Maria chorando
 

 

EU VOS ENVIO

(Jo 20, 21)

 

“Como o Pai me enviou, também eu vos envio”.

 

 

Os livros de Moisés, os Profetas e os Salmos estão todos CHEIOS (citações) de Jesus Cristo. Mas só podem compreendê-los os que receberam do Espírito Santo o verdadeiro sentido das suas palavras. Ora, só a Igreja Católica, representada no Cenáculo pelo Colégio apostólico, recebeu do Espírito Santo a INTELIGÊNCIA das ESCRITURAS.

Portanto, só ela (a Igreja) pode interpretá-las, só ela tem a missão de explicá-las aos fiéis; e essa missão é tão divina como a de Jesus Cristo: “Como o Pai me enviou, também eu vos envio”.

Do mesmo modo que Jesus Cristo foi enviado pelo Pai, assim os discípulos são enviados por Cristo: “À maneira que Cristo não buscava os justos, mas os pecadores; assim também envia os apóstolos para exortar os pecadores à penitência” (São Cirilo de Jerusalém), e: “Assim como o Pai me ensinou para ensinar-vos, assim eu os envio para que ensineis aos demais” (Leôncio). Outros se referem ao poder que deu aos discípulos, como se dissesse: “Com o mesmo poder que me deu meu Pai ao enviar-me, eu envio vocês”. Nesse sentido escreve Ruperto: “De que maneira e para que enviou o Pai a seu Filho senão para que fizesse paz entre Deus e os homens? E analogamente: De que maneira ou para que enviou o Filho os pregadores por todo o mundo, senão para que reconciliem a Deus com os homens hostis?” Sabendo disso, disse o Apóstolo aos Coríntios (2 Cor 5, 18): “Tudo isto vem de Deus, que nos reconciliou consigo por Cristo e nos confiou o ministério da reconciliação”. Da mesma maneira a interpreta Elias Cretense. Entre outros exemplos das Escrituras para provar que a partícula COMO e outras parecidas, quando servem para comparar a Deus com os homens, não significa igualdade, senão proporção; este é o exemplo que primeiro apresenta: Jesus Cristo foi enviado por seu Pai como igual por igual, e os apóstolos são enviados por Cristo como homens por Deus. Entende-se que há DUPLO PODER nessas palavras: Um, o que já foi dito, com Ruperto, que recebeu do Pai e Ele deu aos apóstolos, fazendo-os vigários seus, qual se desprende das palavras que seguem: Dizendo isso, soprou sobre eles e lhes disse: Recebei o Espírito Santo. Aqueles a quem perdoardes os pecados ser-lhes-ão perdoados, aqueles aos quais retiverdes ser-lhes-ão retidos, para manifestar que quanta autoridade havia recebido do Pai, outra tanta lhes dava Ele: não existe outra maior que a de perdoar pecados. Com todo direito se deduz desta passagem que Jesus Cristo deu aos apóstolos, sobre o ofício de ensinar e de santificar, fazendo-os vigários seus. Porém, ainda nesta mesma semelhança de PODER existe uma diferença, a que existe entre o príncipe e seu mensageiro, o senhor e seu servo, o magistrado e seu vigário. Pois, ainda que Cristo tivesse recebido do Pai tal PODER como homem, todavia também o tinha por natureza. Entretanto, os apóstolos somente o possuíam por um FAVOR. Além disso, Jesus Cristo era legado de si mesmo, e os apóstolos, não de si mesmos, senão de Cristo, como um deles escreveu.

O outro PODER não está nos apóstolos, senão em Jesus Cristo. De maneira que não se compara o PODER dos apóstolos com o de Jesus Cristo, mas o de Cristo com o do Pai. Como se dissesse: “Jesus, aproximando-se deles, falou: ‘Toda a autoridade sobre o céu e sobre a terra me foi entregue. Ide, portanto, e fazei que todas as nações se tornem discípulos, batizando-as em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo” (Mt 28, 18-19). Toda a autoridade sobre o céu e sobre a terra me foi entregue. Ide, portanto, e fazei que todas as nações. Examina Leôncio e Teofilacto a frase, EU OS ENVIO, contra os Arianos. Não disse “eu rogarei ao Pai para que envie a vocês”; mas sim, EU OS ENVIO com igual autoridade que meu Pai.

Jesus Cristo comunica aos apóstolos a missão de santificação e de salvação dos homens que recebeu do Pai, e que os apóstolos devem continuar no mundo.

O Papa Leão XIII escreve: “O que quis e o que procurou ao fundar e conservar a Igreja? Isto: transmitir a mesma missão e o mesmo mandato que tinha recebido do Pai para que ela os continue. Isto é claramente o que se tinha proposto fazer e isto é o que fez: ‘Como o Pai me enviou assim Eu vos envio’ (Jo 20, 21). ‘Como Tu me enviaste ao mundo, assim os enviei Eu ao mundo’ (Jo 17, 18) (...). Momentos antes de retornar ao Céu, envia os Apóstolos com o mesmo poder que o Pai O tinha enviado; ordenou-lhes que estendessem e semeassem por todo o mundo a sua doutrina (cfr Mt 28, 18). Todos os que obedecerem aos Apóstolos salvar-se-ão; os que não lhes obedecerem perecerão (cfr Mc 16, 16) (...). Por isso manda aceitar religiosamente e guardar santamente a doutrina dos Apóstolos como sua: ‘Quem vos ouve a vós, ouve-me a mim; quem vos despreza a vós, despreza-me a mim’ (Lc 10, 16). Em conclusão, os Apóstolos são enviados por Jesus Cristo da mesma forma que Ele foi enviado pelo Pai”, e: “Cristo, através dos mesmos Apóstolos, tornou participantes da sua consagração e missão os sucessores deles, os Bispos, cujo cargo ministerial, em grau subordinado, foi confiado aos presbíteros, para que, constituídos na Ordem do presbiterado, fossem cooperadores da Ordem do episcopado para o desempenho perfeito da missão apostólica confiada por Cristo” (Presbyterorum ordinis, 2).

Jesus Cristo se faz IGUAL ao Pai no seu PODER de enviar; e envia os Apóstolos para que sejam, como Ele, ministros de pacificação: “Nós sabemos que o Filho é igual ao Pai, mas aqui reconhecemos as palavras do mediador. Mostra-se como meio quando diz: Ele envia-me a mim, e eu a vós” (Santo Agostinho).

 

Pe. Divino Antônio Lopes FP (C)

Anápolis, 27 de abril de 2014

 

 

Bibliografia

 

Sagrada Escritura

Pe. Manuel de Tuya, Bíblia comentada

Pe. Juan de Maldonado, Comentário do Evangelho de São João

Dom Duarte Leopoldo, Concordância dos Santos Evangelhos

Dom Isidro Gomá y Tomás, O Evangelho Explicado

Santo Agostinho, Escritos

Presbyterorum ordinis, 2

Leão XIII, Satis cognitum

São Cirilo de Jerusalém, Escritos

Leôncio, Escritos

Ruperto, Escritos

Bíblia Sagrada, Pontifício Instituto Bíblico de Roma

Pe. Juan Leal, A Sagrada Escritura (texto e comentário)

 

 

 

 

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Pe. Divino Antônio Lopes FP. “Eu vos envio”

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