Maria chorando
 

 

FORA DO TÚMULO, CHORANDO

(Jo 20, 11)

 

“Entretanto, Maria estava do lado de fora do túmulo, chorando”.

 

 

Santa Maria Madalena não esperou o dia clarear, mas foi de madrugada ao túmulo de Nosso Senhor: “No primeiro dia da semana, Maria Madalena vai ao sepulcro, de madrugada, quando ainda estava escuro” (Jo 20, 1).

Quem ama verdadeiramente a Deus não consegue ficar distante d’Ele; a alma imortal sedenta da Eternidade não se contenta com o que passa, mas quer ardentemente o Eterno... quer viver unida a Ele: “Bem o sabeis, ó meu Deus, jamais desejei coisa senão amar-Vos, não ambiciono outra glória... O amor atrai o amor; assim, ó Jesus, o meu se lança para o Vosso” (Santa Teresa do Menino Jesus, Escritos autobiográficos), e: “Vosso amor, Senhor Jesus Cristo, é fonte de vida, e uma alma não pode viver se dele não bebe e não pode beber se não se chega à fonte, isto é, a Vós que sois a fonte de todo o amor” (R. Jordão, Contemplações sobre o amor divino 4, p. 47) .

As criaturas não satisfaziam a alma sedenta de Santa Maria Madalena, o escuro não a amedrontava, o seu corpo não se debruçava diante do cansaço, o sono não a prendia no leito... o seu amor é forte; o que lhe interessava era estar com o Senhor de sua vida.

Sai apressadamente para ir ao túmulo, não olha para os lados porque o seu coração está fixo no Senhor... em encontrar o Salvador. Chega ao túmulo, o Senhor não está; então chora desconsoladamente: “Este fato leva-nos a considerar quão forte era o amor que inflamava o espírito dessa mulher, que não se afastava do túmulo do Senhor, mesmo depois dos discípulos terem ido embora. Procurava a quem não encontrara, chorava enquanto buscava e, abrasada no fogo do seu amor, sentia a ardente saudade daquele que julgava ter sido roubado. Por isso, só ela o viu então, porque só ela o ficou procurando” (São Gregório Magno, Homilias sobre os evangelhos).

Católico, o amor de Santa Maria Madalena para com Nosso Senhor Jesus Cristo era autêntico, não era interesseiro.

Não nos esqueçamos de que só é possível amar a Cristo Jesus através do sacrifício, fora isso, é pura ilusão: “Quanto mais amamos, mais necessitamos e desejamos o sacrifício... Acaso não se prova o amor pelo sacrifício? Penso no amor de Jesus e então tudo o que puder oferecer-Lhe parece-me pouco. Ao vê-lo no presépio em pobres palhas, aquecido por animais, abandonado pelos homens, chorando de frio, poderei levar em conta todos os sacrifícios do mundo?” (Santa Teresa dos Andes, Cartas 121 e 156).

Se amamos verdadeiramente a Nosso Senhor, nem a “escuridão” das provações, nem o “sono” do desânimo, nem a “distância” do comodismo impedirá que caminhemos ao seu encontro, mas perseveraremos, custe o que custar, porque o Salvador está acima de todos os bens: “Na verdade, a eficácia das boas obras está na perseverança” (São Gregório Magno, Homilias sobre os evangelhos).

Se a nossa alma deseja ardentemente a Cristo Jesus, nada nos deterá... nada do que está ao nosso lado nos chamará a atenção, porque o Senhor vale mais que tudo: “Se alguém, com efeito, pretende chegar a um determinado lugar, não há obstáculo algum no caminho que o faça desistir de chegar aonde deseja. Nenhuma prosperidade sedutora nos iluda. Insensato seria o viajante que, contemplando a beleza da paisagem, se esquece de continuar sua viagem até o fim” (Idem.).

Santa Maria Madalena perseverou na busca pelo Senhor e O encontrou: “Ela começou a procurar e não encontrou nada; continuou a  procurar, e conseguiu encontrar. Os desejos foram aumentando com a espera, e fizeram com que chegasse a encontrar. Pois os desejos santos crescem com a demora; mas se diminuem com o adiamento, não são desejos autênticos. Quem experimentou este amor ardente, pôde alcançar a verdade” (Idem.).

Jamais desanimemos na busca pelo Senhor da nossa vida, por Aquele que derramou o Seu Preciosíssimo Sangue para nos salvar.

Busquemos esse Senhor com perseverança... sem a perseverança jamais O encontraremos. Não nos preocupemos com os ataques daqueles que vivem nas trevas, nem das zombarias dos amantes do mundo... tapemos os ouvidos para as críticas dos escravos do Demônio e da carne... porque somente o Senhor nos basta.

Estamos nesse mundo somente para amar o Senhor que deu a Vida por nós; por isso, não percamos tempo com as coisas caducas da terra; mas, como bons e fiéis peregrinos, corramos para o Senhor que nos espera: “Vede bem, vede bem qual é o amor que tendes pela vossa alma e também pelo vosso viver segundo o mundo. Não vos envolveis com   essas vaidades. Comportai-vos como o peregrino autêntico, como é nosso dever. Todos somos peregrinos e caminhamos nesta vida” (Santa Catarina de Sena, Carta 380, 6).

Santa Maria Madalena chorava fora do túmulo... chorava porque queria a Cristo Jesus... o seu coração ardia do verdadeiro amor pelo Bom Pastor... a humilde ovelhinha não suportava ficar longe d’Aquele que curou a sua terrível ferida... eis o verdadeiro amor. Quanta gratidão! “A  gratidão vos tornará esforçados na prática da virtude... a gratidão infunde o desejo de aproveitar o tempo, sem ficar um minuto inoperante” (Idem., 89, 2).

São milhões os católicos batizados, crismados, que já fizeram a primeira Comunhão... e que perdem a Graça Santificante cometendo a maior desgraça desse mundo que é o pecado mortal, e que vivem como se tudo estivesse normal... tranquilos como se já estivessem salvos. Quanta loucura! “As almas daqueles que saem do mundo em pecado mortal atual, imediatamente depois da sua morte descem ao Inferno, onde serão atormentados com penas infernais” (Bento XII, Constituição “Benedictus Deus”, Dz. 531).

Esses católicos, loucos e ingratos, choram pela perda da saúde física, da fazenda, do emprego... mas não choram por ter perdido o Senhor que morreu na cruz para salvá-los. Existe maior ingratidão? Quanta falta de santidade!

Contemplemos o Senhor na cruz e dizemos-Lhe de coração: “Meu Jesus, não quero morrer sem Vos amar e Vos amar muito. Muito me aflige e penaliza ter-Vos dado tantos desgostos. Arrependo-me e queria morrer de dor” (Santo Afonso Maria de Ligório, A Prática do amor a Jesus Cristo, Capítulo II).

 

 

Pe. Divino Antônio Lopes FP.

Anápolis, 05 de maio de 2009

 

 

 

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Pe. Divino Antônio Lopes FP. “Fora do túmulo, chorando”

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