Maria chorando
 
 

NOS GEROU DE NOVO, PELA RESSURREIÇÃO

(1 Pd 1, 3-4)

 

“Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que, em sua grande misericórdia, nos gerou de novo, pela ressurreição de Jesus Cristo dentre os mortos, para uma esperança viva, para uma herança incorruptível, imaculada e imarcescível, reservada nos céus para vós”.

 

 

I PONTO

 

Sentimentos que requer o dia da Páscoa

 

Que alegria para uma família em prantos, quando vê um pai ternamente amado passar subitamente dos horrores da morte para uma nova vida, para a saúde perfeita! Vimos Jesus Cristo, nosso Salvador, abismado num oceano de tristeza e angústias, submergido pelas grandes águas de mortais tribulações e ei-lO livre de tudo isso! Vem a nós, não já carregado das cadeias humilhantes do sepulcro, mas circundado da glória da ressurreição: “Que brilho em sua pessoa, que beleza, que majestade! A vitória resplandece dos seus olhos, com quanto júbilo bate o seu coração à vista do campo de batalha onde conquistou o reino imortal para reparti-lo conosco!” (Santa Teresa de Jesus).

Quantas consolações inefáveis para os discípulos e, sobretudo, para Maria Santíssima! Unindo-nos a eles e a toda a Igreja, devemos celebrar com santa alegria o triunfo do nosso Redentor e Libertador.

No dia de hoje, dia mais alegre do ano, Ele selou a nossa restauração espiritual esperada há tantos séculos. Os patriarcas e profetas saudaram de longe o que nós vemos, mas não tiveram o gozo que desfrutamos. Quanta gratidão devemos a Deus por nos ter feito nascer depois que o sol de justiça completou seu curso e encheu o universo de seu esplendor, calor e benfazeja fecundidade! Nunca poderíamos louvá-lO bastante por este favor que é a fonte de tantos bens. Os tesouros confiados à Igreja em nosso favor são imensos; superam infinitamente os fracos meios de salvação que a sinagoga possuía. Compreendamos, pois, a dívida de gratidão que se nos impõe neste dia para com Aquele que morreu e ressuscitou por nós.

Os meios mais seguros de saldarmos essa dívida são: 1.º Repassar em nosso coração as tocantes provas de amor que Jesus nos deu na sua paixão e que completou em sua ressurreição gloriosa. 2.º Fugir, para isso, do ruído do mundo e da vida dissipada; retirar-nos em nosso interior por um recolhimento suave e tranquilo; visitar Jesus nas igrejas em que Ele habita, a entreter-nos inteiramente com Ele. Suave e celeste delícia é conversar com o mais terno dos amigos, o mais amante dos irmãos, o mais generoso e devotado dos benfeitores.

A ressurreição de Jesus Cristo é o modelo, a causa exemplar da nossa transformação espiritual, isto é, da passagem das nossas almas do estado de pecado ao estado de graça, da tibieza a um fervor constante e contínuo. Que o Senhor nos ressuscite, mudando nossa vida natural, rotineira, em uma vida de fé, oração, amor e devotamento: “Ó Cristo ressuscitado, convosco também nós devemos ressuscitar. Desaparecestes das vistas dos homens e devemos nós seguir-vos. Voltastes para o Pai, e devemos agir de modo que vossa vida ‘seja escondida convosco em Deus’... Dever e privilégio de todos os vossos discípulos é, ó Senhor, serem exaltados e transfigurados convosco! Privilégio nosso é vivermos no céu com o pensamento, tendências, aspirações, desejos e afetos, embora estejamos ainda na terra... Ensinai-nos a ‘buscar as coisas do alto’ (Cl 3, 1), testemunhando que vos pertencemos, que o nosso coração ressuscitou convosco e em vós está escondida a nossa vida” (John Henry Newman).

Supliquemos ao Senhor Deus, Cristo, Rei eterno... que estenda as divinas mãos sobre sua Igreja, povo santo. Defende-o! Guarde-o e conserve-o. Que Ele conceda a esse povo cantar com Moisés o cântico da vitória.

 

II PONTO

 

Frutos da Ressurreição de Jesus Cristo

 

“Se realmente o ouvistes e, como é a verdade em Jesus, nele fostes ensinados a remover o vosso modo de vida anterior — o homem velho, que se corrompe ao sabor das concupiscências enganosas — e a renovar-vos pela transformação espiritual da vossa mente, e revestir-vos do Homem Novo, criado segundo Deus, na justiça e santidade da verdade” (Ef 4, 21-24). O velho homem, de que fala o apóstolo, é esse composto de orgulho, amor próprio, egoísmo, sensualidade, más inclinações, instintos depravados, o qual vive em nós desde a queda original e que tende a submeter-nos a Satanás e ao pecado. Jesus Cristo morreu para dele nos libertar; e insiste conosco para que trabalhemos com Ele para a destruição deste mal.

O homem novo, de que fala ainda o apóstolo, é a nossa alma espiritual, regenerada em Jesus Cristo pela graça, ornada de virtudes e dons sobrenaturais, no afã (trabalho) de seguir as pegadas do divino Mestre pela vida de justiça e de santidade. Esse homem novo, que está dentro de nós, encontra em Jesus ressuscitado o seu apoio e o seu modelo; o seu apoio, contanto que procuremos em Jesus, pela oração, os princípios da vida sobrenatural que alimentam a nossa alma; o seu modelo, porque a ressurreição corporal do Redentor é o ideal, a causa exemplar da nossa ressurreição espiritual: “Portanto, pelo batismo nós fomos sepultados com ele na morte para que, como Cristo foi ressuscitado dentre os mortos pela glória do Pai, assim também nós vivamos vida nova. Porque se nos tornamos uma coisa só com ele por uma morte semelhante à sua, seremos uma coisa só com ele também por uma ressurreição semelhante à sua” (Rm 6, 4-5).

Se, pois, morrermos a nós mesmos e ressuscitarmos assim com Jesus todos os dias do nosso exílio, teremos parte em seu triunfo e em sua beatitude. Como o patriarca José saiu outrora da prisão para reinar sobre o Egito, fazendo seus irmãos participantes da sua sorte, assim o Salvador ressuscitou glorioso do sepulcro para entrar pouco depois na sua glória e lá esperar os que, conformando-se com sua vida, merecerem ser chamados seus irmãos.

Desejamos esse belo título e os esplendores que o coroarão um dia? Neste caso, tomemos a resolução generosa: 1.º De sacudir o jugo das nossas paixões e de combater em nós a vaidade, o amor das comodidades e dos prazeres. 2.º De praticar de preferência as virtudes difíceis, as que exigem o sacrifício dos nossos defeitos ordinários, sobretudo, da nossa paixão dominante.

Oração: Jesus ressuscitado, pelos vossos méritos infinitos, dai-me a força de renunciar a todas as satisfações terrenas, a fim de encontrar só em vós a minha alegria, o meu repouso, a minha esperança e o meu amor. Em união com a vossa Santíssima Mãe e todos os vossos apóstolos, quero santificar este grande dia pelo espírito de oração e pelo desejo de consagrar-me inteiramente a vós.

 

Pe. Divino Antônio Lopes FP (C)

Anápolis, 13 de abril de 2014

 

 

Bibliografia

 

Sagrada Escritura

Santa Teresa de Jesus, Escritos

Pe. Gabriel de Santa Maria Madalena, Intimidade Divina

Pe. Luis Bronchain, Meditações para todos os dias do ano

Santo Hipólito de Roma, Das orações dos primeiros cristãos, 44

John Henry Newman, Maturidade cristã, pp. 190-194

 

 

 

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Pe. Divino Antônio Lopes FP. “Nos gerou de novo, pela ressurreição”

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