NÃO CREREI!
(Jo 20, 25)
“Mas ele lhes
disse: ‘Se eu não vir em suas mãos o lugar dos cravos e se
não puser meu dedo no lugar dos cravos e minha mão no seu
lado, não crerei!”.
As feridas
(chagas) deveriam ser grandes para que entrasse nelas
o dedo de SãoTomé:
“...
se
não puser meu dedo no lugar dos cravos...”.
São Tomé
exige VER a ferida das
mãos e COLOCAR o DEDO
na mesma ferida. Não se contenta ainda:
exige COLOCAR a MÃO na
ferida do LADO. Não menciona as
chagas dos pés.
DUPLA FALTA
cometeu aqui o Apóstolo incrédulo: a de negar a fé ao
que foi dito pelos demais, e a de exigir as condições sem as
quais NÃO CRERÁ.
“Se eu não vir em
suas mãos o lugar dos cravos”.
Para São Tomé não BASTA VER, diz São
João Crisóstomo, mas quer TOCAR. A atitude
de São Tomé é a de um homem GROSSEIRO,
diz um antigo autor.
Alguns autores
entendem que o autor da Vulgata não traduziu
LUGAR, mas sim, FIGURA, como se
lê em alguns exemplares:
“... o lugar dos cravos”.
E alguém depois mudou FIGURA em LUGAR.
A mesma observação faz respeito da frase FIGURA
dos CRAVOS, que leu por
LUGAR dos CRAVOS. Tal hipótese é provável.
Santo Agostinho
em todas as partes lê a CHAGA dos CRAVOS.
E não sem causa disse o evangelista, quando trata da figura
dos CRAVOS, COLOCAR o DEDO e
NÃO a MÃO; e, por outro lado, ao
mencionar a ferida do LADO
escreve: COLOCAR a MÃO e
NÃO o DEDO. Porque o DEDO
tem a figura de um CRAVO QUADRADO
e LARGO, e a MÃO estendida,
tem a figura de uma PONTA de
LANÇA.
São Tomé
não queria somente VER, mas também TOCAR.
E quis medir as CHAGAS de Cristo para que não
houvesse engano: que não fossem PINTADAS
ou somente FEITAS superficialmente na
pele, mas PROFUNDAS, como sabia ele
que haviam sido as CHAGAS de Jesus Cristo.
Assim, pois, São Tomé, segundo dizem São João
Crisóstomo, Teodoro de Heraclea, Leôncio, Teofilacto e
Eutímio, não pensava que os discípulos haviam
mentido quando disseram ter VISTO e
TOCADO em Cristo, mas que tivessem
equivocado; haviam acreditado ter VISTO
a Jesus Cristo, quando na realidade contemplaram algo muito
diferente. Imaginavam TOCAR as feridas e não
palpavam senão uma semelhança de CHAGAS.
Porém, ele agiria com mais prudência. A incredulidade
é muito prudente, ou a humana prudência é demasiada
incrédula.
Alguns, se
gabando de prudentes e não acreditando senão
VENDO e TOCANDO, se fizeram hereges.
Perguntam São
João Crisóstomo, Teofilacto e Eutímio: por onde
presumiu São Tomé que Jesus Cristo
havia sido ferido no LADO, não
estando ele presente quando recebeu o Senhor aquele
golpe depois de morto?
Santo Agostinho
escreve:
“Sabia Tomé que Cristo havia sido cravado na
cruz com cravos e transpassado o peito com uma lança.
Buscava esses sinais, e, por isso, não acreditava”.
Alguns
desculpam São Tomé. São Cirilo de
Jerusalém, notando que o que disse não nasceu da
incredulidade, mas sim, da perturbação de ânimo que padecia,
e grande. Ele não tinha VISTO a Jesus Cristo
com os outros apóstolos depois da ressurreição e desesperava
em voltar a contemplá-lO, apesar de tê-lO OUVIDO:
Um pouco e já não me vereis, porque vou para o Pai.
Porém, admitia que Jesus Cristo, que ressuscitava os
mortos, podia ressuscitar a si mesmo.
Por outro lado, o
desculpa Santo Agostinho:
“Esta palavra é de
quem busca, não de quem nega. Quando diz isso, quer ser
ensinado, deseja ser confirmado”.
E Santo Ambrósio escreve:
“Como, pois, Tomé,
ainda antes de acreditar, tocou, todavia, a Cristo? Porque
não duvidou da ressurreição do Senhor, mas sim, da qualidade
da dita ressurreição”.
Piedoso desejo
cheio de caridade; porque o Senhor repreende a São Tomé:
Não sejas incrédulo, mas crê. Com este
argumento repreende Teofilacto aos que desculparam a
São Tomé. Melhor é curar a nós da culpa do apóstolo.
Se acaso pecamos, como ele, não acreditando, com ele
também confessando, façamos penitência.
Santo Ambrósio
escreve:
“Ele me ensina com esse gesto de tocar em
Cristo, como ensina Paulo: Convém que este corruptível
seja vestido de incorruptibilidade, e este mortal de
imortalidade,
para que o incrédulo acredite e o minucioso não tenha do que
duvidar. Cremos com mais facilidade no que vemos”.
São Gregório
Magno
comenta:
“Não aconteceu isso por acaso, mas por divina
disposição. Realizou de modo admirável a soberana clemência,
e aquele discípulo que duvidou, quando tocava as chagas de
seu Mestre, curava as feridas de nossa infidelidade. Mais
nos serviu de proveito a infidelidade de Tomé que a fé dos
discípulos fiéis”.
Santo Agostinho
escreve algo semelhante:
“Tomé, pois, sendo
santo, fiel e justo, buscou todas essas coisas com cuidado,
não porque ele duvidava de algo, mas para lançar fora
qualquer suspeita de incredulidade. Pois para a sua fé
bastava ver o que conhecia; porém trabalhou para nós,
tocando o que via, para que, se alguém dissesse que se
enganou com os olhos, não poderia dizer que suas mãos se
equivocaram. Na manifestação da ressurreição pode duvidar-se
dos olhos; porém, do tato não se pode duvidar”.
Pe. Divino Antônio
Lopes FP (C)
Anápolis, 30 de
abril de 2014
Bibliografia
Sagrada Escritura
Pe. Manuel de Tuya,
Bíblia comentada
Pe. Juan de
Maldonado, Comentário do Evangelho de São João
Pe. Juan Leal, A
Sagrada Escritura (texto e
comentário)
São João
Crisóstomo, Escritos
Santo Agostinho,
Escritos
São Cirilo de
Jerusalém, Escritos
Santo Ambrósio,
Escritos
São Gregório,
Escritos
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