriormente, viva neste mundo com grande satisfação de minha alma, possuindo-a na paciência. Ensinai-me a muitos amar o padecimento e a considerá-los bem pouca coisa para cair em vossas graças, ó Senhor, que não hesitastes em morrer por mim”
(São João da Cruz).
Divino Pe. Divino Antônio Lopes FP.
Anápolis, 17 de abril de 2009
Bibliografia
Sagrada Escritura
Pablo Arce e Ricardo Sada,
Curso de Teologia Dogmática
Pe. Luis Bronchain,
Meditações para todos os dias do ano
R. P. Tomaz Pégues, A Suma
Teológica de Santo Tomás de Aquino
Santa Catarina de Sena, O
Diálogo
São João da Cruz, Obras
Completas
Pe. Gabriel de Santa Maria
Madalena, Intimidade Divina
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